O reconhecimento oficial do dia 15 de junho como o Dia Nacional da Agricultura Irrigada pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal marcou um importante avanço para o setor. Esse marco exigiu um considerável empenho por parte de lideranças ligadas ao setor, e é essencial reconhecer este esforço conjunto desde a concepção e articulação da ideia original pelo pesquisador da Embrapa, Lineu Neiva Rodrigues, com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Rede Nacional de Agricultura Irrigada (RENAI) e Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). A iniciativa evoluiu até a apresentação de um projeto de lei na Câmara dos Deputados, pelo deputado federal Zé Vitor de Minas Gerais, e posteriormente foi sancionada pelo Senado, através do senador Jayme Campos de Mato Grosso. Atualmente, é aguardada a publicação da lei pelo Presidente da República (até o fechamento desta edição, o prazo para publicação ainda não havia vencido). Vale ressaltar que sem o empenho de associações de agricultores, especialmente aquelas relacionadas à cafeicultura, seria extremamente desafiador percorrer todo esse trajeto.
Outro acontecimento relevante foi a posse da nova diretoria e do conselho consultivo da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (ABID), realizada na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília. Temos confiança de que a nova equipe, liderada pelo presidente Silvio Carlos, desempenhará um excelente trabalho à frente da ABID.
No mês de março, celebramos o Dia Mundial da Água, e para destacar essa data importante, o pesquisador da Embrapa, Luís Henrique Bassoi, enviou-nos o artigo “A inclusão digital na agricultura irrigada”, no qual ressalta a importância da inclusão digital dos irrigantes como um esforço para aprimorar a gestão da água na agricultura brasileira. O artigo destaca diversas ferramentas digitais disponíveis para os irrigantes melhorarem o uso da água na agricultura, ressaltando a necessidade de políticas públicas de inclusão digital.
O café irrigado é o foco principal desta edição. Iniciamos com o brilhante artigo dos pesquisadores Eusímio Fraga Junior e André Luiz Fernandes, “Cafeicultura Irrigada: evolução e tendências para a otimização do uso da água”, que aborda questões relacionadas ao planejamento e manejo da irrigação, com ênfase na construção de reservatórios destinados a armazenar água durante os períodos de baixa demanda e alta precipitação natural.
Outro artigo de destaque é “O uso de sensores de solo (tensiômetros) reduz de forma expressiva o consumo de água em café arábica irrigado por gotejamento”, escrito por Rafael Pereira Gonzaga, que apresenta um estudo científico demonstrando a significativa economia de água quando se utiliza o manejo da irrigação com o auxílio de tensiômetros em comparação com a irrigação baseada em dados climáticos.
A pastagem irrigada está ganhando rapidamente importância no país, e por isso, traremos diversos artigos sobre esse tema ao longo deste ano. Nesta edição, o artigo de Ruy Padula, “Irrigação em pastagens, tecnologia onde a pecuária fica competitiva e os números nos mostram isto”. Com grande vivência no campo, o autor compartilhou alguns de seus resultados com nossos leitores.
José Giacoia Neto, fez uma pausa na série de artigos sobre campos esportivos, mas retornará em breve. Nesta edição o tema está relacionado com as tecnologias digitais e a conectividade. “Operação e gerenciamento remoto de sistemas de irrigação paisagística” é o título do artigo.
Boa leitura!
DENIZART VIDIGAL
Diretor
DIREÇÃO
Denizart Pirotello Vidigal denizart@irrigazine.com.br
JORNALISTA
Bruna Fernandes Bonin
MTB 81204/SP
COLABORAÇÃO
Eusímio F. Fraga Júnior
André L. T. Fernandes
Rafael Pereira Gonzaga
Ruy Padula
Luís Henrique Bassoi
José Giacoia Neto
EDITORAÇÃO E CAPA
André Feitosa
PRODUÇÃO/PROJETO GRÁFICO
Interação - Comunicação e Design
Agência Senado | Arquivo Fenicafé | Arquivos Abid/Divulgação
REVISÃO
Denizart Vidigal Barufe
CONTATO
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ASSINATURAS
Débora Pirotello Vidigal WhatsApp: (17) 99612-1224 revista@irrigazine.com.br Acesse irrigazine na internet: www.irrigazine.com.br
A Revista Irrigazine não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados o pelas opiniões emitidas pelos entrevistados, fontes e dos anúncios publicitários.
“Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o SENHOR teu Deus é contigo, por onde quer que andares.”
Josué 1:9
04 Março | 2024
Editorial
FOTOS
06 Agenda
08 Conta Gotas
Reportagem
10
Nova diretoria da Abid toma posse em Brasília
Na solenidade de posse da nova diretoria da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (Abid), realizada na sede da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), em Brasília, a atenção voltou-se para o emocionado discurso do recém-eleito presidente da Abid, Sílvio Carlos.
Reportagem
12
Café e Clima: Os desafios da irrigação na produção cafeeira contemporânea
Entenda como está sendo o impacto direto das variações de temperatura na produção do café irrigado
Artigos
14
Cafeicultura Irrigada: evolução e tendências para a otimização do uso da água
O uso de sensores de solo (tensiômetros) reduz de forma expressiva o consumo de água em café arábica irrigado por gotejamento
Irrigação em pastagens, tecnologia onde a pecuária fica competitiva e os números nos mostram isto
A inclusão digital na agricultura irrigada
Operação e gerenciamento remoto de sistemas de irrigação paisagística
05 Índice
Martço | 2024
18 24
25 28
O Brasil impulsiona economia com crescimento de 39% no PIB agropecuário
em uma década
O Brasil testemunhou um marco significativo no setor agropecuário em 2023, com o Produto Interno Bruto (PIB) atingindo um recorde. De acordo com os dados recentemente divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB da agropecuária registrou um notável aumento de 15,1% no último ano, acumulando um crescimento notável de 39% ao longo da última década. Esse crescimento do agro foi impulsionado principalmente pela produção recorde de culturas-chave,
como soja e milho, que atingiram 152 milhões e 131 milhões de toneladas, respectivamente. Esse desempenho notável reafirma a posição do Brasil como um dos principais players no mercado global de agronegócio.
Com perspectivas otimistas para o futuro, o Brasil continua a demonstrar sua resiliência e liderança no setor agropecuário mundial.
Fenicafé está marcada para os dias 16 a 18 de abril
A Fenicafé – Feira de Irrigação em Cafeicultura está agendada para abril, porém os preparativos para o evento iniciam-se meses antes de sua realização. A Fenicafé faz parte da Café Agro, que soma mais de uma semana de atrações com a Expo Araguari. Este ano, a Fenicafé será de 16 a 18 de abril, no Parque de Exposições Ministro Rondon Pacheco, em Araguari, no Triângulo Mineiro. Dividida em duas etapas, a Café Agro inicia com uma série de palestras, workshops e seminários relacionados à cafeicultura irrigada.
Na sua 27ª edição, a Fenicafé trará seis workshops com palestras voltadas para o mercado de café e técnicas de irrigação, destacando também novas formas para otimizar a produção.
A abertura do evento contará com a presença de mulheres de sucesso na cafeicultura, incluindo Vanessa Vilella, C.E.O. da Kapeh, Simone de Moraes Sousa, presidente da Amecafé, e Valéria Vidigal, artista e produtora de café na região do Planalto de Conquista, BA. Além disso, está prevista a palestra do professor Dr. João Carlos de Moraes Sá, da Ohio State University, sobre agricultura de baixo carbono.
A Fenicafé é promovida pela Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA) e a Federação dos Cafeicultores do Cerrado, com apoio da Embrapa Café e Prefeitura Municipal de Araguari. A programação completa inclui diversos workshops e palestras sobre temas como empreendedorismo, perspectivas
Essa é a 27ª edição da feira de irrigação em cafeicultura
Foto: Arquivo Fenicafé
da cafeicultura nacional, técnicas de irrigação, fisiologia do cafeeiro e estratégias para agregar valor ao agronegócio café. Além disso, haverá um espaço para networking, onde os participantes poderão trocar experiências e informações com outros profissionais do setor, promovendo ainda mais o desenvolvimento e a inovação na cafeicultura brasileira.
Fenicafé 2024 - Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura
Dias: 16 a 18 de abril de 2024
Local: Parque de Exposições Ministro Rondon Pacheco
08 Março | 2024
Aprovação do CRA: Dia Nacional da Agricultura Irrigada é oficializado
A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado Federal aprovou no dia 21 de fevereiro de 2024 a proposta que estabeleceu o dia 15 de junho como o Dia Nacional da Agricultura Irrigada. O texto, originário da Câmara dos Deputados, recebeu parecer favorável do relator na comissão, senador Jayme Campos (União-MT), e aguarda análise do Presidente da República, a menos que haja recurso para votação em Plenário.
No seu parecer ao PL 2.975/2021, apresentado pelo senador Sergio Moro (União-PR), Jayme Campos ressaltou a importância do projeto, argumentando que promover o uso da técnica da agricultura irrigada reforça o compromisso com o atendimento aos direitos constitucionais à alimentação e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
De acordo com dados da Rede Nacional da Agricultura Irrigada, a área irrigada no Brasil corresponde a menos de 2% da área irrigada no mundo, abrangendo cerca de 8,5 milhões de hectares, o que equivale a menos de 8% da área agricultável do país.
Espírito Santo passa a emitir declaração automática de uso de recursos hídricos para irrigantes
A Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) implementou uma medida que simplifica o processo de emissão de declarações de uso de recursos hídricos para irrigantes na agricultura.
Agora, os agricultores podem desfrutar da emissão automática dessas declarações, agilizando a autorização para o uso da água em suas atividades de irrigação. A medida, tem como objetivo otimizar e agilizar a emissão de declarações, garantindo uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos.
A implementação da IN 001/2024 representa um avanço na gestão dos recursos hídricos do Estado do Espírito Santo. Além de simplificar os procedimentos para os usuários, a medida visa garantir uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos. Com critérios claros estabelecidos na normativa, a
declaração automática permite uma emissão imediata após o cadastro do requerimento, utilizando dados hidrológicos modelados automaticamente.
Para a Agerh, essa mudança representa um passo importante na busca pela automatização dos procedimentos e pela utilização de tecnologia para melhorar a eficiência na gestão hídrica. A agência visa não apenas agilizar o processo de análise de outorga, mas também ampliar o cadastro de usuários, essencial para garantir uma gestão hídrica eficaz e sustentável.
09 Março | 2024
Moro relator: A irrigação atende os princípios de segurança alimentar e sustentabilidade ambiental Foto: Agência Senado
Nova diretoria da Abid toma posse em Brasília
Na solenidade de posse da nova diretoria da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (Abid), realizada na sede da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), em Brasília, a atenção voltou-se para o emocionado discurso do recém-eleito presidente da Abid, Sílvio Carlos. O evento foi marcado pela influência política evidente, refletida na presença notável de representantes de diversas instituições governamentais que demonstraram respeito à nova liderança da Abid.
O presidente da Comissão Nacional de Irrigação da CNA, David Schmidt, compartilhou sua visão sobre a relevância do debate técnico para o progresso da agricultura irrigada no país. Ao lado de representantes do governo e de outras entidades do setor, Schmidt enfatizou o compromisso da Abid em promover discussões técnicas para expandir a irrigação e aprimorar o uso dos recursos hídricos.
Luiz Curado, coordenador da Rota da Fruticultura da Codevasf, e Ana Carolina Argolo, diretora interina da Agência Nacional de Águas (ANA), também defenderam a importância
de um diálogo técnico sobre a gestão dos recursos hídricos. Eles ressaltaram a necessidade de cooperação entre instituições para garantir que o conhecimento técnico alcance os produtores rurais e contribua para o desenvolvimento sustentável.
Inácio Arruda, secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e Giuseppe Vieira, secretário nacional de Segurança Hídrica do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, reiteraram o apoio de seus órgãos à agricultura irrigada e à Abid, comprometendo-se a cooperar para o crescimento sustentável do setor. Everardo Mantovani, ex presidente da Abid, fez uma detalhada retrospectiva da sua gestão, onde destacou a realização de eventos como o Conird e o Workshop da Agricultura Irrigada em parceria com a FIIB, a publicação da revista ITEM, a elaboração do novo estatuto e outras melhorias administrativas.
A posse da nova diretoria da Abid marca o início de um novo ciclo para a associação, que tem como objetivo promover
cursos, treinamentos e eventos para disponibilizar pesquisa e ciência à sociedade.
Sílvio Carlos ressaltou a responsabilidade que carrega.
“Assumo com grande honra a presidência da Abid, ciente da responsabilidade que carrego. Trabalharemos incansavelmente
para promover avanços na agricultura irrigada, incentivando o diálogo técnico e a sustentabilidade”.
Sílvio Carlos lidera a nova diretoria e conselho consultivo da Abid, trazendo consigo visão, compromisso e a missão de impulsionar a agricultura irrigada no país.
A nova diretoria da Abid, com mandato de janeiro/24 a janeiro/27, tem a seguinte composição:
Presidente
Silvio Carlos Ribeiro Viera Lima
Vice-Presidente 1
Maria Emília Borges Alves
Vice-Presidente 2
Raimundo Rodrigues Gomes Filho
Diretor Administrativo-Financeiro
Flávio Gonçalves de Oliveira
Subdiretor Administrativo-Financeiro
Luiz Fabiano Palaretti
Diretor de Publicações
João Batista Ribeiro da Silva Reis
Subdiretor de Publicações
Fúlvio Rodriguez Simão
Diretor de Eventos
Luis Fernando de Souza Magno Campeche
Subdiretora de Eventos
Priscila Silvério Sleutjes
Diretora de Relações Institucionais
Catariny Cabral Aleman
Subdiretor de Relações Institucionais
Lineu Neiva Rodrigues
Diretor de Treinamentos
Rodrigo Ribeiro Franco Vieira
Subdiretora de Treinamentos
Jane Maria de Carvalho Silveira
Diretor Executivo
Eusímio Felisbino Fraga Junior
Subdiretor Executivo
Marconi Batista Teixeira
Diretor Institucional
Gregório Guirado Faccioli
Diretor Institucional
José Alves Júnior
Diretor Institucional
Bruno Vicente Marques
Diretor Institucional
Daniel Fonseca de Carvalho
CONSELHO CONSULTIVO
Afrânio Cesar Migliari
Antônio Alfredo Teixeira Mendes
Denizart Pirotello Vidigal
Durval Dourado Neto
Everardo Chartuni Mantovani
Fernando Antônio Rodriguez
Fernando Braz Tangerino Hernandez
Jordana Gabriel Sara Girardello
Marcus Vinícius Viana Schmidt
Café e Clima: Os desafios da irrigação na produção cafeeira contemporânea
Entenda como está sendo o impacto direto das variações de temperatura na produção do café irrigado
O Brasil é líder mundial na produção de café, enfrenta desafios cruciais decorrentes das mudanças climáticas, impactando diretamente os preços do grão. O aumento de 2% no café na bolsa de Nova York reflete a incerteza em torno da próxima safra, especialmente em regiões vitais como o Cerrado mineiro, que enfrenta escassez de chuvas, prevendo uma redução considerável na safra.
No contexto específico da produção de café irrigado, esse cenário ganha contornos significativos. O Brasil, como principal produtor mundial de café, enfrenta crescentes desafios decorrentes das mudanças climáticas, que exercem impactos significativos na produção cafeeira irrigada do país.
O setor, essencial para a economia brasileira, está
intrinsecamente ligado às condições climáticas, e as variações nesse aspecto têm implicações profundas na qualidade e quantidade dos grãos produzidos.
Nos últimos anos, tem-se observado uma maior variabilidade climática, com eventos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas, afetando as regiões produtoras de café irrigado.
O aumento da temperatura média, associado ao padrão irregular de chuvas, desafia a estabilidade necessária para o desenvolvimento saudável das plantações.
A escassez de chuvas em regiões vitais, como o Cerrado mineiro, tem sido uma preocupação recorrente. Previsões de redução na safra e estimativas de perdas
12 Março | 2024
significativas têm impactado diretamente os preços do café, gerando incertezas para os produtores e a cadeia de suprimentos global.
O sistema de irrigação, essencial para contornar os períodos de seca, torna-se uma ferramenta crítica diante dessas mudanças climáticas. A busca por métodos inovadores e eficientes de irrigação é uma necessidade premente para garantir a adaptação da cafeicultura brasileira a esse novo cenário.
“Agricultura irrigada, ao promover o uso eficiente da água, surge como uma estratégia de adaptação crucial”, destaca Antônio Fernando Guerra, Chefegeral da Embrapa Café. A implementação de tecnologias avançadas, como sistemas de gotejamento e monitoramento climático, é essencial para otimizar o cultivo e minimizar os impactos negativos do clima nas plantações de café.
Além dos desafios imediatos, a variabilidade climática também afeta a qualidade dos grãos, influenciando características como aroma, sabor e corpo. Produtores e pesquisadores buscam cultivares mais resistentes e adaptadas às novas condições climáticas, visando preservar a qualidade distintiva do café brasileiro.
A sustentabilidade torna-se um pilar fundamental nesse contexto. Práticas agrícolas sustentáveis, aliadas a sistemas de irrigação eficientes, não apenas enfrentam os desafios climáticos, mas também contribuem para a redução das emissões de carbono e o sequestro de carbono no solo, alinhando a produção de café com metas globais de sustentabilidade.
Apesar dos desafios, o setor de café irrigado no Brasil vislumbra oportunidades de inovação e resiliência. “A pesquisa contínua, o investimento em tecnologias sustentáveis e a colaboração entre produtores, instituições governamentais e especialistas são cruciais para enfrentar os impactos do clima e garantir um futuro próspero para a cafeicultura brasileira.”
Cafeicultura Irrigada: evolução e tendências para a otimização do uso da água
Eusímio F. Fraga Júnior | (Professor/Pesquisador - UFU/Campus Monte Carmelo)
André L. T. Fernandes | (Professor/Pesquisador - Uniube | C3 Consultoria e Pesquisa
A utilização da técnica de irrigação na cultura do cafeeiro tornou-se extremamente relevante devido à viabilização técnica e econômica do cultivo em regiões consideradas desafiadoras devido à escassez de água, tanto para o café arábica (Coffea arabica) quanto para o café robusta (Coffea canephora).
Porém, a utilização sistemática da irrigação na cultura do café é uma atividade relativamente recente. Estimativas indicam que a cafeicultura irrigada já ocupa cerca de 24,3 %, totalizando 450.000 hectares irrigados distribuídos principalmente nos estados do Espírito Santo, da Bahia e de Minas Gerais (ATLAS IRRIGAÇÃO, 2021). A divulgação dos dados foi feita durante a pandemia de Covid, período este que houve um grande aumento nas áreas irrigadas de café, o que certamente aumentará o total irrigado de café na próxima estimativa. O café já é a terceira mais irrigada de todas as culturas no Brasil, atrás apenas de arroz e cana-de-açúcar.
Apesar da maior concentração das áreas irrigadas estarem situadas em regiões com restrições hídricas moderadas, é grande também a implantação de projetos de irrigação em áreas tradicionais de cafeicultura de sequeiro, onde os avanços da irrigação têm permitido vantagens competitivas, traduzidas em maior produtividade da lavoura e melhor qualidade do produto final, além da segurança hídrica.
Na cafeicultura irrigada vários atores têm trabalhado para que sejam implementados processos de monitoramento dos sistemas de irrigação visando a sua otimização hidráulica e energética. No manejo da irrigação, que seria a definição da necessidade de irrigação e lâmina a ser irrigada, os irrigantes são apoiados na parametrização das componentes do sistema solo-planta-atmosfera que caracterizam a capacidade de armazenamento de água no solo, a sensibilidade do cafeeiro ao déficit hídrico e a estimativa da evapotranspiração das lavouras. De posse
14 Março | 2024
destas informações, o cafeicultor pode fazer o uso mais assertivo da ferramenta de gestão da irrigação.
Para a otimização dos recursos hídricos em regiões com natural baixa disponibilidade hídrica, com risco elevado de escassez hídrica ou para as regiões classificadas como de conflito de uso da água, está se tornando comum a instalação de reservatórios dentro das propriedades.
Os piscinões são reservatórios escavados no solo, localizados fora das áreas de preservação permanente (APP) ou de reserva legal (RL), destinados a armazenar água durante os períodos de menor demanda para irrigação e de maior precipitação natural (meses chuvosos). Essa água armazenada é então utilizada nos meses de maior necessidade durante o período de seca. Geralmente, a terra escavada é transformada em aterro para aumentar a capacidade de armazenamento, sendo essencial o revestimento para evitar perdas por infiltração, pelo fato da água ser bombeada, implicando em custos adicionais.
Os piscinões, por estarem fora da calha do rio, apresentam vantagens ambientais, evitando-se supressão de vegetação nas APP´s. A construção em áreas não inundáveis simplifica a execução da obra. Adicionalmente, os piscinões possibilitam aos irrigantes utilizar água para irrigar uma área maior do que a autorizada pela outorga, calculada com base em vazões de referência. A construção desses reservatórios é sujeita a procedimentos técnicos rigorosos e à aprovação de órgãos reguladores de cada região onde será executado o projeto.
Estudo para implantação de piscinões para otimização dos recursos hídricos, energéticos e financeiros na cafeicultura irrigada
Inicialmente, é necessário realizar um estudo da demanda hídrica provável que consiste na estimativa do volume de água necessário para atender à máxima necessidade hídrica mensal do cultivo irrigado. Este estudo considera a capacidade de armazenamento de água no solo, as exigências hídricas específicas do cultivo a ser irrigado, características técnicas dos sistemas de irrigação, a demanda atmosférica do local que é integrada no conceito evapotranspiração e a estimativa da precipitação do local.
Estes dados compõe um modelo de simulação de balanço hídrico climatológico aplicado à cultivos irrigados que é parametrizado com as informações citadas e que considera a variabilidade temporal dos elementos meteorológicos em uma série histórica de no mínimo 30 anos (dados normais da região). A fim de se caracterizar as demandas hídricas prováveis, é comum serem considerados 3 tipos de modalidade de demanda para o cafeeiro: a) Pivô Central com aplicação da água em área total; c) Pivô Central com aplicação localizada da água e, d) Irrigação localizada por gotejamento.
Considerando-se as entradas, as saídas e a área beneficiada, é possível calcular o volume a ser armazenado. O balanço hídrico, capaz de simular o funcionamento do piscinão, deve ser calculado ao longo de vários anos para prever mensalmente o enchimento e esvaziamento do reservatório.
15 Março | 2024
O balanço hídrico para uma área irrigada considera as entradas (vazão outorgada, água de chuva sobre o espelho d’água do piscinão) e as saídas (água para irrigação, evaporação e infiltração). A água necessária para irrigação pode ser prevista com um projeto bem elaborado, enquanto a evaporação depende do clima. O volume de água armazenada é calculado mensalmente, considerando-se as entradas e saídas, com o objetivo de manter o estoque acima de um valor pré-definido para o piscinão. Caso o estoque fique negativo em algum mês, será necessário aumentar o volume do reservatório. O balanço ao longo de meses ou anos é essencial para uma gestão eficiente do piscinão.
De posse destas informações, é possível apresentar a análise de decisão para o investimento considerando-se as outorgas disponíveis, a necessidade de reservação de água e a possível expansão das áreas irrigadas, indicando cenários de maior viabilidade econômica.
A análise de sensibilidade é uma ferramenta crucial no manejo da irrigação. Erros nos cálculos podem ter implicações significativas no desempenho do sistema e a compreensão detalhada do projeto é essencial antes do início do manejo. É imprescindível reconhecer as potencialidades e as limitações do sistema de irrigação para garantir sua eficácia.
A responsabilidade de elaborar bons projetos é imprescindível para investimentos em irrigação, pois a herança do dimensionamento não se manifesta completamente até que o sistema esteja operando
e, nestes casos, infelizmente, não seria possível fazer grandes mudanças na capacidade de operação do sistema.
Projetos mal dimensionados e equivocadamente operados podem aumentar os riscos de impactos ambientais e sociais da irrigação, podendo causar, por exemplo, salinização do solo e erosão. Destaca-se a responsabilidade do manejo da irrigação na mitigação desses problemas, pois pode-se promover práticas para minimizar os impactos adversos. Realizar treinamento práticos e capacitação para simular desafios reais enfrentados pelos agricultores são algumas ações de enfrentamento que podem ser adotadas e devem ser incentivadas. Nos últimos anos, instituições como a Agência Nacional das Águas (ANA), a Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (ABID), o Instituto de Pesquisa e Inovação na Agricultura Irrigada (INOVAGRI), a Associação Brasileira de Engenharia Agrícola (SBEA) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/ CNA) e diversas outras instituições têm desenvolvido várias ações no território nacional capacitando técnicos e irrigantes.
Em resumo, o planejamento e o manejo da irrigação são apresentados como um processo contínuo, envolvendo capacitação, avaliações e ajustes regulares para garantir a produtividade e preservar o meio ambiente. Ademais, o manejo eficiente da irrigação é fundamental para o sucesso da agricultura irrigada, promovendo o desenvolvimento sustentável ao aumentar a produtividade agrícola e minimizar os impactos ambientais.
16 Março | 2024
O uso de sensores de solo (tensiômetros) reduz de forma expressiva o consumo de água em café arábica irrigado por gotejamento
Rafael Pereira Gonzaga¹| Especialista Agronômico Netafim ¹Engenheiro Agrônomo; pós-graduado em Gestão do Agronegócio Café (FIA – USP & Universita del Café - Illy); pós-graduado em Cafeicultura (Uniube/Rehagro); pós-graduado em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ – USP)
1. Introdução
O café arábica tem expressiva importância econômica e social no Brasil, sendo cultivados 1,811 milhões de hectares em todo o território nacional, com a produção estimada para a safra agrícola 2022/2023 de 37,9 milhões de sacas de 60 kg de C. arábica (Conab, 2023). Sendo assim, segundo a Embrapa, 39,3% do total de Coffea arábica colhido em nível mundial é produzido por lavouras brasileiras, fazendo do país o maior produtor desse produto. Devido à importância desse cultivo, fazse necessário o aperfeiçoamento constante das práticas de manejo utilizadas. Dentre as linhas de pesquisa desenvolvidas pelas instituições brasileiras, destaca-se a de irrigação, sendo notório o ganho em produtividade e rentabilidade com o uso correto dessa tecnologia.
No Sul de Minas Gerais, em cinco experimentos realizados entre os anos de 2000 e 2017 pela Fundação Procafé em Varginha – MG, apresentou um incremento de 29% em produtividade pelo uso da irrigação quando comparado ao sequeiro. Ao longo das safras avaliadas, a produtividade do sequeiro foi de 48 sacas por hectare e o irrigado 62, um aumento de 14 sacas por hectare. Já no experimento da mesma instituição realizado na região de Franca – SP (Alta Mogiana) realizado por Jordão et al., na média das safras de 2021 e 2022 - anos extremamente impactados pela seca - o tratamento sequeiro com a cultivar Mundo Novo 379/19 produziu 3,6 sacas por hectare e o irrigado 37,9. Já para a cultivar Catuaí IAC 62, sem irrigação produziu 0,7 sacas por hectare e o irrigado 39,3.
Tais trabalhos de pesquisa demonstram o que é observado nas propriedades cafeeiras: a alta viabilidade da irrigação para essas regiões. No entanto, um fator limitante em muitas propriedades é a reduzida disponibilidade de água, sendo necessário utilizar técnicas de manejo que otimizem o uso desse recurso tão escasso.
Para isso, foi realizado um estudo de caso na fazenda Santa Maria do grupo Agam, no município de Pedregulho – SP, localizado na região da Alta Mogiana. Nesse estudo, foi comparada - em lavoura de café arábica adulta - a lâmina de irrigação realizada com o uso de tensiômetros versus a lâmina estimada pelos dados climáticos.
2. Metodologia
A propriedade utiliza sensores de solo – tensiômetro (Figura 1) para monitoramento nas profundidades de 20, 40 e 60 cm para manejo da irrigação, que é feito mantendo o solo em capacidade de campo nas profundidades de 20 e 40 cm. Eles são automatizados utilizando os equipamentos de monitoramento da empresa Netafim (Figura 2), e a leitura da tensão da água no solo é realizada a cada 15 minutos e enviada para a plataforma da empresa, plataforma essa que o produtor e sua equipe têm acesso.
A capacidade de campo - nos pontos e profundidades em que os sensores estão instalados - foi definida por meio da interpretação gráfica da plataforma da Netafim (Gráfico 1).
18 Março | 2024
Março | 2024
A referida propriedade possui uma estação meteorológica da Davis Vantage Pro 2 para medir a precipitação ocorrida e para calcular da ET0 (metodologia Penman-Monteith – FAO), porém essa informação não é utilizada para fins de tomada de decisões relacionadas à irrigação.
No presente trabalho foi feito um comparativo entre a lâmina real aplicada (utilizando o monitoramento via tensiômetro) e a lâmina estimada (calculada com os dados climáticos da estação meteorológica). Foram analisados os meses de maio, junho, julho, agosto e setembro de 2023, período de seca, correspondente a 152 dias.
As cultivares analisadas foram Catuaí 62 e Arara, com idades de 3,5 e 4,5 anos.
Os gotejadores são na modalidade SDI (enterrados). Tanto o enterrio dos gotejadores como a instalação dos tensiômetros foram realizados seguindo o protocolo da empresa Netafim.
2.1 Metodologia por lâmina localizada utilizando a evapotranspiração de cultivo
2.1.1 Coeficiente de cultivo (Kc)
Kc adotado foi de 1,1
2.1.2 Coeficiente de localização (Kl)
Metodologia de Keller (1996) segundo a fórmula:
A.S. (área sombreada) = Projeção da Copa ÷ Espaçamento entre Ruas
Kl = A.S. + 0,15*(1 – AS)
Obs.: - A área sombreada ficou entre 1,91 e 2,18 metros. - O espaçamento entre ruas é de 3,5 metros.
2.1.3 Precipitação e Evapotranspiração de Referência (ET0) - mm
Coletada e calculada pela estação meteorológica da Davis instalada na propriedade. Metodologia para cálculo da ET0 pela referida estação é o Penman-Monteith – FAO
2.1.4 Chuva Efetiva (Pe) - mm
Pe = 0,75*(precipitação de chuva mm – 5 mm)
2.1.5 Evapotranspiração de Cultivo (ETC) - mm
ETC = ET0*Kc
2.1.6 Lâmina (mm)
Lâmina (mm) = ETC – Chuva Efetiva
2.1.7 Lâmina localizada (mm)
Lâmina localizada (mm) = Lâmina*Kl
2.2 Metodologia por tensiometria
2.2.1 Tensiometria (kPa)
20 Março | 2024
Figura 1. Tensiômetro da empresa Netafim interligado ao equipamento de automação do monitoramento de campo
Figura 2. Equipamento de Digital Farming para automatizar a leitora dos sensores de solo (tensiômetros, sensores de umidade e pluviômetro de campo)
Gráfico 1. Exemplo da definição da capacidade de campo por meio da interpretação dos gráficos da tensão da água no solo da plataforma da Netafim. A linha em vermelho representa a leitura do tensiômetro em determinada profundidade
Manter os tensiômetros de 20 e 40 cm em capacidade de campo.
O de 60 cm de profundidade foi monitorado visando não manter essa região com umidade em capacidade de campo por meio da irrigação. Assim, o solo foi mantido em capacidade de campo apenas na região de maior absorção de água e nutrientes pelas raízes (20 e 40 cm). Capacidade de campo foi definida por meio do gráfico gerado pela plataforma da Netafim.
2.3 Setores
Conforme tabela 1 O presente trabalho analisou cinco setores (1, 2, 3, 5 e 6), sendo que o setor 5 possui duas cultivares (Catuaí 62 e Arara).
3. Resultados e Discussões
A irrigação estimada com os dados meteorológicos da fazenda é apresentada por mês e por setor em milímetros, conforme na tabela 2. Nessa tabela foi calculado a lâmina localizada em mm para a cultura em questão (café arábica).
¹Somatório dos 5 meses (maio a setembro) em milímetros
Tabela 2. Lâmina localizada calculada para café arábica com os da estação meteorológica da fazenda
Santa Maria em Pedregulho - SP
21 Março | 2024
Tabela1. Setores, cultivares e hectares do estudo de caso
A irrigação realizada pela fazenda Santa Maria, por meio do monitoramento com os tensiômetros, é apresentada na tabela 3 em milímetros.
¹ Somatório dos 5 meses (maio a setembro)
Tabela 3. Lâmina aplicada por meio do monitoramento com tensiômetros de solo
A partir dos dados da tabela 2 e 3, nota-se uma redução expressiva no consumo hídrico em todos os meses e em todos os setores analisados. Na figura 4, é possível observar, de forma gráfica e numérica, a redução no consumo hídrico por setor e o total para o período analisado (152 dias) em milímetros. Nota-se que a lâmina estimada com os dados meteorológicos foi de 173 mm, enquanto a efetivamente aplicada, com o objetivo de manter a umidade do solo em capacidade de campo, foi de 76 mm. A lâmina aplicada representa 44% da calculada.
no volume de água utilizado quando comparado o monitoramento com sensores de solo (tensiômetros) ao manejo pelos dados climáticos.
¹ Volume de água calculado (m³) com os dados da estação Davis; ² Volume de água utilizado (m³) devido o monitoramento com tensiometros.
Tabela 4. Comparativo do consumo de água por setor: volume calculado com dados climáticos versus volume utilizado (devido ao monitoramento com sensores de solo - tensiômetros)
Ao realizar os cálculos no período analisado (152 dias), os setores em questão (que totalizam 34,5 hectares) demandaram uma vazão média de 7,2 litros hora¯¹, enquanto a demanda estimada pelos dados climáticos foi de 16,4 litros hora¯¹. Uma redução no consumo de 9,2 litros hora¯¹.
Tem-se como referência entre os técnicos e consultores de irrigação em café o valor de vazão de 1 m³ hora¯¹ atender a demanda de 1 hectare de café no período crítico, que historicamente é setembro ou outubro.
No presente trabalho, analisando os dados climáticos, a demanda foi de 0,67 m³ hora¯¹ por hectare para o mês de setembro. Quando analisado o dos setores objetos do estudo, o consumo realizado para esse mesmo mês foi de 0,22 m³ hora¯¹ por hectare. Ou seja, a vazão demandada em setembro para manter as lavouras em capacidade de campo foi de 22% do valor utilizado como consenso e 33% do calculado com os dados climáticos.
Na tabela 4, os dados apresentados referem-se ao consumo calculado com os dados climáticos e ao efetivamente utilizado. Além dessas informações, é apresentada a economia no consumo de água por setor e na propriedade, expressa tanto em m³ como em percentual. Observa-se uma expressiva redução
Na tabela 5 é apresentado os dados por setor e a média (ponderada) da propriedade da lâmina calculada versus a lâmina aplicada com uso da tensiometria. Nota-se uma redução de 1,13 mm dia¯¹ para 0,5 mm dia¯¹ quando comparado as diferentes metodologias.
22 Março | 2024
Figura 4. Somatória dos 152 dias analisados da lâmina localizada calculada (estação meteorológica) versus lâmina aplicada - por meio do monitoramento com tensiômetros de solo. Dados em milímetros
¹Média dos 152 dias analisados
Tabela 5. Comparação entre lâmina calculada (dados climáticos) e lâmina realizada (pelo monitoramento pela tensiometria)
Com o uso dos sensores de solo, apurou-se uma diferença significativa entre o volume de irrigação calculado a partir dos dados da estação meteorológica em comparação ao que foi efetivamente necessário irrigar por meio do monitoramento com o uso dos tensiômetros. Exemplificando, nota-se que, no setor 6, seriam utilizados 169 mm no período analisado. Contudo, com o manejo adotado, foram necessários 73 mm, uma redução de 57%. No mesmo sentido, no setor 3, seriam necessários 180 mm, porém foram utilizados 66 mm, economia de 63%. Nos 152 dias analisados, a lâmina estimada pelos dados climatológicos foi de 1,13 mm ao dia. Já a aplicada com o uso dos sensores de solo foi de 0,50 mm ao dia. Verificou-se, portanto, uma redução expressiva no consumo de água em todos os setores.
4. Conclusões
No período e setores analisados, a lâmina localizada calculada com os dados climáticos (Penman-Monteith –FAO) foi de 1,13 mm por dia, enquanto a efetivamente utilizada na propriedade por meio do monitoramento via
tensiômetros foi de 0,5 mm por dia, o que representa uma redução de 56% no consumo hídrico. Tal economia corresponde a 972 m³ por hectare no período analisado. Outra informação de extrema importância a partir do trabalho realizado é a vazão demandada para manter o solo em capacidade de campo para o mês de setembro (mês crítico) nos setores em questão. Existe um consenso de que a vazão necessária no período crítico é de 1 m³ hora¯¹ por hectare, porém a vazão calculada com os dados climáticos foi de 0,67 m³ hora¯¹ por hectare e a efetivamente aplicada para manter o solo em capacidade de campo foi de 0,22 m³ hora¯¹ por hectare.
O manejo da irrigação com o uso de sensores de solo é altamente viável e apresenta redução expressiva no consumo hídrico. Com os dados analisados, é possível afirmar que mesmo com pouca disponibilidade hídrica, porém com um manejo correto, é possível ao cafeicultor(a) otimizar o uso da água para irrigar um maior número de hectares. Vale ressaltar que outras técnicas podem ser associadas para otimizar ainda mais o uso da água, como trabalhar com o sistema safra zero em partes das lavouras (setores de irrigação), reduzindo ainda mais o consumo nas lavouras recentemente podadas (devido à redução da evapotranspiração pela diminuição do dossel) e direcionando o maior volume de água para as lavouras em produção. No entanto, esse é um tema para estudos futuros. É importante ressaltar que, embora este estudo de caso forneça indicativos positivos para o manejo da irrigação, a validação por meio de pesquisas adicionais é essencial.
Agradecimento: Willian Ferreira (Agam - Armazéns Gerais Alta Mogiana de Pedregulho)
Irrigação em pastagens, tecnologia onde a pecuária fica competitiva e os números nos mostram isto
Ruy Padula | Gestor em fazendas
Quando falamos em irrigação das pastagens lembramos dos sistemas de Aspersão, Pivô Central, Carretel e, recentemente, Gotejo.
Água, muito importante para as pastagens, a irrigação é uma das formas mais inteligentes em fornecer água às plantas. A irrigação justifica ser instalada em pastos de excelente qualidade, com isto partimos de alguns princípios seja para reformar pastos ou fazer recuperação de pastagem.
Análise de solo, com interpretação deste resultado do Laboratório realizar correções da estruturação do solo conforme recomendação de um técnico, preparo do solo, se necessário, curvas de nível e muita matéria orgânica. Existe projeto que aplicamos até 10 T de compostagem feita com esterco de galinha, lembrando que a MO do solo desempenha um papel fundamental na manutenção das funções do solo, dada a sua influência na estrutura e estabilidade do solo, retenção de água, biodiversidade e como fonte de nutrientes para a pastagem.
Com esta tecnologia produtores de gado de corte vêm produzindo mais de 90 arrobas por hectare ano, onde o sistema extensivo a produção é de 4 arrobas por hectare ano (fonte IBGE, setembro 2021).
Com pastagens abundantes ao menos 7 meses no decorrer do ano e isto depende da gramínea e região que estará utilizando a tecnologia de irrigar.
Entre os resultados das gramíneas escolhidas, a que apresenta resultado mais prolongado é a Tifton 85, é uma variedade híbrida, Cynodon dactylon, em seguida vem as
Brachiarias e os Panicum Maximum, que são os coloniões. Uma vez a pastagem implantada e pronto para uso, trabalhamos com várias categorias de animais. Exemplo, produzindo ou comprando bezerros, colocamos até 20 animais de 200 a 250 kg, por hectare. Utilizamos nutrição específica para esta categoria até chegar no peso desejado para terminação. A terminação poderá ser em confinamento ou semiconfinamento.
As rações geralmente são preparadas nas propriedades rurais.
Quando as fêmeas atingem o peso de 360 kg acima, criamos os lotes e passam a receber até 1,5% do seu vivo em ração, nosso objetivo é que elas com 60 dias, consumindo este trato (terminação) cheguem ao peso de 420 kg acima.
Já os machos, ao atingirem 420kg acima, criamos os lotes e passam a receber até 1,5% do seu peso vivo em ração, nosso objetivo é que eles com 90 dias, consumindo este trato (terminação) cheguem ao peso de 520 kg a cima.
Recebem ração e se alimentam das pastagens, assim saímos de um animal de 450 kg peso vivo por hectare, média Brasil ou até menos, fonte IBGE 2017, e saltamos para 12 UA, UNIDADE ANIMAL por hectare, e na fase de acabamento ou terminação, dobramos esta quantidade de animais por área, em função da ração que aumentamos.
Manter um bom programa sanitário, vacinas e vermífugos.
24 Março | 2024
A inclusão digital na agricultura irrigada
Luís Henrique Bassoi | Pesquisador da Embrapa Instrumentação, São Carlos - SP, e professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, FCA UNESP campus de Botucatu. E-mail: luis.bassoi@embrapa.br
Será que todos os irrigantes no campo estão aptos a utilizar as tecnologias ou ferramentas digitais já disponíveis para o manejo da irrigação? Parte dos irrigantes sim, outra ainda não, e uma terceira parte ainda não teve a oportunidade de experimentar os benefícios que as ferramentas digitais podem oferecer para decidir sobre quando e quanto irrigar.
Em 2020, conforme o estudo “Tendências, desafios e oportunidades da Agricultura Digital no Brasil”, realizado pela Embrapa, 84% dos produtores rurais entrevistados já adotavam algum tipo de tecnologia digital. As soluções incluíam aplicativos para celular e sensores instalados no campo.
Dados ou imagens sobre planta, animal, solo, água e clima gerados por sensores de campo eram utilizados por 16% dos entrevistados, cujo uso tinha como objetivo otimizar o uso de insumos (entre eles, a água). Entretanto, isso não significa que os produtores rurais estavam incluídos digitalmente.
A inclusão digital pode ser compreendida como um esforço realizado por instituições públicas, empresas privadas e pessoas, com diferentes formações profissionais, para que seja possível produzir e difundir conhecimento e permitir que todos os cidadãos tenham acesso às ferramentas digitais. A inclusão digital é uma política pública.
No âmbito da agricultura, as ferramentas digitais têm sido desenvolvidas para que os processos ou práticas relacionadas à produção vegetal e animal tenham melhor planejamento e gestão. Exemplos que retratam essa situação podem ser encontrados ao se observar o setor agropecuário.
O sistema de posicionamento global (GPS) fornece a posição exata para a realização de alguma prática agrícola. O sensoriamento remoto fornece diversas informações, a partir do processamento e análise de imagens obtidas por sensores acoplados à drones ou satélites. Outros sensores instalados em campo ou acoplados em máquinas agrícolas registram dados, podendo transmiti-los ou armazena-los
25
Março | 2024
Foto: Envato
para serem analisados.
A celebração do Dial Mundial da Água - 22 de março - é uma excelente oportunidade para não só discutir, mas também agir, a fim de que ocorra a inclusão digital na agricultura irrigada, com foco no produtor irrigante que atua no campo.
Algumas ferramentas digitais relacionadas ao uso da água na agricultura – ou especificamente ao manejo da irrigação – possuem complexidade, e acabam por requerer dos irrigantes que estão no campo certo conhecimento ou familiaridade com alguns procedimentos relacionados à busca de dados em um site especializado, à coleta de dados por um sensor em uso no campo, e a inserção desses em programas ou aplicativos, que podem ser utilizados em celular ou computador.
Um exemplo corriqueiro é o da obtenção da informação sobre a evapotranspiração diária, que é um número que mostra a quantidade de água que foi transpirada pela folha e de água que evaporou do solo em um dia, para que se defina a quantidade de água a ser aplicada por um sistema de irrigação.
Isso já é realizado por diversas instituições públicas, por empresas agrícolas e por prestadores de serviço. Mas existem custos relacionados à aquisição, manutenção e troca de equipamentos, contratação e qualificação de pessoal técnico para coleta, processamento e difusão de dados, que podem se tornar informações úteis aos irrigantes.
Infelizmente, nem todo produtor irrigante pode pagar por esse serviço, o que justifica a disponibilização desses dados - já realizada por instituições públicas. Outra forma de colaborar para o uso correto da água na agricultura irrigada seria a inclusão digital desse produtor irrigante que não pode pagar por uma prestação de serviço, por meio de treinamentos sobre o uso de ferramentas digitais gratuitas e de fácil compreensão e manuseio.
Nessa inclusão digital, há necessidade de mostrar como os dados podem ser encontrados em um site, sem grandes dificuldades por um irrigante com pouco conhecimento e experiência com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).
É necessário também mostrar como esse dado pode ser inserido em um celular ou computador, onde estaria instalado um aplicativo ou até mesmo uma planilha eletrônica para aqueles que tenham conhecimento para utiliza-la. Esse aplicativo seria destinado ao irrigante que trabalha no campo e que, além de ligar ou desligar o sistema de irrigação, também é encarregado de outras operações agrícolas. Ele precisa de algo fácil de ser compreendido e utilizado.
A digitalização do campo, muito comentada no Brasil, é uma recente realidade na agricultura brasileira, e que tem um longo caminho pela frente, ainda mais quando envolve a tecnologia de informação, que sempre evolui. Tomemos como exemplo o celular, presente em nossas vidas.
A inclusão digital na agricultura irrigada, destinada aos irrigantes que encontram dificuldades para a utilização de ferramentas digitais, pode se valer da política pública de inclusão digital, e assim torna-se mais um esforço para melhorar a utilização da água para a irrigação no Brasil.
26 Março | 2024
Foto: Embrapa
Foto: Neide Makiko Furukawa
Operação e gerenciamento remoto de sistemas de irrigação paisagística
José Giacoia Neto
Engenheiro Agrícola, M.Sc. em Irrigação e Drenagem (UFV) e MBA em Gestão Comercial (FGV). Gerente Internacional de Negócios Américas, Rain Bird
As novas tecnologias digitais e a conectividade estão avançando em uma velocidade incrível e muitas vezes difícil de acompanhar a avaliar.
Nos sistemas de irrigação para paisagismo não é diferente mesmo que e a cultura do paisagismo sustentável e irrigação ainda é pequena no Brasil em comparação ao restante do mundo.
Os controladores eletrônicos estão cada vez mais acessíveis, com programação mais amigável e intuitiva. Porém eles sempre ficavam um modo isolado de operação e com programação estática sendo necessário ir ao ponto de instalação para fazer alterações e checar funcionamento do sistema.
Além disso, qualquer problema no sistema, elétrico ou hidráulico, somente eram conhecidos quando se notava visualmente fuga de água, ou sistema que parou de funcionar.
Para simplificar nossa exposição vamos dividir os controles de irrigação para paisagismo em dois: Controladores Residenciais e Controladores Comerciais. A terminologia “Comercial” é a utilizada para áreas públicas, áreas esportivas, áreas industriais e áreas comuns de condomínios e complexos comerciais.
Neste primeiro momento vamos nos ater nos controladores residenciais. Os controladores Residenciais também possuem suas subdivisões. A primeira é em relação a alimentação elétrica: Temos controladores a bateria ou pilha e controladores elétricos.
Os controladores a bateria ou pilha podem ser dos mais simples que possuem uma válvula integrada e sua programação é realizada diretamente no controlador
ou por celular pela tecnologia bluetooth que permite programar pelo celular, porém dentro de uma distância limite.
Os mais complexos podem operar válvulas de qualquer diâmetro, possuem modelos que podem chegar até 6 estações e também entrada para sensores e saída para acionar painéis de conjuntos motobombas.
Para efeitos de nossa exposição consideraremos conexão remota a possibilidade de conectar-se a um sistema de irrigação de qualquer distância e local.
A conexão bluetooth é um protocolo de comunicação de baixo alcance e baixo consumo de energia. Ele possibilita a troca de informações entre dois dispositivos sem o uso de cabos. Por meio de frequências de rádio específicas, o bluetooth permite que diferentes equipamentos realizem uma conexão sem fio, direta e segura.
Porém os controladores a bateria também estão avançando e estão chegando ao mercado controladores com a possiblidade de conexão Via LoRa
LoRa é a abreviação para “long range”. Basicamente
28 Março | 2024
Fig. 1. Foto de controlador a pilha com válvula integrada
essa é uma tecnologia de radiofrequência sem fio de longo alcance e baixa potência, sendo por isso a plataforma ideal para a adoção de sistemas relacionados à Internet. Em áreas urbanas 3-4 Km de alcance, e em áreas rurais, até 12 Km ou mais. No entanto, para usar o LoRa, é necessário um protocolo de rede que coordene a transmissão de dados entre os dispositivos e os gateways, para acesso remoto é aqui que entra o protocolo LoRaWan.
Através desta tecnologia e os Apps para celular e tablets, podemos ter conexão remota, programar, receber alarmes e diagnósticos bem como ter um calendário de operação. Os dispositivos podem ser conectados a uma rede que por sua vez se conecta a um gateway e desde ali temos acesso remoto. Podemos ter por exemplo, aviso de bateria baixa e a localização de onde está instalado o controlador.
O controle remoto permite uma programação de variação de aplicação mensal de acordo com demanda de água ou Evapotranspiração de referência. A cada mês se pode ajustar um % de água e o controlador muda o tempo programado de cada setor de forma automática.
Fig.4. Exemplo de tela do App no celular para ajuste mensal de aplicação de água para controladores a bateria e tela de calendário de programação mensal
Em um breve futuro teremos a possibilidade de ajustar a aplicação de água por dados virtuais de estações meteorológicas, também de agregar sensores de fluxo e, não somente medir o consumo de água do sistema, mas também detectar fugas de água, vazão abaixo da esperada e tomar decisões de segurança e impedir desperdício de água e energia elétrica.
30 Março | 2024
Fig. 2. Imagem de um controlador a bateria com capacidade de comunicação com sistema LoRa
Fig.3. Telas de celular mostrando localização de controladores a bateria