REVISTA ORIENTE OCIDENTE - IIM MACAU - N. 37 2020

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O início da segunda década do século XXI acentuaria o perfil revisionista (contestador) dos BRICS2 em relação à ordem liderada pelos Estados Unidos. A reunião de Cúpula dos BRICS em Fortaleza em 2014, em especial, é o auge desta orientação revisionista dos BRICS em relação à ordem internacional vigente3. Destaca-se naquela reunião, que o fórum transmuta-se de um espaço político – fundamentalmente voltado a declarações e pronunciamentos políticos – para a construção efetiva de instrumentos de contestação à ordem internacional, sobretudo por meio das decisões de criação, em Fortaleza, do Banco dos BRICS e do fundo de reserva, com potencial transformador da ordem global. O sinal de alerta no status quo do poder mundial já tinha sido ativado. Antes, em 2013, iniciou-se, aparentemente por razões endógenas – e certamente por razões exógenas que ainda estão por serem melhor identificadas –, um forte movimento de desestabilização do então governo brasileiro, em eventos ocorridos em junho de 2013 e que, de fato, deflagrariam um periodo de crise e divi-

são nacional no gigante da América do Sul, que rigorosamente, persiste até o momento atual. O resultado é conhecido: a neutralização temporária do ativismo geopolítico do Brasil. Contudo, as manobras não lograram deter as mudanças no cenário geopolítico global. Da re-emergência da China ao mal estar com a globalização A segunda década do século XXI marcaria a notável e irreparável (re)ascensão chinesa, deflagrada pelas decisões tomadas inicialmente na histórica Terceira Sessão Plenária do 11º Comitê Central do Partido Comunista da China, reunido em dezembro de 1978. Não se deve subestimar, ao contrário, o contexto internacional que viabilizou espaço (margem de manobra) para as decisões chinesas relativas ao início da política de reforma e abertura. Refiro-me à monobra geopolítica, proposta por Kissinger e executada sob a presidência de Nixon, quando no início dos anos 1970, os Estados Unidos, aproveitando-se do contencioso ideológico sino-soviético, distencionou suas relações com Pequim, no simbólico campeonato de pingue-pongue entre as

equipes da China e dos Estados Unidos em 1971, e no ano seguinte, na visita do presidente Nixon ao presidente Mao. Os anos 1970, pois, em eventos ocorridos em seu início (1971-1972) e no seu final (1978), um de natureza exógena, outro endógeno à China – este, derivado de maior margem de manobra possibilitado pelo primeiro –, marcaram o arranque exponencial da República Popular da China ao posto de maior economia do mundo, resultado iminente que estamos por observar. Cabe ressaltar que antes, ainda que em menor escala, o Brasil já havia experimentado este salto exponencial. No século XX, a partir da Revolução de 1930, o Brasil tinha percorrido trajetória que, em escala aproximada, também resultou por alterar substancialmente as bases de seu Poder nacional. A política de reforma e abertura chinesa, por quatro décadas, aproveitou-se de movimento sistêmico que incluiu as esferas geopolítica – a manobra por cindir os dois gigantes eurasiaticos no início dos anos 1970 – e outra geoeconomica – o deslocamento produtivo das fábricas do ocidente em relação à própria China –,

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Já com o “S” de South Africa, em representação ao continente africano.

3

Ver CARMONA (2014).

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