
-Literatura de Cordel-
-Literatura de Cordel-
(Zé Luís)
-Abril/2025-
Vamos ouvir a história
De uma forma resumida
Deste que aniversaria
Numa data tão querida
Que Deus possa me inspirar
Para eu poder contar
Um pouco da sua vida.
Tem um ditado que diz
“Que o pau que bate em Chico
Vai ser esse mesmo pau
Que vai bater em Francisco”
Só que esse Francisco não é “De Assis” que você quer
Em outra estrofe eu explico.
Francisco da Silva Filho
Tem um nome de apelido
Todos lhe chamam de “Assis”
Que passa despercebido
Do seu verdadeiro nome
Porque esse nobre homem
Por “Assis” é conhecido.
1935 o ano
Em 29 de abril
Filho de pais religiosos
Na fé e na tradição
Seguindo o santo evangelho
Da santa religião
De Jesus de Nazaré
Fortalecidos na fé
No fervor da devoção.
Pra “Quinquina” e Chico Antônio
A felicidade sorriu
Em um dia muito feliz
Nasceu o menino Assis
Nesse cantinho do Brasil.
Pois houve uma disputa
Logo que ele nasceu
Na escolha do seu nome
Veja o que aconteceu
Pra “Francisco de Assis”
A mãe quis, o pai não quis
Ficou “Francisco”, o pai venceu.
Então ficou só “Francisco”
-“Assis” nada tem comigo
Disse o pai para a esposa
É desse jeito que digo
Mas a mãe ficou feliz
Pois todos lhe chamam “Assis”
Parece que foi castigo.
Foi seu Francisco Antônio
Aos poucos se acostumando “Assis” pra cá, “Assis” pra lá
O tempo assim foi passando
E para o bem da questão
Todos ali na região
Ficaram por “Assis” chamando.
Filho de Francisco Antônio
E de dona Joaquina
De sobrenome Cassiano
Conhecida por “Quinquina”
Cinco membros na família
Um filho e duas filhas
Entre menino e meninas.
Lourdes quem nasceu primeiro
Ai veio o menino Assis
Salete é a caçula
Na história assim diz
Porque assim eu me lembro
Família de cinco membros
Distinta e muito feliz.
Se mostra um bom nordestino
O nosso querido Assis
Esse sim, é cabra bom
Um nordestino raiz
Que aprecia a mata verde
Gosta de dormir em rede
E vive a vida feliz.
Quando sua filha vai
Alguma coisa comprar
Ele também acompanha
Somente pra comparar
Preço das mercadorias
-Tá caro, vige Maria!
Onde nós vamos parar?
Chega em casa reclamando
-Os preços tão absurdo
Liva, está tudo caro
Tá do cabra ficar mudo
Até mesmo em Guarabira
Se parece até mentira
É carestia em tudo.
-Os preços tá lá em cima
Nem dá para acreditar
Liva, é tanta carestia
Pouco dinheiro não dá
Batata, inhame, feijão, Farinha, arroz, macarrão
Ninguém pode mais comprar.
Liva é um nome carinhoso
Da sua esposa Livramento
A quem confidenciou
Seus sinceros sentimentos
Ela foi a escolhida
Pra unir a sua vida
Em laços de casamento.
A filha diz: - Oxe, pai
O senhor foi me acompanhar
Andou pra cima e pra baixo
Sem nada o senhor comprar
Diz a filha alarmada:
- O senhor não comprou nada
E se fosse pra comprar?
Seu Assis é um boêmio
Toca vários instrumentos
Faz poesia, é poeta
Externando pensamentos
Verseja na poesia
Criando a melodia
Expondo os seus sentimentos.
É poeta e se mostra
Em ser um bom sanfoneiro
Toca violão, cavaquinho
Dá repique com pandeiro
Nas partituras musicais
A música que ele gosta mais
É a Marcha dos Marinheiros.
Seu amigo doutor Tércio
Uma amizade seleta
Pede pra ele cantar
Uns acordes de seresta
E em tom de cavaquinho
Toca até brasileirinho
Tudo se transforma em festa.
Tinha um tio com uma voz
De bonita melodia
Não chegou a conhecer
Mas também tinha uma tia
Seu nome era Marié
Tinha a voz dessa mulher
Um timbre de harmonia.
Tanto a tia quanto o tio
Tinham a voz para valer
Mas sua tia somente
Assis veio a conhecer
Quando estavam cantando
Ia o povo se juntando
Pois todos queriam ver.
Amante da boa música
E também da natureza
Gosta muito de animais
Faz a vida ter beleza
Não é de ter cara dura
Não demonstra amargura
E nem dá vez a tristeza.
Músicas de Nelson Gonçalves
São as suas preferidas
São as que ele mais gosta
Que marcaram sua vida
Músicas boas e de valores
De outros compositores
Que na época eram ouvidas.
Além de Nelson Gonçalves
Gosta de Flávio José
Tem o saudoso Altemar Dutra
E o saudoso Jessé
Com o seu “Porto Solidão”
Musa de inspiração
Enaltecendo a mulher.
Se comparado hoje em dia
O mundo artístico tá grave
Já não se faz música boa
De estilo e letra suave
Já não se tem melodia
Nem arranjo ou harmonia
Como as de Nelson Gonçalves.
Tinha Assis dois cavalos
Um que era “de passada”
Propriamente pra passeio
Caminhada e cavalgada
O outro a disposição
Pra qualquer situação
Pega de boi, vaquejada.
Hoje só resta a sela
Lá no canto da parede
Já bebeu água de poço
Para matar sua sede
Hoje vive a recordar
Satisfeito a relembrar
Se balançando na rede.
Foi muito a Pirpirituba
Com seu jeep a passear
Ficava lá na pracinha
Vendo as meninas passar
Achava umas coisas lindas
Aquelas idas e vindas
Ele só a paquerar.
Na casa tem três cachorros
Soltos no meio do terreiro
Um é Puc o outro é Tom,
O terceiro é “Estrangeiro”
Mas pra você entender
Vou explicar pra você
Todos três são brasileiros.
“Estrangeiro” é seu nome
Não por ser de outro país
Puc, “Estrangeiro” e Tom
São os cães de seu Assis
São três cachorros valentes
Mas nomes assim diferentes
Lhe confesso eu nunca vi.
É um homem apaixonado
Por preservar a história
A casa que ele morava
É a mesma que hoje mora
Não pensa em reformar
Para não modificar
Como ela foi em outrora.
município de Pilõezinho
Está sua propriedade
De nome Pedro Vieira
Se chama a comunidade
Sempre sobre o mesmo teto
Mora em paz e bem discreto
Afastado da cidade.
Comprou inclusive as partes
Que foi dos outros herdeiros
Pra deixar como era antes
Como era deprimeiro
Preservando os costumes
Só o secador de legumes
Saiu do meio do terreiro.
Gosta de fazer fogueira
É quase uma missão
São José e Santo Antônio
São Pedro e São João
Fogueira que dura semanas
Ate mesmo a de Santana
Faz parte da tradição.
Preserva a casa de farinha
Faz a própria farinhada
Pois ela fica bem perto
Próximo a sua morada
Coloca no forno a massa
Pra dá o ponto mexe e traça
Para não ficar queimada.
É saudoso na saudade
De um tempo que foi embora
Fica à varanda da casa
Relembrando na memória
Mas está sempre contente
Sabe viver o presente
Escrevendo a própria história.
Com os amigos na infância
Corria pelos caminhos
Num dia jogava bola
Noutro por dentro de espinhos
Com borná e balieira
Que é a mesma baladeira
Iam atrás de passarinhos.
Quando jovem com os amigos
Corria nas vaquejadas
Esse hobby ele só tinha
Pra arrumar namorada
Porém quando um amigo seu
Caiu do cavalo e morreu
Ele abandona essa jornada.
Seu Assis fez um balanço
Bem em frente na chegada
No vão da casa de farinha
Pra balançar a criançada
Para o divertimento
Enquanto dona Livramento
Tava em casa atarefada.
Fez boneco de mandioca
Pra com as filhas brincar
Assim também no balanço
Para as duas balançar
Era aquela alegria
De tudo ele fazia
Pra ninguém ali chorar.
Ele tem uma oficina
Que é sua marcenaria
Cadeira, tamborete e banco
Tudo isso ele fazia
Isso tudo ainda tá lá
Pra quem quiser comprovar
Caso você não sabia.
Bebe água natural
Quando quer matar a sede
Gosta de se balançar
Deitado em sua rede
Pegava as lagartixas
Para as filhas eram “caxixas”
Que corria nas paredes.
Chamava de “minha Kel”
Jackeline na infância
Que junto a irmã Liane
Brincavam quando criança
As duas filhas queridas
Que hoje mesmo crescidas
Têm na memória a lembrança.
Certa vez Assis saiu
Com as filhas a passear
Montou-se os três num cavalo
E saíram a galopar
Ele e as duas filhinhas
Que eram pequenininhas
Veja isso em que vai dar.
Saíram os três no cavalo
Portanto preste atenção
O cavalo só no pelo
Que uma sela não dava não
Alguém desequilibrou
Se manter firme tentou
Mas os três foram ao chão.
Na casa que tem criança
A alegria é certa
Reina a felicidade
A garantia é completa
Isabelle e Mariana
É assim como se chama
Suas pequeninas netas.
Essas crianças de hoje
Não param, não ficam quietas
Mas são muito inteligentes
Assim como suas netas
Brincam e arengam também
Mas depois estão de bem
E são bastante espertas.
Tocou em um violão
De catemba de coqueiro
Foi ele mesmo que fez
Pois este foi o primeiro
Na arte da música estudou
Com um verdadeiro professor
Um exímio sanfoneiro.
Trabalhou muito com o pai
No serviço do roçado
Quando amanhecia o dia
Nunca ficava parado
Era aqui, ali, acolá
Sempre esteve a trabalhar
Pra ter um bom resultado.
Ganhou ele um papagaio
Bem ainda em mocidade
Lhe deu o nome de Joca
Era só felicidade
Diziam que sua vida
Seria longa, comprida
Mais de cem anos de idade.
Uns cento e cinquenta anos
Poderia chegar perto
Nenhum ser humano vive
Tanto tempo assim, por certo
Dona Liva a se espantar:
-Vige, ele vai chegar
A geração dos bisnetos.
Gostava de brincadeiras
Aquelas de antigamente
“Passa o anel”, “tô no poço”
“Cadê o grilo? Lá na frente”
“Boca de forno”, “passarás”, Hoje ninguém brinca mais
Está tudo diferente.
Quando fui lhe visitar
Foi sua história contando
Pra eu fazer um cordel
Do que ele estava falando
Dentro da métrica e rima
Com a minha autoestima
Eu estava me achando.
Vi logo que seu Assis
É um cabra preparado
Jogou logo em minha cara
Uns versos bem inspirado
Que eu fiquei de crista baixa
Quem procura um dia acha
Disse: -Agora eu tô lascado.
Passou três dias brincando
Um carnaval em Campina
Lá no Campinense Clube
Terra das festas juninas
Ele gostava demais
Mas ele ia mesmo era atrás
Das beldades das meninas.
A namorada de um amigo
Lhe apresentou sua amiga
A qual ele estava de olho
Pra ser parte em sua vida
Mas o destino e sentimento
Escolheu a Livramento
Pra ser sua preferida.
Andou por muitas cidades
Foi cabra namorador
Mas conheceu Livramento
Por quem se apaixonou
Pensou consigo: - Eu agora
Vou construir minha história
Pois encontrei o amor.
Um amigo lhe perguntou:
-Assis, tu conhece “fulana”?
Disse ele: -Conheço sim
É de família bacana.
E apresentou ela pra mim
-Uma mulher bonita assim
A gente se apaixona.
No seu primeiro contato
Teve uma desilusão
Ela estava trabalhando
Era um dia de eleição
Pra resumir a história
Na hora ela nem deu bola
Presidia uma seção.
Aos quarenta e dois anos
Casou-se com Livramento
São quarenta e oito anos
Unidos em casamento
Dessa união nasceu
Dois tesouros Deus lhes deu
Do sagrado sacramento.
Em um chevette amarelo
Numa foto bem ao lado
Com os noivos bem juntinhos
Para deixar registrado
E ficar pra vida inteira
A foto com a companheira
Os eternos namorados.
Em suas inspirações
Ele fez uma versada
Cheio de contentamento
Ofertou à sua amada
Mas não foi como pensou
Porque ela não gostou
Em vez disso ficou braba.
Os versos pra sua amada
Que ele fez vou descrever
Versos por ele criado
Vamos aqui conhecer
Ele é um artista de fato
Poeta, romântico nato
Vou repetir pra você.
“ A minha me faz carinho
Me beija e me agarra
A noite saio pra farra
Volto de manhã cedinho
Ela diz: - vá meu benzinho
Durma e vá descansar
Que o namoro não lhe atrasa
Quem é casado não casa
Mas tem direito de amar ”.
Seu Assis, uns versos desse
Claro, não ia gostar
Esposa alguma no mundo
Não tinha como aceitar
Não é verso pra quem ama
Escapou de uma semana
Ficar dormindo em sofá.
De seu Assis outros versos vou citar:
“ A natureza faz coisa tão bonita
Que a gente tem que admirar
O crepúsculo da tarde é tão bonito
Que Jesus se debruça pra olhar ”.
“ Ô que saudade que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, sonho, que flor
Daquelas tardes fagueiras
Nas sombras das bananeiras
Debaixo dos laranjais ”.
Ele usa um marcapasso
Que ajuda o seu coração
Gosta de viver a vida
Compõe letra pra canção
Dos instrumentos que tocou
Na sanfona ele achou
Mais fácil e com perfeição.
Seu Assis tá completando
Noventa anos de estrada
Somam noventa janeiros
De sua história contada
É muita bagagem e chão
Que até falta inspiração
Pra versos numa rimada.
Por isso que a família
Vem lhe parabenizar
Junto amigos e parentes
Todos a comemorar
Momentos assim possam vir Mais vezes a se repetir
Para a gente celebrar.
S abe porém que na música
E le fica entressonho
U niverso paralelo de
A ssis de Francisco Antônio
S egue agradecendo a vida
S onho, encantos, matrimônio
I nspirações bem vividas
S omados em músicas e sonhos.
Z abumba é de percussão
É assim também o pandeiro
L eveza dá o triângulo
U ne o forró brasileiro
I nstrumentos que harmonizam
S anfona e sanfoneiro.
José Luís de França Segundo (Zé Luís), nascido 25 de março de 1965, em Impueiras, zona rural de Pirpirituba-PB, cursou o ensino médio na Escola Estadual Augusto de Almeida, a qual em 1979 fez parte da comissão para esta fosse instalada no município. Em 1985, foi professor pela Diocese de Guarabira-PB, O poeta é membro da Academia de Letras Sagrada Família (ALSF), com sede em João Pessoa. É autor de várias obras publicadas, dentre estas os folhetos “ Pirpirituba - Seu povo e sua história ” (2019) e “ Pirpirituba - Com muita arte contando sua história ”
(2022), ambos abordando temas trabalhados na Rota Cultural Raízes do Brejo (Pirpirituba).
Livros publicados: “ Cantos, contos e recantos da nossa terra - Pirpirituba em verso ”, “ Mensagens e histórias contadas em versos ”.
Foi professor, diretor de grupos teatrais, também foi presidente da associação AMOC no bairro José Feliciano de Pontes (Caixa Dágua).
Idealizador da tradicional festa de São
José, festa do padroeiro do bairro da Caixa Dágua.
Atualmente, é técnico em Agente Comunitário de Saúde do município.