Informafricativo cordel 1ª edição

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DIRETOR: Aziz Julio Salles Ramos VICE DIRETORAS: Fernanda Maria Bestetti Ferreira e Vladenir Ap. Penariol Silva O. PEDAGÓGICA: Ana Rosa Mobilon - Isaac Saglia ENDEREÇO: Rua Fauze Selher, s/n, Parque Oziel - Campinas - São Paulo CEP: 13049-066 FONE: 3269-6232. APOIO: CONEPPA – Coletivo Negro com Práticas Pedagógicas em Africanidades - FÓRUM PERMANENTE de Educação e Diversidade das Relações Étnico-Raciais – CEFORTEPE - Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional.

ACESSE: https://issuu.com/search?q=informafricativo AGRADECIMENTO: Comunidade do Oziel, Monte Cristo e Gleba B. RESPONSÁVEL: Wilson Queiroz – wilsonq10639@gmail.com

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CHUVA NA CHEGADA A COMUNIDADE – PRIMEIRO DIA LETIVO. (18/02/2010) Wilson Queiroz

Cheguei hoje no Parque Oziel Esta escola tão singular Onde o asfalto passa apenas Na porta do grupo escolar.

Chove muito neste momento Na escola e na comunidade Muita casa a beira do córrego Podem gerar uma calamidade.

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O que vão fazer os alunos Que com a chuva se preocupa Como é para quem fica em casa E se alagar, de quem é a culpa?

Será que não ter cabeça Para fazer qualquer lição Por isso deve ser difícil Quando abala o seu chão.

Escola com chuva uma sina Para quem mora na favela Se atrasar a escola logo espera Saber no jornal antes da novela.

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Fico pensando aqui agora No que em cada um passa Se esta chuva tudo não levar Outra chuva logo ameaça.

Quando chove lá na favela Duas coisas são primordiais As moradias são precárias Numa sociedade dos desiguais.

Chove, Chove, Chove Chuva Chove e nem pensa em parar Esta música numa favela Não é bom assim cantar.

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Se chover eles perdem o sono Quando a chuva logo anuncia Cuidado com cada barraco Pois a chuva deles tripudia.

É chuva não é um dilúvio Porém o medo logo vem Pois em casas mal construídas A chuva tudo nela retém.

Não pode ser por acaso O que acontece nesta hora A chuva quando anuncia Esta população muito ora.

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PENSANDO UM PROJETO PARA ESCOLA FEVEREIRO DE 2010 Wilson Queiroz

E mais um projeto começa Às vezes sem pé nem cabeça Vamos pensando em tudo Até que a ideia amadureça.

O bairro Oziel será o tema Proposto pelos professores Pensar o antes e o depois Deste bairro e os seus atores.

Agora que esta escola É uma construção de alvenaria Chamaremos os moradores Para saber das lutas e agonias.

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Abrindo o carnaval deste ano Saiu o bloco do Monte Cristo Lembrando na letra da música “Não esqueçam que eu existo”.

Neste permanente esforço De recontar uma história Que escreve no dia-a-dia A luta por uma outra escola.

Parece até muito simples Esta história poder descrever Porém as dores e as delícias Os professores precisam conhecer.

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Se esta ocupação tem avançado Então vejamos o que fazer Para construir na escola do Oziel Uma historia que resgate o prazer.

História que quase sempre Negada no que há de bonito A luta de um povo varonil Que conquista as coisas no grito.

Nada aqui é se consegue fácil Ainda que de fora possa parecer Apresento a todos um convite Esta comunidade melhor conhecer.

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Nada aqui se conquista fácil Ainda que sejam brasileiros Pois o Brasil nega aos seus filhos E facilita para os povos estrangeiros.

Esta história é tão verdadeira E é preciso que nos cause vergonha O que fazem com a terra no Brasil É prática do tempo Brasil - Colônia.

A terra aqui pode ser farta Mais ainda não é para o brasileiro Inspirados na casa grande e senzala Mesmos moldes do Brasil - cativeiro.

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De muita coisa é preciso dizer Para que todos fiquem sabendo Para sempre poder combater Os erros que ainda cometemos.

No Oziel as aulas das crianças Começam no horário das quinze As dezenove precisam ir embora Vejam a lei como aqui se define.

Crianças pobres, pretas e pardas Marcadas pela forte pobreza De uma sociedade muito injusta Que os trata com toda aspereza.

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Os professores que aqui trabalham Precisa enfrentar esses desafios É preciso poder educá-los Pensando num outro Brasil.

O que procurar da história?

Quem deseja aqui trabalhar A batalha do parque Oziel Uma história que se faz singular.

O que iremos do Oziel descrever Da ocupação e dos seus moradores Pesquisando nesta comunidade A história de seus grandes atores.

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O Oziel adolescente que fora morto Com brutalidade e muita truculência Na cidade de Eldorado dos Carajás No auge de sua vida e adolescência.

Criança valente, forte e sadia Desde muito cedo discriminada Por esta pátria mãe gentil E que no hino exige ser amada.

Uma linha do tempo é preciso Para esta história ser construída Para juntos podermos ressaltar Os momentos desta história vivida.

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São lutas contra o extermínio Das populações que vivem a beira Numa sociedade tão desigual Todos os filhos de pátria mãe solteira?

O pai Brasil não reconhece E nega a todos Oziel-cidadão O direito de assumi-los de fato Com o sobrenome na certidão.

O Oziel conta uma história Que não aparece nos livros São negros e pobres que estão No Oziel hoje aqui reunidos.

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Uma ocupação muito forte E com força de quilombola Ainda aqui se faz nesta luta Pelo direito a uma boa escola.

Que tenha sala e espaço Condições dignas para trabalhar Que não amontoe os alunos Pois assim não dá pra estudar.

Se limpo a sala de aula O banheiro fica pra depois Por falta de funcionários Não é possível limpar os dois.

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Agora não é escola de lata Já foi construída a de cimento Porém as lutas aqui são diárias E é esse o nosso alimento?

Alimenta a todos que acredita Numa busca pelo progresso Mas neste Brasil é mais difícil Pois apenas alguns têm acesso.

O que pensam os nossos alunos E como na comunidade se viram Numa comunidade tão grande Que muitos ainda não descobriram.

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Se por volta de mil e quinhentos Certo Pedro um Brasil descobriu O Parque Oziel aqui em Campinas Parece ter o mesmo perfil.

Descoberto ou ocupado O Brasil já fora um dia Agora no parque Oziel O que se exige é cidadania.

Descobrir o que aqui é de fato O lugar de nosso direito Contra toda forma de privilégio O Oziel bate com orgulho no peito.

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O que é exercer cidadania?

Brasil, por favor, me responda Os moradores do Parque Oziel Nesta área esta na crista da onda

O quanto eles precisam exigir Para que sejam de pleno direito Filhos desta pátria mãe Brasil Com dignidade e o devido respeito.

As condições ainda são precárias E o desafio diário é constante Na luta por melhor educação Professor? Aqui só mesmo militante.

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Já não é possível esconder O que está escancarado Os alunos que atendemos No rosto já tão marcado.

Uma escola outrora de lata A quem será que se destina?

Como então melhor valorizar E trabalhar com auto-estima?

O tempo passou e agora A luta permanece tão viva Seja em que tempo for A escola a esta luta se obriga.

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Espero que cada professor Que nesta escola trabalha Saibam da sua importância Por uma educação solidária.

Solidaria com as novas conquistas Desta comunidade com grande valor Que encarou a força da opressão E o direito a terra já conquistou.

Ainda que seja precária Sem saneamento e sem asfalto O trabalho aqui do professor Não é ser o capitão-do-mato.

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Aquele que chega e destrói Anos de lutas e grandes vitórias De pessoas que fizeram valer O seu direito numa digna história.

Comecemos todos a pensar Como melhorar a educação Desta escola na comunidade Fruto de uma grande ocupação.

Se pra fazer valer o direito Sagrado da vida com educação Muita coisa inviabilizada Pela falta de mínima condição.

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Condição básica de material E outras matérias primas Que são tão indispensáveis Para estes meninos e meninas.

Ser cidadão neste Brasil Às vezes muito arrepia Sem terra, sem casa, sem escola Quem tem a tal cidadania?

Dividindo o mesmo espaço Com município e o estado Vejam vocês como é grave Pois tudo esta bem acordado.

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O estado e também o município Parceiro neste mesmo ultraje Uma escola ainda muito precária Que precisa bem mais que laje.

Uma professora logo propôs Organizar com alunos portfólios Para poder resgatar e organizar Dos momentos ricos e os inglórios.

Escrevo estes simples versos Tendo o Oziel por inspiração É preciso contribuir com projetos Que apontem a transformação.

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Quando cheguei ao Parque Oziel Confesso a você meu assombro Vi-me revivendo uma história Trabalhando em um novo Quilombo.

O que difere de Palmares Para este de hoje em dia Os dois têm algo em comum A mesma luta pela Cidadania.

Negros, pardos e os brancos Vivendo em perfeita harmonia?

Isso só será mesmo possível Garantindo a todos plena cidadania.

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A luta que temos que encampar Por uma pátria que elimine barreiras Que permita cidadania aos ricos Mas também para as faxineiras.

Que deles sempre ouvimos dizer Que faxineira é quase da família Porém uma coisa é você dizer Outra coisa é como compartilha.

Se da família a faxineira fosse Poderia ser motivo de alegria Porém na hora da herança Sua bolsa é a única vazia.

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Ainda que tenham carinho Afeto amor e todo o respeito É importante ao patrão perguntar Como este lhe assegura o direito?

As lutas que se apresentam Em pleno fôlego e crescimento Duas lutas a se encampar MST e o Negro Movimento.

Já nos lembrou Milton Santos Que a pior violência é a fome Ele disse quem tem a terra Também possui o homem.

Se a luta que agora se trava Causando uma enorme euforia O Movimento Sem Terra

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Precisa também discutir Etnia.

Repito por ser muito importante Que a pior violência é a fome Então é preciso acabar de vez Com os males que nos consome.

Racismo e extrema pobreza No Brasil talvez seja sinônimos Já que toda luta pela terra É também uma luta pelo homem.

Se ambos os temas merecem De todos maiores conhecimentos Combate ao racismo e a luta por terra Tem na base o mesmo fundamento.

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Acabar com os privilégios Sociais, de gênero ou raciais São elas que perpetuam até hoje As nossas desigualdades sociais.

A luta dos trabalhadores sem terra É visível que muito se associa Com questões também profundas E que o movimento negro denuncia Sobre as desigualdades no Brasil Que a escravidão pautou na etnia.

Lembrar dos movimentos negros E dos trabalhadores sem terra São organizações revolucionárias Que apontam questões para a escola

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Sonhar uma sociedade igualitária.

Igualitária em cada direito Respeitando as nossas diferenças Indígenas, Negros, Brancos e Orientais Praticando cada um suas crenças.

Que não seja melhor ou pior Que com respeito apenas a trate Já não é possível e legal permitir Que uma religião a outra destrate.