Agronegócio em Foco 08 - Dia Mundial da Agricultura e a deusa Ceres

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Ano 03 | Nº 08 | março 2021

Dia Mundial da Agricultura e a deusa Ceres Prof. Dr. Elmar Luiz Floss Engenheiro Agrônomo e Licenciados em Ciências, doutor em Agronomia, Professor Emérito de Passo Fundo, escritor e Membro da Academia Passofundense de Letras, Consultor em Agronegócios, professor aposentados da UPF, professor e diretor do Instituto Incia – www.incia.com.br Uma das características da agricultura antiga era sua relação com os ritos religiosos e o trabalho da mulher. O início do plantio e da colheita sempre era realizado pelos reis ou imperadores, a autoridade maior. Como somente a mulher tem o dom de gerar outro ser, o dom da fertilidade, esse trabalho de manejo das culturas era realizado por elas. Aos homens, cabiam o desmatamento, as queimadas, a caça, a pesca e o cuidado dos filhos. A mulher realizava o trabalho de plantio e colheita. Nas tribos indígenas brasileiras mais primitivas, ainda é a mulher que realiza os trabalhos de cultivo de culturas, exatamente como no Oriente Médio antes de Cristo. Por essa razão, a agricultura tem uma deusa, Ceres. É, na verdade, o nome romano dado à deusa grega Deméter, a Mãe da Terra. Ceres, na mitologia romana, era filha de Saturno e Cibele, amante e irmã de Júpiter; irmã de Juno, Vesta, Netuno e Plutão, e mãe de Proderpina (Persephone), com Júpiter (Zeus). Segundo os mais diferentes relatos existentes, a deusa “Mãe da Terra” tem a função de proteger, de abençoar e de garantir a fertilidade; a arte de semear, de colher e de fabricar o pão; o potencial de nutrição; o não pertencimento a ninguém; o arquétipo materno; a descoberta da razão para viver; a posse e a obstinação; a necessidade de acompanhar os ciclos da vida; e as características taurinas. Ceres também era a deusa siciliana (região que, naquela época, pertencia à Grécia, hoje, Itália), das sementes, especialmente, dos grãos alimentícios cultivados na época, principalmente, o trigo. Daí, originou-se a denominação de cereais para as culturas


produtoras de farinhas (ricas em amido), como o trigo, a aveia, o centeio, o arroz, o milho, o triticale, o sorgo e outras de menor importância, usadas na elaboração do pão. A introdução do culto à Ceres em Roma data de 496 a.C. e parece provir do cerco da cidade pelos etruscos, enquanto Roma era ameaçada pela fome. E atribui-se à Ceres a volta da produção de alimentos. Segundo a lenda, Ceres foi seduzida pelo irmão Júpiter e teve uma filha dele, Prosérpina (Persephone). Prosérpina cresceu alegremente entre as outras filhas de Júpiter, mas, sendo extremamente atraente e bela, seu tio Plutão (Hades) se apaixonou por ela e arrastou-a para o inferno. Quando Ceres chegou ao local, não havia mais sinal de Prosérpina. Por nove dias e nove noites, Ceres vagou pelo mundo com uma tocha acesa no vulcão Etna, em ambas as mãos, procurando a sua filha. Ceres, então, decidiu abandonar a sua condição divina até que sua filha retornasse para ela, que se tornou estéril. Infelizmente, a jovem, por ter comido sementes de romã, ficou ligada para sempre aos infernos. Como consolo à Ceres, ficou estabelecido, no Monte Olimpo, que Prosérpina desceria, anualmente, ao reino do seu esposo, durante o outono e o inverno, quando a terra repousa. Na primavera e no verão, ficaria em companhia de sua mãe. Essa é a razão pela qual, quando Prosérpina deixa o inferno para estar com a sua mãe Céres, a terra floresce, trazendo a primavera e o verão aos mortais como um sinal da alegria de ambas as divindades. período de muito sol e temperatura adequada, que permite o crescimento das culturas e a produção de alimentos. Quando chega o momento de Prosérpina deixar sua mãe para ir ao inferno, o outono e o inverno cobrem a terra em sinal de profunda tristeza. Ceres, contente, voltou a trabalhar pela alimentação dos mortais. Viajou muito com seu marido Baco, o deus do vinho, a bebida dos nobres. Diz a lenda que Ceres também ensinava a elaborar cerveja, um líquido alcoólico, a bebida dos plebeus, a partir da fermentação da massa de pão, portanto de farinha de trigo. Como o início da primavera, no Hemisfério Norte, ocorre no dia 20 de março, nesse dia comemora-se no mundo inteiro o Dia Mundial da Agricultura. Mesmo que o dia 20 de março é o início do outono e seguido do inverno, o início do período de tristeza, segundo a lenda, a data também é comemorada no Hemisfério Sul.


Quadro em homenagem à “Ceres, deusa da Agricultura”, na Associação de Engenheiros Agrônomos de Campo Mourão-PR Fonte: acervo do autor.


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