Dissertação de Mestrado | Materialização de uma Memória Amputada

Inês Sofia Bernardo Lopes

MATERIALIZAÇÃO DE UMA MEMÓRIA AMPUTADA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NO PALÁCIO DE MANIQUE DO INTENDENTE

Dissertação no âmbito do Mestrado Integrado em Arquitetura, orientada pelo Professor Doutor Luís Miguel Maldonado de Vasconcelos Correia e apresentada ao Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Junho de 2020

MATERIALIZAÇÃO DE UMA MEMÓRIA AMPUTADA Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Nota à edição: O documento segue o novo Acordo Ortográfico; Utiliza-se para citações, por decisão da autora, a Norma APA; O símbolo “↺” indica que existe conteúdo na parte posterior da página; As tonalidades das imagens apresentadas foram alteradas para uma exposição mais coesa do trabalho; Para melhor compreensão do projeto, propõe-se o acompanhamento da leitura com os desenhos presentes em anexo.

Agradeço, À minha família: aos meus pais, a quem dedico este trabalho, pelo sacrifício diário e constante em prol da nossa educação e de uma vida melhor; ao meu irmão Francisco, pela paciência e por me ter ensinado o genuíno sentido de amar; ao meu padrinho Rui, quem considero segundo pai, pela prontidão a cada pedido; aos meus avós, em especial à Vina, pela atenção, preocupação e oração; ao João pelo apoio desmedido.

Aos meus amigos, que longe estiveram sempre perto: à Jéssica Fogeiro, à Beatriz Coelho, à Mélanie, ao Luís Pinto, ao João Ribeiro e à Catarina Gonçalves. Aos melhores que o curso me deu, que me levantaram nos momentos mais difíceis e comigo partilharam as conquistas: à Catarina Pereira, à Rebeca, à Carolina Pais, à Inês Vilares, à Ana Bagulho e à Inês Cavadas. Àqueles que, sem me conhecer, se entusiasmaram comigo nesta aventura: ao engenheiro Aquilino Raimundo pelo material cedido e produzido na sequência desta dissertação e, à Dona Madalena, que sempre se prontificou a abrir-me as portas do Palácio e da sua própria casa.

A todos os professores de projeto, em especial ao meu orientador, Professor Luís Miguel pelos ensinamentos, pela enorme paciência, pela confiança em mim depositada e pela disponibilidade que em todas as ocasiões me dispensou.

RESUMO Construído como peça central de um ambicioso plano urbano iluminista, o Palácio de Manique do Intendente é um fragmento de um sonho amputado pelo assassinato do seu promotor, Diogo Inácio de Pina Manique. A obra, nunca terminada, foi ao longo do tempo alvo de furtos, adaptações e ampliações que alteraram em grande parte a sua fisionomia. Também a construção arbitrária envolvente contribuiu para que a relação do edifício com a vila se visse drasticamente alterada dos planos iniciais. Indiferente aos habitantes com os quais está há muito divorciada, a obra não passa despercebida por quem ali é visitante. Imponente e monumental, o edifício setecentista, que permanece em ruína, constitui-se como um importante testemunho histórico e arquitetónico da época. À luz do programa REVIVE, torna-se imperativo refletir sobre esta herança expectante, reclamando-a para usufruto público. O exercício propõe a construção de um instrumento de regeneração urbana, social e económica numa readaptação às necessidades atuais. Materialização de uma memória amputada ganha forma através de uma proposta de intervenção sobre o construído que contrarie a tendente degradação deste património e do meio que o envolve, numa tentativa de completar e requalificar o edifício com um novo programa turístico regenerador do espaço e economicamente rentável.

Palavras-chave: Palácio, Manique do Intendente, REVIVE, Pousada, Intervenção no Património I

ABSTRACT Built as the centerpiece of an ambitious Illuminist urban plan, the Palace of Manique do Intendente is a fragment of an amputated dream brought about by the murder of its promoter, Diogo InĂĄcio de Pina Manique. Over time, the never finished work fell victim of thefts, adaptations and extensions that altered its physiognomy to a great extent. Likewise, the arbitrary construction of its surroundings contributed to the relationship between the building and the village being drastically changed from the initial plans. Indifferent to the inhabitants with whom it has been for a long time dissociated, the palace does not go unnoticed by those who are visitants there.

Imposing and monumental, the eighteenth-century building, which remains in ruins, constitutes an important historical and architectural testimony of the time.

In the light of the REVIVE program, it becomes imperative to reflect on this expectant heritage, claiming it for public recreation. This exercise proposes the construction of a tool for urban, social and economic regeneration, in a readjustment of the current needs. Materialization of an amputated memory takes shape through a proposal for intervention on the built environment that counteracts the tendentious deterioration of this heritage and its surroundings, in an attempt to complete and requalify the building with a new touristic, space-regenerator and economically profitable program.

Keywords: Palace, Manique do Intendente, REVIVE, Pousada, Heritage’s intervention III

SUMÁRIO

Introdução

1

I Contextualização 1.1. Origens 1.2. A Urbe: Implantação, Composição e Vestígios 1.3. Conjuntura Social e Económica

15 27 39

II Caracterização do Objeto de Estudo 2.1. Envolvente 2.2. Forma 2.3. Definição Tipológica dos Espaços 2.4. Definição Material e Construtiva

49 57 67 79

III Análise e Referências 3.1. Teorias de Intervenção Sobre o Património 3.2. Programa REVIVE 3.3. Casos de Estudo: 3.3.1. The Beautiful Past: Viagem Germânica 3.3.2. Neues Museum 3.3.3. Pousada de Santa Maria do Bouro

89 101 107 115 127

IV Proposta 4.1. Conceito Base 4.2. Metodologia 4.3. Projeto de Reabilitação do Palácio

141 145 153

Considerações finais

181

Referências Bibliográficas

185

Fonte de Imagens

193

Anexos

211 V

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO O trabalho apresentado, integrado no âmbito das unidades curriculares de Seminário de Investigação em Arquitetura e Laboratório de Teoria, sob orientação do Professor Doutor Luís Miguel Correia, está associado ao tema The Beautiful Past1, que sugere a intervenção no construído a partir de um contexto realista e atual: o programa REVIVE. Este, à data de setembro de 2017, dispunha de 32 edifícios abertos a concurso público, autorizando o investimento privado em património público durante um período preestabelecido de conceção. Destes, foi preferido enquanto objeto de estudo o Palácio de Pina Manique, uma peça única no contexto urbanístico do final do século XVIII. A visita ao local é, per se, a grande motivação para a escolha do tema: um lugar envolto em silêncio que nos deslumbra pela sua monumentalidade e riqueza arquitetónica, numa poesia que nos transporta ao passado. A par do fascínio, e à medida que nos aproximamos, o estado devoluto e decadente do Palácio envolvenos numa perturbação desoladora, afinal, quem vivera ali? Como se deixa um edifício chegar a este ponto? Porque parece estar incompleto?

Erguido num largo terreiro, que constitui o centro nevrálgico da localidade de Manique do Intendente, ‘a obra’, como os mais antigos se lhe referem, “continua adormecida, entregue a um sono secular, em que mergulhou após a morte do seu ilustre donatário, Diogo Inácio de Pina Manique, o famoso Intendente da Polícia de Lisboa”(Calixto, 1969, s.i.). O percurso que se faz até à vila, por entre campos ribatejanos, nada faz adivinhar que ali se sonhava construir a sede de um feudo, uma cidade, da qual nos resta um imponente Palácio inacabado que constituiria o solar do seu promotor. O projeto previa uma vila de configuração racionalista neoclássica que incluía, para além do palácio, uma igreja, um pelourinho, casas para juízes e vereadores, 1 Encontra-se em anexo o programa referente ao tema, correspondente ao ano letivo 2017|2018.

1

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 2 | Vista aérea sobre o palácio, 2019.

Materialização de Uma Memória Amputada INTRODUÇÃO

uma Câmara e habitações comuns.

Poder descobrir a história por trás da ruína e tomar contacto com os desafios que um projeto de reabilitação desta natureza levanta, combina as áreas que mais estímulo e interesse me despertaram ao longo do meu percurso académico. Tratando-se este de um edifício de menor visibilidade, quando comparado aos restantes imóveis afetos ao REVIVE, um estudo direcionado para este património com enfoque na arquitetura torna-se de maior importância, para que intervenções futuras e em contexto real possam ter por base decisões mais informadas, evitando transformações indiscriminadas.

Repensar este espaço implicou a investigação e estudo do seu tempo e história, bem como as relações que hipoteticamente teria com a restante malha urbana caso o projeto tivesse sido finalizado. A respeito do estado da arte, constata-se que existem alguns autores que elegem a Vila de Manique do Intendente enquanto objeto de estudo, o que atendendo ao significativo património construído se torna fundamental: António José Rodrigues (1940), Arnaldo Soledade (1979) e José Armando Saraiva (2009). Como referência, é crucial a leitura de dois trabalhos desenvolvidos pela Arquiteta Cátia Marques, uma prova final de licenciatura (2004) e uma dissertação de mestrado (2013).

A primeira faz um levantamento rigoroso da povoação idealizada pelo intendente, e a partir dele propõe algumas alternativas de implantação original do projeto. Levanta ainda questões relativas à conjugação dicotómica entre os diferentes tipos de arquitetura dos edifícios que compõem a praça dos imperadores e o conjunto composto pelo Palácio e Igreja. Na dissertação de mestrado, a autora desenvolve alguns pontos aos quais foi dada menor importância no trabalho anterior: uma comparação mais aprofundada com o exemplo de La Carolina e as povoações de Serra Morena, no Sul de Espanha, assim como um maior desenvolvimento das propostas de reconstituição do Palácio e do traçado urbano.

A reabilitação tem, ao longo da história, apresentado diversas formas e métodos de conceção. A consciência do património histórico e arquitetónico viriam a requerer atenção a partir do século XIX, tornando-se num campo de debate de várias teorias.

Serão assim estudadas obras de algumas personalidades, bem como documentos determinantes na evolução do conceito de património e das formas de o preservar.

Cada vez mais se torna pertinente o processo de recuperação, mas quando associamos componentes de carácter histórico, cultural e de memória a todas as especificidades inerentes ao projeto, torna-se um processo complexo e é-nos difícil agregar através do mesmo todas as dimensões que revestem a obra arquitetónica. Ainda assim, em concordância com Paula Monteiro (2013), acreditamos que a Arquitetura é a disciplina mais preparada para se ocupar desta dualidade entre história e vanguarda, memória 3

InĂŞs Lopes | JUNHO 2020

Fig. 3 | Dona Madalena, alpendre.

Materialização de Uma Memória Amputada INTRODUÇÃO

e vontade de transformação, posicionando-se entre o passado e o futuro. Reunindo condições suficientes para crermos que o estado atual do edifício, não deve nem pode ser o futuro da Vila, a pertinência desta dissertação surge na intenção de alertar para a urgência de reverter o processo de decadência do nosso património construído. Para além do seu estado de abandono, Aquilino Raimundo (2019) alerta-nos para o estado de letargia vivida e que: “Para muitos, excetuando obviamente os poucos estudiosos destas matérias, a presença do palácio naquela paisagem é um manifesto anacrónico duma realidade incompreendida”.

Pensado para ser o coração de um sonho irrealizado, atualmente de relações cortadas com a envolvente desqualificada, encontramos um edifício que é de todos e de ninguém que, não obstante, pode ser convertido num lugar próspero de transformação. Alvo de próximas intervenções no seguimento do programa REVIVE, é urgente refletir sobre o complexo e identificar os seus problemas, reclamando-o para o domínio da vila. O ensaio tem como objetivo intervir contra a crescente degradação do monumento e do fosso que se tem vindo a instalar entre o mesmo e a envolvente física e humana. Apesar de privilegiado pela sua localização, foi sendo conduzido ao abandono. Primeiramente, pela morte prematura do Intendente e, hoje em dia, pela crescente taxa de população envelhecida e pelo declínio das atividades económicas, transformando a vila num perpétuo espaço expectante.

A questão à qual se pretenderá responder ao longo da dissertação é: de que maneira se pode criar um movimento de regeneração viável de um monumento em ruína? Apesar de se constituir enquanto projeto à escala do edifício, será importante a fomentação de relações urbanas, através da remarcação de acessos e da caracterização de espaços que sofrem de indefinição, transformando-os em elementos organizadores de dinâmicas na vila. Com estes objetivos, pretende-se projetar um equipamento público plurivalente que ofereça a viabilidade de nos relacionarmos corpo-a-corpo com a memória daquele local.

De forma a atingirmos os objetivos delineados, num primeiro momento, tratámos de reunir a bibliografia, elementos gráficos e fílmicos relativos ao Palácio, pelo que foi importante o acesso ao Arquivo DGPC no Forte de Sacavém. Para além destes, na compreensão da história, recolhemos informações relativas a Diogo Inácio de Pina Manique e à Vila de Manique do Intendente. Realizaram-se visitas, essenciais para um levantamento fotográfico e de desenho que permitisse colmatar a insuficiência de peças desenhadas para execução do projeto. Nestas visitas foi de igual relevância o contacto com a população local, que nos permitiu uma apreciação real das necessidades socioeconómicas deste território. Numa segunda fase, procurámos, através do projeto, 5

InĂŞs Lopes | JUNHO 2020

Fig. 4 | Reflexos, coro alto.

Materialização de Uma Memória Amputada INTRODUÇÃO

conciliar a memória e a identidade do edifício através de um programa congruente, ideológico e pragmático que estabeleça um meio de aproximação da comunidade de Manique do Intendente à sua própria identidade e que divulgue e atraia novas pessoas ao território.

Correspondendo cronologicamente a estas fases, o trabalho divide-se em quatro capítulos. O primeiro, contextualização, subdivide-se em três partes, onde expusemos uma síntese dos contextos geográficos, históricos e socioeconómicos da Vila de Manique, desde a implantação à sua atual ocupação, justificando a relação indissociável entre o edifício e o seu contexto urbano. No segundo, iniciamos por situar o palácio na envolvente próxima, evidenciando a evolução e expansão arbitrária do casario, com a necessidade de fazer o levantamento altimétrico, programático e viário para uma maior compreensão desta realidade. De seguida, faremos uma aproximação mais incisiva ao Palácio, reunindo o máximo de informação relativa à implantação, à forma, à tipologia e à sua definição material e construtiva. No terceiro capítulo, reuniremos o conjunto de referências que constituem a análise e a procura de uma posição fundamentada para a criação de um conceito de projeto, onde abordaremos casos de estudo teóricos e práticos, e faremos uma apreciação crítica ao programa REVIVE. No quarto capítulo, dedicado à recuperação, ampliação e adaptação do Palácio a pousada, apresentaremos as bases e o processo de trabalho até à definição do projeto em si mesmo, acompanhados por desenhos, fotografias e ilustrações. Pretendese recuperar as questões que ao longo dos restantes capítulos foram adiantadas, esclarecendo e valorizando as conclusões mais importantes em resposta aos objetivos delineados. Em folhas soltas, apresentamos a proposta de projeto desde a escala de implantação a 1/1000 e 1/500, onde apontamos soluções de tratamento da envolvente e respetivos acessos, seguindo-se a escala 1/200 referente à intervenção no edifício.

Construtivamente, apresentamos uma secção tipo às escalas 1/50 e 1/20, procurando soluções de intervenção em patologias detetadas, melhoramentos térmicos e novas estruturas. Tratando-se de um trabalho de índole prática, esta última parte, constituise como culminar da investigação. Convertendo o palácio a pousada, numa vertente de âmbito hoteleiro e cultural, acreditamos poder criar movimentos charneira da história com o turismo e a sociedade, constituindo uma oportunidade de conhecer o património existente e alertar para a necessidade de intervenção.

7

Inês Lopes | JUNHO 2020

I CONTEXTUALIZAÇÃO

Fig. 5 | (pp. 8, 9) Vista aérea sobre Manique do Intendente, 2020.

Fig. 6 | Localização Geográfica de Manique do Intendente em Portugal 39º13’8’’N / 9º55’7’’W.

↺

Cenozóico Primeiros vestígios da presença de animais na zona arrifana: mamutes, hienas e bois

1147 Azambuja pertence ao reino de portugal pela reconquista de D. Afonso Henriques

Fig. 7 | Cronologia de Manique do Intendente.

Grupos tribais radicam-se na zona.

Grande quantidade de indústrias préhistóricas distribuídas em estações de superfície, depósitos de terraço, grutas e castros Paleólitico Superior

A partir do reinado de D. Sancho I, as terras caiem em mato, improdutivo e selvagem 1185 - 1211

Época do bronze Vestígios de ossadas de animais domesticados, fices de silex incrustadas de lenho, mós simples, cerâmicas e arados

1706 - 1750 D. João V manifesta interesse em favor do desenvolvimento da agricultura; Em 1724 nomeia escrivão da vintena da freguesia Manuel Coelho

Invasão de protoceltas ou ligures que trazem os primeiros instrumentos em ferro 100-900 a.C.

D. José e o Marquês de Pombal obrigam por lei ao desbravamento de terras para a prática agrícula 1750 - 1777

218 a.C. Exército Romano chega à Península Ibérica

1791 D. Maria I entrega como previlégio dos bens servidos à coroa o senhorio das terras de Alcoentrinho a D. Diogo de Inácio de Pina Manique

Entrada dos povos germânicos. Arrifana fica subordinada à província visigótica da Lusitânia séc. V d.C.

Apostilha de D. João VI permite que Pina Manique e os seus sucessores nmear todos os oficios que ambicionassem na Vila 1795

711 d.C. Rei Rodrigo é vencido em Guadalete pelos árabes; O povo arrifano obdece aos usos e costumes muçulmanos; Desenvolvimento cerealífero

x - 1905 Pina Manique dá início à construção da Vila Iluminista de Manique do Intendente

Materialização de Uma Memória Amputada CONTEXTUALIZAÇÃO

1.1. ORIGENS Distando 60 quilómetros de Lisboa, Manique do Intendente, pertencente ao concelho de Azambuja e ao distrito de Santarém, é uma vila ribatejana que limita a oeste por Alcoentre, a sul pela Maçussa, a norte por Arrouquelas e a este pela Vila Nova de São Pedro.

In illo tempore São Pedro da Arrifana (denominada assim pela quantidade de arrifes que geologicamente compõem o território), caracteriza-se por uma topografia pouco acidentada, efeito natural da sua inserção numa zona de vale de pouca pendente.

Os terrenos agrícolas, que vêm ao longo dos anos a ser o meio de subsistência da população, bebem de um curso de água designado por Ribeira do Judeu, a sul da povoação, e de um paúl, ambos integrados na rede hidrográfica do Rio Tejo: A sua região não é menos rica do que as regiões daqueles concelhos. É, até, mais fértil o seu solo. De tôdas as terras do concelho é aquela que dá mais colheita de trigo e vinho.

Em seu redor, estende-se uma várzea de muitos quilómetros que tudo produz, numa riqueza encantadora (Vieira, 1934, p. 31).

Sabe-se que a área fora pisada desde há muito, no entanto, existem poucos vestígios da sua ocupação. As condições geográficas, topográficas e o clima favorável fizeram com que alguns grupos tribais se sedentarizassem na região e imediações, em estações de superfície, depósitos de terraços, grutas e castros no período Paleolítico.

Os arados e foices de sílex, as mós, as cerâmicas e as ossadas de animais domésticos indicam que também na idade do bronze o território fora povoado. Ao longo de vários séculos, com as invasões dos protoceltas na Península Ibérica e as conquistas romanas, as gentes e os costumes vieram a sofrer grandes alterações. Contudo, é no século V, com a entrada dos povos germânicos na Hispânia, que há uma grande transformação no campo económico, político e social. Em 711 dá-se a conquista árabe e, durante 15

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 8 | D. Maria I, Rainha de Portugal. Óleo sobre tela, atribuído a Thomas Hickey ou Giuseppe Troni. Palácio Nacional de Queluz.

Materialização de Uma Memória Amputada CONTEXTUALIZAÇÃO

cinco séculos, o povo arrifano obedece aos usos e costumes muçulmanos, existindo ainda vestígios da indústria cerealífera.

Só em 1147, com a reconquista afonsina, as terras e ‘termos’ da Azambuja estão em poder do Reino de Portugal, sendo doadas a D. Childe Gil Rolim no ano 1200 por regência de D. Sancho I. Destinado à caça, o território foi despovoado e, consequentemente, reflorestado, permanecendo em mato nas primeira, segunda e terceira dinastias. Só por vontade de D. João V, os terrenos voltam a ser desbravados para desenvolvimento de práticas agrícolas. D. José I e o seu ministro, Marquês de Pombal, perpetuam esta intenção, obrigando por lei o corte de mato (Soledade, 1979).

Em 1757, S. Pedro de Arrifana, da qual faziam parte os povos de Alcoentrinho, Póvoa, Vila Nova e Massuça, contava já com 181 fogos e pertencia ao patriarcado e distrito administrativo de Lisboa (Soledade, 1979). Aquando da regência deste mesmo rei, a localidade é dividida em mais foros, a fim de criar mais condições de lavoura e consequente estabelecimento de mais população. É em 1791, sob a regência de de D. Maria I, que é entregue o senhorio das terras, de até então Alcoentrinho, ao Intendente Geral da Polícia, Diogo Inácio de Pina Manique. É também estabelecido que a nova povoação se venha a chamar Manique do Intendente. Passamos a citar a carta régia de 11 de julho de 1791, Chancelaria régia de D. Maria I, a Livro 39, fólios 209: …Eu a Rainha… Faço saber que sendo me presente que o Doutor Diogo Inácio de Pina Manique do Meu Conselho e Fidalgo da Minha Casa, Desembargador do Paço, Intendente Geral da Polícia da Corte e do reino, Administrador Geral da Alfandega do Assucar e Feitor Mor das do Reino e Comendador de Santa Maria de Orada e da Ordem de Xº Cris [Cristo] sobre os distinctos serviços que lhe tem feito, nos importantes cargos e comições que d’elle tenho confiado e que se tem feito dignos de toda a atenção e remuneração se tem também empregado como bom e útil vassalo em promover a população e agricultura principalmente no termo de Santarem, onde tem principiado a povoação denominada Acoentrinho, repartindo habitações e terras a diferentes cazaes de Moradores que com muita despreza, tem convocado e se propõem convocar adiantando o seu zello a querer edeficar na mesma Povoação huma decente Igreja Parrochial, doende possão receber os Moradores e Fregueses os necessários secorros da Igreja que a antiga arruinada e fundada em lugar Ermo e improprio não podia comodamente ministrar lhes: Hei por bem em consideração do referido e para que de futuro conste da particular estimação que faço do ditto Desembargador Diogo Inácio de pina Manique e de quanto me são agradáveis os seus serviços, fazer 17

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 9 | Diogo Inácio de Pina Manique.

Gravura : água-forte e ponteado, atribuída a Gregório Francisco de Queiroz.

Materialização de Uma Memória Amputada CONTEXTUALIZAÇÃO

lhe muito e honrado da maneira da maneira seguinte: Ordeno que ditta Povoação se denomine daqui em diante Manique do Intendente. Que sejão lemites do Sollar e Senhorio a Freguesia em que está a ditta Povoação. Que seja criada Villa, servindo lhe de termo a Freguesia.

Logo que nella houver cento e vinte vezinhos, devendo então haver Juízes e Vereadores aprovados no forma da Ley, pelos Senhores do Sollar: que da mesma sorte, e com as mesmas naturezas, seja anexa ao sullar [sic] o Padroado da mesma Igreja, e Freguesia; Logo que estiver construída a nova como elle propõem: Havendo Eu por bem ceder para este effeito do Padroado, que tenho na Igreja de S. Pedro da Arrifana que até agora servia, e que se acha em ruina e mal cituada. Pelo que Mando a Meza do Meu Dsembargado do Paço que sendo lhe apresentado este Alvará por Mim assinado, registado no Registo geral das Mercês e passado pela Chancelaria Mor da Corte e Reino, lhe fação passar Carta desta Mercê, na qual se translada este Alvará que se cumprirá inteiramente como nelle se contem pondosse as verbas necessárias a margem do Registo do Decreto porque foi expedido. Lisboa, 11 de Julho de 1791 annos.

Rainha // Luis de Vasconcelos e Sousa Presidente // Por Decreto de sua Magestade do primeiro de Julho de 1791 José Federico Ludovice a fez escrever e ficou escrita em Lisboa a 23 de Julho de 1791 assina Gerónimo Correia de Moura.

Está então Manique do Intendente ligada a uma das figuras mais “polémicas, mas mais célebres” (Saraiva, 2009) do final do século XVIII: o Intendente Geral Diogo Inácio de Pina Manique. Ainda hoje personalidade de pouco consenso e de discussão, é enaltecido por ser um filantropo, pela criação da Instituição da Casa Pia e pela promoção de inúmeras iniciativas, como são exemplo: o repovoamento do Alentejo, a reestruturação das alfândegas, a criação de um corpo policial de segurança em Lisboa, a proposta de criação de cemitérios públicos, a iluminação das ruas da capital, a reeducação e reabilitação de delinquentes, o fomento agrícola e industrial, entre outras de igual relevo. Não obstante, é contestado pelo fanatismo da opressão absolutista, pelas perseguições policiais e castigos bárbaros contra o espírito e as práticas liberais emanadas da Revolução Francesa. “Monstro de ambição, cruel e oportunista” (Norton, 2004, p. 10) , encheu as prisões com gente acometida pela ousadia de ler livros redigidos em língua francesa ou cabeleireiras por acalentarem as “ideias afrancesadas” (Pinto, Tavares; 1990; p. 8). Nasce em Lisboa em 1733, no Beco do Carrasco, o que não se mostrou impedimento do Intendente vir a bacharelar-se em em Leis em 1758 na Universidade de Coimbra. Neste mesmo ano, é nomeado Juiz do Crime no Bairro do 19

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 10 | Edifícios do Castelo de S. Jorge, em 1938, onde se presume que tenha estado instalada a Casa Pia entre 1780 e 1807.

Fig. 11 | Teatro de S. Carlos. Gravura atribuída a Legrand.

Materialização de Uma Memória Amputada CONTEXTUALIZAÇÃO

Castelo de São Jorge, onde dá provas da sua competência contra as práticas criminais.

Em 1763, o Marquês de Pombal nomeou-o Intendente Geral das Alfândegas do Reino e da Alfândega Maior de Lisboa, contra o contrabando, que vinha a reduzir as receitas do Estado. Em 1777, aquando da morte de D. José, o Ministro é apeado e expulso de Lisboa. Manique resiste à queda do Governo e, após ser nomeado Intendente-Geral da Polícia da Corte e Reino, em 1781, sob a regência de D. Maria I, lança a obra que o imortaliza: a Casa Pia de Lisboa. Tal iniciativa, vem resolver o facto de Lisboa ser uma cidade imunda nesta época, marginalizada, perigosa, onde a prostituição e o desamparo infantil são uma realidade. São recolhidos das ruas centenas de delinquentes com a intenção de “cortar pela raiz a origem de tantos males iminentes, e evitar que tantos indivíduos ainda capazes de receberem uma boa educação e serem úteis ao Estado se precipitem em uma vida libertina e cheia de crimes…” (Pina Manique “citado por” Pinto, Tavares; 1990; p. 28), e instalados provisoriamente no Castelo de São Jorge.

Inaugura indústrias, estabelecimentos de ensino para reintegrar estas pessoas e funda a Academia do Nu (escola de desenho anatómico dirigida por Machado de Castro).

Decreta que 12% dos lucros da lotaria nacional sejam entregues à instituição e, em 1802, a Casa Pia torna-se numa das mais exemplares escolas na Europa.

Em 1793, funda o Teatro de São Carlos (fig. 11), desenhado pelo arquiteto José da Costa e Silva, que vem substituir o Teatro Ópera do Tejo arruinado pelo terramoto de 1755. Demanda ainda a obra das primeiras estradas, institui a iluminação pública para a cidade de Lisboa, ordena a elaboração de listas dos povos nas comarcas do país, cria os primeiros cemitérios fora das zonas urbanas e investe na educação de jovens prestígio que envia para escolas de Roma.

Pouco a pouco vai acumulando mais cargos: Chanceler Mor do Reino; Desembargador do Paço; Intendente Geral da Polícia; Administrador Geral das Alfândegas; Administrador da Casa Pia de Lisboa; Superintendente Geral do Contrabando e Descaminhos; Fiscal da Junta de Administração da Companhia de Pernambuco e Paraíba; Desembargador da Casa da Suplicação.

Deu-se a Revolução Francesa em 1789 e Napoleão envia para Portugal o seu General Lannes, que tira partido do seu cargo enquanto embaixador para fazer fortuna, trazendo grandes quantidades de mercadoria na mala diplomática (entrava em território português sem taxa de imposto). Aquando da intervenção do Intendente sobre a fraude, Napoleão intervém e faz com que este seja demitido e afastado da capital. Recebida a mercê dos terrenos pelos serviços prestados ao Estado, o Intendente começa a engendrar um plano megalómano para ali implantar uma nova cidade, levado a cabo e, cuja morte, em 1816, não permitiu a sua conclusão (Vieira, 1934).

21

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 12 | (página anterior) Ortofotomapa atual com a indicação da localização do Palácio de manique do Intendente, Praça dos Imperadores e Ponte D. Maria.

Fig. 13 | Vista aérea sobre a Vila.

↺

Fig. 14 | Morfologia urbana de Manique do Intendente.

Fig. 16 | Plano para Porto Covo.

Fig. 15 | Plano para Vila Real de Santo Antรณnio.

Fig. 17 | Plano para a Baixa de Lisboa.

Materialização de Uma Memória Amputada CONTEXTUALIZAÇÃO

1.2. A URBE: IMPLANTAÇÃO, COMPOSIÇÃO E VESTÍGIOS A urbe surge disposta na encosta de um vale, vista do alto dos Carvalhos e da Pedreira, e o seu desenho faz lembrar, nas palavras de Soledade (1979), “as linhas de um pé de galinha” (fig. 12), condição da irregularidade do seu traçado, que veio a crescer sem ordem, na procura de conceções facilitadas a centros económicos de localidades vizinhas. Sobra-nos um palácio inacabado, uma praça hexagonal e uma ponte de um projeto ambicioso cujo desenho (que com certeza terá sido executado) se desconhece o paradeiro, ou existência.

Por permissão régia de D. João VI, numa Apostilha de 1795, Pina Manique e os seus sucessores puderam então nomear todos os ofícios que pretendessem na sua vila. Não tardou que o Intendente pusesse em prática o seu maior desejo, fazer nascer uma vila, “arejada, geometricamente disposta e fabulosa para o seu tempo” (Soledade, 1979, p. 17).

Na sua génese, além de Manique do Indente, Portugal dispõe apenas de mais duas cidades planeadas em gabinete: Vila Real de Santo António (1773) e Porto Covo (1794). A par destes fenómenos urbanos pombalinos e pós-pombalinos, é de se ressalvar com igual relevância a experiência da Baixa de Lisboa (1755). Tanto a vila algarvia como a Baixa, foram erguidas numa linha de exaltação e de empoderamento.

A primeira enquanto afirmação para com o país vizinho, a segunda por ser capital e sede do poder. Porto Covo é resultado de uma iniciativa privada, mas formalmente similar a estas. Apesar de não se lhe negarem influências do urbanismo português da época, é ideológica e morfologicamente que Manique do Intendente se torna num caso sui generis, afastando-se dos exemplos anteriores e aproximando-se aos ensaios urbanísticos iluministas que se foram realizando ao longo do século XVIII na Europa.

Influenciado pelas ideias de Filippo Terzi, João Tinoco, Frederico Ludovice, 27

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 18 | Posição relativa entre o Palácio e a Praça.

Fig. 19 | Plano para Serpa, Brasil.

Fig. 20 | Plano para La Carolina, Espanha.

Materialização de Uma Memória Ampuntada CONTEXTUALIZAÇÃO

Nasoni e Manuel da Maia, o Intendente reuniu um conjunto de arquitetos seus conhecidos para a construção de um solar com uma igreja entreposta a meio, naquela que se tornaria a praça central da composição urbana. O projeto incluiria ainda Casa da Câmara e Cadeia, casas para juízes e vereadores e habitações comuns para a população.

Devido à sua morte, a obra foi deixada numa fase inicial de construção. Carente de apoio institucional, o plano é abandonado precocemente por falta de financiamento.

Ainda que com vagas referências e com falta de documentação, Cátia Marques (2004), faz um levantamento da povoação, e a partir dele propõe alternativas de implantação daquele que seria o plano original. Começando pela escala, a arquiteta define o intervalo de tamanho para a vila segundo a dimensão da sua praça principal. Toma como referências a Praça dos imperadores, com 66 metros de diâmetro, e a Praça do palácio, que embora com uma configuração adulterada da original, seja considerado o lado maior do trapézio (o comprimento da fachada sul) como referência, com cerca de 70 metros. À semelhança de Vila Real de Santo António, dadas as dimensões das praças, Manique do Intendente surgiria como um pequeno centro paroquial. É a partir destes elementos construídos que a autora considera dois eixos: um que aponta ao centro do palácio e um outro, imaginário, que se desenvolve perpendicularmente ao anterior, a passar pelo centro da praça. A partir do ponto em que estas direções convergem, traçou-se uma circunferência, tangente ao Palácio e que passa pelo centro da praça (fig. 18). Estes dados levam a autora a acreditar na possibilidade da existência de uma outra praça, simetricamente implantada em relação ao eixo principal de acesso à povoação.

Formalmente, a arquiteta propõe duas hipóteses para o traçado da Vila: uma retangular, habitualmente portuguesa, e uma hexagonal cuja configuração, em território colonial, se possa assemelhar apenas à vila de Serpa, projetada para o Brasil por Filipe Strum, mas nunca construída (fig. 19).

Numa primeira hipótese, Cátia Marques (2004), faz um paralelismo com os exemplos urbanísticos em Portugal que não fogem da forma retangular com relações proporcionais multifárias. No entanto, Manique do Intendente possui uma particularidade que não se coaduna com estes: a forma hexagonal da Praça dos Imperadores, que pode introduzir variações, tanto na forma geral da povoação, como no próprio traçado. Partindo deste pressuposto, tenta conjugar a malha de quarteirões e as praças, resultando num retângulo formado por dois quadrados, cujo centro admite a largura da fachada do palácio e cria uma praça ampla. Admite-se que os quarteirões pudessem ter quintais no interior, reduzindo a densidade de construção.

Em La Carolina (1767), pensada para sede do governo andaluz, é reconhecível 29

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 21 | Esquema da proposta com perímetro retangular.

Fig. 22 | Esquemas da proposta com perímetro hexagonal.

↺

Fig. 23 | Vista aérea sobre a Praça dos Imperadores.

Fig. 25 | Planta do primeiro piso da Praça dos Imperadores.

Fig. 24 | Brazão dos Pinas.

Fig. 26 | Pelourinho de Manique do Intendente e Edifício da Câmara.

Materialização de Uma Memória Amputada CONTEXTUALIZAÇÃO

que o hexágono que compõe a forma geral é expandido num dos sentidos. A praça central é geradora de um traçado ortogonal de ruas e segue “teorias em torno da cidade ideal com bases vitorianas” (Marques, 2013, p. 63). O plano é estruturado por um eixo longitudinal que liga Madrid a Sevilha e Cadiz e é atravessado por um eixo transversal, cujo ponto focal faz nascer o Palácio do Intendente Pablo Olavide. No cruzamento destes dois eixos, respira uma Plaza Mayor retangular, ladeada pela Câmara e pela Cadeia (fig. 20). A partir deste exemplo, desenvolve-se a segunda hipótese, com maior dificuldade na disposição dos quarteirões. Em oposição à consideração anterior, aqui o palácio aparece mais integrado no tecido urbano, embora mantenha o lado sul livre para possível desenvolvimento de jardim.

Em concordância com Cátia Marques (2013), pensamos ser possível que Manique do Intendente seguisse este segundo modelo, pela naturalidade em que forma hexagonal (fig. 22) se insere no terreno, versus a retangular (fig. 21) que se sobrepõe a declives pronunciados. Além disso, está mais próximo das ideias e da formalização das povoações coloniais da Serra Morena do que dos exemplos próximos portugueses (Porto Covo, Vila Real de Santo António), contaminados pela influência da engenharia militar.

Depois do entendimento do tecido urbano e da forma em como se conjugam as peças que hoje se nos mostram dispersas, foi-nos importante fazer uma aproximação aos vestígios que uma visita atenta à vila ainda nos revela. Além da inteligível presença do Palácio e da praça hexagonal, existe ainda uma ponte sobre a Ribeira do Judeu na várzea da vila, uma mina de água e vestígios de obras de regularização do leito da ribeira e enxugo das terras, tudo inacabado (Raimundo, 2019).

A praça hexagonal (fig. 23), denominada Praça dos Imperadores, é circunscrita numa circunferência de 300 palmos de diâmetro e ladeada por seis edifícios com o comprimento de 142 palmos. Desde o ponto central aos vértices da geometria descrita, partem seis ruas, cujo nome originalmente proposto em azulejos da época permanece em cinco: César, Justiniano, Augusto, Trajano e Sertório, símbolos da força, da justiça e do saber.

Dos cinco edifícios construídos na época, domina a norte a Casa da Câmara e Cadeia2 , edifício de dois pisos com a fachada de frente de praça ao ‘jeito barroco’, adornada com seis pilastras e um frontão com tímpano de linhas clássicas, marcada pelo escudo de armas do Intendente (fig. 24). Arnaldo Soledade (1979, p. 35) descreve-nos: O escudo está dividido ao meio por duas secções. A da esquerda fornece-nos o alto 2 Atualmente Centro de dia, função que terá passado também por Posto da Guarda Nacional Republicana.

33

InĂŞs Lopes | JUNHO 2020

Fig. 27 | Vista de topo sobre a Ponte D. Maria.

Fig. 28 | Arcos da Ponte D. Maria.

Materialização de Uma Memória Ampuntada CONTEXTUALIZAÇÃO

Inês Lopes | JUNHO 2020

relevo de um dos castelos de vermelho equipolentes a quatro pontas de vermelho em cada leão de oiro. Do lado direito aparece-nos, na parte superior, em diagonal a cabeça de dois dragões ligados por uma faixa azul. Mais abaixo uma quadrícula estética.

Entretanto, em volta da “Insígnia da Nobreza” e obedecendo ao estilo barroco, está uma grande grinalda de louros e respectivos frutos a enaltecer a “Casa dos Pinas”.

Os restantes lados do polígono são ocupados por bandas de casario, com seis casas de dois andares cada, com uma porta e três janelas, cobertas por telha de canudo.

No ano de 1802, dois dos edifícios ainda não tinham sido construídos, sendo o último (a sul) o mais recente, albergando a Junta de Freguesia. Nas traseiras, muitas das casas foram ampliadas e os seus interiores esventrados tornando a Casa da Câmara o único edifício fiel ao desenho inicial. Ao centro da praça, encontra-se um pelourinho, classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1933, também mandado construir por Pina Manique aquando da conquista da autonomia jurídica e política da Vila. É assente em quatro degraus poligonais crescentes de arestas boleadas. Ao centro rompe um pedestal com friso de cimalhete, onde pousa uma coluna de fuste liso e anelado.

Junto ao capitel saem quatro braços de ferro forjado trabalhado (fig. 26).

A norte da Praça dos Imperadores, encontramos a peça primordial deste plano, o Palácio, exemplar de arquitetura civil do século XVIII, que apesar do estado devoluto não lhe é retirada sublimidade, fruto da inserção privilegiada e em grande parte à monumentalidade da fachada principal. É considerado Imóvel de interesse público e, uma vez objeto de estudo da dissertação, é lhe dedicada especial atenção no segundo capítulo. A partir do Palácio desenvolver-se-ia uma estrada orientada a Lisboa, com a intenção desta se vir a tornar a entrada principal da Vila, atualmente descaracterizada pela construção arbitrária e sem planeamento. Ainda assim, é-nos possível o contacto com os vestígios que restam desta via, de que é exemplo a Ponte D. Maria sobre a Ribeira do Judeu, com um aqueduto integrado. Esta deverá ter sido construída entre 1791 e 1800, como ligação ao lado sul da vila e como abastecimento do Palácio com água potável. A ponte é construída em pedra emparelhada com juntas em cal que formam três arcos centrais e um de cheia no lado sul. O aqueduto, do qual a ponte faz parte, toma a forma de um muro com uma calha que acompanha a estrada até à Vila, funcional até aos dias de hoje. O Intendente teria previsto tudo ao pormenor: Tudo o espírito desempoeirado de Pina Manique previu. Para que à população da sua terra não faltasse a água foi buscá-la a uma nascente caudalosa que existe um pouco fora da povoação e conduziu-a para o centro da aldeia, através duma canalização que ainda existe (Vieira, 1934, p. 31).

Fig. 29 | Senhor Alfredo, sentado num banco de Jardim em frente à igreja.

35

↺

1864 1878 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011 1765

2176

2479

2864

3212

2434

2505

2911

3099

2872

2238

2115

1374

1392

1216

Alcoentre

Manique do Intendente

Vila Nova de S. Pedro Maçussa

Aveiras de Cima

Vale do Paraíso Aveiras de Baixo

Azambuja Vila Nova da Rainha

<15

Portugal Continente Lezíria do Tejo Azambuja Alcoentre Aveiras de Baixo Aveiras de Cima Azambuja Vale do Paraíso Vila Nova da Rainha União de Freguesias

15≥25

25≥64

>64

HM

H

M

127,8

104,8

152

130,6

107,4

154,8

150,4

123,5

178,9

137,1

118,6

156,2

200

187,5

212,1

189,6

159

221,1

123,9

113,1

134,4

87,8

70,4

107

267

231,8

298

112,2

114,9

110

359,6

332,6

404

Fig. 30 | População da Freguesia de Manique do Intendente.

Fig. 31 | Gráfico de idades da população residente.

Fig. 32 | Índice de envelhecimento por local de residência e sexo - Censos 2011.

Fig. 33 | Enquadramento territorial de Manique do Intendente na união de freguesias, concelho de Azambuja e Lezíria do Tejo (NUT III).

Materialização de Uma Memória Amputada CONTEXTUALIZAÇÃO

1.3. CONJUNTURA SOCIAL E ECONÓMICA Com 35,7 km2 de área, os dados do último Censo registam em 1216 o número de habitantes na freguesia. Como se verifica no quadro da figura 30, a população tem vindo a decrescer nos últimos anos e há uma diminuição significativa de indivíduos em idade ativa, agravante do problema de envelhecimento da população comum ao interior do país. Ainda nos registos de 2011, podemos verificar no gráfico da figura 31 que 1% tem idades até aos 14 anos, 7% está entre os 15 e os 24, 55% entre os 25 e os 64 e 36% é ocupado pela população com mais de 65 anos (INE, 2011). A taxa de natalidade encontra-se abaixo do registado a nível nacional e, por outro lado, o índice de envelhecimento da população é bastante elevado, o maior do concelho. A população residente é detentora, na sua maioria, de baixa escolaridade ou analfabeta e com fracos recursos económicos, dependente de pensões ou prestações sociais. Estes fatores constrangem o desenvolvimento e a sustentabilidade da estrutura económica e social, constituindo matéria a ter em conta na proposta de intervenção. No que consta à educação, a Vila acolhe a sede do Agrupamento de Escolas do Alto de Azambuja, que disponibiliza dois estabelecimentos de ensino pré-escolar, dois estabelecimentos de ensino de 1.º ciclo e um estabelecimento de ensino com 2.º e 3.º ciclos.

Manique do Intendente, integrada na Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, na Região de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, pertence ainda à NUT IIIAlentejo (fig. 33). No ano de 2013, devido à reorganização administrativa do território das freguesias, esta é agregada às localidades de Maçussa e Vila Nova de São Pedro, constituindo-se a União de Freguesias de Manique do Intendente. A localização privilegiada, na área de fronteira entre a Lezíria do Tejo, o Oeste e a cidade de Lisboa, garante-lhe uma boa acessibilidade, aproximando a vila do principal centro urbano nacional (fig. 33). A capital é considerada o principal mercado nacional de emprego 39

Inês Lopes | JUNHO 2020

Rio Maior Batalha Leiria C. Rainha Cadaval N 39

5

Manique do Intendente

Vila Nova de S. Pedro

Alcoentre

Santarém PORTO

Maçussa

N366

Cartaxo SANTARÉM

Autoestrada IC2

Itenerário Complementar Estrada Nacional

Linha do Norte

Aveiras de Cima

Estradas Municipais Vale do Paraíso

Rede Ferroviária A1

Vila Nova da Rainha

Aveiras de Baixo

N3

Cartaxo SANTARÉM

AZAMBUJA

Carregado

Alverca Loures LISBOA

V. F. Xira LISBOA

Benavente

Fig. 34 | Mapa da Rede Viária do concelho de Azambuja.

Fig. 35 | Maior olival da Península Ibérica, plantação entre Alcoentre e Manique do Intendente.

Materialização de Uma Memória Amputada CONTEXTUALIZAÇÃO

e serviços, e a maior porta de entrada e saída do país, que se traduz numa maior afluência de turistas e num crescente acesso a mercados externos. Com efeito, a região da Lezíria tem-se vindo a afirmar como atrativo para residir, pela proximidade a polos de emprego, pelas boas infraestruturas viárias, pela aplicação de preços competitivos no mercado imobiliário e pela imediação de urbanidades desafogadas e de elevado valor paisagístico. O concelho da Azambuja é também uma charneira importante entre a área metropolitana e a ruralidade da Lezíria do Tejo, cujas acessibilidades rodoviárias (A1, EN3, EN366 e IC2) e ferroviárias (Linha Ferroviária do Norte) potenciam atividades logística, industrial e empresarial, responsáveis em larga medida pela dinâmica económica (fig. 34).

Grande parte do território tem uma utilização não urbana, beneficiando das suas boas condições físicas (orografia, hidrografia e composição do solo).Por conseguinte, as produções agrícolas (trigo, milho, arroz, tomate, olival, vinha, pomar) e agropecuárias (criação de gado e suinicultura) têm um papel preponderante na economia da Vila.

Apesar de se ter assistido a um crescente esvaziamento, abandono e degradação dos solos, estas atividades assumem-se ainda hoje como elementos incontornáveis da identidade de Azambuja e das suas gentes. Em 2015, uma empresa espanhola adquiriu cerca de 700 hectares entre Alcoentre e Manique do Intendente e pôs em curso uma plantação de olival intensiva que se tornaria a maior na Península Ibérica e que determina largos quilómetros de paisagem de encontro à Vila (fig. 35).

A divulgação e dinamização do património histórico para benefícios turísticos é diminuta. Ainda assim, vão se assistindo a planos estratégicos propostos pela Câmara Municipal da Azambuja, onde se reconhece a importância da reabilitação e valorização das zonas antigas e com valor de conjunto. Este processo, iniciado em Manique do Intendente, admite enquadrar intervenções no edificado (correção de volumetrias e de dissonâncias, reabilitação, etc.), no espaço público (criação de áreas de estadia, introdução de mobiliário urbano adequado, promoção da acessibilidade) e, ao nível dos equipamentos culturais e do comércio, criando atrativos para visita e melhorando a qualidade de vida urbana (Plano de Acção, 2011). No município de Azambuja consideram-se insuficientes as unidades de alojamento turístico, contando com apenas três hoteleiras (Centro Turístico de Ponderosa, Gaibéu e Pôr-do-sol) e duas pensões na sede do concelho, que garantem uma capacidade de alojamento de 4.8 por cada 1000 habitantes, ficando aquém daquilo que se considera sustentável e abaixo da média a nível nacional.

41

Inês Lopes | JUNHO 2020

II CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Fig. 36 | (pp. 42, 43) Vista aérea, para sul, do palácio e envolvente próxima.

Fig. 37 | Vista para sul de um dos óculos pertencente à fachada principal.

↺

N

Fig. 38 | Planta de Localização da área de intervenção.

0m

50m

Materialização de Uma Memória Ampuntada CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Inês Lopes | JUNHO 2020

2.1. ENVOLVENTE Após a desafortunada morte de Pina Manique, os seus descendentes deixaram que a ruína e o abandono tomassem conta da obra, conformando-se com os rendimentos que as propriedades produziam e com as rendas dos foros. A vila foi crescendo sem critério, tendo o aumento demográfico resultado na construção de habitações sem plano nem estética (fig. 37) e na procura de soluções que permitissem dar o máximo de proveito aos terrenos. Este desenvolvimento urbano deu origem à organização de uma estrutura espacial simplificada e irregular em torno do complexo arquitetónico.

Tais espaços foram preenchidos com edifícios correntes, implantados ao longo das vias regionais e dos caminhos rurais (ARU, 2013).

Manique do Intendente, constitui-se nos dias de hoje como o maior aglomerado da freguesia, da qual é sede. Excluindo a Praça dos Imperadores e o Palácio, os edifícios que encontramos hoje datam, na sua maioria, do século XX. Podemos considerar ainda alguns vestígios de habitações do século XIX. Raras e derrubadas, são construídas em tufo, taipa e algumas em alvenaria. Tipicamente de um piso, com padieira da porta em madeira, sem ombreiras de pedra e com a porta larga, tinham um postigo e ausência de janelas e seriam cobertas de telha vã de canudo (Soledade, 1979).

O Palácio encontra-se entre uma envolvente desqualificada, edificado que lhe tomou o lugar de implantação, e pequenos terrenos ou logradouros hortícolas que lhe retiram a merecida dignidade. Alguns destes edifícios estão disfuncionais ou devolutos e outros servem apenas o propósito de anexo. O que resta da ‘Obra’ é hoje delimitado a sul pelo Largo e Jardim Pina Manique, a norte e a este pela Rua do Outeiro e a oeste pela Rua Doutor António Casanova Ribeiro. O Jardim, é plantado com plátanos e relvado, dispõe de um parque infantil e cerca de 20 lugares de estacionamento no seu perímetro (fig. 38).

Fig. 39 | Relação do palácio com a Ribeira do Judeu e Paúl.

Fig. 40 | Paúl de Manique do Intendente.

49

↺

0-4m

4-8m

8-10m

>10m

Fig. 41 | Diagrama de redes viárias.

Fig. 43 | Diagrama de programas.

Fig. 42 | Diagrama de altimetrias.

Fig. 44 | Diagrama de cheios e vazios com localização da ARU.

Materialização de Uma Memória Amputada CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

A paisagem que envolve o conjunto urbano é constituída, maioritariamente, por mosaico agrícola, apresentando quintas de pequena e média dimensão a nordeste, a Ribeira do Judeu, e grandes unidades florestais a sul. Também o Paúl, usado por diversas espécies de aves migratórias, assume uma grande importância paisagística enquanto património ambiental (figs. 39, 40).

O Palácio constitui-se como peça central e cénica do conjunto edificado e da envolvente rural, facto acentuado por se encontrar na interseção das duas principais vias de acesso à vila, a que liga a Arrifana à Maçussa e a que liga Alcoentre ao Cartaxo (fig. 41). O percurso de encontro à povoação é marcado por esta grande volumetria que se eleva das habitações típicas, caiadas de branco que, na globalidade, não excedem a singularidade de um piso, o que sublinha a monumentalidade e a dissonância do objeto para com a envolvente construída (fig. 42).

A Vila é constituída tendencialmente por edifícios habitacionais. Os armazéns/ garagens representam o segundo uso de maior expressão, seguem-se o comércio, serviços e restauração e por último os imóveis destinados ao equipamento (fig. 43).

Junto ao Palácio localiza-se um mercado que não oferece as devidas condições e causa constrangimentos viários. Através desta análise, foi-nos possível depreender que a povoação apresenta um fraco dinamismo ao nível dos serviços e comércio, o que apresenta uma desvantagem para os habitantes e turistas que têm de se deslocar à Azambuja, a Rio Maior ou ao Cartaxo para acesso a oferta mais variada.

Parte do tecido urbano faz parte do Programa Estratégico de Reabilitação Urbana do município de Azambuja. A área que corresponde à Área de Reabilitação Urbana (fig. 44) é delimitada a norte pela Rua Pina Manique, a sul pela Rua D. Maria I, Largo 1.º de Maio e Travessa de Trajano, a este por terrenos particulares e a oeste pela Rua António Ferreira Camilo e Rua de Augusto. Ocupa cerca de 26,7 km2 de área e conta com 95 edifícios e 108 frações, dos quais 57 são não habitacionais e 19% apresentam necessidades de reparação. Esta área usufrui de alguns equipamentos/serviços e espaços de lazer: Sede da União de Freguesias, Centro de Dia, Cruz Vermelha, Associação dos Produtores Agrícolas e Caixa de Crédito Agrícola. O conjunto urbano tem vindo a ser alvo de obras de reabilitação e qualificação, das quais é exemplo a intervenção levada a cabo em 2002 que tornou a Praça dos Imperadores num espaço pedonal, pela repavimentação em calçada e a colocação de obstáculos à entrada de cada eixo.

Estas intervenções são de maior importância para a preservação da identidade destes espaços, para uma melhoria da qualidade de vida da população e potenciamento da sua atratividade, ações que deveriam ser alargadas ao espaço do Palácio.

53

Inês Lopes | JUNHO 2020

0m

Fig. 46 | Prospecto da Igreja e Palácio do Donatário e Senhor do Solar da Vª de Manique do Intendente padroeyro da mesma Igrª.

Fig. 47 | Levantamento atual da fachada sul do Palácio.

5m

Materialização de Uma Memória Amputada CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

2.2. FORMA Sem certezas quanto ao autor da proposta, António Lambret Pereira da Silva, em Nobres casas de Portugal - Volume III (1953), atribui o projeto a José da Costa e Silva3, arquiteto do Teatro de São Carlos em Lisboa, iniciado de igual forma por diligência do Intendente e com o qual comparte de uma linguagem neoclássica. Por outro lado, Luís Xavier da Costa (1935), Paulo Varela Gomes (1988) e José Manuel Fernandes (2006) atribuem o projeto a Joaquim Fortunado de Novais4. O regresso tardio de Roma deste último (entre 1791 e 1794), vem tornar pouco provável a autoria do plano, o que não invalida a sua participação na obra. Cátia Marques (2013, p. 25) cita uma passagem de um manuscrito (1705, fólio 31) que pode justificar a intervenção do arquiteto: “Joaquim Fortunado de Novaes, Architecto civil […] está atualmente empregado na construccção de hum Palacio, huma igreja, cuja obra lhe dá honra pelo gosto com que vai edificada”.

O Palácio levanta-se num largo terreiro a norte da Vila e é composto por um corpo central que constitui a igreja e por dois volumes laterais simétricos. Conservado apenas frontispício, a partir do desenho5 da figura 46 podemos ver que o Solar possuiria dezasseis janelas rasgadas, dois torreões, sete portas ajaneladas com varandins balaustrados e quatro portas monumentais, trabalhadas e almofadadas de forma retangular, apresentando fendas intercalares a todo o pano dos cunhais. As janelas possuem avental de pedra trabalhada no piso nobre. Na verga de cada porta estão 3 Começou a sua formação em Lisboa onde estudou Engenharia com Filipe Rodrigues e Desenho com Carlos Maria Ponzoni. Em 1760 viajou para Itália e só regressa em 1779. Torna-se professor de Arquitetura e é nomeado Real Arquiteto das Obras Públicas em 1789.

4 Foi aluno da Casa Pia, onde inicia formação em 1780 e estudou Arquitetura em Roma, de onde regressou entre 1791 e 1794. Discípulo de José da Costa e Silva, falece prematuramente em 1807.

5 Apesar de publicado e reproduzido desconhece-se o autor.

57

InĂŞs Lopes | JUNHO 2020

Fig. 48 | Fachada lateral nos anos 80.

Fig. 49 | Fachada lateral, 2019.

Materialização de Uma Memória Amputada CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

cinco cunhos clássicos a fechar o vergame. Os torreões teriam uma cúpula abobadada à maneira barroca, rematados por um pináculo em forma de pinha flamejante, sobre uma pianha assente no cume da abóbada. A meio, apresentaria ainda um óculo numa tentativa de transformar o estrutural em decorativo. Provavelmente estas abóbadas nunca chegaram a ser construídas. Ligada às abóbadas corre uma linha horizontal em balaústre de encontro ao centro do solar, onde se encontra um frontão de linhas quebradas de tipo barroco com influência do clássico grego.

Em discordância ao desenho, o construído (fig. 47) apresenta-se hoje com uma palmatória de meio círculo, resultante do preenchimento com alvenaria nas aberturas elípticas para reforço estrutural. No centro dessa forma sai uma linha vertical piramidal onde culmina uma cruz de Cristo. O corpo central, servido por dez amplos degraus, projeta uma galilé de três arcos de volta perfeita e abobadada, ladeada por pilastras avançadas que suportam a balaustrada da varanda do segundo piso onde se abrem três postas com frontão triangular. No rés do chão, o espaço que precede à igreja dá acesso a três portas de igreja coroadas por pequenos frontões nos seus topos. O tímpano da porta central dispõe do Brasão dos Pina Maniques: o escudo é partido em pala, na 1.a cortada, Pina e Manique e na 2.a cortada, Andrade e Nogueira, representam as armas de aliança ente o intendente e a sua mulher, com uma cruz a fechar o círculo da nobreza.

A cimalha é decorada por uma varanda balaustrada com colunas ou pilares de pedra que de tanto a tanto é interrompida por pináculos com forma humana sobre socos.

Alguns destes têm forma de ‘Elmo e Couraça’, do século XIII, com duas bandeiras pendentes de cada lado da armadura (Soledade, 1979). Ainda que seja a peça mais bem conservada, é visível o estado inacabado do extremo nascente da composição da fachada.

A fachada lateral (figs. 48, 49) tem uma composição mais simples, apresenta o mesmo conjunto de porta em rusticado no piso térreo e varanda com sacada no segundo piso. O restante é apresentado com os mesmos dois pisos, janelas e óculos iguais aos da fachada principal. À semelhança das janelas, existe ainda uma porta com cantarias, acedida por uma pequena escadaria. É pelas traseiras do altar ou pela ala poente junto ao corpo da igreja que se acede ao piso superior que nos conduz à desoladora realidade da impetuosidade do tempo e à perceção da magnificência que Manique quis imprimir na sua residência. O claustro, as abóbadas, as salas, as arcadas, as janelas feridas e inacabadas, a escadaria mutilada da qual só sobra o arranque, são o resultado de mais de dois séculos de abandono e da incúria dos homens. A abóbada da principal arcada do claustro ruiu com o ciclone de 15 de fevereiro de 1941 (Calixto, 1964). O campanário, construção de planta quadrangular 59

Fig. 50 | Fotografia anterior aos anos 40, antes da plantação de árvores no largo.

Fig. 51 | Fotografia da fachada principal, 1977.

Fig. 52 | Fotografia da fachada principal, 1981.

Fig. 53 | Fotografia da fachada principal, 2020.

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 54 | Obras no telhado da igreja, 1979.

Fig. 55 | Obras de ampliação para um lar de idosos.

Materialização de Uma Memória Ampuntada CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Inês Lopes | JUNHO 2020

e com telhado cónico, é visivelmente tardio ao restante conjunto, levantado pelo povo quando se restaurou a igreja em 1941. Nos anos 60 tinha dois sinos que regulavam o tempo daquelas gentes mas que, de tão pesados, sobrecarregavam a estrutura e tiveram que ser substituídos em 1994 pelos que hoje lá se encontram. Este espaço é acedido por uma comedida escada de madeira que rompe a abóbada do coro-alto.

A Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais promoveu, em 1979, a reconstrução do telhado da nave e substituição total da sua estrutura. Anos mais tarde, em 1992, os corpos laterais e a zona do altar mor sofreram do mesmo procedimento.

Ao longo do tempo, ocorreram obras no imóvel sem intervenção do IPPC (Instituto Português do Património Cultural) ou do IPPAR (Instituto Português do Património Arquitetónico). Em 1987, o Centro Regional de Segurança Social e a paróquia local iniciaram obras no Palácio para instalação de um Centro de Dia para a 3.ª idade, de onde resultou a construção da estrutura e toscos. Estas obras correspondem ao acrescento a nascente, embargadas por exigência do IPPC e interrompidas até à presente data. Em 1996, decorreram obras de construção de um alpendre sobre o corpo poente, adjacente à nave da igreja, promovidas pelo pároco local para suster problemas de infiltrações.

Sem parecer do IPPAR, a intervenção é considerada reversível num contexto de reformulação arquitetónica, mas não contribui para a valorização global do edifício.

No ano de 1997, o então Diretor Regional de Lisboa, arquiteto Alberto Flávio Lopes, vinha a alertar em memorando sobre as intervenções respeitantes ao Palácio: “Os factos já ocorridos levam a propor que o IPPAR assuma como objetivo, neste processo, a necessidade de um estudo global do imóvel definidor das ocupações compatíveis com a escala e valor histórico e arquitetónico do mesmo”.

Em 2007, parte da fachada começou a entrar em colapso com a queda de pedras, mas só no ano de 2009 arrancaram as obras de consolidação para impedir o seu desmoronamento, garantindo a segurança da população que ali continuou a cumprir atividades de ordem religiosa. Insuficientes, estas obras não são significativas, tendo em conta o risco de colapso eminente em que todo o complexo se encontra.

N

Fig. 56 | Litografia do Palácio Nacional de Mafra, 1853.

0m

5m

Fig. 57 | Reconstituição da planta de primeiro piso por Cátia Marques, 2013.

63

↺

Fig. 58 | Reconstituição do Palácio por Aquilino Raimundo.

Materialização de Uma Memória Ampuntada CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Inês Lopes | JUNHO 2020

2.3. DEFINIÇÃO TIPOLÓGICA DOS ESPAÇOS Tipologicamente, o Palácio de Manique do Intendente não é comum, considerando a conjugação de uma igreja paroquial em posição de destaque central num solar residencial e com torreões que marcam as extremidades. Ainda que com uma diferença de escala considerável, podemos compará-lo neste modelo ao Palácio de Mafra. Tal como este, segundo as reconstituições de Cátia Gonçalves (fig. 57) e de Aquilino Raimundo (fig. 58)6, o Palácio possuiria duas alas que ladeavam a igreja e formavam dois pátios. Se em Mafra uma ala se destinava ao rei e a outra à rainha, em Manique é difícil de justificar esta configuração, “ambas possuindo uma entrada principal com acesso a escadaria de honra… não é possível saber se, programaticamente, tal se poderia justificar ou, se se trata simplesmente de um reforço do caráter representativo e simbólico deste conjunto: a sua feição monumental sobrepor-se-ia, assim, ao uso”(Marques, 2013, p. 39).

A arquiteta desenvolve uma proposta de reconstituição que, em planta, corresponde a um retângulo com proporção de raiz de dois (70m de frente por 49m de profundidade). Propõe um volume de fecho norte, uma vez que se depreende que as aberturas da cabeceira da igreja atualmente existentes não seriam próprias para estar voltadas para o espaço público, apesar de não se saber se terão sido rasgadas posteriormente. Supõe-se que a fachada norte se virasse para um jardim ou uma via importante de aproximação à vila. Atualmente, a acessibilidade interna pela ala sul até à ala pente é apenas assegurada pela galilé da igreja ou pelo coro-alto, o que 6 Elaborada na sequência de um projeto submetido à apreciação pela Câmara Municipal da Azambuja tendo sido aprovado e declarado de interesse publico para construção de um Mini-Parque Temático em Manique do Intendente. Pretendia com este projecto um modelo à escala 1/10 da povoação neoclássica de Manique do Intendente (Raimundo, 2018).

Fig. 59 | Fotografia do corpo saliente junto ao pátio.

67

↺

7

5

6 1

2 4

3

N

0m

Fig. 60 |Interior da igreja.

5m

Fig. 61 | Planta de identificação de usos. 1) Igreja | 2) Serviços da Junta de Freguesia. | 3) Serviços do Centro Regional de Segurança Social | 4) Correios | 5) Espaço OTL | 6) Casa do Povo | 7) Casa Mortuária.

Materialização de uma Memória Amputada

vem justificar funcionalmente a presumível existência do quarto corpo a norte que permitiria a ligação das alas laterais de uma forma mais reservada. O referido corpo teria, presumivelmente, um carácter de apoio destinado à cozinha e a dependências do pessoal, e os pátios teriam um carácter de serviço (Marques, 2013).

Exteriormente, o acesso à ala sul é feito pela galilé, lateralmente ou pelos corpos da fachada, diferenciados em pedra. O portal, desenhado em arco, dá acesso a um átrio abobadado com cuidados de decoração em cantaria de pedra. Este espaço encaminharia a uma escada de acesso ao piso superior. Aqui, as janelas são trabalhadas no pano interior do vão, enquanto lisas do lado virado para o pátio. As circulações fazem-se entre salas, pátios e ante-câmaras, bem como por corredores reconhecíveis na ruína.

Existe um corpo estranho adjacente às alas sul e oeste, de canto, com pequenos vãos, que poderia albergar escadas de serviço (fig. 59).

A igreja é ainda nos dias de hoje aberta ao público e constitui-se como a única dependência restaurada. É composta por uma única nave e acredita-se que esta não terá seguido a proposta inicial, tendo em conta a discrepância da pobreza de acabamentos face aos das fachadas do edifício. Possui quatro altares laterais, em recessos na parede e marcados por arcos de volta perfeita em cantaria. O teto é abobadado em berço de madeira, com lunetas que iluminam a nave e a capela mor. No piso térreo é ladeada por quatro portas, encimadas por quatro janelas, três delas abertas diretamente para o exterior, facto que decerto não corresponde à intenção inicial. Na capela mor existem duas tribunas que permitiriam o acesso ao culto e à celebração da missa a um nível superior. Esta comunicação visual era ainda possível através de quatro janelas viradas para a nave. Na espessura da parede oeste encontram-se escadas que provavelmente dariam a um púlpito, contudo não se verifica qualquer tipo de abertura para o interior da igreja (fig. 63).

Algumas das dependências do rés do chão foram aproveitadas por serviços públicos, mas a sua grande maioria encontra-se em ruína. O imóvel, pertencente ao Estado, encontrou-se ocupado até há poucos anos com as seguintes funções: 1) Igreja, aberta ao culto; 2) Serviços da Junta de Freguesia; 3) Serviços do Centro Regional de Segurança Social; 4) Estação dos CTT; 5) Espaços reservados a OTL – Ocupação de Tempos Livres; 6) Casa do Povo; 7) Casa Mortuária. À corrente data, as intervenções de ordem duvidosa, as ocupações indevidas, a falta de manutenção e o estado devoluto de muitas das dependências, têm vindo a comprometer não só a integridade física do edifício, como também a tipológica (figs. 67-69). Posto isto, procura-se que que a proposta do programa a implementar possa constituir núcleos programáticos mais flexíveis e dinâmicos que permitam a unificação do conjunto.

71

Fig. 62 | Escadas de acesso ao campanário.

Fig. 63 | Escadas sem saída, presumível acesso ao púlpito.

Fig. 64 | Capela mortuária.

Fig. 65 | RuĂ­nas (segundo piso).

Fig. 66 | Alpendre.

Fig. 67 | Portal que daria acesso ao pátio nascente. Fig. 68 | Obras para centro de dia em confronto com as técnicas construtivas do séc. XVIII. Fig. 69 | Atual ocupação do espaço destinado ao centro de dia.

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 70 | Rasgo circular no segundo piso do acrescento nascente. Ao fundo, vão para o interior da igreja.

Fig. 71 | La construction de l’hôtel de Salm à Paris. Musée Carnavalet.

↺

Fig. 72 | Aglomerado de pedra e cal.

Fig.73 | Pormonor de porta trabalhada em pedra.

Fig. 74 | Friso em cantaria de pedra.

Fig. 75 | Abóbada em tijolo.

Fig. 76 | Arcos de porta e de distribuição de cargas em tijolo.

Fig. 77 | Perspetiva das fachadas sul e poente.

Materialização de Uma Memória Amputada CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

2.4. DEFINIÇÃO MATERIAL E CONSTRUTIVA Segundo Cátia Marques (2013), as obras do Palácio terão decorrido entre 1791 e 1803. Aquilino Raimundo (2019, p.1) transporta-nos até ao estaleiro da ‘Obra’, numa época em que o cimento e as ferramentas pneumáticas, hidráulicas e elétricas estavam ainda por inventar: …ainda podemos sentir o bulício próprio das tarefas de construção, com as carretas de pedra a chegarem à obra, os andaimes ao longo das paredes, os mestres e serventes a executarem as diferentes tarefas desde abertura de caboucos, construir alvenarias, amassar argamassas, cozer os materiais cerâmicos, transportar terras das escavações, montar cimbres para sustentarem a construção das abóbadas e, o cheiro das refeições a serem preparadas nas barracas e tendas da obra.

Apesar da sua grandeza, o Palácio admite alguma contenção quanto aos materiais utilizados, beneficiando a economia de tempo, meios e mão de obra especializada.

Grande parte do edifício é construído em alvenarias de pedra ordinária (pedra recolhida à superfície dos terrenos ou explorada em pedreiras) juntamente com cal, areia e elementos cerâmicos (fig. 72). Todas as janelas e portas da fachada são trabalhadas e almofadadas de forma retangular, em pedra calcária de lioz. Também o embasamento, que marca a diferença de cotas entre o pavimento exterior e o pavimento interior, e frisos partilham da matéria-prima. Os arcos e as abóbadas eram construídos com ladrilhos ao cutelo que ainda podemos observar tanto pelo exterior, como pelo interior do edifício (figs. 75, 76). Ao dividir a fachada principal em nove secções verticais, consegue-se perceber que os corpos central, laterais e extremos seriam em pedra talhada e, portanto, destacados dos quatro restantes, preparados para receber revestimento em reboco. As marcas em negativo que encontramos nas fachadas (agulhotes) serviam para o apoio de barrotes que, por sua vez, recebiam as pranchas que assistiam os 79

Fig. 78 | Fachada norte da igreja.

Fig. 79 | Pormenor de agulhotes.

Fig. 80 | Altar lateral dedicado a Santo Antรณnio.

Fig. 81 | Abóbada sobre a nave.

Figs. 82-83 | Localização da escadaria.

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 84 | Madeiras da abóbada da igreja antes das obras.

Fig. 85 | Abóbada do hall depois do ciclone, concebida em tijolo.

Fig. 86 | Vão visto a partir do interior.

Materialização de Uma Memória Amputada CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

operários, numa espécie de andaimes (figs. 78,79). À semelhança de outros edifícios pombalinos, encontramos vestígios de elementos de madeira em paredes interiores (fig.

68, p. 74). Estas paredes, designadas por frontais, que estabelecem funções estruturais, eram construídas em madeira e preenchidas com alvenaria de pedra, tijolo ou ambos.

Junto à ala poente, em ruína, o que resta da escadaria principal revela uma peça de bastante interesse e imponência, cujas lajetas de pedra foram roubadas e podem ainda ser encontradas em moinhos e construções menores das proximidades. O interior da igreja é decorado com mármores policromos fingidos e molduras, frisos e pilastras de cantaria de pedra. Intui-se que ao invés da abóbada de madeira, a cobertura prevista pudesse ter sido em alvenaria, em conformidade com as outras áreas do Palácio.

As obras do telhado, realizadas em 1979, adjudicadas a António da Costa Saraiva, substituiriam totalmente as estruturas de madeira por lajes cerâmicas pré-esforçadas.

Foi demolida alguma da alvenaria para a construção de cintas de betão armado no coroamento das paredes e encontro da nova estrutura com o telhado. O assentamento da nova estrutura foi construído por perfis I25 e ripas em betão. A telha atual é tipo ‘lusa’ e a cumieira é construída com telhões apropriados para o efeito e devidamente argamassados. A estrutura de cobertura dos corpos laterais foi substituída por uma laje aligeirada do tipo ‘Ricel’, apoiada em cintas de travamento a construir o coroamento das paredes. A solução anterior, com asnas de madeira, era por norma uma solução leve que não transmitia forças horizontais significativas às paredes, devido ao tipo de estrutura utilizado. A solução em betão transmite forças horizontais significativas às paredes, que podem justificar alguns danos visíveis no interior da igreja, nomeadamente no arco em frente do altar, onde se podem observar fissuras que indicam o afastamento relativo das paredes (Raimundo, 2018). As obras no interior da igreja, efetuadas entre 1984 e 1986, consistiram na remoção das madeiras de teto do altar-mor e da nave (fig.

84) e colocação de forro em madeira de pinho. Este forro foi assente em camisa e saia com tábuas arrincoadas com acabamento em cuprinol de cor castanha e foi construída a estrutura necessária à sua montagem. Em 1981, alguns dos vãos foram fechados com panos de tijolo, e noutros foram colocados caixilhos metálicos, nomeadamente no oculo circular e nos semicirculares da nave. Na capela-mor foram assentes caixilhos semicirculares em madeira exótica.

Qualquer intervenção sobre este património surgirá como uma operação de elevada complexidade que requer a avaliação de técnicos especializados. A consciência de que um projeto desta índole carece de uma equipa multidisciplinar de análise, inspeção e diagnóstico, obriga-nos a contenções nas propostas construtivas a implementar.

83

III - ANÁLISE E REFERÊNCIAS

InĂŞs Lopes | JUNHO 2020

Fig. 88 | Catedral de Notre-Dame em chamas, 2019.

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

3.1. TEORIAS DE INTERVENÇÃO SOBRE O PATRIMÓNIO Recentemente, assistimos a uma consciencialização mediática referente à problemática e aos desafios inerentes à salvaguarda do património (fig. 88), que tem provocado uma pluralidade de interpretações sobre os elementos a preservar e a forma prática de o fazer. Durante os últimos três séculos, os processos de intervenção sobre o património foram sofrendo mutações e alimentando posições oscilantes entre o pessimismo e o otimismo na forma de encarar a relação da expressão contemporânea com o passado. Ainda hoje tema de debate e de grande complexidade, o estudo das várias teorias e possibilidades no decorrer do processo de trabalho, torna-se fundamental para a estruturação de uma conduta crítica e justificativa de um princípio de intervenção a aplicar na nossa proposta. Se, por um lado, a intervenção se pode limitar à manutenção e à preservação do Palácio, restringindo-se à salvaguarda do seu simbolismo e à sua perpetuação no tempo, outra possibilidade reside na aplicação de medidas mais incisivas que impliquem não só a consolidação e o impedimento de degradação natural, mas também consista no desenvolvimento de novas estruturas.

Damos especial destaque à leitura de A alegoria do Património de Françoise Choay, pelo enquadramento do tema no tempo, e pela simplicidade em como esclarece os conceitos essenciais.

Ao longo da história, o homem teve sempre a necessidade de reparar e de fazer perdurar aquilo que lhe fosse útil. A preservação histórica ou cultural não era uma prioridade, pelo que o restauro, na sua génese, passava por reparar algo que tivesse deixado de funcionar e, caso necessário, pela sua alteração. É durante o Renascimento7 que se começa a consciencialização para a importância do património histórico e 7 Movimento cultural, artístico, económico e político que surgiu em Itália nos séculos XIV e XV que se caracterizou pela reintrodução das referências da antiguidade clássica.

89

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 89 | Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc, fotografia por Félix Nadar.

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

arquitetónico, mas é só em consonância com o Romantismo8 , no século XIX, que se vem a consolidar através de inventários de imóveis a proteger e com a criação dos primeiros organismos institucionais de salvaguarda de imóveis de valor reconhecido.

Em Itália, surge o restauro arqueológico que consiste na extração, a um monumento, de todos os elementos introduzidos a posteriori e que não pertencessem ao projeto original, numa procura da autenticidade do seu aspeto. Assim, foram na época destruídas várias partes da história dos edifícios, bem como da sua envolvente, considerados como objetos de contemplação intocáveis.

Personalidades francesas, como Ludovic Vitet9 e Prosper Merimée10, desenvolvem teorias no que respeita à tutela dos monumentos, e defendem que o arquiteto, além do conhecimento da história, deveria proceder ao levantamento arqueológico do edifício. Assim, a partir das ruínas, adotaria uma intervenção coincidente à sua forma primitiva. Caso os vestígios fossem insuficientes, dever-se-iam copiar os traços de outros monumentos das proximidades ou pertencentes à mesma época. Inicia-se então, no seguimento do restauro segundo o seu estilo característico, a época do restauro estilístico, teoria intrinsecamente ligada a Eugéne Viollet-le-Duc11. Antes de entrarmos no campo do seu pensamento, é importante que o saibamos avaliar dentro do contexto no qual foi produzido: num momento de redescoberta e apreciação da arquitetura medieval. O arquiteto defende que “restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo a um estado completo que pode não ter existido nunca em nenhum momento” (Viollet-Le-Duc, 1866, p. 14). O restauro é nestes moldes visto enquanto disciplina autónoma da conceção arquitetónica. Os seus trabalhos de restauro baseavam-se em estudos arqueológicos, apoiados nos fragmentos originais do edifício e na sua própria indução arquitetónica que, em teoria, não dava lugar a criatividades ou críticas pessoais. Com a visão de progresso aliada à técnica, acreditava na possibilidade de refazer uma obra de arte incompleta ou adulterada, baseando-se na noção de coerência do conjunto.

Anteriores ao francês Dictionnaire raisonné de l’architecture française du XI au XVI siècle, surgem textos que manifestam ideias opostas, mais fatalistas, protagonizados por 8 Movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa que durou por grande parte do século XIX. Enquadra-se numa visão contrária ao iluminismo e ao racionalismo (objetividade e razão) ao adotar uma dimensão historicista e revivalista (subjetividade e lirismo).

9 Literário e crítico de arte, primeiro Inspetor Geral dos Monumentos (1802-1873).

10 Literário e Historiador, segundo Inspetor Geral dos Monumentos (1803-1870).

11 Restaurador de monumentos Francês (1814-1879). Formado em arquitetura em Paris, trabalhou na comissão encarregada da preservação dos monumentos históricos. Ganhou fama com o restauro de monumentos como a Sainte-Chapelle e a Catedral de Notre-Dame.

91

InĂŞs Lopes | JUNHO 2020

Fig. 90 | John Ruskin.

Fig. 91 | William Morris.

Fig. 92 | Camillo Boito.

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

John Ruskin12. O autor de The Seven Lamps of Architecture foi um fervoroso defensor de um modelo de conservação mais rigoroso, conhecido por conservação estrita: Take proper care of your monuments, and you will not need to restore them […] We have no right whatever to touch them. […] They belong partly to those who built them, and partly to all the generations of mankind who are to follow us […] (Ruskin, 1960).

Para o inglês, o trabalho manufaturado, nomeadamente dos construtores e dos artificies, era um valor a respeitar. Todos os acrescentos eram considerados ‘mentiras arquitetónicas’, agravadas pelo facto de serem industrializadas. Num período de grande potência e desenvolvimento industrial, em que a fabricação manual estaria a ser substituída, Ruskin adota uma postura retrógrada e conservadora, em que arquitetura seria tanto mais nobre quanto mais evitasse todos estes procedimentos considerados falsos. As obras escritas, impulsionadas pelo autor, defendem que as obras do passado se deveriam manter intactas, contrapondo-se a um processo de reconstrução estilística que conduzia à perda irreversível de grande parte do conteúdo documental, ao adulterar a autenticidade histórica da obra. A história e a situação atual dos edifícios deveriam ser mantidas, limitando-se a intervenção à preservação da sua destruição natural.

Alguns seguidores de Ruskin vieram a espelhar a sua ideologia pelo resto da Europa, como William Morris13, que iniciou o movimento Arts and Crafts, que pretendia conservar as características artesanais e da arquitetura tradicional. Fundou ainda a Sociedade de Proteção de Edifícios Antigos que defendia a sua constante manutenção para evitar futuros restauros.

Mais tarde, Camillo Boito14 vem conciliar, de forma coerente, as teorias protecionistas de Ruskin e a necessidade de restauro de Viollet-Le-Luc. Partilha a consciência do valor histórico e artístico da obra e alerta para a necessidade de evitar a destruição do património que fora aos poucos substituído pelo ‘falso histórico’. Se, por um lado, partilha a consciência histórica de um monumento e o perigo da sua corrupção, por outro destaca como preponderante o valor do monumento enquanto testemunho histórico. Desta forma, critica e considera insustentáveis as teorias 12 Escritor, pintor, professor, crítico de arte e sociólogo inglês. Associado ao romantismo literário e a uma posição pré-rafaelita, contribuiu para a salvaguarda do património através das suas teorias conservadoras (18191900).

13 Político e crítico de arte, estudou teologia na Universidade de Oxford (1834-1896).

14 Nasceu em Roma, e desde cedo ficou a par da cultura europeia e das teorias francesas e inglesas que se desenrolavam na época. Foi professor de Arquitetura, onde se empenhou na renovação do estudo da arquitetura, da arte do desenho e do restauro (1836-1914).

93

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 93 | Propileus de Atenas, ilustração de livro de Gustavo Giovannoni.

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

de segregação estilística, instituídas pela escola francesa, apontando esse tipo de reconstruções como verdadeiros atentados à autenticidade do monumento. Contudo, rejeita a visão fatalista, opondo-se à ‘morte dos monumentos’, invocando a necessidade da sua recuperação. Apesar de defender, à semelhança de Viollet-Le-Duc, a importância da reutilização para a manutenção dos edifícios, propõe uma intervenção mínima que possa comportar novas adições, desde que com a clareza de serem reconhecidas enquanto acrescentos modernos, permanecendo distintas das partes originais. Neste sentido, esta teoria aproxima-se da nossa ideia de intervenção: curar o existente e procurar mecanismos modernos na necessidade de o completar e complementar, promovendo a sua utilidade prática.

No seguimento da teoria de Boito, surge Gustavo Giovannoni15, que vem estabelecer alguns princípios que funcionaram como uma espécie de Carta de Restauro que aciona a rotura entre o antigo e o moderno possibilitando, sem choque, a coexistência entre os dois. Considera cinco modelos de intervenção suscetíveis de uma ordenação hierárquica: consolidação, recomposição, remoção de acrescentos ou desmontagem de partes não originais e o completamento. Em última instância, admite a possibilidade da inovação. Atribui-se-lhe a ampliação do conceito de monumento ao ambiente em seu redor, deixando este de ser apreendido de forma isolada para passar a ser entendido no espaço em que se insere. Realça, assim, a importância da relação que os edifícios mantêm com o sítio onde estão implantados, com a arquitetura e com o próprio espaço envolvente. É relevante ainda a sua sistematização do conceito de restauro ciêntifico, uma metodologia que procurava garantir a sobrevivência da autenticidade no monumento enquanto valor documental, histórico e artístico, recusando a possibilidade de renovação de acordo com paradigmas arquitetónicos contemporâneos.

Atendendo à diversidade de ideias e de protagonistas, há a necessidade de estabelecer regras universais na procura de solucionar os problemas complexos de salvaguarda do património. Em 1931, durante o primeiro Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos em Monumentos, elabora-se a Carta de Atenas, constituindo a primeira referência de reflexão sobre a preservação do património construído.

Após a Segunda Guerra Mundial, insurgiu-se a necessidade de recuperar as cidades afetadas na Europa, muitas delas completamente arrasadas surgindo a necessidade de inovar e de reformular o conceito de restauro, readaptando as metodologias propostas por Camillo Boito e Gustavo Giovannoni, que se haviam revelado lentas e 15 Teve uma formação multifacetada enquanto arquiteto, restaurador, historiador de arte, engenheiro e urbanista.

Ajudou a consolidar o urbanismo como disciplina na Itália, conciliando o valor museológico ao valor de uso dos conjuntos urbanos (1873-1947).

95

InĂŞs Lopes | JUNHO 2020

Fig. 94 | Piero Gazzola reĂşnido com os representantes da cidade de Veneza, 1964.

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

complexas face ao contexto. Surge então Cesare Brandi16, protagonista do livro Teoria do Restauro, onde defende que os valores artísticos prevalecem sobre os históricos.

Prefere a intervenção mínima, pela manutenção que evite o restauro, alertando para a importância de salvaguardar a autenticidade da obra. O restauro dever-se-ia inserir no processo histórico como mais um evento na série de ações humanas que incidiram sobre o monumento, como uma forma de sedimentação do tempo na matéria.

Em 1964, no II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos, é proposta a Carta de Veneza17 que atualiza a Carta de Atenas ao ampliar a noção de Património arquitetónico, e vem assinalar a importância da conservação de áreas e estruturas edificadas, urbanas e rurais. Demonstra preocupação não só com objeto arquitetónico, mas com o meio envolvente, considerado parte integrante do conjunto. Este documento introduz princípios de conservação que ainda hoje se revelam fundamentais, numa altura em que a questão da sustentabilidade é de extrema importância na maneira como uma estrutura herdada de uma civilização antiga possa ser encarada como um recurso, ao invés de um impasse ao desenvolvimento urbano, cultural e económico de um território. O estado inacabado e de ruína do edifício em estudo implica não só a reabilitação das suas partes desativadas e devolutas, como uma intervenção mais profunda, numa alteração e introdução de novos elementos.

Neste seguimento, a Carta de Veneza (1964) constitui-se como uma referência maior na nossa proposta, introduzindo a questão da possibilidade de transformação com a diferenciação entre o ‘antigo’ e o ‘novo’: Artigo 12º. Os elementos destinados a substituir as partes inexistentes de uma 16 Foi um dos principais críticos e historiadores de arte, fundador da Teoria do Restauro, ensaísta, poeta e escritor (1906-1988).

17 Ideias fundamentais: (a) ampliação do conceito de monumento que, além de criações arquitectónicas isoladas históricas, devem ser também os conjuntos urbanos e rurais com significado especial e obras modestas com valor cultural. O conceito de monumento histórico deve envolver também o espaço envolvente e o local onde este se encontra implantado; (b) quando for necessário, o restauro deve respeitar os materiais utilizados e todas as partes de diferentes épocas, que não devem ser adulteradas ou destruídas; c) estudo acompanhado de investigação arqueológica e histórica do monumento, utilizando meios interdisplinares avançados: levantamentos arqueológicos, sondagens estratigráficas, técnicas estáticas, procedimentos magnéticos, técnicas informáticas, fotogrametria e outros, que precedam os trabalhos de restauro; (d) as intervenções de restauro devem abranger trabalhos que, em qualquer momento, o objecto sobre o qual se actuou se possa despojar da actuação e voltar ao momento anterior à sua realização, ou seja defende a necessidade de reversibilidade nas intervenções estruturais e construtivas; (e) refere a necessidade de uma manutenção periódica dos edifícios e uma atribuição funcional socialmente útil.

97

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 95 | Estado em ruína do Palácio.

Fig. 96 | Ampliações em betão e tijolo.

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

edificação devem integrar-se harmoniosamente no conjunto, distinguindo-se sempre das partes originais, a fim de que o restauro não falseie o significado artístico ou histórico No que diz respeito aos acrescentos e obras de beneficiação realizadas no edifício: Artigo 11º.Quando um edifício contiver estilos diferentes, em resultado de diversas campanhas de obras ao longo do tempo, não se justifica a remoção de partes do edifício, a não ser excecionalmente, quando os elementos a remover tenham pouco interesse e quando aquilo que se pretenda pôr a descoberto possua um relevante valor histórico, arqueológico ou estético, e o seu estado de conservação seja suficientemente aceitável para justificar a ação.

Em suma, a intervenção sobre o Palácio reveste-se de grande complexidade, na procura de uma forma que possa assumir consoante a opção de atuação, ao mesmo tempo que pretende reforçar a necessidade da preservação do seu valor histórico e arquitetónico. Há a necessidade de um franco diálogo entre o passado e o presente, entre a memória a preservar e o projeto como resposta à renovação. Para que tal aconteça, além do conhecimento crítico e evolutivo no que concerne ao tema da intervenção sobre o património, é necessário que nos esteja presente a consciência de uma análise nas intervenções contemporâneas de forma a que seja possível “viver no nosso tempo com tudo aquilo que é do passado, mas sem renunciar a nada daquilo que a atualidade é capaz de nos oferecer” (Cannatà, 1999, p. 12).

99

InĂŞs Lopes | JUNHO 2020

Fig. 97 | Logotipo do programa.

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

3.2. PROGRAMA REVIVE Nas últimas duas décadas temos vindo a assistir a um período de conversão do descartável para o reciclável, desde os objetos mais triviais do quotidiano, à própria arquitetura. No campo que nos diz respeito, há um acréscimo de responsabilidade que implica a devolução de vida a conjuntos adormecidos pelo abandono, cujas ocupações primárias já não se integram na sociedade atual. Estes monumentos e edifícios históricos acumulados vêm cada vez mais a entrar no âmbito do trabalho do arquiteto, a quem cabe a tarefa de interpretar, avaliar e perpetuar essa memória edificada.

O Estado português foi-se resignando à realidade do desamparo de dezenas de edifícios de interesse, desocupados durante dezenas ou centenas de anos, votandoos à mercê de roubos e da violência do tempo, como se de nada valesse enquanto testemunho histórico de um povo e enquanto traço vincado da identidade nacional. A nível estatal, a divulgação e contemplação do património torna-se primeiramente uma questão económica, somando-se depois o seu valor cultural. Porém, viabilizar o seu aproveitamento significa recuperar grande parte das edificações em estado degradado, sendo imperativo encontrar formas de o fazer face à falta de capacidade financeira. É cada vez mais evidente que a reabilitação urbana entrou na ordem do dia em Portugal, assumindo certo mediatismo até. Num contexto pós-crise e com o acréscimo do fluxo turístico, é apresentado em 2016 o Programa REVIVE, que vem iniciar o processo de mudança face a esta problemática, enquanto política pública: O património imobiliário público constitui um componente muito relevante da identidade histórica, cultural e social do país, e um elemento rico e diferenciador para a atratividade das regiões e para o desenvolvimento do turismo. É, por isso, determinante assegurar a sua preservação, valorização e divulgação, bem como um acesso alargado à sua fruição (Governo de Portugal, 2016).

101

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 98 | Distribuição geográfica dos 33 imóveis lançados pelo REVIVE em 2016.

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

O programa faz parte de uma iniciativa dos Ministérios da Cultura, Economia e Finanças, com a colaboração das autarquias e do Turismo de Portugal, abrindo concursos públicos internacionais com fim à recuperação e requalificação de Imóveis de Interesse Público pertencentes ao Estado. É conduzido por uma equipa técnica multidisciplinar que integra, em permanência, representantes das entidades com competências sobre o património público e sobre o turismo, designadamente: Direção Geral do Património Cultural; Direção Geral do Tesouro e Finanças; Direção Geral dos Recursos da Defesa Nacional; Turismo de Portugal, I.P. (Governo de Portugal, 2016).

Tem como objetivos promover e agilizar os processos de rentabilização e preservação de património público que se encontra devoluto nem usufruído pelas comunidades, nem por visitantes, numa corrente geradora de riqueza e postos de trabalho.

Palácios, conventos, quartéis, fortes e quintas compõem um total de 33 edifícios de elevado valor patrimonial, alguns classificados como Monumentos Nacionais.

A distribuição geográfica (fig. 98) é feita de acordo com a divisão administrativa pelas NUTS II: sete na região norte; oito na região centro; cinco na região da Área Metropolitana de Lisboa; oito na região do Alentejo; quatro na região do Algarve; um na Região Autónoma dos Açores. A intenção passa por recuperar o património através de concessões por períodos entre 30 a 50 anos, abrir o espaço aos cidadãos, utilizando fundos privados que o tornem apto pra afetação a uma atividade económica lucrativa, com vocação turística, nomeadamente, nas áreas da hotelaria, da restauração, das atividades culturais, ou outras formas de animação e comércio, preservando-se os valores e pressupostos que determinam a dominialidade desses bens e a propriedade pública dos mesmos, mas encontrando mecanismos que permitam prosseguir os objetivos de reabilitação e valorização de visados (Governo de Portugal, 2016).

De alguma forma, é uma medida que dá continuidade, ou é muito próxima, ao programa Pousadas de Portugal, iniciado na década de 40 do século XX com expressão até aos anos 80. À época, a questão que se colocou aquando da decisão foi a possibilidade de reabilitação destes monumentos através da sua adaptação a pousadas, uma vez que se encontravam em situação crítica (especialmente as dependências monásticas). O fato desta ação ter sido desencadeada pelo estado, motivou um surto de pretensões idênticas de conversão hoteleira de velhos e desafetos conventos e mosteiros um pouco por todo o país, especialmente por parte dos municípios e de alguns promotores privados (Custódio, 2010). As semelhanças, no que toca aos objetivos práticos que encerram, são claras: a recuperação do património nacional e a 103

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 99 | Notícia de primeira página do jornal O Mirante.

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

sua promoção cultural e económica.

Ao contrário da grande maioria dos países europeus, a gestão privada de património público é ainda residual em Portugal. Até à data, metade destes imóveis encontram-se sem processo de conceção, do qual faz parte o Palácio de Manique do Intendente. Ainda que ao governo competisse a salvaguarda do património, parecenos razoável que um programa como o REVIVE possa compactuar na colmatação da crise face ao pouco investimento no setor. Ainda assim, é necessário pensar-se também em estratégias pré-definidas para a intervenção sobre os imóveis, dada a pluralidade de desafios e características que cada edifício encerra, para que possa permitir aos arquitetos e às entidades que se submetam a concurso saber que valores são importantes preservar em cada caso. Walter Rossa, numa entrevista ao jornal Público (2016), aponta para a importância do Estado elaborar “um caderno de encargos rigorosíssimo para cada um, com todos os valores que é importante preservar, e depois pôr esse caderno à disposição dos arquitetos”, porque o que é importante salvaguardar nem sempre é visível em primeira mão: Peguemos no Palácio de Manique do Intendente – um projecto para a revitalização do conjunto que olhe apenas para o edifício tem uma margem de liberdade muito considerável, já que ele está muito arruinado, mas olhar apenas para o edifício é altamente redutor. Qualquer intervenção ali deverá levar em conta que o palácio fazia parte de uma utopia de Pina Manique, que ali queria construir uma cidade ideal.

A qualidade depende do foco, depende do que sabemos sobre estes edifícios e do que estamos dispostos a exigir nesta intervenção (Canelas, 2016).

A cedência deste tipo de material tornar-se-ia de maior importância para que as propostas não se arriscassem à deturpação da história do edifício, muitas vezes subposta ao poder dos interesses meramente económicos e financeiros.

Entretanto, o governo prometera a elaboração de um caderno de encargos à medida para cada um dos casos (Canelas, 2016), não se verificando até à data de entrega deste documento. Os elementos de suporte, no que concerne à intervenção no Palácio de Manique do Intendente, são vagos e insuficientes no exigivél para o desenvolvimento de um projeto de arquitetura. De natureza preliminar e caráter meramente informativo, limitam-se a uma breve descrição histórica, a um desenho de reconstituição do alçado principal (56), a uma planta esquemática de identificação de usos e a uma planta do piso 0 (em anexo).

105

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 100 | Arquitetos portugueses numa viagem à Grécia, 1976, da esquerda para a direita: Alexandre Alves Costa, Sérgio Fernandez, José Grade, Alcino Soutinho, Fernando Távora e Álvaro Siza.

Fig. 101 | Fotografia da turma de Seminário, Wohnhaus Schleiches Tour, Berlim, 2018.

Materialização de Uma Memória Ampuntada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

Inês Lopes | JUNHO 2020

3.3.1. THE BEAUTIFUL PAST: VIAGEM GERMÂNICA Desde cedo que nos é incutida a importância da viagem como ferramenta imprescindível na prática da arquitetura, na formação e no trabalho que se venha a desenvolver enquanto profissional. Este tipo de experiência mostra-nos que o processo de conhecimento da arquitetura e da sua história integra forçosamente relações sensoriais para com o espaço construído. Revela-se como espaço de aprendizagem, como ferramenta de investigação na descoberta de formas, do passado e do presente, tal como se refere José Fernando Gonçalves (2015): o sentido universal dos princípios de conceção visual e construtiva. Provam-nos isto as viagens feitas ao mundo antigo pelos arquitetos no século XX (fig. 100), que tiveram repercussões na construção da cultura arquitetónica da modernidade.

O desejo de uma perceção completa e rigorosa impulsiona-nos à prática do desenho, quer na apreensão dos novos espaços, quer na procura de novas ideias e formas que possamos transformar em construção: Nenhum desenho me dá tanto prazer como estes: desenhos de viagem. […] Haverá melhor do que sentar numa esplanada, em Roma, ao fim da tarde, experimentando o anonimato e uma bebida de cor esquisita – monumentos e monumentos por ver e a preguiça avançando docemente? (Siza, 1999).

O Darq sempre fomentou este conhecimento in loco, quer pela promoção do mesmo nas mais diversas conferências, quer pela organização anual de viagens de estudo. O ano de Seminário não fugiu à regra e, mais uma vez, fomos convidados a lançar-nos numa viagem invernal à Alemanha, nomeadamente às cidades de Colónia, Dessau e Berlim.

Embora todas as obras merecessem destaque, daremos atenção àquelas que mais sentido fazem dada a problemática do caso de estudo. Ainda em construção e com 107

Fig. 102 - Fig. 105 | Registo fotográfico da Visita à Capela de Campo Bruder Klaus, Neue Wache, Jüdisches Museum e Berliner Philharmonie; Alemanha; 2018.

↺

Fig. 106 - Fig. 108 | Registo fotográfico da Visita ao Museum Insel Hombroich, Jüdisches Museum e Bauhaus Building; Alemanha; 2018.

Fig. 109 - Fig. 111 | Registo fotográfico da Visita ao Holocaust-Mahnmal, Bonjour Tristesse e Neues Museum; Alemanha; 2018.

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

a impossibilidade de visita ao interior, o James-Simon-Galerie (David Chipperfield, 2007-2018, Berlin) mostra-nos com clareza a forma de construir a contemporaneidade, justaposta com a história daquele lugar, ao conseguir uma linguagem clássica sem mimetizar os detalhes pré-existentes. Também as ideias de ampliação, de entrada e de relação com os restantes elementos construídos nos interessam perceber, dadas as circunstâncias de inserção urbana do Palácio em estudo e a necessidade de, também este, sofrer alterações desta ordem. O Kolumba Art Museum (Peter Zumthor, 19972017, Cologne), já anteriormente visitado, renasce das ruínas de uma igreja tardogótica, destruída pelos bombardeamentos da segunda guerra mundial. Demos especial importância ao cuidado na introdução dos novos elementos construtivos, à minúcia de como coseu os fragmentos de várias épocas. A materialidade assume aqui um papel preponderante na totalidade do desenho e na organização física do edifício, que tanto integrou e harmonizou as estruturas existentes como a sua coexistência espacial com a envolvente edificada dissonante em que se insere.

Não com inferior importância, a visita ao The Fueuerle Collection (John Pawson, 2011-2016, Berlin) constituiu-se como um estimulante ao primeiro impulso que tivera quando conheci a obra em Manique: poder ter a liberdade de propor algo reformulador no uso do edifício, sem que para isto se perdesse a essência e as cicatrizes que o identificam… ou que de algum modo as amplificasse. Neste caso, trata-se de um museu privado dedicado à coleção de Désiré Feuerle que ocupou um bunker renovado da Segunda Guerra Mundial que contrapõe a sensualidade impressa na exposição com a brutalidade da arquitetura e do contexto histórico que a envolve.

Próximo ao tema da intervenção na ruína, surge a obra que mais deteve a nossa atenção e que se constituiu caso de estudo para a intervenção: o Neues Museum (David Chipperfield, 1997-2009, Berlim). É um edifício de escala monumental, reabilitado e ampliado depois de anos em estado degradante. De que forma se adicionou o novo ao existente? Que materiais foram usados? Terá sido preservada a identidade do edifício?

- foram questões que se tentaram clarificar para uma maior coerência na proposta a desenvolver.

111

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 112 | (página anterior) Exterior do Museu pós bombardeamento.

Fig. 113 | Ilha dos Museus, Berlim.

Materialização de Uma Memória Ampuntada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

Inês Lopes | JUNHO 2020

3.3.2. NEUES MUSEUM Obra original de Friedrich August Stüler (1800 – 1865), aluno de Schinkel18, o Neues Museum fica localizado na Ilha dos Museus de Berlim e foi construído entre os anos 1841 e 1855 tendo sido inaugurado em 1859. Surge como necessidade de albergar as excedentes obras de arte que se iam acumulando no Altes Museum, e por isto, o novo museu desenvolveu-se com uma relação quase umbilical com o antecessor, refletindo uma linguagem clássica com uma ponte sobre a rua Bodestraße. O edifício é concebido com três pisos, e à semelhança do que se intui ter sido o projeto para o Palácio de Manique do Intendente, este desenvolve-se em torno de um espaço central que é intercetado por um corpo, formando dois pátios interiores.

A ruína foi-se apoderando do edifício após os intensos bombardeamentos dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial (1943-1945), que resultaram na destruição completa de parcelas do complexo e sérios estragos nas restantes. As alas a noroeste, o cunhal a sudeste e a escadaria principal desapareceram por completo, a colunata, as coberturas, a fachada e os pátios ficaram arruinados. Algumas áreas ficaram com danos menores e acabaram por ser conservados os estuques e os acabamentos originais.

O regime comunista foi fazendo reparações na Ilha, mas decidiu que o edifício receberia apenas os cuidados mínimos, tendo em conta o seu elevado estado de degradação. Mais tarde, após a queda do Muro de Berlim e a reunificação das Alemanhas, foi decidido consubstanciar-se o conjunto de museus, mas a sua reconstrução foi sempre alvo de adiamento, quer pelas razões referidas quer pelo simbolismo que o edifício foi adquirindo, e ainda pela dúvida: - quais as opções a tomar tendo em conta as condicionantes históricas e o seu estado precário? Segundo André Cetano (2015, p.120) existem duas respostas a esta questão:

Fig. 114 | Maquete da proposta de Giorgio Grassi para o Neues Museum.

Fig. 115 | Corte prespético da proposta de Giorgio Grassi para o Neues Museum.

Fig. 116 | Alçado da proposta de Giorgio Grassi para o Neues Museum.

18 Pintor, urbanista e o mais notável arquiteto do neoclassicismo na Prússia (1781 – 1841).

115

↺

Fig. 117 | Sala Romana, segundo piso, estado pré-existente.

Fig. 119 | Gravura do hall de escadas, 1850.

Fig. 118 | Sala Romana, segundo piso, estado pós intervenção.

Fig. 120 | Hall de escadas, pós intervenção.

Materialização de Uma Memória Ampuntada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

Inês Lopes | JUNHO 2020

Para Karsten Schubert, uma seria recorrer a uma falsa autenticidade para conservar tudo aquilo que restou e conjugar com os elementos que faltavam, tornando a diferença mais ou menos ilegível. A outra seria introduzir uma nova narrativa arquitetónica que permitisse a união dos últimos fragmentos de forma a criar um todo homogéneo.

Contudo, apesar destas duas opções plausíveis, a restauração exata e fiel de todo o edifício era aquela que possuía mais defensores.

Foi apenas no ano de 1997 que David Chipperfield, em colaboração com Julian Harrap19, ganhou o concurso internacional para a sua reconstrução. Anteriormente a este, Giorgio Grassi20 tinha ganho a primeira fase do concurso (Figs. 114-116), porém, a sua proposta nunca foi realizada.

A ideia primordial do projeto teve sempre como intenção restituir o volume original, num processo que contemplava ainda a reparação e o restauro das partes que, embora em pé, tinham ficado muito danificadas. O arquiteto decidiu assumir as cicatrizes e marcas do edifício, as camadas da sobriedade de Stüler e a violência da Segunda Guerra, mantendo a história como testemunho e uma lição, não descorando a liberdade de uma contemplação do tempo presente e onde o utente é um participante ativo.

O restauro arqueológico seguiu as premissas da Carta de Veneza, respeitando o edifício nos seus diferentes estados de preservação, fator que veio acrescentar condicionantes às exigências técnicas e funcionais de um programa museológico. Já os acrescentos, foram pensados de modo a não competir com o pré-existente, quer pela forma que tomaram próxima àquela que existia, quer pelo tipo de acabamentos. Se por um lado o restauro do existente pressupõe o enfatizar da construção original num contexto espacial e material, por outro, a sua ampliação é um reflexo do que se perdeu sem que para isso caia no pastiche.

As colunatas este e oeste do edifício foram restituídas, conservadas na sua grande maioria, o que restabeleceu o contexto urbano anterior à guerra. As novas salas de exposição foram desenhadas com elementos pré-fabricados de grande formato, compostas por cimento branco e aglomerado de mármore Saxoniano. As escadas monumentais são feitas com o mesmo material e usam do mesmo desenho que as originais, sem as replicar, sendo que as pré-existentes estariam num estado irrecuperável.

Este elemento ocupa o hall central que perdeu a magnificência das pinturas egípcias

19 Arquiteto britânico especialista em conservação patrimonial.

20 É um dos arquitetos italianos modernos mais importante da atualidade. Fez parte da Escola Italiana Racionalista, conhecida por La Tendenza que surgiu na década de 60.

119

Fig. 121 | Pátio Grego.

Fig. 122 | Pátio Egípcio.

Fig. 123 | Esquisso de David Chipperfield representativo das adições.

↺

Alรงado oeste

Corte longitudinal pelos pรกtios e pelo hall de escadas

Corte longitudinal pela ala este

Planta piso 2

Planta piso 0

Planta piso 3

N

10m

Planta piso 1 Fig. 124 | Plantas e cortes da proposta.

Planta piso 4

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

para dar lugar a um espaço despojado em tijolo e, portanto, recuperou a aparência de estrutura compacta e maciça. Dos novos corpos faz parte a ala noroeste, com o Pátio Egípcio e o Salão de Apolo, a abside no Pátio Grego e a Cúpula Sul, construídos com tijolos reciclados que completam as partes existentes. É também aqui que reside a verdade do edifício, nos remates entre o ‘novo’ e o ‘velho’ que nos vão transmitindo a perceção de resistência. É em outubro de 2009, depois de mais de 60 anos em ruína, que o Neues Museum volta a abrir as suas portas ao público, o terceiro dos edifícios restaurados na Ilha dos Museus.

Este caso de estudo foi imprescindível na compreensão de critérios e estratégias de intervenção a utilizar. Interessou-nos a metodologia de síntese de várias práticas de restauro e de conservação. Existe aqui uma posição conservacionista, onde se procurou preservar os elementos pré-existentes numa aceitação da passagem do tempo e da história que se lhes acumula, num registo de intervenção mínima para completar e devolver função às formas, não numa recriação, mas numa reinterpretação espacial.

Próximo das nossas intenções, o arquiteto procurou o equilíbrio entre o preenchimento das lacunas existentes, sem ocultar a história que lhes encerravam, e a afirmação de uma nova narrativa contemporânea.

123

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 125 | (página anterior) Fotografia do Convento de Santa Maria do Bouro, início do séc. XX. Fig. 126 | Vista da atual Pousada.

Materialização de Uma Memória Ampuntada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

Inês Lopes | JUNHO 2020

3.3.3. POUSADA DE SANTA MARIA DO BOURO São vários os exemplos em Portugal de antigos Mosteiros que se converteram e que hoje em dia detêm um relevante destaque a nível turístico e cultural. De facto, os mosteiros têm uma influência na adaptação a novos programas, e a ocupação hoteleira é a mais frequente.

A Pousada de Santa Maria do Bouro localiza-se na freguesia com o mesmo nome, em Amares, distrito de Braga. O antigo Mosteiro Cisterciense foi construído sobre um outro edifício, habitado por ermitas, numa encosta com declive acentuado limitada a norte pela estrada nacional da Serra do Gerês e a sul pelo Rio Cávado. Fora fundado por D. Afonso Henriques no século XII e, apesar de prosperar, rapidamente entra no primeiro período de decadência no século XV, originado pela constituição do sistema de comenda. Só no final do século XVI se iniciam as obras de reconstrução e expansão, promovidas pelo Cardeal D. Henrique. O mosteiro é encerrado em 1834, com a extinção das ordens religiosas e cai novamente em abandono, à exceção da igreja, que é cedida à paróquia e, por ter sido continuamente utilizada, conservou-se sempre em bom estado. A história do edifício ficou marcada por várias reconstruções, ampliações e alterações conforme as necessidades de ocupação, ou por carência de manutenção, evidenciando a capacidade de adaptação e de renovação a novas necessidades deste tipo de edifícios. Cátia Sampaio cita Luís de Oliveira Fontes, após este ter liderado a equipa de arqueologia que interveio no mosteiro: Santa Maria de Bouro, tal como chegou aos finais do século XX, é uma produção arquitectónica resultante de um projecto de vida, no caso a da comunidade monástica cisterciense que o ocupou, deixando transparecer, nas suas diferentes partes, os diferentes projectos que enformaram a construção inicial e as sucessivas modificações e ampliações posteriores. Neste sentido, o mosteiro de Bouro não é um edifício unitário,

Fig. 127 | Esquiço de processo, Souto de Moura.

Fig. 128 | Pátio das laranjeiras.

127

↺

Planta da cave

Planta do 1.º piso

N

10m

Planta do piso térreo Fig. 129 | Plantas da proposta.

Planta do 2.º piso

Materialização de Uma Memória Ampuntada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

Inês Lopes | JUNHO 2020

estilisticamente homogéneo, mas sim um monumento que se foi construindo durante quatro séculos (2011, p. 63).

Em 1958, o conjunto é classificado como Imóvel de Interesse Público, embora a Zona Especial de Proteção ao monumento tivesse sido apenas delimitada no ano 2005. Em 1989 é entregue, pelo IPPAR, o projeto a Eduardo de Souto Moura em colaboração com Humberto Vieira para obras de consolidação e adaptação a pousada, encomendado pelo Ministério da Cultura. Aquando da intervenção, o conjunto encontrava-se devoluto e abandonado, sem cobertura, com os interiores completamente abatidos, à exceção da igreja e da sacristia, por razões anteriormente mencionadas.

Tomando o impacto que a ruína tinha sobre a paisagem, tornando-se parte integrante dela, Souto Moura toma-a como ponto de partida, na intenção de preservar a memória do lugar. Queria que a primeira imagem que tivera do edifício desde criança, que predominou durante décadas, se perpetuasse. Contudo, tal como o como Chipperfield, a primeira intenção do arquiteto português foi querer distinguir o seu tempo da pré-existência, acrescentando-lhe um novo capítulo. Há dois momentos neste projeto: o passado e o presente, resolvidos por processos e metodologias quase intuitivas: “antigo é antigo, novo é novo. Se for novo, faço as coisas de uma certa maneira… se for antigo, faço-as de outra” (Moura, 2001, p.50).

O mesmo tinha já sido feito nas ampliações e nos restauros anteriores, que se distinguiam pela diferença de aparelho de pedra, contando assim a história do respetivo século. Na pousada, optou por acentuar essa diferenciação, por exemplo, no uso de mármore (ao invés de granito) que liga os níveis das plantas de fundação, alterados dos originais. Os materiais foram usados com muita sensibilidade, mantendo o seu aspeto original, combinando a pedra com o aço e o betão. À medida que o projeto foi avançando e, percebendo que o mosteiro era constituído por um conjunto de épocas e de estilos harmoniosamente fundidos pareceu-lhe desmedida a intenção de rotura do novo para o antigo, optando pela continuidade de um tempo passado numa nova imagem contemporânea.

Quanto ao programa da nova pousada, a conversão mostrou-se algo simples: a cozinha manteve-se cozinha, a farmácia em bar, a biblioteca em auditório, o refeitório em restaurante, o claustro em claustro e as celas em quartos. Nos pisos inferiores acomodaram-se as áreas comuns e nas superiores as áreas privadas. Apesar de não denunciado, a largura dos corredores e a dimensão das celas foram adaptados para responder às necessidades da nova pousada, bem como a altura dos pisos, devido à introdução de infraestruturas, que obrigou à desmontagem dos arcos para abatimento

Fig. 130 | Esquiço de processo, Souto de Moura.

Fig. 131 | Pormenor do teto.

131

↺

Alçado norte

Corte 11’

Corte 22’

Alçado oeste

Corte33’

Alçado sul Corte 44’

Alçado este

Fig. 132 | Alçados e cortes da proposta.

Corte 55’ 10m

Materialização de Uma Memória Amputada ANÁLISE E REFERÊNCIAS

e consequente criação de espaço entre pisos. No fundo, o mosteiro torna-se num conjunto de elementos de projeto, usados e reordenados numa nova composição espacial.

Inicialmente, o caso de estudo da pousada, surgiu enquanto possível abordagem metodológica para a recuperação e conservação histórica de uma ruína através da reabilitação, com a vantagem do programa ser muito próximo do que escolhemos para a nossa intervenção. Apesar de tudo, foi na contradição muitas vezes gerada entre o antigo e o novo que residiu a nossa atenção. O arquiteto decidiu ‘congelar o tempo’ na construção da nova pousada, sem complexos, sem medo de tocar no edifício, numa intenção de valorizar a imagem histórica da ruína (o mosteiro no seu último estado) sob as técnicas e linguagem da contemporaneidade. Opta por deixar espaços meramente contemplativos, como o espaço do claustro, que funciona como peça escultórica; recua as caixilharias e esconde-as, de forma a que permaneçam como buracos; não coloca telha para ocultar a cobertura, introduzindo um plano de terra ajardinado, numa representação do curso natural do tempo e da natureza sobre o construído. Interessanos perceber esta coexistência e fusão de tempos. Souto Moura não recusa o estado de ruína do edifício, parte dela para construir uma continuidade em conformidade com as novas e complexas exigências, num projeto irreverente, onde a história do edifício é manipulada de forma quase invisível.

135

IV - PROPOSTA

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 134 | Vista este a partir do acrescento em betão armado.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

4.1. CONCEITO BASE O anseio de recuperação de património votado ao abandono tem-se traduzido numa crescente procura de reabilitar e revitalizar edifícios de grande porte que podem contribuir para a regeneração urbana, sociocultural e económica do território onde se inserem. O tema do Seminário de Investigação, The Beautiful Past, ao eleger imóveis que constam do programa REVIVE, enquadra-se nesta problemática e dá o mote para a consciencialização das potencialidades destas práticas tão atuais e que nos acompanharão na futura atividade profissional. Torna-se, portanto, um tema de interesse maior, que permite, num trabalho de final de curso, uma maior aproximação à aplicabilidade real da proposta. Através do exercício de projeto, pretende-se compreender o território, a paisagem e o construído nas suas mais diversas dimensões, escalas e terminologias.

Interpretar, reutilizar, redesenhar e, em última instância, reparar e curar constituem o leitmotiv do trabalho prático (Correia, 2017).

O caso de estudo de Manique do Intendente revela-se especialmente estimulante, dado que é constituinte de uma vila com história singular e que, apesar de estar a passar uma fase de decadência e anonimato, é detentora de notáveis condições para o seu desenvolvimento e evolução. A atividade agrícola, que ainda a caracteriza, vai ao encontro de novas tendências do turismo, que se assume nos dias de hoje como um dos setores com maior capacidade de rentabilizar recursos naturais, revitalizar atividades e dinamizar o tecido económico e rural. Nesta sequência, acreditamos que associar a reabilitação ao aproveitamento turístico e ao desenvolvimento agrícola assume nestes territórios rurais uma função fundamental. Os benefícios de complementar estas vertentes constituem-se como ferramentas para o crescimento económico e para o combate ao abandono e ao envelhecimento, ao impulsionarem o desenvolvimento de várias atividades e serviços, assim como a geração de empregos e a atração de 141

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 135 | Esquiço para uma estratégia da área a intervir.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

investimentos e de pessoas.

O enquadramento sociocultural e funcional da Vila tornou-se fulcral no sentido de percebermos as carências da população e dos serviços. Apesar de um ativo económico destinado a turistas, a proposta de reabilitação deverá, com igual importância, devolver o edifício aos habitantes, não só para fins de ordem religiosa, mas dotando-o de novas possibilidades associadas ao comércio, ao lazer e à cultura. O programa a implementar partilhará a visão global do conceito de intervenção, tentando contrariar um caráter monofuncional que possa levar o edifício à estagnação e à incapacidade de se reinventar.

A necessidade de reabilitação do Palácio é, incontornavelmente, evidente, reunindo em si mesma todas as vertentes mencionadas ao longo da dissertação: a arquitetura, a história, a identidade da Vila, o património e a possibilidade de rentabilização por meio de novas formas de turismo nas áreas da hotelaria, da restauração, da atividade cultural e rural.

Ainda que a proposta se cinja ao Palácio, por uma questão de contenção geográfica delimitada pelo programa do Governo, é importante que se perceba o seu caráter global, pensado não enquanto objeto individual isolado, mas como parte integrante de uma ordem urbana. Deste modo, entre o edifício e o ambiente físico, são necessárias uma coerência e uma maior harmonia de transição, pelo que o tratamento de vazios urbanos circundantes valorizará a relação entre o edifício e a representação do conjunto. Ambiciona-se que a ação seja impulsionadora de outras construções e reabilitações, e que as vivências criadas em torno do equipamento sejam também elas geradoras do reavivar físico da própria Vila.

Na continuidade destes pressupostos, temos como princípio a unidade do complexo arquitetónico, sem cometer falsos históricos e sem anular camadas da passagem pelo tempo e pela memória. Entre a preservação e a necessidade de transformação, tivemos em conta três momentos: a imagem da obra completa do sonho de Manique que, embora nunca alcançado, permanece depois de duzentos anos no imaginário dos mais antigos; a imagem da ruína e do abandono, memória mais presente, de algo inacabado e sem função; a imagem de um novo conjunto, que aflora no pensamento dos mais jovens e dos mais vanguardistas.

Através de uma transformação, ampliação e readaptação do Palácio a pousada, aliada a programas culturais, pretende-se promover um movimento de preservação do património existente, tendo como foco o envolvimento da comunidade e a capacitação para o albergue de um maior número de pessoas que venham a conhecer o edifício, o território e as suas gentes.

143

InĂŞs Lopes | JUNHO 2020

Fig. 136 | Visita e levantamento ao existente.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

4.2. METODOLOGIA O plano de trabalhos iniciou-se com a escolha do caso de estudo REVIVE, ainda em fase de seminário, que se estenderia no respetivo Laboratório de Teoria.

Neste período, com base na documentação e arquivos disponíveis, debruçámo-nos sobre a história e a memória do imóvel e do lugar, ao mesmo tempo que se recolheram e organizaram os existentes levantamentos desenhados, fotográficos e textuais, necessários à realização do projeto. Nesta fase, foi de maior importância o recurso a duas dissertações de Cátia Marques, as quais viemos a referir no decurso da dissertação.

A história e memória do objeto de estudo revelaram-se indissociáveis da povoação, da paisagem, da população e do seu promotor, pelo que a investigação bibliográfica e a recolha de dados sobre estas matérias, ainda que escassos e dispersos, permitiram um maior conhecimento sobre a imagem do conjunto desde a sua fundação até aos dias de hoje.

As visitas ao local possibilitaram a produção e o inventário de registos fotográficos e de desenhos à mão levantada que foram determinantes para uma melhor compreensão morfológica, tendo em conta a complexidade, a escala monumental, a distância geográfica, as dificuldades de acesso e o estado devoluto do Palácio (fig. 136).

O levantamento às dependências onde nos foi possível a entrada, possibilitaram uma análise mais profunda dos espaços e dos métodos construtivos, fundamentais numa proposta de intervenção que se deveria aproximar a uma escala de pormenor. Com o tempo, percebemos que o material gráfico existente relativo ao Palácio, apesar de bem conseguido e atualizado, seria insuficiente para a elaboração do projeto. Como já referido, não se conhecem desenhos originais da sua conceção, mostrando-se os desenhos de arquivo DGPC, consultados no Forte de Sacavém, limitados (em anexo).

Foram gentilmente cedidos, pela arquiteta Cátia Marques quatro desenhos (em anexo): 145

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 137 | Registo fotográfico de maquete de estudo à escala 1/500.

Fig. 138 | Registo fotográfico de maquete de estudo à escala 1/200.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

duas plantas e dois alçados, que se revelaram de grande importância como base no desenho das restantes peças. À Camara Municipal da Azambuja foi solicitada a planta topográfica de Manique do Intendente, essencial no reconhecimento da cotação do terreno (em anexo). Os desenhos por nós produzidos a uma escala mais alargada, tiveram por base a imagem satélite produzida pelo Google Earth de 12.08.2018. Ainda nas visitas ao terreno, foram efetuados levantamentos altimétricos da envolvente construída para a elaboração de perfis à escala 1/500 e de maquetes, para que se percebessem as relações do edifício com a urbe. Estes, juntamente com os cortes, alçados e plantas, além de necessários à realização da proposta, tornam-se pertinentes pela informação gráfica produzida, constituindo documentos inéditos e importantes numa futura intervenção em contexto real.

O processo de interpretação do Programa REVIVE permitiu-nos considerar a reconversão do Palácio a novos programas de ativo económico. A amplitude dos espaços interiores, livres de paredes divisórias não estruturais, torna-os passíveis de adaptação às mais variadas vertentes, mas foram a hoteleira e a cultural que se mostraram mais vantajosas. Estas opções decorrem da necessidade de suprir a falta de alojamentos locais nas proximidades (ver pag. 41) e da pertinência que a vertente museológica pode adquirir para colmatar a letargia da população e tornar o espaço num ativo económico e de divulgação da história e daquele lugar. Assim, foi-nos imperativo identificar a natureza deste empreendimento turístico enquanto Pousada.

Ao estar classificado como IIP (Imóvel de Interesse Público), desde 1993, o Artigo 6.º do Diário da República (Portaria n.º 327/2008 de 28 de abril) prevê a seguinte classificação: Os estabelecimentos hoteleiros instalados em edifícios classificados como monumentos nacionais, de interesse público, de interesse regional ou municipal, ou em edifícios que, pela sua antiguidade, valor arquitectónico e histórico, sejam representativos de uma determinada época poderão ser dispensados dos requisitos mínimos obrigatórios se esses requisitos se revelarem susceptíveis de afectar as características arquitectónicas ou estruturais dos edifícios.

Após a leitura dos pareceres sobre a intervenção no património construído considerando as características do Palácio, estabelecemos uma estratégia de intervenção sob um pensamento contemporâneo que desse resposta à multiplicidade de funções e atividades que definem o indivíduo e a comunidade nos dias de hoje. Esta estratégia, desenvolvida a partir da sistematização da informação de todos os capítulos, deverá seguir, na prática as seguintes etapas: 1. intervenção no edifício pela reabilitação 147

Inês Lopes | JUNHO 2020

Planta do 1.º piso

Planta do 2.º piso N

0m

5m

Fig. 139 | Levantamento atual do Palácio com indicação dos elementos dissonantes representados a preto.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

dos espaços existentes, tornando-os aptos à sua habitabilidade; 2. construção de novos volumes que completem o complexo e que possam albergar os excedentes programáticos; 3. requalificação dos espaços exteriores carentes de pavimentação e limitação; 4. demolição de elementos dissonantes ao conjunto ou que lhe entrem em confronto; 5. criação de área de estacionamento. Deste modo, acreditamos que a proposta se possa reger ou aproximar dos pressupostos da Carta de Veneza, uma vez que, ainda que o Palácio se constitua como um exemplar de arquitetura palaciana a preservar, assume hoje uma importância maior pelo significado histórico, cultural e simbólico. Optaríamos assim por uma intervenção que procurasse requalificar o existente, de entre os elementos que consideramos caracterizadores de uma memória coletiva, e criar condições para que uma nova vida ali se desenvolva. Trata-se, portanto, de uma harmonização entre a obra antiga e a proposta de acrescento, com o desígnio de respeitar o edifício e as épocas que o constituem, marcando sempre que possível a diferença entre o antigo e o novo.

Face a estes critérios, foi-nos essencial perceber quais os elementos a manter na imagem e características determinantes do edifício, cuja adulteração seria impraticável, e quais aqueles que, pela dissonância, pudessem pôr em causa a integridade do edifício.

Assim, foi importante identificar as intervenções desregradas que se foram acoplando ao longo dos anos (fig. 139). Neste processo, tornar-se-ia importante a eliminação de edificações sem qualidades construtivas e arquitetónicas desqualificadoras do espaço, como é caso do corpo este em tosco, as ampliações do alpendre ou mesmo as escadas metálicas que ligam o pátio ao segundo piso. Na praça, consideraríamos ainda a transplantação das árvores que ali se encontram, bem como a transposição do parque infantil, atualmente fechado por falta de segurança. Procurar-se-ia ainda, dentro do próprio edifício, uma reinvenção de elementos simbólicos que se foram perdendo no Palácio, de modo a que, em momentos singulares, se pudesse recriar o ambiente originalmente pensado para a caracterização dos espaços.

Neste ponto procurámos modelos práticos de interpretação e intervenção no património que nos servissem de apoio, nomeadamente: no contexto nacional, a intervenção no Mosteiro de Santa Maria do Bouro por Eduardo Souto Moura; no contexto internacional, o Neues Museum, de David Chipperfield. A adaptação do Mosteiro a pousada, mostrou-nos a simbiose perfeita entre património e turismo, assim como uma grande flexibilidade e capacidade de transformação de um edifício com uma enorme carga histórica. O programa mostrou-se de grande interesse face à proximidade com a nossa proposta, embora os critérios de intervenção adotados se revelassem afastados dos nossos objetivos: “Não estou a restaurar um mosteiro. Estou 149

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 140 | Materialização do conceito.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

a construir uma pousada com as pedras de um mosteiro” (Souto de Moura, 2001, p. 46) - aqui o arquiteto assume o tempo presente em detrimento do passado. É como se toda a intervenção expusesse a ruína, em que o restauro não se distingue, muito próxima das ideias positivistas de Viollet-le-Duc em que a dicotomia entre passado e presente não existe, considerando a atualidade como parte integrante da história. Segundo Luís Miguel Correia ((s.i.), p. 5): “ao fazer uso indiscriminado das pedras como material meramente construtivo está-se, noutra perspetiva, a adulterar definitivamente a história do lugar, a sua identidade, ou seja, os motivos que presidiram à sua recuperação”.

No que diz respeito aos acrescentos a desenvolver, adotaríamos uma posição semelhante à de Chipperfield, assumíamos a diferenciação entre novo e antigo, muito de encontro aos pressupostos de Cesari Brandi, desenvolvendo uma caracterização contínua no edifício. A nova construção assume-se como parte de um processo de sedimentação, através de novas camadas que não eliminam as características identificadoras da Obra. No que concerne às fachadas com frente de rua, as que se encontram incompletas deveriam ser recriadas com os limites e com a mesma métrica de vãos do existente com variações na materialidade, possibilitando uma aproximação à escala que o edifício outrora procurou ter. Os novos corpos deveriam partilhar do mesmo método, adiantando já o facto de se assumirem com uma linguagem própria.

Equaciona-se também a possibilidade destes partirem da forma e da métrica do préexistente, assumindo uma posição de fecho na implantação do edifício.

Tendo como base a conclusão da investigação, assentando numa metodologia que tem como essenciais os conteúdos e a estrutura da dissertação, iniciaríamos a segunda e mais importante fase da investigação: o processo de projeto. De antemão, sabíamos que os novos corpos viriam a responder a uma ampliação necessária, no que toca à forma e ao programa, tendo sido no espaço envolvente que procurámos justificação quanto às opções morfológicas que viríamos a tomar. Através do desenho e com o princípio de integridade, procurou-se dar continuidade à estrutura do Palácio, tendo como ponto de partida a interpretação das reconstituições feitas por Aquilino Raimundo (Astecil Lda) e Cátia Marques (2013) e a forma de como este, dadas as circunstâncias atuais, poderia crescer. A geometria da pré-existência foi geradora da solução da proposta, procurando sempre a harmonia pela adaptação às cérceas e à circundante área disponível.

151

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 141 | Relação da Igreja de S. Pedro com a Capela de S. António.

Fig. 142 | Habitações circundantes ao Palácio.

Materialização de Uma Memória Ampuntada PROPOSTA

Inês Lopes | JUNHO 2020

4.3. PROJETO DE REABILITAÇÃO DO PALÁCIO Tendo em conta as necessidades e as novas potencialidades de que o edifício poderia vir a usufruir, e depois do estudo de várias referências, foi estabelecido o seguinte programa: alojamento, restaurante, biblioteca, bar, cafetaria, spa, ginásio, museu, posto de turismo, sala multiusos, estacionamento coberto, piscina, lojas e espaços exteriores.

Estabelecido o programa, foi necessário proceder ao levantamento das várias problemáticas que se levantariam à implementação destas novas funções e à integridade do próprio edifício. Durante esta fase do processo, tomou-se uma consciência próxima da situação de degradação, agravada pela inadequação de soluções construtivas sobre as originais e por usos indevidos, que um edifício com a sua índole histórica não deveria comportar. Parte destas dependências encontra-se sem qualquer tipo de segurança, atualmente entregues à marginalidade, constituindo um crescente incentivo ao medo dos populares. Contudo, tendo em conta a ocupação dos espaços, existe no início do processo de desenho uma preocupação acrescida no que respeita ao funcionamento atual e permanente da Igreja Paroquial enquanto espaço de oração, uma vez que o espaço é o único não afeto a uso turístico pelo programa REVIVE. À medida que fomos avançando, percebemos que a relação entre o culto religioso e as atividades propostas não se registaria num obstáculo, mas antes como um acréscimo de valor, ao tornar a igreja mais dinâmica, participativa e integrada. Como exemplo mais imediato, as celebrações dos sacramentos poderiam beneficiar da proximidade com o espaço hoteleiro e de restauração. As práticas fúnebres passariam a ter lugar próximo, na Capela de Santo António que poderia ser convertida em capela mortuária (fig. 141).

Há um enorme desencontro da escala monumental do edifício para com a escala humilde das habitações que o rodeiam, que aliás não é contornável (fig. 142), pelo que

Fig. 143 | Tratamento do espaço público.

Fig. 144 | Estudo de volumetria.

153

↺

Fig. 145 | Esquiço de estudo relativo à diferença de cotas entre a rua e o primeiro piso.

Fig. 147 | Primeiro estudo da ocupação a norte considerando o edifício habitacional.

Fig. 146 | Perceção visual da diferença de cotas.

Fig. 148 | Edifício a demolir.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

o enquadramento do edifício e o atenuar da discrepância constitui-se como um tema de primeira ordem no processo de encontro à forma da nova composição volumétrica.

O facto do Palácio ter ficado inacabado durante um longo período de tempo, acabou por desencadear apropriação indevida e desordenada àquela que seria a sua área de implantação, que justifica a carência de definição espacial. A mesma falta de cuidado é encontrada na qualificação do espaço exterior adjacente ao próprio edifício, quer pela obstrução visual provocada pelo tipo e disposição arbórea, quer pela inexistência de circuitos pedonais que controlem o espaço público. Na figura 143 percebe-se a forma de como a superfície asfáltica toca no edifício e como o pavimento em microcubo remata na esquina do edifício. É consensual que a escadaria central de acesso à galilé não nos incomoda, sendo até uma solução justa numa procura de vencer a diferença de cotas. Contudo, se aqui se nos apresenta como sendo bem resolvida, as que foram encontradas para o acesso à ala poente, ainda na fachada frontal, têm um caráter provisório e frágil (em aço). Estes dados alertam-nos desde logo para a grande diferença de cotas da rua para o interior do Palácio (fig. 145) que, numa primeira leitura e visita, não é imediatamente percetível, por um lado pela grande escala da fachada, por outro, pela ilusão de um desnível pouco acentuado na praça ajardinada.

Com estes pressupostos, e recorrendo ao desenho e à elaboração de maquetes, começámos por procurar um desenho que consolidasse a malha urbana e que definisse o espaço do palácio. Neste período, com as incertezas inerentes ao processo criativo, entre avanços e recuos, o projeto passou por diversas fases. Os volumes e a praça foram assumindo formas diferentes. Numa primeira etapa, querendo aproximar-nos de uma implantação próxima àquela que seria a original, recuperámos o claustro nascente e completámos os corpos inacabados, um pouco à maneira do que Chipperfield fez com o Neues Museum (fig. 144). Após o levantamento das áreas circundantes ao palácio, esta proposta caiu por terra, deparando-nos com a inviabilidade de demolir as habitações que ali se encontram. Atendendo à carência de área útil para a distribuição do programa, e perante a impossibilidade de crescimento a nascente, começaríamos então a fazer estudos de apropriação da área a norte. Nesta frente (fachada a norte) passa um troço da Rua do Outeiro, que vem ligar à Rua Dr. António Canova Ribeiro. É pavimentada a asfalto e abre para um pequeno largo em terra batida. A partir do largo, desenvolvem-se dois logradouros de habitações com frente para a Rua do Alcoentrinho.

Existe aqui, ainda, um edifício de caráter habitacional que, por carecermos de área de implantação, por este estar desabitado e não ter um valor arquitetónico justificável, optámos por demolir, assim como as árvores que o circundam (fig. 148).

157

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 149 | Estudo da ampliação do Palácio com a recriação do pátio e completação da fachada principal.

Fig. 150 | Estudo da possibilidade de crescimento a nascente.

Materialização de uma Memória Amputada

Fig. 151 | Estudo da ampliação a norte com a possibilidade de acesso independente.

Fig. 152 | Estudo de cheios e vazios com a proposta de um segundo pátio.

Fig. 153 | Estudo da limitação do espaço do Palácio, considerando já a diferença de cotas e a elevação de uma parte da praça por uma escadaria a poente.

Inês Lopes | JUNHO 2020

Figs. 154-155 | Evolução volumétrica da peça de encaixe. Considerámos o estacionamento ao ar livre.

Figs. 158-159 | Estudo da ocupação do espaço. Considerámos o estacionamento coberto no novo corpo.

Figs. 156-157 | Primeiros estudos da organização dos espaços interiores e distribuição programática.

Fig. 160 | Configuração final do elemento de fecho norte.

↺

Fig. 161 | Estudo de ocupação total da frente principal com demolição de parque infantil.

Fig. 163 | Estudo de acessos por plataformas e rampas.

Fig. 162 | Estudo de acesso por plataformas e escadaria. Surge o volume que limita a praça a nascente.

Fig. 164 | Configuração final da praça.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

Cedo nos deparámos com a necessidade da criação de um espaço de estacionamento, uma vez que o existente seria insuficiente, e o facto de ser descoberto afastava-se da imagem limpa que tínhamos idealizada para um primeiro encontro com o edifício. Assumindo o automóvel como principal meio de locomoção à vila, foi imperativa uma solução viável para conforto e usufruto máximo das novas instalações.

Foi justamente a partir desta problemática que começámos por limitar o espaço afeto à intervenção. Após vários ajustes (figs. 153-160), pareceu-nos razoável assumirmos a área atual da praça enquanto limite sul e espaço exterior, e adotarmos a própria massa de acrescento enquanto limite norte, fazendo uma apropriação desta zona.

Ainda numa fase inicial, assumiríamos a pendente do terreno, onde as escadas de pedra se manteriam. Tal solução, continuava a condicionar a acessibilidade a utilizadores com mobilidade reduzida e obrigava a que organizássemos o estacionamento a norte, distante das entradas principais e ocupando áreas que poderiam ser geridas para programas que necessitassem de outro tipo de qualidade espacial. A praça começou então a admitir outras formas e volumetrias, para que se tornasse passível de ser habitada e escoasse alguns dos programas que não carecessem de luz natural e outros que se relacionassem, numa aproximação à escala da envolvente e aos habitantes, com funções independentes da pousada.

A partir deste ponto, procurámos uma solução através de patamares ligados por rampas (abandonadas numa fase mais avançada), que nos foi dando pistas para a instalação de um estacionamento coberto. Para o redesenho total de toda a frente do Palácio, foram, por consequência, transplantadas todas as árvores que ali se encontravam, eliminadas as escadarias e o parque infantil, o que se mostrou determinante na criação de uma imagem de conjunto mais coerente e equilibrada. O acesso ao edifício principal passaria a ser efetuado por uma espécie de embasamento com três patamares interligados por dois lances de escadas, paralelos à fachada sul, enquanto o espaço infra ficaria disponível para o estacionamento. Uma vez que o segmento intermédio da praça se situa a apenas dois metros da cota da rua, foi-nos necessário proceder ao desaterro de mais um metro para ganhar pé-direito nesta zona, o que implicou o desenho de uma rampa e de um lance de escadas a partir da zona baixa da praça (cota 53), o que nos deu oportunidade de rentabilizar este espaço para uma oficina de trabalho e para uma loja, passíveis de ser cedidos a habitantes da localidade. Ainda no desenho da praça, foi-nos necessária a inclusão de um corpo que para além de efetuar o acesso vertical da cota 52 ao patamar de entrada dos serviços (cota 47), pudesse marcar a rampa viária de entrada no estacionamento. Permite, com importância maior, o remate deste imenso espaço exterior e vem solucionar a diferença de cotas entre esta 165

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 165 | Praça e acessos ao Palácio.

↺

OLIVEIRA Olea europaea L. var. europaea Família | Oleaceae Caducidade | folha persistente Altura | até 15m Longevidade | pode viver mais de 2000 anos Floração | fim de abril a junho Maturação dos frutos | setembro a outubro Fig. 167 | Qualificação do espaço exterior. Estudo para um espelho de água.

Fig. 166 | Espécie arbórea utilizada para sombreamento.

Fig. 168 | Diagrama de distribuição programática.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

e as habitações adjacentes, criando um rasgo com três lances de escadas que interligam a Rua Pina Manique à Rua do Outeiro. O patamar, à cota 53, com elevação de 20cm da rua principal, possibilita o acesso ao posto de turismo e aos dois equipamentos à cota do estacionamento. A plataforma superior, à cota 57, é a responsável pela articulação de grande parte do programa: restaurante, hall e receção da pousada, cafetaria, museu e igreja. Além dos acessos anteriormente referidos, tendo em conta a amplitude do espaço acima descrito, foi necessário o desenho de outras alternativas. No extremo este desenvolve-se uma rampa facilitadora a pessoas com mobilidade reduzida e, na frente de Rua Dr. António Canova Ribeiro, desenharam-se ainda umas escadas que possibilitam um acesso independente à zona de restauração. Tendo em conta o teor semiprivado da intervenção, não há no espaço exterior barreiras físicas que impeçam a correlação entre habitantes da vila e turistas utentes da Pousada, resultando a praça escalonada num elemento mediador entre a Vila e o Palácio. O revestimento destas plataformas foi pensado em lajedo de pedra calcária como se de uma extensão do edifício se tratasse, num processo continuado de evolução monumental. Tendo em conta a grande dimensão da praça, foi-nos obrigatória a procura de elementos que viessem contrariar a aridez que provocáramos, propondo um alinhamento de árvores de folha perene, de porte reduzido e simbolicamente muito próximas ao edifício: oliveiras. Soledade faz referência a este género arbóreo (1979, p. 30): A oliveira é a árvore mais querida de S. Pedro de Arrifana ou Manique do Intendente e aquela que mais longe tem acompanhado a sua riqueza, merecendo, por isso, desde tempos imemoriais, a melhor estima e carinho.

Remetem as oliveiras a Pina Manique, que arborizava as vias com plantações de estacas destas oleáceas, ligadas à produção do azeite necessário para a iluminação pública em Lisboa. Foi também desenhado um espelho de água circular com um banco de pedra, integrado pela necessidade de controlo térmico nas estações mais quentes, acrescentando o valor estético de poder espelhar o palácio ou o céu, dependendo do ângulo de visualização (fig. 167). A introdução deste elemento tenta uma alusão ao sistema hidráulico pensado para a Vila que passaria pela Ponte Dona Maria e que culminaria no Palácio.

No que diz respeito ao programa, pareceu-nos desde cedo lógica a sua distribuição (fig. 168). Fisicamente separadas pelo corpo da igreja, a ala nascente albergaria as funções públicas (sala multiusos e museu) enquanto que os corpos a poente ficariam afetos à parte privada destinada à pousada. O domínio publico é dividido em dois grandes espaços que podem funcionar autonomamente, uma vez que o piso térreo é 169

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 169 | (página anterior) Esquiço com destaque da passagem abobadada.

Fig. 170 | Vista sob a consola que marca a entrada do restaurante.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

atravessado por uma passagem coberta que liga a praça à Rua do Outeiro (fig. 169).

Acedido por este espaço transitório, ou pela galilé, encontramo-nos numa sala de espera que nos indica os acessos verticais à sala multiusos. O espaço que antecede a sala é equipado com um balcão de receção e sanitários. Apesar da demolição, quisemos caracterizar este espaço com algum do pitoresco que a construção de betão armado e tijolo detinha, pelo que se quis manter o efeito cénico proporcionado pelo vão em meia lua que ali existia (fig. 134).

O domínio privado da pousada é acedido pela galilé ou pela porta monumental que se lhe segue, e abre para o grande hall de entrada, cuja abóbada é por nós reconstituída. Este momento de chegada, é pautado pelas entradas de luz de três vãos que nos convidam à escadaria cerimonial, que decidimos recuperar, como acesso ao piso superior. Decorrente das novas exigências de acesso mecânico, agregam-se-lhes dois elevadores que implicam a intervenção mais intrusiva na reconversão, porém, necessária. O espaço central articula ainda variados programas: a zona de pessoal (gabinetes de direção e administração, arquivo e sala de reuniões), receção e respetivo bengaleiro, sala de espera, sala de jogos e biblioteca. Na biblioteca, usada também como sala de leitura, foram desenhadas estantes e mesas em madeira que garantem o controlo da ocupação do espaço. Poucas foram as transformações na configuração morfológica do existente, já que os programas se adaptavam com relativa naturalidade à compartimentação que encontrámos. Viemos a demolir alguns elementos divisórios que não pertenciam ao projeto original e que impediam a articulação entre espaços, bem como umas escadas no extremo norte cuja função desconhecemos e não pudemos visitar. Apesar disso, e segundo as reconstituições de Cátia Marques (2013), acredita-se que esta alternativa possa ter sido posterior, o que nos levou a optar pelo rasgo contínuo do corredor, reabilitando a abóbada de canhão e possibilitando a aproximação visual ao pátio das oliveiras com a abertura de dois vãos simétricos aos da fachada poente da igreja. A continuidade deste percurso até aos novos volumes, ainda que com o conforto de coberto, é sempre feita pelo exterior, numa clara tentativa de permeabilidade e de jogar o vazio, enquanto corte do ‘novo’ para com o ‘velho’, visível na planta de piso térreo. O volume acoplado, seguindo a orientação do existente, foi pensado numa ordem reticulada de 6m x 6m cruzada com um outro que faz frente à Rua Dr. António Canova Ribeiro com uma métrica estrutural de 4m x 6m. No piso térreo, partilha da lógica de espaço coletivo que viemos a desenvolver na reabilitação que lhe antecedeu, e onde distribuímos: zona de restauração, sala de eventos, ginásio e respetivos balneários, spa, piscina interior e zona de pessoal (composta por sala de refeições e balneário com cacifos). Esta última, para além de beneficiar de um acesso de serviço ao segundo piso, 173

Inês Lopes | JUNHO 2020

Fig. 171 | Esquiço perspético do restaurante.

Fig. 172 | Esquiço perspético do pátio interior (piso 2).

Inês Lopes | JUNHO 2020

possui uma entrada independente numa zona posterior e menos privilegiada, onde se encontra uma rampa de passagem a cargas e descargas, por sua vez, próxima da zona de armazenamento e refrigeração do restaurante.

Apesar de toda a permeabilidade, procurámos, com igual força, criar ambientes interiores que proporcionassem novas atmosferas e novas vivências. À semelhança do que Pina Manique queria propor com os pátios ao criar espaços mais intimistas e virados para si próprios, desenhámos uma rótula de transição que funciona igualmente como respiradouro e que garante a entrada de luz controlada ao restaurante e à sala de eventos (fig. 171). O restaurante e a escadaria principal são ligados por uma galeria que beneficia de relações de proximidade com o pátio das oliveiras, o mesmo que recria a dimensão espacial que o projeto teria originalmente. Este, afeto também a sombreamento, pode servir o bar adjacente (que funciona autonomamente), como esplanada, beneficiado pela proximidade com o pátio que dá lugar à piscina. O programa destinado às atividades de bem-estar e conforto físico desenvolvem-se no extremo norte do edifício, onde a envolvente não justifica a abertura de vãos para o exterior. Tratando-se da parte de cércea mais baixa do complexo, determinada assim para a aproximação de escala às construções circundantes, foi possível a iluminação indireta através da abertura de dois pequenos pátios para onde se viram o ginásio e os balneários.

O segundo piso é dedicado à zona mais privada onde se encontram os quartos, todos eles suites (vinte e uma) com capacidade para duas pessoas. Desenhado também o mobiliário, o núcleo técnico das águas é-lhe junto. Neste piso encontraríamos um dos lugares mais especiais do Palácio (figs. 3, 172), onde rejeitámos a compartimentação e quisemos manter a ideia de vazio e de ruína que nos transmitiu desde o primeiro dia.

Nesta linha de pensamento, desenhámos um pátio-jardim, que privilegia de uma luz natural zenital que, por sua vez, possibilita a constante mutação do espaço, dependente da hora e das diferentes estações do ano, libertando a fachada para um enquadramento perfeito com a envolvente rural.

O terceiro piso vem aproveitar os vãos ovais e surge na sequência do inferior, com a disposição de mais quatro suites e de um espaço de promenade associado ao pátio.

A nível material e construtivo houve um cuidado inicial no que diz respeito à substituição, limpeza e reparação de estruturas danificadas. As opções materiais surgiram de forma bastante natural, recaindo sobre a reintrodução daquelas que tinham sido usadas para o Palácio: pedra, tijolo e madeira. Já as estruturais foram em grande parte readaptadas a técnicas mais atuais e implementadas soluções térmicas 175

Fig. 173 | Detalhe construtivo do acrescento.

↺

Fig. 174 | Esquiços referentes à fixação do tijolo.

Fig. 175 | Esquiços ao sistema de cobertura em madeira.

Materialização de Uma Memória Amputada PROPOSTA

e de impermeabilização que garantissem as necessidades básicas de conforto de um edifício com este tipo de programa.

Aquando da escolha do revestimento dos novos corpos, decidimos introduzir o tijolo, pela plasticidade e por ser um material regional e, portanto, de fácil acesso.

Aquilino Raimundo (2019, p. 5) confirma-nos a presença local de argilas: “Na povoação de Manique do Intendente laborou até cerca de meados do século XX, uma fábrica de telha e tijolo cuja matéria prima era extraída em barreiros localizados nas imediações da povoação, confirmando assim o fácil acesso a este tipo de material.” A escolha por um tijolo texturado e pigmentado é pensado de forma a ir ao encontro da tonalidade de alvenaria de pedra calcária das fachadas pré-existentes. Quanto aos planos do novo embasamento, pensou-se na introdução de pedra que remetesse para a continuidade e a pertença ao Palácio. A estereotomia que desenvolvemos, com fileiras de 40, 70 e 90 centímetros de largura e comprimento inconstante, permite a adaptabilidade às variáveis geométricas sem que se perca o sentido de unidade.

Tendo em conta a vastidão do edifício, elaborámos um corte construtivo tipo às escalas 1.50 e 1.20 que nos permitisse explorar e materializar algumas das ideias e conceitos que viemos a desenvolver. No edifício pré-existente, o elevado estado de degradação levou à substituição e, noutros casos, à reabilitação de todos os caixilhos, optando-se por duplicar os panos de vidro. Verificámos que existe uma dissonância nos materiais que os compõem, por vezes de metal e outros em madeira, sem ordem lógica. Decidimos uniformizar o conjunto e adaptamos os caixilhos à solução que nos pareceu mais conforme ao conforto e aos materiais que nos tínhamos proposto a introduzir, optando pela madeira. Ainda no conjunto pré-existente, foi incluído o desenho de novas portadas ajustadas ao sistema dos caixilhos de batente, com a configuração similar à que detinham. É-lhes associada uma peça de remate em madeira, com pingadeira, que permite o correto escoamento das águas. O pavimento das zonas de circulação é proposto em lajetas de pedra, na continuidade do espaço exterior, enquanto que as zonas afetas a permanência são pavimentadas com soalho de madeira à semelhança dos tetos falsos. Embora o espaço da igreja não fosse afeto à nossa intervenção, pensámos que a reabilitação das áreas adjacentes, destinadas a atividades da comunidade da igreja, não seria de menos importância. Substituímos as caixilharias e os pavimentos e trocámos a estrutura cerâmica da cobertura que, como mencionado no subcapítulo Definição material e construtiva, estaria a forçar as paredes da igreja.

Optámos por restabelecer os moldes do que seria a estrutura inicial, com adaptações de cabos tensores para não interferir com as costelas da estrutura da abóbada de madeira (fig. 175).

179

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada CONSIDERAÇÕES FINAIS

CONSIDERAÇÕES FINAIS A proximidade rural, a topografia, a história e os mistérios por de trás da morte de Pina Manique e da sua obra incompleta fazem com que a vila de Manique do Intendente se distinga e se constitua enquanto território único de particularidades e valores ancestrais. O Palácio, como memória material e amputada, faz parte do imaginário de todos os que ali passamos, evocando um passado, fazendo com que nos reconheçamos no presente e, assim, possamos projetar um futuro.

O objetivo inicial da dissertação manteve-se inalterado, o estudo da validade de uma intervenção na peça icónica da Vila, que se traduzisse num programa economicamente sustentável, que completasse e reavivasse a memória daquele lugar, ao aproximar a préexistência secular à população e àqueles que a desejam conhecer. A partir do momento em que nos deparámos com a ruína, foi importante perceber de que forma poderíamos recuperar e alterar a pré-existência sem comprometer a sua integridade. Atentos a que a reabilitação assume nos dias de hoje um papel preponderante na arquitetura, foi motivo pelo qual a nossa atenção recaiu sobre esta temática. Acreditamos que o papel do arquiteto é fundamental na recuperação destes territórios, ao comportar capacidades e ferramentas benéficas na transformação dos mesmos. Neste sentido, iniciámos um longo processo de trabalho desde o primeiro olhar, sem influências nem condicionantes, passando pela reconstituição e reflecção crítica das problemáticas, culminando na compreensão e interpretação através de uma proposta desenhada.

A consciência da importância do património alimentou, ao longo do tempo, teorias que viriam a evidenciar a complexidade das intervenções neste tipo de edifícios, caracterizadores do território e do seu povo. Por entre as visões mais otimistas e as 181

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada CONSIDERAÇÕES FINAIS

mais conservadoras, deparamo-nos com a impossibilidade de definir a ‘forma mais correta de reabilitar’, por não se traduzir em verdades absolutas, tomando consciência da variação dependente do contexto e da perspetiva de cada arquiteto. Os projetos referidos de David Chipperfield e Eduardo Souto Moura vêm comprovar isto mesmo: ambos partiram da ruína, operaram de forma quase que oposta, e chegaram a resultados com métodos controversos, mas com qualidades indiscutíveis.

No final do estudo podemos, afirmar que, na nossa resposta ao programa REVIVE, adotámos uma posição possível e válida, enriquecendo o lugar numa intervenção sensível às condicionantes, permitindo-o respirar a sua história e os seus valores. A intervenção, conceptualmente prostética, traduziu-se numa reabilitação com implementação de novos corpos e estratégias programáticas, que vieram proporcionar uma maior força, coesão e afirmação urbana ao património. Os programas adotados, tendo por base o programa lançado pelo Governo têm, sobretudo, em conta a aproximação às reais necessidades daquele local e daquelas gentes. Fica-nos a dúvida da possível recetividade à proposta, faltando no trabalho uma discussão pública envolvendo a comunidade local e os organismos responsáveis, possível ainda de ser realizada em fase posterior à defesa deste documento.

Tendo em conta o caráter prático da dissertação, e perante todas a questões que se foram levantando, é justo assumirmos que o trabalho está longe de estar terminado e não pretende fechar um ciclo ou mesmo estabelecer conclusões definitivas, facilmente voláteis ou transitórias no meio em que nos encontramos. Pretende-se, sim, que constitua uma base crítica para uma urgente requalificação em âmbito real deste património e de tantos outros que são parte integrante da nossa identidade e que permanecem em estado de abandono, à mercê da veemência do tempo.

Conclui-se que edifícios como o Palácio possuem valores que a Arquitetura deve desenvolver como forma de inverter os processos de degradação e esquecimento instalados. Assumindo que existe sempre o risco de descaracterização neste tipo de propostas de reabilitação, acreditamos que uma ‘não ação’ se possa traduzir em cenários significativamente mais perversos. O contributo do arquiteto poderá reverter estes edifícios a uma realidade sustentável, ao divulgar a história, revitalizar o território e restabelecer a memória enquanto identidade.

Entre virtudes e fragilidades, a importância da experimentação neste trabalho final foi vital, constituindo uma enorme e necessária aprendizagem neste momento transitório para a vida profissional. Eterna insatisfeita pela realidade que me envolve, o caminho pelo entusiasmo de a poder transformar e pela superação dos infortúnios a que lhe foram juntos, deu-me a certeza de o querer percorrer para vida.

183

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abreu, Laurinda. (2013). Pina Manique: Um Reformador no Portugal das Luzes. Lisboa: Gradiva.

Almeida, Manuela; Lourenço, Paulo B.; Luso, Eduarda. (2004). “Breve história da teoria da conservação e do restauro”. Revista Engenharia Civil. Nº 20.

Anacleto, Regina. (1986). A Arquitectura in História da Arte em Portugal, vol. 10. Lisboa: Publicações Alfa.

ARU. (2013). Delimitação da Área de Reabilitação Urbana 3 - Manique do Intendente. Câmara Municipal de Azambuja.

Azevedo, Carlos de; Ferrão, Julieta; Gusmão, Adriano de. (1963). Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte.

Brandi, Cesare. (2006). Teoria do Restauro. Coimbra: Editora Orion.

Caetano, André Filipe Pedro. (2015). Neues Museum Berlim: memória e matéria. Universidade Lusíada de Lisboa.

Calixto, Vasco. (1969). “Manique do Intendente e o seu Palácio Arruinado”. Diário de Notícias, edição de 20 de novembro.

Canelas, Lucinda. (2016). “Nos monumentos a concessionar, é crucial definir o que se quer salvar”. Jornal Público, edição de 27 de dezembro.

Cannatà, Michele; Fernandes, Fátima. (1999). Construír no Tempo. Lisboa: Estar Editora.

Carpinteiro, João. (2017). Palácio de Manique do Intendente. [Vídeo Youtube]. Portugal: Ruínas de Portugal.

Carvalho, Rosário. (s.i.). Palácio de Manique do Intendente- Nota Histórico-Artística. Portugal: REVIVE. Chipperfield, David. (2010). “Neues Museum”. El Croquis. N.º150.

Choay, Françoise. (2000). A Alegoria do Património. Coimbra: Edições 70.

185

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Conceição, Margarida. (2010). 100 Anos de Património: Memória e Identidade, Portugal 1910-2010.

Lisboa: Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico.

Correia, Luís Miguel. (s.i.). Sobre a Intervenção no Património em Portugal: uma questão de identidade.

Coimbra.

Correia, Luís Miguel. (2017). The Beautiful Past - Seminário de Investigação. Departamento de Arquitetura de Coimbra.

Costa, Fernando Marques da. (1976). Pina Manique. [Série Biografias]. Portugal: RTP. Costa, Luís Xavier da. (1935). As Belas-Artes plásticas em Portugal durante o século XVIII. Lisboa: J. Rodrigues & C.ª- Editores.

Custódio, Jorge. (2010). 100 Anos de Património: Memória e Identidade. Portugal 1910-2010. Lisboa: Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, I.P..

Cruz, Lígia. (1984). Pina Manique e a Universidade de Coimbra: cartas ao Intendente e de José Rodrigues Lisboa para o Doutor Francisco Montanha. Arquivo da Universidade de Coimbra.

Fernandes, José Manuel. (2006). Arquitectura Portuguesa, uma síntese. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Gazzola, P., Lemaire, R., Bassegoda-Nonell, J., Benavente, L., Boskovic, D., Daifuku, H., . . . Zbiss, M. (1964). Carta de Veneza. II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos. Veneza.

Governo de Portugal. (2016). Orçamento de estado para 2017. Lisboa: Assembleia da República.

Gomes, Paulo Varela. (1988). A cultura arquitectónica e artística em Portugal no séc. XVIII. Lisboa: Caminho.

Gomes, Paulo Varela. (2009). Expressões do Neoclássico. Vila Nova de Gaia: Fabu Editores.

Instituto Nacional de Estatística. (2011). Censos 2011. Lisboa: INE. Gonçalves, José Fernando. (2015). Seminário - Arquitetura e Viagem. Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra.

Lopes, Nuno Valentim Rodrigues. (2006). Reabilitação de Caixilharias de Madeira em Edifícios do Século XIX e Início do Século XX. Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.

Malafaia, E. B. de Ataíde. (1997). Pelourinhos Portugueses, Tentâmen de Inventário Geral. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda.

Marques, Cátia Gonçalves. (2004). Manique do Intendente: Uma vila iluminista. Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra.

Marques, Cátia Gonçalves. (2013). A Vila Iluminista de Manique do Intendente: um outro olhar.

Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra.

Martins, Francisco de Assis Oliveira. (1948). Pina Manique: o político, o amigo de Lisboa. Lisboa: Sociedade Industrial de Tipografia, Lda. Martins, João. (1975). Manique do Intendente. [Série as Pedras e o Homem]. Portugal: RTP. 187

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Monteiro, Paula Maria. (2013). Projetar a Memória – Convento do Carmo de Tentúgal. Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra.

Moura, Eduardo Souto. (2001). Santa Maria do Bouro: construir uma Pousada com as pedras de um Mosteiro. Lisboa: Editorial Blau.

Neves, Vítor; Lopes, Carlos. (2019). Arquitetura de pedra | ep.12. [Série Atelier d’Arquitetura].

Portugal: RTP. Noé, Paula. (1991). Palácio de Manique do Intendente, Inventário do Património Arquitectónico. Lisboa: Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

Noronha, Eduardo de. (1940). Pina Manique: O Intendente Antes de Quebrar. Porto: Civilização.

Norton, José. (2004). Pina Manique: O Fundador da Casa Pia. Lisboa: Bertrand.

Pereira, Gonçalo Magalhães Barbosa. (2017). O Palácio de Manique do Intendente – Proposta de Requalificação. Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra.

Pereira, Henrique José Lopes. (2017). O Público e o Privado na Gestão do Património Cultural: sobre o Programa Revive. ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa.

Pinto, José dos Santos; Tavares, Adérito. (1990). Pina Manique: Um Homem entre Duas Épocas.

Lisboa: Casa Pia. Plano de Acção. (2011). Plano Estratégico de Azambuja - Azambuja 2025. Câmara Municipal de Azambuja.

Portaria n.º 327/2008. Diário da República n.º 82/2008, Série I de 2008-04-28. Ministérios do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional e da Economia e da Inovação.

Portugal. Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Alberto Flávio Lopes.

(1996). Memorando da Direcção Regional de Lisboa. Palácio do Intendente Pina Manique (Proc.º: PT DGEMN:DSARH-010/040-0011; Doc.º: SIPA TXT.00936173). SIPA, DGPC, Sacavém.

Raimundo, Aquilino. (2019). A Obra de Manique do Intendente. (Não publicado, disponível em anexo).

Riegl, Alois. (2013). O Culto Moderno dos Monumentos. Coimbra: Edições 70. (Edição original de 1903).

Rodrgues, António José. (1940). Manique do Intendente: contributo para a sua história e do seu povo: etnografia, lendas, contos e poesia. Cartaxo: Novagráfica.

Ruskin, John. (1960). The Seven Lamps of Architecture. London: Dent. s.i.. (1963). “Manique do Intendente”. Notícias do Azambuja, edição de 25 de outubro. s.i.. (2007). “Palácio Pina Manique em risco - Azambuja pede ajuda ao IPPAR”. Diário de Notícias, edição de 18 de fevereiro.

Sampaio, Cátia. (2012). Reabilitação e Reconversão de Usos: Santa Maria de Refoios do Lima e Santa Maria do Bouro. Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.

189

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Saraiva, José Hermano. (2000). Viagens na Azambuja. [Horizontes da Memória VII]. Portugal: RTP. Saraiva, José Hermano. (2009). Manique do Intendente, Alma e a Gente VII. [Série de TV]. Portugal: RTP. Serviço Internacional de Museus. (1931). Carta de Atenas. Conferência Internacional de Atenas sobre o Restauro dos Monumentos. Atenas. Disponível em: http://culturanorte.gov.pt/pt/documentos-emultimedia/cartas-econvencoes/ Silva, António. (2006). Aconteceu - Pina Manique. [Extrato de Programa]. Portugal: RTP Silva, António Lambert Pereira. (1958). Nobres Casas de Portugal, vol. 3. Porto: Livraria Tavares Martins.

Soledade, Arnaldo F. (1979). De S. Pedro de Arrifana a Manique do Intendente: subsídios para a sua história. Manique do Intendente: Comissão de Festas.

Valério, Fábio Filipe Antão Serpa Romão. (2011). Caracterização de Edifícios Antigos - Edifícios Pombalinos. Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

Vaz, Raquel. (2009). Património: intervir ou interferir?. Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra.

Vieira, A. Tomé. (1934). Porque mataram Pina Manique. Lisboa: Henrique Torres.

Vieira, Alvaro Siza. (1999). Álvaro Siza. Esquiços do Douro. Lisboa: ICEP, Figueirinhas.

Viollet-le-Duc, Eugène. (1866-1868). Dictionnaire Raisonné de l’Architecture Française du XI au XVI Siècle. Paris: A. Morel.

191

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada FONTE DE IMAGENS

FONTE DE IMAGENS Fig. 1: Logotipo da dissertação. Desenho da autora.

Fig. 2: Vista aérea sobre o palácio, 2019. Fotografia da autora.

Fig. 3: Dona Madalena, alpendre, 2017. Fotografia da autora.

Fig. 4: Reflexos, coro alto, 2019. Fotografia da autora.

Fig. 5: Vista aérea sobre Manique do Intendente, 2020. Fotografia da autora.

Fig. 6: Localização Geográfica de Manique do Intendente em Portugal, 39º13’8’’N / 9º55’7’’W. Imagem produzida pela autora com base no Google Earth.

Fig. 7: Cronologia de Manique do Intendente. Imagem produzida pela autora com base em: Mamute - https://www.estudokids.com.br/mamute-que-bicho-foi-esse/ Castro de Vila Nova de São Pedro - https://www.cm-azambuja.pt/informacoes/noticias/ item/3405-dia-aberto-no-castro-de-vila-nova-de-sao-pedro Mulher na época do bronze - https://agenciasinc.es/Noticias/Los-zorros-eran-domesticadospor-los-humanos-en-la-Edad-de-Bronce/(reply)/117497 Protocelta - https://eladiojoserubiotor.wixsite.com/historiaperfecta Soldado Romano - https://galeri.uludagsozluk.com/r/roma-askerleri-1542720/ Guadalete - https://es.wikipedia.org/wiki/Batalla_de_Guadalete D. Sancho I - https://torredebabel.blogs.sapo.pt/vida-e-reinado-de-d-sancho-i-o-26199 D. Afonso Henriques - https://viverportugaltours.blogs.sapo.pt/conheca-a-historia-de-afonsohenriques-14971 D. João V - https://torredebabel.blogs.sapo.pt/vida-e-reinado-de-d-joao-v-67658 D. José - https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_I_de_Portugal D. Maria I - https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_I_de_Portugal D. JoãoVI - https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_VI_de_Portugal Pina Manique - http://dubleudansmesnuages.com/?p=3038 Fig. 8: D. Maria I, Rainha de Portugal. Óleo sobre tela, atribuído a Thomas Hickey ou Giuseppe Troni. Palácio Nacional de Queluz. Disponível em https://pt.wikipedia.org/ wiki/Ficheiro:D._Maria_I,_Rainha_de_Portugal_-_Giuseppe_Troni,_atribu%C3%ADdo.png

193

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada FONTE DE IMAGENS

Fig. 9: Diogo Inácio de Pina Manique. Gravura : água-forte e ponteado, atribuída a Gregório Francisco de Queiroz. Disponível em http://purl.pt/4628/3/ Fig. 10: Edifícios do Castelo de S. Jorge, em 1938, onde se presume que tenha estado instalada a Casa Pia entre 1780 e 1807. Retirado de: Portugal. Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. s.i.. (s.i). IPA.00003128 Castelo de São Jorge e cercas de Lisboa. Um dos pátios do castelejo antes das obras. (Proc.º: DOC.00002077; Doc.º SIPA FOTO.00509302) SIPA, DGPC, Sacavém. Adaptação da autora.

Fig. 11: Teatro de S. Carlos. Gravura atribuída a Legrand. Disponível em https:// lisboadeantigamente.blogspot.com/2018/07/teatro-de-s-carlos.html Fig. 12: Ortofotomapa atual com a indicação da localização do Palácio de Manique do Intendente, Praça dos Imperadores e Ponte D. Maria. Imagem produzida pela autora com base no Google Earth.

Fig. 13: Vista aérea sobre a Vila. Disponível em http://portugalfotografiaaerea.blogspot. com/2016/10/manique-do-intendente.html.

Fig. 14: Morfologia urbana de manique do intendente. Desenho da autora.

Fig. 15: Plano para Vila Real de Santo António. Retirado de: TEIXEIRA, Manuel C., VALLA, Margarida. (1999). O Urbanismo português: séculos XIII-XVIII, Portugal-Brasil. Livros Horizonte.

Fig. 16: Plano para Porto Covo, Henrique Guilherme de Oliveira. Retirado de: TEIXEIRA, Manuel C., VALLA, Margarida. (1999). O Urbanismo português: séculos XIII-XVIII, PortugalBrasil. Livros Horizonte.

Fig. 17: Plano para a Baixa de Lisboa. Disponível em: https://getlisbon.com/memorias/ historia/baixa-pombalina/ Fig. 18: Posição relativa entre o Palácio e a Praça. Retirado de: MARQUES, Cátia Gonçalves. (2004). Manique do Intendente – Uma Vila Iluminista. Prova final de Licenciatura em Arquitetura, Departamento de Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Fig. 19: Plano para Serpa, Brasil. Disponível em: http://purl.pt/905 Fig. 20: Plano para La Carolina, Espanha. Disponível em: https://josemariasuarezgallego. files.wordpress.com/2015/01/plano-de-la-carolina.jpg Fig. 21: Esquema da proposta com perímetro retangular. Retirado de: MARQUES, Cátia Gonçalves. (2004). Manique do Intendente – Uma Vila Iluminista. Prova final de Licenciatura em Arquitetura, Departamento de Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Fig. 22: Esquemas da proposta com perímetro hexagonal. Retirado de: MARQUES, Cátia Gonçalves. (2004). Manique do Intendente – Uma Vila Iluminista. Prova final de Licenciatura em Arquitetura, Departamento de Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Fig. 23: Vista aérea sobre a Praça dos Imperadores. Disponível em: https://www.facebook. com /Vila.Iluminista/ photos/a.261892757234296/261894107234161/?type=3&theater Fig. 24: Brazão dos Pinas. Disponível em: https://www.facebook.com/Vila.Iluminista/ photos /a.235692946520944/ 815572268533006/?type=3&theater

195

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada FONTE DE IMAGENS

Fig. 25: Planta do primeiro piso da Praça dos Imperadores. Retirado de: MARQUES, Cátia Gonçalves. (2004). Manique do Intendente – Uma Vila Iluminista. Prova final de Licenciatura em Arquitetura, Departamento de Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Fig. 26: Pelourinho de Manique do Intendente e Edifício da Câmara. Retirado de: Portugal.

Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Analide Oscar. (1968). IPA.00005849 Pelourinho de Manique do Intendente. Pelourinho de Manique do Intendente, Vista geral. (Proc.º: DOC.00000831; Doc.º SIPA FOTO.00504092) SIPA, DGPC, Sacavém. Adaptação da autora.

Fig. 27: Vista de topo sobre a Ponte D. Maria I. Fotografia da autora.

Fig. 28: Arcos da Ponte D. Maria I. Disponível em https://www.facebook.com/ Vila.

Iluminista/photos/a.260662967357275/260663397357232/?type=3&theater Fig. 29: Senhor Alfredo, sentado num Banco de Jardim em frente à igreja. Fotografia da autora.

Fig. 30: População da Freguesia de Manique do Intendente. Quadro produzido pela autora com base na informação do Instituto Nacional de Estatística (Recenseamentos Gerais da População) disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_ publicacoes Fig. 31: Gráfico de idades da população residente. Gráfico produzido pela autora com base na informação do Diagonóstico Social do Concelho de Azambuja 2018.

Fig. 32: Índice de envelhecimento por local de residência e sexo. Quadro produzido pela autora segundo os Censos de 2011.

Fig. 33: Enquadramento territorial de Manique do Intendente na união de freguesias, concelho de Azambuja e Lazíria do Tejo (NUTIII). Imagem produzida pela autora.

Fig. 34: Mapa da Rede Viária do concelho de Azambuja. Imagem produzida pela autora com base no esquema da p.23 do documento: Estratégia de Desenvolvimento Urbano e Plano de Ação para a Regeneração Urbana | Azambuja.

Fig. 35: Maior olival da Península Ibérica, plantação entre Alcoentre e Manique do Intendente. Disponível em https://www.jornalvalorlocal.com/estaacute-em-marcha-o-maiorolival-da-peniacutensula-ibeacuterica-em-alcoentre.html Fig. 36: Vista aérea, para sul, do Palácio e envolvente próxima. Desenho da autora.

Fig. 37: Vista para sul de um dos óculos pertencente à fachada principal. Fotografia da autora.

Fig. 38: Planta de localização da área de intervenção. Desenho da autora.

Fig. 39: Relação do Palácio com a Ribeira do Judeu e Paúl. Disponível em https://www. facebook.com/Vila.Iluminista/photos/a.235639173192988/241507202606185/?type=3&thea ter Fig. 40: Paúl de Manique do Intendente. Disponível em https://www.facebook.com/Vila.

Iluminista/photos/a.923831917707040/2752270704863143/?type=3&theater Fig. 41: Diagrama de redes viárias. Desenho da autora.

Fig. 42: Diagrama altimetrias. Desenho da autora.

Fig. 43: Diagrama de programas. Desenho da autora.

197

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada FONTE DE IMAGENS

Fig.44: Diagrama de cheios e vazios com localização da ARU. Desenho da autora.

Fig. 45: Vista aérea do Palácio. Fotografia da autora.

Fig. 46: Prospecto da Igreja e Palácio do Donatário e Senhor do Solar da Vª de Manique do Intendente padroeyro da mesma Igrª. Disponibilizado pelo Programa REVIVE como elemento de apoio.

Fig. 47: Levantamento atual da fachada sul do Palácio. Cedido pela arquiteta Cátia Marques.

Fig. 48: Fachada lateral nos anos 80. Retirado de: Portugal. Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.s.i.. (1968). IPA.00006277 Palácio de Manique do Intendente. Pelourinho de Manique do Intendente, Vista geral. (Proc.º: DOC.00000831; Doc.º SIPA FOTO.00504092) SIPA, DGPC, Sacavém. Adaptação da autora.

Fig. 49: Fachada lateral, 2019. Fotografia da autora.

Fig. 50: Fotografia anterior aos anos 40, antes da plantação de árvores no Largo. Retirado de: Portugal. Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. s.i.. (1977). IPA.00006277 Palácio de Manique do Intendente. Palácio de Manique do Intendente, Vista geral. (Proc.º: DOC.00000830; Doc.º SIPA FOTO.00504090) SIPA, DGPC, Sacavém. Adaptação da autora.

Fig. 51: Fotografia da fachada principal, 1977. Retirado de: Portugal. Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Brito e Abreu. (1977). IPA.00006277 Palácio de Manique do Intendente. Palácio de Manique do Intendente, Fachada principal. (Proc.º: DOC.00008077; Doc.º SIPA FOTO.00533841) SIPA, DGPC, Sacavém. Adaptação da autora.

Fig. 52: Fotografia da fachada principal, 1981. Retirado de: Portugal. Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Nuno Beirão. (1981). IPA.00006277 Palácio de Manique do Intendente. Palácio de Manique do Intendente, Fachada principal. (Proc.º: DOC.00008079; Doc.º SIPA FOTO.00533851) SIPA, DGPC, Sacavém. Adaptação da autora.

Fig. 53: Fotografia da fachada principal, 2020. Fotografia da autora.

Fig. 54: Obras no telhado da igreja, 1979. Retirado de: Portugal. Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Seabra. (1980). IPA.00006277 Palácio de Manique do Intendente. Palácio de Manique do Intendente, Fachada lateral. (Proc.º: DOC.00008078; Doc.º SIPA FOTO.00533848) SIPA, DGPC, Sacavém. Adaptação da autora.

Fig. 55: Obras de ampliação para um lar de idosos, 1987. Retirado de: Portugal. DirecçãoGeral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. s.i.. (s.i.). IPA.00006277 Palácio de Manique do Intendente. Palácio de Manique do Intendente, Fachada lateral direita da igreja: construção de anexo. (Proc.º: DOC.00017417; Doc.º SIPA FOTO.00122354) SIPA, DGPC, Sacavém.

Adaptação da autora.

Fig. 56: Litografia do Palácio Nacional de Mafra. Disponível em https://pt.wikipedia.org/ wiki/Memorial_do_Convento#/media/Ficheiro:Pal%C3%A1cio_Nacional_de_Mafra_(1853). jpg.

Fig. 57: Reconstituição da planta de primeiro piso do Palácio por Cátia Marques, 2013.

Cedido pela arquiteta Cátia Marques.

Fig. 58: Reconstituição do Palácio por Aquilino Raimundo. Cedido pelo engenheiro Aquilino Raimundo.

Fig. 59: Fotografia do corpo saliente junto ao pátio. Fotografia da autora.

Fig. 60: Interior da igreja. Fotografia da autora.

199

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada FONTE DE IMAGENS

Fig. 61: Planta de identificação de usos. Desenho da autora.

Fig. 62: Escadas de acesso ao campanário. Fotografia da autora.

Fig. 63: Escadas sem saída, presumível acesso ao púlpito. Fotografia da autora.

Fig. 64: Capela mortuária. Fotografia da autora.

Fig. 65: Ruínas (segundo piso). Fotografia da autora.

Fig. 66: Alpendre. Fotografia da autora.

Fig. 67: Portal que daria acesso ao pátio nascente. Fotografia da autora.

Fig. 68: Obras para centro de dia em confronto com as técnicas construtivas do séc.

XVIII. Fotografia da autora.

Fig. 69: Atual ocupação do espaço destinado ao centro de dia. Fotografia da autora.

Fig. 70: Rasgo circular no segundo piso do acrescento nascente. Ao fundo, vão para o interior da igreja. Fotografia da autora.

Fig. 71: La construction de l’hôtel de Salm à Paris. Musée Carnavalet. Disponível em https://it.m.wikipedia.org/wiki/File:Salm,_Construction_hotel_de.jpg.

Fig. 72: Aglomerado de pedra e cal. Fotografia da autora.

Fig. 73: Pormenor de porta trabalhada em pedra. Fotografia da autora.

Fig. 74: Friso em cantaria de pedra. Fotografia da autora.

Fig. 75: Abóbada em tijolo. Fotografia da autora.

Fig. 76: Arcos de porta e de distribuição de cargas em tijolo. Disponível em https://www. facebook.com/Vila.Iluminista/photos/a.235512429872329/235580873198818/?type=3&thea ter.

Fig. 77: Perspetiva das fachadas sul e poente. Fotografia da autora.

Fig. 78: Fachada norte da igreja. Fotografia da autora.

Fig. 79: Pormenor de agulhotes. Fotografia da autora.

Fig. 80: Altar lateral dedicado a Santo António. Fotografia da autora.

Fig. 81: Abóbada sobre a nave. Fotografia da autora.

Fig. 82: Localização da escadaria. Fotografia da autora.

Fig. 83: Localização da escadaria. Fotografia da autora.

Fig. 84: Madeiras da abóbada antes das obras. Retirado de: Portugal. Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Nuno Beirão. (1981). IPA.00006277 Palácio de Manique do Intendente. Palácio de Manique do Intendente, Tecto do interior da igreja. (Proc.º: DOC.00008078; Doc.º SIPA FOTO.00006277) SIPA, DGPC, Sacavém. Adaptação da autora.

Fig. 85: Abóbada do hall depois do ciclone, concebida em tijolo. Retirado de: Portugal.

Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Nuno Beirão. (1981). IPA.00006277 Palácio de Manique do Intendente. Palácio de Manique do Intendente, Interior em ruínas. (Proc.º: DOC.00008078; Doc.º SIPA FOTO.00533856) SIPA, DGPC, Sacavém. Adaptação da autora.

201

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada FONTE DE IMAGENS

Fig. 86: Vão visto a partir do interior. Fotografia da autora.

Fig. 87: Cegonhas sobre pináculos. Fotografia da autora.

Fig. 88: Catedral de Notre-Dame em chamas, 2019. Disponível em https://cdn-istoe-ssl. akamaized.net/wp-content/uploads/sites/14/2019/04/69-4.jpg Fig. 89: Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc, fotografia por Félix Nadar. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%A8ne_Viollet-le-Duc Fig. 90: John Ruskin. Disponível em https://www.newstatesman.com/2019/02/%20johnruskin-200-anniversary-to-see-clearly-book-power-seeing-exhibition-review Fig. 91: William Morris. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/William_Morris Fig. 92: Camillo Boito. Disponível em https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/ fb/Arch._ Camillo_Boito_%281836-1914%29.jpg Fig. 93: Propileus de Atenas, ilustração de livro de Gustavo Giovannoni. Disponível em https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/15.179/5531 Fig. 94: Piero Gazzola reúnido com os representantes da cidade de Veneza, 1964.

Disponível em https://image.isu.pub/150622103702-aacbc4162690a68798b2ace00cc14f01/ jpg/page_24.jpg.

Fig. 95: Estado em ruína do Palácio. Disponível em https://www.facebook.com/Vila.

Iluminista/photos/a.235639173192988/235639433192962/?type=3&theater.

Fig. 96: Ampliações em betão e tijolo. Fotografia da autora.

Fig. 97: Logotipo do programa. Disponível em https://etcetaljornal.pt/j/wp-content/ uploads/2017/01/revive-programa-estado.jpg.

Fig. 98: Distribuição geográfica dos 33 imóveis lançados pelo REVIVE em 2016.

Disponível em https://eco.sapo.pt/2019/07/25/tres-anos-depois-como-o-revive-mudou-avida-destes-imoveis/.

Fig. 99: Notícia de primeira página do jornal O Mirante. Disponível em https://omirante.pt/ sociedade/2019-08-19-So-investimento-privado-pode-salvar-palacios-da-regiao.

Fig. 100: Arquitetos portugueses numa viagem à Grécia, 1976, da esquerda para a direita: Alexandre Alves Costa, Sérgio Fernandez, José Grade, Alcino Soutinho, Fernando Távora e Álvaro Siza. Disponível em https://www.frankfurt-university.de/de/studium/ master-studiengange/architektur-ma/mastervortragsreihe-architektur/ Fig. 101: Fotografia da turma de Seminário, Wohnhaus Schleiches Tour, Berlim, 2018.

Fotografia de Ana Carolina Frias Pais.

Fig. 102 - Fig. 105: Registo fotográfico da Visita à Capela de Campo Bruder Klaus, Neue Wache, Jüdisches Museum e Berliner Philharmonie; Alemanha; 2018. Fotografias da autora.

Fig. 106 - Fig. 107: Registo fotográfico da Visita ao Museum Insel Hombroich, Jüdisches Museum e Bauhaus Building; Alemanha; 2018. Fotografias da autora.

Fig. 108 - Fig. 111: Registo fotográfico da Visita ao Holocaust-Mahnmal, Bonjour Tristesse e Neues Museum; Alemanha; 2018. Fotografias da autora.

203

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada FONTE DE IMAGENS

Fig. 112: Exterior do Museu pós bombardeamento. Disponível em https://www.haz.de/ Sonntag/Top-Thema/Neues-von-der-Schatzinsel-Kulturbaustelle-Museumsinsel-Berlin Fig. 113: Ilha dos Museus, Berlim. Disponível em https://www.arquine.com/wp-content/ uploads/2011/04/346_02_SMB_Zentralarchiv_N1.jpg Fig. 114: Maquete da proposta de Giorgio Grassi para o Neues Museum. Disponível em https://davidhannafordmitchell.tumblr.com/post/97467732903/giorgio-grassi-neuesmuseum-berlin.

Fig. 115: Corte perspético da proposta de Giorgio Grassi para o Neues Museum.

Disponível em https://davidhannafordmitchell.tumblr.com/post/97467732903/giorgio-grassineues-museum-berlin Fig. 116: Alçado da proposta de Giorgio Grassi para o Neues Museum. Disponível em https://divisare.com/projects/16734-giorgio-grassi-neues-museum-e-completamento-dellamuseumsinsel#lg=1&slide=9 Fig. 117: Sala Romana, segundo piso, estado pré-existente. Retirado de: CHIPPERFIELD, David. (2010). Neues Museum. El Croquis. Nº150. p.62.

Fig. 118: Sala Romana, segundo piso, estado pós intervenção. Retirado de: CHIPPERFIELD, David. (2010). Neues Museum. El Croquis. Nº150. p.62.

Fig. 119: Gravura do hall de escadas, 1850. Disponível em https://hu.wikipedia.org/wiki/ F%C3%A1jl:Treppenhaus_Neues_Museum_um_1850.jpg Fig. 120: Hall de escadas pós intervenção. Retirado de: CHIPPERFIELD, David. (2010).

Neues Museum. El Croquis. N.º150. p.45.

Fig. 121: Pátio Grego. Retirado de: CHIPPERFIELD, David. (2010). Neues Museum. El Croquis.

N.º150. p.55.

Fig. 122: Pátio Egípcio. Retirado de: CHIPPERFIELD, David. (2010). Neues Museum. El Croquis. N.º150. p.59.

Fig. 123: Esquisso de David Chipperfield representativo das adições. Retirado de: CHIPPERFIELD, David. (2010). Neues Museum. El Croquis. N.º150. p.46.

Fig. 124: Plantas e cortes da proposta. Retirado de: CHIPPERFIELD, David. (2010). Neues Museum. El Croquis. N.º150. pp.50, 52.

Fig. 125: Fotografia do Convento de Santa Maria do Bouro, início do séc. XX. Postal antigo da autora.

Fig. 126: Vista da atual Pousada. Disponível em: https://www.britishairways.com/pt-pt/ destinations/hotel-information/Porto/Pousada-do-Ger%C3%AAs-Amares---Santa-Maria-doBouro/PT-T92-3371970 Fig. 127: Esquiço de processo, Souto de Moura. Disponível em: https://www.archdaily.com. br/br/769336/reconversao-do-convento-de-santa-maria-do-bouro-numa-pousada-eduardosouto-de-moura-plus-humberto-vieira/558399bce58ece09c20000cc-santa-maria-do-bouroconvent-eduardo-souto-de-moura-plus-humberto-vieira-sketch?next_project=no Fig. 128: Pátio das Laranjeiras. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/769336/ reconversao-do-convento-de-santa-maria-do-bouro-numa-pousada-eduardo-souto-de-mouraplus-humberto-vieira Fig. 129: Plantas da proposta. Cedido pelo Atelier de Souto Moura.

205

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada FONTE DE IMAGENS

Fig. 130: Esquiço de processo, Souto de Moura. NEVES, Vítor; LOPES, Carlos. (2019).

Arquitetura de pedra. Série: Atelier de Arquitetura. Ep. 17. Portugal: RTP. Fig. 131: Pormenor do teto. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/769336/ reconversao-do-convento-de-santa-maria-do-bouro-numa-pousada-eduardo-souto-de-mouraplus-humberto-vieira/558398d4e58ece17370000bf-santa-maria-do-bouro-convent-eduardosouto-de-moura-plus-humberto-vieira-photo Fig. 132: Alçados e cortes da proposta. Cedido pelo Atelier de Souto Moura.

Fig. 133: Axonometria da proposta. Desenho da autora.

Fig. 134: Vista este a partir do acrescento em betão armado. Fotografia da autora.

Fig. 135: Desenho para uma estratégia da área a intervir. Desenho da autora.

Fig. 136: Visita e levantamento ao existente. Fotografia por Inês Vilares.

Fig. 137: Registo fotográfico de maquete de estudo à escala 1/500. Fotografia da autora.

Fig. 138: Registo fotográfico de maquete de estudo à escala 1/200. Fotografia da autora.

Fig. 139: Levantamento atual do Palácio com indicação dos elementos dissonantes.

Desenho da autora sobre os levantamentos de Cátia Marques.

Fig. 140: Materialização do conceito. Desenho da autora.

Fig. 141: Relação da Igreja de S. Pedro com a Capela de S. António. Desenho da autora.

Fig. 142: Habitações circundantes ao Palácio. Fotografia da autora.

Fig. 143: Tratamento do espaço público. Desenho e fotografia da autora.

Fig. 144: Estudo de volumetria. Desenho da autora.

Fig. 145: Esquiço de estudo relativo à diferença de cotas entre a rua e o primeiro piso.

Desenho da autora.

Fig. 146: Perceção visual da diferença de cotas. Fotografia da autora.

Fig. 147: Primeiro estudo da ocupação a norte considerando o edifício habitacional.

Desenho da autora.

Fig. 148: Edifício a demolir. Fotografia da autora.

Fig. 149: Estudo da ampliação do Palácio com a recriação do pátio e completação da fachada principal. Desenho de Luís Miguel Correia.

Fig. 150: Estudo da possibilidade de crescimento a nascente. Desenho da autora.

Fig. 151: Estudo da ampliação a norte com a possibilidade de acesso independente.

Desenho de Luís Miguel Correia.

Fig. 152: Estudo de cheios e vazios com a proposta de um segundo pátio. Desenho da autora.

Fig. 153: Estudo da limitação do espaço do Palácio, considerando já a diferença de cotas e a elevação de uma parte da praça por uma escadaria a poente. Desenho da autora.

Fig. 154: Evolução volumétrica da peça de encaixe. Considerámos o estacionamento ao ar livre. Desenho da autora.

207

Inês Lopes | JUNHO 2020

Materialização de Uma Memória Amputada FONTE DE IMAGENS

Fig. 155: Evolução volumétrica da peça de encaixe. Considerámos o estacionamento ao ar livre. Desenho de Luís Miguel Correia.

Fig. 156: Primeiros estudos da organização dos espaços interiores e distribuição programática. Desenho da autora.

Fig. 157: Primeiros estudos da organização dos espaços interiores e distribuição programática. Desenho de Luís Miguel Correia.

Figs. 158-159: Estudo da ocupação do espaço. Considerámos o estacionamento coberto no novo corpo. Desenhos da autora.

Fig. 160: Configuração final do elemento de fecho norte. Desenho da autora.

Fig. 161: Estudo de ocupação total da frente principal com demolição de parque infantil.

Desenho da autora.

Fig. 162: Estudo de acesso por plataformas e escadaria. Surge o volume que limita a praça a nascente. Desenho da autora e de Luís Miguel Correia.

Fig. 163: Estudo de acessos por plataformas e rampas. Desenho da autora.

Fig. 164: Configuração final da praça. Desenho da autora e de Luís Miguel Correia.

Fig. 165: Praça e acessos ao Palácio. Imagem produzida pela autora.

Fig. 166: Espécie arbórea utilizada para sombreamento. Disponível em: https://pm1. narvii.com/6718/e836dc3e09f2ed8d87215a65ecd51575a7a8f4d9_hq.jpg.

Fig. 167: Qualificação do espaço exterior. Estudo para um espelho de água. Desenho da autora.

Fig. 168: Diagrama de distribuição programática. Desenho da autora.

Fig. 169: Esquiço com destaque da passagem abobadada. Desenho da autora.

Fig. 170: Vista sob a consola que marca a entrada do restaurante. Imagem produzida pela autora.

Fig. 171: Esquiço perspético do restaurante. Desenho da autora.

Fig. 172: Esquiço perspético do pátio interior (piso 2). Desenho da autora.

Fig. 173: Detalhe construtivo do acrescento. Desenho da autora.

Fig. 174: Esquiços referentes à fixação do tijolo. Desenho da autora.

Fig. 175: Esquiços ao sistema de cobertura em madeira. Desenho da autora.

209

ANEXOS

Anexos MAQUETE FINAL

213

Anexos MAQUETE FINAL

215

Anexos PROGRAMA DE SEMINÁRIO

O tema do presente Seminário de Investigação enquadra-se na actividade académica e profissional que temos desenvolvido, seja como docente e investigador, seja como arquitecto. Ele é ainda resultado das permanentes interrogações que se nos colocam durante o acto do projecto, compreendido este, sucintamente, como modus faciendi que nasce no primeiro olhar sobre o lugar e termina com a vivência do espaço entretanto construído. Tal quadro ganha especial importância quando nos confrontamos com a necessidade material casuística ou a vontade deliberada de intervir em lugares que, dada a sua natureza patrimonial, detêm papel e significado insofismáveis na identidade e memória colectivas de uma determinada comunidade. Nestas condições, ainda que certas pretensões e argumentos políticos, sociais ou culturais à partida não o fomentem, o projecto representa uma reflexão continuadamente espácio-temporal. De facto, ao deparar-se com um conjunto de diferentes valores de sentido colectivo, tangíveis ou intangíveis, que podem ser produto de um ou de vários períodos sobrepostos, mais ou menos longínquos, o projecto levanta acrescidas preocupações e responsabilidades, sobretudo por via de algumas circunstâncias que lhe são inerentes. Considerando que o passado vale por aquilo que representa e por aquilo que quer ser, invariavelmente nos prendemos no momento inicial com a eleição de um determinado caminho, ou seja, com uma certa ideia de projecto. Quaisquer que venham a ser as suas representações futuras, todas elas pressupõem uma decisão baseada nalgum leque de factores que determinam a organização do espaço. Em resumo, será numa aparente liberdade de escolha, decerto condicionada pela conjuntura do espaço pré-existente, que encontramos de forma consciente, algumas vezes involuntária, as raízes e a justificação das nossas opções. O projecto constitui assim um processo de selecção, crítica e síntese de um conjunto de factores que caracterizam certa circunstância, desenhando o equilíbrio e a harmonia entre o existente e a nova condição que se deseja impor, esta, por sua vez, condicionante de intervenções futuras.

Tal como, não raras vezes, o tradutor rescreve a obra literária, interpretando-a num tempo mais ou menos distante da data do documento original, também o arquitecto toma a liberdade de escolher no presente o que pretende do construído, suas histórias e memórias. Logo, defrontamo-nos, por um lado, com o património, identificado e classificado segundo um conjunto de valores a ele associados, e, por outro, com o projecto, que implica sempre a sua transformação. À luz do tema em análise, tem-se como objectivo neste seminário compreender o território, a paisagem e o construído, nas suas mais diversas dimensões, escalas e terminologias, através do exercício do projecto. Interpretar, reutilizar, redesenhar e, em última instância, reparar e curar The beautiful past constituirá o leitmotiv dos trabalhos práticos a realizar.

217

Anexos PROGRAMA DE SEMINÁRIO

De acordo com o tema proposto, elegeram-se como casos de estudo para o ano lectivo de 2017-2018 os imóveis que constam do programa REVIVE – Reabilitação, Património e Turismo. Em conformidade com o publicado no respectivo portal, o património imobiliário público constitui um componente muito relevante da identidade histórica, cultural e social do país, e um elemento rico e diferenciador para a atratividade das regiões e para o desenvolvimento do turismo. É, por isso, determinante assegurar a sua preservação, valorização e divulgação, bem como um acesso alargado à sua fruição. Tendo em vista a recuperação e valorização deste património cultural e histórico, presente em todo o território nacional, e a sua transformação num ativo económico do país, o Governo lançou o projeto “Revive” que abre o património ao investimento privado para desenvolvimento de projetos turísticos, através da realização de concursos públicos. Pretende-se, com esta iniciativa, promover e agilizar os processos de rentabilização e preservação de património público que se encontra devoluto, tornando-o apto para afetação a uma atividade económica com finalidade turística, gerar riqueza e postos de trabalho, promover o reforço da atratividade de destinos regionais, a desconcentração da procura e o desenvolvimento de várias regiões do país. Constitui, por outro lado, um pilar base do Projeto REVIVE a recuperação do património com respeito pelos valores arquitetónicos, culturais, sociais e ambientais mais relevantes. Nesse sentido, todo o Projeto é acompanhado por uma equipa técnica integrada por representantes da Direção Geral do Património Cultural, da Direção Geral do Tesouro e Finanças e do Turismo de Portugal, I.P., contando ainda com o envolvimento dos Municípios de localização dos imóveis, assegurando-se, através das condições dos concursos, a salvaguarda do património classificado e a adequação do tipo de exploração às necessidades de desenvolvimento de cada região. No âmbito do Projeto promove-se ainda o lançamento de instrumentos financeiros específicos destinados a alavancar o investimento privado (http://revive.turismodeportugal.pt/pt-pt). São trinta e três os imóveis, distribuídos de Norte a Sul de Portugal Continental e Ilhas, que a priori integram a citada acção, a saber: Convento de São Paulo (Elvas); Mosteiro de São Salvador de Travanca (Amarante); Mosteiro de Santa Clara-a-Nova (Coimbra); Paço Real de Caxias; Castelo de Portalegre; Castelo de Vila Nova de Cerveira; Mosteiro de Arouca; Pavilhões do Parque D. Carlos I (Caldas da Rainha); Forte do Guincho (Cascais); Quinta do Paço de Valverde (Évora); Mosteiro de Sanfins de Friestas (Valença); Convento de Santa Clara (Vila do Conde); Mosteiro de Lorvão (Penacova); Quartel da Graça (Lisboa); Forte da Barra de Aveiro (Ílhavo); Mosteiro de Santo André de Rendufe (Amares); Colégio de São Fiel (Castelo Branco); Palácio de Manique do Intendente (Azambuja); Forte da Ínsua (Caminha); Forte do Rato (Tavira); Casa de Marrocos (Idanha-a-Nova); Santuário do Cabo Espichel (Sesimbra); Forte de São Pedro (Cascais); Coudelaria de Alter do Chão; Convento de São Francisco (Portalegre); Armazéns Pombalinos (Vila do Bispo); Quartel do Carmo (Horta); Palácio das Obras Novas (Azambuja); Convento de Santo António dos Capuchos (Leiria); Forte de São Roque (Lagos); Forte de Santa Catarina (Portimão); Convento do Carmo (Moura); Hotel Turismo da Guarda (Guarda).

219

Anexos PROGRAMA DE SEMINÁRIO

O Seminário de Investigação – The Beautiful Past / REVIVE – compreende uma componente lectiva cujo principal objectivo é a elaboração de um projecto que conduzirá, no 2º semestre, à realização propriamente dita da dissertação, a defender em provas públicas. Nesta unidade curricular, estabelecem-se, ab initio e com detalhe, os objectivos, os conteúdos programáticos e as metodologias de investigação a adoptar. Tendo em consideração estes factores, procurar-se-á ponderar a problemática e pertinência de cada plano de trabalhos e a proposta apresentada para o caso de estudo em análise, vis-à-vis dos resultados esperados. Naturalmente, ter-se-á em conta a motivação de cada aluno.

O plano de trabalhos inicia-se com a selecção do caso de estudo REVIVE a desenvolver pelo aluno, tanto no Seminário, como no respectivo Laboratório de Teoria. Em fase posterior, e com base nos arquivos disponíveis, ele debruçar-se-á sobre a história e a memória dos imóveis e seus lugares, ao mesmo tempo que se recolhem e organizam os levantamentos (desenhados, fotográficos e escritos) necessários à realização do trabalho. As visitas de estudo a efectuar aos espaços de intervenção cumprirão papel capital, seja nos primeiros passos da investigação e do levantamento, seja aquando da futura prática do projecto.

Mas nem só do objecto escolhido se ocupará a dissertação. Será útil analisar outros programas que tenham, ou tiveram, como desígnio a reutilização do património cultural e histórico para o desenvolvimento de programas turísticos, à custa de investimento público ou privado, e abordar tal vector. Este é, com certeza, um quadro variado e extenso que implicará capacidade crítica e de síntese quanto ao estado da arte em Portugal e alémfronteiras. Reunida e sobretudo sistematizada tal informação, caberá ao aluno redigir o projecto de dissertação que servirá de guia ao projecto de arquitectura. Presumivelmente, esperase que as conclusões alcançadas nesta fase possam documentar no espaço e no tempo os imóveis designados e, em segundo plano, constituir o programa no qual assentará a proposta de intervenção. Tendo como suporte normas de representação idênticas, os trabalhos finais serão apresentados em painéis-síntese, o que não desobriga da entrega de um dossier individual onde constem, aprofundados, os tópicos atrás indicados.

As aulas serão organizadas em conformidade com o programa delineado. Assim, nas primeiras sessões expor-se-ão alguns exemplos próximos da metodologia de investigação que se pretende adoptar, sendo que se observarão, com semelhante atenção, questões de natureza teórica ou prática. Daí em diante, acompanhar-se-ão individualmente e colectivamente os projectos de dissertação, em particular através de sessões de apresentação e crítica conjunta e comparada. Em suma, procurar-se-á que na sala de aula se descubra o espaço privilegiado de debate e construção de uma consciência crítica, princípio disciplinar de qualquer investigação, de índole teórica ou prática.

A avaliação nesta unidade curricular considerará o projecto de dissertação apresentado e a respectiva defesa oral, e terá ainda em conta a assiduidade e o interesse do aluno pelas actividades desenvolvidas durante as aulas.

221

Anexos ELEMENTOS DE SUPORTE REVIVE

223

Anexos DESENHOS DGPC

225

Anexos DESENHOS CEDIDOS PELA ARQT. CÁTIA GONÇALVES

227

54.9

55.4

56.2

59.3 55.1

57.0

55.3

54.6

58.4 55.5

55.3

56.2

54.9

55.0

57.2

55.6

53.3 53.0 52.9

54.9

53.4

55.0

52.8 52.2

52.3

52.1

58.7

52.5

51.8

52.1

61.6

56.8

57.3

55.0

53.1

51.4

53.3

52.5

54.4 54.9

52.6

55.2 52.3

51.5

51.1

52.8

52.8

52.6 52.9 50.5

51.8

52.2

54.9 55.4

55.3 57.3

53.1

50.7

51.6

52.2

52.1

50.3

52.4

51.3 51.0 49.8

51.1

51.5

52.7

52.4

50.9

50.6

50.8

51.9

53.3

52.3

50.4

51.8

52.3

53.4

54.9

50.3

51.4

55.4

53.2

50.6

52.1

50

51.1

49.3 49.3

52.2 54.8

54.9

50.5

52.3

57.2

55.5

54.9

53.8

53.3

59.1

56.9

55.9

51.1

51.4

52.9

56.9

55.9

53.2

51.8

60.3

58.9

51.5

53.1

53.6

58.3

56.5

52.5

53.5

57.1

58.9

58.9 51.3

53.1

55.5

56.9

59.4

53.1

52.2

53.1

56.3

58.8

51.4

52.7

57.4

60.6

56.8 54.9

55.1

60.5

59.1

58.5

56.7

60.7

62.5 62.3

55.4

58.5

64.6

58.7

56.5

53.0

64.6

65.8

62.4

54.8

52.6

52.3

56.4 62.9

62.4

56.1

52.3

52.8

57.2

61.0

62.9

61.3

56.6

55.2

58.5

62.6

60.8 58.8

57.5

61.0

58.7

52.9

53.2

59.1

59.5

58.8

57.5

56.3

60.9

62.4

61.7

57.6

54.5

61.9

56.6

56.5

58.8

61.0

59.1

55.5 53.8

60.8

56.5

56.3

54.8

58.3

61.7

59.9 61.2

54.2

54.4

59.8 61.3

54.9 55.2

55.3

59.8 58.6

54.3

54.5

56.5

57.0

56.9

55.0

59.3

60.3

52.5

51.8

51.0 51.6

51.4

49.5

58.3

57.6

56.8

58.8

57.1

57.5

56.5

57.5

57.2 56.3

55.8 55.4

53.9

56.7

54.3

56.6

.3

54.5

55.4

57.1

56.1

53.5

55.4

53.5 60.3

59.1

53.6

58.5

55.1

55.0

57.7

56.5

54.8 54.4

53.1

52.7 53.5

53.4

53.9 53.8

52.5

53.1 51.7

53.4

53.9

55.0

52.7

53.2

53.3

51.6

53.1

52.1

52.7

51.6

.3

50.9 50.7

50

51.1

51.4

50.7

50.4

50.5

51.5

51.2

52.4

54.7

53.3 53.5 54.1

55.2 54.6

51.0 48.5 51.3

48.6

47.8

48.7 47.2

Cruz Vermelha Portuguesa

Guarda Nacional Republicana

53.4

51.7

51.8

51.4

50.5

50.8

50.8

Junta de Freguesia

50.9

50.9

50.9

↺ 50.6

49.2

44.9

51.5

48.9

48.9

Sociedade de Recreio

49.7

48.6

51.5

51.7

49.4

50.4

51.0

51.8

53.9

52.9

51.6

48.5 50.7

54.8 52.9

47.2

53.0

50.6

51.0

51.2

49.3 49.5

55.5

Cruz Vermelha Portuguesa

CCA

50.7

51.1

50.4

49.0

56.7 54.7

52.9

Sede do Partido Socialista

51.7

51.6

52.1

55.3

Caçadores Associados da Junta de Freguesia de Manique do Intendente

51.0

57.0

56.7

52.9

53.8

50.8 51.9

51.1

55.4

53.7

52.6

52.2

51.4 51.3

58.6

53.2

51.5

52.4

52.8

61.0

52.4

53.8

Farmácia

53.0

51.2

53.1

61.1

56.2

53.5

54.4

51.5 52.7

58.8

56.3

52.9 51.8

62.7

58.7

55.0

54.3 53.7

52.4

53.5

58.5

63.1

Rancho Folclórico Etnográfico

52.8

53.0

60.8

53.7

53.7

53.3

54.8

53.0

53.3

52.4

54.2

55.3

Farmácia Ferreira Camilo

53.7

53.4 53.3

54.1

55.8

65.6 60.9

57.6

55.9

67.6

60.7

58.7

56.5

54.5

55.1

55.2

54.8

53.6 53.4

55.1

Parque Infantil

60.8

69.1

68.9

66.7

65.2

59.3

55.6

68.4

63.1

61.6

58.4

55.1

53.8

53.6

58.9 57.7

56.9

56.4

62.7

62.1 61.3

58.7

Palacio Pina Manique

54.8

52.9

59.9

56.7

67.3

65.2

64.9

66.4

59.2

57.4

56.2

58.1 57.3

55.4

54.4

56.5 54.9

54.5

52.7 55.1

58.3

55.4

57.0

70.4

65.3

63.1

59.5

57.3

70.1

67.1 68.7

65.8

61.4

57.4

58.1

65.2

60.5

60.4

59.0

59.7

58.2

54.8

56.4

57.2

56.1

60.7

59.2 59.2 60.1

57.8

55.6

53.1

60.6

56.8

58.6

70.3

67.1

62.5

60.9

69.1

66.8

63.4 61.7

71.2

69.2

67.0

63.2

60.5

58.6

68.8

69.2

62.6

59.5 59.7

58.4

56.7

61.5

60.5

59.6

57.8

56.8

55.8

55.4

54.8

59.1

60.6

57.5

56.5

61.4

71.5

71.7

65.2 62.9

71.7

70.9

71.1

69.3

65.3

71.7

71.2

71.7 69.8

72.3

67.2

62.7

61.5

59.0

57.3

56.1

56.5

55.0

56.8 58.9

60.9

55.4

54.2

61.6

58.4

57.2

56.5

57.0

56.3 55.1

53.2

61.1

55.8

54.9

55.2

57.4

58.4

57.9

56.1

56.2

53.5

57.5

56.4 56.4

58.4

56.5

55.6

54.7

55.5

58.8

62.6

71.8 69.0

67.1

67.1

73.1

71.5

68.7

65.2

63.0

57.1

58.2 56.8 59.2

56.6

56.1

54.4

59.1

56.9 57.5

53.9

53.3

58.5

62.4

61.8

60.6

58.6

57.5 58.4

55.4 55.1

58.3

57.3 56.3

54.7

59.3

57.5

55.2

54.7

55.4

58.7

58.6

58.1

54.9

56.4

58.7

57.8

55.2

61.3

59.3

69.6

73.1

71.0

69.8

69.3

65.0 Inês Lopes | JUNHO 2020 67.0 64.9 67.6 62.8 65.1

62.7

60.5

59.5

Casal dos Gomes

59.0 58.5

58.2

59.4

59.5

67.1

60.9

70.6

71.2 70.5

69.3

65.1

62.7

60.2

60

59.0

58.9

56.4

55.4

56.2

59.6

57.3

61.4

60.5

59.6

55.4

57.2

60.7

67.2

73.5

73.2

72.2

71.8

68.7

62.7 61.1

60.6

56.3

55.9

1

58.9

65.4

61.4

59.6

58.1

62.7

61.6

59.7

57.8

57.2

60.5

59.1

58.6

49.1

50.9 49.0 49.9

Anexos LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO

231

Anexos TEXTO CEDIDO POR AQUILINO RAIMUNDO

233

Anexos TEXTO CEDIDO POR AQUILINO RAIMUNDO

235

Anexos TEXTO CEDIDO POR AQUILINO RAIMUNDO

237

Anexos TEXTO CEDIDO POR AQUILINO RAIMUNDO

239

Anexos TEXTO CEDIDO POR AQUILINO RAIMUNDO

241

Anexos TEXTO CEDIDO POR AQUILINO RAIMUNDO

243

Anexos TEXTO CEDIDO POR AQUILINO RAIMUNDO

Bibliografia: Arte de Albañería Juan de Villanueva Les Machines de Construction de L’Antiquité à nos Jours – Une históire de l’innovation Philippe Laurier Engineering and Technology 1650 – 1750 Marin Jensen Técnicas Tradicionais de Alvenarias João Mascarenhas Mateus

Construção

de

L’Arte di Edificare Manuali in Italia 1750 – 1950 Francesco Barrera, Emilio Pizzi, Carlo Guenzi, Elena Tamagno

14 245

SUMÁRIO DE DESENHOS 01 02

Planta Urbana: Existente | Escala 1/1000 Planta Urbana: Intervenção | Escala 1/1000

03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14

Planta Piso 1: Existente | Escala 1/500 Planta Piso 2: Existente | Escala 1/500 Planta de Coberturas: Existente | Escala 1/500 Perfis: Existente | Escala 1/500 Perfis: Existente | Escala 1/500 Planta Piso 0: Proposta | Escala 1/500 Planta Piso 1: Proposta | Escala 1/500 Planta Piso 2: Proposta | Escala 1/500 Planta Piso 3: Proposta | Escala 1/500 Planta Piso de Coberturas: Proposta | Escala 1/500 Perfis: Proposta | Escala 1/500 Perfis: Proposta | Escala 1/500

15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Planta Piso 1: Vermelhos e Amarelos | Escala 1/200 Planta Piso 2: Vermelhos e Amarelos | Escala 1/200 Planta de Coberturas: Vermelhos e Amarelos | Escala 1/200 Alçados: Vermelhos e Amarelos | Escala 1/200 Cortes: Vermelhos e Amarelos | Escala 1/200 Planta Piso 0: Proposta | Escala 1/200 Planta Piso 1: Proposta | Escala 1/200 Planta Piso 2: Proposta | Escala 1/200 Planta Piso 3: Proposta | Escala 1/200 Planta de Coberturas: Proposta | Escala 1/200 Alçados: Proposta | Escala 1/200 Alçados: Proposta | Escala 1/200 Cortes: Proposta | Escala 1/200 Cortes: Proposta | Escala 1/200 Cortes: Proposta | Escala 1/200 Cortes: Proposta | Escala 1/200

31

Corte Construtivo: Proposta | Escala 1/50

32 33

Corte Construtivo dos Acrescentos: Proposta | Escala 1/20 Corte Construtivo da Igreja: Proposta | Escala 1/20

34

Axonometria Explodida: Proposta

Alc oe

aD

Do

Ru

Rua

oC

ab e

ço

Rua São Pedro de Arrifana

N

ntri

nho

a ifan

o

aD

Ru

edr

r. nio tó An

Do

la a Esco Rua D

Ru a

P São a u R

rr de A

Alc

va no Ca

oen

trin

ho

o

ir be

Ri Rua Pina Manique

que

La

P rgo

ina

ni Ma

aF

ad Ru te on

Travessa d

M

ro E

Bair

a

Ru

na Pi

Rua

e

qu

i an

u de A Rua

anue

M Rua

e César

o scur gusto

s

ama

ís D l Lu

Rua

da

Fon

te

o

jan

í

l Lu

anue ua M

Ru

mas s Da

ra aT

e

iqu

a

a Ru

Pin

n Ma

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Rua da Fonte

R

Planta urbana | Existente Escala 1:1000 Área de Intervenção

FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P01

Alc oe

aD

Do

Ru

Rua

oC

ab e

ço

Rua São Pedro de Arrifana

N

ntri

nho

a ifan

o

aD

Ru

edr

r. nio tó An

Do

la a Esco Rua D

Ru a

P São a u R

rr de A

Alc

va no Ca

oen

trin

ho

o

ir be

Ri Rua Pina Manique

que

La

P rgo

ina

ni Ma

aF

ad Ru te on

Travessa d

M

ro E

Bair

a

Ru

na Pi

Rua

e

qu

i an

u de A Rua

anue

M Rua

e César

o scur gusto

s

ama

ís D l Lu

Rua

da

Fon

te

o

jan

í

l Lu

anue ua M

Ru

mas s Da

ra aT

e

iqu

a

a Ru

Pin

n Ma

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Rua da Fonte

R

Planta urbana | Proposta Escala 1:1000 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P02

61

N

60

D Rua

Ru

59

io C ntón r. A

aD

oA

lco e

eço

ntr in

ho

va ano

a Ru

Do

b Ca

iro Ribe

58

56

58

aD Ru

55

oA n tri en

lco

58

ho

io C ntón

r. A

D Rua 58

ano va R

58 57

r ibei

57

o

57

56

56

55 54

55 54 54

ue Maniq a n i P Largo

53

53

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta Piso 1 | Existente Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P03

61

N

60

D Rua

Ru

59

io C ntón r. A

aD

oA

lco e

eço

ntr in

ho

va ano

a Ru

Do

b Ca

iro Ribe

58

56

58

aD Ru

55

oA n tri en

lco

58

ho

io C ntón

r. A

D Rua 58

ano va R

58 57

r ibei

57

o

57

56

56

55 54

55 54 54

ue Maniq a n i P Largo

53

53

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta Piso 2 | Existente Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P04

61

N

60

D Rua

Ru

59

io C ntón r. A

aD

oA

lco e

eço

ntr in

ho

va ano

a Ru

Do

b Ca

iro Ribe

58

56

58

aD Ru

55

oA n tri en

lco

58

ho

io C ntón

r. A

D Rua 58

ano va R

58 57

r ibei

57

o

57

56

56

55 54

55 54 54

ue Maniq a n i P Largo

53

53

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta de Coberturas | Existente Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P05

b) a)

c)

d)

a)

b)

c)

d)

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Perfis | Existente Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P06

f) e)

g) h)

e)

f)

g)

h)

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Perfis | Existente Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P07

61

N

60

D Rua

Ru

59

io C ntón r. A

aD

oA

lco e

eço

ntr in

ho

va ano

a Ru

Do

b Ca

iro Ribe

58

56

58

aD Ru

55

oA n tri en

lco

58

ho

ntón

A Dr. Rua 58

io C anov

58

beir a Ri

57 57

o 56 1

54

55 2

3

4

5

54

ue Maniq a n i P Largo

53

53

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Legenda Programa: 1.Estacionamento | 2.Zona Técnica | 3.Oficina de Trabalho | 4.Loja | 5.Posto de Turismo | 6.Hall de Entrada | 7.Recepção | 8.Sala de Jogos | 9.Bengaleiro | 10.Sala de Espera | 11.Sala de Reuniões | 12.Gabinete administrativo | 13.Gabinete da Direção | 14.Arquivo | 15.Biblioteca | 16.Instalações Sanitárias | 17.Arrumo, Zona de preparação | 18.Bar | 19.Restaurante | 20.Cozinha | 21.Armazém, Refrigeração | 22.Pátio | 23.Salão de Eventos | 24.Piscina | 25.Spa | 26.Sala de Pessoal | 27.Balneário do Pessoal | 28.Balneário dos Utentes | 29.Ginásio | 30.Zona de Cargas/Descargas | 31.Museu Pina Manique| 32.Igreja | 33.Quartos | 34.Acesso de Serviço | 35.Sala de estar | 36.Espaço de Manutenção | 37.Sala Multi-usos | 38.Espelho de Água | 39.Cafetaria do Palácio

Planta piso 0 | Proposta Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P08

61

N

60

D Rua

Ru

59

io C ntón r. A

aD

oA

lco e

eço

ntr in

ho

va ano

a Ru

Do

b Ca

iro Ribe

58

56 30

26

27

22

28

28

22 29

29

21 20

22

23

24

25

19

58 7

9 16

aD Ru

55

oA

16 16

n tri en

lco

18

58

ho

17

A Dr. Rua

15

16

16

14

32

ntón

58

13

io C

12

anov

58 10

9

11

beir a Ri

57 57 8

7

6

30

o 56

54

38

39

55

54 17

ue Maniq a n i P Largo

53

53

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Legenda Programa: 1.Estacionamento | 2.Zona Técnica | 3.Oficina de Trabalho | 4.Loja | 5.Posto de Turismo | 6.Hall de Entrada | 7.Recepção | 8.Sala de Jogos | 9.Bengaleiro | 10.Sala de Espera | 11.Sala de Reuniões | 12.Gabinete administrativo | 13.Gabinete da Direção | 14.Arquivo | 15.Biblioteca | 16.Instalações Sanitárias | 17.Arrumo, Zona de preparação | 18.Bar | 19.Restaurante | 20.Cozinha | 21.Armazém, Refrigeração | 22.Pátio | 23.Salão de Eventos | 24.Piscina | 25.Spa | 26.Sala de Pessoal | 27.Balneário do Pessoal | 28.Balneário dos Utentes | 29.Ginásio | 30.Zona de Cargas/Descargas | 31.Museu Pina Manique| 32.Igreja | 33.Quartos | 34.Acesso de Serviço | 35.Sala de estar | 36.Espaço de Manutenção | 37.Sala Multi-usos | 38.Espelho de Água | 39.Cafetaria do Palácio

Planta piso 1 | Proposta Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P09

61

N

60

D Rua

Ru

59

io C ntón r. A

aD

oA

lco e

eço

ntr in

ho

va ano

a Ru

Do

b Ca

iro Ribe

58

56

34

35

58

aD Ru

33

55

oA n tri en

lco

58

ho

A Dr. Rua

36

ntón

58

io C anov

58

beir a Ri

57 7

22

37

57

o 56

54

38

55

54

ue Maniq a n i P Largo

53

53

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Legenda Programa: 1.Estacionamento | 2.Zona Técnica | 3.Oficina de Trabalho | 4.Loja | 5.Posto de Turismo | 6.Hall de Entrada | 7.Recepção | 8.Sala de Jogos | 9.Bengaleiro | 10.Sala de Espera | 11.Sala de Reuniões | 12.Gabinete administrativo | 13.Gabinete da Direção | 14.Arquivo | 15.Biblioteca | 16.Instalações Sanitárias | 17.Arrumo, Zona de preparação | 18.Bar | 19.Restaurante | 20.Cozinha | 21.Armazém, Refrigeração | 22.Pátio | 23.Salão de Eventos | 24.Piscina | 25.Spa | 26.Sala de Pessoal | 27.Balneário do Pessoal | 28.Balneário dos Utentes | 29.Ginásio | 30.Zona de Cargas/Descargas | 31.Museu Pina Manique| 32.Igreja | 33.Quartos | 34.Acesso de Serviço | 35.Sala de estar | 36.Espaço de Manutenção | 37.Sala Multi-usos | 38.Espelho de Água | 39.Cafetaria do Palácio

Planta piso 2 | Proposta Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P10

61

N

60

D Rua

Ru

59

io C ntón r. A

aD

oA

lco e

eço

ntr in

ho

va ano

a Ru

Do

b Ca

iro Ribe

58

56

58

aD Ru

55

oA n tri en

lco

58

ho

ntón

A Dr. Rua 58

io C anov

58

beir a Ri

57 57

o 56

54

38

55

54

ue Maniq a n i P Largo

53

53

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Legenda Programa: 1.Estacionamento | 2.Zona Técnica | 3.Oficina de Trabalho | 4.Loja | 5.Posto de Turismo | 6.Hall de Entrada | 7.Recepção | 8.Sala de Jogos | 9.Bengaleiro | 10.Sala de Espera | 11.Sala de Reuniões | 12.Gabinete administrativo | 13.Gabinete da Direção | 14.Arquivo | 15.Biblioteca | 16.Instalações Sanitárias | 17.Arrumo, Zona de preparação | 18.Bar | 19.Restaurante | 20.Cozinha | 21.Armazém, Refrigeração | 22.Pátio | 23.Salão de Eventos | 24.Piscina | 25.Spa | 26.Sala de Pessoal | 27.Balneário do Pessoal | 28.Balneário dos Utentes | 29.Ginásio | 30.Zona de Cargas/Descargas | 31.Museu Pina Manique| 32.Igreja | 33.Quartos | 34.Acesso de Serviço | 35.Sala de estar | 36.Espaço de Manutenção | 37.Sala Multi-usos | 38.Espelho de Água | 39.Cafetaria do Palácio

Planta piso 3 | Proposta Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P11

61

N

60

D Rua

Ru

59

io C ntón r. A

aD

oA

lco e

eço

ntr in

ho

va ano

a Ru

Do

b Ca

iro Ribe

58

56

58

aD Ru

55

oA n tri en

lco

58

ho

ntón

A Dr. Rua 58

io C anov

58

beir a Ri

57 57

o 56

54

55

54

ue Maniq a n i P Largo

53

53

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta de Coberturas | Proposta Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P12

b) a)

c)

d)

a)

b)

c)

d)

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Perfis | Proposta Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P13

f) e)

g) h)

e)

f)

g)

h)

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Perfis | Proposta Escala 1:500 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P14

N

0

56.0

55.00

56.00

56.00

.00

58

0 55.0

0 55.4 58.00

0 57.0

57.00

00

58.

58.0

0

0

.0 57

57.0

57.0

0

56.0

0 54.0 57.0

0 55.0

55.00 52.00

53.00

0 54.0

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta Piso 1 | Vermelhos e Amarelos Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P15

N

0

56.0

55.00

63.15

.00

58

0 55.0

55.4 58.00

57.0

60.35

00

58.

57.00

63.15

58.0

0

0

.0 57

0

56.0

0 54.0 57.00

0 55.0

55.00 52.00

53.00

0 54.0

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta Piso 2 | Vermelhos e Amarelos Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P16

N

0

56.0

55.00

.00

58

0 55.0

0 55.4 58.00

0 57.0

57.00

00

58.

58.0

0

0

.0 57

0

56.0

0 54.0 57.0

0 55.0

55.00 52.00

53.00

0 54.0

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta de Coberturas | Vermelhos e Amarelos Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P17

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Alçados | Vermelhos e Amarelos Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P18

RESTAURANTE

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Cortes | Vermelhos e Amarelos Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P19

N

0

56.0

.0

58

0 55.0

58.00

57.00

00

58.

58.0

0

0

.0 57

0

56.0

0 54.0

0 55.0

52.00

53.00

0 54.0

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta Piso 0 | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P20

N

0

56.0

55.00

56.00

56.00

.00

58

0 55.0

0 55.4 58.00

0 57.0

57.00

00

58.

58.0

0

0

.0 57

57.0

57.0

0

56.0

0 54.0 57.0

0 55.0

55.00 52.00

53.00

0 54.0

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta piso 1 | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P21

N

0

56.0

55.00

63.15

.00

58

0 55.0

55.4 58.00

57.0

60.35

00

58.

57.00

63.15

58.0

0

0

.0 57

0

56.0

0 54.0 57.00

0 55.0

55.00 52.00

53.00

0 54.0

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta piso 2 | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P22

N

0

56.0

55.00

.00

58

0 55.0

0 55.4 58.00

0 57.0

57.00

00

58.

58.0

0

0

.0 57

0

56.0

0 54.0 57.00

0 55.0

55.00 52.00

53.00

0 54.0

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta piso 3 | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P23

N

0

56.0

55.00

.00

58

0 55.0

0 55.4 58.00

0 57.0

57.00

00

58.

58.0

0

0

.0 57

0

56.0

0 54.0 57.0

0 55.0

55.00 52.00

53.00

0 54.0

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Planta de Coberturas | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P24

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Alçados | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P25

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Alçados | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P26

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Cortes | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P27

RESTAURANTE RESTAURANTE

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Cortes | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P28

RESTAURANTE

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Cortes | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P29

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Cortes | Proposta Escala 1:200 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P30

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Corte Construtivo Escala 1:50

Legenda de Materiais: Cerâmico

Pedra

Madeira

Isolamento

Brita/ Seixo Rolado

Tout-Venant

Betão

Solo

Regularização

Terreno Compactado

Areia

Alvenaria Ordinária

FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P31

1 2 3 4 5 6 7 27

28 29 30 31 32

8

33 9 34 10

11

12

13 14

15

16 17 18

38

19 20 21

39 40 41 42 43

22

23

44 45 46 47

24

48 49

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Legenda de Materiais: 1. Cobertura em Seixo Rolado | 2. Camada Geotextil 5mm | 3. Isolamento Térmico | 4. Impermeabilização com Membranas Betuminosas e Betumes Poliméricos | 5. Regularização | 6. Camada de Forma em Betão Leve com Argila Expandida com Pendente de 2%| 7. Laje de Cobertura 5+30cm | 8. Conduta de Insuflação | 9. Sistema

Corte Construtivo dos Acrescentos Escala 1:20

de fixação com Calha de Suporte e Cantoneir | 10. Sistema exterior de Protecção solar em Rolo | 11. Peça cerâmica com pendente e pingadeira | 12. Conduta de Extração | 13. Varão Roscado | 14. Sistema Mecânico de Fixação de Tijolo (Soffit) | 15. Friso em Pedra Calcária (existente) | 16. Lintel em Pedra Calcária (existente) | 17. Enchimento Cerâmico | 18. Parede Gunitada | 19. Lancil em Pedra Calcária| 20. Painel de Madeira | 21. Argamassa Leve de Isolamento Térmico Projetado 40mm | 22. Peça de Remate em Pedra Calcária 50mm | 23. Pregos de ligação galvanizados | 24. Lintel de Fundação | 25. Soco de Betão | 26. Pavimento em Lajetas de Peças Irregulares de Calcário 5cm | 27. Chapim em Pedra Calcária com Pingadeira | 28.

Trop-Plein de Emergência | 29. Pinha de Drenagem de Águas Pluviais | 30. Tijolo Maciço Texturado 23x11x7cm | 31. Junta de Argamassa 10mm | 32. Parede em Betão Armado | 33. Sistema de Fixação de teto Falso em ripado de Madeira | 34. Reguas de Madeira Contínuas| 35. Guarda Corpos em Madeira | 36. Cabo de Aço | 37. Degraus em aço Revestidos a madeira e Aparafusados à parede de Betão | 38. Reboco Areado | 39. Brick-Slot em Aço | 40. Canalete em Betão| 41. Pavimento Exterior em Lajetas de Pedra Calcária Essp. 70mm | 42. Camada de areia 150mm | 43. Camada de Tout-venant 200mm | 44. Geotextil 5mm | 45. Membrana Alveolar| 46. Caixa de Brita | 47. Tubo de Drenagem, 360mm de diâmetro | 48. Sapata em Betão armado 49. Betão de Limpeza

FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P32

74 75 76 77 78

79 80 81 82 83

67 68 69 70 71 72 73

50 51

52 53

54

55

56 57 58

60 61 62 63 64 65 66

Materialização de uma Memória Amputada Proposta de Intervenção no Palácio de Manique do Intendente

Legenda de Materiais: 50. Batente Mata-Juntas em Madeira

| 51. Caixilho de Batente em Madeira | 52. Grelha em Bites colados no interior do Vidro | 53. Vidro Duplo | 54. Portada de Madeira | 55. Soleira de Madeira |56. Viga de Madeira | 57. Serrafo de Madeira (Pinho Premunizado) | 58. Soalho em Afizélia Doussier aplicado em Macho-Femea | 59. Alvenaria Ordinária em Pedra e Cal | 60. Camada de Enchimento 100mm | 61. Massame Armado 150mm | 62. Isolamento Térmico | 63. Impermeabilização | 64. Betão de Limpeza 50mm | 65. Caixa de Brita 150mm | 66. Terreno Compactado | 67. Perna de Madeira| 68. Elegimento | 69. Frechal de Madeira | 70. Argamassa de enchimento | 71. Parede de Pedra e Cal | 72. Caleiro Em Chapa de Zinco | 73.

Argamassa de Reboco à base de Cal hidáulica para Regularização de Alvenarias Antigas | 74. Telha Ceramica de canudo | 75. Ripa de madeira | 76. Vara de madeira | 77. Fileira de madeira | 78. Pendural de madeira | 79. Escora de madeira | 80. Pé de Galinha metálico | 81. Tirante metálico | 82. Costelas formadas por peças de madeira justa-postas "camones" e correias passantes | 83. Forro em madeira aplicado em saia e camisa | 84. Lajeado de pedra | 85. Terra Batida | 86. Enrocamento de pedra

Corte Construtivo Igreja Escala 1:20 FCTUC . Depart. de Arquitectura Inês Sofia Bernardo lopes

P33