Diz um poema de Waly Salomão que a obra de Carlos Drummond de Andrade é “pico de Itabira/ que a máquina mineradora não corrói”. A referência vem bem a propósito: além de ser percorrida de ponta a ponta por um fio íntimo que a liga à história da mineração, a trajetória de Drummond, desde A rosa do povo, correu em paralelo e em surdina com a exploração destruidora do pico do Cauê, ponto destacado da paisagem natal drummondiana, “primeira visão do mundo” inscrita em “perfil grave” na sua memória afetiva. Entre a primeira compra da mina pelos ingleses (já assinalada em Alguma poesia, 1930) e “A montanha pulverizada” (Menino antigo, Boitempo ii, 1973) está “A máquina do mundo”, pedra totalizante no meio do caminho, núcleo secreto dessa história.
josé miguel wisnik