COPAS: 12 Cidades em Tensão

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PENSADORES DA COPA Evocando Marcel Duchamp, lançamos o trono para ouvir a voz do povo. Um ladino qualquer grita em alto brado: O rei está nu. Solitário, ele pensa que existe. Só existe um poder: o poder do povo. Está sacramentado. O resto é jogo pra inglês ver. O povo está no centro. O cetro rola de mão em mão. Poder que é poder não se constitui, ele passa, corrida maluca, revezamento sem medo de ser feliz. Poder cansa. Sai logo. Pede licença, já deu sua contribuição. Agora, mudou o lugar. É preciso refletir. Corte: campinho de pelada 15 x 15 m, traves com dois passos de largura, pau torto, pé torto domina, invade a área. É golaço. Futebol na raiz é essencial no pé desse Zé. Na periferia do futebol business, esse ladrão por onde passam caravanas inteiras de senhores, enquanto os cães dormem vadios de barriga cheia e com a cabeça nas alturas. Penso, logo desisto. Penso, logo resisto. Penso, logo insisto: caralho, a Copa tá lá na Arena e eu aqui pagando a conta pra festa desses bacanas. Isso num tá certo. Sorri o cara sem dentes, de sorriso verde e amarelo, pintado nas cores nacionais do país brasilis pra elite assistir de seus camarotes arrotando pseudossabedoria porcamente ilustrada com histórias baratas surfando nas ondas dos novos ricos de ocasião. Diz o dito popular: a ocasião faz o ladrão. Larápios disfarçados, rondando ao redor. Please. Não chores por mim, Argentina. Dieguito, yes, nós temos Ronaldos de montão, imbecilizando o jogo, tornando a coisa mais feia do que parece. No país dos bananas, quem tem um Ronaldo é rei. Caraca, bota o Ronaldo no trono. O rei está nu.


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