Portal 94 – Boletim informativo do Instituto Politécnico de Portalegre

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PORTAL N.º 94 | 03/2013

OPINIÃO

Um ensino superior no contexto de crise: que desafios?

V

amos assistir, nos próximos anos, a transformações pronunciadas no ensino superior a nível do espaço europeu. Apesar de uma posição meritória no conjunto das instituições de ensino superior a nível internacional, esperar-se-ia muito mais de um espaço que viu nascer algumas das suas universidades ainda na Idade Média. A Comissão Europeia tem acompanhado esta situação, promovendo oportunidades de desenvolvimento a nível comunitário e apelando à definição de agendas nacionais mais consistentes. Gostaria de me centrar no papel que o ensino superior pode ter na inversão da crise que abala praticamente toda a União Europeia. No quadro da estratégia “Europa 2020” assume-se o importante contributo que o ensino superior pode dar para a estratégia da União Europeia em matéria de crescimento e emprego. Parte-se do pressuposto que é necessário incentivar o crescimento económico inteligente, assente nas forças motrizes do conhecimento e da inovação. A Estratégia «Europa 2020», o plano europeu para o relançamento da economia, remete para o aumento das capacidades em matéria de educação, investigação e inovação. Trata-se de decisões cruciais para resolver os principais desafios económicos e sociais. Neste processo de relançamento da economia formulam-se três diagnósticos que me parecem centrais: o número insuficiente de jovens no ensino superior, o financiamento deficitário do ensino superior, quando comparado com o espaço extra-comunitário e o desemprego preocupante entre os jovens, no quadro de um envelhecimento demográfico da Europa. Indicam-se cinco vetores que, sendo enunciados na Estratégia «Europa 2020», devem nortear o desenvolvimento das agendas nacionais em matéria de ensino superior. Primeiro, uma nova economia baseada no conhecimento. Num contexto global altamente competitivo, dominado pelo conhecimento, pela inovação e pela tecnologia, para ter sucesso na nova economia assente no conhecimento, temos que tirar partido das nossas forças, potenciar o nosso capital de educação e formar uma mão de obra mais qualificada. O ensino superior, ao triangular conhecimento, investigação e educação, é uma pedra angular deste processo. Segundo, desenvolver competências individuais e coletivas. Combater o abandono escolar, preparar jovens com novas competências, formar cérebros, proporcionar maior equidade no acesso ao ensino superior, apostar na qualidade do ensino, tirar melhor partido

da internacionalização. A Europa, como refere o Presidente da Comissão Europeia, deve apoiar o desenvolvimento das IES enquanto forças motrizes do desenvolvimento regional, nomeadamente nas regiões menos desenvolvidas da União Europeia. Terceiro, desenvolver ideias. As instituições de ensino superior devem promover o desenvolvimento de competências mas também criar disposições para desenvolver ideias. Não apenas otimizar o «triângulo do conhecimento» − educação, investigação e inovação, mas também facilitar a transferência de conhecimentos, ideias e tecnologias para a sociedade e para o tecido produtivo. Esta translação exige excelência na investigação aplicada e aumento do potencial de inovação, mas também a constituição de parcerias que, sendo uma realidade, facilitarão a criação de emprego. Quarto, investimento na educação. Só o investimento na educação pode preparar a Europa para enfrentar os desafios de um mundo em rápida mutação. A consolidação orçamental e as reformas estruturais em curso são necessárias para estabilizar as economias, mas têm que ser acompanhadas de investimento que permita atingir um crescimento sustentável. A aposta na educação é estruturante da aposta na economia e crescimentos reais. Quinto, alterar as expectativas face ao ensino superior. As instituições de ensino superior não mais serão instituições que formam para a vida. A realidade, os saberes e as tecnologias mudam todos os dias. As instituições de ensino superior, principalmente as vocacionadas para as ciências aplicadas, devem preparar-se para acolher novos públicos. Por exemplo, aqueles que periodicamente nelas procuram mais conhecimento ou um outro tipo de conhecimento. Estes cinco vetores são outros tantos convites para a reflexão. Nesta Europa em transformação, o ensino superior em geral e o politécnico em particular, como subsistema de ciências aplicadas, tem e deverá reforçar a sua posição como espaço de investimento no capital humano, de inovação educativa e de empreendedorismo. Este investimento ajudará o país a desenvolver uma economia mais inteligente, sustentável e inclusiva, mais próxima das pessoas e das empresas. Não há uma governação económica europeia sustentável sem uma educação consistente, bem pensada e apoiada. A União Europeia, por erro de cálculo, prejudicou de forma determinante um conjunto de atividades (por exemplo agricultura, pesca e indústria) que sustentava a economia de muitos países. Assistimos hoje à tentativa de inversão desta situação, definindo-se também como prioritárias ações promotoras do desenvolvimento do interior dos diversos países. Por parte do Conselho Geral sempre existirá abertura para tudo discutir, no quadro estatutário, em matéria de reestruturação da rede de ensino superior e de parcerias com a comunidade. Num momento particularmente delicado para Portugal, manifesta-se assim esta nossa determinação para encarar o futuro com esperança, respeitando sempre a identidade do IPP e da região que o acolhe e sempre o acarinhou. O IPP tem deixado uma marca profunda na formação de sucessivas gerações de profissionais e tem dado um inestimável contributo para o desenvolvimento da região. E não é tarefa fácil. As limitações financeiras que nos são impostas em muito condicionam o quotidiano do instituto. Para além disso, acresce a diminuição de candidatos, provenientes fundamentalmente de uma região em depressão socio-económica e demográfica. Wilson Correia de Abreu, Professor Coordenador Principal Presidente do Conselho Geral do IPP


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