Revista do IHGP - Vol. 01

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A PROFESSORA, DONA NINA

Helly de Cmnpos Metges

A menina, aluna da famosa e respeitada mestra Olivia Bianco,no Grupo Escolar"Barão do Rio Branco", em Piracicaba, nos primeiros anos deste século,já tinha um ideal que acalentou a vida toda e em cuja busca traçou o seu destino. Era o ideal de ensinar, independente de hora, de local e até mesmo de condições adversas. Já nos primeiros anos de estudo se dispunba a dar aulas a coleguiJihas que, p~r qualquer motivo, se apresentavam com pouco aproveitamento e assim, a pequenina professora sentia a grande responsabilidade de !lIo impor­ tante missão - a de ensinar e que, para o perfeito desempenho desta nobre missão, precisava aprender e aprender muito bem. Fez-se pois aluna aplicada e ávida de conhecimentos. Antonia Guilhermina de Campos, conhecida quando criança por Antoninha, procurava ler tudo o que lhe vinha às mãos e por ser membro de uma famflia pobre, irmã mais '1Íelba de outros seis me~ores, por falta de biblioteca e por não poder comprar os livros indicados pelos professores da, ' escola complementar, passsava horas e horas a copiar longos ,trechos dos que tomava empres- ' tados das cólegas, em papel de embrulhar pão. Fazia esta tarefa à luz de lamJiarina de querosene, chegando a ficar com as narinas enegrecidas pelos resíduos da substância queimada. Depois, cuidadosamente ajuntava as folhas, fazendo gros­ sos cadernos que guardava, lia e relia atenciosa­ mente. O problema maior que a menina enfrentava, não era entretanto o da pobreza, criando·lhe dificuldade para aquisiÇão de materiais escolares e pagamento das taxas que naquele tempo se cobr<lvam na' escola complementar, hoje a tradicional Sud Mennucci. Havia um pior, a ignorância materna que, não entendendo o sonho da menina e niio sabendo valorizar a educação, niio só tentava dissnadí-la de estudar, bem como procurava impedi-la de ir à escola. Houve até uma -5­

ocasiâõ em que a mãe, ao esconder o único parde sandálias da menina, colocou-as no fomo à lenha, (o único tipo de fogão da época), e que acabaram totalmente queilruidas. ' Para fazer frente às sua.. dificuldades finan­ ceiras, Antoninha trabalhava comligeiras costuras que aprendera na adolescência e com opouco que ganhava, ajudava em casa, pagava as taxas es­ colares, e comprava cadernos e outros materiais baratos. Avisão da adolescente erajá bastante elevada no meio ignorante em que vivia. Quando houve um trabalho de vacinação anti-variótica, às escon­ didas, levou o seu irmão de idade logo abaixo da sua para ser imnoizado. E foi asalvação da famflia. A varíola, conhecida como bexiga, alastrou-se pela cidade e grllÇ3S a tal cuidado ela e seu irmão não contraíram a doença, podendo entao cuidar de todos os seus familiares que, sem exeeção, niio escaparam da epidemia.' , Em 1918, tendo por paraninfo, o professor Joaquim Silveira dos Santos, como homenageado, o professor Fabiano R. 1.ozano, ela e sua colegas recebiam das mãos do diretor,Dr. Honorato Faus­ tino de Oliveira, (, sonhado diploma de prÓfesSora pimária pela chamada Escola Normal de Piracicaba. Formavam-se naquele ano: José Mattéis, Décio Portella, José Ferraz de Toledo, Lavfnia Assumpção, Maria José Souza Ferraz, Mària Rodrigues Moraes, Maria Adalgisa Pfuhl, Mathilde Brasiliense, Maria Isabel Oliveira, Veridiana R. de Moraes, Iraydes Pacheco Jordão, Maria Isabel Cotrin, Maria Antonieta Netto, Anna Cândida de Moraes Salles, Corina Ferraz, FranciS<;3 Alves Araújo, Olympia Moraes Rosa, Iraceina A. Rodrigues, Rosa de, Azevedo, Rosalina F. Nascimento. Rita de. Cassia, Angelina Usberti, Sebastiana R. Carvalho, Olivia Silveira Leite, Maria do Carmo Oliveira, Branca Toledo Castanho, Maria Teresa Nucci, Maria José


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