Patrimônio Sacro Arquitetônico do Rio Jacuí

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Pesquisa e Texto Sofia Reginato Inda Pesquisa e Texto (Imaginária) Gabriela Carvalho da Luz Fotografias Arquivo Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo Arquivo Histórico Municipal de Cachoeira do Sul Museu Municipal Edyr Lima de Cachoeira do Sul CAV Produções – Luísa Correa Sofia Reginato Inda Projeto gráfico, Design e Diagramação Amanda Teixeira - Vinco estúdio Ilustração

Thiago Machado

Este e-book é uma edição cultural, fora do mercado e sem objetivo de lucro, concretizado através do Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas realizado com recursos da Lei Aldir Blanc nº 14.017/20.

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sumário 5 APRESENTAÇÃO 11 30 40

IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO — VIAMÃO IGREJA NOSSO SENHOR BOM JESUS DO TRIUNFO — TRIUNFO IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO — RIO PARDO

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IGREJA SÃO JOSÉ — TAQUARI

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IGREJA SANTO AMARO — SANTO AMARO

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IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO— CACHOEIRA DO SUL

104 ROTEIRO 111 REFERÊNCIAS 117 GLOSSÁRIO 123 AGRADECIMENTOS

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As igrejas Nossa Senhora da Conceição, em Viamão; Nosso Senhor Bom Jesus, em Triunfo; Nossa Senhora do Rosário, em Rio Pardo; São José, em Taquari; Santo Amaro, no distrito homônimo, em General Câmara, e Nossa Senhora da Conceição, em Cachoeira do Sul, constituem exemplares remanescentes do patrimônio sacro arquitetônico construído ao longo do rio Jacuí e seus afluentes, no Rio Grande do Sul, durante os séculos XVIII e XIX. Dentre o grupo, apenas as matrizes de Viamão e de Santo Amaro foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1938 e, em 1998, respectivamente.

Estes templos foram projetados por destacados engenheiros-militares portugueses, como José Custódio de Sá e Faria (1710–1792), Manuel Vieira Leão (1727–1803), Alexandre José Montanha (1730– 1800) e Francisco João Roscio (1733–1805), os quais integraram as Expedições Demarcatórias dos Tratados de Limites, vinculadas, primeiramente, ao Tratado de Madri (1750) e, mais tarde, ao tratado de Santo Idelfonso (1777). Instruídos nas Academias Militares de Lisboa e do Rio de Janeiro, estes profissionais foram responsáveis pelo mapeamento do território do atual Rio Grande do Sul, pela construção de fortes e aparatos de defesa, bem como pelo traçado urbano dos primeiros povoados, inclusive suas igrejas matrizes – objeto deste estudo – e nas quais é possível observar grande similaridade com o aparato de defesa dos militares, no seu risco sóbrio, na sua robustez de fortaleza e na utilização do repertório clássico da arquitetura. É a partir do ano de 1752, devido à Expedição Científico-Demarcatória do Sul, que os engenheiros-militares supracitados encaminharam-se ao Rio Grande do Sul. A Expedição era coordenada pelo Governador do Rio de Janeiro e Minas Gerais, Gomes Freire de Andrade (1685–1763), e possuía como objetivo demarcar os limites da América Meridional dividida entre as coroas ibéricas pela assinatura do Tratado de Madri (1750). Este acordo, entre outros aspectos, determinava a troca da Colônia do Sacramento, de domínio luso, pelos Sete Povos das Missões, território espanhol. Para dar seguimento às diretrizes do 5

Tratado era necessário alcançar a região missioneira de forma rápida e segura e, para tal fim, a malha hidroviária do rio Jacuí, navegável de Rio Pardo até sua foz, no Lago Guaíba, tornou-se a principal via de acesso. Além disso, em suas margens, foram construídos pequenos fortes e armazéns de provisões, como em Santo Amaro, Rio Pardo e Taquari, consolidando-se ali uma rede estratégica para o pouso e abrigo das Comissões.

No mesmo ano de 1752, começaram a desembarcar no porto de Rio Grande os casais açorianos que seriam transferidos para o território missioneiro. Contudo, devido à Guerra Guaranítica (1754–1756), o projeto foi interrompido e o Tratado anulado. Em 1763, a situação vulnerável da Capitania acentuou-se, pois a Vila de Rio Grande foi invadida pelos espanhóis e a maior parte da população viu-se forçada a fugir para a Freguesia de Viamão. Muitas das famílias açorianas, por sua vez, dispersaram-se ao longo do rio Jacuí, onde deram início às freguesias de Triunfo, Taquari e Santo Amaro. Nestas, os engenheiros-militares traçaram o plano das ruas e das igrejas matrizes, as quais cumpriam dupla função: zelar pela vida religiosa e servir de abrigo e defesa à população.

Atualmente, é possível observar, na localização e nos aspectos construtivos das igrejas do Jacuí, os traços que as identificam ao projeto do governo português de povoamento do território e à instrução técnica compartilhada pelos seus projetistas, alguns dos quais, como Francisco João Roscio, assinaram mais de uma obra. Formalmente, verificam-se os atributos de racionalidade, economia, emprego do vocabulário de matriz clássica, pautado nos tratados de arquitetura; adaptabilidade da edificação ao meio e adesão a linhas sóbrias e classicizantes, em composições mais próximas ao estilo chão, independentemente de correntes estilísticas como o Barroco e o Rococó. Além disso, as construções foram pautadas pela necessidade de edificarem-se espaços de abrigo, em uma região de constante insegurança, fator que imprimiu aos templos uma visualidade austera. Ainda, quanto à decoração interior, distingue-se, nas igrejas mais conservadas, Viamão e Rio Pardo, uma talha elaborada, de possível influência açoriana, ornada com figuras angelicais e rocalhas.

Deste modo, pelo vínculo com a Expedição Demarcatória do Tratado de Madri (1750), por conta das suas diretrizes construtivas, pela relação com o rio Jacuí e com o meio, e, ainda, pela irradiação açoriana pelo mesmo rio, procurou-se estabelecer a tipologia de conjunto das seis igrejas aqui estudadas. Embora muitas de suas características tenham sido modificadas, ainda nos é possível estudar o modus faciendi dos seus projetistas, seus aspectos arquitetônicos e artísticos e, ainda, sua relação com o desenvolvimento dos primeiros núcleos urbanos 6

Os Casais del Rey faziam parte de um programa de migração subsidiada na qual o governo português empreendeu a vinda de casais das Ilhas dos Açores para o porto do Desterro (Santa Catarina) entre os anos de 1747 e 1753. Parte deste grupo foi transferido para o Rio Grande do Sul entre 1752 e 1754.

À Guerra Guaranítica (1754– 1756), seguiram-se uma série de embates com os espanhóis, como a invasão de Rio Grande (1763) e de Santa Catarina (1777), até a incorporação definitiva do território das missões pelos portugueses, em 1801. No século XIX, prosseguiram os conflitos na região com a Revolução Farroupilha (1835–1845), a Guerra Cisplatina (1825–1828) e a Guerra do Paraguai (1864–1870).

no estado, que nos remetem à história do povoamento açoriano, bem como dialogam com a identidade indígena local, e com os sujeitos escravizados que, de forma forçada, chegaram à região.

Se, como disse Bartolomeu Campos de Queiroz, nosso maior patrimônio é a memória, pois ela guarda tanto aquilo que vivemos, quanto os nossos sonhos futuros, este trabalho deseja incentivar o estudo e a preservação dessas igrejas, através das histórias e memórias já vivenciadas e aquelas que virão, a fim de, proporcionar, cada vez mais, visibilidade a este patrimônio e a conservação de seus bens-culturais.

CONTEÚDO Esta cartilha apresenta uma síntese histórica e descritiva sobre as seis igrejas matrizes construídas às margens do Rio Jacuí, contemplando suas principais etapas construtivas, seus aspectos arquitetônicos, análise formal e estilística dos seus retábulos e de sua talha, bem como a identificação iconográfica das principais imagens e estatuária, relacionando o orago à história da comunidade e das freguesias do século XVIII à atualidade. Além disso, o material também compreende uma sugestão de roteiro, com um mapa elaborado para este fim, no qual estão indicadas as principais vias de acesso aos templos, a fim de facilitar a visita e possibilitar o conhecimento e divulgação deste patrimônio.

A cartilha está dividida em capítulos, cada qual dedicado a uma das seis igrejas. Para sua organização, optou-se por elencar os templos a partir da ordem cronológica de fundação das freguesias, a saber: Viamão, em 1747; Triunfo, em 1754; Rio Pardo, em 1762; Taquari, em 1765; Santo Amaro, em 1773 e Cachoeira do Sul, em 1777.

Junto à abertura dos capítulos, uma caixa de identificação dispõe os principais dados acerca da edificação. As demais informações: histórico, descrição da fachada, descrição do interior e, por fim, peças de imaginária, encontram-se em subitens. O conteúdo também abrange relatos de viajantes e excertos das visitas pastorais efetuadas pelo Bispado do Rio de Janeiro, possibilitando que o leitor “veja a igreja” ao longo dos séculos. Além disso, também se apresentam alguns dados inéditos, encontrados durante a presente investigação, como a autoria do retábulo da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Cachoeira do Sul e a identificação das peças de imaginária do atelier de Marino del Favero (1864–1943) e do Atelier de Arte Christã Roehe & Allgayer (Porto Alegre) nas igrejas de Rio Pardo e Taquari. O material também conta com um glossário técnico, com imagens ilustrativas, a fim de elucidar terminologias específicas, e, ao final, a bibliografia consultada.

Este projeto não teria sido realizado sem o paciente e afetivo suporte das comunidades paroquiais e, por isso, o material é dedicado a elas, principalmente ao Padre Maurizan de Nascimento e Valquíria 7

Machado, da Igreja Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo; ao Padre Ademar José Ströher e à Samira de Souza Oliveira Jantsch, da Igreja de Nosso Senhor Bom Jesus de Triunfo; ao Padre Nildo Gaspar Rech, da Matriz de Cachoeira do Sul, e da estimada equipe do Arquivo Histórico da cidade; ao atencioso Frei Gastão Carlos Zart e à Maria de Fátima Silveira da Cruz, da Igreja São José de Taquari, à querida Anajara da Silva, em Santo Amaro do Sul e, por fim, ao generoso Padre Edison Stein, da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Viamão. A todos gostaríamos de agradecer enormemente. Paz e Bem. Pretende-se que a divulgação e disponibilização deste material possam atuar como fonte de consulta, informação e orientação a respeito destes bens culturais e que, ao se dirigir para os fiéis, turistas e demais pesquisadores e estudantes da área, possa promover e ampliar o conhecimento deste patrimônio. Entende-se que as ações educativas são as principais agentes no processo de reflexão e formação de uma consciência patrimonial e, deste modo, a Cartilha e Roteiro procura estimular tais iniciativas. Ainda, a investigação deste conjunto carece de novos olhares e estudos e não se pretende conclusiva, mas sim propõem-se a difundir os dados conhecidos e incentivar a preservação e valorização de nossa história, memória e empatia através da arte.

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DENOMINAÇÃO: Igreja Matriz Nossa Senhora

PROJETO: José Custódio de Sá e Faria (1710–

da Conceição

1792)

LOCALIZAÇÃO: Praça Cônego Bernardo

PROTEÇÃO: Tombamento Federal – IPHAN

Machado dos Santos, Município de Viamão, estado do Rio Grande do Sul

(1938)

PADROEIRO: Nossa Senhora da Conceição, 08

FREGUESIA: Fundação: 1747

de dezembro

IGREJA: Construção: 1767

Inauguração: 1770 Reforma(s): 1787; 1928

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Porta entalhada e friso em cantaria Igreja Nossa Senhora da Conceição

história

O povoamento dos Campos de Viamão teve início em 1727 com os caminhos abertos pelos tropeiros a partir de Laguna via Curitiba e Sorocaba. A região abrangia toda a planície litorânea localizada entre o rio Mampituba e o lago Guaíba e desenvolveu-se com os currais e entrepostos das rotas, bem como através da distribuição de sesmarias que se transformaram em fazendas de criação de gado vacum, cavalar e muar comercializados no centro do Brasil.

Nota-se que esta provisão foi realizada pelo bispo de são Paulo, pois à época (1746-1749) o Continente do Rio Grande de São Pedro estava submetido a este bispado, retornando em 1749 à jurisdição do Bispado do Rio de Janeiro.

Em 1741, foi concedida uma licença a Francisco de Carvalho da Cunha, proprietário da Estância Grande, nos Campos de Viamão, para construir uma capela em devoção à Nossa Senhora da Conceição, para a qual Francisco da Cunha doou uma légua de terra de sua estância. Em 1746, a pequena capela foi consagrada e, em 1747, foi elevada à Paróquia, constituindo-se na segunda paróquia fundada na Capitania, cujos limites abarcavam o território do rio Mampituba até o rio Pardo.

No entorno da capela, formou-se um núcleo espontâneo de habitações, surgindo as primeiras ruas, casas e cemitério; logo, em 1751, a comunidade solicitou ao bispo do Rio de Janeiro, D. Frei Antônio do Desterro, permissão para a construção de uma nova matriz, a qual foi concedida. O início das obras da nova igreja, contudo, só principiaram em 1767, devido à instabilidade e insegurança no território da Capitania.

Em 1763, Pedro de Ceballos (1715–1798), governador da Província de Buenos Aires, invadiu a Vila de Rio Grande, fundada em 1737 e sede administrativa do Brasil meridional. Na 12

fuga, também conhecida como “corrida do Rio Grande”, as autoridades eclesiásticas, civis e militares transferiram-se para Viamão, a qual se tornou a Capital da Capitania, sediando a Câmara Municipal entre 1766 e 1773, ano em que foi transferida para Porto Alegre.

Em virtude da nova situação administrativa, a construção de uma matriz com maiores dimensões tornou-se indispensável e, em 1767, reuniram-se as irmandades conjuntas do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição, o vigário José dos Reis Custódio, o Governador José Custódio de Sá e Faria (1710–1792) e o mestre carpinteiro Francisco da Costa Senne para assinar o termo da obra. O novo templo foi erigido do lado oeste da antiga capela, em frente à praça, e sua consagração ocorreu em 1770, com a transladação do Santíssimo Sacramento e da imagem de Nossa Senhora da Conceição da antiga capela, construída por Francisco da Cunha, para a nova igreja.

Com a transferência da Câmara Municipal para Porto Alegre em 1773, a freguesia de Viamão iniciou um processo de decadência econômica, o qual afetou a conclusão do templo. Deste modo, nas últimas décadas do século XVIII, a igreja ainda encontrava-se em obras, dependendo de doações para seu término. Não obstante, o relato da visita do Padre Bento Cortês de Toledo nos permite concluir que a estrutura do templo encontrava-se finalizada em 1799, quando o Vigário escreveu: “esta bela e grande igreja é a mais linda da diocese, tem 195 palmos de comprimento, 57 de largura e, a capela-mor, 31 palmos de largura e 22 de comprimento”. Além dele, em 1815, o Bispo do Rio de Janeiro, D. José Caetano da Silva Coutinho, observou que “a igreja é magnífica por fora e por dentro; tem duas torres com quatro bons sinos, excelente batistério, sete ricos altares, ótima sacristia, frontaria e uma Capela do Senhor dos Passos, muito bons ornamentos; enfim, tudo obra do zelo e do dinheiro do respeitável Pe. João Diniz” (COUTINHO apud RUPERT, 1994, p.74).

O pároco João Diniz, designado para o cargo em 1782, foi um dos mais importantes curas de Viamão e de grande préstimo à finalização do templo, auxiliando com vultosas doações

Vista do óculo quadrifólio da fachada

Igreja Nossa Senhora da Conceição 13

Datas de nascimento e morte desconhecidas.

(em uma ocasião doou 1200 rezes para a igreja); a ele se deve à construção, acabamento e ornamentação da igreja com preciosas alfaias.

Durante o século XIX, prosseguiram as reformas na igreja. Em 1816, foram pintados e dourados os retábulos; em 1822, foi refeito o forro do coro e, em 1823, nova pintura. Sem embargo, com o término da Revolução Farroupilha, em 1845, o estado da matriz era muito precário e necessitava de reparos para não desabar. Em 1869, foram realizadas novas obras, urgentes, no total de sete contos de réis remetidos pela Assembleia Provincial.

No século XX, prolongaram-se as intervenções. Em 1914, a matriz foi reformada interna e externamente; no mesmo ano, os altares foram repintados com a aplicação de ouro em pó. Em 1919, foram realizadas pinturas murais e, em 1928, foi reunida uma comissão de obras, que destinou fundos para um novo telhado, madeiramento, substituição do coro, assoalho e também introduziu a balaustrada que hoje encontra-se na frente da igreja – acredita-se que nesta reforma o frontão triangular da igreja recebeu o perfil escalonado. Em 1930, o forro, retábulos, paredes e capelas receberam uma nova pintura. Ainda, em 1948, foram reformadas a sacristia e a Capela do Senhor dos Passos, localizada à esquerda da capela-mor. Em 1954, a comunidade construiu o salão e a casa paroquial, onde outrora ficava a Capela do Divino Espírito Santo, a qual ruiu em 1928.

Nos últimos anos, entre 1980 e 1982, o telhado e o forro foram novamente consertados e, em 1999, efetivou-se uma grande restauração, a qual recuperou os retábulos e imagens, restituindo a igreja à sua harmonia de antanho.

O OLHAR DOS VIAJANTES Em 1849, o comerciante francês Nicolay Dreys (1781– 1843), publicou sua Notícia Descritiva da Província de São Pedro do Rio Grande, na qual menciona a Matriz de Viamão: “seu frontispício, em razão do tempo e do local, é um notável esforço da arquitetura religiosa e que pode desafiar em comparação as outras igrejas da vizinhança, sem se excetuarem mesmo as da capital” (DREYS, 1961, p.121). Em 1817, Dreys se estabeleu como negociante no Rio de Janeiro e, em 1825, transferiu-se para Porto Alegre, conhecendo, portanto, várias igrejas ao longo dos anos em que residiu no Brasil.

O OLHAR DOS VIAJANTES Auguste Saint-Hilaire (1779–1853), naturalista francês, visitou a igreja no ano de 1820, referindo-se ao templo no seu diário, Viagem ao Rio Grande do Sul (1820-1821): “o arraial compõe-se principalmente de duas praças, contíguas e de formato irregular, em uma das quais se ergue a igreja. Depois de São Paulo ainda não tinha visto nenhum igreja comparável a essa, possuindo duas torres, bem conservada, extremamente asseada, clara e ornamentada com gosto.” (SAINT-HILAIRE, 1999, p.28).

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Urna mortuária do Padre João Dinis Álvares de Lima

Fachada da Igreja São José, início do século XX. Fonte: (SILVA, 1972)

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Fachada da Igreja São José, início do século XX. Fonte: (SILVA, 1972)

JOSÉ CUSTÓDIO DE SÁ E FARIA (1710–1792) Igreja Nossa Senhora da Conceição, 1770

A FACHADA A igreja de Viamão está assentada em sítio elevado, virada para o noroeste e, ao contrário dos outros templos, encontra-se menos próxima das margens do Rio Jacuí ou de sua foz, o Lago Guaíba, justamente pela situação de defesa procurada na freguesia à época de sua edificação. A matriz foi erigida na ampla praça central da cidade e sua entrada se dá através de um grande adro com escadaria e balaustrada. O historiador da arquitetura Riopardense de Macedo a descreveu como uma matriz projetada com a “majestade de um templo e a envergadura de uma fortaleza” (MACEDO, 1987, p. 72), pois a igreja impressiona pelo porte alteroso, pela modulação clássica de seus volumes e pelo desenho marcado pela severidade e contraste entre a alvenaria caiada de branco e a decoração de sua portada em cantaria.

dos fundos da igreja, é ladeado por duas torres falsas arrematadas por grimpas. As torres contam com aberturas para receber os sinos e são perfiladas por pilastras terminadas em volutas. Consta que esses vãos para as sineiras funcionavam como guaritas, conferindo ao templo mais um atributo de igreja-fortaleza. Os tramos são divididos por pilastras de pouca volumetria e, horizontalmente, por cornijamento tímido. No corpo central, o frontão é triangular com perfil escalonado, possivelmente uma modificação posterior; abaixo, um óculo quadrifólio, duas aberturas com janelas que dão para o coro e uma porta central, com verga em cantaria e almofadas entalhadas. Aos lados da porta, duas colunas toscanas, de fuste liso, sustentam uma cimalha saliente a meia altura da fachada, aspecto da ornamentação que denota a erudição de seu projetista.

A utilização do repertório arquitetônico, de maA fachada é condensada na volumetria, produzindo triz clássica, de forma decorativa e estrutural, confeum porte maciço, conferindo peso e solidez ao edifício. re maior dinamicidade ao risco de caráter comedido.

Modulada em três tramos, o central, melhor visualizado Deste modo, a simplicidade das linhas do templo é 16

contrabalanceada por uma decoração calcada nos elementos arquitetônicos (cornijas, colunas, volutas) que, pautados na geometria, transmitem uniformidade e equilíbrio à vetustez do templo. Ainda, segundo Rocca e Gutierrez (2020), essa igreja compartilha de características da arquitetura religiosa hispânica, nas suas proporções pesadas e nos campanários em paralelepípedo, também denominados de españadas, qualidades atribuídas ao partido espanhol.

Espanãda: termo em castelhano, sem tradução. Designa a elevação do plano da fachada com vãos para colocar os sinos, simulando uma torre.

(ROCCA; GUTIERREZ, 2020, p.75)

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TOMBAMENTO Em 1938, a igreja foi tombada pelo SPHAN, atual IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. À época, o intelectual e escritor Augusto Meyer atuava como intendente da instituição no Rio Grande do Sul e defendeu o tombamento da matriz pelo seu valor histórico (a segunda igreja mais antiga do estado) e arquitetônico.

TERCEIRA MATRIZ A investigação revelou informações sobre a existência de uma terceira igreja matriz construída no mesmo local, principiada em 1787. A hipótese deste terceiro templo carece de pesquisas conclusivas, deste modo, por ora, acreditamos que a “nova matriz” (3ª), possivelmente consistia em uma ampliação e reforma daquela iniciada em 1767.

AS OBRAS DA IGREJA FORAM PAGAS COM TRIGO Pela dificuldade de transformar a produção primária em moeda corrente e, visto que na região dos Campos de Viamão produziase muito trigo, a irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição aprovou uma doação de 30 alqueires do cereal para os pagamentos das obras da igreja. Em 1799, a produção foi transportada para o Rio de Janeiro para ser vendida e, com o dinheiro proveniente, foram adquiridos os materiais necessários para a construção da matriz.

Vista da lateral direita Igreja Nossa Senhora da Conceição

São Miguel, Retábulo lateral de São Miguel 18

AUTORIA Para Damasceno (1971) e Macedo (1987), o risco da igreja foi realizado por José Custódio de Sá e Faria (1710–1792) enquanto ocupava o posto de Governador da Capitania (1764–1769). Günter Weimer (1992), porém, é contrário a essa hipótese, afirmando que Sá e Faria estaria muito envolvido com a defesa e consolidação do território, não dispondo de tempo para riscar a Matriz. Sem embargo, no termo de contratação da obra encontramos a assinatura do engenheiro, ainda que esta possa indicar somente o cargo que ocupava como Governador e não a autoria do projeto.

Assinatura de José Custódio de Sá e Faria (1710– 1792). Fonte: (BALEM, 1952, p.39) 19

O INTERIOR Internamente, a Matriz possui planta retangular de nave única com capela-mor profunda. O forro, em arco abatido, é constituído por ripas de madeira pintadas de azul claro; as paredes são lisas e caiadas. No átrio, à esquerda, um batistério simples, contendo apenas uma pia batismal de pedra. Sobre a entrada, um grande coro de madeira, sustentado por duas colunas discretas. A capela-mor é dividida por arco-cruzeiro; à sua esquerda, encontra-se a Capela do Senhor dos Passos, onde se preserva uma antiquíssima imagem articulada do Cristo a Caminho do Calvário e a urna mortuária do Pe. João Diniz; à direita, localiza-se a sacristia, atualmente, secretaria da Paróquia.

O programa decorativo do templo é composto por sete primorosos retábulos: um na capela-mor; quatro justapostos às paredes laterais da igreja e mais dois colaterais junto ao arco-cruzeiro; todos estão pintados em tons ocre e amarelo e possuem resquícios de douramento.

A talha da matriz nos apresenta um repertório ornamental híbrido, com elementos variados, em uma transição estilística que, embora a aparência homogênea, é difícil definir. Os seis altares da nave possuem elementos característicos do barroco joanino, nos riscos pomposos e nas colunas salomônicas; nos elementos decorativos, os adereços em talha são “rocaillizados”, em orelhas sinuosas – porém simétricas – que encimam os arranques de frontão que finalizam as colunas (também podendo ser definidas como arremates em “labaredas” ou rocalhas); tal dinamismo e leveza do rococó também é sugerido pelo esgarçamento do risco dos retábulos; ademais, observa-se traços neoclássicos em alguns elementos estruturais, como as colunas de fustes retos no retábulo da capela-mor. Destaca-se que este templo, dentre as igrejas do Jacuí, é o que melhor conserva o decoro do conjunto de sua ornamentação interna, de forma que os retábulos apresentam grandes similaridades, sugerindo a contemporaneidade de sua realização. Ainda, estima-se que a decoração seja do último quartel do século XVIII e primeiros anos do século XIX. Quanto às características dos altares, o retábulo-mor, dedicado à Nossa Senhora da Conceição, apresenta uma 20

composição barroca no frontão, ao passo que, as colunas de fuste liso em sua estrutura ecoam a influência neoclássica. No arremate do altar, destaca-se a belíssima tarja com a coroa de Nossa Senhora; no nicho central, encontra-se a imagem de Nossa Senhora da Conceição, e abaixo, as imagens de Nossa Senhora do Parto e de Santa Rosa de Lima.

A respeito dos altares da nave, à esquerda, estão assentados os retábulos de Nossa Senhora do Rosário, Divino Espírito Santo e Sant’Anna; e, à direita, os retábulos dedicados à Nossa Senhora das Dores, São Miguel e Santa Bárbara. Nestes exemplares, as colunas são salomônicas, porém mais longilíneas

quando comparadas àquelas das manifestações barrocas; além disso, segundo Etzel (1974), a ênfase dos entalhadores foi direcionada à singular volumetria dos quartelões internos. Para mais, observa-se que os frontões de todos os altares, ainda que semelhantes, diferenciam-se pelos recortados e pela variação dos desenhos; nota-se que, nos escudos centrais desses frontões, há sempre um elemento simbólico alusivo à devoção do altar, em um diálogo iconográfico sofisticado.

A autoria deste conjunto de retábulos ainda é desconhecida. Na documentação averiguada, loca21

Interior da Igreja Nossa Senhora da Conceição

lizou-se a feitura do retábulo-mor por Francisco da Costa Senne em 1768. Acredita-se, porém, que este tenha sido recomposto na conclusão da matriz durante as décadas de 1780 e 1790. Quanto aos retábulos da nave, certamente realizados por uma mesma oficina, ainda carecemos de dados conclusivos; sabe-se que, em 1816, os altares foram pintados e dourados pelo mestre pintor José Philadelpho da Orcy y Imada e que, anos antes, em 1787, o mestre carpinteiro Antônio José de Santana arrematou as obras da Matriz de Viamão.

Mestre Santana também foi responsável pelos retábulos da Matriz de Laguna (1803), dado que pode indicar sua participação nos riscos da decoração da igreja de Viamão. Esta informação, inédita, foi localizada na investigação atual e nos convida a refletir sobre a circulação dos entalhadores e artífices entre as freguesias do Brasil meridional.

Retábulo-mor, c. 1768

Datas de nascimento e morte desconhecidas.

Vista do coro e do interior

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OS SEIS RETÁBULOS DA NAVE LADO ESQUERDO

Retábulo

lateral de Sant’Anna

Retábulo-

colateral de Nossa Senhora do Rosário No nicho central, Nossa Senhora do Rosário; à esquerda, São Francisco de Paula e, à direita, São Benedito

No nicho central, Sant’Anna com Maria; à esquerda, Santo Expedito e à direita, Santa Luzia

Retábulo lateral do Divino Espírito Santo No nicho central, imagem do Divino Espírito Santo; à esquerda, São Pedro e, à direita, São José

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LADO DIREITO

Retábulo-

colateral de Nossa Senhora das Dores

No nicho central, Nossa Senhora das Dores; abaixo, em oratório envidraçado, São Caetano. À esquerda, a imagem de São João Batista e, à direita, Santa Inês

Retábulo

lateral de Santa Bárbara

Retábulo

lateral de São Miguel

No nicho central, São Miguel; à esquerda, Santo Antônio e, à direita, São Roque

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No nicho central, Santa Bárbara; à esquerda, São Sebastião e, à direita, Santo Isidoro

NOSSA SENHORA DO BOM PARTO A devoção mariana de “Nossa Senhora do Bom Parto” é celebrada no dia 18 de dezembro e, como seu nome sugere, é invocada pelas mulheres grávidas que buscam a intercessão da Virgem para que tenham uma “boa hora”. A imagem representa a jovem Nossa Senhora, sobre nuvens e acompanhada de querubins; com seu manto azul e rosa faz um berço para segurar o Menino Jesus. A composição está repleta ternura, destacando-se o mistério da “encarnação do verbo” através da relação entre mãe e filho.

SÃO CAETANO Em 1798 o Pe. João Diniz retirou-se para uma de suas chácaras, ano em que assumiu o Pe. João Crisóstomo da Silva. Natural do Rio de Janeiro,foi pároco de Viamão até em 1802. Sobre ele, o arcediago Vicente Zeferino Dias Lopes (1891) nos informa que trouxe consigo um bonito oratório da Fazenda de São Caetano, o qual, com a imagem do Santo, conserva-se no altar colateral direito da Matriz.

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NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO A imagem, em madeira, representa Nossa Senhora da Conceição, orago da Matriz e entronada no altar-mor da igreja. Está confeccionada em talha inteira e recebeu policromia. Apresenta feições joviais e serenas, as mãos estão postas em oração e encontra-se apoiada sobre nuvens com três querubins. Os cabelos são castanhos, a pele branca e a tez rosada. Veste túnica estofada em branco com pequenos detalhes de cruzes páteas com douramento. Sobre o ombro direito, um manto azul claro com ornamentos dourados cobre boa parte do lado direito de seu corpo. Tanto a posição do corpo como o panejamento colaboram para a criação de movimento.

SANTA ROSA DE LIMA Santa Rosa de Lima, também chamada de “Rosa de Santa Maria”, nome que adotou ao dedicar-se à vida religiosa, viveu entre 1586 e 1617 na cidade de Lima, capital do Peru. Filha de espanhóis, percebeu sua vocação religiosa desde jovem, tomando Santa Catarina de Siena como modelo. Teria vivido em reclusão e penitência, não descuidando, todavida, de prestar assistência aos pobres e doentes. Ingressou na Ordem Dominicana e foi a primeira santa da América a ser canonizada, sendo considerada padroeira da América Latina. Está representada com o hábito dominicano, composto por túnica e touca brancas, uma capa e um véu pre-

Essa devoção, celebrada em 08 de dezembro, representa a “imaculada conceição de Maria”, ou seja, a ideia de que a Virgem nasceu sem a mancha do pecado original e repleta pela graça de Deus. Nossa Senhora da Conceição foi declarada padroeira do Brasil Colônia e também do Império, tornando-se uma das invocações marianas mais difundidas no território, principalmente, a partir de 1931, quando a “Imaculada Conceição Aparecida” foi oficializada padroeira da República Brasileira.

tos. A imagem possui olhos de vidro. Seu braço direito está estendido para frente.

Na mão esquerda, carrega rosas, atributo que a identifica.

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Cartela do retábulo-mor

São Benedito Retábulo de Nossa Senhora do Rosário 28

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buscar imagem em outro angulo da fachada

DENOMINAÇÃO: Igreja Matriz Senhor Bom

Jesus do Triunfo

PROJETO: Manuel Vieira Leão (1727–1803)

LOCALIZAÇÃO: Praça General Bento

Gonçalves, Município de Triunfo, estado do Rio Grande do Sul

PROTEÇÃO: Tombamento Municipal (2010) PADROEIROS: Senhor Bom Jesus, 06 de agosto

FREGUESIA: Fundação: 1754

Nossa Senhora do Rosário, 07 de outubro

IGREJA: Construção: 1754/1765-1872

Inauguração: 1765 Reforma(s): 1954

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história

Retábulo do Divino Espírito Santo - Igreja Senhor Bom Jesus do Triunfo

Localizada na margem esquerda do rio Jacuí, perto da foz do rio Taquari, a paróquia de Triunfo foi criada em 1757 por provisão do Frei Antônio do Desterro, bispo do Rio de Janeiro. À época, a povoação recebeu a alcunha de “Freguesia Nova” por ser a primeira freguesia fundada na região, constituindo-se a terceira freguesia do Rio Grande do Sul. De acordo com o arcediago Vicente Zeferino Dias Lopes em sua história eclesiástica do Rio Grande do Sul (1891), o terreno para a edificação da Matriz e a imagem de Nosso Senhor Bom Jesus do Triunfo foram doados por Antônia da Costa Barbosa, proprietária da primeira sesmaria concedida na região, em 1754. As obras da igreja ocorreram sob administração do vigário Thomas Clarque (17001779) que “empenhou-se na construção da Matriz, levando adiante a capela-mor e parte do corpo da igreja”. (RUBERT, 1994, p.76) Não há unanimidade entre os historiadores quanto à data de início da obra. Consta que, em 1753, 32

já havia sido levantada uma cruz na povoação, onde também fora construída uma rudimentar capela. Para Marino Josetti de Almeida, autor da monografia sobre o município (1931), a edificação da Matriz principiou em 1754, enquanto outras fontes: Günter Weimer, José Albano Wolkmer e Athos Damasceno estimam os anos de 1757, 1758 e 1765, respectivamente. Ainda, segundo Josetti, em 1765, a nave e a torre esquerda da Matriz estavam concluídas. (ALMEIDA, 1931, p.265).

No século XIX, a igreja ainda encontrava-se inacabada. Em 1857, a Câmara de Vereadores de Triunfo requereu ao Presidente da Província dois contos de réis para a conclusão do pavimento superior, bem como para reparos urgentes, pois a Matriz encontrava-se prestes a desabar. Tais obras só iniciaram em 1862, cinco anos após a solicitação, e, em 1872, a torre direita foi erguida, finalizando-se, assim, a construção.

Enquanto o século XIX foi marcado pela finalização do templo, o século XX testemunhou inúmeras modificações.

Em 1918, na gestão do pároco João Carlos Rech, a igreja foi reconstruída interna e externamente, com aprovação de uma comissão nomeada pelo Arcebispo Metropolitano D. João Becker. Nesta mesma data, foram adquiridos “três belos e vistosos altares, estilo renascença”. No ano seguinte, o pároco Guilherme Stamsem deu continuidade aos melhoramentos, “duplicando a capela-mor ou coro” e promovendo diversos consertos e pinturas. Em 1922, foi ampliada a escadaria em frente à Igreja (ALMEIDA, 1931).

Em 1954, em virtude da comemoração do bicentenário da povoação (1754), foram realizadas outras reformas, nas quais, segundo José Luiz de Freitas, “não foram poupadas as feições primitivas da Matriz, modificando-se as portas e janelas que de modo algum condizem

com as originais, contrastando com as linhas arquitetônicas do templo” (FREITAS, 1963, p.106). Na mesma remodelação, foram suprimidas as datas indicativas da feitura das torres (1765 e 1872) que se encontravam inscritas nas mesmas. Além disso, também foi feito um novo arco na altura da mesa da comunhão e foram pintados dois quadros no forro, um dedicado à Santíssima Trindade e outro representando a Visita dos Reis Magos. Na década de 1990, ocorreram novas modificações, com a substituição da cobertura e do forro da nave, ocasionando a perda destas pinturas.

Por fim, em 2010, a Igreja de Nosso Senhor Bom Jesus foi reconhecida como Patrimônio Histórico e tombada pela Câmara de Vereadores do município de Triunfo.

AUTORIA DO PROJETO

Além das datas da construção da Matriz, também permanecem dúvidas quanto ao autor do projeto. De acordo com Athos Damasceno (1971), o risco seria de José Custódio de Sá e Faria (1710–1792), destacado engenheiro militar português, que à época (1764-1769) era Governador da Capitania; outrossim, para Günter Weimer (1992), a autoria seria de Manuel Vieira Leão (1727–1803) , também engenheiro militar, discípulo de José Fernandes Pinto Alpoim (1700-1765), ajudante de ordens nas demarcação do Tratado dos Limites e encarregado do risco das obras de Sá e Faria. De acordo com Weimer, ao contrário dos projetos de Faria, que privilegiavam o traço verticalizado, a fachada de Triunfo é marcadamente horizontalizada, além disso, sua planta baixa e risco se assemelham muito com a Matriz de Rio Grande (RS), cuja autoria é atribuída a Leão.

CURIOSIDADE Pelo histórico e pela concepção construtiva do edifício, é possível afirmar que a fachada com as divisões em pilastras estava finalizada em 1765, pois não há descontinuidade das alvenarias no plano da base da torre com a do corpo da igreja. A este aspecto técnico, também se acrescenta que, embora a base de alvenaria da torre esquerda estivesse finalizada, ela, provavelmente, encontrava-se sem sua parte superior, ou seja, sem o segundo pavimento com a abertura para os campanários. Corrobora esta hipótese o relato de José Caetano da Silva Coutinho (17681833), bispo do Rio de Janeiro, que em sua visita pastoral à Triunfo em 1815, observou que a Matriz era pequena e pobre, embora com três altares e, além disso, possuía três pequenos sinos, “enforcados em paus”, denotando, portanto, que ainda não existiam as torres com as aberturas para os campanários. (RUBERT, 1994, p.77)

Antiga pia batismal, lavrada em pedra, na qual Bento Gonçalves (1788–1847), líder da Revolução Farroupilha (1835-1845), foi batizado em 1788.

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A Matriz de Triunfo possui risco severo e ordenado, com ênfase na linha horizontal. A igreja está assentada sobre uma escadaria, em elevação, defronte ao Rio Jacuí. Sua estrutura é formada por corpo central ladeado de duas torres, divididas por pilastras que marcam a separação da alvenaria.

As torres são quadradas, austeras e pesadas e dialogam com o corpo central, de forma que sua elevação superior, demarcada por cornija, pode ter sido uma alteração do projeto original. O coroamento destas torres é em cúpula semi-bulbóide demarcado por friso; ambas possuem vão para campanários em arco pleno e são decoradas por pinhas. No arremate das cúpulas, duas cruzes de metal encimam a composição. No primeiro nível de cada torre, destaca-se um retângulo cego com moldura que, talvez, fosse destinado à abertura de janela aos corredores laterais da nave. No corpo central, o arremate é em frontão triangular; abaixo, uma abertura em porta única, com verga reta, possui dimensões desproporcionais ao conjunto do edifício. Acima, um friso demarca o óculo redondo ladeado por decoração em arabescos; arrematando o conjunto, há uma inscrição indicando o ano de fundação do povoado, 1754. Nas laterais do prédio, as vergas das aberturas, originalmente retas, foram modificadas para arco abatido.

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A FACHADA

MANUEL VIEIRA LEÃO (1727–1803) (atribuição)

Interior da Igreja Senhor Bom Jesus do Triunfo

O INTERIOR

A Matriz é dividida em nave, capela-mor e dois corredores laterais. As paredes são lisas e brancas; no transepto, o arco cruzeiro divide a nave da capela-mor. Esta possui duas tribunas laterais, altar e duas placas em mármore que identificam os jazigos, à esquerda, de Jerônimo de Ornelas (1691–1771) e, à direita, do padre Thomas Clarque (1700–1779), ambos sepultados na Matriz.

Ao adentrar o templo, à esquerda, observa-se uma capela em louvor ao Senhor Morto e à Nossa Senhora das Dores, com estatuária do início do século XX. À direita, há uma pia batismal lavrada em pedra, na qual Bento Gonçalves (1788–1847), líder da Revolução Farroupilha, foi batizado em 1788. O lado esquerdo da nave possui, ainda, uma tribuna. No lado direito da nave, na altura da tribuna, foi erigida uma gruta à Nossa Senhora de Lourdes.

Atualmente, a nave possui uma decoração eclética, com cinco altares em madeira, de diferentes épocas, pintados na cor amarela e com mínima ornamentação. Observa-se, ainda, que a atual decoração é singela, e no que tange ao trabalho de talha, quando presente, é composto por apliques de ornamentos.

Na capela-mor, encontra-se o altar com a imagem do Sr. Bom Jesus; junto ao arco cruzeiro, dois retábu35

los colaterais, novos, dedicados, à direita, ao Sagrado Coração de Maria e, à esquerda, ao Sagrado Coração de Jesus. Ainda, na nave, dois retábulos laterais foram encaixados em nichos junto à estrutura da edificação, os quais, embora muitíssimo modificados, possuem um projeto arquitetônico notável, principalmente no trabalho do cornijamento que encima as colunas e pilastras. No retábulo lateral esquerdo, encontra-se uma belíssima e antiga imagem de Nossa Senhora do Rosário, ladeada pelas imagens de São Francisco de Paula e Santa Teresinha. No retábulo lateral direito, observamos a imagem do Divino Espírito Santo, ladeado por São Cristóvão e Sant’Ana. A imagem do Divino destaca-se pela erudição da escultura, cuja base é sustentada por três pés em volutas e cuja extensão é toda trabalhada com decoração em sulcos que, embora a verticalidade da peça, confere-lhe movimento e sinuosidade rococó; esta base sustenta a Pomba do Divino que está inserida em um resplendor rodeado por querubins.

Assim como em outras cidades que receberam casais açorianos, observa-se que o culto ao Divino era muito presente no município, sendo uma das únicas cidades do Rio Grande do Sul que ainda mantém o “Império”, a casa do Divino, defronte à praça da igreja.

Por fim, não podemos esquecer que as imagens cultuadas no templo se relacionavam às irmandades existentes na Freguesia. Até os idos de 1893, funcionavam na Matriz quatro irmandades: as Irmandades Unidas de Bom Jesus e do Santíssimo Sacramento, fundadas em 1766; Irmandade São Miguel e Almas, 1777, Irmandade de Nossa Senhora das Dores e Irmandade de Nossa Senhora do Rosário das quais se desconhece as datas de criação. Nas procissões e, principalmente, na festa do Bom Jesus do Triunfo, celebrado no dia seis de agosto, elas distinguiam-se pela cor das opas (vermelho, verde, roxa e branca) e pelas bandeiras envergadas.

NOSSO SENHOR BOM JESUS O Senhor Bom Jesus do Triunfo é o orago da Igreja Matriz. A imagem, em madeira, localizada no altar-mor, consiste em uma peça de talha inteira complementada por manto encarnado. A invocação, de origem portuguesa, representa um dos episódios da Paixão de Cristo na qual o “Senhor Bom Jesus” é apresentado por Pilatos ao povo, após sofrer torturas e humilhações. Essa cena também se faz presente nas imagens chamadas de Ecce Homo, que em latim significa “eis o homem”, frase que teria sido proferida por Pilatos ao apresentar Cristo.

Senhor Bom Jesus, Altar-mor Senhor Bom Jesus do Triunfo

da Igreja

A figura encontra-se em pé, com as mãos cruzadas frontalmente e atadas por uma corda dourada. Possui perizônio esculpido e policromado, e o restante do corpo foi encarnado, tendo a carnação representações de ferimentos e sangue. O cabelo e a barba foram esculpidos e policromados em marrom e os olhos em azul. Sua expressão é de tristeza contida, passando a imagem do Cristo que aceita as dores para as quais está destinado. A cabeça é ornamentada por um resplendor dourado, e sobre os ombros recebeu um manto em veludo, bordado com motivos florais a ouro e com franjas douradas na barra. De acordo com Manoel Luís de Almeida (1972), o manto foi doado pela senhora triunfense, D. Deolinda.

Por fim, a imagem não apresenta a coroa de espinhos ou a cana verde, atributos recorrentes na iconografia do Senhor Bom Jesus.

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NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

A imagem de Nossa Senhora do Rosário, em madeira, encontra-se no retábulo lateral esquerdo da igreja. Sua expressão é grave, o panejamento esvoaçante, e a policromia clara. Com o braço esquerdo, Nossa Senhora segura o Menino Jesus e, com a mão direita, o rosário; seus pés repousam em nuvens nas quais voejam três querubins.

Tanto a Virgem quanto o Menino possuem olhos de vidro e portam coroas de metal dourado na cabeça. A imagem, antiga, recebeu repintura e é muito zelada pela comunidade, que a aformoseia com brincos e unhas esmaltadas. No período colonial, a irmandade devota à Nossa Senhora do Rosário era frequentemente constituída pela comunidade negra, auxiliando os irmãos, quando escravizados, a adquirir sua alforria. Essa invocação mariana é celebrada no dia 7 de outubro.

Nossa Senhora do Rosário Retábulo lateral, Igreja Senhor Bom Jesus do Triunfo

FESTIVIDADE As festividades em honra do Bom Jesus (06 de agosto), Divino Espírito Santo e Nossa Senhora do Rosário eram muito concorridas e quase sempre abrilhantadas por bandas de música. As celebrações contavam, ainda, com o desfile das Irmandades com seus estandartes e fitas coloridas e eram frequentadas pelos habitantes do município, de São Jerônimo e de Porto Alegre que chegavam a Triunfo de vapor pelo rio Jacuí. A festa do Nosso Senhor Bom Jesus segue sendo celebrada pela comunidade e é muito prestigiada.

Detalhe de Senhor Bom Jesus, Altar-mor da Igreja Senhor Bom Jesus do Triunfo 37

Jazigo de Jerônimo de Ornelas (1691–1771) direita e Jazigo do padre Thomas Clarque (1700–1779) esquerda, Capela-mor da Igreja Senhor Bom Jesus do Triunfo

RESPLENDOR DO DIVINO ESPÍRITO SANTO, SÉCULO XVIII O Espírito Santo, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, é simbolizado pela pomba e nele reside o Amor Supremo entre o Pai e o Filho. Os Sete Dons do Espírito Santo: Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor a Deus são citados pela tradição católica (Bíblia, no versículo 2 do capítulo 11 do Livro do Profeta Isaías ) e se tornaram fonte de devoção popular. No Divino Espírito Santo da Matriz de Triunfo observamos a pomba branca rodeada por sete querubins, número alusivo aos sete dons do Divino.

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DENOMINAÇÃO: Igreja Matriz Nossa Senhora

PROJETO: Francisco João Roscio (1733–1805)

do Rosário

PROTEÇÃO: Tombamento Municipal (1980)

LOCALIZAÇÃO: Rua Júlio de Castilhos (Rua da

Tombamento Estadual IPHAE (2010)

Ladeira), Município de Rio Pardo, estado do Rio Grande do Sul

PADROEIROS: Nossa Senhora do Rosário, 07 de

outubro

FREGUESIA: Fundação: 1762 IGREJA: Construção: 1791–1885

Inauguração: 1801 Reforma(s): 1847; 1885; 1930

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história

O município de Rio Pardo está localizado à margem esquerda do Rio Jacuí, junto à foz do rio Pardo, e desempenhou importante papel na história do Brasil no século XVIII, principalmente na defesa do território contra a coroa espanhola, motivo pelo qual recebeu a alcunha de Tranqueira Invicta. Também foi importante ponto de ligação comercial entre Porto Alegre e o oeste da Capitania em virtude de seu porto, no rio Jacuí, que possuía grande movimento. Ali “atracavam continuamente as embarcações que traziam mercadorias de Porto Alegre para serem conduzidas por carroças e carretas à serra e à fronteira”. Lembra-se que, na época, o principal meio de acesso ao território era por via fluvial, “os rios eram as estradas de água”, como nos descreve Dante de Laytano.

(LAYTANO, 1932, p.13)

Em 1752, o Capitão General Gomes Freire de Andrade (1685–1763), Governador do Rio de Janeiro, no comando da Expedição Demarcadora do Tratado de Madrid (1750), iniciou os trabalhos de demarcação das fronteiras e determinou a construção de um depósito de provisões no local hoje chamado Alto da Fortaleza, à margem esquerda do Jacuí, próximo à foz do rio Pardo. Esse depósito ficou sob a responsabilidade da guarda portuguesa e ali foi edificada a fortaleza Jesus Maria José pelo engenheiro militar João Gomes de Melo. Neste local, iniciou-se o primeiro núcleo populacional de Rio Pardo, formado pelos militares e suas famílias, os quais possuíam como espaço de culto a ermida da Sagrada Família construída junto à fortaleza em 1753.

Em virtude do fim da Guerra Guaranítica (1754–1756), um período de tranquilidade permitiu que a população saísse da zona delimitada pelo forte, espraiando-se pelas colinas do entorno.

Deste modo, em 1759, as celebrações religiosas foram transferidas para a Capela Santo Ângelo, a qual fora erigida no

Datas de nascimento e morte desconhecidas.

Igreja Nossa Senhora do Rosário, início do século XX. Acervo Paróquia Nossa Senhora do Rosário 42

Vista lateral da Igreja Nossa Senhora do Rosário, século XIX. Rio Pardo (RS) Fonte: Enciclopédia Rio-grandense (1956) Fonte: Relatório Técnico (1985).

Arquivo Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo (RS).

centro do povoado, no alto da colina. No ano de 1762, esta Capela foi elevado à Capela Curada, recebendo um cura residente e, em 1769, foi elevada à Paróquia, recebendo o orago de Nossa Senhora do Rosário.

A antiga Capela de Santo Ângelo, onde atualmente encontra-se a Igreja do Senhor dos Passos, foi sede da vida religiosa do povoado até 1778, quando foi fixada a pedra fundamental da nova matriz, a qual foi construída na parte baixa da cidade, próxima ao antigo forte, na Rua da Ladeira, atual Av. Júlio de Castilhos. Em três de outubro de 1779, essa matriz foi inaugurada com a transladação das imagens da Capela para a nova Igreja. Esta edificação possuía uma estrutura rudimentar, em taipa de bairro, e, rapidamente, começou a ruir, sendo substituída por um templo de pedra e alvenaria, erigido no mesmo local. Seu risco, possivelmente de 1790, é atribuído ao engenheiro militar Francisco João Roscio (1733– 1805), Governador da Capitania do Rio Grande de São Pedro entre 1801 a 1803.

Segundo o arcediago Vicente Zeferino Dias Lopes, a construção iniciou em 1791 e, no ano de 1801, a matriz foi inaugurada, embora ainda não estivesse totalmente concluída. Esta nova edificação conservou a mesma estrutura da antiga capela-mor do século XVIII, como nos informa o bispo José Caetano da Silva Coutinho (1768–1833), em 1815: “o corpo da igreja é magnífico, mas não tem as torres acabadas; a capela-mor é acachapada e fica mais baixa porque é ainda a mesma da igreja velha”.

No início do século XIX, com a conquista definitiva do território das Missões pelos portugueses (1801), Rio Pardo deixou paulatinamente seu posto de fronteira militar e começou a vivenciar um período de decadência econômica, conjuntura que afetou a conclusão da matriz. As obras da Igreja Nossa Senhora do Rosário, deste modo, prolongaram-se durante todo o século XIX e, neste processo, a igreja passou por inúmeras reformas.

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Em 1833, o engenheiro alemão Johann Martin Buff (1800–1880), residente na Vila de Rio Pardo desde a década de 1820, e encarregado da Comissão de Obras da Província, remeteu à Câmara Municipal um relatório sobre a matriz, no qual apontava que a igreja encontrava-se em “deplorável estado”, possuía um “triste aspecto”, “sem torres e com a capela-mor em estado de ruína”. Nesta correspondência, o engenheiro solicitava mais de 40 contos para o término na construção.

Além deste, outro relatório nos informa sobre o aspecto da matriz em meados do século XIX. Em 1835, o vigário Sebastião Pinto do Rego solicitava auxílio ao Governador da Província alertando para o estado de ruína da capela-mor, a mesma desde o primeiro templo, que era “muito pequena em proporção ao corpo, que parece acéfalo”. Não obstante, o vigário elogiava as proporções da matriz, “cujas linhas foram traçadas pelo erudito governador Roscio” e soava esperançoso afirmando que, se os reparos fossem realizados, o templo ocuparia “o primeiro lugar entre os melhores da Província”.

Além disso, também observava que, em sua administração, a igreja recebera “portas novas, púlpitos, coro, sacrário magnífico, assoalho reparado” e todas as imagens encontravam-se novamente encarnadas e envidraçadas.

Pela descrição deste pároco, sabemos que, no ano de 1835, a matriz contava, além do altar-mor, com seis retábulos laterais: Divino Espírito Santo, Nossa Senhora do Parto, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, São Miguel e São Francisco de Paula. Essa informação nos permite conhecer as irmandades que possuíam altares na Matriz.

Vale notar que, dentre as confrarias fundadas da cidade, a do Senhor dos Passos (1805) e a da Ordem Terceira de São Francisco (1785) já possuíam seus templos particulares.

Durante os anos da Revolução Farroupilha (1835-1845) ocorreu a paralização das obras

Johann Martin Buff nasceu em Rodelheim, próximo de Frankfur, Alemanha, onde provavelmente instruiu-se na Escola de Engenharia. Chegou ao Brasil em 1824 e combateu na guerra das Províncias Unidas do Rio da Prata (1825-1828); após o término do conflito, estabeleceu-se em Rio Pardo, trabalhando como engenheiro e agrimensor. Levantou a planta da Vila de Rio Pardo em 1829.

Grifos em vermelho nessa página tem como fonte: Relatório Técnico (1985). Arquivo Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo (RS).

Igreja Nossa Senhora do Rosário, início do século XX. Rio Pardo (RS). Acervo Paróquia Nossa Senhora do Rosário

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devido à estagnação econômica e à desordem na Província. Somente em 1846, a matriz recebeu auxílio proveniente das Loterias da Assembleia de modo que, em 1847, o engenheiro João Martinho Buff realizou um novo projeto para a igreja, com modificações na fachada e acréscimo das torres e do frontão. Em 1848, principiaram as obras, durante as quais, os ofícios religiosos foram transferidos para a Capela da Ordem Terceira de São Francisco. Em 1854, foi finalizada a torre norte e, em 1855, foram comprados dois sinos para o campanário. Em 1857, chegou, proveniente do Rio de Janeiro, um relógio que também foi instalado na dita torre. Em 1864, a capela-mor foi reformada, conservando-se o altar-mor original e, em 1867, Pelegrino Castilhoni foi encarregado da pintura da igreja. No ano seguinte, 1868, o engenheiro Carlos de Scherin colaborou no projeto do adro.

Foi somente em 1885 que a estrutura do templo e a torre sul foram concluídas. A obra foi realizada pelo

italiano Serafim Corso, exímio arquiteto e decorador que já havia realizado trabalhos do gênero em São Paulo, e seu auxiliar, Vicente Prato, os quais também decoraram a matriz. Para Schultz, a proposta arquitetônica de Corso alterou o projeto precedente, acrescentando ao risco atributos neoclássicos, traços observados no frontão e na sua decoração em estuque, além do arremate das torres. Na face sul da edificação, encontramos uma placa com indicação desta obra, na qual se lê: “Corso Seraphim Ital.Arch. Simul Vicentio Prato. Altera torre reformada HANC EREXIT ET FASTIGIUM DECORATIO ANE MOCCCLXXXV”. Igualmente, acredita-se que a alegoria do frontão, um baixo relevo, em estuque, com a representação de duas figuras aladas, seja de autoria de Corso.

AUTORIA Atribui-se o projeto da igreja matriz ao coronel Francisco João Roscio (1733–1805). Modificações posteriores foram realizadas em 1847 pelo engenheiro alemão João Martinho Buff (1800–1880), e, em 1885, pelo arquiteto italiano Serafim Corso.

Datas de nascimento e morte desconhecidas.

No século XX, ocorreram significativas mudanças estruturais, principalmente entre os anos de 1927 e 1930.

Nesta reforma, a capela-mor e a sacristia, remanescentes do século XVIII, foram reconstruídas, sendo que a capela-mor manteve as mesmas proporções e a sacristia foi reerguida somente do lado sul. Internamente, os altares foram alterados, os púlpitos foram suprimidos e as paredes, outrora lisas e caiadas, receberam pintura decorativa de autoria do artista bávaro Fernando Schlatter (1870– 1949). Por fim, em 1948, foi inaugurada a casa canônica, que envolve a capela-mor pelos lados sul e leste, e cujo acesso, mais tarde, foi interligado à sacristia.

Em 1980, a matriz recebeu o título de Patrimônio Histórico e Cultural da cidade. Em 1983, foi realizado um projeto de restauro, o qual foi retomado em 2010, mesmo ano em que recebeu o tombamento estadual pelo IPHAE – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Sul. 45

Datas de nascimento e morte desconhecidas.

Placa indicativa da obra realizada em 1885 por Serafim Corso Fachada lateral leste, Igreja Nossa Senhora do Rosário, Rio Pardo (RS)

a fachada

FRANCISCO JOÃO ROSCIO (1733–1805) Igreja Nossa Senhora do Rosário 46

A fachada da matriz destaca-se por seu porte verticalizado, de grandes dimensões e envergadura, com duas alterosas torres. O corpo é dividido em três tramos, o frontão é triangular e possui minucioso trabalho ornamental, no qual observamos duas figuras aladas, em estuque, portando um rosário. Ao centro, três janelas na altura do coro e, abaixo, três vultosas portas, de duas folhas de madeira, com ornamentação em cantaria, onde lemos o ano da construção do edifício, 1801.

A matriz, em virtude das sucessivas obras pelas quais passou ao longo dos séculos XIX e XX, diferencia-se dos demais templos religiosos do Rio Jacuí, com suas fachadas austeras, de fortaleza, e de mínima ornamentação. Embora o projeto original seja de autoria do engenheiro-militar Francisco João Roscio (1833–1805), é possível observar modificações estilísticas transpostas ao frontispício do templo, que descaracterizaram-no e lhe imprimiram sua feição atual. Este aspecto é notável no que concerne às torres, as quais dialogam com o corpo da matriz até o nível do frontão, porém, a partir deste ponto, erguem-se mais do que o previsto, alongando a fachada, em uma manifestação afinada com o estilo neoclássico.

A respeito do caráter historicista e eclético do frontispício, supõe-se que tal modificação foi principiada pelo risco do engenheiro alemão João Martinho Buff (1800–1880), na primeira metade do século XIX. Contudo, a visualidade oitocentista foi, certamente, reforçada pelas últimas reformas do arquiteto italiano Serafim Corso, em 1885, que atualizaram o frontispício do templo à voga ornamental, de compleição eclética.

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detalhes da fachada

Detalhe da alegoria do frontão Igreja Nossa Senhora do Rosário

Detalhe da decoração em cantaria na fachada Igreja Nossa Senhora do Rosário 48

o interior

Interior da Igreja Nossa Senhora do Rosário

A matriz apresenta planta retangular. É constituída por adro, nave única e capela-mor. Do lado norte da edificação, à esquerda, foi construído o consistório, o qual possibilita acesso às tribunas deste lado da nave; o lado sul, no entanto, carece deste complemento e, ali, as tribunas foram convertidas em janelas.

Ao adentrarmos o templo, nos deparamos com o adro sob o coro; à sua esquerda, encontra-se o batistério, e, à direita, o Mausoléu do Barão do Triunfo, General Joaquim José de Andrade Neves (1807–1869), herói da Guerra do Paraguai. Este monumento funerário, em mármore, foi erigido em sua homenagem por sua filha e apresenta elegante traçado neoclássico.

As paredes e o forro são decorados com pintura ornamental; no arco cruzeiro, um painel representa a celebração da Santa Ceia e, na capela-mor, observamos igual pintura da nave. No altar-mor, encontra-se entronada a imagem de Nossa Senhora do Rosário, padroeira da cidade e orago da matriz. À esquerda da capela-mor, localiza-se a Capela de Nossa Senhora da Soledade e, à direita, a sacristia com acesso à casa paroquial. Ainda, a matriz conta com sete retábulos, seis laterais e o altar-mor, todos em madeira, em tons creme, com resquícios de policromia e douramento.

Os seis retábulos estão dispostos de forma paralela, três em cada lado da nave. Do lado do evangelho, encontram-se: retábulo-colateral de Nossa Senhora das Dores, retábulo de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos,

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atualmente, altar de Santa Terezinha, e retábulo do Divino Espírito Santo. Do lado da epístola: retábulo-colateral do Sagrado Coração de Jesus, retábulo de São Francisco de Paula e o antigo altar de Sant’Anna, no qual, atualmente, encontra-se Nossa Senhora da Assunção.

No que tange ao desenho e ao trabalho escultórico da talha, destacam-se, no retábulomor, as vetustas colunas salomônicas sobre mísulas e, no altar-colateral de Nossa Senhora das Dores, o complexo risco, com elementos do barroco joanino e da decoração rococó, bem como os escudos ornamentais alusivos à Via Crucis, os quais dialogam com as imagens ali entronizadas (Nossa Senhora das Dores e Cristo Crucificado).

Ainda, o retábulo possui três elegantes anjos no seu coroamento; um ao centro, sobre o escudo, e dois primorosamente dispostos sobre os arranques do frontão.

O retábulo de Nossa Senhora das Dores e o altar-mor, deste modo, apresentam uma sofisticada composição e são, possivelmente, datados dos últimos anos do século XVIII; ademais, foram preservados das reformas oitocentistas e diferenciam-se sobremaneira dos retábulos da nave que, por sua vez, exibem uma fatura mais simplificada e menos ornamental.

Considera-se, portanto, que os altares da nave devem ter sido modificados nas várias reformas ocorridas ao longo do século XIX. Sobre isso, importante mencionar o caso do retábulo dedicado à Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, cujo escudo foi remodelado e no qual, atualmente, a cartela apresenta o orago da Ordem dos Carmelitas.

Igualmente, o altar do Sagrado Coração de Jesus, cuja imagem foi adquirida em 1918, foi alterado, uma vez que, outrora, era dedicado a São Miguel Arcanjo, como frequentemente encontramos na tradição do século XVIII.

Fernando Schlatter (1870–1949) Pintura do forro da nave, 1930

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RETÁBULO-MOR DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

Estima-se que o retábulo-mor de Nossa Senhora do Rosário tenha sido realizado no final do século XVIII, com modificações do início do XIX. Ele apresenta uma talha volumosa, com elementos dos estilos barroco joanino e rococó. Seu coroamento é em arcos e o arremate é formado por rocalhas onde, ao centro, anteriormente, encontrava-se a cartela com o monograma de Nossa Senhora.

O corpo do retábulo é sustentado por mísulas e constituído por colunas salomônicas, com o terço inferior estriado em diagonal e fuste torso adornado com folhas de acanto e elementos fitomorfos nos terços superiores; ainda, é ladeado por colunas de fuste liso ornadas com guirlandas de flores em diagonal.

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No intercolúnio, dois nichos com peanhas e dossel para a colocação de imagens. O camarim é escalonado e decorado com talha em rocaille e, ao centro, observa-se um rico nicho entalhado com dossel onde está assentada a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Nos degraus do camarim, estão dispostos seis anjos, três em cada extremidade do trono. Na base do retábulo, um rico escudo trabalhado por talha esgarçada em estilo rocaille. A mesa do altar possui escudo também ricamente trabalhado com elementos fitomorfos.

A imagem de Nossa Senhora do Rosário atualmente disposta no altar-mor pertencia à antiga Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em cujo altar, hoje, está disposta a imagem de Santa Terezinha. Esta substituição ocorreu em 1983 quando a antiga imagem da Virgem, proveniente da Bahia, em 1797, foi furtada.

RETÁBULO COLATERAL DE NOSSA SENHORA DAS DORES O retábulo colateral esquerdo de Nossa Senhora das Dores apresenta uma talha escultórica, com elementos do barroco joanino e do rococó. No coroamento do retábulo, encontra-se o escudo com a iconografia de Nossa Senhora das Dores: o coração transpassado por uma lança, o qual é ornado por guirlandas e flores. Sobre os arranques de frontão, dois anjos ladeiam o coroamento do retábulo, sobre o qual, outro anjo, central, sustenta um cálice. Os anjos laterais carregam, por sua vez, à esquerda, um martelo e, à direita, uma torquesa.

O corpo do altar é apoiado em mísulas e estruturado por colunas salomônicas, com o terço inferior estriado em diagonal e decoração com folhas de acanto. A ornamentação em talha possui elementos fitomorfos e antropomorfos, com anjinhos, e cartelas com os símbolos da Via Crucis entalhados em baixo relevo.

O frontal do altar é ornado por guirlandas e elementos fitomorfos, com escudo central, onde observamos os três punhais emoldurados pela coroa de espinhos, indicando a devoção à Nossa Senhora das Dores.

Por fim, os elementos iconográficos que decoram o altar são: à direita, a Santa Cruz com a lança e o cravo; à esquerda, a escada com o chicote; na base do retábulo, à esquerda, a coluna e o punhal e, à direita, o Santo Sudário contabilizando-se, assim, os sete elementos iconográficos da Via Crucis.

Nossa Senhora das Dores Retábulo-colateral de Nossa Senhora das Dores

Retábulo-colateral de Nossa Senhora das Dores 52

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OS SEIS RETÁBULOS DA NAVE LADO ESQUERDO

Retábulo de Santa Terezinha Antigo retábulo de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Retábulo de Nossa Senhora das Dores

Retábulo do Divino Espírito Santo

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LADO DIREITO

Retábulo do Sagrado Coração de Jesus

Retábulo de São Francisco de Paula

Retábulo de Sant’Anna

Atualmente, no nicho central, encontra-se a imagem Nossa Senhora da Assunção

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Nossa Senhora do Rosário Altar-mor da Igreja Nossa Senhora do Rosário

MARINO del FAVERO (1864–1943) Sagrado Coração de Jesus c.1918 Retábulo do Sagrado Coração de Jesus

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS A imagem do Sagrado Coração de Jesus, assentada no camarim do retábulo colateral direito, foi encomendada pelo Apostolado do Coração em 1918 e consagrada no altar em 1922. A peça foi realizada pelo Atelier de Arte Sacra de Marino del Favero (1864-1943), destacado artista italiano atuante na cidade de São Paulo no final do século XIX e início do século XX. A compra da imagem, por iniciativa das zeladoras do Apostolado Coração de Jesus, nos convida a refletir sobre as condições e aspirações da comunidade de Rio Pardo, bem como a estima que a comunidade possuía para com sua igreja, disposta a reunir fundos para adquirir uma imagem de um dos mais proeminentes escultores sacros, a nível nacional.

A imagem de Nossa Senhora do Rosário, orago da Igreja Matriz, ocupa o nicho central do retábulo-mor. Trata-se de uma escultura em roca, realizada em madeira policromada e semiarticulada. Vestida de azul claro e com um manto branco, a Virgem Maria segura em seus braços o Menino Jesus adereçado com uma bata branca. O elemento que caracteriza a imagem mais claramente é a presença do rosário, que perpassa o ombro esquerdo do Menino e a mão direita de Nossa Senhora. Possui base complexa e colorida em forma de nuvens com a presença de querubins.

Essa devoção, tem sua origem em 1214 d.C., na cidade de Toulouse, na França. São Domingos de Gusmão teria presenciado a aparição da Virgem Maria, que, no momento, lhe entregou o rosário e o instruiu sobre a conversão dos homens através de sua adoração.

A partir desse episódio, a Ordem dos Pregadores, ou dos Frades Dominicanos, se tornou responsável pela difusão do rosário.

A Imagem de Nossa Senhora do Rosário em questão provem da antiga irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da matriz, a qual estava entronizada no altar da irmandade. A imagem Nossa Senhora do Rosário “original”, que ocupava o retábulo-mor, foi substituída pela Nossa Senhora do Rosário dos Pretos após furto ocorrido na década de 1980.

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SENHOR MORTO E NOSSA SENHORA DA SOLEDADE Na capela de Nossa Senhora da Soledade, encontram-se duas esculturas devocionais, em madeira policromada, muito importantes para as festividades da Semana Santa em Rio Pardo: a imagem de roca de Nossa Senhora da Soledade e a imagem articulada do Senhor Morto.

Durante a Sexta-feira Santa, a imagem de Cristo é apresentada na cruz para a adoração dos fiéis, sendo realizada uma dramatização de sua descida da cruz. A partir disso, realiza-se a procissão do sepultamento, em que são levadas as duas imagens acompanhadas por um cortejo de fiéis. A imagem do Senhor Morto possui a representação de ferimentos e manchas de sangue espalhados pelo corpo, marcas de todo o martírio de que fala história de Cristo. Foi realizada na Bahia e adquirida pela Irmandade de Nossa Senhora das Dores em 1848 por 115 mil réis (LOPES, 1891, p.42) A invocação mariana da “Soledade”, por sua vez, traduz a saudade e a solidão sentidas pela Virgem Maria após a morte de seu filho. Com estrutura inferior em ripas de madeira e com braços articulados, a imagem está vestida com túnica e manto roxos com detalhes em dourado. O manto é bordado com delicadas e espaçadas flores e folhas. Também faz parte de sua ornamentação a cabeleira de fios naturais e uma coroa prateada e suas mãos encontram-se cruzadas sobre o peito.

Nossa Senhora da Soledade Capela de Nossa Senhora da Soledade Senhor Morto Capela de Nossa Senhora da Soledade

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O OLHAR DOS VIAJANTES No ano de 1867, o político e historiador mineiro, Barão Homem de Melo (1837–1918), visitou Rio Pardo e sublinhou o porte da igreja, ainda em construção: “no largo da Matriz, logo à entrada da cidade, avulta à direita a igreja paroquial, templo elegante e construído em grandes proporções, só inferior na Província à igreja de Viamão” (MELLO apud LAYTANO, 1946, p.28).

Antiga imagem de Nossa Senhora do Rosário entronizada no altar-mor, Igreja Nossa Senhora do Rosário, Rio Pardo (RS) Acervo Paróquia Nossa Senhora do Rosário 58

Em 1952, o historiador alemão Wolfgang Hoffmann Harnisch (1893–1965) esteve em Rio Pardo e observou: “a matriz de Rio Pardo é um dos templos mais lindos do estado. De proporções magníficas, a fachada é ornamentada com belíssima alegoria.

Naves imponentes e altares requintadamente bonitos.

(HARNISCH, 1952, p.404)

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DENOMINAÇÃO: Igreja Matriz São José

PROJETO: José Custódio de Sá e Faria (1710–

1792)

LOCALIZAÇÃO: Praça São José, Município de

Taquari, estado do Rio Grande do Sul

PROTEÇÃO: -

FREGUESIA: 1765

PADROEIRO: São José, 19 de março

IGREJA: Construção: 1768; 1799–1803

Inauguração: 1803 Reforma(s): 1900; 1906; 1935

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Antiga fachada da Igreja São José antes das reformas do século XX

Observamos a simplicidade da construção. A base da torre alcançava apenas a cumeeira do telhado, enquanto os sinos localizavam-se em um campanário, doutro lado da edificação. Fonte: (FARIA, 1982)

Fachada da Igreja São José, início do século XX. Fonte: (SILVA, 1972) 62

história O povoamento da região às margens do Rio Tebiquari (Taquari) iniciou em 1760 com a chegada de 14 casais açorianos transferidos ao local pelo Governador da Capitania, o Coronel Inácio Elói de Madureira (?–1764). A estes primeiros casais, foram incorporados mais 60, quando o novo Governador, José Custódio de Sá e Faria (1710–1792), fundou a povoação de São José do Taquari no ano de 1764. A escolha do nome teria sido um tributo de Sá e Faria ao monarca português, D. José I (1714–1777). Além do núcleo, Sá e Faria também erigiu um pequeno forte, de madeira, no Passo do Tebiquary, para a proteção dos habitantes.

No mesmo ano de 1764, foi construída uma capela, a qual foi elevada a Curato pelo Bispo do Rio de Janeiro. Com o crescimento do povoado e enfatizando a estratégia administrativa portuguesa – da utilidade de se estabelecerem vilas, uma vez que “quanto mais povoada a Província estiver, ter-se-á mais meios para a defesa das fronteiras com os espanhóis” – Sá e Faria considerou pertinente a edificação de uma igreja de maiores proporções, recebendo, em 1765, autorização do Vice-rei, Conde da Cunha (1700–1791), para construir a matriz; na mesma provisão, o Curato também era elevado a Paróquia.

Transcrevemos, a seguir, um trecho da correspondência do Vice-rei, Conde da Cunha, na qual este recomendava modéstia na edificação da nova matriz: ”pode V.S. principiar a nova igreja de São José, na forma em que ele [o Bispo] manda; porém, far-se-á esta obra tão modicamente que possamos com a despesa e para que sirva de se celebrarem os ofícios divinos àqueles moradores e não para a vanglória nossa”. Na mesma carta, o Vice-rei prometia a Sá e Faria os paramentos, pregos, e demais necessidades para as obras; além disso, também enviava uma imagem de São José, a qual chegou a Taquari em 1766.

As obras da nova igreja, contudo, foram prejudicadas pela escassez de recursos, cujas somas eram, sobremaneira, destinadas aos aparatos de defesa do território. Sobre esta situação, Sá e Faria informava ao novo Vice-rei, Conde de Azambuja, que até aquele ano (1768) apenas havia conseguido juntar a madeira para erigir a igreja, faltando-lhe os pregos, instrumentos e demais materiais que o outrora vice-rei, Conde da Cunha, havia-lhe prometido.

Sabe-se que as obras da igreja iniciaram em 1768; ainda, segundo relatos, em 1799, o estado da matriz era lamentável, com o teto desabando e sua madeira apodrecida. Quanto ao corpo do edifício, o relato do Monsenhor Pizarro(1753–1830) nos esclarece que a igreja era construída de pedra, cal e coberta de telha – ademais, possuía três altares. Em seu estudo sobre a Matriz de Taquari, Mons. J.M. Balem (1952) nos informa sobre as doações, apontadas nos livros das irmandades do Santíssimo Sacramento e São José, para o término da construção, cujas obras perduraram entre os anos de 1799 e 1803.

A primeira etapa da edificação foi concluída em 1803, porém a igreja ainda encontrava-se sem torre. À época, portanto, a construção possuía nave, base para receber a torre esquerda e um rústico campanário do lado direito. No dito ano de 1803, o mestre Francisco Gomes Pereira e sua oficina concluíram a capela-mor, pelo que se estima que o retábulo-mor, de traços rococó, seja desta data e, talvez, de sua autoria.

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Correspondência remetida por José Custódio de Sá e Faria para o Vice-rei, Conde de Azambuja, em 1768. Para mais informações, consultar (SILVA, 1972, p.65)

Ofício do Vice-rei do Brasil, Conde da Cunha, dirigido ao Governador do Continente do Rio Grande de São Pedro, Coronel José Custódio de Sá e Faria, em 1765.

Para consultar a transcrição, vide (BALEM, 1952, p.22)

Para mais informações, consultar: PIZARRO, José de Souza Azevedo e Araújo. Memórias históricas do Rio de Janeiro e das províncias annexas à jurisdicção do Vice-Rei do Estado do Brasil, dedicadas a El-Rei Nosso Senhor D. João VI (1820–1822). Tomo V, p.131

Sabe-se pouco sobre os reparos e obras ocorridos ao longo do século XIX, pois tanto a fachada como seu entorno sofreram sucessivas intervenções. Um dos únicos relatos encontra-se no jornal local, o Taquaryense, em artigo de 1899, transcrito por Augusto de Faria na sua monografia sobre o município (1912). O texto, entretanto, alude mais ao aspecto interior do templo, que portava um “suntuoso altar-mor”, possivelmente o mesmo que observamos atualmente, e quatro altares laterais.

A torre foi concluída em 1900. Em 1906, a igreja passou por reforma e repintura interna; em 1935, seu interior foi restaurado. Estas modificações foram concretizadas pela Ordem Franciscana (O.F.M.) que, que desde o ano de 1933, assumiu a administração da Matriz. No final da década de 1980, foram realizados novos reparos.

Atualmente, a igreja encontra-se em bom estado de conservação.

AUTORIA Ainda permanecem dúvidas quanto à autoria do projeto da igreja matriz de Taquari. Em 1764, o Vice-rei, Conde da Cunha, requereu à Sá e Faria a demarcação de terras e datas para os imigrantes açorianos. O engenheiro, deste modo, planejou o povoado que, de acordo com Rocca (2020), foi o único assentamento da Capitania do qual se tem o plano prévio. Todavia, também se atribui o desenho da primeira planta de Taquari (1767) ao ajudante de ordens de Sá e Faria, o engenheiro-militar Manuel Vieira Leão (1727–1803). Não obstante, o risco da matriz, com apenas uma torre, apresenta programa semelhante ao projeto de Sá e Faria para a Capela de Canelones, no Uruguai, em 1784 – o que pode indicar que ele tenha sido o autor da Matriz de São José.

CORRESPONDÊNCIA DO GOVERNADOR JOSÉ CUSTÓDIO DE SÁ E FARIA, 1768 Em 1768, ocorreu a substituição do Vice-rei, Conde da Cunha, por D. Antônio Rubim de Moura Tavares, Conde de Azambuja. Em virtude deste fato, o Governador José Custódio de Sá e Faria remeteu ao novo Vice-rei um extenso relatório sobre sua administração desde 1764. Neste depoimento, é possível acompanhar as dificuldades que a povoação enfrentou para ver construída sua igreja matriz.

“Logo que cheguei a este governo, procurei dar cumprimento a esta importante ordem [do Conde da Cunha, a respeito da organização dos casais açorianos], seguindo em tudo as de Sua Majestade que se acham nesta provedoria a respeito das mesmas famílias, e com efeito fundei a primeira povoação junto ao passo do rio Tebiquary, em situação que achei própria para as utilidades e lavouras dos mesmos povoadores, e lhe fiz com toda a regularidade em ruas, casas e praça; e, querendo dar princípio à igreja, só pude conseguir tirar as madeiras para ela do mato, porém não tive meios para meter mãos à obra. Pedi ao Sr. Conde da Cunha me mandasse as ferragens precisas, pregos e os paramentos para a dita igreja, e só me mandou a imagem do Senhor S. José, cuja vocação lhe pus em memória do nome de Nosso Augusto Soberano, e me avisou que os paramentos se ficavam fazendo, os quais não hão chegado, nem o mais, havendo passado muito mais de dois anos”.

Correspondência remetida por José Custódio de Sá e Faria para o Vice-rei, Conde de Azambuja, em 1768. Para mais informações, consultar (SILVA, 1972, p.65) 64

Interior da Igreja São José, c. 1906.

Observamos, na imagem, os antigos retábulos laterais junto ao arco-cruzeiro. Fonte (BALEM, 1952)

Interior da Igreja São José, c. 1935 Fonte (BALEM, 1952) 65

JOSÉ CUSTÓDIO DE SÁ E FARIA (1710–1792) Igreja Matriz São José, 1765

a fachada

A Matriz de Taquari está assentada junto à Praça São José. Possui uma fachada simples, com uma torre quadrangular arrematada por estrutura piramidal. Esta foi erguida posteriormente, em 1900, ano indicado na fachada, e destoa do restante do corpo do edifício – uma vez que não foi erigida no mesmo prumo da base, sendo concluída com a parte superior recuada e com a

planta baixa mais reduzida (WOLKMER, 1996, p.230).

No corpo principal, uma porta em arco abatido; acima, três janelas, com vitrais, iluminam o coro internamente. Ao centro, no frontão triangular, um dos únicos detalhes ornamentais da fachada: uma reminiscência de óculo, hoje remodelado, onde foi incrustado um lírio, flor que nos remete ao orago da matriz, São José.

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o interior Atualmente, a matriz possui quatro altares: um retábulo-mor; dois retábulos colaterais; um retábulo lateral e uma “grutinha” de Nossa Senhora de Lourdes – modificação, posterior, mencionada no artigo do Taquaryense de 1899.

Os retábulos foram confeccionados em madeira e possuem policromia clara, com ornamentação acobreada e dourada. O altar-mor apresenta características do estilo rococó, típicas do final do século XVIII e início do século XIX, porém, os outros dois altares são de fatura posterior, possivelmente de 1906, alterando consideravelmente a ambientação da igreja. O retábulo colateral esquerda é dedicado a Nossa Senhora do Rosário, onde está disposta uma belíssima imagem da Virgem, enquanto o retábulo colateral direito é dedicado a Santo Antônio. O forro é em abóboda de berço e a matriz também conta com coro e para-vento.

O retábulo-mor, de autoria desconhecida, foi concluído em 1803, e conserva grande parte de sua fatura original. Sua talha se caracteriza pelos ornamentos fitomorfos, com presença de festões e flores de desenho esgarçado; além disso, tem como principal elemento decorativo as rocalhas, típicas do estilo rococó, tratam-se de conchas estilizadas, ornamento muito difundido nas gravuras e manuais decorativos do século XVIII. Ainda, observa-se que, ao contrário da assimetria do programa rococó, na decoração deste altar, as rocalhas, esgarçadas em filetes de talha, apresentam uma composição simétrica. Quanto ao arremate do retábulo, sua ornamentação é mais pesada no frontão curvo e vai suavizando-se à medida que se aproxima da mesa do altar. Nota-se, ainda, que é uma talha em “apliques”, sem muita ênfase na estrutura arquitetônica.

Interior da Igreja São José Taquari (RS) 67

No nicho central do retábulo-mor, encontra-se a imagem do orago da matriz, São José – uma imagem contemporânea, em gesso –, ladeando o altar-mor, à esquerda, São Francisco de Paula, e à direita, São Francisco de Assis. Ainda, destacam-se os belos anjos sobrepostos na mesa do altar, cuja delicadeza e feição rafaelita nos remete à estatuária, em gesso, do início do século XX. Estes anjos foram realizados por Harry Roehe, fundador e sócio do Atelier de Arte Christã Roehe & Allgayer, famosa casa de peças sacras da cidade de Porto Alegre durante o século XX. Este dado, inédito, foi localizado na presente investigação.

Destacam-se, ainda, os sacrários presentes junto ao retábulo-mor e ao retábulo-lateral esquerdo da nave. Aquele anexo ao retábulo-mor possui contorno de talha belíssimo, com elevações 68

Retábulo-mor, c.1803

detalhe da ornamentação do retábulo-mor,

c.1803

fitomorfas que emolduram a composição; ao centro, observamos um baixo relevo, simulando uma custódia, desenhada por uma curva sinuosa. O sacrário do altar lateral esquerdo da nave está disposto sobre o frontal, sua talha compartilha da fatura rococó do altar-mor e sua estrutura está perfilada por padrões fitomorfos; no arremate, o conjunto é finalizado por uma pomba do Divino Espírito Santo. Além disso, ainda é possível observar resquícios de pigmentação azul na sua estrutura.

Dentre as peças de imaginária, destacam-se, no retábulo colateral esquerdo, a belíssima imagem de Nossa Senhora do Rosário, em madeira e com panejamento esvoaçante, e as imagens de São José e do Cristo Morto, ambas preservadas na sacristia da Paróquia.

detalhe do sacrário do retábulo-mor, c.1803

HARRY ROEHE Anjo, início do século XX Capela-mor, Igreja São José, Taquari (RS) 69

HARRY ROEHE Detalhe de anjos, início do século XX Capela-mor, Igreja São José, Taquari (RS) 70

Detalhe do sacrário do retábulo lateral

Igreja São José

Detalhe da placa de identificação da escultura “Anjo’’ “Instituto de Arte Christã de Harry Roehe’’

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SÃO JOSÉ

A imagem do patrono São José encontra-se na sacristia da igreja. Considerase que, por ter sido presente do Vice-Rei, Conde da Cunha (1700–1791), seja uma obra do terceiro quartel do século XVIII e de possível fatura portuguesa.

Em talha de corpo inteiro e madeira, a peça possui carnação realista do rosto, pescoço e mãos; o menino, todavia, recebeu repintura. Ambos possuem olhos de vidro. São José foi esculpido vestindo túnica e manto estofados nas cores azul acinzentado e ocre, com douramento e detalhes de punção nos ornamentos em formato de folhas. Sobre a cabeça possui um resplendor de metal prateado.

São José sustenta com o braço esquerdo a figura que representa o Menino Jesus. Com o bracinho estendido, o menino parece estar se aproximando para acarinhar o rosto do pai. Na mão direita, o Santo leva como atributo uma vara florida de lírios brancos, que representa sua pureza e dignidade como pai adotivo de Jesus. No mês de março, a paróquia realiza uma festa em homenagem a São José, a qual se encerra no dia 19, quando, para dar fechamento às festividades, é realizada a procissão em honra ao Santo.

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Detalhe do trabalho de esgrafito na veste da imagem de São José

Detalhe do Menino Jesus, imagem de São José 73

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DENOMINAÇÃO: Igreja Matriz Santo Amaro

PROJETO: Alexandre José Montanha (1730–

1800)

LOCALIZAÇÃO: Santo Amaro do Sul, distrito

homônimo no Município de General Câmara, estado do Rio Grande do Sul

PROTEÇÃO: Tombamento Federal – IPHAN

(1998)

PADROEIRO: Santo Amaro, 15 de janeiro

FREGUESIA: Fundação: 1773 IGREJA: Construção: 1774

Inauguração: 1787

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história Na margem esquerda do rio Jacuí, três léguas acima da Freguesia do Senhor Bom Jesus do Triunfo, estabeleceu-se em 1752 um depósito de provisões para auxiliar na Expedição Demarcatória do Tratado de Madri (1750), coordenada por Gomes Freire de Andrade (1685–1763). No local, já havia um pequeno forte, construído por ordem de José da Silva Paes (1679–1760) no terceiro decênio do século XVIII, onde fora erguida uma capela dedicada a Santo Amaro.

A partir deste entreposto militar, em 1763, a Capela foi elevada a Curato. Anos mais tarde, a região começou a receber novos habitantes, principalmente, em 1771, quando casais açorianos se estabeleceram no entorno e, assim, por Provisão de 18 de janeiro de 1773, o Curato passou à Paróquia, desmembrando-se da Freguesia de Bom Jesus do Triunfo.

No ano de 1774, a pedido do Governador Marcelino de Figueiredo (1735–1814), o Capitão e engenheiro-militar Alexandre José Montanha (1730–1800) dirigiu-se à localidade para demarcar as datas e riscar o traçado urbano da praça e das ruas, a fim de ali acomodar casais açorianos que ainda encontravam-se sem fixação definitiva. Por este motivo, muitos pesquisadores atribuem a Montanha o traçado da Igreja, embora tal parecer não seja conclusivo. Sabe-se, entretanto, que antes da atual matriz, existia uma primitiva capela, a “matriz velha”, erigida junto ao forte.

Em 1786, a nova igreja já estava em construção e, em 1787, foi inaugurada.

Esta data encontra-se registrada no friso sobre a porta do templo. Sobre o estado da Matriz nos últimos decênios do século XVIII, Monsenhor Pizarro (1753– 1830), representante do Bispo do Rio do Janeiro nas visitas pastorais, observou que a igreja era “construída de pedra, cal e coberta de telha”.

Desconhecem-se maiores dados sobre a matriz ao longo dos séculos XIX e XX. Somente nos foi possível averiguar que, assim como no momento de sua construção, a Irmandade do Santíssimo Sacramento e Santo Amaro permanece atuante como a instituição responsável pela manutenção da igreja. Entre suas principais características, a confraria é formada exclusivamente por homens e sua identificação é a opa em cor vermelha.

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Frontão e óculo da Igreja

Para mais informações, consultar: PIZARRO, José de Souza Azevedo e Araújo. Memórias históricas do Rio de Janeiro e das províncias annexas à jurisdicção do Vice-Rei do Estado do Brasil, dedicadas a El-Rei Nosso Senhor D. João VI (1820–1822). Tomo V, p.128.

Em 1998, o conjunto histórico da cidade de Santo Amaro foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN. Este tombamento contemplou as 14 edificações da vila, a Matriz e a Praça Marechal Câmara. O traçado urbano de Santo Amaro, mantido praticamente com sua conformação original do século XVIII, foi um dos principais motivos para o reconhecimento da vila como patrimônio nacional.

Nos anos mais recentes, entre 2006 e 2008, a Matriz foi restaurada através de uma parceria entre o Centro de Memória e Cultura de Venâncio Aires e o Centro de Pesquisas Arqueológicas – CEPA, da

Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Nesta empreitada, realizou-se pesquisa e trabalho de campo, além de escavações arqueológicas. A respeito destas foram encontrados indícios de sepultamentos em torno da Matriz, bem como dentro de sua capela-mor.

AUTORIA

O risco da igreja matriz Santo Amaro é atribuído ao engenheiro-militar Alexandre José Montanha (1730-1800) por este ter sido responsável pelo traçado urbano da vila em 1774.

Porta da Igreja Santo Amaro 77

A FACHADA A igreja destaca-se pelo seu grande porte e pela graciosa ornamentação em cantaria. Sua fachada caracteriza-se pela horizontalidade e é dividida por um corpo central ladeado por dois prolongamentos de parede, que, por sua vez, servem de base às sineiras. Estas “falsas torres”, cuja divisão é demarcada por pilastras, também dão suporte à estrutura do edifício, na forma de contraventamentos de alvenaria justapostos à frontaria. O frontão é curvilíneo e onduloso e o conjunto, apesar da sua envergadura e sisudez, é rendilhado com graça. As pilastras do frontispício e das falsas torres são decoradas por coruchéus que dinamizam o coroamento da fachada.

Nota-se, também, que o desenho do frontão é repetido no arremate das sineiras.

No frontão, destaca-se um óculo poligonal emoldurado por friso e, abaixo, no corpo central, três janelas com vitrais iluminam o coro – o acesso ao coro, antanho, era feito pela lateral da edificação. No primeiro nível, observamos uma grande porta com guarnições em pedra lioz, decorada por graciosos frisos sinuosos, nos quais também foi delineado um coração com ramos. Na porta, entre os frisos, foi indicado o ano de inauguração da igreja, 1787.

Por fim, observa-se que a expressão monumental do templo foi obtida através das proporções avantajadas das falsas torres, que transmitem uma escala maior do que àquela existente – definida pelo corpo central. As grandes dimensões da Matriz também permitem que a igreja seja reconhecida à distância, do outro lado da praça ou da margem do rio Jacuí. Esta qualidade, de caráter estratégico, dialoga com o aspecto de fortaleza da edificação, partido adotado nos projetos de cariz castrense na Província e que, vale notar, possuíam à época duas interpretações: abrigo, para os súditos da Coroa e cautela – para os espanhóis que intentassem invadir a Freguesia.

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Alexandre José Montanha (1730–1800) Igreja Santo Amaro, 1787 Santo Amaro do Sul, General Câmara (RS)

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Detalhe do campanário da Igreja Santo Amaro

Detalhe dos frisos e da inscrição “1787’’ Porta da Igreja Santo Amaro

Janelas da fachada da Igreja Santo Amaro 80

O INTERIOR

dependente. O coroamento é em frontão estilo “balestra” apoiado por volutas e o corpo do retábulo é disposto por colunas de fuste reto, com terço inferior torso, sobre bases misuladas. Ao centro, camarim central ornado com perfil de tribuna e, na extensão parietal, dois nichos laterais com peanha e dossel. Nota-se que no retábulo lateral direito, o altar é escalonado. As mesas de ambos retábulos são em formato trapezoidal.

O interior da igreja é formado por nave única e capela-mor. O átrio é delimitado pela presença de dois pilares de madeira que estruturam o coro. Sob ele, à esquerda, encontra-se o batistério de pedra e à direita um pequeno altar com uma réplica da imagem de Santo Amaro, contemporânea, encomendada na Bahia.

A nave possui três retábulos (altar-mor e dois colaterais), todos em madeira com pintura na cor amarela e azul, com elementos florais dourados. O retábulo-mor é dedicado a Santo Amaro e possui uma talha esguia e simétrica, com padrões fitomorfos e desenho esgarçado em estilo rococó, no frontão, um escudo envolto em resplendor apresenta as insígnias de Santo Amaro: a mitra e o báculo; no centro do altar, a imagem do Santo.

O frontão dos retábulos é decorado por guirlandas de flores sustentadas por anjos apoiados sobre arranques de frontão. Estes anjos foram esculpidos com formosidade, embora as camadas de repintura impossibilitem análise mais apurada. Ao centro, uma tarja apresenta a invocação iconográfica de cada retábulo: no lado da Epístola, observamos a imagem de duas balanças, identificando a invocação de São Miguel Arcanjo; no retábulo do Evangelho, centralizada no escudo, uma estrela contornada por um rosário indica a devoção à Nossa Senhora. As

Os retábulos colaterais se destacam por um risco longilíneo com ênfase na arquitetura. Acima dos retábulos, foi disposta uma estrutura de sanefa, inInterior da Igreja Santo Amaro

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Destaca-se que os anjos no arremate dos retábulos também são encontrados na talha da igreja de Rio Pardo e são comuns em retábulos de influência do barroco joanino Nota-se, por fim, que a retabilística deste templo sofreu muitas intervenções e camadas de repintura e, além disso, segundo o relato de Monsenhor Pizarro mencionado anteriormente, a Matriz contava com cinco altares, que reformas posteriores suprimiram.

imagens dispostas nestes altares não possuem fixação definitiva e, portanto, estão desassociadas da leitura iconográfica original.

A partir da análise morfológica e estilística, estima-se que os altares foram realizados no final do século XVIII, uma vez que sua tipologia e risco muito se assemelham aos exemplares encontrados nas igrejas de Rio Pardo e de Viamão; o altar-mor, entretanto, sugere um trabalho posterior, do início do século XIX.

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Retábulo-colateral do lado do Evangelho (à esquerda) Retábulo-mor (ao centro) Retábulo-colateral do lado da Epístola (à direita)

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Detalhe

do frontão do retábulo-colateral

do lado da Epístola

Anjo do frontão, retábulo-colateral 84

SANTO AMARO: NOME DO POVOADO Francisco Pereira Rodrigues (2007) nos informa sobre a história do nome do povoado: em 1635, após um longo dia de viagem, o bandeirante Luiz Dias Leme e sua tropa pernoitaram em um arroio afluente do rio. No dia seguinte, explorando o local, o bandeirante notou que as águas avançavam para ambos os lados e se aprofundavam para o horizonte. Na paragem, havia um enorme banco de areia que formava uma península e que, disposta a favor da correnteza, voltava-se para a terra firme delineando uma enseada por um estreito gargalo. Dias Leme deu-lhe o nome de Forqueta de Santo Amaro, forqueta, indicando a confluência dos dois cursos da água em ângulo agudo (os rios Jacuí e Taquari), e Santo Amaro, em tributo ao Santo de sua devoção.

SANTO AMARO No altar-mor está entronada a imagem de Santo Amaro. Acredita-se que o Santo teria nascido em Roma no século V d.C., e que teria se tornado discípulo de São Bento ainda jovem. Suas principais características são a obediência e a humildade, recorrentes nos santos de vida monástica. Nessa imagem, Santo Amaro é representado como um homem com barba e bigode longos e grisalhos, vestindo batina e capa pluvial. Como teria se tornado abade e responsável por implantar o mosteiro beneditino na França, é representado usando a mitra na cabeça, e segurando o báculo na mão esquerda, insígnias também utilizadas pelos bispos. A mão direita está posta em sinal de benção. Em 15 de janeiro, dia de Santo Amaro, é realizada a procissão em que é levada essa imagem, e que encerra as festividades do distrito histórico.

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SÃO BENTO São Bento foi o fundador da Ordem Beneditina em 529 d.C.,a mais antiga ordem católica de clausura. A imagem, em madeira policromada, é conferida de movimento a partir das linhas curvas do planejamento; possui encarnação realista, expressão grave, olhos de vidro, policromia escura e base simples.

A hagiografia de São Bento está repleta de milagres concedidos através da oração. A ordem dos beneditinos tem como regra principal “Ora et Labora”, ou seja, “ore e trabalhe”, e seus monges também devem seguir um caminho de humildade, obediência, assistências aos mais necessitados e promoção do ensino. Aparece como um patriarca, vestindo o hábito preto com capuz, utilizado até hoje pelos monges beneditinos, com barba e bigode longos grisalhos, em sinal de sua sabedoria. A imagem encontra-se danificada, sem os dedos da mão direita, que originalmente poderiam estar fazendo um sinal de bênção, ou estar segurando um báculo, como pastor, guia de seus monges e devotos. Com o braço esquerdo, levando em consideração a posição em que se encontra, poderia estar segurando o livro de regras da ordem que fundou.

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DENOMINAÇÃO: Igreja Matriz Nossa Senhora

da Conceição

PROJETO: Francisco João Roscio (1733–1805)

LOCALIZAÇÃO: Praça Baltazar de Bem,

PROTEÇÃO: Título de Monumento Histórico do

Município de Cachoeira do Sul, estado do Rio Grande do Sul

Município (1969) Tombamento da fachada COMPAHC (1985)

FREGUESIA: Fundação: 1779

PADROEIRO: Nossa Senhora da Conceição, 08

de dezembro

IGREJA: Construção: 1793

Inauguração: 1799 Reforma(s): 1874; 1930; 1963–1983

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Igreja Nossa Senhora da Conceição c. 1880 Cachoeira do Sul (RS) Antiga fachada da igreja Nossa Senhora da Conceição de Cachoeira do Sul após a reforma de 1874. Acervo Museu Municipal de Cachoeira do Sul – Patrono Edyr Lima

história

A partir de 1750, a região de Cachoeira do Sul passou a ser ocupada por bandeirantes paulistas, os quais receberam sesmarias do governo português a fim de povoar o lugar denominado Cachoeira do Fandango, salto do rio Jacuí próximo ao rio Botucaraí. Em princípios de 1751, militares lusos, cumprindo ordens da Expedição Demarcatória do Tratado de Limites, fundaram ali um pequeno forte, junto ao qual estabeleceu-se a pequena povoação, composta por estancieiros, peões, indígenas e casais açorianos que chegaram à região em 1753.

Em 1760, foi edificada uma capelinha junto ao forte, coberta de capim, e dedicada a São Nicolau, onde os habitantes e os indígenas missioneiros transferidos para Cachoeira, em 1759, realizavam seus cultos. Com o crescimento da população, o Governador Marcelino de Figueiredo (1735–1814) requereu ao Bispo do Rio de Janeiro autorização para erguer uma capela independente, desmembrando a Capela de São Nicolau do Botucaraí, um dos primevos nomes de Cachoeira do Sul, da Freguesia de Rio Pardo. Em 10 de julho de 1779, a Capela de São Nicolau foi elevada à Freguesia, com a denominação de Nossa Senhora da Conceição.

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Devido à criação da Paróquia (1779), os habitantes reuniram fundos para construir uma nova igreja, a qual foi erigida na principal praça da cidade. Esta primeira matriz, muito rudimentar, foi logo considerada inapropriada pelos párocos. Em 1782, o Pe. Dr. Vicente José da Gama Leal descreveu a igreja como “inadequada” e “com suas imagens deterioradas”; além deste, na visita canônica de 1790, o Pe. Agostinho José Mendes dos Reis defrontou-se com a mesma condição, reportando a “indecência da igreja e das imagens” e a “falta de asseio e cuidado no culto divino” (RUBERT, 1994. p. 105-108).

A fim de remediar a situação, as irmandades do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora da Conceição prin-

Remodelação da fachada, c.1929.

Acervo Museu Municipal de Cachoeira do Sul – Patrono Edyr Lima

cipiaram um novo templo. A pedra fundamental desta igreja foi lançada em 1793 e a autoria do seu risco é atribuída ao engenheiro-militar Francisco João Roscio (1733–1805). A construção do templo ficou a cargo das irmandades, as quais, para facilitar os trabalhos, instalaram uma olaria nas várzeas da cidade, onde eram queimados os tijolos utilizados na edificação.

Em 1798, assumiu o pároco Inácio Francisco Xavier dos Santos, o qual foi grande responsável por impulsionar as obras da matriz e, logo, em 1799, o templo foi inaugurado, mesmo não estando totalmente concluído. Na primeira celebração, ocorreu a transladação das imagens da antiga capela para a nova matriz, onde está localizada a atual igreja.

Datas de nascimento e morte desconhecidas.

Atas da Câmara Municipal de Cachoeira do Sul: obras e melhoramentos.

Correspondência de 9 de agosto de 1854.

Arquivo Municipal de Cachoeira do Sul (RS).

Em 1820, foi adquirida uma lâmpada do Santíssimo, em prata, vinda do Rio de Janeiro e, embora já se oficiasse missa, a capela-mor permanecia sem retábulo; este e o altar do Santíssimo Sacramento foram realizados em 1825 pelo entalhador carioca, residente em Porto Alegre, Maurílio Antônio Telles. Entre as décadas de 1820 e 1830, a capela-mor e as paredes laterais estavam finalizadas, contudo, por falta de meios, a obra foi paralisada.

Nas primeiras décadas do século XIX, o templo ainda encontrava-se sem a elevação das torres. Em 1852, as irmandades receberam auxílio da Assembleia Provincial, pois o consistório e a sacristia necessitavam de reparos urgentes. No mesmo ano, uma comissão de obras da Matriz solicitou ao engenheiro Frederico Heydtmann (1802–1876) uma nova planta para a igreja. O projeto e a descrição do orçamento de todo material necessário para a elevação da torre sul foi remetido pelo profissional em 1854. As obras do corpo da matriz prosseguiram em 1862 e, em 1865, foi reformado o telhado da capela-mor. No inicio de 1870, por fim, a matriz estava quase concluída, não obstante, em 1874, a parede do frontispício começou a ruir e foi necessário demolir toda a antiga e primeva fachada para reconstruí-la.

O ano de 1874, portanto, marca a primeira reforma, na qual o antigo óculo foi modificado e o frontão triangular recebeu uma decoração neogótica, de provável gosto ou influencia alemã – lembrando que os imigrantes alemães começaram a se es91

tabelecer na região a partir de 1857. A fachada, portanto, assumiu uma gramática ornamental historicista, na qual o frontão da matriz foi escalonado com pináculos. Este novo risco, que muito se aparta da geometria e simplicidade militar, é atribuído a Frederico Heydtmann. Em 1875, foi colocado o relógio da torre e, em 1897, a matriz finalmente estava concluída.

Durante o século XX, o templo sofreu várias modificações, as quais reverberam o discurso arquitetônico de caráter positivista, alinhado com o estado laico, e desejoso de modernização. Entre os anos de 1927 e 1929, ocorreu a segunda reforma, obra realizada pelo arquiteto Victorino Zani (1900–1960). Nascido em Caxias do Sul (RS) e filho de imigrantes italianos, o projetista atuava em Porto Alegre e tornou-se reconhecido em todo o Rio Grande do Sul pela construção e reforma de igrejas.

Na matriz de Cachoeira do Sul, Zani remodelou o frontispício, avançando o corpo da fachada, concebendo a base do monumento para a colocação da imagem de Nossa Senhora da Conceição. Também elevou as torres, que receberam um novo acabamento historicista com pináculos, e projetou as portas e os adereços ornamentais.

Nesta intervenção, inaugurada em 1929, também foram acrescentados os mosaicos do adro. Internamente, o novo altar-mor foi consagrado em 1930.

No ano de 1954, foi realizada pintura externa e interna da igreja pelo pintor Roman Riesch e, em 1963, principiou-se a terceira reforma, com a intervenção e ampliação da nave da igreja. Nesta, os retábulos foram removidos, as capelas fundas foram alteradas e a nave foi ampliada, conservando-se apenas o retábulo do Santíssimo Sacramento.

Em 1983, concluíram-se as obras. Em 1991, foi criada a Diocese de Cachoeira do Sul. Em 1996, realizou-se nova pintura e, em 2002, iniciaram as obras de reforma do telhado. Em 2007, deu-se seguimento ao novo projeto de restauração da igreja com reforço em uma das torres. Em 2014, foram inseridos os atuais vitrais da nave e, em 2017, ocorreu a última obra de restauração com pintura externa.

Por fim, sobre a proteção da edificação, em 1969, a Matriz recebeu o título de Monumento Histórico do Município e, em 1985, sua fachada foi tombada pelo COMPAHC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico-Cultural) de Cachoeira do Sul. 92

Interior da Igreja Nossa Senhora da Conceição, c. 1920.

Na fotografia, observamos o antigo retábulo-mor, ladeado pelas imagens de São João Baptista e São Francisco de Paula, os retábulos laterais e as duas capelas fundas da nave. Acervo Museu Municipal de Cachoeira do Sul – Patrono Edyr Lima.

Datas de nascimento e morte desconhecidas.

Para consultar o relato completo, vide: RIHGRGS, n.79(1940), p.8-48.

O OLHAR DOS VIAJANTES

AUTORIA

Em 1856, o político Dr. Luiz Alves de Oliveira Bello (1817–1865) escreveu em seu Diário de uma excursão eleitoral pela Província, “vi a igreja, que é mais espaçosa do que a Catedral de Porto Alegre; tem cinco altares e duas capelas fundas, além da capela-mor; tem bons consistórios e é muito bem construída. Seu plano foi traçado pelo Coronel Roscio e sua construção é de 1793. É incontestavelmente um dos melhores templos da Província. As torres, porém, ainda estão por acabar e todo o edifício necessita de retelho, e de reboques no interior”.

A autoria do primeiro risco da matriz de Cachoeira do Sul é atribuída ao engenheiro-militar Francisco João Roscio (1733–1805); no entanto, com o passar dos anos, a igreja apartou-se muito do projeto original. Em 1874, o frontispício encontrava-se em ruínas e foi reconstruído, conservando-se a estrutura original do corpo do edifício e alterando-se sua fachada; obra cuja autoria, possivelmente, é do engenheiro alemão Frederico Heydtmann (1802–1876). Ademais, em 1929, a fachada da matriz foi completamente remodelada pelo arquiteto Victorino Zani (1900–1960), o qual imprimiu à igreja sua feição atual, de visualidade eclética.

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Antigo altar-mor, inaugurado em 1930 Igreja Nossa Senhora da Conceição, Cachoeira do Sul (RS) Acervo Museu Municipal de Cachoeira do Sul – Patrono Edyr Lima

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Antigo retábulo de Nossa Senhora d Igreja Nossa Senhora da Conceição, Acervo Museu Municipal de Cachoe

do Rosário

Cachoeira do Sul (RS) eira do Sul – Patrono Edyr Lima

Retábulo do Santíssimo Sacramento Igreja Nossa Senhora da Conceição, Cachoeira do Sul (RS) Acervo Museu Municipal de Cachoeira do Sul – Patrono Edyr Lima Na imagem, observamos o retábulo antes da repintura da década de 1950.

Além disso, entronizada no camarim, vemos a escultura de Nossa Senhora da Conceição, a qual, hoje, encontra-se na capela-mor da igreja.

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VICTORINO ZANI (1900–1960) Escultura de Nossa Senhora da Conceição, 1929.

VICTORINO ZANI (1900–1960) Detalhe ornamental da fachada, 1929

A FACHADA O projeto inicial da matriz possuía a singeleza e austeridade das demais igrejas erigidas às margens do rio Jacuí. A obra contemplava duas torres, frontão triangular com óculo, estrutura em alvenaria portante e grossas paredes.

No histórico, abrangemos algumas das reformas: primeiramente em 1874, quando se reconstruiu o frontispício da igreja e, em 1929, quando a fachada foi reformulada.

Atualmente, a matriz de Cachoeira do Sul apresenta uma visualidade eclética, de repertório ornamental neoclássico. Seu frontispício possui duas torres elevadas com coroamento em pináculo. O corpo central foi avançado e conta com três portas, uma rosácea e, ainda, uma estrutura de pilastras e colunas que sustentam uma edícula sobre a qual está disposta a imagem de Nossa Senhora da Conceição.

Nesta fusão de estilos, observamos as várias modificações realizadas nos séculos XIX e XX: elevou-se a altura do templo, a nave foi ampliada e sua fachada seccionada para dar mais leveza ao frontão. De acordo com Wolkmer (1996), tais reformas visaram imprimir à matriz uma aparência atualizada, com atributos republicanos que, por sua vez, suprimiram as características que vinculavam o templo ao período colonial. Deste modo, os elementos compositivos, os traços geométricos, a horizontalidade e sobriedade que transmitiam a impressão severa e pesada dos templos de antanho foram retirados, dissolvendo-se os aspectos que, outrora, a Matriz compartilhava com as demais obras dos engenheiros-militares na Província.

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Francisco João Roscio (1733–1805) | Victorino Zani (1900–1960) Igreja Nossa Senhora da Conceição. Erigida em 1793, reconstruída em 1874 e remodelada em 1930

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Interior da Igreja Nossa Senhora da Conceição

O INTERIOR O interior da matriz é constituído por adro, coro, uma ampla nave e um altar-mor contemporâneo, onde estão dispostas as imagens do Sr. Crucificado e de Nossa Senhora da Conceição. À direita do altar-mor, localiza-se a Capela do Santíssimo Sacramento, na qual, ao fundo, ergue-se o belíssimo retábulo do Santíssimo realizado pelo entalhador Maurílio Antônio Telles, em 1825. Esta capela, bem como o altar, receberam uma pintura decorativa em tons rosa, creme e azul.

O retábulo do Santíssimo Sacramento, em madeira, possui elementos decorativos do estilo rococó, porém sua estrutura arquitetônica é condicionada pela verticalidade e simetria, traços que já estão afinados com a corrente neoclássica do século XIX. O retábulo é elegante e quase não possuiu decoração e ornamentos, seu porte é constituído por elementos arquitetônicos rendilhados, que sugerem movimento e leveza.

O coroamento do retábulo é apoiado em volutas sobre largo cornijamento e o arremate é ornamentado com rocalhas; ao centro da cartela, um baixo relevo com um resplendor indica a invocação ao Santíssimo Sacramento.

O corpo do retábulo é sustentando por colunas de fustes retos, estriadas, e por pilastras em quartelões junto ao nicho central; o camarim possui perfil de tribuna e, sobre um trono trapezoidal, está colocada a imagem do Divino Espírito Santo. Toda a estrutura é apoiada em volumosas e bem esculpidas mísulas. O frontal do altar é decorado com frisos e uma ânfora da qual saem ramos e flores.

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MAURÍLIO ANTÔNIO TELLES Retábulo do Santíssimo Sacramento (1825–1829) Capela do Santíssimo Sacramento

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MAURÍLIO ANTÔNIO TELLES, entalhador dos retábulos da Matriz Em 1825, a Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição encomendou ao entalhador carioca Maurílio Antônio Telles, residente em Porto Alegre (RS), a feitura do retábulo-mor e do altar do Santíssimo Sacramento os quais, juntos, somaram mais de três contos de réis. Em 1829, foi pago ao Mestre a última prestação dos altares, junto de uma vultosa gratificação “pelo bem que desempenhou a obra de que foi encarregado”, bem como pelo acréscimo de peças e modificações realizadas nos retábulos e que não estavam compreendidas nos riscos originais “mas que se fizeram precisas para mais os aformoziar”, as quais foram muitíssimo aprovadas pelos comitentes.

Livro Resolução de Mesa do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição (1824– 1852), 1825, f. 25v-26; 1829, f.29-30v.

Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul (RS)

Detalhe da assinatura do entalhador Maurílio Antônio Telles, 1829 Livro Resolução de Mesa do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição (1824–1852).

Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul (RS)

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Pagamento da obra do retábulo-mor e do retábulo do Santíssimo Sacramento, 1829 Contrato firmado entre as Irmandades do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição e o entalhador Maurílio Antônio Telles em 1825.

Livro Resolução de Mesa do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição (1824–1852).

Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul (RS)

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SENHOR DOS PASSOS A matriz possui uma antiga imagem do Senhor dos Passos, a qual tem mais de 150 anos e é tradicionalmente conduzida na procissão do Cristo Morto nas Sextas-feiras Santas.

Trata-se de uma imagem de vestir, em madeira, articulada, com cabelos humanos e olhos de vidro. Sua origem é desconhecida, entretanto, conta-se que a imagem surgiu em frente à igreja matriz em um dia de tempestade.

Em 1985, a escultura foi tombada pelo COMPAHC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico-Cultural).

Em 2005, a imagem foi removida da matriz para ser restaurada, contudo, durante anos, seu paradeiro ficou desconhecido. Após investigação, em 2013, a peça foi recuperada e retornou à paróquia, graças, principalmente, às iniciativas do pároco Hélvio Cândido. A imagem, todavia, foi devolvida em péssimas condições e foi necessário um novo trabalho de restauro. Nestes reparos, descobriram-se, no estofo da escultura, páginas de antigos jornais publicados no Rio de Janeiro no século XIX, um indicativo da procedência da imagem, que pode ter sido realizada na Corte.

Padre Hélvio Cândido junto ao Sr. dos Passos Jornal do Povo, 23 e 24 de março de 2013 Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul (RS)

Procissão do Senhor dos Passos Jornal do Povo, 19 e 20 de abril de 2014 Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul (RS) 102

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO A imagem localizada no altar mor, ao lado do crucifixo, representa a devoção que dá nome à Catedral Nossa Senhora da Conceição. Essa invocação mariana retrata o dogma da “Imaculada Conceição de Maria”, proclamado em 1854 pelo Papa Pio IX, o qual preconiza que Maria foi concebida livre do “pecado original”, sendo “cheia da graça de Deus” desde seu nascimento.

O primeiro monarca Português, Dom Afonso Henriques (1109-1185), proclamou Nossa Senhora da Conceição padroeira de seu reino, e, no século XV, sua festa já estava difundida por toda Europa. No Brasil, essa devoção foi popularizada pelas ordens jesuítas e franciscanas.

A escultura, em madeira, conta com elementos iconográficos recorrentes nas representações dessa invocação.

Maria é representada com feição delicada e serena e suas mãos estão postas em oração. Seu traje é composto por túnica e véu brancos, e um manto nas cores azul e rosa. Os panejamentos são esvoaçantes e ornamentados com motivos florais dourados. Sobre a cabeça, foi acrescentada uma cora de metal. A Virgem encontra-se sobre uma nuvem, acompanhada por quatro querubins. Sob seus pés está a lua crescente, que funciona como uma espécie de metáfora: a luz que a lua parece emitir é, na verdade, o reflexo da luz solar e, deste modo, toda graça de Maria seria um reflexo da graça recebida de Deus e de seu filho Jesus. Maria é considerada, pelos católicos, como uma “luz guia em meio à escuridão”, uma intermediária entre as pessoas e Deus.

Senhor dos Passos Igreja Nossa Senhora da Conceição, Cachoeira do Sul (RS) 103

ROTEIRO DO PATRIMÔNIO SACRO ARQUITETÔNICO DO RIO JACUÍ Este roteiro indica as principais rotas de acesso para visitar as 6 Igrejas do Jacuí, nos municípios de Viamão, Triunfo, Taquari, General Câmara, Rio Pardo e Cachoeira do Sul, a partir da cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. 104

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1. IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

MUNICÍPIO: Viamão (RS), distância de Porto Alegre: 20km ENDEREÇO: Praça Cônego Bernardo Machado dos Santos HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: terça a sexta das 8h às 12h e das 13h30min às 18h (aos sábados até às 17h) MISSAS: terça a sexta às 18h30min, sábado às 18h, domingo às 9h e 18h Acesso pela Av. Bento Gonçalves/Rodovia Tapir Rocha/Av. Salgado Filho. Dirigir-se à rua Américo Vespúcio Cabral, que leva ao centro do município de Viamão e à praça onde localiza-se a Matriz.

2. IGREJA DO NOSSO SENHOR BOM JESUS DO TRIUNFO

MUNICÍPIO: Triunfo (RS), distância de Porto Alegre: 80km ENDEREÇO: Praça General Bento Gonçalves HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: terça a sábado das 8h30min às 17h

MISSAS: Quinta e sábado às 19h; domingo às 8h30min Utilizando a BR-448 (Rodovia do Parque), acessar a BR386, em direção a Lajeado, seguindo por 28 quilômetros até à Rodovia municipal TF-045. Seguir e converter à direita na TF-10, que conduz à cidade de Triunfo. A igreja Nosso Senhor Bom Jesus do Triunfo localiza-se no centro histórico da cidade.

Neste município, recomenda-se um dia de passeio para conhecer as antigas ruas e prédios, pois Triunfo conserva grande parte de sua edificação histórica, dos séculos XVIII e XIX. Sugere-se uma visita ao Museu Municipal (Museu Farroupilha, instalado na casa em que nasceu Bento Gonçalves) e à Biblioteca Pública.

Também vale a pena conferir o Império do Divino, ao lado da Igreja, e o Teatro União, construído em 1848.

Além destes, também se recomenda uma caminhada pelo passeio, orla colorida com formosos plátanos que perfilam o Rio Jacuí.

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3. IGREJA SÃO JOSÉ e 4. IGREJA SANTO AMARO

Estas duas igrejas podem ser visitadas em um mesmo dia.

IGREJA SÃO JOSÉ

MUNICÍPIO: Taquari (RS), distância de Porto Alegre: 100km ENDEREÇO: Praça São José HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: segunda a sexta, das 9h às 11h e das 15h às 17h MISSAS: quarta às 18h, sábado às 19h e domingo às 9h IGREJA SANTO AMARO

MUNICÍPIO: General Câmara (RS), distância de Porto Alegre: 100km ENDEREÇO: Distrito de Santo Amaro do Sul HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: sexta a domingo, das 13h30min às 17h MISSAS: Taquari (RS) A partir da BR-448 (Rodovia do Parque) acessar a BR386, em direção a Lajeado até o trevo de Tabaí; dali, seguir na BR-287 até o trevo que dá acesso à RS-436, converter à esquerda e seguir pela via até Taquari, passando pelo pórtico da cidade.

De Taquari (RS) para Santo Amaro do Sul (RS) Em Taquari, dirigir-se ao bairro Praia, à beira do Rio Taquari, para utilizar a balsa que realiza a travessia para General Câmara (RS). As embarcações saem de hora em hora e seu primeiro horário é às 5h30min e o último às 22h30min. Na outra margem do rio, do atracadouro da balsa, seguir pela RS-130 por cerca de 5 quilômetros e converter à direita, junto à Unidade de Saúde ali localizada, e acessar a RS-244 (o trecho entre a balsa e a RS-244 é feito em estrada de chão). Seguir pela RS-244 por 2,5 quilômetros até a estrada que dá acesso a Santo Amaro do Sul e converter ali à direita, seguindo esse caminho até o centro do povoado.

No município de Taquari, além da Igreja São José, aproveite para conhecer a parte “baixa” da cidade, onde, junto ao bairro Navegantes, foi edificada a Capela de Nossa Senhora das Dores, em 1863. No entorno da capela, localiza-se a prainha com o porto e a balsa.

Em Santo Amaro do Sul, após admirar a igreja e conferir o casario erigido em seu entorno, recomenda-se a visita ao Ponto de Cultura, coordenado por Anajara da Silva. Ali, encontra-se uma vasta biblioteca, com obras específicas sobre a cidade, e uma afetiva exposição com diversos objetos vinculados à herança açoriana.

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5. IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

MUNICÍPIO: Rio Pardo (RS), distância de Porto Alegre: 150km ENDEREÇO: Rua Júlio de Castilhos (Rua da Ladeira) HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: segunda a sexta, das 8h às 11h30min e das 14h às 17h e sábado, das 8h às 11h30min MISSAS: segunda a quarta, sexta e sábado às 19h, quinta às 19h30min e domingo às 9h Através da Ponte Móvel do Guaíba, seguir pela BR116 por 20 quilômetros até o trevo de acesso à BR-290.

Ali, converter à direita e seguir pela BR-290 até o trevo de Pântano Grande, o qual liga à BR-471; seguir por essa via até o trevo de acesso a Rio Pardo. Deste ponto, prosseguir pela Av. Andrade Neves até a Rua Júlio de Castilhos, onde está localizada a Igreja Nossa Senhora do Rosário.

A Matriz encontra-se próxima ao rio, na parte baixa da cidade. Sugere-se visitar o município com tempo, pois foram conservadas muitas edificações históricas, como o Solar do Almirante e a antiga Escola Militar, bem como a Igreja do Senhor dos Passos e as Capelas de São Francisco e de São Nicolau.

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6. IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

MUNICÍPIO: Cachoeira do Sul (RS), distância de Porto Alegre: 200km ENDEREÇO: Praça Baltazar de Bem HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: segunda a sexta das 8h às 11h e das 13h às 18h30min, sábado das 8h30min às 11h MISSAS: terça a sexta às 18h30min, sábado às 15h e domingo às 9h e às 18h30min Através da Ponte Móvel do Guaíba, seguir pela BR-116 por 20 quilômetros até o trevo de acesso à BR-290 e converter à direita. Seguir a BR-290 por aproximadamente 150 quilômetros, até acessar, à direita, a BR-153, seguindo no sentido sul-norte até o trevo de acesso a Cachoeira do Sul. Ali, converter à direita, em direção ao centro da cidade, na Av. Andrade Neves. Seguindo por essa via, converter, novamente, à direita na Rua Moron, que leva à Igreja Nossa Senhora da Conceição. A edificação localiza-se no centro histórico, na parte antiga da cidade, junto ao Château d’Eau e ao Museu Municipal.

Sugere-se, além da visita à Igreja e ao Museu, degustar as famosas “matracas”, tradicional casquinha doce vendida na cidade por ambulantes.

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Livro de Resolução de Mesa do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição dessa Vila (1853–) ARQUIVO MUSEU MUNICIPAL EDYR LIMA FLORES, Mariana; MÜLLER, Ângela. Catedral Nossa Senhora da Conceição: análise da obra arquitetônica eclética. (trabalho acadêmico). UFSM: Curso de Arquitetura e Urbanismo. s/data PORTO ALEGRE (RS) ARQUIVO HISTÓRICO DO RIO GRANDE DO SUL Cachoeira do Sul Irmandade de Nossa Senhora da Conceição. Correspondência (1849). Relação das alfaias existentes na igreja matriz.

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GLOSSÁRIO

B BALAÚSTRE Elemento vertical, em forma de pequena coluna ou pilar, que sustenta com outros, intervalados, uma travessa ou um corrimão, formando assim uma balaustrada.

C CAMARIM Vão, por cima ou na parte interna do Altar-Mor, ou de altares laterais, onde se arma o trono para exposição do Santíssimo ou da imagem de um santo.

CAPELA-MOR No interior das igrejas, é a capela onde se situa o retábulo-mor.

CAPITEL Parte superior de uma coluna ou pilastra, que se eleva acima do fuste, ligando o fuste ao entablamento.

CARNAÇÃO Técnica de policromia aplicada para representar pele humana nas esculturas CASAL DE NÚMERO Refere-se às famílias açorianas e madeirenses enquadradas no programa de migração subsidiada que entraram no Brasil pelo porto de Desterro entre 1748 e 1753.

CIMALHA Arremate superior da parede que faz a concordância entre esta e o plano do forro ou do beiral.

CORUCHÉU Ornamento geralmente de pedra que decora fachadas, torres ou frontões dos edifícios.

CURATO Curato era um limite eclesiástico da Igreja Católica, de caráter geográfico e administrativo, provido de cura residente filiado a uma paróquia. O curato normalmente era dotado de uma igreja menor, como uma capela.

D DATA

Extensão de terra doada pela coroa portuguesa a famílias para a colonização dos territórios luso americanos, com uma área que variava entre um quarto de légua em quadra (270ha) e três quartos de légua em quadra. (ROCCA, 2009)

DOURAMENTO Técnica em que são aplicadas finíssimas folhas de ouro em uma das camadas de policromia para ornamentar o estofamento de esculturas.

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E EPÍSTOLA (lado): Lado direito do interior da igreja, visto da entrada principal em direção ao Altar-mor.

ESGRAFITO Espécie de pintura ou desenho em que se calca, através do uso de um estilete, a camada exterior da tinta para fazer com que a camada inferior fique descoberta.

Detalhe do trabalho de esgrafito na veste da imagem de São José Igreja São José, Taquari (RS)

ESPANÃDA Termo em castelhano, sem tradução. Designa a elevação do plano da fachada com vãos para colocar os sinos, simulando uma torre. (GUTIERREZ; ROCCA, 2020, p.75) ESPÍRITO SANTO O Espírito Santo, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, é simbolizado pela pomba e nele reside o Amor Supremo entre o Pai e o Filho. Os Sete Dons do Espírito Santo: Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor a Deus são citados pela tradição católica e se tornaram fonte de devoção popular.

ESTOFAMENTO Técnica de policromia aplicada para representar os tecidos nas esculturas.

EVANGELHO (lado): Lado esquerdo do interior da igreja, vista da entrada principal em direção o Altar-mor.

Imagem do Divino Espírito Santo, Igreja Nossa Senhora do Rosário, Rio Pardo (RS)

F

FORRO Teto ou revestimento interno da parte superior dos cômodos de uma construção.

FREGUESIA Unidade administrativa da ordem eclesiástica que é sede de uma paróquia.

FRONTAL Parte da frente da mesa do altar, revestido com talha ou pintura.

Frontal, Retábulo-mor, Igreja Nossa Senhora da Conceição, Viamão (RS)

FRONTÃO Parte superior, acima do forro, que fecha o vão formado pelas duas águas da cobertura e coroa a parte central do frontispício da edificação.

FUSTE Parede ou tronco da coluna entre a base e o capitel. Podem ser retos, canelados ou torsos.

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G

GRIMPA Elemento que arremata o vértice de uma cobertura, principalmente no coroamento das torres onde, por vezes, sustenta uma cruz.

H

HAGIOGRAFIA Nome que se dá às histórias de vida dos santos, geralmente escritas após a morte e com teor heróico. Uma das obras hagiográficas mais populares é a Legenda Áurea, escrita em 1843 pelo italiano Jacopo de Varazze, na qual encontram-se compiladas as hagiografias de diversos santos católicos da antiguidade tardia e do medievo.

I IMPÉRIO Império ou Capela do Divino é uma construção dedicada à devoção ao Divino Espírito Santo. Característica da identidade cultural açoriana, o culto surgiu na França durante o século XI, passando a Portugal e posteriormente às Ilhas dos Açores. No Brasil, a presença do Império nas cidades identifica a contribuição açoriana local, principalmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Capela do Império do Divino Espírito Santo em Triunfo (RS)

M MÍSULA Suporte ornamental, em pedra ou madeira, que serve para sustentação de elementos de arquitetura ou peças móveis de decoração ou culto.

N NAVE

Espaço interno da igreja desde a entrada até o arco-cruzeiro.

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O ÓCULO Abertura ou janela circular ou elíptica destinada à entrada de luz e projetada nas fachadas das igrejas. Para fins decorativos, pode assumir formatos variados.

OPA

Capa sem mangas e com aberturas para os braços usada em atos religiosos pelos irmãos de confrarias e irmandades leigas, com diversidade de cores e distintivos alusivos a estas corporações.

ORAGO Santidade da invocação a qual se dedica uma igreja ou capela.

P PANEJAMENTO Palavra utilizada para se referir à representação de tecidos em esculturas.

PARÓQUIA Assentamento que é sede de uma unidade da administração religiosa.

PEANHA Pequena peça saliente de paredes e retábulos sobre a qual se colocam imagens, crucifixos etc.

PERIZÔNIO Termo usado para se referir ao tecido que envolve os quadris das imagens que representam Cristo nas cenas da Paixão.

PILASTRA Nos retábulos, consiste em um pilar de quatro faces que se alterna com as colunas na composição. Na fachada, possui caráter ornamental, pois sua estrutura é aderida à edificação.

PÚLPITO Tribuna destinada às pregações ou sermões do sacerdote. Geralmente encontram-se dois púlpitos nas naves das igrejas.

Q QUARTELÃO (PILASTRA MISULADA) Quartela é uma peça que serve de sustentação a outra. Em projetos ornamentais, o quartelão trata-se de uma pilastra com relevo entalhado, em forma de mísula.

R RETÁBULO O termo vem do latim retro tabulam, que significa atrás da mesa (mesa do altar). Geralmente, o nome altar é atribuído a toda estrutura do retábulo, no entanto, essa nomenclatura se aplica apenas à mesa que fica na sua frente.

RISCO Projeção desenhada da edificação.

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ROCA (Imagem de roca) Tipologia de imagem devocional. Ao invés de possuir os membros inferiores esculpidos, possui uma estrutura em ripas de madeira, geralmente em formato cônico ou cilíndrico, que imita o volume corporal, dando dimensão para a vestimenta têxtil que recebe.

ROCALHA Elemento decorativo empregado no estilo Rococó.

Espécie de concha estilizada em filetes esgarçados e de composição assimétrica.

ROCOCÓ Estilo ornamental principiado na decoração palaciana do reinado de Luís XV (1710 –1774). Caracteriza-se pelos ornatos assimétricos, pelas grinaldas de flores, palmas e palmetas, conchas, rocailles, folhas assimétricas, volutas e mascarões de perfil. A aplicação desses elementos fica limitada aos principais componentes das igrejas, tais quais retábulos, arcos-cruzeiros e púlpitos. Também se observa maior ênfase nos elementos arquitetônicos do que escultóricos na estrutura dos retábulos e o emprego de colunas de fuste reto com caneluras.

Rocalha, detalhe da ornamentação do retábulo-mor, Igreja Nossa Senhora da Conceição, Viamão (RS)

S SACRÁRIO Pequeno cofre colocado ou embutido no retábulo onde se guarda a âmbula (cálice no qual é conservada a hóstia consagrada para a comunhão).

SANEFA Peça saliente de proteção e ornamento, colocada ao alto do retábulo.

SESMARIA As sesmarias eram terras devolutas, medindo em regra 3 léguas por 1 légua (cerca de 13000ha). (PESAVENTO, 1982) SINEIRA Vão onde se colocam os sinos em torres, campanários etc.

Sacrário do retábulo lateral Igreja São José Taquari (RS)

T TALHA Escultura ou ornato arquitetônico, em alto ou baixo-relevo, executada, geralmente em madeira, por desbastamento ou entalhe.

TOMBAMENTO A palavra tombamento não se refere a “tombar” ou 121

“fazer cair”. O sentido aqui empregado é aquele proveniente do português arcaico, quando “tombo” significava “inventário de quaisquer documentos”. Livros Tombo, logo, são livros de Registro e Inventário. Atualmente, quando se tomba um bem, ele é inscrito (registrado no Livro Tombo) visando sua manutenção e preservação.

TORRE Parte saliente de uma edificação civil ou religiosa, de sentido vertical.

TRIBUNA Lugar reservado e elevado, com aberturas em janelas ou varandas, para assistir as cerimonias religiosas.

V VOLUTA Ornato enrolado em forma de espiral.

ENTENDENDO OS ELEMENTOS

Sineira

Front‹o

îculo Cornija CoruchŽu

Cimalha

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AGRADECIMENTOS Esta obra é fruto de um trabalho coletivo, somente possível através da colaboração de velhos e novos amigos e do empenho de todos os sujeitos que participaram dos encontros, trocas e aprendizados que este projeto proporcionou.

Gostaria de agradecer, primeiramente, aos meus pais, cujo apoio foi fundamental; ao querido Guilherme, aos estimados Pedro Von Mengden Meirelles, Vanessa Gomes de Campos, Carol Zuchetti e Lucas Volpato, colegas com quem tenho o prazer de compartilhar do encanto pelas igrejas, irmandades, história e arquitetura do Rio Grande do Sul. E, carinhosamente, à professora Paula Viviane Ramos, a quem devo o principal incentivo para essa pesquisa.

Também agradeço imensamente a todos aqueles que acreditaram e se envolveram na elaboração deste projeto: ao Padre Edison Stein e a comunidade da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Viamão; ao Padre Ademar José Ströher, à Samira de Souza Oliveira Jantsch e à Luciana Nedel, do Município de Triunfo; ao Padre Maurizan Nascimento, Valquíria Machado, Daria, Rui, Paulo, Alexandre, Teresinha, Cybele, Eloa, Ângela, Marisa, Helena e Lenita da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo; ao Márcio Beyer da Silva e à Neuza Terezinha Duarte de Quadros, do Arquivo Histórico Biágio Soares Tarantino (Rio Pardo), ao Flávio Augusto Canto Wunderlich, à Terezinha e à Ana Rezende, ambas da Irmandade do Senhor dos Passos do Município de Rio Pardo; ao Frei Gastão Carlos Zart, à Maria de Fátima Cruz e à Paróquia São José do Município de Taquari; à Anajara da Silva e à Leila Fraga, do Distrito de Santo Amaro do Sul e, por fim, ao Padre Nildo Gaspar Rech, ao Museu Municipal e ao Arquivo Histórico do Município de Cachoeira do Sul. Foi um prazer conhecê-los e desfrutar da sua companhia!

Muito obrigada!

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