Edição 76 RCN

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O telhado verde é uma técnica de engenharia cujo objeto principal é o plantio de plantas nas coberturas de residências e edifícios através da impermeabilização e drenagem da cobertura dessas edificações, criando assim condições para a execução segura desse projeto, evitando problemas estruturais e infiltrações. Desde o final de 2014, a técnica passou a ser obrigatória por lei no Recife para edifícios com mais de quatro pavimentos e construções que possuam mais de 400 m² de área de coberta, sendo essencial o conhecimento de suas potencialidades. Apesar de ser uma técnica conhecida já empregada por civilizações antigas e amplamente utilizada em muitas partes do mundo, especialmente na Europa, onde é vista como um meio de minimizar os impactos decorrentes da impermeabilização dos grandes centros urbanos, o telhado verde ainda é pouco difundida no Brasil, principalmente no Nordeste. Assim, o Itep vem desenvolvendo um projeto experimental com aplicação do telhado verde em uma área inicial de 43 m² a fim de verificar os principais benefícios gerados pelo método para o meio ambiente, por meio da redução de impactos como poluição e ilhas do calor, e as vantagens para a vida útil da edificação. Além disso, também vêm sendo estudados todos os cuidados necessários para o bom funcionamento da metodologia, a qual apesar de ser caracterizada como um sistema leve, necessita de impermeabilização da laje e sistema de drenagem adequado para uma operação eficaz. Logo, o trabalho desenvolvido pelo instituto poderá ser utilizado como fonte de pesquisa para empresas e profissionais que buscam investir em edificações mais sustentáveis.

Detalhes Construtivos O processo para colocação do telhado verde possui várias etapas. O primeiro passo para implementar o telhado verde é a cobertura, sendo mais usual a laje de concreto. A cobertura é o elemento estrutural onde devem ser consideradas as cargas permanentes e as cargas acidentais, também podendo ser utilizado um outro suporte estrutural, a exemplo de telhas de fibra de vidro. É preciso destacar que qualquer cobertura pode ser adaptada para receber essa cobertura verde. O peso médio da maioria dos telhados preenchidos por grama é de aproximadamente 60 kg/m² quando encharcado, mas há variância nesse peso. Foi verificado que a seção de drenagem e de solo pode ter várias combinações, de maneira a se obter uma carga mais leve. Isso impacta diretamente na escolha da planta a ser implantada para cultivo, no que se refere ao condicionamento de suas raízes. As plantas mais utilizadas possuem sistemas radiculares pouco profundos, justificando o emprego de uma camada de solo ou substrato compacta. A camada impermeabilizante é a etapa seguinte do processo e tem a importante função de proteger o elemento estrutural do risco de infiltrações, uma vez que este é o problema mais comum encontrado nessa técnica. Um único ponto de vazamento estende-se rapidamente para toda a cobertura,

portanto, é de fundamental importância o cuidado na fase de impermeabilização da cobertura. Vale ressaltar que a cobertura verde também aumenta a durabilidade do serviço de impermeabilização, pois oferece proteção contra a insolação direta. A drenagem é o elemento da construção mais variante. Muitas vezes, objetiva-se um escoamento mais rápido, tendo em vista a segurança da cobertura, pressupondo que sua capacidade de suporte de peso seja reduzida. Esse escoamento também pode ser mais rápido pela necessidade de uso constante da água caída sobre o telhado ecológico, como exemplo a irrigação diária de hortas e jardins. Partindo para infiltração lenta, é possível obter uma melhor qualidade da água. Quando há pretensão em realizar o reúso e, principalmente, quando essa água terá contato com humanos, uma filtração mais lenta é mais viável. O telhado verde funciona como um filtro biológico natural, viabilizando o reúso da água, sentido principalmente nas atividades onde não há necessidade de água potável, bem como um isolante térmico. Para a Região Nordeste, o resfriamento interno proporcionado por essa estrutura é um dos benefícios mais notórios. Isso ocorre por causa de um efeito chamado resfriamento evaporativo, na qual as plantas servem como um agente da dispersão do calor, criando um microclima mais temperado. Nas primeiras semanas após a implantação, a camada de substrato ainda se encontra em fase de conformação, portanto nota-se na água a presença de partículas do composto, mas que sumirão com o decorrer dos dias. Os drenos que dão vazão ao excesso de água no solo podem ser constituídos de argila expandida, brita ou seixos de diâmetros semelhantes, sendo fundamental para o sistema. Sua espessura pode variar de 07 a 10 centímetros. Também como medida de auxílio à drenagem e manutenção da camada fértil, evitando o arraste das partículas de solo do telhado verde, utiliza-se normalmente uma manta geotêxtil sobreposta em 10 cm. A manta geotêxtil, quando associada ao solo, tem a capacidade de drenar, filtrar, separar, reforçar e proteger, permitindo a drenagem e a proteção das superfícies contra ervas daninhas e crescimento de raiz em projetos de paisagismo, além do reforço do solo. Para o telhado verde, o ideal é um solo ou substrato orgânico com boa drenagem, de preferência um solo não argiloso que apresente uma boa composição mineral de nutrientes para o sucesso das plantas. Em relação à espessura, pode haver variação de acordo com o tamanho das plantas. Logo, quanto maior forem as plantas maior será a sua profundidade do solo. Já para escolha da vegetação, é necessário levar em consideração o clima local, o tipo de substrato a ser utilizado e o tipo de manutenção que será adotada no telhado verde. No caso de irrigações, o ideal é a escolha de plantas que não são exigentes à umidade e que resistem bem ao estresse hídrico. Também é importante a escolha de plantas de pequeno porte e crescimento lento. Para manutenção do telhado verde, é necessária apenas uma poda regular que deve ser feita a cada período de quinze dias de maneira semelhante a um jardim comum.

FEVEREIRO 2015

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