PARADOXOS. Espera-se da noite que ela traga conselho, mas na nossa língua é o dia que a esclarece positivamente. Sempre. À noite as cores desaparecem e distinguem-se mal as formas e os relevos. No entanto, a noite revela o homem e o urbano. Vista pelo satélite ou de avião,
Último paradoxo: se a fada da eletricidade matou a noite, ela deu à luz o casal mágico: cidade e noite. Sem luz não há noite urbana. E que espetáculo!
é a noite que revela a presença do homem sobre a terra com esses milhões de luzes urbanas. Foi à noite que os povos marítimos partiram à descoberta do vasto mundo, guiados pelas estrelas, e também que Cristóvão Colombo descobriu o Novo Mundo. Foi à noite, do alto de um promontório, que se compreendeu melhor a organização das cidades. Último paradoxo: se a fada da eletricidade matou a noite, ela deu à luz o casal mágico: cidade e noite. Sem luz não há noite urbana. E que espetáculo!
UM DEBATE A SER ABERTO Diante da explosão dos tempos sociais e da aceleração generalizada, a noite urbana é certamente o último momento em que podemos dizer “nós”, “fazer cidade, sociedade ou nação”. No processo de ir e vir permanente entre individualização e socialização, eu e nós, a noite permite ainda se ressincronizar. Ela continua sendo um momento possível para a pausa, o encontro e a descoberta do outro. Podemos nos refugiar nela, entrar em resistência e reinterrogar nossa capacidade de viver juntos. Nessa zona autônoma temporária, podemos ainda marcar um tempo de parada e refletir juntos. Esse campo de tensão e de criação é capaz de reencantar nossas cidades e nossas vidas. Diante da promessa de uma noite “comercializada”, das questões de segurança e das tentações da cidade que não para, fonte de tensões, podemos propor uma noite sensível e pacífica. É uma questão de desenvolvimento sustentável para cidades mais
MANIFESTO DA NOITE
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