Revista IETEC - Edição 53 - Abril a Junho 2014

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revista

Mala Direta Postal Nº 9912288642/2011-DR/MG

IETEC

Ano 11 | nº 53 | Abril - Junho de 2014

DATA:

Edécio Brasil

Diretor de Recursos Humanos para a América Latina da Vale

RUBRICA:

Gestão da água e energia nas empresas: questão de sobrevivência O Brasil e a Construção Sustentável

O Modelo Brasileiro, por Robson Braga de Andrade | CNI

Edécio Brasil fala sobre desenvolvimento profissional na vale Confira encarte com a programação de cursos de curta duração do IETEC Revista IETEC | Ano 11 | Abril a Junho de 2014

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EXPERIÊNCIA NA FORMAÇÃO DE ENGENHEIROS

O ÚNICO DE BH COM REGISTRO NO PMI

O IETEC é pioneiro na criação do curso Gestão de Projetos. Esta experiência é reconhecida pelo mercado, sendo que 53% dos profissionais formados são engenheiros.

GESTÃO DE PROJETOS BRASIL Os alunos recebem o livro Gestão de Projetos Brasil. Um livro voltado para a aplicação prática, escrito pelos professores do IETEC, alguns dos maiores especialistas da área. Participe da rede social Gestão de Projetos Brasil e compartilhe conhecimentos com os maiores gestores do mercado. www.gestaodeprojetosbrasil.com.br

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Opinião

Capa

Curtas

Cenário

Capacitação

4 • Como obter sucesso profissional por meio de pesquisa e desenvolvimento Mauri Fortes

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• O tormento climático José Eli da Veiga

10 a 12

15 • Saneamento, urgente Marina Grossi

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26 34

24

6a8 • Desenvolvimento profissional na VALE

17 a 20

22 e 23

IETEC em Destaque

• Educação empreendedora Daniel Bizon

• O modelo brasileiro Robson Braga de Andrade

• Gestão da água e energia nas empresas

• O Brasil e a construção sustentável

Conhecimento aplicado • Investir em qualificação é fundamental para obter os melhores resultados na carreira

30 a 32 • Análise de Negócios de TI através do Business Model Canvas

Cursos nas áreas de: • Gestão de projetos • Gestão e tecnologia da informação • Responsabilidade social • Gestão e tecnologia industrial • Gestão da inovação • Meio ambiente • Manutenção • Mineração

Expediente PRESIDENTE | Ronaldo Gusmão DIRETORIA | Diretor Geral: Mauri Fortes/ Diretor de Pós-Graduação e Extensão: Roberts Reis/ Diretora de Pesquisa: Wanyr Romero Ferreira/ Diretor de Soluções Corporativas: Paulo Emílio Vaz/ Diretor de Produto: José Ignácio Villela Jr. COORDENAÇÕES | Administrativo-Financeiro: Sérgio Ferreira / Ensino: Fernanda Braga / Financeiro: Dayanne Pereira / Talentos Humanos: Silmara Pereira Treinamento: Gustavo Garzon / Vendas: Sheyla Matos e Ana Flávia Resende Informação: Jacqueline Alves / Comunicação: Stefania Rocha COORDENAÇÕES TÉCNICAS | Gestão de Energia: Carlos Gutemberg / Gestão de Projetos: João Carlos Boyadjian / Ivo Michalick / José Fernando Pereira Inovação e Criatividade: José Henrique Diniz / Manutenção: José Henrique Egídio / Meio Ambiente: Antônio Malard / Mineração: Aline Nunes / Qualidade: Pedro Paulo de Oliveira Melo / Sistemas Industriais: José Ignácio Villela Jr. Tecnologia da Informação: Alexandra Hütner / Telecomunicações: Hudson Ribeiro COORDENAÇÕES DE CURSO | Engenharia de Planejamento: Ítalo Coutinho Engenharia de Software: Fernando Zaidan / Gestão de Negócios: Rodrigo Meister / Tecnologia da Informação: Antônio de Pádua Pereira REVISTA IETEC | Projeto Gráfico: G30 MKT e COM / Diagramação: Sabrina Lopes Jornalista Responsável: Ana Carolina Pacheco (18358/MG).

Redes Sociais: Comentários, sugestões e anúncios: comunicacao@ietec.com.br www.gestaodeprojetosbrasil.com.br www.facebook.com/ietec

Tiragem: 25.000 exemplares Periodicidade bimestral Distribuição gratuita Revista disponível no issuu:

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Impressão: O Lutador / Foto da Capa: Luciana Tancredo / Vale

Revista IETEC | Ano 11 | Abril a Junho de 2014

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Como obter sucesso profissional por meio de pesquisa e desenvolvimento

Mauri Fortes

Diretor Geral do IETEC

Opnião

Não importa se você é jovem ou maduro, espera-se sempre que você responda a estas perguntas: Como o mercado de trabalho o vê? Você é qualificado para qual atividade? Você é capaz de convencer os profissionais de recursos humanos a contratá-lo num ambiente competitivo? Este artigo tem por base minha longa experiência com engenheiros de grandes indústrias, profissionais de gestão, pesquisadores de alto nível, bem como estudantes universitários. Vamos concentrar a nossa atenção em algumas respostas a essas perguntas-chave para identificar o que é importante e realmente tem valor. Para começar com algo seguro, vamos afirmar que a capacidade de fazer pesquisa teórica ou aplicada e trabalhar com técnicas práticas é normalmente associada à premissa de um alto nível profissional e intelectual. Este fato é reconhecido pelas indústrias de fabricação e de serviços, bem como por empresas das áreas de ciências humanas e sociais aplicadas. Podemos, agora, tentar uma breve reflexão sobre a implicação e o significado de pesquisa e atividades práticas como itens essenciais para entender como o mercado de trabalho nos observa. • Primeira recomendação: na vida real, independentemente do seu perfil profissional, você tem que vender seus diferenciais; em outras palavras, você tem que convencer as pessoas do seu valor, ou seja, você deve ser o agente da sua própria inovação. O Princípio de Peter, amplamente reconhecido, é apresentado no Best-Seller de autoria de Peter e Hull, “O princípio de Peter: Por que as Coisas Sempre Saem Erradas”. Este princípio afirma que se a metodologia de promoção de uma organização tiver por base a realização, o sucesso e o mérito de empregados, eventualmente, estes empregados serão promovidos para além de seu nível de habilidade e competência.

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Seguindo este princípio, podemos dizer que todo mundo é ou vai subir no seu trabalho ou em qualquer posição social até o ponto em que ele ou ela se torne incompetente, isto vale para todos nós. A continuação deste raciocínio pode mostrar algumas sérias implicações: os profissionais que atingem e aceitam posições em que se tornam incompetentes, assim o fazem, por motivos financeiros e reconhecimento social. O interesse da empresa não é levado em consideração. Para minimizar ou eliminar o princípio de Peter, é preciso investir em sua capacidade profissional e no autoconhecimento, com pesquisas sobre suas habilidades práticas e potencial de trabalho. • Segunda recomendação: se você trabalha visando a um nível elevado de habilidades para fazer pesquisas ou atividades práticas, você deve alcançar um nível que é simultaneamente acima da necessidade da empresa e abaixo do seu nível intelectual o de competência. Curiosamente, nem a lei de Murphy, como aplicada à sua vida profissional (assumida), pode também ser batida. Uma conseqüência (corolário) da lei de Murphy poderia ser assim descrita: se você está navegando num mar de rosas, você está navegando no mar errado. • Terceira recomendação: Considere a possibilidade de manter o seu nível de competência acima do nível de competência exigido pela empresa. Você poderia, então, navegar em um mar de rosas. Agora, vamos definir em que condições você pode explorar de forma eficiente o seu potencial e atingir o estado profissional desejado. A pesquisa é parte de nossa natureza humana. Todos nós continuamente fazemos pesquisa, a partir do berço e por toda a nossa vida!


Há profissionais práticos e teóricos que tratam de pesquisa básica ou aplicada ou desenvolvimento tecnológico. Algumas possíveis subdivisões dessas diferentes atividades profissionais são as seguintes: A. Pesquisadores Científicos Básicos ( PCB ): Associados a fundos governamentais, investigam aspectos fundamentais da ciência como a pesquisa básica ou científica e, geralmente, realizam pesquisas em centros ou universidades; B. Pesquisadores Científicos Aplicados ( PCA ) : Com base nos resultados da investigação científica pré-estabelecida e outros conhecimentos disponíveis, realizam pesquisa aplicada, da mesma forma que pesquisadores científicos básicos mas voltados para aplicações práticas imediatas ou de médio prazo, financiadas por organizações governamentais ou privadas; C. Investigadores de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico ( IPDT ) : Utilizando financiamento do setor privado, principalmente para a pesquisa e desenvolvimento tecnológico (embora possa haver financiamento governamental por meio de políticas públicas orientadas); Estas definições têm levado a várias concepções corretas, mas também a alguns equívocos grosseiros. RDIs são chamados pesquisadores práticos e são geralmente elogiados pela mídia. Além disso, o produto do seu trabalho é o único, entre os três tipos de pesquisa, que pode ser chamado inovação (inclui trabalho criativo e marketing). Por outro lado, RDIs precisam ter conhecimentos e experiência significativa nos temas da pesquisa para serem criativos e práticos, com imenso background tecnológico e básico. Se você está interessado em trabalhar com tecnologia, a sequência deve ser a mostrada acima: A, B e C. Conseqüentemente, uma sugestão para todos os profissionais das áreas tecnológicas (engenharia, gestão, medicina, veterinária, ciências sociais aplicadas e ciências sociais, entre outras) que pretendam trabalhar com ciência como um caminho para uma carreira profissional

satisfatória, é começar como PCB (Pesquisadores Científicos Básicos), pela obtenção de um diploma de doutorado; continuar com a mesma linha de raciocínio, até o ponto em que se pode estabelecer pesquisa prática básica. A partir daí, a posição de IPDT (Investigadores de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico) é o caminho. Se esta sequência for seguida, seus colegas e o mercado irão reconhecê-lo como um profissional eficiente, bem como o risco de atingir os níveis de incompetência não será um problema. Em geral, o conhecimento e a criatividade dos pesquisadores fazem uma diferença marcante em seu local de trabalho, entre seus pares e no mercado altamente competitivo. É possível alcançar excelência em pesquisa por meio de persistência e dedicação. Ericsson acredita que é preciso pelo menos 10 anos (ou 10.000 horas) de prática dedicada para as pessoas dominarem empreendimentos mais complexos. Como pesquisador e profissional, eu acredito que para que você possa inventar uma nova ratoeira e ser admirado pelo mundo, é preciso ser prático. Para você descobrir uma nova e eficiente ratoeira, automatizada, você precisa de ciência. Boa sorte!

Mauri Fortes PhD (1978) e Post-doctoral associate (1979) em Engenharia de Produção Agro industrial (Engenharia Agrícola e de Alimentos) (Purdue University, EUA), Mestre (1973) em Ciências e Técnicas Nucleares e Engenheiro Eletricista (1970) (UFMG); Especialista em Finanças Corporativas (2003) (New York Institute of Finance). Atividades atuais profissionais e acadêmicas: Pesquisador (SR) Sênior (1A- vitalício), diretor (Instituto de Educação Tecnológica-IETEC); Diretor Científico (Conscientec - Consultoria em Ciência e Tecnologia). Ex-Membro de comitê Assessor do CNPq e da CAPES. Consultor ad-hoc da CAPES e do CNPq. Prêmios e Reconhecimentos: Pesquisador SR - CNPq; Ex-aluno Destacado - Purdue University; Prêmio de melhor pesquisa - ASABE -American Society of Agricultural and Biological Engineers

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Opinião

• Quarta recomendação: Uma pergunta breve e delicada sobre um tema fundamental um pouco esquecido, agora se apresenta e deve ser respondida. O que você está fazendo com um de seus maiores bens, a capacidade de fazer pesquisa? Qual é o efeito da pesquisa em sua vida diária?


Desenvolvimento profissional na VALE Capa

Foto: Luciana Tancredo - Vale

O entrevistado da 53ª edição da Revista Ietec é Edécio Brasil, diretor de Recursos Humanos para a América Latina da Vale. Edécio falou sobre a formação de seus profissionais, projetos importantes lançados pela empresa como o Equidade de Gênero, que visa reconhecer e promover o talento e a capacidade da mulher, e enfatizou a importância da valorização de seus funcionários como uma necessidade do negócio.

Como uma empresa global como a Vale faz para contratar, motivar e reter seus empregados?

Essas oportunidades de desenvolvimento e os desafios profissionais que a Vale oferece são seus principais mecanismos de retenção. A empresa também mantém programas de apoio ao desenvolvimento da infraestrutura local (saúde, educação, habitação e lazer), sobretudo em áreas distantes dos grandes centros. Temos também um atraente pacote de remuneração variável atrelado ao desempenho do empregado, que estimula a meritocracia.

Qual o valor que a empresa dá para a formação contínua de seus funcionários?

A Vale investe na qualificação de mão de obra das regiões onde atua para futura incorporação à empresa, por meio “Valorizar quem faz a nossa empresa” é um dos de programas como o Formação Profissional (PFP), em valores da Vale. Acreditamos que valorizar o funcionário que profissionais de nível médio e técnico participam de é possibilitar seu desenvolvimento e crescimento uma formação teórica e prática de até 15 meses, ao fim da profissional. Por isso, somente no Brasil foram investidos qual podem ser contratados. Em 2013, nos últimos três anos mais ingressaram no PFP mais de 1.700 de US$ 160 milhões em pessoas. A Vale também investe no treinamentos, beneficiando “Quando comparado com outros desenvolvimento dos empregados cerca de 57 mil empregados. países, os indicadores de educação que já fazem parte da empresa, para Além disso, a indústria da do Brasil são incompatíveis com que eles possam ser promovidos mineração requer uma mão seu desenvolvimento econômico.” internamente quando surgir uma de obra muito específica, que vaga. O poder de atração da não é encontrada pronta no empresa é alto, como demonstram mercado. Desenvolver pessoas os resultados de pesquisas recentes: quarto lugar na é, portanto, uma necessidade do negócio e também um pesquisa Empresa dos Sonhos dos Jovens e segundo lugar sinal de compromisso com as comunidades das regiões na pesquisa “empresas mais desejadas”, da consultoria onde a Vale atua. Aon Hewitt.

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pilares na estratégia da Vale. Portanto, é fundamental que o profissional seja capaz de compreender a complexidade de toda a cadeia de valor da empresa.

A Vale oferece oportunidades para profissionais formados nos níveis médio regular, técnico e superior. Há competências necessárias para cada um dos quatro públicos da empresa:

No Brasil e, principalmente, no setor mineral, existe uma predominância de trabalhadores do sexo masculino. Como esta situação está sendo revertida dentro da Vale?

- No caso dos líderes, é importante que eles tenham orientação estratégica, gestão por resultados e preocupação com desenvolvimento de pessoas, entre outras competências. - Para os especialistas (analistas, engenheiros, etc.), é importante que tenham foco em resultado, inovação e criatividade, além do conhecimento técnico.

A Vale sempre se preocupou em oferecer oportunidades a todos os seus empregados, independente do gênero. Em 2011, a Vale formalizou seu compromisso com a diversidade e a promoção da equidade de gênero e tem direcionado esforços para mudar esse cenário. Reconhecendo que existe uma discrepância históricocultural no acesso às oportunidades por homens e mulheres, a empresa criou o projeto Equidade de Gênero, que busca reconhecer e promover o talento e a capacidade da mulher sem criar um ambiente discriminatório.

- Os técnicos e operacionais entram na empresa com ensino médio ou técnico e são qualificados dentro de casa para algumas funções O projeto é composto de diversas específicas (vulcanizador, ações, como a viabilização do “O esforço para suprir o déficit de mecânico, eletro-mecânico) aumento de mulheres nos quadros mão de obra de qualidade deve ser pelo Programa Formação da empresa, a adaptação dos parte das metas de produtividade Profissional. Para participar ambientes e condições de trabalho das empresas.” do programa, eles precisam às mulheres, a conscientização ter um nível mínimo de de empregados sobre o assunto e conhecimento nas disciplinas a participação em eventos e fóruns básicas (português e matemática) e preocupação com sobre o tema. conceitos como meio ambiente e saúde e segurança. Uma das principais ações é a implantação de um - Para os profissionais de projetos, podem-se destacar as programa de mentoring só para mulheres, que tem competências técnicas (análise de viabilidade, gestão de como objetivo ajudar as líderes menos experientes projetos, gestão de contratos, etc.) e comportamentais no desenvolvimento do seu potencial, por meio da (preocupação com desenvolvimento de pessoas, identificação de seu próprio caminho de crescimento. resiliência, gestão de conflitos,...). Esta ação contribui para o aumento do número de mulheres em posições de liderança na empresa.

O que exatamente, na sua visão, define o profissional multiespecialista e qual valor ele tem para o mercado de trabalho?

Ser um profissional multidisciplinar é essencial para uma empresa do porte da Vale, que conta com milhares de empregados (entre próprios e terceiros) e atua em dezenas de países. Apesar de o principal negócio ser a mineração, a empresa está envolvida em outras atividades. O relacionamento com as comunidades onde atua, o compromisso com a sustentabilidade, através da preservação do meio ambiente e do cuidado com as pessoas, e o foco em saúde e segurança são

Conceitos sobre equidade de gênero também foram inseridos no conteúdo dos principais treinamentos da empresa. Na Comunidade de Líderes, plataforma digital onde os gestores podem discutir temas relevantes e trocar experiências, foi realizado um ciclo de três meses de discussões sobre o tema. Outra ação é a adaptação dos uniformes e equipamentos de segurança às mulheres. Antes do projeto estavam disponíveis apenas 32 modelos de óculos de segurança para os empregados. Agora já são 84 modelos, dos Revista IETEC | Ano 11 | Abril a Junho de 2014

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Capa

Quais as diretrizes e premissas para quem deseja seguir carreira dentro de uma grande empresa como a Vale?


quais 18 femininos - que se ajustam melhor ao rosto das mulheres. Também foram realizados estudos para adaptação de camisas, batas para grávidas, calças, botas e luvas. Em maio do ano passado, a Vale assinou a declaração de apoio aos Princípios de Empoderamento das Mulheres, elaborados pela ONU Mulheres e o Pacto Global das Nações Unidas. Com a adesão, a Vale passou a integrar um grupo de empresas e acadêmicos que conversa regularmente sobre iniciativas de equidade de gênero e reafirma seu compromisso com esses sete princípios.

“A função ‘educação’ tem crescido em

importância no mundo inteiro por uma razão muito simples: quanto mais complexa uma operação mais ela requer investimento em qualificação profissional”

O estímulo à equidade de gênero em nossa empresa é uma iniciativa relacionada a nossa visão de longo prazo e nossos pilares estratégicos de cuidar de pessoas e incorporar a sustentabilidade em nossos negócios. Mesmo que o desafio ainda seja grande, alguns resultados já podem ser observados: o número de mulheres na empresa tem aumentado constantemente nos últimos anos. Em 2010, elas correspondiam a 11% do total de empregados próprios. Em 2011, este número subiu para 12,3%, e em 2012 para 13%.

Os níveis de produtividade dos trabalhadores industriais no Brasil são baixos quando comparados aos níveis de países considerados competitivos, como Estados Unidos, Alemanha, entre outros. Quais são os fatores que colaboram para essa situação? E quais seriam as melhores estratégias para reverter essa questão? Quando comparado com outros países, os indicadores de educação do Brasil são incompatíveis com seu desenvolvimento econômico. Nesse contexto, o esforço para suprir o déficit de mão de obra de qualidade deve ser parte das metas de produtividade das empresas. Ter uma universidade corporativa é um instrumento poderoso para ajudar a organização a alcançar seus objetivos. A função “educação” tem crescido em importância no mundo inteiro por uma razão muito

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simples: quanto mais complexa uma operação mais ela requer investimento em qualificação profissional (tanto pela rotação das pessoas, quanto pelas especificidades locais, pelos ciclos de melhoria contínua e inovação). Educação passa a ser uma ferramenta de sustentação de diferenciais competitivos. Isto é o que justifica que, em escala global, grandes empresas, inclusive na indústria de mineração, acompanhem esta tendência.

O Ietec é parceiro da Vale há mais de 20 anos, oferecendo soluções de educação e treinamento, tendo inclusive participado na formação de alguns diretores da empresa. Como manter essa parceria por mais vinte anos? A visão do RH da Vale é “alavancar o potencial humano e agregar valor de longo prazo, provendo as melhores soluções”. Tendo em vista esse objetivo, a Vale tem como foco a parceria com fornecedores que estejam alinhados com essa premissa, garantindo a sustentabilidade do desenvolvimento e a assertividade da solução proposta.

Edécio Brasil Edécio Brasil é diretor de RH para a América Latina da Vale. Até maio de 2014 ocupa interinamente o cargo de diretor de RH, responsável pela área em todo o mundo. Ele se formou em Administração de Empresas em 1984 e no ano seguinte ingressou na Vale como trainee. Em 1990 foi promovido a gerente de RH das Minas Sul. Em 1992, passou a gerente geral da Mina de Conceição, em Itabira (MG). Em 1993, assumiu o cargo de gerente geral de RH das Minas Sul. Também foi gerente de Economia até que em 2000 foi promovido a diretor de Seguridade da Valia. Em 2006 passou a acumular a função na Valia com a de diretor-presidente da PASA, Em 2009 assumiu o cargo de diretor de Planejamento, Remuneração e Gestão do Desempenho da Vale, onde ficou por seis meses, antes de tornar-se diretor de Gestão Global dos Processos de RH. Em 2010, mudou-se para a Singapura, onde ocupou o cargo de diretor de RH para o Índico-Pacífico. Em abril de 2012 assumiu a atual posição.


SUSTENTABILIDADE UMA VISÃO DE MUNDO QUE SEMPRE GUIOU O IETEC

• Criação do primeiro curso de pós-graduação em Engenharia Ambiental - 1991; • Primeiro curso de pós-graduação em Gerenciamento Ambiental - 1993; • Pós-graduação em Direito Ambiental, Engenharia Ambiental Integrada e Gestão Ambiental Empresarial; • Realização de diversos seminários e centenas de cursos sobre meio ambiente e responsabilidade social - 1995; • Criação e organização de sete edições da Ecolatina – Conferência Latino-Americana sobre sustentabilidade, com um público estimado de mais de 50 mil pessoas, de 31 países, impactando centenas de milhares de pessoas;

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• Lançamento do Fórum IETEC de Engenharia Ambiental; • Primeira pós-graduação em Administração Ambiental Municipal; • Lançamento do Manifesto contra a Poluição Visual em Belo Horizonte, liderando diversas entidades representativas da RMBH, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida nas cidades - 2001; • Disponibiliza cursos gratuitos nas mais diversas áreas de conhecimento, já tendo beneficiado mais de 13 mil e 700 pessoas, em mais de 300 cursos desde 2002; • Convênio com a Universidade Federal de Viçosa, criando o primeiro MBA em Política e Gestão Ambiental do Brasil - 2004; • Criação da Ecolatina TV, o primeiro programa sobre sustentabilidade produzido em Belo Horizonte - 2005.

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Cenário

Gestão da água e energia Com recursos hídricos escassos, preservação ambiental é questão de sobrevivência para as empresas A questão da água está sendo discutida amplamente em todo o mundo. Não é por acaso. Apesar de ser o recurso mais abundante do planeta, o risco de escassez é crescente. Hoje, mais de um bilhão de pessoas já sofrem com a escassez da água, e de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2030 a população mundial vai necessitar de 35% a mais de alimento, 40% de água e 50% a mais de energia. Ações integradas entre governantes, setor industrial e consumidores devem ser realizadas com urgência, antes que a situação se torne irreversível. SEGUNDO A ONU, EM

2030

A POPULAÇÃO MUNDIAL NECESSITARÁ DE...

EM

50% + ENERGIA

2014

768

MILHÕES DE PESSOAS ainda não têm acesso à água tratada

40%

2,5

+ ÁGUA

BILHÕES DE PESSOAS têm condições ruins ou péssimas

35%

1,3

+ ALIMENTO

BILHÃO DE PESSOAS não têm acesso à eletricidade

O Brasil, apesar de ter uma posição privilegiada em relação a outros países, com uma das maiores reservas de água do mundo, 12%, vive hoje um momento não muito confortável em relação aos recursos hídricos. O acesso a esses recursos no país é desigual, com 81% concentrados na região amazônica.

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A falta de chuvas, problemas de infraestrutura, gestão e planejamento são alguns dos fatores que levaram o país a vivenciar essa situação. O consumo cresceu numa proporção muito mais acentuada que a construção de novos reservatórios e outras fontes de geração de energia, e agora é necessário ter atenção redobrada. Segundo o engenheiro e ex-presidente da Eletrobrás, Aloísio Vasconcelos, duas atitudes devem ser tomadas rapidamente para evitar um possível racionamento: “É necessário liberar as usinas que já estão prontas para serem feitas na região amazônica e também as linhas de transmissão. Outra atitude importante é criar um programa de energias alternativas.” Em relação ao setor industrial, Aloísio considera duas ações como fundamentais: “A primeira é usar e reusar, e ‘tri-usar’, e ‘tetra-usar’ a água. A água é um bem fanstástico, não pode ser jogada fora, como hoje ocorre em algumas empresas. Além da perda, do desperdício, há também a poluição no rio, no córrego, para onde ela for.” A segunda ação está relacionada à iniciativa em se fazer a eficiência energética, que segundo ele pode dar para algumas empresas, como por exemplo, o setor mecânico, automotivo e têxtil, até 18% de economia na conta mensal de energia: “Melhorar o fator de potência das máquinas, evitar a perda nos cabos, mudar a iluminação, ar condicionado inteligente, e um sistema de utilização de motores com alta performance. Isso é possível, o governo tem programas que incentivam


Hoje é perceptível o aumento da preocupação das indústrias com relação aos recursos naturais, que são fundamentais em seus processos. O setor, que utiliza grandes quantidades de água e energia, tem investido cada vez mais na adoção de práticas que visam minimizar os impactos ao meio ambiente e promover ações sustentáveis. De acordo com o coordenador da Rede de Recursos Hídricos da Gerência de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Percy Soares, a reutilização da água, por exemplo, além de promover a preservação do recurso, gera resultados econômicos não só em relação à conta de água, mas também na economia de energia e matéria prima. A adoção da produção sustentável gera muitos benefícios além dos ambientais, como: fortalecimento e fidelidade da marca e do produto; maior produtividade; melhoria da qualidade do produto; maior facilidade de obtenção de crédito; melhoria das condições de trabalho; melhores relações com a vizinhança; etc. De acordo com o estudo “Água, Indústria e Sustentabilidade” da CNI, o aprimoramento da governança da água no setor industrial é de extrema importância para o país: Conhecer as especificidades de cada situação e analisar a condição local é essencial para que sejam implementados os programas de governança das águas nas empresas.

Para tanto, é essencial para as empresas: • Conhecer os mananciais, os fluxos de água e os balanços hídricos em seus processos produtivos. • Incorporar na gestão dos negócios práticas voltadas ao uso racional da água e à conservação dos recursos hídricos, considerando a correlação dos dados físicoambientais com os dados econômicos. • Identificar, quantificar e gerenciar os riscos associados ao uso dos recursos hídricos ao longo da cadeia produtiva para garantir a perenidade dos negócios. • Participar ativamente dos fóruns de recursos hídricos, conhecer as condições locais e envolver- se com demais usuários de água. • Assegurar e aprimorar a transparência na divulgação de informações sobre o uso da água e o lançamento de efluentes nos relatórios de sustentabilidade e para todas as partes interessadas. O estudo “OECD Environmental Outlook to 2050 - The Consequences of Inaction” sinalizou o crescimento da demanda de água fazendo um comparativo do ano 2000 a 2050 nos diversos setores que utilizam o recurso no mundo, com destaque para o crescimento da água para eletricidade e indústria. Um dos setores que tem uma forte interação com os recursos hídricos, tanto superficiais quanto

Demanda de água para diferentes setores usários Demanda de água - milhões m3 Eletricidade

Indústria

Agropecuária

Uso Doméstico

Irrigação

6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 2000

2050

OECD

2000

2050

BRICS

2000

2050

RESTO DO MUNDO

2000

2050

MUNDO FONTE: OECDa

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Cenário

isso, mas é necessário o industrial acreditar e fazer.” Afirma.


Cenário

subterrâneos, é o da mineração. E ele possui uma grande responsabilidade quanto aos cuidados com o recurso, que é fundamental para o negócio.

O Papel da engenharia

A engenharia tem um papel imprescindível na criação de soluções que permitam o desenvolvimento tecnológico Uma das maiores empresas de mineração do mundo, sem que seja necessário agredir o meio ambiente. As a Vale, promoveu ações que geraram resultados grandes obras, necessárias para manter a qualidade satisfatórios relacionados à gestão da água. De acordo de vida da população em geral e o crescimento da com Fátima Chagas, gerente de Tecnologia Ambiental indústria, como hidrelétricas, ou obras destinadas da Vale, “Em 2012 foram investidos a novas fontes de energia, cerca de US$ 125,9 milhões na precisam ter bons profissionais “A inovação tecnológica pode gestão dos recursos hídricos, para a implementação de projetos aproximadamente 12% do total ser uma grande aliada para as que visem em primeiro lugar a dos investimentos ambientais, preservação do meio ambiente. ações que visam a preservação incluindo iniciativas de inovação ambiental.” tecnológica, projetos de Para Aloísio Vasconcelos, são os diagnósticos e equipamentos, engenheiros que equilibram a relação entre outros.” entre o desenvolvimento industrial e o meio ambiente: “É necessário conseguir uma harmonia entre aquilo o A Vale também conseguiu bons resultados quanto que o Brasil necessita em relação ao desenvolvimento ao reaproveitamento da água na empresa: “O índice energético e a preservação ambiental, e a engenharia médio de recirculação em 2012 foi de 77%, um dá mil soluções para isso. A engenharia vai evoluindo e aumento de sete pontos percentuais em relação a criando ferramentas para 2011. Com isso, a Vale deixou de captar 1,227 bilhão solucionar essa questão.” de metros cúbicos de água de fontes naturais. Para se ter uma ideia, isso é o equivalente a cerca de duas De acordo Antônio vezes o consumo anual da cidade do Rio de Janeiro. Malard, gerente de Parte desse resultado é reflexo dos investimentos produção sustentável da em tecnologias voltadas para o desenvolvimento de Fundação Estadual do programas e ações focadas na redução da demanda e Meio Ambiente de Minas Vasconcelos do consumo de água.” Gerais e coordenador Aloísio Engenheiro e ex-presidente da pós-graduação em da Eletrobrás Em relação à indústria automotiva no Brasil, as ações Engenharia Ambiental voltadas para a economia de água reduziram o uso da no IETEC, “Profissionais da área água na fabricação de veículos em 29%, de 2008 a ambiental, incluindo os especializados em engenharia 2011. ambiental, são os grandes fomentadores da produção e consumo sustentável. Partem deles as ações para Na Fiat Automóveis, a recirculação da água que é uma produção mais limpa, que contemplam maior utilizada nos processos produtivos é de 99%. Isso eficiência energética e no uso da água. Eles podem significa que a captação de água potável da rede atuar em processos complexos, até ações simples pública para o uso industrial é praticamente nula, uma para alcançar esse objetivo.” economia que corresponde ao abastecimento de uma cidade de 30 mil habitantes. Ele também cita como a inovação se relaciona com esse contexto: “A inovação tecnológica pode ser uma No final de 2013, a Fiat se tornou a primeira fábrica de grande aliada para as ações que visam a preservação automóveis do país a receber a certificação ISO 50001, ambiental. A cada dia surgem novas tecnologias de gestão de energia. Resultado do investimento na de tratamento de resíduos e efluentes, geração de disseminação de tecnologias e práticas para a melhoria energia, reuso de água, redução de consumo. Tornar as do desempenho energético em todos os seus processos inovações tecnológicas mais atrativas financeiramente de produção, desde o projeto até a montagem final. é o grande desafio.”

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Revista IETEC | Ano 11 | Abril a Junho de 2014


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O tormento climático José Eli da Veiga

Professor Sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP

Têm sido inócuos os arranjos globais para manejo da mudança climática. Pior: não há sinal de que a rota venha a ser alterada. Mesmo na mais otimista das apostas – que um dia todas as nações responsáveis por significativa parte do dano venham a ter metas legalmente obrigatórias para contenção de suas emissões de gases de Efeito Estufa – ela será perdedora sem prévia formação de um preço mundial do carbono, algo incompatível com o Protocolo de Kyoto, cuja resiliência constitui o cerne do tormento. Nas negociações desse Protocolo, entre 1993 e 1997, venceu a tese de que a melhor maneira de se atingir tal preço seria o comércio de emissões (“Cap-and-Trade”), contra o historicamente comprovado recurso à tributação. Em consequência, meros 7% das emissões globais de carbono são hoje afetados pelos dois mecanismos de formação de preço: “Esquemas para Comércio de Emissões” (ETS, em inglês) e alguns poucos tributos unilaterais em sociedades mais conscientes de que só com mercados jamais cumpririam suas metas. Embora nos últimos nove anos tenham surgido uma dúzia de ETS, o único relevante é o EU-ETS, que envolve as 11.500 empresas responsáveis por 40% das emissões da União Europeia. Foi inevitável, portanto, que fortes compromissos políticos com a sustentabilidade tenham levado sete países dessa região à decisão de também tributarem de forma explícita outra parte de suas emissões. Há taxas-carbono na Dinamarca, na Finlândia, na Irlanda, na Suécia e agora no Reino Unido, assim como na Noruega e na Suíça, que preveem vínculos com o EU-ETS por acordos bilaterais. No entanto, foi do outro lado do Atlântico, na província canadense da Colúmbia Britânica, que pintou o melhor dos impostos climáticos em vigor. Uma taxa-carbono que incide há cinco anos sobre a queima de todos os combustíveis fósseis, sem aumento de carga tributária. Para evitar que o desembolso de pouco mais de US$ 20 por tonelada de carbono emitido (trinta desde 2012) prejudique os negócios, a alíquota do imposto de renda das pessoas jurídicas foi reduzida de 12% para 10%. Esse é o máximo que pode ser feito sem perda de competitividade enquanto o exemplo não for seguido ao menos por outras das nove províncias e Estados dos EUA.

Prova dos nove do alerta feito pelos melhores estudos científicos sobre o tema: a única maneira eficaz de se administrar a mudança climática é a adoção de uma taxa mundial, mas incidente sobre o consumo, de modo que o preço de qualquer mercadoria também reflita seu correspondente teor de carbono. Não há melhor maneira de se catalisar inovações e investimentos pró-mitigação.

O principal problema prático desse projeto é a inviabilidade de se usar a convencional análise de custo-benefício no cálculo de qual deveria ser o valor da taxa, dada a impossibilidade de se estimar o custo social do carbono em âmbito global. Além disso, é óbvio que ela seria politicamente desastrosa se viesse a causar séria carestia. Por isso, a saída seria que o preço mundial do carbono começasse bem baixo, mas com patente perspectiva de alta. E que os aumentos ficassem na dependência da avaliação do impacto obtido com o baixo preço inicial, em procedimento conhecido como “a learning-by-taxing process”. A organização encarregada de administrar essa dinâmica estabeleceria o preço do carbono assim como um Banco Central faz com a taxa de juros básica. Infelizmente esse caminho mais racional para uma gestão da mudança climática foi interditado pela vitória de Pirro obtida pelo fundamentalismo de mercado nas negociações do Protocolo de Kyoto. Mais: em vez de esgotamento de sua inércia institucional, há temerária teimosia, além de muita criatividade, na proliferação de malabarismos aprovados em conferências das partes da Convenção (CoPs da UNFCCC). Espécie de obsessão em se preservar o legado, apesar de sua evidente impotência. Esse contexto sugere a possibilidade de duas mudanças objetivas extremas que forçosamente exigiriam e induziriam correção de rumo. A pior seria que a atual marcha da insensatez fosse bruscamente interrompida por alguma séria catástrofe ecológica que provocasse atribulada e radical revisão da própria Convenção. A melhor seria que bem antes disso despontasse uma revolução tecnológica capaz de antecipar a aposentadoria das energias fósseis, tornando quase supérflua a parafernália já montada para se chegar a uma governança global da mudança climática. O cenário mais provável, porém, é que gradualmente se combinem esses dois vetores polares. Por isso, para uma sociedade como a brasileira – que desfruta de imensas vantagens comparativas ecológicas e geográficas, mas que ainda nem sequer engatinha na direção das socioculturais vantagens competitivas – romper com o marasmo é assumir o duplo desafio de investir muito mais do que hoje na busca de inovações energéticas e, simultaneamente, abrir um sério e sistemático debate público sobre o sentido e a orientação de sua ação diplomática no âmbito do regime climático. Artigo publicado originalmente no jornal Valor

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Opinião

Foto: Arthur Fuji


Saneamento, urgente Marina Grossi

Opnião

Presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)

A última edição da pesquisa do Instituto Trata Brasil revelou que 61,52% do volume de esgoto gerado nas 100 maiores cidades brasileiras não recebem tratamento adequado. Traduzindo o percentual em números, as cidades com mais de 300 mil habitantes do país despejam diariamente 3,2 bilhões de metros cúbicos de esgoto, o equivalente a 3,5 mil piscinas olímpicas. Além de alertar a sociedade para números expressivos e inaceitáveis, as pesquisas anuais do Trata Brasil indicam que caminhamos lentamente na direção da meta de universalizar a distribuição de água potável e de coleta e tratamento de esgoto. Seja do ponto de vista econômico ou socioambiental, além do compromisso ético, argumentos não faltam para que a sociedade dê prioridade ao saneamento básico. O despejo de bilhões de litros de esgoto sem tratamento no meio ambiente, contaminando lençóis freáticos, rios, lagos, manguezais e as áreas mais ricas em biodiversidade dos mares, provoca perdas de ativos ambientais, produzindo impactos indesejáveis no plano social e econômico, queda na atividade pesqueira e no turismo, incidência de doenças de veiculação hídrica e aumento dos custos com adição de produtos químicos nas estações de captação e tratamento de água, entre outras consequências. Estima-se que 217 mil trabalhadores precisam se afastar de suas atividades por ano devido a problemas gastrointestinais. As crianças que moram em locais sem saneamento básico têm, em média, um aproveitamento escolar 18% abaixo das que vivem em regiões salubres. Sem considerar a queda de produção por horas não trabalhadas e a perda no longo prazo com a queda do rendimento escolar de expressiva parcela de crianças e jovens. Os benefícios econômicos e sociais do investimento em saneamento vão além da redução das perdas citadas. Para cada R$ 1 milhão investido em obras de esgoto sanitário,

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Foto: Vânia Morais

são gerados 30 empregos diretos e 20 indiretos, sem contar com a demanda por mão de obra quando o sistema entra em operação. O esforço de especialistas para quantificar concretamente os benefícios do investimento em saneamento deve servir de estímulo para mudar o comportamento de políticos e mobilizar os demais setores da sociedade para o tema. A excessiva concentração dos projetos de execução de obras de saneamento no setor governamental é, certamente, uma das mais relevantes razões para caminharmos tão lentamente em direção à meta de universalizar o serviço. De acordo com a última estimativa do Plano Nacional de Saneamento Básico, teremos que investir R$ 302 bilhões até 2033 para atingirmos a meta proposta. Contudo, a média de investimento anual em saneamento tem se mantido entre R$ 15 bilhões e R$ 16 bilhões, o que corresponde à metade do volume de recursos necessários. Há também problemas de gestão. Estudo do Trata Brasil, que recebeu o título de “De olho no PAC”, que acompanha a execução de 138 grandes projetos de saneamento em municípios com mais de 500 mil habitantes (sendo 112 do PAC 1 e 26 do PAC 2), constata que apenas 14% das obras foram concluídas até dezembro de 2012. Se somarmos a média baixa de investimento à morosidade na execução dos projetos, corremos o risco de comprometer seriamente o prazo para atingirmos a meta proposta no plano nacional. É preciso e possível encontrar mecanismos legais e políticos que permitam uma participação maior do setor empresarial e de instituições civis nesse processo. Esses novos parceiros poderão disponibilizar tecnologia, investimento e capacidade de mobilizar a sociedade. Estima-se que poderíamos levar 40 anos ou mais para que todos os brasileiros tenham acesso ao saneamento, 20 anos mais do que os atuais planos do governo.


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Gestão de Projetos Curso

Preparatório para Exame PMP/PMI Preparatório para Exame PMP/PMI Administração de Contratos Gerenciamento de Pleitos em Projetos Gerenciamento de Pleitos em Projetos Liderança e Gestão de Pessoas Liderança em Equipes de Projetos Gestão Estratégica de Projetos: Uma Abordagem Orientada a Resultados Gerenciamento de Projetos Gerenciamento de Projetos com o MS Project 2010 Gestão de Pessoas em Equipes de Projetos Planejamento e Controle de Custos de Projetos Gerenciamento de Projetos Negociação em Gerenciamento de Projetos Metodologia FEL como Análise de Viabilidade de Projetos Gerenciamento de Projetos Industriais de Construção e Montagem Gerenciamento de Projetos de Investimento Gerenciamento de Projetos Metodologias Ágeis para Gerenciamento de Projetos Gerenciamento Integrado de Projetos na Construção Civil Planejamento e Gestão de Projetos de Paradas na Indústria Viabilidade Econômico-Financeira de Projetos

Início

17/Jun 23/Jul 08/Abr 09/Abr 03/Jul 15/Abr 22/Abr 24/Abr 28/Abr 06/Mai 06/Mai 12/Mai 13/Mai 19/Mai 20/Mai 27/Mai 09/Jun 23/Jun 25/Jun 30/Jun 30/Jun 30/Jun

Término

Horário

29/Jul 24/Set 06/Mai 10/Abr 04/Jul 13/Mai 25/Abr 08/Ago 29/Abr 08/Mai 03/Jun 15/Mai 10/Jun 22/Mai 17/Jun 24/Jun 10/Jun 26/Jun 26/Jun 03/Jul 01/Jul 03/Jul

A Distância Noturno A Distância Diurno Diurno A Distância Noturno Diurno Diurno Diurno A Distância Noturno A Distância Noturno A Distância A Distância Diurno Noturno Diurno Noturno Diurno Noturno

20/Mai 30/Abr 07/Mai 08/Mai 15/Mai 16/Mai 22/Mai 22/Mai 29/Mai 30/Mai 06/Jun 10/Jun 11/Jun 26/Jun 03/Jul 05/Ago 11/Jul 17/Jul 16/Jul

A Distância Diurno Noturno Noturno Diurno Diurno Noturno Noturno Noturno Diurno Noturno Diurno Diurno Diurno Noturno A Distância Diurno Noturno Diurno

Gestão e Tecnologia Industrial / Qualidade Planejamento da Engenharia de Empreendimentos Industriais Administração de Custos e Produtividade Planejamento, Organização e Execução de Inventários Indicadores de Desempenho da Qualidade - Área Industrial Gerenciamento da Capacidade Produtiva Planejamento e Controle de Estoque Indicadores de Performance Logística (KPI’s) Gerenciamento de Contratos de Compras Importação - Compras Internacionais Projetos e Organização do Trabalho (Layout/Ergonomia e Cronoanálise) Mapeamento e Gerenciamento de Processos - (Business Process Redesign) Custos como Instrumento de Gestão Gerenciamento da Logística Custos Industriais - Formação do Custo do Produto Planejamento, Programação e Controle da Produção Elaboração e Análise da Proposta Técnica Comercial Liderança em Equipes de Produção Gerenciamento de Almoxarifados Negociação em Compras

22/Abr 29/Abr 05/Mai 06/Mai 13/Mai 15/Mai 19/Mai 19/Mai 26/Mai 28/Mai 03/Jun 09/Jun 10/Jun 25/Jun 30/Jun 08/Jul 10/Jul 14/Jul 15/Jul

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Mineração Curso

Planejamento e Controle de Mina Subterrânea Geoestatística Aplicada Separações Sólido-Líquido no Processamento de Minérios: Espessamento e Filtragem Avaliação Econômica de Projetos de Mineração Bombeamento de Polpas Planejamento da Produção Mineral Fechamento de Mina Operação de Moagem e Filtragem de Minérios Estrutura de Custos em Mineração Avaliação de Segurança em Barragens de Rejeitos Fragmentação de Minérios, Britagem, Moagem e Classificação

Início

24/Abr 07/Mai 12/Mai 19/Mai 26/Mai 28/Mai 09/Jun 25/Jun 17/Jul 28/Jul 14/Jul

Término 25/Abr 09/Mai 21/Mai 21/Mai 28/Mai 30/Mai 11/Jun 27/Jun 18/Jul 31/Jul 23/Jul

Horário Diurno Diurno Noturno Diurno Diurno Diurno Diurno Diurno Diurno Diurno Noturno

Gestão e Tecnologia da Informação Gestão da Segurança da Informação - ISO/IEC 27.001 Gestão de Projetos de Tecnologia da Informação Business Model Generation - Criação e Otimização de Modelos de Negócios Metodologias e Processos Ágeis de Projetos de Software Clouding Computing e Byoud Gestão do Conhecimento e Tratamento da Informação Práticas de Modelagem de Negócios e de Processos

05/Mai 06/Mai 12/Mai 02/Jun 09/Jun 26/Jun 14/Jul

06/Mai 03/Jun 15/Mai 05/Jun 11/Jun 27/Jun 23/Jul

Diurno A Distância Noturno Noturno Diurno Diurno Noturno

05/Mai 12/Mai 15/Mai 26/Mai

08/Mai 15/Mai 16/Mai 28/Mai

Noturno Noturno Diurno Diurno

28/Abr 28/Abr 22/Mai 26/Mai 25/Jun 26/Jun 30/Jun 14/Jul

29/Abr 30/Abr 23/Mai 29/Mai 27/Jun 27/Jun 03/Jul 15/Jul

Diurno Diurno Diurno Noturno Diurno Diurno Noturno Diurno

08/Mai

09/Mai

Diurno

Engenharia e Construção Planejamento, Programação e Controle de Projetos de Engenharia Arquivo Técnico: Procedimentos e Boas Práticas Liderança e Formação de Equipes de Construção e Montagem Orçamentação para Projetos Industriais e Montagem Eletromecânica

Manutenção FMEA - Aplicada à Manutenção Gestão de Custos e Investimentos em Manutenção Liderança em Equipes de Manutenção PCM - Planejamento, Programação e Controle da Manutenção Gestão de Indicadores na Manutenção Gerenciamento da Manutenção Gestão de Projetos de Paradas de Manutenção Ferramentas Avançadas Aplicadas à Manutenção

Inovação e Criatividade Ferramentas da Criatividade para Inovação

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Meio Ambiente Gestão do Transporte de Produtos e Resíduos Perigosos Tratamento de Esgotos e Efluentes Industriais Gestão e Controle Ambiental de Emissões Atmosféricas Gerenciamento de Riscos e Acidentes Ambientais Projetos de Construções Sustentáveis Licenciamento Ambiental Aproveitamento Energético de Resíduos Sólidos Urbanos Avaliação de Impactos Ambientais: Aplicação e Metodologias Gerenciamento de Resíduos Sólidos Industriais Bioengenharia de Solos: Técnicas Avançadas para Recuperação Ambiental

22/Abr 29/Abr 13/Mai 13/Mai 26/Mai 09/Jun 26/Jun 26/Jun 14/Jul 16/Jul

25/Abr 30/Abr 14/Mai 16/Mai 29/Mai 11/Jun 27/Jun 27/Jun 15/Jul 18/Jul

Noturno Diurno Diurno Noturno Noturno Diurno Diurno Diurno Diurno Diurno

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A Gerdau realizou, em parceria com o IETEC, curso de Produtividade Industrial, Medição e Gerenciamento através da OEE, em Divinópolis, para profissionais que negociam e gerenciam contratos nas empresas, como: engenheiros, administradores, encarregados de manutenção, analistas e gestores de projetos. O participante Paulo Henrique Garbazza fez uma ótima avaliação do treinamento e afirmou ter sido um excelente curso.

A importância da liderança em equipes de projetos

A governança de TI na prática

Métodos de aplicação e utilização da Governança Corporativa nas Organizações foram temas discutidos no workshop apresentado por Alexandra Hutner, mestre em engenharia, gestão e tecnologia, professora e coordenadora dos cursos de pósgraduação em Análise de Negócios e da Informação e pós-graduação em Gestão de Tecnologia da Informação do Ietec. Para a participante Joana Alves, as apresentações dos assuntos de destaque no mercado e cases durante o workshop foram válidos para o seu aprendizado e conhecimento profissional.

Ferramentas e Novas Abordagens na Tomada de Decisão - BI

O conceito da liderança situacional e sua importância para o gerenciamento de equipes e projetos; esse tema foi apresentado por Ivo Michalick, MSc, PMP, PMI-SP, representante do Conselho Consultivo do PMI-MG, professor e coordenador dos cursos de gerenciamento de projetos do IETEC. De acordo com Giovani Ferreira, coordenador de projetos da Totvs, “O conteúdo foi muito interessante, principalmente por apresentar a postura que o gerente de projetos deve ter ao conduzir uma equipe para alcançar os objetivos dos projetos.”

O workshop ministrado pelo doutorando em Ciência da Informação e coordenador do curso de Engenharia de Software do Ietec, Fernando Zaidan, e os convidados Pedro Henrique de Almeida e Rogério Morais Rocha, apresentou aos participantes uma visão geral da Inteligência de Negócios (Business Intelligence BI), novo curso do Ietec. Olivia Lima, que participou do workshop, elogiou o evento: “Aprendi muito em poucas horas, parabéns” Revista IETEC | Ano 11 | Abril a Junho de 2014

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Curtas

GERDAU – Produtividade Industrial


Cenário

O Brasil e a construção sustentável A crescente urbanização trouxe como consequência danos ao meio ambiente que vêm se mostrando irreversíveis. As transformações estão presentes nas alterações no clima, níveis altíssimos de poluição nas principais metrópoles do mundo, falta de água e inúmeros problemas relacionados a essa questão. Em um mundo onde os recursos naturais estão ficando escassos, a preocupação com o meio ambiente se tornou primordial para todas as atividades que geram algum tipo de impacto ambiental, e o setor de construção tem uma responsabilidade considerável em relação a esse tema. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, mais de 50% dos resíduos sólidos gerados por atividades humanas são provenientes da construção. Para mudar esse cenário, os empresários do setor estão investindo em construções que tenham como prioridade o respeito ao meio ambiente. Um bom exemplo dessa preocupação é a criação da certificação LEED, que é considerada a principal certificação de construção sustentável internacionalmente, presente em mais de 140 países em todo o mundo, representado pelo Green Building Council. O Brasil ocupa uma posição de destaque no ranking mundial de construção sustentável: o país está na quarta colocação, atrás dos Estados Unidos, China e Emirados Árabes. 850 empreendimentos estão registrados e 148 já foram certificados pelo selo LEED. Em Minas Gerais, são 18 empreendimentos registrados, entre eles o estádio de futebol Mineirão; e dois já certificados: o prédio WT - Águas Claras, em Nova Lima, e FeelGood, da Unilever, em Pouso Alegre. De acordo com o diretor do GBC-Brasil, Felipe Faria, os números têm crescido anualmente: “Vemos um grande crescimento no número de projetos certificados, só no

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ano passado foram 54 certificações contra 43 em 2012. Em termos de edificações certificadas no ano de 2014, os números tendem a ser semelhantes aos de 2013, em que tivemos ao menos 4 certificações por mês. A quantidade de novos projetos registrados em 2013 foi de 3 projetos a cada 2 dias úteis do ano.” Ele afirma que, para 2014, a quantidade de novos projetos registrados vai depender da atividade construtiva nos segmentos de edifícios corporativos: novas plantas industriais, centros de distribuição e logística, áreas em que os sistemas de certificação têm forte demanda. O selo LEED possui 4 categorias: • Selo LEED, conferido a empreendimentos que tiveram mais de 40 pontos; • selo LEED Silver, para edificações com mais de 50 pontos; • selo LEED Gold, para empreendimentos com pontuação superior a 60 • selo LEED Platinum, para edificações que conquistaram mais de 80 pontos. O valor das pontuações é definido de acordo com vários critérios estabelecidos pela certificação, como a eficiência e uso da água, inovação e processos, entre outros. Apesar de estar bem colocado no ranking, o Brasil possui potencial para alcançar melhores resultados. Para Cristiane Silveira de Lacerda, engenheira civil, urbanista e professora do curso do IETEC sobre a


Certificação LEED, é necessária uma mudança cultural forte. De acordo com ela, obter a certificação não é algo simples, demanda uma mudança de postura e investimento, de mudança de comportamento, de planejamento, etc. “As obras públicas devem dar o exemplo, os editais devem contemplar exigências de sustentabilidade. Edifícios verdes contribuem para o aumento de produtividade e maior qualidade para os usuários. Começar pelas escolas públicas pode ser um bom lugar, as crianças aprenderão com a própria experiência do ambiente e das técnicas de eficiência incorporadas à edificação. A elaboração de um plano para a incorporação desses critérios de sustentabilidade e eficiência energética dentro das normas e legislações municipais, estaduais e federais, para que principalmente as cidades possam ser pensadas, projetadas, e adaptadas com esses critérios, faz-se essencial.” De acordo com o coordenador da pós-graduação em Gestão de Projetos em Construção e Montagem do Ietec, Ítalo Coutinho: “Atualmente, o Brasil enfrenta certa dificuldade em ter construções sustentáveis pelo seu alto preço inicial, mas nossa legislação está mudando e muito do que antigamente era sugestão, hoje em dia é obrigatório, e estamos evoluindo para o aumento de construções sustentáveis.” Ítalo também cita outro fator que também atrapalha a evolução do país nessa questão: “O desconhecimento do empreendedor, do construtor, dos operários e da própria sociedade em relação ao que pode ser feito para que uma construção agrida menos o meio ambiente é um fator que ainda precisa ser melhorado.” Ele enfatiza a importância do aperfeiçoamento, especialização e atualização contínua para os profissionais da área. De acordo com Cristiane, o país tem todas as condições para ser a principal referência em sustentabilidade: “O Brasil, com suas reservas naturais, um povo extremamente criativo, e com recursos econômicos limitados, dados os inúmeros desafios que ainda se apresentam, possui todas as características para assumir uma postura mais determinante no desenvolvimento e no fortalecimento das construções sustentáveis.”

Dimensões avaliadas pela Certificação Leed Espaço Sustentável – Encoraja estratégias que minimizam o impacto no ecossistema durante a implantação da edificação e aborda questões fundamentais de grandes centros urbanos, como redução do uso do carro e das ilhas de calor. Eficiência do uso da água – Promove inovações para o uso racional da água, com foco na redução do consumo de água potável e alternativas de tratamento e reuso dos recursos. Energia e Atmosfera – Promove eficiência energética nas edificações por meio de estratégias simples e inovadoras, como por exemplo simulações energéticas, medições, comissionamento de sistemas e utilização de equipamentos e sistemas eficientes. Materiais e Recursos - Encoraja o uso de materiais de baixo impacto ambiental (reciclados, regionais, recicláveis, de reuso, etc.) e reduz a geração de resíduos, além de promover o descarte consciente, desviando o volume de resíduos gerados dos aterros sanitários. Qualidade ambiental interna – Promove a qualidade ambiental interna do ar, essencial para ambientes com alta permanência de pessoas, com foco na escolha de materiais com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis, controlabilidade de sistemas, conforto térmico e priorização de espaços com vista externa e luz natural. Inovação e Processos – Incentiva a busca de conhecimento sobre Green Buildings, assim como, a criação de medidas projetuais não descritas nas categorias do LEED. Pontos de desempenho exemplar estão habilitados para esta categoria. Créditos de Prioridade Regional – Incentiva os créditos definidos como prioridade regional para cada país, de acordo com as diferenças ambientais, sociais e econômicas existentes em cada local. Quatro pontos estão disponíveis para esta categoria. Fonte: GBC Brasil

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Conhecimento Aplicado

Curtas

Investir em qualificação é fundamental para obter os melhores resultados na carreira Almir Vieira atua como engenheiro de segurança do trabalho, consultor e auditor em sistemas integrados de gestão e de responsabilidade social, na Loretus Gestão Empresarial. Formado em engenharia mecânica, Almir sempre teve preocupação com sua carreira, e cursou diferentes especializações para se tornar um profissional mais completo. Ao cursar Engenharia Ambiental no Ietec, conseguiu resultados importantes dentro da carreira. Entre eles, a participação na equipe de implantação da norma ISO 14001 em um grande grupo siderúrgico em Minas gerais, que culminou na certificação. Outro exemplo prático de como o curso colaborou com sua atuação profissional, foi em relação a como estruturar uma planilha de levantamento dos aspectos ambientais integrado com a identificação de perigos de Saúde e Segurança no Trabalho (SST), sustentado por um procedimento documentado único. Ele cita a orientação dos professores como um dos pontos mais interessantes do curso: “As dicas práticas dadas pelos professores quanto ao caminho a seguir na implantação de um sistema de gestão ambiental, evitando que o mesmo fique engessado e burocratizado, sendo algo pouco Almir Vieira visível e praticado Consultor em Sistemas Integrados pelo nível operacional de Gestão na LORETUS (operadores), foram muito importantes”. Entre outros benefícios, Almir cita promoção interna que recebeu, com aumento de sua remuneração. Para o futuro, ele pretende cursar Gestão de Projetos: “Um projeto que tenho para minha carreira profissional seria complementá-la com um curso de

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Gestão de Projetos, que inclusive já estou sondando para fazer no Ietec. Isso, com certeza, irá aprimorar os meus conhecimentos para cada vez mais aperfeiçoar e racionalizar a implementação de projetos que agreguem valor para as organizações alinhadas com seu planejamento estratégico.” Baity Leal é mestre em clínica e cirurgia de grandes animais e formada em medicina veterinária. Sete anos após a conclusão de sua graduação, e após ter trabalhado como professora universitária e também em um hospital veterinário, ela começou sua atuação na área de vendas. Suas atividades iniciais foram na empresa Deltavet/Labyes, como promotora de vendas de linha de eqüinos, em 2011. Como nunca havia atuado na área antes, Baity não perdeu tempo e decidiu se qualificar. Nesse mesmo ano, cursou o MBA em Gestão de Negócios com ênfase em Vendas, no IETEC. Segundo ela, o aprendizado adquirido nas aulas incrementou Baity Leal suas abordagens no Gerente de Produto da Hertape Calier campo, o que permitiu uma nova análise desse mercado. “Pude amadurecer minha visão sobre a relação empresa-cliente e a sua consequência foi a prospecção de novos clientes e aumento significativo das vendas.” Baity afirma que durante o curso ela começou a ter uma ‘mentalidade gerencial’, o que foi essencial para o melhor entendimento sobre suas atividades. O investimento trouxe ótimos resultados. Logo após a conclusão do curso, Baity conseguiu um reposicionamento na empresa, assumindo a coordenação de vendas da empresa. Em relação ao futuro, ela cita o desenvolvimento da sua carreira como meta: “Meus planos continuam em direção ao crescimento profissional dentro da área de saúde animal e, com certeza, a educação continuada, bem como o IETEC, fazem parte desses planos.”


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Educação Empreendedora Daniel Bizon

Opnião

Palestrante motivacional profissional e professor do IETEC

Empreender é fazer acontecer. Essa é a definição mais simples e mais assertiva que já ouvi sobre empreendedorismo. Quem empreende sabe bem o significado do “fazer acontecer” na prática. Inclusive esta é nada mais nada menos do que a maior necessidade do nosso Brasil. Colocar as coisas para funcionar na prática. Precisamos de pessoas que fazem acontecer, sim! Mas não adianta fazer acontecer qualquer coisa, de qualquer forma. O país precisa de pessoas que saibam por que, como e onde pretendem chegar. E para isso precisamos de educação empreendedora. Historicamente, não se pode negar que temos alguns bons exemplos de empreendedorismo no país. Mas também é evidente que empreender é um verbo que foi muito pouco conjugado na população brasileira como um fenômeno de massa. A década que se iniciou em 2.000 inaugurou a popularização do empreendedorismo e a produção de conteúdo sobre negócios e educação empreendedora, especialmente na internet. Ainda bem que isso aconteceu. Não é de hoje que sabemos o tamanho do “gap” que existe entre a teoria e a prática na relação escola-mercado. Talvez os cursos técnicos façam o aluno sofrer menos com essa disparidade, pelo fato de que a natureza do ensino técnico já é intrinsecamente empreendedora. Se o aluno não pegar e fizer, não sai nada. Mas os estudantes do ensino médio e das universidades sofrem muito mais os efeitos da falta de educação empreendedora. Faço palestras sobre empreendedorismo em todo o Brasil e o que mais se vê são jovens que ainda acreditam que suas vidas e carreiras serão desenvolvidas por alguém, que disso: “a empresa vai cuidar”.

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E também a velha esperança de que um dia o Brasil vai mudar. Alucinação! O Brasil não vai mudar. As pessoas é que vão mudar ou não o Brasil. E isso se faz empreendendo, construindo negócios inovadores, atendendo demandas econômicas, sociais e ambientais, construindo sistemas de desenvolvimento colaborativos e minimizando o maior inimigo do empreendedorismo: a burocracia. Eu não tenho dúvida de que a educação empreendedora precisa começar no maternal. Não faz o menor sentido que não seja assim. Há alguns dias estive na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, e falei na palestra de encerramento sobre a sala de aula das pessoas do futuro e do papel do pedagogo como um estrategista da educação empreendedora. Eles têm que ser os primeiros a empreender a construção da nova sala de aula. O modelo: “professor fala, aluno escuta” está definitivamente com os dias contados. Assim como qualquer ambiente que traga monotonia na aprendizagem. A sala de aula do futuro será um laboratório de educação empreendedora. A escola vai ter, essencialmente, três funções primordiais: educação básica, ajudar as pessoas a descobrir no que elas são excelentes e educação empreendedora. É disso que o Brasil precisa, e é isso que nós temos que fazer. Educação empreendedora significa preparar pessoas para a vida como ela realmente é. São desafios enormes, mas tão grandes quanto o mar de oportunidades que ainda temos diante de nós.


Crônica de uma morte anunciada

O que está acontecendo com o sistema que produz eletricidade no Brasil lembra bem o maravilhoso romance de Gabriel Garcia Marquez que conta a história de um assassinato premeditado. Acusado por Angela Vicario, de tê-la desonrado, o jovem Santiago Nasar foi morto a facadas pelos irmãos de Angela. Toda a localidade fica sabendo com antecedência da vingança premeditada, mas nada salva Santiago do seu trágico destino anunciado logo na primeira linha do romance. Mais de oitenta por cento da eletricidade gerada no Brasil se origina em usinas hidroelétricas em que a força das águas movimenta as máquinas que produzem a eletricidade. Elas dependem, portanto de chuvas regulares e de reservatórios que acumulem a água para ser usada nos meses (ou anos) em que chove menos.

Os inconvenientes decorrentes da formação de reservatórios são, de modo geral, compensados pelas vantagens de dispor de eletricidade a milhares de quilômetros de distância do local onde a usina hidroelétrica está localizada, atendendo as necessidades de milhões de habitantes nas grandes cidades. Há aqui a necessidade de comparar custos e benefícios e como tratar os problemas dos que são prejudicados com as vantagens dos que são beneficiados. Esta é a função do Poder Público.

A gravidade do problema de negligenciar a formação de reservatórios ficou evidente em 2001 quando chuvas mais fracas quase levaram ao racionamento de energia elétrica, fato amplamente explorado nas eleições de “É cedo ainda para dizer se 2002, que levaram o Presidente chegaremos a um racionamento de Lula e o PT ao poder.

Reservatórios, às vezes, inundam terras férteis energia elétrica, mas é evidente que a ou áreas cobertas com situação atual não pode continuar.” florestas. É preciso que as Daí a analogia com o romance empresas que constroem de Gabriel Garcia Marquez: o as hidrelétricas mesmo problema poderia tornar a reassentem a população afetada – alguns milhares de acontecer – como se fosse uma morte anunciada – se pessoas em geral – e minimizem os impactos ambientais não forem tomadas medidas adequadas. decorrentes da formação dos reservatórios. Há muitos casos em que isto foi feito com sucesso como é o caso de Itaipu. Em Os ministros de Energia de Fernando Henrique Cardoso outros como Balbina os cuidados devidos não foram tomados poderiam alegar ignorância, mas não os de Lula e Dilma. em tempo. No Governo Lula o problema dos reservatórios não foi Sucede que, desde 1985, nas usinas hidroelétricas construídas enfrentado (como de modo geral todos os problemas no país, os reservatórios de água foram negligenciados de infraestrutura do país) e a solução adotada a partir tornando-se cada vez menores. A razão para tal foi a falta de 2001 foi gerar eletricidade com gás natural para de visão e coragem de sucessivos governos em enfrentar complementar a geração das hidroelétricas em períodos os problemas tanto sociais como ambientais que não eram secos. Esta é uma solução transitória e muito cara, considerados prioritários. como sabem muito bem os técnicos do setor devido ao elevadíssimo custo do gás natural no Brasil, razão pela Revista IETEC | Ano 11 | Abril a Junho de 2014

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Opinião

José Goldemberg Físico e ex-secretário do Meio Ambiente do estado de São Paulo


qual usinas a gás podem ser usadas emergencialmente, mas não o tempo todo. Para piorar a situação, o atual governo tomou em 2012 uma medida claramente demagógica, através da Medida Provisória 579, de reduzir o custo da eletricidade em 20%.

ameaça de racionamento que exigiu o acionamento de todas as usinas geradoras usando gás natural, o que elevou o custo da eletricidade a cerca de 4 vezes o seu custo usual. Até o ano passado o Tesouro pagou a diferença, isto é, todos os brasileiros - mesmo os que não consomem eletricidade - pagaram por ela. Os custos já são de dezenas de bilhões de reais e se não houver novo socorro do Governo às distribuidoras as contas de luz poderão subir 20% em 2014 anulando os efeitos da MP 579. É cedo ainda para dizer se chegaremos a um racionamento de energia elétrica, mas é evidente que a situação atual não pode continuar. Há muito anos se costumava chamar as ações das empresas de eletricidade do país de “ações das viúvas” porque, apesar de renderem pouco, eram seguras dando às “viúvas” a estabilidade financeira

Esta medida foi apresentada como uma espécie de “bolsa eletricidade” para ajudar os mais pobres, mas que beneficiou também amplamente os grandes consumidores de energia elétrica no setor eletrointensivo da indústria. Neste processo, as empresas geradoras de eletricidade – na maioria estatais, já que a privatização promovida pela Governo Fernando Henrique se restringiu basicamente às distribuidoras de energia – foram levadas quase à bancarrota e perderam a capacidade de fazer novos investimentos. Além disso, a confiança dos possíveis novos investidores foi seriamente abalada pelas mudanças regulatórias intempestivas. O resultado não poderia ser outro, como foi o assassinato de Santiago Nasar amplamente anunciado com antecedência.

que elas necessitavam. Esta confiabilidade foi destruída com as medidas atabalhoadas tomadas pelo Governo em 2012 ao reduzir as tarifas em troca da antecipação da renovação das concessões. Não são manobras eleitoreiras de curto prazo que irão resolver o problema. A atuação do Ministério de Minas e Energia precisa de uma reavaliação: é necessário um planejamento a longo prazo que desenvolva segurança aos investidores. Se não houver racionamento de eletricidade em 2014 haverá ainda algum tempo para a tomada de decisões estruturais corajosas para reorganizar o setor de eletricidade. Com isso se poderia adiar a “morte anunciada” que é a implantação de racionamento que acabará por desorganizar ainda mais o já

Bastou chover menos em 2014 para vivermos sob

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desorganizado setor de energia do país.


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Análise de Negócios de TI através do Business Model Canvas

Alexandra Hütner

Cenário

Mestre em engenharia, gestão e tecnologia. Coord. do curso de MBA Análise de Negócios e da Informação do IETEC

Há muito tempo se desdobra uma guerra entre o intelecto humano e a “inteligência”artificial. Cientistas buscam máquinas que possam superar humanos. Certamente conseguirão, devido ao poder de processamento das máquinas e de toda inteligência humana aplicada. Mas como? Criando um modelo para que a máquina, de forma estruturada e lógica, possa achar o melhor caminho. Mapear essa lógica é a forma mais óbvia de ensinar a máquina a pensar de forma organizada e clara e, então, encontrar a solução mais assertiva. Temos que entender que o próprio ser humano pode e deve utilizar essa mesma técnica para enxergar, entender, analisar e decidir. Essa lógica é facilmente compreendida ao se utilizar representações mentais. As pessoas não captam o mundo exterior diretamente, elas constroem internamente suas próprias representações mentais através da visão, por meio de representações analógicas. É a linguagem da mente. Dessa forma se consolida a utilização de modelos mentais capazes de representar determinados objetos ou eventos. A partir de um modelo mental estabelecido, as pessoas têm maior facilidade de analisar e inferir informações adicionais que não existiam previamente. Imagine isso aplicado aos negócios? Podemos

resumir! Um modelo mental é a representação do conhecimento por meio de uma analogia visual a partir de elementos e relações dentro de um contexto. Nos negócios de TI, esse contexto pode ser uma empresa já estabelecida, um novo empreendimento ou até mesmo um novo produto/serviço. Essa representação possibilita uma visão empresarial clara e possibilidades de inovação. Tal representação, ou modelo mental, pode ser transcrita como um modelo de negócio. Modelos de negócio descrevem a lógica de criação, entrega e captura de valor por parte de uma organização. Com isso, Osterwalder e Pigneur (2010) criaram um modelo de inovação em negócios baseado no preenchimento coletivo do canvas (pano de fundo, em português). É um quadro, que pode ser em papel A1 colocado na parede, sobre o qual são colocados post its através da contribuição das pessoas envolvidas. O modelo criado é chamado de Business Model Generation e divide esse pano de fundo em 9 componentes específicos. Ele é uma ferramenta de gestão estratégica e empresarial que permite descrever, desenhar, desafiar, inventar e rodar modelos de negócio. O Business Model Generation facilita a discussão entre os participantes e alinha os conceitos envolvidos. Ele acaba se tornando um ótimo ponto de partida para criar novas estratégias! Permite descontruir e construir, facilmente, modelos de negócio. Isso tudo baseado em nove componentes básicos e suas relações, que demostram de forma lógica como uma organização é capaz de gerar valor. Os componentes cobrem as quatro áreas principais de um negócio: clientes, oferta, infraestrutura e viabilidade financeira. Com relação aos clientes, o modelo é fragmentado em três componentes: Segmentos de Clientes: Define a organização ou o grupo de pessoas que uma empresa busca alcançar e servir. Para um ideal entendimento, os clientes devem ser agrupados através de atributos comuns perfazendo

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segmentos distintos. Canais: Pontos de contato dos clientes em que ocorre a comunicação, distribuição e venda por meio da entrega da Proposta de Valor. Os Canais representam um fator importante para a experiência do cliente por representarem a interface da empresa. Relacionamento com Clientes: Tipos de relações – pessoais e automatizadas - que são estabelecidas com determinados Segmentos de Clientes. As relações podem estabelecer a conquista e retenção de clientes e ampliação de vendas. Com relação à oferta, o modelo é identificado por um único componente: Proposta de Valor: Pacote de benefícios da empresa, podendo incluir produtos e serviços, que cria valor para um determinado Segmento de Cliente por meio de diferenciação. Esse é o principal motivo que leva os clientes escolherem uma empresa a outra. Com relação à infraestrutura, o modelo é identificado por três componentes: Recursos Principais: Recursos mais importantes para criar valor para os clientes. Eles podem ser físicos, financeiros, intelectuais ou humanos. Podem ser locados ou comprados ou até mesmo adquiridos de parceiros. Atividades-Chave: Atividades mais importantes que uma empresa deve exercer para operar com sucesso; gerar e entregar a Proposta de Valor; alcançar mercados através dos Canais; manter Relacionamentos com Clientes e gerar Fontes de Receita. Parcerias Principais: Rede de fornecedores e parceiros que permitem ao Modelo de Negócios funcionar adequadamente. Com relação às finanças, o modelo é identificado por dois componentes: Fontes de Receita: Receita gerada a partir de cada Segmento de Cliente. As Fontes de Receita podem ser através de pagamento único ou renda recorrente. Estrutura de Custos: Custos mais importantes envolvidos na operação do Modelo de Negócios. Os post its são preenchidos e colocados à medida que os itens de cada componente são identificados e relacionados. A construção lógica do negócio vai se tornando mais clara

e trazendo amplo entendimento a todos os envolvidos. O espaço reduzido para escrita torna-se um aliado, pois exige um poder de síntese da equipe. Instaura-se uma nitidez ao negócio talvez nunca vista! E então surge um modelo mental completo e convergente. Os Post its podem ser rearranjados até o modelo mental estar condizente com o negócio naquele momento – AS IS BUSINESS. Ou seja, permitir que a equipe tenha uma

visão holística empresarial do modelo de negócio atual. Empresas de TI são, na maioria esmagadora, provedoras de SERVIÇOS e, para elas, estruturar um modelo em que a proposta de valor é baseada em serviços não é nada fácil. Isso se deve a algumas particularidades dos serviços que os diferem dos produtos (ou bens tangíveis). Os serviços são intangíveis, pois o resultado não é simplesmente um produto físico que pode ser tocado, sentido, observado, provado, apalpado, ouvido ou cheirado antes de serem adquiridos. Normalmente os serviços de TI são compostos por PESSOAS, TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, PROCESSOS e PARCEIROS. Resta-nos empacotar tudo isso e entregar uma Proposta de Valor íntegra dotada de todos os benefícios requeridos pelos Clientes. Como explicar um suporte de TI sem que o cliente experimente previamente como ele funciona? O Prestador de Serviços de TI precisa oferecer uma representação tangível que comunique os resultados do Serviço que irá prestar, pois no fornecimento encontrará dificuldades em medir, controlar e testar os entregáveis. Além disso, os clientes são coprodutores dos serviços (inseparáveis), pois ocorrem por meio de produção conjunta entre cliente e prestador. Os clientes participam do processo e acabam influenciando nos resultados gerados e no valor entregue. Como entender toda a necessidade dos clientes no início do desenvolvimento de um software? Realmente não é nada fácil, mas devemos começar pela Revista IETEC | Ano 11 | Abril a Junho de 2014

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Cenário

definição ideal da Proposta de Valor a ser entregue aos clientes. Esse componente é a alma do negócio e, por se tratar provavelmente de serviço, deve ser meticulosamente definido e apontado corretamente para o Segmento de Clientes correspondente. Os clientes são diferentes e precisam entender a Proposta de Valor como algo completamente adequado às suas necessidades. Por vezes devemos dizer “não” para alguns Segmentos de Clientes, pois certamente não enxergarão valor e acharão o serviço caro ou inadequado. Então, por meio do canvas, relacione cada cliente a sua Proposta de Valor correspondente! Para isso, use post its de cores diferentes, por exemplo. Canais e tipos de Relacionamento com os Clientes são a próxima etapa. O objetivo é sempre identificar a melhor forma de estar em contato com cada Segmento de Clientes. É importante ressaltar que quanto mais itens existirem, mais o negócio poderá se aproximar do cliente, porém mais investimentos serão necessários. Com essa ótica, um modelo de precificação pode ser criado e adicionado nas Fontes de Receita. Concluindo assim o lado direito do canvas, que é dotado de emoção e determinador do valor. O lado esquerdo deve refletir e garantir o valor, portanto, é mais racional e prevalece a eficiência. Atividades-Chaves principais são delineadas e todos os Recursos Principais utilizados devem ser mapeados. Se o negócio for software,

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a Atividade de desenvolvimento de software deve ser estabelecida e uma boa equipe de desenvolvedores deve ser criada como Recurso, por exemplo. As AtividadesChave que não são absorvidas pela empresa devem contar com as Parcerias para compor a entrega de valor. Aqui também entram os fornecedores estratégicos! Uma boa Estrutura de Custos deve suportar todos os Recursos envolvidos e também estar alinhada com as Receitas obtidas. Isso permitirá que o negócio tenha plena consciência dos seus geradores de custos e da sua efetiva lucratividade. Com o Business Model Canvas construído,o empreendedor ganha primeiro uma conscientização esclarecedora do seu próprio negócio. E logo em seguida o “poder de poder” inovar. Depois de todo exercício estratégico, o empreendedor poderá aplicar verdadeiramente sua inteligência estratégica para questionar o Modelo de Negócio, avaliar o ambiente no qual seu modelo atua e buscar novas estratégias. Alterando alguns post its e incluindo outros o empreendedor inova/renova e desenha o novo Modelo de Negócio a ser implementado – TO BE BUSINESS. E aqui se vive o momento de inferir inovações e praticar a Inteligência Estratégica aplicada aos Negócios de TI. Sucesso!


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O modelo brasileiro Robson Braga de Andrade Presidente da CNI - Confederação Nacional da Industria

Opnião

Ao longo das últimas décadas, alguns países fascinaram os analistas com modelos específicos de desenvolvimento. Alemanha, Japão, China, as nações escandinavas e os tigres asiáticos, entre outros, encontraram caminhos para crescer e trazer bem-estar para os cidadãos. Alternando momentos de alta e de baixa, como numa rodagigante, o Brasil ainda procura estabelecer uma forma própria de fazer a economia se expandir, com ganhos permanentes para a população.

soluções abundantes. A nossa disponibilidade de recursos naturais é incomparável. Além disso, o brasileiro é um dos povos mais empreendedores do mundo. Diferentemente do que ocorre com outros países, temos uma economia diversificada o suficiente para não precisarmos nos concentrar em poucos setores. Podemos atuar, de forma bem-sucedida, em várias frentes. Da mesma maneira, não necessitamos optar entre o mercado externo e o interno.

Devemos ter clareza do que queremos e de como chegar lá, desenhando um modelo próprio que incorpore boas práticas estrangeiras e deixe florescer o nosso jeito singular de resolver problemas.

Em tempos de concorrência acirrada, nações fechadas ao comércio ficam para trás. Não há desenvolvimento isolado que perdure. Todas as experiências nesse sentido tiveram fôlego curto. Nossa indústria e setor secundário mostram capacidade de atender tanto a demanda doméstica como a exterior.

Precisamos de planejamento de longo prazo, viabilizado por uma ação estratégica e pragmática. A elaboração das políticas públicas tem que ser orientada para o crescimento econômico e estar afinada não só com a realidade, mas também com nossa visão de futuro.

Temos maturidade para afastar o falso dilema que opõe atuação estatal e privada. Devemos andar juntos, em parceria. O Estado tem um papel importante no estímulo à atividade econômica, por meio de políticas de fomento, na construção da infraestrutura e na inovação tecnológica.

O desenvolvimento é geralmente identificado como um processo de expansão da renda per capita, ligado a modificações estruturais de uma sociedade que resultam em duradoura qualidade de vida.

Governos atentos são fundamentais para a criação de um bom ambiente de negócios, no qual nossos produtos possam se tornar plenamente competitivos. A administração pública deve constantemente adotar medidas que estimulem investimentos, redução de custos da produção, desburocratização e produtividade do trabalho.

Ele pressupõe bons índices em educação, saúde e segurança, assim como amadurecimento institucional e equilíbrio ambiental. Também requer acesso amplo à cultura e implantação de uma infraestrutura adequada. Não se limita ao crescimento econômico sustentado, mas sem ele, dificilmente prospera. Parece um sonho ainda distante para nós, brasileiros. Mas igualmente o era para outros povos, que, trabalhando com foco, resolução e coesão social, conseguiram mudar o jogo em poucas gerações. Os sul-coreanos são o exemplo mais recente. Temos vantagens. É verdade que o tamanho do país e da população impõe desafios maiores, mas também permite

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Enfim, podemos adaptar às nossas necessidades, sem precisar de nenhuma revolução no pensamento, características encontradas em diversos países, como o pragmatismo chinês, a resiliência japonesa, a obsessão pela educação dos sulcoreanos, a facilidade para fazer negócios dos norte-americanos e a força industrial alemã. Tudo isso deve ser temperado com a nossa criatividade e boa disposição para a vida, formando o verdadeiro modelo brasileiro de desenvolvimento. É só uma questão de planejar, concretizar e persistir


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