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Inês Caeiro e Inês Silva

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I. Despertar ............................................................................................................................................ 6 II. Sinais Ocultos .................................................................................................................................. 11 III. Sombras Digitais .......................................................................................................................... 15 IV. O Plano de Octo ......................................................................................................................... 22 V. Corrida Contra o Tempo ............................................................................................................ 25 VI. O Confronto Final ...................................................................................................................... 31 Índice

Ficha Técnica

Título original: 2124

Autoras: Inês Caeiro e Inês Silva

Género: Ficção Científica e Suspense

Público-Alvo: Jóvem Adulto

Número de Páginas: 40

Data de Publicação: 12 de maio de 2024

Impresso em Portugal

Caeiro, Inês, 20210861

Silva, Inês, 20210555

IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação

1. Despertar

O meu nome é Ali, ou era, na verdade não sei quem sou. Imagino estar na parte mais sombria de Nova York, aquela que ninguém deseja conhecer, onde domina o lixo e grandes grupos de ratos, estranhos os ratos. Não sei o que aconteceu à minha família nem tenho qualquer lembrança de como cheguei aqui. A verdade é que o caos ao meu redor ecoa a confusão que reina na minha mente e, por mais bizarro que possa parecer, a única coisa que eu tenho certa é uma imensa sede de vingança. Mas contra quem? Sempre que tento perceber, essa resposta parece escapar de mim, como se estivesse escondida nas sombras da minha memória fragmentada. Estou decidida a encontrar as respostas que preciso sobre os mistérios que me rodeiam e por isso, só me resta encarar esta minha nova realidade.

A única coisa que sei sobre mim é que sou especialista em computadores, noutro tipo de linguagem, sou hacker, será por isso que a única coisa que tenho comigo é um computador ou será coincidência ter vindo parar a um lixo onde está precisamente um computador, ainda que estragado? Bem.. para já não tenho como saber, mas lembro-me desta parte de mim. Quase que nasci a teclar, os meus pais diziam-me que eu era destemida no que se tratava de enfrentar sistemas complexos no mundo digital. Talvez seja esse o meu caminho para descobrir a verdade, através dos labirintos da tecnologia.

Lembro-me tão claramente da relação que tinha com a minha mãe. Éramos mais do que simplesmente mãe e filha, éramos cúmplices e companheiras de todas as aventuras, como se fossemos duas metades do mesmo todo. Desde pequena que sempre foi ela quem esteve ao meu lado, fosse a partilhar bons ou maus momentos, ela estava lá, e eu confiava nela como em mais ninguém.

Mas o meu pai... Ah, o meu pai era uma presença distante, quase ausente. Ele privi-

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legiava o trabalho acima de tudo, passava longas horas no escritório e raramente dedicava tempo à família. As vezes que interagia connosco eram escassas, e eu sempre me senti como uma estranha diante dele, como se não pertencesse ao seu mundo de negócios e preocupações.

Por vezes, testemunhava cenas mais agressivas entre os meus pais, discussões violentas que refletiam pelas paredes da nossa casa. Eu sentia-me como um erro na vida do meu pai, como se a minha mera existência fosse um fardo para ele ou eu fosse uma intrusa indesejada no seu mundo perfeito. Nesses momentos de conflito, o meu desejo era desaparecer para algum lugar onde pudesse ser desejada, onde não causasse dor nem complicações a ninguém. Por isso, refugiava-me no meu computador, onde podia escapar para um mundo de zeros e uns, onde a tecnologia era a minha única companhia fiel, a única que não fazia julgamentos nem me ia perguntar nada. Foi assim que nasceu a minha ligação com o mundo digital, num mundo onde muitas vezes desejava ser invisível, encontrei no ecrã o meu refúgio para todos os problemas e conflitos que assombravam a minha família, um local onde a minha invisibilidade se manifestava através do ecrã.

Envolta na névoa da minha própria confusão, vagueio pelas ruas de Nova York, cada passo um eco dos meus pensamentos frenéticos. Sinto-me como uma estranha na minha própria vida, perdida no meio da agitação Nova Iorquina.

Enquanto atravesso a Times Square, sou abalroada por um homem apressado que, com o alvoroço, deixa cair um cartão que me chama a atenção, talvez pelo facto de possuir um logótipo que me era estranhamente familiar. Curiosa, inclino-me para o apanhar, e é então que uma visão me atinge como um raio, cortando o nevoeiro da minha mente. Flashes de lembranças, fragmentos do passado, invadem a minha consciência. Vejo imagens da minha mãe a sorrir de forma feliz para mim enquanto nos divertimos juntas, lembro-me das discussões intensas entre os meus pais e do meu desejo incontrolável de escapar desse conflito constante. Ter este tipo de visões é algo que nunca me tinha acontecido, por momentos pensei que pudesse estar a sonhar, mas não. Tão rápido esta visão me atingiu como tão rápido se foi e voltei à realidade. A verdade é que neste momento tenho ainda mais questões. Que tipo de pessoa sou? Alguém especial? Uma espécie de Alien? Nem por acaso, o meu nome é Ali... cada vez mais sei que não sei nada.

No meio de tudo isto, aiiii, um rato! Está ao meu lado, mesmo junto do cartão um rato com os olhos negros fixos em mim. Inicialmente o susto dominou-me, é claro, mas, logo de seguida, empatizei com o olhar daquele pequeno animal que, estranhamente, pareceu compreender toda a minha dor e confusão. Sem saber bem

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porquê, começo a falar com o rato, como se fosse o amigo que me faltava quando dou por mim estou a desabar sobre as minhas angústias. O rato age como uma pessoa, expressa-se através do movimento da cabeça, quase que parece que está a dizer que sim e que não.

Na sequência desta conversa, decido dar-lhe um nome, porque não? Se as pessoas têm nome e não se interessam por mim, qual o problema de dar nome à única criatura que para além de não me desprezar, se importou realmente comigo. É um animal mas também merece creio eu. Assim sendo, decidi dar-lhe o nome de Byte. É um nome que faz todo o sentido para mim, este rato vai ser o meu aliado daqui para a frente e, como tal, representa a conexão que existe entre o mundo digital e o mundo real. Assim sendo, é uma forma de honrar essa ligação forte entre os dois mundos e a importância que a tecnologia tem e sempre teve na minha vida.

Depois de decidir dar-lhe nome continuámos a conversar enquanto vagueávamos sem ter destino algum. Cada rua era somente uma rua. Para mim eram todas iguais, nenhuma me era familiar, nenhuma era particularmente especial, nenhuma me fazia lembrar nada! Rigorosamante nada! O Byte apesar de parecer mais perdido que eu, seguia-me sem hesitar, como só um fiel amigo faz. Já eu estou sem norte... vejo multidões de pessoas, todas com cara de concentrada de quem sabe para onde vai, muitas luzes e muitos carros a voar a uma velocidade tão grande tão grande que faz com que o vento me revire os cabelos de maneira quase mágica, envolvendo-me numa dança caótica que me deixa ainda mais tonta e confusa.

Entretanto, depois de já imaginar ter percorrido Nova York inteira, e já cansada, entro numa rua que, ao contrário de todas as outras, não é só mais uma rua.

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1I. Sinais Ocultos

Quando entrei naquela rua, nada me parecia normal. De alguma forma sei, sinto que é diferente, embora eu não consiga explicar exatamente o porquê. Há uma energia peculiar no ar e as pessoas à minha volta parecem mover-se de maneira distinta, como se estivessem a seguir um propósito invisível. A atmosfera é envolvente, quase que me hipnotiza, e o vento sopra com uma velocidade fora do comum, como se estivesse a tentar contar-me segredos que eu ainda não compreendo. E, de repente, de forma súbita e ainda mais forte que a anterior, sou atingida por uma visão que me leva a sentir todo o tipo de sensações, desde visuais, a táteis, auditivas, olfativas, de movimento e emocionais.

Uma coisa eu sei, só pode estar relacionado com o metro! Nos poucos segundos em que estava longe da realidade, vi cartazes, placas e edificios a dizer metro, vi-me a mim a agarrar aos bancos enquanto quase caía, ouvi o barulho e senti o cheiro que o caracteriza, senti o próprio corpo na falta de equilíbrio habitual do metro em movimento e tive as sensações de desconforto, calor e ansiedade provocadas pela asfixía habitual que se sente.

Com toda a angústia que esta visão me provocou, soube que tinha de procurar uma entrada que me levasse a este transporte e é isso que vou fazer. Enquanto me dirijo para lá, converso com o Byte ao meu ombro sobre o que me perturba, algo que não é difícil de adivinhar. Tenho de tentar juntar as peças que já tenho para tentar perceber minimamente o que se passa comigo. Então, sou a Ali, tenho 14 anos, acordei sem memória no lixo, numa parte aterrorizadora de Nova York, apenas com um computador, fui deitada ao chão por um homem que deixou cair um cartão que me é familiar, tive uma visão que nada acrescentou, apenas me fez perceber que tenho visões, conheci o Byte, vagueei por ruas sem fim, tive outra visão que me

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indicou para o metro e aqui estou eu. Se cheguei a alguma conclusão agora? Não, apenas que a minha vida se tornou num poço infinito de perguntas sem respostas. É certo que a única coisa a fazer é continuar a caminhar até ao metro. Já tenho fome e o Byte de certeza que também mas não consigo parar de seguir o meu caminho, tenho a impressão de conter um ímane incorporado que me arrasta e me faz deslizar pelas ruas. E, ao fim de muiiiito tempo e já pouca esperança, ouço uma melodia peculiar a sair pela entrada do metro.

Ao entrar na estação sinto a melodia cada vez mais alto, perto e a arrepiar-me dos pés à cabeça, afinal esta era a música com que a minha mãe me embalava. Entre as memórias que estou a ter e o aglomerado de pessoas que estão à minha volta, uma visão díspar transporta-me para um mundo além do real.

“Mãeee!? Estou a ver-te, estás mesmo aí? Nem acredito, estou tão sozinha, porque me abandonaste, o que aconteceu? Mãeee, estou a perder-te, mãeee!!” E em poucos segundos, foi-se... Sei que não aproveitei como devia a oportunidade para ver a minha mãe, sempre fui assim, ansiosa e impulsiva, quase não ouvi o que me quis transmitir. Foi bizarro mas especial e do pouco que consegui perceber, a minha quis alertar-me para o cartão. A minha pergunta mais uma vez é porquê. O que tem de especial e diferente o cartão que apanhei no chão há umas horas atrás... De facto não sei, hei de descobrir e como tem morada, posso dizer que, “Byte, desta vez temos um destino onde ir.”

O metro está cheio, não há quase espaço para respirar mas tenho que aguentar mais 4 paragens. Enquanto vou espremida de pé, analiso as pessoas. São estranhas e olham para mim como se fosse um extraterrestre, não deve ser por ter um rato ao ombro porque se andar na rua com um canguru de trela é aceitável, possuir um rato também é. O problema está mesmo nas pessoas que não aceitam a diferença. Eu, por vezes, sinto que caí nesta época de paraquedas, não me identifico com algumas coisas, mas sei que é por um motivo maior.

Estamos no ano de 2124, é certo que a tecnologia provoca uma desconexão total entre as pessoas, há quem vá a falar ao telefone com um holograma, quem alimente remotamente o cão em casa, quem dê e quem assista a aulas, quem aspire a casa, enfim...Mas o mundo digital não é o único responsável pela arrogância desmedida que vive entre a população, a desigualdade social também é um fator que contribui, em grande parte para esta situação. O facto de existirem classes mais privilegiadas que outras, torna propício que quem está numa posição de benefício se sinta no poder para julgar e desprezar os mais desfavorecidos. Estas situações fazem com que não haja empatia e carisma, o que não é nada bom.

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Bem, entretanto esta é a nossa paragem Byte, “segura-te bem ao meu capuz para não caíres.” À medida que me dirijo à porta, sinto-me observada por alguém, não consigo perceber a cem por cento se é homem ou mulher mas que está a olhar para mim, está. Quando passo pela porta, sinto uma mão a tocar-me. “O meu computador! Byte eu disse-te! Ajuda-me rápido!”

Foi tudo muito depressa, o meu fiel companheiro não me falhou e ao trepar o indivíduo, atrapalhou-o e eu consegui recuperar o que era meu. Agora tenho a certeza que não acordei com o computador ao meu lado por acaso. Aliás, o que me tem acontecido hoje prova que não existem acasos. Tudo acontece por uma razão e está de alguma forma interligado.

O destino é mesmo poderoso e cada um tem o seu bem traçado. Agora, se este computador me pode ajudar na minha jornada e contém algo importante, quem melhor do que eu para descobrir?

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I1I.

Sombras Digitais

Saio do metro, ainda com o peso reconfortante do computador nas mãos e estou decidida a aplicar o que sei, enquanto especialista de sistemas complexos, para encontrar as respostas que tanto tenho procurado. O cartão e o homem são as minhas pistas, é por aí que me vou guiar. Contudo tenho de procurar um lugar tranquilo onde me possa sentar sossegada, estou cansada e andar de um lado para o outro não é compatível com as pesquisas que tenho de fazer, “talvez o Central Park seja uma boa opção, não achas Byte? Tu podes dar uma volta e procurar algo para comer enquanto eu passo despercebida. Uma hacker no centro do parque mais cobiçado de Nova York? Pouco provável, não? É isso, vamos.”

Estou animada com o facto de parecer estar mais perto da verdade mas ao mesmo tempo, receosa que esta minha alegria seja em vão. Afinal, todo este percurso tem sido feito de muitas curvas e contracurvas mas, “Byte nem tudo é mau! Estamos a chegar ao Parque, olhos bem abertos e olfato bem apurado a partir de agora por favor.”

Encontro um banco isolado, cercado pela serenidade pintada de verde típica do local, e acomodo-me da forma mais confortável para iniciar a minha investigação sobre o homem misterioso e a empresa enigmática mencionada no cartão. Enquanto digito as primeiras palavras referentes à pesquisa, ou seja, o nome da empresa “12“, uma sensação estranha percorre a minha mão direita e descubro que tenho um chip incorporado. Como assim alguém me implantou isto? E quando? Novamente voltam a surgir mil perguntas e zero explicações...É assustador. O chip brilha muito e no momento em que olho para a luz de forma direta, sou invadida por mais uma visão avassaladora. É como se um vendaval de imagens e emoções varresse a minha mente novamente, ao revelar verdades que eu não estou preparada para enfren-

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tar. Vejo flashes de acontecimentos passados e futuros entrelaçados num turbilhão caótico, enquanto uma voz interior sussurra que o meu destino foi traçado e, como tal, tenho uma missão a cumprir, sem margem para falhas.

A força desta visão foi avassaladora, deixou-me ansiosa, frustrada, revoltada e confusa, tudo ao mesmo tempo. Sinto o peso da responsabilidade sobre os meus ombros e uma carga que mal consigo suportar. Com efeito, o regresso à realidade, ainda que com o coração a bater descontrolado, trouxe-me, desta vez, várias certezas. A primeira é que desativar o chip é uma prioridade, depois tenho de descobrir quem é aquela pessoa, e onde fica o edifício que parece ser o meu tesouro de respostas.

Assim sendo, agora o chip. Normalmente este tipo de chips podem servir vários propósitos, nomeadamente, localizar pessoas, monotorizar os sinais vitais de saúde de algúem, comunicar com outras pessoas, criar experiências imersivas de realidade aumentada, controlar dispositivos e claro, apagar a memória! Como não o vi nem pensei nisto antes? O Byte já me tinha tentado avisar e eu não liguei mas faz todo o sentido, resta saber quem me quer ver afastada... Ao mesmo tempo que tento desativar o chip, decido tentar aceder à minha certidão de nascimento a fim de encontrar as origens das minhas visões. Porém, não consigo encontrar nada. “Ali Shadow não existe” diz me o computador. Como assim? Eu própria, Ali Shadow, estou do outro lado do ecrã, que estranho. Ao menos agora sei que há por aí alguém que não me quer de todo viva e posso estar mais preparada para enfrentar o que tiver de ser. Depois de tentar várias vezes desencriptar os ficheiros sobre mim, desisto. É impossível e uma perda de tempo, vou retomar a procura pelo homem e a empresa suspeita. Uma vez que o cartão tinha escrita a morada do edifício, esta informação não é difícil de conseguir.

Assim sendo, levanto-me do banco no Central Park, impulsionada pela necessidade de desvendar o enigma que me envolve e com passos firmes, dirijo-me ao prédio, determinada a desvendar todos os segredos e a descobrir a verdade oculta por trás das sombras que me cercam. É hora de confrontar o desconhecido e aceitar o desafio que o destino me reservou. Avanço pelas ruas movimentadas de Nova York em direção ao imponente prédio que paira diante de mim. Cada passo que dou é projetado por uma urgência desmedida. À medida que me aproximo do maldito edifício, uma sensação de inquietação apodera-se sobre mim. As paredes transmitem uma energia sombria e as janelas parecem estender-se até o céu.

Está na hora de entrar, é agora. Já lá dentro, procuro fazer uma pequena recolha de informação da realidade que se vive no local com o objetivo de encontrar algo que me leve a uma pista. Enquanto observo o interior do prédio, que por si só lança um ar tão frio como uma noite de

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dezembro em Nova York, sou abruptamente interrompida por um segurança, um imponente robot de aspeto intimidante. É alto e constituído por peças que, não aparentam ser nada frágeis nem facilmente desmontáveis. Sem dizer uma única palavra, agarrou-me pelo braço e arrastou-me para fora do edifício, como se eu fosse uma intrusa indesejada prestes a causar problemas. De certeza que julgou que uma rapariga como eu não tem nada a fazer num sítio tão importante como aquele, mas engana-se. Estou revoltada e sinto-me injustiçada com esta situação! Sei que preciso de entrar naquele prédio, custe o que custar.

Pego no meu amigo e lá vamos nós arranjar outra forma de o fazer. “Agora pensa Byte, se te quisesses esconder num lugar onde fosse muito difícil te encontrar para onde ías?” Claro que sim, para um beco, há aqui um, mesmo ao lado do edifício.

Depois de não ter conseguido hackear o sistema que continha informações sobre mim, tenho receio que aconteça o mesmo, para proteger uma empresa desta importância o servidor só pode ser implacável, mas vou dar o meu melhor.

Comecei a hackear freneticamente as portas e as câmaras de vigilância, mas rapidamente percebo que o meu pressentimento estava correto e estou enfrentar um algo magnífico em termos de digital. Para uma hacker como eu, ver todos estes sistemas a funcionar à minha frente é arrepiante e brilhante! Esta empresa é impenetrável, tem sistemas de segurança digital de última geração, o que dificulta, e muito, qualquer tentativa de invasão.

Já passou mais de uma hora e ainda não consegui descobrir nada que me anime o que me deixa muito frustrada, mas não estou disposta a desistir e por isso tenho de me concentrar em encontrar uma falha no sistema. A melhor forma é tentar lembrar-me de todas as informações que obtive durante o meu dia até então. Penso, repenso, e nada me ocorre, se ao menos o Byte falasse podia ajudar-me a resolver este mistério. Posto isto, relembro os números que vi e com os quais me cruzei, o nome da empresa, as horas no relógio gigante... Nada parece oferecer uma pista viável. Calma! Amigo, tive uma ideia, arrojada é certo e, pouco provável também, mas é uma ideia.

“Que tipo de códigos de segurança não são aconselhados de colocar?” Datas de aniversário, números de telemóvel e combinações óbvias e fáceis. “No entanto, por serem os menos aconselhados, são os mais usados, é sempre assim certo?” O ser humano funciona ao contrário, por isso, vou exprimentar “1-2-3-4“. Estou confiante!

A esperança transborda pelo meu peito, as expectativas são altíssimas, as minhas mãos tremem de forma preocupante e decido pressionar o botão - confirmar -, que logo de seguida emite a mensagem “Código errado. Volte a tentar.“

A cada erro, o peso da decepção acumula-se, pesando mais do que a in-

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certeza que já pairava sobre mim. A esperança que arde tão intensamente no meu peito começa a murchar, consumida pela sombra do fracasso iminente. Cada falha é um lembrete cruel de que a solução para todo este problema permanece fora do meu alcance, como uma ilusão que se desvanece mesmo diante dos meus olhos. A sensação de impotência abraça-me, sufocando a minha determinação e obscurecendo qualquer vislumbre de esperança. E assim, diante do imenso desafio que se estende diante de mim, estou perdida. Perdida num mar de dúvidas, hipóteses e desespero. Luto contra as correntes do destino enquanto procuro desesperadamente um raio de luz.

E é quando eu menos espero que ele aparece para me guiar, de repente veio à minha mente uma imagem do Byte junto ao segurança. De facto ele não estava calmo e tranquilo na presença do robot, quase que parecia que me queria avisar de alguma coisa, só pode ser o número que o identifica. Tem quatro dígitos e também é um número improvável para ser escolhido como código, uma vez que é o ano em que estamos. “Byte obrigada!” Só pode ser isso.

Encho-me de coragem e esperança novamente e com muita calma, para evitar qualquer erro precipitado, digito “2-1-2-4“. Controlo a minha respiração enquanto pressiono o botão - confirmar -, o meu coração dispara , o chip na minha mão começa a brilhar intensamente, algo me diz que é desta que vou acertar e, poucas frações de segundo depois, “Entrei!!!!”

Sinto-me finalmente mais perto do meu objetivo, é uma mistura de alegria e triunfo, como se tivesse vencido uma batalha contra todas as probabilidades. O brilho do chip na minha mão parece refletir a luz da vitória. A sensação de estar no controlo de um edíficio desta dimensão, não só fisicamente como também em termos de estatuto é revigorante. A verdade é que ainda estou longe da verdade, mas nunca me senti tão perto e tão capaz. Cada adversidade que encontrarei pela frente será apenas mais uma oportunidade para provar a minha força e a minha vontade de cumprir a missão que me foi destinada.

Enquanto a adrenalina do meu corpo está a descer, decido fazer uma introspeção com o Byte. Ao longo deste percurso, tenho aprendido várias coisas sobre mim e sobre a vida no geral. A preparação de tudo aquilo que se tenciona realizar é fundamental, o facto de eu ser impulsiva, apesar de não me lembrar, acredito que seja algo que me tenha prejudicado bastante ao longo da minha vida.

Cada passo que dou agora quero que seja cuidadosamente ponderado e cada decisão, tomada com a cabeça e não com o coração. Esta experiência está me transformar numa pessoa mais resiliente e apta para dar resposta a qualquer contratempo. A preparação tornou-se minha aliada, tal como tu Byte, e permite-me su-

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perar obstáculos de forma mais eficaz e alcançar meus objetivos com menos medo.

No seguimento de tudo isto que te disse, vou tentar ver ou ouvir alguma coisa dentro do prédio através das câmaras. Entranhamente nada parece suspeito, os corredores parecem infinitos e estão vazios, as portas fechadas e as janelas refletem o dia escuro que se vive lá fora. Não há sinais de atividade humana nem virtual ou movimentos que indiquem a presença de algo de errado.

Mas eu tinha de vir aqui por algum motivo, sempre esteve destinado. As minhas respostas estão aqui, consigo senti-las a escapar-me entre os dedos.

Um lugar vazio pode ter mais ruído que qualquer outro cheio de pessoas e a inquietação que me invade o corpo e me faz sentir desconfortável é a prova desta aura distinta que paira no ar.

No meio de todo este silêncio, ouço algo que não era suposto.

IV. O Plano de Octo

De repente recebo uma notificação no servidor que me chama a atenção. É uma transmissão ao vivo de uma reunião online. Como é óbvio, vou entrar na sala virtual sem hesitar. Para meu espanto, estão presentes algumas das pessoas mais influentes da atualidade. Conversam sobre o futuro da humanidade mas nada que, até agora, me pareça comprometedor. Tenho de tentar identificar quem são as pessoas em concreto para ver se chego a alguma conclusão.

“Hmmm, Byte algo de errado se passa.” Eu reconheço algumas destas caras mas não sei como se chamam e não consigo ver. Todos os utilizadores estão nomeados como “Guest“, excepto um, o administrador, que aparece com o nome “Octo”. Vou manter-me quieta a ouvir com a máxima atenção cada detalhe do que é discutido.

Enquanto ouço as conversas sinistras, uma sensação de urgência começa a tomar conta de mim. Este plano afinal não é algo inofensivo, pelo contrário, representa uma ameaça real não apenas para mim, mas para toda a humanidade. Eu estou em perigo, todos estamos em perigo e enquanto me apercebo da dimensão da informação que acabo de receber, sou apoderada por mais uma visão, das que me sugam para o seu interior.

Vejo os meus pais. “Mãe e pai! Estão a ouvir-me?”, estão a discutir numa intensidade fora do comum. A minha mãe afirma com toda a segurança que descobriu tudo e que o vai deter. “Mas tudo o que? Mãee que se passa?! Fala comigo!”. Creio que estou invisível e somente no papel de espectadora do passado trágico que assombrou a minha família e me trouxe até aqui. Sei que não me veem nem me ouvem mas

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não consigo ficar calada. O meu pai está a agredir a minha mãe equanto lhe diz que não é ela nem sou eu que o vai travar e, de repente, “Mãeeeeeeeeee! Nãooooo! Como foste capaz de lhe fazer isso? És um monstro! Mãee volta por favor não me deixes!”

Num instante, volto à realidade, sacudida pela intensidade da visão que acabei de presenciar. As imagens do passado não me saem da cabeça, deixando uma sensação de dor e desespero. Sinto-me atordoada e ainda a tentar assimilar a magnitude do que acabei de testemunhar. Por um momento tento recuperar o fôlego, enquanto as lágrimas teimam em turvar a minha visão. Aquilo que vi trouxe à tona não apenas a dor da perda, mas também a revolta de saber quem a causou e a angústia de não poder intervir. Sinto-me impotente diante das imagens que insistem em não desaparecer, como se estivesse a reviver um pesadelo sem fim.

Com efeito, agora começo a perceber como cheguei até aqui. É duro de pronunciar em voz alta mas a minha mãe abandonou-me e implementou-me um chip para me proteger e eu ter a oportunidade de recomeçar a minha vida longe do meu pai que...que a matou quando percebeu que tinha sido descoberto.

Mais do que isso, os flashes que passaram pela minha mente, ainda que à velocidade de um relâmpago, fazem agora sentido. Vi números, os mesmos números que me têm perseguido até aqui.

O 12 do edifício, o 2124 do código e, e por último… O que é que falta? Concentra-te Ali! Edifício… Robot… Reunião… Guest? Não. Octo? October… Outubro! É o número 10! É isso Byte, uma data! 12 de outubro de 2124! Calma... mas quando é esse dia? é hoje!!!

Tenho que usar o que descobri para seguir em frente, para honrar a memória da minha mãe e para impedir que o mal que nos atingiu se espalhe pelo mundo. Com um suspiro profundo, ergo-me do chão. Estou pronta! A visão pode me ter abalado, mas não vai derrotar. Estou decidida a seguir em frente, a desvendar tudo e a lutar pelo que é certo.

Assim sendo, vou entrar e já sei como o fazer. Avanço em direção ao prédio com o Byte no ombro, como de costume, e nada me vai deter, nem o robot que está à entrada e me expulsou previamente.

Por mais que a vida na cidade não tenha parado imagino estar numa bolha em que tudo está congelado e somente eu me encontro em movimento. Não vejo nada nem ninguém, não ouço nem sinto. Estou consciente de que cada passo me aproxima do confronto inevitável com o destino mas neste momento sou como uma pedra capaz de destruir o quer que seja que se atravesse no meu caminho. O coração está então petrificado e sem lugar para emoções que me possam desfocar do meu objetivo. Ah, e mais uma vez, eu não vou parar.

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V. Corrida contra o tempo

Desativar todas as câmaras e alarmes do edifício foi complicado mas fui capaz, e estou cá dentro! Consegui entrar no momento em que o Robot foi fazer a manutenção das suas peças, o que foi ótimo e agora estou como sempre quis estar, inivisível. O silêncio é quase palpável e até os meus passos cautelosos fazem eco. “Byte, cuidado! O segurança agora não está à vista por isso vamos avançar mais fundo neste labirinto de corredores sombrios e salas abandonadas mas todo o cuidado é pouco. “

Estou tão nervosa, as minhas pernas tremem tanto que sentem dificuldade de suportar o peso do meu corpo tenso e rigído. Afinal o que tenho de descobrir aqui? Num prédio tão grande como este não deve, “Byte!! Shiuuu, silêncio!!”. Estava eu a dizer, não deve ser nada fácil encontrar o que procuro, agora é que ter uma visão com o caminho que preciso de percorrer era perfeito, mas claro que isso não vai acontecer, não posso pedir visões consoante me dá jeito, elas vão e vêm quando querem, sem qualquer tipo de regras.

Os corredores são como túneis escuros, iluminados por luzes fracas e oscilantes que mal conseguem afastar as sombras e são tão brancas que tornam o ambiente frio, arrepiante e desconfortável. As paredes estão cheias de portas do início ao fim, portas essas que são enferrujadas e estão trancadas bloqueando-me a passagem. Poucas são as que estão entreabertas e mesmo essas revelam ser salas vazias e desoladas, sem pistas que me levem a lado nenhum. Em algumas zonas do edifício, quadros antigos adornam as paredes, na maioria são retratos de rostos desconhecidos que parecem observar e seguir cada movimento que faço com olhos

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silenciosos. Este lugar aparenta ser a prova de um passado esquecido, uma espécie de cápsula do tempo modernizada e pronta para ser o local de onde vão surgir os planos mais sórdidos e perigosos... Não sei, talvez seja eu que estou a fantasiar mas este sítio é tão aborrecido. Não se passa nada. Quando assim é a cabeça dá asas à imaginação e num instante já me desfoquei do essencial.

“Vamos lá Byte, foco. Já percorremos praticamente toda a ala norte do edifício, resta-nos a ala sul. Assim sendo, vamos começar por ali. “

Entro então num corredor estreito, cujas paredes dão a ilusam de me queerem encurralar e praticamente se fecharem sobre mim. Este sítio não é como os outros que já vimos, sinto uma sensação de alerta a invadir-me e a provocar-me um nervosismo incontrolável. Estou a perder as forças mas há algo a crescer dentro de mim. É nesse momento que reparo em algo: a luz do chip implantado na minha mão começa a piscar e a brilhar com uma intensidade crescente, tal como se estivesse a reagir a qualquer coisa no ambiente. À medida que avanço pelo corredor apertado, a luz está a tornar-se mais e mais insuportável, quase que me ofusca por completo.

Instintivamente, sei que devo seguir em frente, que a resposta para todas as minhas perguntas está por trás daquela porta, a última porta.

Estou em frente a ela e preciso de entrar mas e se está alguém lá dentro? Se é a porta errada? Se cheguei tarde de mais? Os “ses“ são algo muito difícil de lidar, princupalmente para alguém com tantas dúvidas e perguntas como eu. Desde que acordei sem memória e tento descobrir quem sou, tudo são meras hipóteses e expeculações, mas pronto, diz que o destino é assim, e eu... só o posso aceitar.

Estou quase a conseguir, com um movimento lento e pensado, estendo a mão trémula para a maçaneta e giro-a devagar. A porta range ao abrir-se, revelando um espaço escuro, misterioso e imensamente grande além dela. Por um momento, hesito. Mas a curiosidade e a determinação superam o medo, e então dou um passo em frente para dentro da sala.

“Alo? Está aí alguém? “

“Byte parece que estamos sozinhos, vigia a porta enquanto tento decifrar o que se passa com esta sala.” Para já a única coisa que vejo é uma luz tão forte quanto os super máximos dos carros voadores. Enquanto me sinto um pouco encandeada, circulo pelo espaço à espera de alguma revelação.

No centro da sala, destaca-se um único objeto: um computador antigo, com teclas desgastadas, um ecrã a irradiar luz e uma torre cheia de pó e com teias de aranha. Dá ideia que é um lugar abandonado de há mil anos. Aquele computador é quase jurássico, nem eu, Ali Shadow, a hacker, sei se sei manusear tal coisa. À medida que os meus olhos exploram a sala, estou mais inquieta. Como é suposto encontrar

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respostas no meio deste buraco negro?

Estou a tentar encontrar o botão onde se liga esta pedra mas não está fácil, “ahh Byte boa obrigada é aí mesmo!” Enquanto o Byte pressiona e não pressiona o botão, a sensação de urgência aumenta. Não há tempo a perder. Mas antes sequer que possa tocar no teclado, ouço passos. Parecem ser de alguém grande e intimidante. Entre todo aquele silêncio, apenas ouço “Tum! Tum! Tum!“. Cada passo pode simbolizar o meu fim... e estão cada vez mais próximos, cada vez mais ameaçadores. O meu coração salta enquanto o som se intensifica. Só penso que me apanharam...

Quando, de repente, um som estridente corta o ar, fazendo-me saltar de susto. O telefone! Do outro lado da porta toca o telefone. Das duas uma, ou me salvou de ser apanhada ou é alguém a avisar o homem intimidante que as câmaras e os alarmes foram desativados. Neste momento não tenho como saber o que se passa, o Byte está a espreitar por baixo da porta mas a verdade é que ele não fala por isso não me pode contar o que vê e eu apesar de possuir visões, não são raio x... Independentemente do que seja, uma coisa é certa: o tempo! O tempo é escasso e não para, como tal, também não posso parar.

Assim sendo, tenho de rapidamente ir para junto do computador e ultrapassar as barreiras de segurança. Mas quando tento interagir com o antigo sistema, percebo que não é tão fácil quanto eu esperava. O teclado parece resistir aos meus comandos, como se estivesse protegido de alguma forma.

É então que noto algo estranho, a presença de um sensor no canto do teclado a emitir um leve brilho. Instintivamente, aproximo o chip implantado na minha mão do sensor, e é como se uma corrente elétrica percorresse o meu corpo. Já no ambiente de trabalho do computador está um único ficheiro. Estou a um clique de perceber qual é propósito da minha missão propriamente dita.

Clico ou não clico, clico ou não clico, no meio da minha indecisão percebo que no corredor já sabem que há uma intrusa no edifício, eu! Preciso de sair daqui o mais rápido possível, mas não agora, não posso. O ficheiro está a fazer com que o meu chip brilhe tanto, tanto mas tanto que não consigo ignorar este sinal e, contra o que está racionalmente correto, acho que vou abrir o documento.

Esta decisão pode ser apoiada por alguns, julgada por outros mas, quando abro o documento, soa o o alarme, ecoando pelas paredes da sala e enviando-me para um estado de pânico total. Eu sabia que não ia ser fácil e linear e agora só tenho de me preparar para enfrentar as consequências da decisão que tomei.

Só que há algo que ainda não disse, o que continha o ficheiro... antes disso, com o Byte a vigiar a porta, tenho desesperadamente de encontrar uma maneira de desativar o alarme e aceder ao sistema antes que seja tarde demais. “Não consigo!

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Está a ser manipulado por todo o lado! Byte não vamos conseguir!”

A sensação de impotência é avassaladora, é como se estivesse presa num labirinto sem saída, enquanto os segundos continuam a contar implacavelmente. Olho para o ecrã do computador e a luz do chip ainda brilha fortemente, o que me dá esperança de que posso conseguir mas simultaneamente sou uma contra dez, vinte, trinta a quererem-me bloquear o acesso, encontrar-me e fazer coisas que nem quero imaginar.

“Byte! Chega aqui! Vê isto... Não acredito!”

VI. O Confronto Final

Dentro do arquivo, descobri os detalhes de um plano sombrio, meticulosamente elaborado pela megacorporação e vi uma imagem de como ficará a humanidade controlada se eu não a conseguir travar.

Naquele momento não quis acreditar, foi tudo muito rápido mas as páginas e páginas escritas enfatizavam como o projeto estava tão bem planeado e ia mesmo acontecer. Envolvia toda uma narrativa sobre domínio e controlo do mundo, onde a inteligência artificial é a protagonista sinistra. Cada linha do plano corresponde a uma estratégia de opressão e subjugação, onde os exércitos de robots são os instrumentos chave escolhidos pelo vilão para silenciar e eliminar a oposição com brutalidade e violência. Ou seja, a liberdade passará a ser uma mera lembrança e algo que não caberá na nova humanidade e as máquinas serão quem assegurará o poder em conjunto com o líder, que é quem está acima de tudo e todos. Não consegui ver todas as páginas, mas as que vi foram suficientes para ter a certeza absoluta que tenho de agir e impedir aquela operação de iniciar, custe o que custar, doa a quem doer.

Finalmente sei qual é a minha missão, travar as megacorporações de iniciar um plano sórdido de dominar o mundo através de exércitos de robots subordinados pela inteligência artificial. Estou mais confiante que nunca apesar de ter consciência do perigo iminente que enfrento. Não quero ser mais uma espectadora passiva das circunstâncias, mas sim uma agente de mudança, destinada a confrontar o mal e proteger a humanidade. Armada com o meu conhecimento e coragem, avanço rumo ao confronto final, pronta para cumprir o que o meu destino me reservou.

Posto isto, está na hora de sair desta sala, o mistério está quase completo!

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Abro a porta e começo a fugir com o computador por baixo de um braço e o rato por cima do outro, para conseguir desativar a operação.

Quando falta apenas um minuto, deparo-me com o homem do cartão, o que me abalroou no início do dia devido à pressa com que andava, era o líder da megacorporação! Agora percebo o porquê das visões terem começado naquele momento. Estou a correr à maior velocidade que consigo, mas as forças nas pernas começam a faltar-me, os corredores são inifinitos e não há meio de encontrar uma saída. Até que, ao fim de uns segundos vejo que é possível virar à direita. Corro, corro, corro e quando acho que finalmente vou livrar-me daquela sombra constante, apercebo-me que não há nenhuma saída, mas sim uma parede toda fechada. Tenho de o enfrentar, não tenho como escapar.

Com as mãos a tremer e o coração a bater a um ritmo desmedido, tento reunir toda a coragem que consigo encontrar dentro de mim para me virar e encarar o vilão que está à minha frente. É o homem alto, com um olhar...um olhar que, de repente, me leva a sentir uma onda de choque.

Percebo, com uma mistura de dúvida e angústia, que aquele homem é o meu pai! Nesse momento sou invadida por um turbilhão de emoções, enquanto a minha mente retrocede ao passado através de mais uma visão e me faz reviver momentos com ele ao longo da minha vida. Imagens de alegria, tristeza, amor, raiva e deceção misturam-se na minha memória, lançando-me num abismo de conflito interno. Enquanto luto para processar esta revelação, uma imensidão de perguntas inunda a minha mente e não me consigo controlar. “Eu sei que tu és! Porque mataste a minha mãe? Eu odeio-te e não vou permitir que faças o que tens planeado! És um monstro e eu estou disposta a tudo para vingar a morte da minha mãe e salvar a humanidade de ser liderada por alguém com umas mãos tão criminosas como as tuas!”

Faltam apenas segundos para a operação iniciar e este homem não desiste de me tentar convencer que tudo é um engano, que tinha muitas saudades minhas e que não matou a minha mãe, mas eu vi. Não me vou deixar manipular, não posso! Agora sim o puzzle está completo na minha cabeça! A sede de vingança que me transcendia, as visões desde o início ao fim.

Ao mesmo tempo que sou abalroada por toda esta situação e tento encontrar uma escapatória, o Byte aparece para me provar mais uma vez que é o único com quem posso contar. Numa enorme rapidez, trepa o meu pai, oferecendo-me a a possibilidade de me soltar. Faltam 5...4...3...2... e consigo finalmente desativar aquela operação, a 1 segundo do prazo terminar. O Byte veio ter comigo e o meu pai ficou na miséria, na verdade, não me importa. Quanto, a mim, o meu nome é Ali Shadow e conto com o destino para me guiar nas próximas etapas da minha vida.

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“Num mundo onde as fronteiras entre homem e a máquina se desvaneceram, ergo-me entre os poucos que restam, impulsionada por uma única missão: desvendar os segredos do meu passado e encontrar a verdade sobre quem sou, uma humana perdida no meio do tumulto de uma nova era dominada pela inteligência artificial.”

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