CLB - Euclides da Cunha

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Dove va tu? [...] [...] Vo dove ogni altra cosa*. Fazendo do orvalho “lágrima da terra” e símile da pequena folha solta ao vento, este poema também se interroga, à sua maneira, não mais pelo mistério da “luz de um olhar”, mas pelos segredos desse olho invisível, não humano, perdido no infinito da noite, que perscruta histórias de ruínas e extinção e chora “copioso sobre saudades e lamentações”: Misteriosas lágrimas! Quem sabe o segredo das lágrimas da terra? Quem me pode contar a lenda negra das tristezas da noite? Este crepe dos céus, este silêncio enorme, entrecortado de murmúrios leves, volitantes fantasmas de rumo livre no espaço, a contrição das árvores, a atitude meditadora das montanhas ásperas, esfinges colossais feitas de treva interrogando a treva do infinito… É morto o grande Pã? Qual o pretexto, qual o motivo trágico do luto? Este pesar imenso do Universo, erguido em mausoléu à luz dos astros, celebra exéquias de que mundo extinto? [...] Tudo está morto. O céu abandonou-se. Vagos os tronos, frios os turíbulos, à beira dos altares desolados. Foram-se os poemas, e a Verdade triste reina: — o furor do Tempo iconoclasta. Quem sabe! canta a noite lacrimosa o salmo lamentoso, a melancólica Odisséia dos deuses. E os rumores sutis da escuridão falam, quem sabe?, dessa existência efêmera dos templos; da sorte que tiveram as excelsas arquiteturas das religiões; deste ruir perpétuo das divinas coisas, qual ruem as humanas coisas: imortais, que se extinguem com o passado mortal e morto?… E a treva é como o enorme desespero de anjos negros sem céu, de divindades já sem culto, passando e repassando. E o orvalho corre em copioso pranto sobre saudades e lamentações!… *

"Longe do próprio ramo,/ Ó pobre folha frágil,/ Onde vais tu? […]/ Vou [peregrina pelo meu sendeiro]/ Em que vai toda cousa,"

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