REVISTA ORIENTE OCIDENTE - IIM MACAU - N. 37 2020

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cou conhecido na literatura com a política do “pivot to Asia”. Com Trump, há portanto esta elevação exponencial da opção pela confrontação, em especial a partir da deflagração da chamada guerra comercial em março de 2018. A rigor, trata-se de uma guerra voltada a contenção da ascensão do poder nacional chinês em multiplas esferas. De fato, resulta numa atualização, desta vez com foco na China, da velha estratégia do containment concebida ao início da guerra fria por George Kennan para o enfrentamento da União Soviética. O quadro de confronto sistêmico entre as duas grandes potências mundial, não obstante, exigem reflexão sistemática quanto às suas causas, visando medidas mitigadoras de seu agravamento, tendo em vista ajustes que permitam a convivência relativamente harmonica de opções nacionais distintas. Não consta que a China busque um expansão ideológica mundo a fora. Isso difere, essencialmente, a atual confrontação daquela observada no periodo da guerra fria. Na busca de uma cooperação pragmática, que busque ao mesmo tempo permitir que as nações conservem seus valores, identidades e aspirações ao desenvolvimento, e por outro lado instituam um ambiente harmonico no plano internacional, é que duas grandes civilizações podem desenvolver diálogo profícuo visando estes grandes objetivos. O Ocidente profundo e o Oriente emergente no novo cenário geopolítico Localizados nas duas extremidades geograficas do globo terrestre, um ao sul do hemisfério ocidental e o

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outro ao norte do hemisfério oriental, Brasil e China possuem, por óbvio, diferenças significativas, mas também surprendentes identidades históricas e contemporâneas. O Brasil é o herdeiro direto da tradição e do legado de pensamento estratégico que inaugurou a era moderna, quando as Caravelas partiram ainda no século XV rumo ao Oceano desconhecido, numa ousadia até então sem precedentes. Motivou Dom Afonso Henrique e seus sucessores, primeiro, o idealismo – a fé católica –, a partir da qual – no contexto do espírito da época – se transbordaria civilização

aos povos do mundo. Mas também a aspiração da prosperidade material para o povo português, confinado na extremidade geografica da peninsula europeia e com o acesso ao Oriente dificultado à leste. Destaca-se a apurada visão geoestratégica do português, que na construção do primeiro Império de dimensões realmente mundial, buscou ocupar os pontos de estrangulamente ou de passagem pelas mais importantes rotas de navegação, dentre eles o até hoje fundamental Estreito de Malaca. Mas é em Macau onde o Império Português, teria o ponto de contato


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