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para as redes sociais. A senha como segredo último e chave mestra. A senha que substituiu a assinatura, marca da singularidade individual. A senha que você não fala nem para a sua confidente, para seu companheiro, sua mãe... A senha que morre com você.
margem como situação, porque é um elemento urbano no coração do centro. As ações foram feitas todas no umbigo da cidade e, ali, esse objeto, esse elemento, é um instaurador de marginalidades. Ele isola o lixo dos catadores, que foi a nossa primeira visão ao buscar esse tipo de ação. É muito forte essa ideia de proteger o lixo. Essa lógica do lixo: aquilo que você despreza, aquilo que você descarta, quando está no espaço público, ainda assim, você é responsável por aquilo e O que seria uma terapia da quer proteger isso do cotidiano geral, seja só do catasenha? Compartilhe sua senha dor ou dessas outras questões, como proteção do lixo pelo menos uma vez na vida! Exorcize seu segredo final! em relação ao outro. Acho que fomos muito felizes ao lançar esse novo elemento a ser trabalhado na cidade, Enfim, ACESSO único, ACESSO porque essas lixeiras são, ainda, um agente estranho. líquido, ACESSO carro, ACESSO suspeito, ACESSO avesso, CHAVE Falando um pouco agora da intervenção, da experiênmestra, CHAVE única, cia, foi uma situação muito maluca e muito desconforCHAVE perdida. tante para as pessoas verem a gente dentro das lixeiras. O momento em que a gente estava dentro das lixeiras, “As sociedades disciplinares têm dois polos: a assinatura de certa forma, era um ruído muito forte, assim, no coque indica o indivíduo, e o tidiano, na passagem das pessoas. As pessoas não número de matrícula que indica conseguiam entender muito bem o que estava acontesua posição numa massa. É que cendo, se era um protesto, se era uma promessa, se era as disciplinas nunca viram inum martírio... E, sobre a sensação de estar lá dentro, foi compatibilidade entre os dois, e é ao mesmo tempo que o poder muito louca essa sensação, de você se colocar como é massificante e individuante, lixo, de certa forma, um lixo blindado, ainda que não lixo, mas um ser humano. Estando dentro da lixeira, isto é, constitui num corpo único aqueles sobre os quais se muitas coisas se passaram conosco. Teve um momento exerce, e molda a individuali- ali na Maria Antônia que um grupo de moradores de rua dade de cada membro do corpo. atacou a gente na lixeira. Vieram dando paulada... Nas sociedades de controle, ao contrário, o essencial não é mais uma assinatura e nem um número, mas uma cifra: a cifra é uma senha, ao passo que as sociedades disciplinares são reguladas por palavras de ordem (tanto do ponto de vista da integração quanto da resistência). A linguagem numérica do controle é feita de cifras, que marcam o acesso à informação, ou a rejeição. Não se está mais diante do par massa-indivíduo. Os indivíduos tornaram-se ‘dividuais’, divisíveis, e as massas tornaram-se amostras, dados, mercados ou ‘bancos’”. (Gilles Deleuze, Conversações [Post-scriptum sobre as sociedades de controle], 1990).
Joana − Sério?
Brait − Sério. Pulando e batendo na lixeira... Daniel − Mas brincando... Brait − É, num tom de brincadeira, mas aquela brincadeira agressiva de um moleque de rua, né? Craquei ro. Então ali você estava meio que protegido. Ao mesmo tempo que estar dentro da jaula chama a atenção dos caras para vir interagir contigo, a agressividade deles não vai chegar em você porque você está protegido ali. Isso foi uma sensação, assim, doida, também. De chamar a atenção. De, com um gesto simples do corpo, colocar-se numa situação de estranhamento com a cidade. Que é você estar dentro do negócio, colocando-se como lixo e, ao mesmo tempo, continuando um ser humano, né? Felipe − É, acho que a lixeira traz essas duas dimensões da questão do urbano, de que você falou. Uma é