Ao assumir a direção do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), em agosto de 2020, tinha consciência de que iria enfrentar um desafio inédito. Apesar do isolamento social imposto pela pandemia da covid-19 e da consequente desaceleração da economia, era preciso manter a instituição coesa, viva e produtiva. Com criatividade, espírito colaborativo e determinação, conseguimos nos adaptar ao trabalho remoto, preservar os principais projetos de pesquisa e manter compromissos assumidos, sem colocar em risco a segurança dos profissionais do Instituto.
Outro objetivo relevante, meu e da equipe, era celebrar o centenário do INT, valorizando uma trajetória comprometida com a tecnologia e a inovação. Poucas instituições brasileiras alcançam este marco; menos ainda mantém a relevância. Terceira mais antiga instituição científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o INT comemorou 100 anos ampliando a transferência de tecnologia para empresas e prestando serviços de alta complexidade para o setor produtivo. Com alegria, celebramos o centenário com festa e com uma campanha de valorização das pessoas que fazem o INT.
Com o fim da emergência sanitária e a retomada gradual das atividades econômicas e científicas, pudemos acelerar rumo ao cumprimento dos nossos objetivos: aumentamos a nossa carteira de projetos, clientes e serviços tecnológicos; ampliamos a visibilidade institucional do INT; mudamos a nossa estratégia de comunicação; estabelecemos mais recursos de apoio ao empreendedorismo; e melhoramos as condições de trabalho, investindo na estrutura física do Instituto, segurança e qualificação de servidores e prestadores de serviço.
Nas páginas seguintes, você vai saber mais sobre esses quatro anos de trabalho, conhecendo os principais projetos realizados; prêmios recebidos; patentes concedidas; publicações e eventos. Também estão reunidos os números e gráficos que demonstram o quanto foi feito nesses anos.
Aproveito este texto para me despedir. Depois de 48 anos como servidora do Instituto, encerro minha atuação no INT, onde comecei ainda como técnica de nível médio. Tenho muito orgulho por ter feito parte da história dessa instituição que tanto contribuiu – e certamente continuará a contribuir – para o desenvolvimento tecnológico do Brasil.
Iêda Maria Vieira Caminha Diretora do INT
INT: 100 ANOS DE INVENÇÃO A SERVIÇO DO BRASIL
Em 2021, o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) comemorou seu centenário com uma logomarca especial e uma série de eventos que resgataram a história do instituto e discutiram o futuro da tecnologia. As restrições impostas pela pandemia de covid-19 impediam aglomerações. Por isso, os 100 anos do INT foram lembrados em eventos online, que discutiram áreas essenciais para o desenvolvimento tecnológico do país. Já em 2022, com o arrefecimento da crise sanitária, a instituição pode celebrar a história com festas e eventos carregados de simbolismo.
Em todos os eventos, teve destaque a logomarca criada especialmente para a efeméride, na qual o número 100 lembra o símbolo do infinito – uma referência ao futuro e aos ciclos do tempo.
Em 2021, o destaque foi o seminário Novos Futuros – Temas Estratégicos para o Desenvolvimento Tecnológico, realizado em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social também vinculada ao MCTI. A série de debates abordou os temas Bioeconomia, Produtos para a Saúde e Tecnologias Digitais, em três encontros online que trouxeram, cada um, dois painéis: um, científico-tecnológico; outro, estratégico.
Realizado em 30 de junho, o primeiro evento debateu a Bioeconomia discutiu abordagens para a substituição de recursos fósseis; o aproveitamento de resíduos agroindustriais e o uso efetivo de processos mais sustentáveis, além de estratégias para a concretização destes objetivos. Antes dos debates, o público assistiu ao lançamento da animação INT faz 100 anos, com roteiro de Lucas Costa Barbosa e animação e edição de Lucca Araújo.
Em 10 de novembro, a terceira edição do seminário abordou o tema Tecnologias Digitais. Aprendizado de máquina, inteligência artificial e robótica foram alguns dos temas do painel científico-tecnológico. Já o painel estratégico reuniu lideranças do setor público e privado com foco em iniciativas e políticas para consolidar o uso das tecnologias digitais em inovações no País.
Já o segundo seminário, em 1º de setembro, foi dedicado aos Produtos para a Saúde, tanto na aplicação de tecnologias inovadoras, como para o controle de qualidade por parte das autoridades sanitárias, repercutindo diretamente na saúde da população. Uma área em que o INT atua desde 1980, avaliando a conformidade de produtos certificados como implantes ortopédicos e mamários, preservativos masculinos e luvas cirúrgicas, entre outros.
Uma das homenagens recebidas pelo INT em 2021 foi a Medalha de Mérito 2021, categoria Pessoa Jurídica, concedida pela Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração – ABM. A comenda foi concedida como um reconhecimento da atuação do instituto na difusão do conhecimento, intercâmbio tecnológico e desenvolvimentos dos setores de metalurgia, materiais e mineração.
Campanha e festa
Com a volta gradual ao trabalho, em 2022 foi possível organizar uma agenda de eventos comemorativos. Uma das iniciativas foi a campanha Sou INT 100 Anos, que reuniu dezenas de depoimentos de servidores, prestadores de serviço, antigos colaboradores e personalidades conectadas ao Instituto, incluindo o Ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes.
Em janeiro de 2022, Pontes inaugurou um novo espaço no INT, voltado ao empreendedorismo e inovação, assim como uma exposição com a linha do tempo do Instituto, exposta no saguão de entrada. “Nenhuma instituição sobrevive 100 anos se não tiver qualidade. Este instituto tem essa qualidade e importância muito grande, e isso me dá muito orgulho”, disse Pontes.
Em novembro, quando a maioria já podia circular sem máscaras, uma grande solenidade no Centro de Convenções do RB1, na Praça Mauá, Região Portuária do Rio de Janeiro, reuniu parceiros, servidores do Instituto e autoridades. A festa contou com a visita do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo Alvim, que substituiu Pontes. Alvim destacou o papel do INT e de seus pesquisadores. “Várias coisas que aconteceram no país têm sua origem nos pesquisadores do INT. Seus feitos são marcos relevantes para o país” – ressaltou.
Um dos pontos altos da cerimônia foi a entrega das medalhas de mérito INT 100 anos, contemplando primeiramente o ministro Alvim e, em seguida, a diretora
Iêda Caminha e ex-diretores do INT: Haroldo Mattos de Lemos; Maria Aparecida Stallivieri Neves; João Luiz Hanriot Selasco; Fernando Rizzo e, in memoriam, Attilio Travalloni, Domingos Naveiro e Ernesto Lopes da Fonseca Costa. Também foram agraciadas instituições que se estruturam a partir do INT – como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene) e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), além de instituições parceiras como ABM, ABRACO, CGEE, CNPq, EMBRAPII, FAPERJ, FINEP e REDETEC.
Cápsula do tempo
Outro marco do centenário foi a cooperação do INT com o Museu Nacional para a confecção de uma nova cápsula do tempo, a ser aberta em 2072. Passados 50 anos da instalação da primeira cápsula do tempo, projetada pelo INT, as equipes da Divisão de Materiais (DIMAT) e da Divisão de Corrosão e Biocorrosão (DICOR) se dedicaram a produzir o novo artefato.
Mais de 100 itens, entre cartas, objetos e informações digitais, foram inseridos na cápsula de 55cm x 61cm x 43cm, produzida em aço inoxidável, com revestimento interno em polipropileno. Entre os itens escolhidos pelos pesquisadores do Museu Nacional para preservação no artefato estão uma réplica do crânio de Luzia, fóssil mais antigo das Américas, digitalizado e impresso em 3D pelo INT, e uma carta do diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, a ser lida pelo diretor da instituição no ano de 2072. Já a diretora do INT, Iêda Caminha, colocou na cápsula produtos associados à atividade tecnológica do Instituto, começando por uma escultura comemorativa do centenário, representando o carro movido a álcool pesquisado ainda na década de 1920. Como exemplos das atividades atuais do Instituto, foram selecionadas uma prótese de quadril e uma amostra de grafeno, material atualmente considerado estratégico pelo MCTI e pesquisado pelo INT.
“Ao longo dos anos, como líder da CPMH, indústria nacional de dispositivos e equipamentos médicos, estive diretamente envolvido em projetos que transformaram a realidade da saúde no Brasil, especialmente o desenvolvimento de dispositivos médicos implantáveis customizados. Esses avanços não teriam sido possíveis sem a parceria estratégica e o inestimável apoio científico do Instituto Nacional de Tecnologia (INT).
Uma das mais respeitadas e antigas instituições de ciência e tecnologia do país, o INT foi e continua sendo fundamental para que a indústria nacional de dispositivos médicos alcance níveis de qualidade e segurança equiparados aos mais elevados padrões internacionais. A instituição tem um papel essencial no fomento à inovação tecnológica nas empresas brasileiras, facilitando a transferência de conhecimento e a aplicação de soluções científicas diretamente na indústria. Para empresas como a CPMH, a proximidade com o INT é crucial, pois o Instituto nos proporciona o acesso a tecnologias de ponta e ao conhecimento acumulado de décadas de pesquisa aplicada.
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Rander Avelar, diretor-presidente da CPMH
MARCOS DA TRAJETÓRIA
DO INT
A história do Instituto Nacional de Tecnologia começa em 28 de dezembro de 1921, quando o presidente Epitácio Pessoa assinou decreto criando a Estação Experimental de Combustíveis e Minérios (EECM), com a missão de investigar processos de aproveitamento de combustíveis e minérios. O Brasil de então vivia um processo crescente de industrialização e investimentos em infraestrutura e importava grandes quantidades de produtos siderúrgicos e combustíveis.
Já naqueles primeiros anos, já se definia o papel da nova organização, vinculada ao ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, no desenvolvimento do setor produtivo, como mostrou a fala do ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeida: “E, si cada industrial tiver assim uma orientação para o impulsionamento da sua fábrica, podendo talvez achar contramestres e operários já senhores da melhor marcha, mais seguro por certo será o progredimento das indústrias”.
Ao longo do século seguinte, a EECC mudaria de ministério, de nome e de estrutura até chegar ao atual INT, mas manteria o propósito expresso na missão do Instituto: contribuir para o desenvolvimento tecnológico do Brasil por meio da pesquisa, serviços, transferência de conhecimento e promoção da inovação.
Combustível para o crescimento
Combustíveis para impulsionar o crescimento. Para alguns governantes, essa era a maior necessidade do Brasil naqueles anos 20. Situada em um galpão no bairro da Urca e chefiada pelo engenheiro Ernesto Lopes da Fonseca Costa, caberia à EECM a missão de “estudar os melhores meios de aproveitamento do carvão nacional, bem como o de toda a sorte de combustíveis e o dos schistos betuminosos que vão se apresentando em muitos pontos do paiz”.
Em 1923, a Estação promoveu o 1º Congresso Brasileiro de Carvão e Outros Combustíveis Nacionais, onde ocorreram os primeiros debates no Brasil sobre as características do carvão nacional, as possibilidades de existência de petróleo e a destilação de xistos pirobetuminosos. Nos seus primeiros anos de atividade, a EECM realizou extensas pesquisas sobre combustão e destilação de carvão e sobre o emprego do carvão e do coque nacional na siderurgia, até comprovar, em testes, a viabilidade do uso do carvão nacional na produção de aço, ferro gusa e ferro-liga.
Mas, já naquela primeira década, a EECC também se dedicou a uma pesquisa que teria extenso impacto no futuro: o uso de álcool para motores de explosão. Em 1923, a EECM fez uma demonstração pública do uso de álcool em um automóvel, cujo motor havia sido adaptado para este fim. Dois anos depois, um
Ford T modificado pela EECM participou de uma corrida de 230 quilômetros, provando o sucesso do carro a álcool. No mesmo ano, o carro percorreu os percursos de ida e volta Rio-São Paulo, Rio-Barra do Piraí e Rio-Petrópolis.
Em novembro de 1925, Fonseca Costa fez a conferência “O álcool como combustível industrial no Brasil”, primeira defesa pública do uso do álcool em mistura com a gasolina importada. A recomendação foi adotada oficialmente em 1931, quando Getúlio Vargas assinou decreto tornando obrigatória a adição. Os estudos feitos na EECM se mostraram fundamentais para a criação, em junho de 1933, do Instituto de Açúcar e do Álcool (IAA). No entanto, só em 1975, quando os preços do petróleo explodiram, o governo brasileiro decidiu implantar o Programa Nacional do Álcool, com a participação do INT.
Casa nova
Em 1929, o corte da verba para o aluguel levou a EECM a buscar um terreno de propriedade da União, para que nele fosse construído um edifício capaz de abrigar a Estação. Escolheu-se um terreno de 5.350 metros quadrados, próximo ao cais do Porto e à Estrada de Ferro Central do Brasil, limitado pela Avenida Venezuela e Rua Edgar Gordilho. Apesar das dificuldades enfrentadas na construção, como a qualidade do solo e o orçamento insuficiente, a Estação Experimental de Combustíveis e Minérios mudou-se da Urca para a Avenida Venezuela em 1932. O prédio original ainda está de pé, mas, cercado de novos edifícios e galpões, hoje ocupa apenas 10% do complexo atual.
A mudança, entretanto, foi além do endereço: pouco depois, a antiga EECC passou a se chamar Instituto de Tecnologia. Em 1934, o novo Instituto passou a ser vinculado ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e foi rebatizado de Instituto Nacional de Tecnologia
– INT. O Instituto passou a ser composto de sete seções técnicas: Metalurgia; Combustíveis; Materiais de Construção; Química Tecnológica; Física Tecnológica e Medidas Físicas; Matérias-primas Vegetais e Animais; Indústrias de Fermentação e Expediente e Contabilidade. Havia no quadro efetivo 35 funcionários, além de eventuais colaboradores.
Petróleo baiano
Enquanto tudo isso acontecia, outras investigações que provariam ser visionárias mobilizaram técnicos do INT. Em 1936, Sylvio Fróes, chefe da seção de Química Tecnológica do INT, publicou os livros Rochas Oleígenas do Brasil e seu Aproveitamento e Contribuição para a Geologia do petróleo no Recôncavo, com Glycon de Paiva e Irnack do Amaral (Tipografia Germânia, Rio, 1936). Ambos versavam sobre a viabilidade da exploração do petróleo no Brasil – na época, a existência do recurso em solo nacional era negada por muitos, inclusive setores do governo federal.
Em 1938, no discurso de posse na Academia de Ciências do Rio de Janeiro, Sylvio Fróes Abreu fez uma brilhante defesa de sua tese sobre a existência de petróleo em Lobato, na Bahia. Quase todos os cientistas presentes riram. Dois meses depois, no dia 21 de janeiro de 1939, o petróleo jorrou no primeiro poço de Lobato.
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AÉ impossível falar sobre o Instituto Nacional de Tecnologia sem reconhecer o impacto da gestão de Iêda Caminha. Com um compromisso inabalável com a transformação da ciência, tecnologia e inovação no país, Iêda tem atuado em áreas estratégicas que são vitais para o desenvolvimento nacional.
Sua dedicação vai além do fortalecimento do INT; ela tem contribuído significativamente para o avanço das Unidades de Pesquisa do MCTI, reforçando o papel fundamental dessas instituições na construção de um Brasil mais inovador. Além da amizade que construímos ao longo desses anos, admiro sua incansável determinação em fortalecer o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, promovendo um ambiente mais colaborativo e eficiente. O legado de Ieda é marcado pela criação de tecnologias nacionais que não apenas impulsionam o desenvolvimento científico, mas também melhoram a capacidade de inovação das empresas brasileiras, ajudando-as a competir em um cenário global cada vez mais desafiador.
Márcio Portes Albuquerque, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)
Pão e papel
A necessidade de substituir matérias primas e produtos importados, que a Segunda Guerra Mundial tornara mais caros e escassos, mobilizou o INT a realizar pesquisas em diversas áreas. Como combustível alternativo, o Instituto desenvolveu estudos sobre o uso do gasogênio, gás gerado a partir de lenha e carvão, em motores. Além disso, estudou ligas metálicas para construção naval e até misturas de farinhas nacionais com o trigo, para a produção de pão.
Uma pesquisa que teria grandes consequências para o país foi a de alternativas para a fabricação de papel, até então importado da Europa e do Canadá. Desde os anos 1940, a Divisão de Fibras Têxteis do INT já vinha estudando matérias-primas nativas para empregar nas indústrias de celulose e papel. Com os testes, chegaram à conclusão de que o eucalipto possui uma
fibra adequada para a produção de papel. Uma pequena usina experimental foi importada dos EUA e as experiências foram um sucesso, o que estimulou investimentos no setor. Hoje, o Brasil é o maior exportador mundial de polpa de celulose.
A partir de 1957, o Instituto passou a realizar pesquisas com outras matérias primas, como o bagaço da cana. Foi desenvolvida pelo INT uma nova tecnologia de obtenção de “pasta celulósica”, sem o emprego de produtos químicos, caracterizada por ser não poluidora do meio ambiente e adaptável a qualquer porte de indústria. Em decorrência desta pesquisa, a indústria de celulose e papel do Nordeste passou a consumir matérias-primas peculiares da região, transformando-as em produtos de consumo local e exportando o excedente para o Sul.
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Obras em curso
Em novas construções ou em estudos para compreender a origem de problemas, o INT teve papel relevante em vários momentos. Em 1954, os técnicos do INT diagnosticaram as causas da ruptura de tubulações da adutora de Ribeirão das Lajes, no Rio, realizando estudos sobre corrosão sob tensão, causa de vários acidentes ocorridos no Canadá e nos Estados Unidos.
O INT recomendou uma solução – uso de tubos com proteção catódica – e a obra foi concluída com sucesso. Atualmente o sistema é responsável por cerca de oitenta por cento do abastecimento de água potável da região metropolitana do Rio de Janeiro, sendo considerada atualmente a maior estação de tratamento do mundo.
Nos anos 1950, o INT participou do planejamento de Brasília, com um estudo técnico para definir coeficientes de isolamento técnico e acústico e determinar a espessura das paredes; da construção do Aeroporto do Galeão, atestando a qualidade dos materiais; e da edificação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, conhecido por sua arquitetura arrojada em concreto. A Divisão de Materiais do INT também fez estudos para a construção da Cidade Universitária do Rio de Janeiro, orientando a construção dos edifícios, avenidas e ruas do complexo universitário, para que tivessem as melhores condições de conforto térmico.
Em setembro de 1943, o engenheiro Fernando Lobo Carneiro, do INT, apresentou no Quinto Congresso da Associação Brasileira de Normas Técnicas o novo método brasileiro para a determinação da resistên-
cia do concreto à tração. Conhecido mundialmente como Brazilian Test, esse método é até hoje adotado, tanto pela Reunião Internacional dos Laboratórios de Ensaios (RILEM) e pelo Comitê Europeu do Concreto, quanto peIa American Society for Testing Materiais (ASTM).
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Multiplicador da ciência e da tecnologia
Ao longo da sua história, o INT participou da criação de organizações e iniciativas que teriam papel importante no Brasil. Um exemplo foi o curso de Física da Universidade do Distrito Federal, criado em 1935. Bernhard Gross, Joaquim da Costa Ribeiro e Paulo Sussekind da Rocha, do INT, criaram as bases do curso e convidaram pesquisadores do instituto como professores.
Em 1940, a fundação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) teve grande participação do INT, que abriu sua sede para as reuniões da associação. Paulo Accioly de Sá, chefe de divisão no INT, é considerado fundador da ABNT. O INT também ajudou a planejar a estrutura e a atuação do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), criado em 1951.
Em 1961, o setor de metrologia do INT foi extinto para dar lugar a um órgão específico, o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM), sob a direção do mesmo Paulo Accioly Sá. Em 1974, o INT abrigou o Grupo de Desenho Industrial da Secretaria de Tecnologia Industrial do MIC com a missão de implantar o Centro Nacional de Desenvolvimento de Produto. Também foi eldorado no Instituto o projeto do Centro Tecnológico da Aeronáutica, da Universidade de Campinas.
Biocombustíveis
Além do etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, o INT se dedicou a pesquisar o uso de outras culturas para a produção de combustíveis e materiais. Em 1931, Sylvio Fróes publicou o livro O coco babaçu e o problema do combustível (1931), onde estabeleceu o valor da planta como fonte de óleos vegetais e combustível. Em 1956, pesquisadores do Instituto demonstraram a possibilidade do uso da mamona, material de baixo custo, na produção de plásticos. A mesma mamona resultaria em um excelente lubrificante em pesquisas divulgadas em 1978. Estudos da época concluíram que o novo produto poderia substituir com vantagem os lubrificantes derivados de petróleo.
Em 1985, o INT participou do projeto “Dendiesel”, de produção de biodiesel a partir do dendê, no sul da Bahia. O combustível foi produzido em caráter experi-
mental, mas com bom rendimento, haja vista que um carro pode fazer de 16 a 27 quilômetros com um litro deste combustível.
Em 2004, o Governo Federal criou o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). Visto como medida estratégica e prioritária, o Programa nasceu com o compromisso de viabilizar a produção e o uso do biodiesel no país. O INT assumiu a Coordenação do grupo temático de caracterização e controle da qualidade da Rede Brasileira de Tecnologia do Biodiesel (RBTB) e investiu na avaliação da armazenagem dos diversos tipos de biodiesel. A produção nacional de biodiesel superou os 7,5 bilhões de litros em 2024, impulsionada pela elevação do percentual de mistura obrigatória ao diesel para 12%, a partir de 1º de abril de 2023.
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“Há anos sou cliente dos serviços de elaboração de laudos e pareceres técnicos do Instituto Nacional de Tecnologia. Além de ser um órgão de referência no Brasil, que sempre atua com isenção, o INT soube se manter atualizado e compreendeu as mudanças e necessidades do mercado. Gostaria de ressaltar a preocupação no atendimento ao cliente, nos projetos de elaboração de laudos técnicos, e a abertura para compreender novas questões e marcos legais, temas de tecnologia de vanguarda necessários para a realização de análises técnicas importantes. Sempre que posso recomendo a colegas de profissão que procurem acompanhar as atividades do INT e conhecer os serviços de excelência prestados pelo Instituto às empresas no Brasil.
“Luiz Roberto Peroba Barbosa, sócio do escritório
Pinheiro Neto Advogados
INT 2020-2024: RESILIÊNCIA E INOVAÇÃO PARA APOIAR O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
Comprometido com a tecnologia e inovação desde a sua criação, o Instituto Nacional de Tecnologia chegou ao seu centenário em meio a um intenso processo de renovação. Entre 2020 a 2024, a instituição implantou novas ferramentas e estratégias para responder às demandas da sociedade e das políticas públicas priorizadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Além disso, precisou criar novos processos de trabalho para atuar durante a pandemia da Covid-19.
A mudança começou com a implantação de um novo regimento, que alterou a estrutura do Instituto, e de um novo Plano de Gestão. Resultado de estudos e debates com o corpo funcional realizados ao longo de 18 meses, os documentos foram encaminhados ao MCTI em 2019 para aprovação. O regimento modificado foi publicado em setembro de 2020, pouco depois da posse da diretora Iêda Caminha, em agosto.
Na nova estrutura institucional, o INT passou a contar com três coordenações técnicas: Tecnologia Química, Tecnologia de Materiais e Engenharia de Produtos e Processos. A Coordenação de Negócios foi ampliada com a incorporação da Divisão de Inovação Tecnológica e da Divisão de Comunicação, enquanto que a Coordenação de Infraestrutura foi redefinida como Coordenação de TI, Estratégia e Qualidade. Além disso, foi criada uma Coordenação de Planejamento Tecnológico, dedicada à identificação de demandas de cunho tecnológico ou oportunidades de desenvolvimento. A Coordenação-Geral de Administração se manteve.
Apesar da pandemia da Covid-19, a gestão implantada em 2020 avançou na direção das metas defendidas no Plano de Gestão aprovado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Em 2022, pela primeira vez o INT alcançou nota 10 (conceito A) do MCTI na avaliação das metas estabelecidas pelo Termo de Compromisso de Gestão. Em 2023, a nota foi 9,7, também conceito A.
Neste período, o INT conseguiu ampliar a sua carteira de projetos e serviços em XX%, principalmente através da unidade EMBRAPII. Os recursos extraorçamentários permitiram manter os laboratórios e complementar com bolsistas e celetistas a força de trabalho do INT, reduzida pelas aposentadorias – se, em 2010, o instituto contava com 229 servidores, em 224, o contingente era de 135. Um déficit que será amenizado pela admissão de 36 novos servidores, aprovados em concursos realizados em 2024.
Um aspecto em que o INT teve grandes avanços foi na visibilidade institucional. As redes sociais, como Instagram, e plataformas de vídeo, como o Youtube, tornaram-se meios prioritários para a difusão de informações, utilizando uma linguagem moderna e acessível a todos os públicos. A realização de eventos, inclusive online, também foi prioridade: seminários e palestras se repetiram durante a pandemia. Após o fim da crise, o auditório do prédio da Avenida Venezuela passou a estar sempre tomado por encontros.
Enquanto os esforços de comunicação se intensificaram, os de articulação institucional ganharam fôlego. Assim que a crise sanitária permitiu, o INT passou a participar de grandes eventos públicos, levando estandes próprios e material de difusão. A direção, coordenadores e pesquisadores do INT se tornaram presença assídua em congressos e seminários, estabelecendo conexões com outras instituições, governamentais ou não, e prospectando novas parcerias.
A renovação do INT também chegou à estrutura física do instituto. O prédio de mais de 90 anos passou por reformas que foram da fachada, que ganhou pintura e recuperação de portas e letreiros, e a aquisição de novos elevadores. É assim, com a casa arrumada, que o Instituto se prepara para os desafios do futuro.
CONTRA A PANDEMIA, NOVAS FERRAMENTAS E ADAPTAÇÃO
A pandemia causada pelo SARS-CoV-2 se alastrou rapidamente por todos os continentes, causando a morte de mais de 1,6 milhão de pessoas, com enormes impactos sociais. As medidas de segurança implantadas provocaram a interrupção das atividades e causaram extensas mudanças no comportamento social e nas relações de trabalho.
Como as demais instituições de pesquisa no Brasil, o INT sofreu o impacto da pandemia. Além disso, a desaceleração econômica que marcou o período fez com que as empresas reduzissem seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, o que afetou a entrada de recursos. Mesmo a Petrobras, um dos principais stakeholders do INT, reduziu os convênios de cooperação tecnológica durante a crise.
Apesar das dificuldades, o INT não parou. O trabalho presencial foi suspenso a partir de março de 2020 e substituído pelo teletrabalho, exigindo rápida adaptação ao ambiente virtual. As equipes técnicas concluíram ensaios em andamento com prazo de entrega definidos, cumprindo com os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde e procedimentos internos. Esse modelo de trabalho afetou principalmente as áreas de produção tecnológica e os processos de gestão interna, que precisaram de novas ferramentas e tecnologias para manter as operações. A direção do Instituto adquiriu com agilidade ferramentas para a realização de reuniões e eventos online.
“Foi uma honra, mas também um grande desafio, assumir a direção de uma instituição centenária como o INT e consolidar sua importância no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), em um momento de crise econômica e pandemia”, lembra a diretora Ieda Caminha. A nova diretora tomou posse em 24 de agosto de 2020 e um mês depois, em 28 de setembro, realizou a primeira reunião geral on-line.
A transformação das rotinas de trabalho foi complexa, lembra Ricardo Ferreira, coordenador de Tecnologia da Informação, Estratégia e Qualidade (COTIE). “Foi preciso implantar sistemas de segurança, já que algumas pessoas passaram a usar os computadores das suas casas. Outros precisaram levar computadores do INT, o que exigiu processos de gestão de patrimônio. O desafio era grande, já que precisávamos estar atentos para
impedir ataques cibernéticos aos bancos de dados”, conta. Um balanço do período mostra que os esforços foram bem-sucedidos. “Conseguimos que o INT não parasse. O trabalho continuou. Foi uma mudança drástica, mas nos adaptamos. Começamos a usar outras formas de fazer validações e aferições, muito ajudados por novas normativas”, lembra Valeria Pimentel, que à época atuava como Coordenadora de Engenharia. Como exemplo, cita as avaliações feitas pela Divisão de Avaliação e Processos Industriais, que costuma colher dados em viagens a campo. Para evitar os deslocamentos, a equipe utilizou métodos estatísticos para que os dados colhidos no Rio de Janeiro fossem representativos do país.
A execução da Lei Orçamentária Anual de 2020 foi dificultada no trabalho remoto, pois as rotinas administrativas tiveram que ser adaptadas para o novo forma-
to de trabalho. Mesmo assim, durante o ano de 2020, o Instituto conseguiu contratar 69 novos projetos de P & D e serviços, somando pouco mais de R$6,53 milhões. Ao todo, o Instituto administrou 215 contratos para o desenvolvimento de atividades de P & D e realização de serviços naquele ano. A capacitação de servidores e prestadores de serviços se ampliou: enquanto em 2019, 27 servidores de áreas técnicas fizeram cursos de capacitação, em 2020 o total foi de 49.
Ao mesmo tempo, houve um investimento importante na divulgação dos resultados do Instituto. A Divisão de Comunicação (DICOM) investiu na comunicação digital, promovendo eventos online e difundindo conteúdo pelas redes sociais. Em 2020, foram realizados 28 eventos online para o público externo, sendo que, destes, 20 foram uma versão digital do já tradicional ciclo de palestras Terças Tecnológicas. Adaptadas
como lives, as Terças Tecnológicas passaram a ser semanais e assumiram o formato de um bate-papo, onde um entrevistador e o público colocavam questões para colaboradores do INT.
Ao contrário de muitas instituições, o INT não repactuou nenhuma meta ou objetivos previamente acordados no Termo de Compromisso de Gestão–TCG e obteve bons resultados na grande maioria dos indicadores, alcançando em 2020 a nota 8,55.
Na pandemia,
projeto financiado pela EMBRAPII cria peça para
respiradores
Diante da emergência representada pela Covid-19, o INT aliou esforços com a empresa CPMH para desenvolver um item essencial para o atendimento aos infectados: válvulas de respiradores. “A CPMH foi provocada pelo INT sobre a necessidade de aumentar a capacidade de resposta da sociedade brasileira no enfrentamento da pandemia através da oferta de insumos e equipamentos para saúde” relata Rander Avelar. “Embora a sua atuação estivesse voltada para a fabricação de dispositivos médicos implantáveis, o Dr. Avelar topou o desafio”, lembra Maurício Monteiro, coordenador de Planejamento Tecnológico.
O desenvolvimento foi realizado com financiamento da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial – Embrapii. “Colocamos a contrapartida da empresa no valor mínimo possível para que o projeto fosse
realizado rapidamente”, conta Marcia Monteiro, que era Coordenadora de Negócios e responsável pela gestão dos projetos realizados através da Embrapii. Com o projeto “Desenvolvimento de válvula proporcional para ventilador pulmonar”, o INT elaborou uma peça-chave do equipamento: a válvula de ar que controla a interação do aparelho com a respiração do paciente. “O ventilador pulmonar para cuidados críticos foi desenvolvido em tempo recorde, apenas 12 meses, possuindo várias inovações no design fun-
cional”, contou Avelar.
O segundo ano da pandemia
Esperava-se que em 2021 a pandemia tivesse arrefecido. Não foi o que aconteceu. Após as festividades do final do ano de 2020, uma violenta segunda onda ocorreu. As mortes diárias pela covid-19 aumentaram a partir de janeiro, até chegar ao recorde de 8 de abril, quando 4.269 mortes foram registradas em 24 horas.
Mesmo com cenário pior do que o imaginado, com a redução dos recursos orçamentários da LOA da ordem de 21%, e redução de pessoal em contratos de mão de obra com dedicação exclusiva, o INT conseguiu resultados positivos, alcançando as metas estipuladas sem repactuação. O Instituto conseguiu executar 100% do orçamento autorizado, o que lhe granjeou um Certificado de Excelência e Gestão do MCTI.
As receitas estimadas para 2021, provenientes de projetos de P & D e serviços com recursos de outras fontes eram de cerca de R$10 milhões. No entanto, as receitas extraorçamentárias em 2021 somaram cerca de R$18,8 milhões, demonstrando a capacidade do INT de manter suas atividades com qualidade.
No campo da comunicação, foram registradas 226 inserções na mídia, total 43% superior ao de 2020. Houve 26 eventos online, entre seminários sobre temas diversos, debates sobre sustentabilidade e as palestras da série “Terças Tecnológicas”. As mídias sociais do Instituto ganharam novo impulso: o Instagram do INT, que alcançava um público de 1,6 mil pessoas no ano anterior, chegou a alcançar 14,4 mil pessoas em 2021, e a página do Instituto no Youtube saiu de 3 mil visitantes para 19,3 mil, nesse mesmo intervalo de um ano.
Eventos online
+43%
Inserções na Mídia
+643% Visitantes no YouTube 26
+900% Alcançe no Instagram
“Esta adaptação para realizar eventos virtualmente, agregou novas possibilidades articulação de articulação com públicos e interlocutores. Podemos trazer com mais facilidade para os eventos a participação de convidados de outras regiões do país e do exterior” – relata a chefe da Divisão de Comunicação, Andréa Lessa. Ela cita o exemplo do evento “Mulheres na Liderança da C&T”, no qual, em 8 de março de 2021, o INT conseguiu reunir as sete mulheres então investidas no cargo de diretora de Unidades de Pesquisa do MCTI, espalhadas por estados como Amazonas, Pará, Pernambuco, Distrito Federal e Rio de Janeiro.
A EMBAIXADORA DO INT
Dos 102 anos do Instituto Nacional de Tecnologia, Ieda Maria Vieira Caminha testemunhou 48 como parte da instituição. Desde que ingressou no INT, aos 17 anos, como técnica de nível médio, a amazonense ocupou diferentes posições no Instituto. Ieda já se preparava para a aposentadoria quando decidiu candidatar-se à direção, em 2019, para, entre outras missões, coordenar o centenário do Instituto. Assumiu em agosto de 2020, em plena pandemia da Covid-19. De início, sua prioridade foi motivar a equipe e adquirir as ferramentas para que o Instituto se mantivesse ativo durante a crise. Depois, investiu em divulgação científica, recuperação da infraestrutura, treinamento e muita articulação para ver o Instituto cada vez mais relevante. “Sempre acreditei que o diretor é um embaixador da sua instituição” define a diretora, às vésperas de encerrar sua carreira no Instituto.
Como você começou no INT?
Ieda: Eu me formei como técnica em Química Industrial pela Escola Técnica Federal do Amazonas em dezembro de 1975, e no início de 1976 me mudei para o Rio de Janeiro para cursar Engenharia. Em março surgiu uma oportunidade de trabalhar no INT como Especialista Nível Médio. Não havia vaga em laboratório, só na recepção, mas eu queria muito trabalhar nessa instituição tão reconhecida, que já tinha uma trajetória relevante em desenvolvimento tecnológico, e decidi aproveitar a chance. Ter o INT no currículo era um sonho de todos que cursavam Engenharia. Trabalhei como recepcionista por um ano e dois meses, até que surgiu a oportunidade de trabalhar na Divisão de Metalurgia, em 1977. No INT, atuei como técnica de nível médio, nível superior, mestre e doutora, desenvolvendo projetos de P & D e serviços tecnológicos, até iniciar minha trajetória na direção, a partir de 2007, como coordenadora, vice-diretora e diretora, a partir de 2007. São 48 anos como servidora do INT, uma trajetória da qual muito me orgulho.
O INT não é uma universidade e sim uma instituição científica e tecnológica. Mesmo assim, os profissionais são estimulados a desenvolver carreiras acadêmicas, fazendo mestrado, doutorado e pós-doutorado?
Ieda: Não era assim quando eu entrei no Instituto. Naquela época, nossa capacitação ocorria em cursos de curta duração, geralmente realizados na Instituição. Os cursos do INT sempre atraíram engenheiros de outras instituições do Rio de Janeiro, já que as universidades não tinham a moderna infraestrutura laboratorial que nós tínhamos, especialmente nas décadas de 60 e 70. Mas, para fazer doutorado, era preciso viajar para fora do Brasil. Na década de 1980, o INT tinha, talvez, uns quatro ou cinco doutores, todos formados no exterior. Mas, depois, com a nossa migração para a carreira de Ciência & Tecnologia, em 1993, passou a haver mais incentivo para a especialização e pós-graduação.
Quando você começou, como as mulheres eram vistas no INT?
Ieda: As mulheres no INT sempre se destacaram por sua competência técnica e pioneirismo. Mesmo quando poucas mulheres escolhiam a área tecnológica, o INT já tinha muitas servidoras atuando como chefes de laboratório e líderes de pesquisa. Quando comecei a trabalhar na divisão de Metalurgia, em 1977, a chefe era a doutora Maria Carolina Marques da Silva. É verdade que houve poucas mulheres chefes de Divisão e que, em 102 anos, só tivemos duas mulheres na direção do INT, Maria Aparecida Stalliveiri Neves, de 1990 a 1999, e eu, de 2020 a 2024. Felizmente, esse cenário vem se modificando e cada vez mais as mulheres que atuam em C&T estão sendo reconhecidas e assumindo cargos de liderança. Na minha gestão, as mulheres são a maioria na direção.
O que motivou você a se candidatar ao cargo de diretora, depois de 44 anos trabalhando no INT?
Ieda: Na realidade, eu não tinha intenção de concorrer à direção do INT, pois estava planejando fazer um pós-doutorado na Alemanha na minha área de atuação: Caracterização Avançada em Materiais Metálicos. Mas, quando o diretor anterior a mim, Fernando Rizzo, me convidou para ser Coordenadora de Negócios e, depois, em 2017, diretora substituta, esse projeto ficou adiado. Com a aproximação do final do mandato do meu antecessor, em 2019, e do centenário do INT, em 2021, vários pesquisadores do instituto e o próprio diretor me incentivaram a me candidatar. Comecei a pensar: “Puxa, se vier um diretor ou diretora que não valorize a trajetória do INT no seu centenário, vou me
sentir muito culpada”. Então acabei me candidatando à direção, embora considere que minha maior contribuição ao instituto tenha sido na área técnica, onde atuei por 32 anos e atuo até hoje.
Você assumiu a direção em plena pandemia da covid-19. Como foi essa experiência?
Ieda: Quando enviei os documentos da candidatura, em março de 2020, ainda estávamos no começo da pandemia. Ninguém sabia que iria demorar tanto. A gente achava que o isolamento duraria uns 15 dias, no máximo um mês. Fui nomeada em agosto de 2020, com a instituição fechada e todos em trabalho remoto. Dirigir o corpo funcional e a instituição no virtual foi um grande desafio e aprendizado. Os projetos e serviços não pararam, mas logicamente diminuíram muito durante a pandemia. Fazíamos as reuniões pelo computador e uma equipe técnica ia ao INT, sempre seguindo as orientações de segurança sanitária, para executar os ensaios mais urgentes. E assim foi durante os anos de 2020 e 2021. Voltamos à normalidade do trabalho presencial em 2022. Em agosto daquele ano, implantamos o programa de gestão, que permite o trabalho remoto 2 vezes por semana, atendendo os anseios dos servidores do INT e com aval do MCTI.
Quando você assumiu, também entrou em vigor um novo regimento, que havia sido discutido na gestão anterior. Qual foi o objetivo dessa reestruturação?
Ieda: De tempos em tempos, visando uma maior eficiência, é saudável a instituição discutir a sua estrutura, que deve ser baseada nas áreas de atuação administrativas e técnicas. Também é preciso
considerar a força de trabalho disponível; no INT, ela diminuiu ao longo dos últimos dez anos, com 92 aposentadorias. Já houve época em que 700 pessoas trabalhavam no instituto. Hoje, entre servidores, empregados públicos, terceirizados, bolsistas e estagiários, somos cerca de 480 pessoas atuando no INT. Em 2018, o INT contratou uma empresa para fazer um diagnóstico da estrutura organizacional e propor uma nova estrutura que respondesse aos desafios do governo, setor produtivo e da sociedade. O estudo durou cerca de um ano e meio e envolveu grande parte da instituição, que participou de oficinas e entrevistas. A partir do resultado, foi elaborado o novo regimento e encaminhado ao MCTI em 2019. Coincidentemente, o novo regimento foi publicado no início do meu mandato como diretora em agosto de 2020. Mas, em função da pandemia, só a partir de 2022 vivenciamos de fato as mudanças, pois antes estávamos trabalhando remotamente. Agora estamos discutindo um novo plano diretor, o PDU, para os próximos quatro anos. Nesse processo, debatemos, por exemplo, se devemos criar novas áreas e como trazer novas ferramentas para nossas pesquisas.
Sua gestão é descrita pelas pessoas do INT como um período em que o Instituto ganhou mais visibilidade e maior conexão com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Essas áreas foram prioridade para você?
Ieda: Como diretora, tenho um olhar muito atento para as questões internas da instituição: eu me dediquei a manter a infraestrutura predial e laboratorial funcionando adequadamente e a garantir que o corpo funcional desfrutasse de um clima organizacional harmonioso. Mas sempre acreditei que o diretor é
um embaixador da sua instituição e que um dos seus papéis mais relevantes é o de representação e articulação institucional. Um desses espaços de articulação é o fórum dos 17 diretores das unidades de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação. Aqui no Rio, somos seis unidades de pesquisa e uma organização social. Sempre que a Ministra ou o secretário executivo vem para algum evento no Rio, nós comparecemos; estamos presentes no MCTI sempre que convocados pela subsecretária das unidades de pesquisa e organizações sociais, pelo Secretário Executivo e a Ministra. Também participamos de vários conselhos de administração de outras instituições e mantemos diálogo com a FINEP, FAPERJ, CNPq, ABC, SBPC, lideranças políticas e outras organizações, não só para obter recursos, mas para mostrar a relevância de nossas instituições para o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
A captação de recursos através de projetos de P & D e serviços tecnológicos em apoio ao setor produtivo é muito importante para o INT?
Ieda: Desde sua criação, há 102 anos, o INT apoia o setor produtivo na solução de problemas que impactam as empresas, visando o aumento de sua competitividade e contribuindo para a inovação de produtos e processos. Além disso, os recursos obtidos dos projetos e serviços para empresas permitem ampliar as equipes técnicas, adquirir equipamentos e instrumentos e mesmo criar novos projetos de P & D e serviços. Em 2023, o INT recebeu cerca de R$ 16 milhões do Orçamento da União, dos quais 85% foram empregados no pagamento dos contratos terceirizados, como os de vigilância, limpeza, informática, apoio administra-
tivo e manutenção predial, entre outros. No mesmo ano, captamos através de projetos e serviços cerca de R$40 milhões, um valor significativo em receitas extraorçamentárias e que comprova nossa relevância para o setor produtivo.
Um aspecto importante do seu plano de gestão foi o apoio ao empreendedorismo. O que avançou?
Ieda: Desde 2019, temos discutido um novo formato de atuação em relação ao empreendedorismo. Em 2020, ganhamos dois projetos de FAPERJ, um liderado pelo INT e outro pela Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro, a REDETEC, que está sediada no INT desde 2018. Esses projetos permitiram a implementação do coworking. A partir de 2022, com o financiamento do projeto Inova pela FAPERJ, e o apoio do nosso Núcleo de Inovação Tecnológica e da REDETEC, estamos avançando bastante nas capacitações e na elaboração de procedimentos.
Como você avalia a estrutura de laboratórios do INT?
Ieda: No INT temos orgulho de contar com uma moderna infraestrutura laboratorial. São 20 laboratórios e um Centro de Caracterização em Nanotecnologia, que nos permitem realizar pesquisa e serviços com qualidade e elevado conteúdo técnico-científico nas áreas de tecnologia química, tecnologia de materiais e engenharia de produtos e processos. Mesmo durante a pandemia, mantivemos os equipamentos e laboratórios funcionando. No segundo semestre, devemos inaugurar mais um laboratório, o de Tecnologia em Mobilidade, muito importante para o desenvolvimen-
to de novas tecnologias de motorização e avaliação de novos combustíveis e biocombustíveis, bem como emissões veiculares.
Você também investiu na segurança das equipes?
Ieda: Sim, como minha atuação profissional sempre se deu em laboratório, considero fundamentais as questões relacionadas à segurança das equipes. Criamos uma Comissão de Segurança do Trabalho, contratamos uma consultoria para apresentar um projeto de Segurança contra Incêndio e Pânico no Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, realizamos treinamento de brigada voluntária de 120 servidores e colaboradores e, recentemente, passamos a contar com bombeiros de plantão 24 horas por dia. Além disso, estamos adequando as nossas instalações e criando uma brigada de incêndio.
Na sua avaliação, quais foram os grandes destaques da sua gestão como diretora?
Ieda: Um deles foi o fato de que, apesar da pandemia, alcançamos uma expressiva ampliação da carteira de projetos e de serviços e obtivemos em 2022 a primeira nota 10 (conceito A) alcançada pelo INT no Termo de Compromisso de Gestão assinado com o MCTI. Em 2023, a nota foi 9,7, nos mantendo no conceito A. As notas são importantes, já que indicam o cumprimento das metas estabelecidas no TCG, demonstrando o desempenho institucional. Outro destaque foi a ampliação do corpo funcional. Através dos recursos extraorçamentários oriundos dos projetos e serviços, foi possível complementar a força de trabalho do Instituto através da contratação de bolsistas e celetistas
(atualmente são cerca de 220). Felizmente, com a realização de concursos, em breve receberemos outros 35 profissionais.
Que outros avanços ocorreram durante a sua gestão?
Ieda: Além do avanço da atuação em empreendedorismo através do projeto INOVA, de que já falamos, outro destaque é a transformação que realizamos na comunicação. Mesmo sendo centenário, o INT é uma instituição que trabalha com tecnologia de ponta, com as mudanças do setor produtivo, e não pode ter uma comunicação antiga. Demos uma virada muito grande nessa área e passamos a investir muito nas redes sociais, ampliando bastante nossos seguidores e aumentando nossa visibilidade institucional. Investimos, ainda, na recuperação do prédio e anexos, atualização da subestação e novos elevadores. E por fim, também houve a comemoração do centenário do INT, com seminários virtuais e uma solenidade presencial com a participação de autoridades, parceiros de longa data e do corpo funcional e premiação de instituições e pessoas com a Medalha Fonseca Costa, demonstrando a relevância desta instituição científica e tecnológica para o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil.
No seu plano de gestão, você falava em construir uma gestão participativa. Houve avanços nesse sentido?
Ieda: Eu tive a sorte de trabalhar sempre em um ambiente harmonioso. Mesmo que as ideias não sejam iguais, trabalhar em equipe é sempre muito mais prazeroso. Possuo facilidade de comunicação, proativi-
dade, criatividade, comprometimento, capacidade de motivar e liderar equipes, acredito que essas características facilitaram minha atuação como diretora. Realizo periodicamente reuniões de diretoria, reuniões gerenciais e reuniões gerais com o corpo funcional, visando à disseminação das informações institucionais, compartilhamento de ideias, debates e tomada de decisões. Acredito que integrar o quadro de servidores da casa há 48 anos trouxe a proximidade necessária com os servidores e maior facilidade em compreender e resolver demandas institucionais. Daí a construção de uma gestão participativa me parece acontecer naturalmente.
Então, seu sucessor vai encontrar uma instituição em boa forma?
Ieda: Vai encontrar a instituição otimizada em termos de infraestrutura física e laboratorial e com uma significativa carteira de projetos e serviços. Mas sendo uma instituição centenária, muito ainda deve ser feito em termos de infraestrutura física e laboratorial, bem como de atuação junto ao setor produtivo e políticas públicas, buscando novos nichos de mercado no país e no exterior. O INT melhorou muito sua visibilidade através de uma nova abordagem da comunicação institucional e deverá se manter atualizado, divulgando seus projetos e serviços junto aos atores do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e à sociedade. Gostaria de destacar que ao longo dos quatro anos de minha gestão à frente do INT, todo o esforço foi empreendido para que a instituição tivesse o reconhecimento que merece pela sua trajetória de 102 anos de relevantes contribuições ao desenvolvimento tecnológico do Brasil.