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BATALHA MARGINOW

No Viaduto de Madureira, toda segunda-feira ás 19h, acontece a Batalha Marginow: uma batalha de rima entre duas ou mais pessoas. A revista Imercult foi até lá para conversar com Da Ira - um dos organizadores e idealizadores do evento (na foto acima) - sobre a importância cultural da Batalha para a localidade e para os artistas que nela encontram voz Registrado como Fernando Augusto Lopes, Da Ira também conhecido como Da Vasco, Bocão, Nanã, Filho Bastardo do Charles Bronson, e Zé Pilintra ‘lifestyle’ - é também chamado de “Pastor da Rebelião”. Segundo ele, “é uma parada que até hoje eu procuro entender, mas eu acho que só de você andar entre o céu e o inferno, falar com Deus e o Diabo numa mesma proporção, acho que isso faz ser um Pastor da Rebelião, né?!”

NO TWITTER DA BATALHA, VOCÊS DIZEM QUE ESTÃO HÁ 7 ANOS RESISTINDO. VOCÊS RESISTEM A QUÊ E QUAL A IMPORTÂNCIA DESSA RESISTÊNCIA?

Da Ira: Essa resistência já tem quase 10 anos, né?! A Marginow foi um movimento que começou em 2014 como “Sarau Tá no Ponto”, que era onde o pessoal sentava e ficava recitando poesia Querendo ou não, resgatou muito a identidade de Madureira nos dias de segundas-feiras porque, modéstia à parte, grande parte do que você tá vendo em volta aqui, os comércios e tal, é graças ao movimento que a gente faz também. Então, assim, começou como Sarau, depois foi para a Batalha de Sangue Bom e agora é Batalha Marginow.

QUAL A HISTÓRIA DO NOME “MARGINOW”?

Da Ira: A Marginow vem pra ser diferente de ser ‘marginal’, que é estar à margem da sociedade, e o ‘now” é à margem do agora.

O coletivo da Marginow, além de Da Ira, conta com diversas pessoas que ajudam na divulgação, montagem, logística e na realização da batalha. Um deles, é Treezy, apresentador da Batalha há quatro anos, mas frequentador há muito mais tempo Segundo ele, a inspiração para o nome vêm de Lil Wayne - rapper estadunidense conhecido como grande influência no cenário atual - que têm como apelido “Weezy”. Junto à numerologia do número 13, Treezy decidiu juntar um ao outro e assim surgiu seu vulgo, inicialmente pensado para ser pronunciado como “Trizi” mas que pelo costume, tornou-se “Treze”.

QUAIS DIFICULDADES VOCÊ ENFRENTA PARA MANTER A BATALHA FUNCIONANDO?

Treezy: A maior dificuldade que a gente tem, ‘mano’, hoje em dia, eu acho que é a falta de recurso monetário, ‘tá ligado’?! A gente sempre consegue fazer a Batalha, mas no meio da cultura, infelizmente, a gente perde mais do que recebe ‘tá ligado’?! Então, a gente precisa de um pouco mais de ajuda do Estado referente à isso.

VOCÊS FIZERAM AS EDIÇÕES ‘LADIESNOW’ E ‘DIVERSIDADE’, DANDO ESPAÇO, POR EXEMPLO, À MULHERES NA BATALHA, QUE SÃO EXCLUÍDAS DESSE ESPAÇO. QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE TIPO DE EDIÇÃO PARA A BATALHA MARGINOW?

Treezy: Cara, é de suma importância e os exemplos disso são as ‘minas’ que a gente têm aqui na Batalha. Têm a Anjos, a Pitanga, a AqualTune, a Sereia. São ‘minas’ que são muito ‘brabas’, que não tinham espaço em outras ‘rodas’ e que começaram a vim pra cá, se destacar aqui e o público ‘pegar a visão’ delas. Não só elas, passaram muitas outras ‘minas’ aqui na Marginow e a gente sempre procurou dar espaço porque, realmente ‘mano’, é um público que é minoria, não só as ‘minas’ como as ‘monas’, todo o público LGBTQIA+, o público PCD a gente também sempre procura integrar aqui. Tem o nosso ‘mano’ Sativa, tinha o ‘mano’ GFL que usava cadeira de rodas e ‘pô’, os ‘mano’ arrebentavam mas ninguém dava atenção e os ‘mano’ são ‘brabo’ ‘tá ligado’?! A Devilzinha também, que é uma ‘mona’ que sempre tá aqui com a gente na Marginow, se destacando e arrebentando. Então, só pelo nome da ‘rapaziada’ que eu citei já dá pra ver o ‘bagulho’ é importante. E eu queria que as ‘rodas’ apoiassem mais, abraçassem mais essa causa. O ‘bagulho’ é ‘brabo’ e todo mundo merece espaço, todo mundo ‘amassa’ igual.

Instagram dos entrevistados e dos citados nas entrevistas:
  • @dairareal

  • @treezy.gbr

  • @pitanga zn

  • @devilzinha

  • @anjosmc

  • @aqualtunebxd

  • @sereia.bxd

  • @sativamemo

  • @gabrielf103

UM ESPAÇO ONDE SE TÊM VOZ

Na Batalha, alguns nomes são certos de se apresentarem enquanto outros participam de um sorteio pela chance de batalharem. Independente do caso, a Batalha Marginow é, inegavelmente, um espaço no qual tais artistas encontram um público e têm sua voz amplificada. Para discutir a importância do coletivo, conversamos com uma das figurinhas carimbadas da Batalha: a Pitanga. Da zona norte do Rio de Janeiro, a Mc batalha há um ano na Marginow e foi a vencedora da edição LadiesNow.

QUAL A MAIOR DIFICULDADE QUE VOCÊ ENFRENTOU SENDO UMA MULHER NESSE MEIO DO HIP-HOP?

Pitanga: O machismo em si dentro das organizações, dentro das rodas, os próprios MC's ‘tá ligado’?! Às vezes eu entro numa batalha e mostro que também posso ganhar, que eu tenho rima pra trocar, mas no começo, por exemplo, os caras não me chamavam pra fazer uma dupla porque você sabe o por quê. Tipo, “é fácil ganhar da Pitanga” Agora quando eles ouvem meu nome sentem a mesma coisa, com o mesmo olhar, como se tivesse escutando o nome de outro cara que tem um nível elevado de rima. Mas para uma mulher ganhar o respeito, levantar o nome na cena, é muito difícil. Eu ainda estou tentando e tenho certeza de que 1 ano é muito pouco. Ainda vai ter muita água pra rolar, muita coisa para eu caminhar pra eu conseguir levantar meu nome. Mas essa questão dos embates não serem confortáveis, deles só chamarem a gente quando é viável e quando os convém, isso tudo é muito difícil, mas estamos aí pra superar e seguir nosso sonho, ninguém vai tirar de mim a vontade de ser quem eu quero ser, é isso.

O QUE SIGNIFICA ESTAR AQUI, NA BATALHA, PRA VOCÊ?

Pitanga: Cara, eu não tenho nem palavras para descrever como é estar aqui, porque a 1 ano atrás eu só via algumas ‘minas’, são poucas e eu gosto de tá do lado dessas minas, elas me inspiraram e hoje eu tô aqui inspirando outras Pra mim é a maior satisfação fazer parte desse time e carregar essa representatividade.

DEIXA UM RECADO PARA AS MULHERES QUE QUEREM ENTRAR NO HIP-HOP.

Pitanga: Então, nós somos ‘fodas’, nós temos o poder e podemos chegar aonde quiser Se você rima, se você dança, se você produz: vem, bota a cara, a gente ‘tá’ te esperando, ‘tô’ te esperando para compor esse time que ainda é pouco e precisa ser fortalecido, porque quem manda nessa ‘ porra ’ aqui é as ‘mulher’.

A Imercult conversou com outro dos MCs com vaga confirmada na batalha: o GB da Rima (@gbdarima) De Vigário Geral, ele nos concedeu uma entrevista junto à dois MCs do Pechincha que participavam do sorteio da noite: Preto Uva (@preto uva01) e Gaspar (@gasparzin tqr), iniciante na Marginow.

A QUANTO TEMPO VOCÊS BATALHAM?

Preto Uva: ‘Pô’, já batalho faz ‘papo’ de 3, 4 anos ‘tá ligado’?!

Gaspar: ‘Pô’, comecei a batalhar há pouco tempo, ‘papo’ de 3 uns meses por aí, mas fui abraçado pela cultura

GB da Rima: ‘Pô’ batalho já tem um bom tempo ‘tá ligado’?! Só que eu fiquei um tempo sumido da cena e tô voltando agora firme e forte.

O QUE SIGNIFICA ESTAR NUMA BATALHA PRA VOCÊS?

Preto Uva: ‘Pô’, não tem explicação não. ‘Tipo assim’, toda vez que você vai rimar o ‘bagulho’ é diferente, o MC é diferente. Você sabe a estratégia que vai usar mas fazer na hora assim, não tem como, você vai batalhar mesmo.

Gaspar: Pra mim é a mesma ‘parada’ que o Blade (se referindo à Preto Uva), não tem como explicar o sentimento, ‘tá ligado’?!

GB da Rima: Acho que é uma sensação de acolhimento, né ‘mano’?! Muitas vezes tu se perdeu nas ‘paradas’ e acaba se encontrando no RAP, ‘tá ligado’?! ‘Tipo’ se espelhar em outras pessoas e encontrar pessoas como você também, ‘tá ligado’?!

COMO VOCÊS ESPERAM SE SAIR HOJE?

Preto Uva: Primeiramente, eu espero ser sorteado, essa é a primeira batalha. Depois de ser sorteado eu me garanto. ‘Tipo’, o que ganha na batalha é o foco, o ‘bagulho’ é fazer um desempenho ‘boladão’, ‘tá ligado’?! ‘Tipo assim’, se matar ali pra fazer cada segundo valer a pena, ‘tá ligado’?!

Gaspar: ‘Pô’, espero ser sorteado aí, e que eu tenha um bom desempenho, ‘tá ligado’?! Nas últimas batalhas eu estava conseguindo ir bem, mas vamos ver se nessa aí também. Espero que dê tudo certo hoje

GB da Rima: Eu sou fã da família Marginow, certo? Então, graças a Deus, eu tenho a vaga garantida Eu espero perder na primeira fase de uma forma vergonhosa - brincadeira gente, só pra descontrair. Eu espero que eu tenha um bom desempenho ‘tá ligado’?! Meu ‘bagulho’ é mais ‘zoação’, brincadeira e gracinha e a plateia aqui geralmente me abraça bastante. O público daqui é bem cativante com meu estilo de rima e é isso, se Deus quiser vamos levar esse título aí.

MADRILL

De forma quinzenal, às segundas feiras depois da final da batalha de rima, acontece o “Madrill”. Os MC's convidados se apresentam num pequeno espaço separado na frente do DJ, eles tem alguns minutos para cantar suas músicas em cima da batida de drill. O subgênero é uma vertente do rap que surgiu na cidade de Chicago em 2010, veio para o Brasil importado pelo rapper baiano Vandal. O estilo tem uma pegada mais underground ao se tratar de questões cotidianas, tratando a violência de forma explícita em suas letras.

MATÉRIA ESCRITA POR: HELAYENE TRINDADE & LUCAS CAVALCANTI

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