Verdade ou Consequência? - Matheus Frizon

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Não abro a porta de casa. Em vez disso, me sento ali nos degraus. A rua está tão quieta que o medo de ser roubada é só medo mesmo, pois nada vai acontecer. É como se eu estivesse presa em uma vila dessas de filmes que nada acontece e tudo é só perfeição. Mas então a quietude e o silêncio ganham ruídos. Eu sei de onde vem esses ruídos: da casa dele, do Alec. Logo, ele sai com a sua moto turbinada e pilota em direção ao antro. O ronco da moto ressoa por toda a rua até ele parar a mais ou menos um metro de mim, descer da moto e vir em minha direção. – Acredite se quiser, mas com você foi tudo real. Cada palavra que disse. – Diz, todo machão. – E eu não preciso disso. Preciso de... Ah! Então ele atira o envelope aos meus pés e sobe em sua moto trajando calça jeans e uma camiseta, nada de capacetes. E ali, naquele mesmo instante, as coisas fazem sentindo para mim. Sei o que ele vai fazer para eliminar a raiva que está sentindo de si próprio. A moto ronca alto. Em um passe mágica a noite ganha vida no asfalto negro diante de mim. Grito: – Alec, o que vai fazer? Ele não me escuta, óbvio. Vira na esquina e ainda sim posso ouvir o ronco da sua moto envenenada. Pego o envelope e vejo que é o dinheiro que atirei em sua cara, desprezando-o. Porra, o que eu fiz? Desesperada, procuro o meu celular. A minha mente e o meu ser gritam que hoje o Alec vai fazer uma besteira. Temo, pois parte disso tudo é minha culpa. Ligo para o Derek, a minha salvação. – Derek, precisa vir aqui ao antro, agora. Onde será que as corridas acontecem hoje? Volto à casa do Alec que, por sinal, ele a deixou aberta. Encontro tudo bagunçado e quebrado. Procuro por uma agenda e amaldiçoo-me por não conhecer nenhum amigo do Alec... Tenho uma ideia. – Jonathan? – Digo assim que ele atende ao telefone. – Aqui é a Alice. – Sim, eu sei que é você. – Desculpa ligar a essa hora, mas preciso saber de uma coisa. – Como ele não diz nada, continuo. – Você sabe se vai acontecer algum racha de moto hoje? Por favor, diz que sabe de alguma coisa. – Sei, sim... Mas para que quer saber? – Precisa me dizer, Jonathan, vamos! Não dá para explicar. – O que está acontecendo...? – Diz logo! – Berro e ando de um lado para o outro atrás de uma caneta. Anoto o endereço rapidamente no papel para o caso de esquecê-lo. Sei onde fica este lugar. Fecho a porta e saio depressa. Fico ali mesmo na porta de casa esperando o Derek. Ligo para ele de novo e peço para que se apresse. Quinze longos minutos depois ele aparece. Entro apressadamente no carro e repasso as coisas que aconteceram desde a carta até a descoberta de que meu namorado é um garoto de programa. Talvez isso seja para que eu pague a minha língua por ter criticado o Adrick. E isso também não importa mais. O Derek não me censura, pelo contrário, me ouve com atenção. Até diz que fiz tudo de cabeça quente e que deve haver outra explicação. Pela primeira vez ele defende o Alec dizendo que ele realmente parecia me amar. Tenho a impressão de que já passamos pelo mesmo lugar umas três vezes. Peço para o Derek parar o carro e perguntar a uma garota de programa – que irônico – onde fica essa tal rua porque ele nunca foi neste lugar no escuro. Não consigo me lembrar e o GPS não está aqui. Fica a três quadras do local de onde estamos e começo a ficar muitís- sima nervosa enquanto o Derek


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