Expressao 15 dezembro 2016

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dezembro/2016 ano 23/número 15

jornalismo universitário levado a sério

jornal laboratório do 4º ano de jornalismo

usjt

Hora do sono! Dormir é bom e de graça. Você sabe o quanto é essencial?


#hashtag

ano 23 |no 15 |dezembro/2016

#caro leitor,

Agora já podemos dormir, descansar?

#fração de segundo fotolegenda

Primeiramente, xô 2016!!! Hehehehe. Já deu, né? Acabou. C’est fini. The End. OK? A derradeira edição do Expressão de 2016 está nas suas mãos, caro leitor. Foi um grande prazer compartilhar centenas de reportagens, entrevistas, sugestões de leituras, histórias de vida. Uma equipe de 120 estudantes/repórteres (entre a turma da Mooca e do Butantã) se desdobrou para fazer um jornal laboratório que expressasse um jornalismo ético, responsável, inclusivo, problematizador, compromissado com valores cidadãos. Esta equipe de repórteres agora vai trilhar os caminhos profissionais no mercado de trabalho. Vai seguir sua jornada por esse mundão grande que é São Paulo, que é o Brasil. Para nos despedirmos de 2016, temos uma reportagem Especial sobre mundo do sono. Ah! Como é bom dormir e desligar da correria, não é? Mas este ato corriqueiro e necessário para a sobrevivência de qualquer ser humano, é também um problema social. Sabia? Pois é. A humanidade está dormindo cada vez menos tempo por dia e cada vez com menos qualidade. Por isso, nossos repórteres foram investigar a importância do sono regular; como empresas têm investido em espaços de descanso para funcionários; quais são os principais distúrbios do sono; o que é o sonho?; e os benefícios da hipnose como um método terapêutico. Além dessa reportagem especial que fará você relaxar, temos outros destaques. Em Educação, fomos conhecer o projeto Café Terapêutico, desenvolvido no Cieja Campo Limpo, como um espaço de práticas de inclusão. Na editoria Vida Digital, a gente vai de selfie para compreender como essa onda de autorretrato se tornou uma marca registada da geração Y. Improvável que um jovem de hoje nunca tenha feito uma selfie na sua vida e postado em redes sociais, não é? Em Artes, vamos conhecer um pouco do trabalho minucioso e detalhista dos profissionais especializados em construir maquetes – uma arte de linguagem plástica. E, claro, encerramos a edição do jornal com mais um convite ao Esporte & Lazer. O destaque da edição é a prática de surf em represas – o wakeboard, um esporte aquático que tem atraído turistas para algumas regiões do interior de São Paulo. Muito bom, não é? Desejamos uma ótima leitura com todas estas reportagens. Depois, reserve um tempo para relaxar, descansar, dormir... dormir profundamente. As férias da universidade são um momento essencial para reequilibrar as energias. Em 2017 a gente estará de volta, com equipe nova, gás novo. Até lá! Feliz Natal. Ótimas comemorações de Ano Novo.

Belezas pernambucanas A natureza e seu poder de nos fazer brilhar os olhos. Caminho da praia de Maracaípe, Porto de Galinhas, PE Fernanda Pizato- aluna do 4o ano de Jornalismo Campus Butantã

Profa Iêda Santos e Profa Jaqueline Lemos

#protagonista

#fica a dica

Fotos: Arquivo Pessoal

Sandrinho, o sanfoneiro tricampeão!

Ganhador de prêmios e preocupado com as questões sociais, jovem ensina vários instrumentos no terreiro de casa Hemylle Fernanda

Quem olha para o palco, atrás de toda daquela fumaça, vê um garoto sertanejo e carismático tocando acordeom. Sempre sorrindo e agradecendo a presença de amigos piauienses pelo microfone, ele tem um grande amor pelo Nordeste. Com um chapéu de vaqueiro, camiseta branca e sandália de couro, Sandrinho se apresenta na Casa da Farinha, em São Paulo. No encerramento da apresentação, sempre desce do palco tocando ‘Vida de Viajante”, de Luiz Gonzaga, rodeado de pessoas queridas cantando junto. Há 23 anos, a pacata cidade de Dom Inocêncio, onde a caatinga judiava, ao sul do estado do Piauí, era o palco do nascimento desse jovem. Ao som do baião e do forró, Sandro Dias veio ao mundo com espírito musicista, herdado da família, e Luiz Gonzaga lhe confirmava isso cada dia mais. Aos 12 anos de idade, recebeu um primo de São Paulo que iria morar com ele. Os primeiros toques no instrumento vieram daí, com o apoio do pai, que sempre sonhou em ser sanfoneiro, mas não pôde seguir esse caminho por falta de dinheiro. Senhor Salvador, como é conhecido, é pai do rapaz e, para que o filho pudesse prosseguir no aprendizado, vendeu uma caminhonete e uma casa para comprar um acordeom para o filho. “Todo mundo chamou ele de louco quando fez isso dai. Essa loucura nos trouxe aqui hoje”, disse Sandrinho no programa do Luciano Huck, ao participar do quadro ‘Quando você menos espera’. Sandrinho se mudou para São Raimundo Nonato ainda menino. Lá, as oportunidades seriam maiores, a cidade era mais desenvolvida e conhecida, afinal, ali está um dos maiores tesouros do Piauí: A Serra da Capivara. Próximo ao ponto turístico está o bairro do Campestre, onde o garoto morava com os pais e as

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três irmãs. Uma casa bem aconchegante e simples. Ao entrar na sala, as pessoas conseguem ver de longe, na estante, troféus conquistados pelo menino. Três minis estátuas em formato de sanfona com o nome: “Festival de Sanfoneiros”, anos 2009, 2010 e 2011. Sandrinho é tricampeão piauiense do evento, que acontece todos os anos em Petrolina (PE). No terreiro da casa, o cenário bem representativo do Nordeste. Mandacaru ali e aqui. Cadeiras de plástico, formando uma grande roda e no centro o professor Sandro, ensinando aos jovens cada acorde daquele instrumento que segurava com tanto gosto. Fole abre e fecha, sincronizados, tocavam a Asa Branca. “Desde o meu primeiro toque, buscava repassar aquilo

Diagramação: Profa Iêda Santos

para o próximo. Antes de eu aprender a tocar sanfona, meu pai já era envolvido com shows e ajudava com a banda do meu tio. Todo mundo podia tocar, cantar e participar. Eu olhava aquilo e sentia que podia ajudar e incentivar também”, diz Sandro, ao relembrar a falta de estrutura que a pequena cidade de Dom Inocêncio tinha para as questões culturais. Em 2011, em parceria com o pai, o rapaz oficializou o programa Acordes do Campestre. Todos os dias à tarde, quando o sol se punha, as crianças chegavam à casa dele para mais uma aula. Para participar do projeto, o pré-requisito era que todos tivessem notas altas, mas nem todos conseguiam isso. Com cerca de 150 participantes, Sandro perce-

beu a necessidade de estabelecer algo novo, e então arrumou alguns amigos para ajudar os pequenos com o reforço escolar após as aulas de música. Turistas vão e vêm pelas proximidades. Sempre admiraram esse trabalho e, então, pediram a autorização para divulgar o trabalho de Sandrinho no Facebook. Isso repercutiu. A mídia local foi procurar saber mais sobre essa história, até que chegou à emissoras de televisão. A Associação Acordes do Campestre é totalmente independente e, para se manter, depende de doações. Sandro conseguiu muitos instrumentos e uma caminhonete nova, para continuar com o programa, que já tem duas extensões pelo Piauí: São João e Dom Inocêncio.

K. - Relato de uma busca Estreia de Bernardo Kucinski na ficção resgata os horrores da Ditadura Militar brasileira Amanda Pavan “É como se as cartas tivessem a intenção oculta de impedir que sua memória, em nossa memória descanse; como se além de nos haverem negado a terapia do luto, pela supressão de seu corpo morto, o carteiro fosse um Dybbunk, sua alma em desassossego, a nos apontar culpas e omissões. Como se além da morte desnecessária quisessem estragar a vida necessária, esta que não cessa e que nos demandam nossos filhos e netos”. A obra K. - Relato de uma busca trata de um dos períodos mais obscuros da história do país, a Ditadura Militar. Escrito pelo jornalista e professor Bernardo Kucinski, “K.” narra a história de seu pai Majer Kucinksi, ou sr. K., na busca pela filha desaparecida em 22 de abril de 1974. Atraído pelo tema do livro, o advogado Victor Schneider explica a indicação: “Todos nós sabemos o que foi a ditadura, mas sabemos pouco como foi. A obra retrata de forma rara e complexa a torpe perseguição do regime militar aos seus opositores. E também, as consequências do desaparecimento para as famílias, que viveram, e ainda vivem, sem qualquer informação do paradeiro dos desaparecidos, em um perpétuo estado de dúvida”. Em sua primeira aventura no campo ficcional, como alerta na epígrafe: “tudo neste livro é invenção, mas quase tudo aconteceu”, Kucinski propõe uma narrativa que mistura história, realidade e ficção, esta última passível de ser real. “A narrativa cria no leitor uma angústia que acompanha a

do protagonista, obviamente em escala infinitamente menor. O livro é quase impossível de largar, não por um desejo de saber o final, pois se sabe de antemão que não o há, mas, sim, pela narrativa, que nos carrega angustiados também em busca de algo”, conta Victor. Finalista dos prêmios São Paulo de literatura, União Brasileira dos Escritores e Portugal Telecom em 2012, “K.” foi originalmente lançado pela editora Expressão Popular, em 2011, e relançado pela Cosac Naify em 2014, por ocasião dos cinquenta anos do Golpe Militar de 1964. Kucinski propõe com a obra, não apenas um desabafo pessoal, como também um grito dos familiares que tiveram seus entes desaparecidos. Eternizando seus nomes, e revisitando as barbaridades que não podem ser esquecidas pelos brasileiros.

expediente Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Vice-reitor Fabrício Ghinato Mainieri Pró-Reitor de Graduação Luís Antônio Baffile Leoni Diretor da Faculdade de LACCE Prof. Rosário Antonio D’Agostino Coordenador de Jornalismo Prof. Rodrigo Neiva Capa Foto: Izis Guerreiro Edição Foto: Vinícius Félix Arte: Camila Sarli

Jornalistas Responsáveis Profª Iêda Santos (MTB 31.113) Profª Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. César Zamberlam Projeto Gráfico e Supervisão Profª Iêda Santos Redação Alunos do JOR4AN- BUA Impressão Folha Gráfica (11) 3224.7667

As matérias assinadas não representam, necessariamente, a opinião da Universidade.

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Educação

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Diferenças que nos fazem crescer Projeto do CIEJA Campo Limpo promove palestras a fim de conscientizar sobre inclusão social Aline Luz Arquivo pessoal.

Alunos reunidos debatem tema relacionado à LBI (Lei Brasileira de Inclusão)

Um pouquinho de cordel Guilherme Moura Vejam logo meus amigos, Que história vou contar, É bem simples de entender, Mas sei que vai te encantar, Com muita declamação, Para te emocionar. Literatura de cordel, Tem sua origem portuguesa, Chegou ao Brasil por acaso, E mostrou toda sua beleza, Com muitos versos e rimas Que encantam com certeza. Esse tipo de texto, Advindo dos imigrantes Auxilia nos estudos, Trabalha a mente em instantes, Ajuda a criatividade, E a entender os visitantes, Não era tão levado a sério, Mas acredite se puder, Desde cedo ajudou o povo, Como se compreender, Dando voz a quem não tinha, Fornecendo grande poder.

As histórias são contadas, Por autores cordelistas, São expostas em barbantes, E vendidas por artistas, Com romance brasileiro, E histórias realistas, O conto principal É o regionalizado Contém muito sotaque Muito lindo e engraçado As vozes do Brasil Não pode ficar de lado

Foge dos padrões literários Não é nada elitizado Isso é importante pra dedéu Por isso é adorado” Comenta José Willian Estudante esforçado

Um projeto realizado em uma escola diferente, que tem como foco atender a pessoas diferentes. Essa é a proposta do Café Terapêutico, projeto criado pelo Professor Billy em 2007 e que, desde então, tem atendido a toda a comunidade do Campo Limpo e regiões vizinhas. E, por que diferente? Porque as reuniões acontecem no Centro de Integração de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA), uma escola que é aberta ao público e que tem como objetivo promover a inclusão social e atender aos interesses da comunidade. Em um espaço criado anteriormente para discutir a questão das pessoas com deficiência e como suas famílias lidavam com isso, o Café Terapêutico, tem hoje como foco proporcionar um local de discussão sobre a inclusão de modo geral, não apenas com os pais e alunos com deficiência, mas também com a comunidade, amigos e profissionais interessados. Os encontros acontecem quinzenalmente às sextas-feiras e costumam ser pautados de acordo com as ne-

cessidades que são apontadas e/ ou percebidas, sendo abordadas por pessoas indicadas, convidadas ou que possuem algum tipo de parceria com o projeto. Em alguns casos, as reuniões são direcionadas pelo próprio professor Billy, que está sempre presente. O público varia entre alunos com deficiência que devem estar sempre acompanhados de um responsável, pais, alunos sem deficiência, estagiários de pedagogia, ONG’s, inspetoras de alunos, Auxiliares de Vida Escolar (AVEs), convidados (amigos e professores de outras escolas) e Êda Luiz, diretora do CIEJA. “O público alvo hoje inclui qualquer pessoa que possua interesse em colaborar com a construção de uma sociedade realmente inclusiva”, afirma o professor. Podemos dizer que o projeto expandiu e atraiu muita atenção desde que foi criado, em 2007. A primeira reunião contava com apenas onze pessoas. Hoje o projeto já atende a pelo menos 60 pessoas a cada reunião e é reconhecido como referência em

trabalho com pessoas com deficiência na cidade de São Paulo. Grande parte desse sucesso se deve ao fato de que Billy é um apaixonado por inclusão social. Além disso, o CIEJA é uma das escolas mais inclusivas do país, recebe cerca de 285 alunos com necessidades especiais e é a única a realizar reuniões de pais e alunos todas as sextas-feiras. Os assuntos que são geralmente abordados estão relacionados aos direitos humanos, promovendo um espaço para conversa e trocas de experiências, para que as pessoas se sintam confortáveis em falar com alguém que as compreenda ou que já esteve na mesma situação. “Além de conhecer a escola, eu conheci o grupo do Café Terapêutico e cresci com isso, porque não sou só eu que tenho uma filha especial, existem muitas mães, cada uma com uma criança diferente e a gente aprende com as histórias e se sente feliz por estar aqui”, conta Ligia, mãe de uma criança com deficiência e também aluna da escola.

Doutores da Alegria formam palhaços Com a bagagem de 25 anos, a ONG criou uma base de conhecimentos necessários ao futuro profissional Arquivo pessoal.

Elida Aparecida Prof de língua portuguesa Destaca a importância Dessa cultura sem nobreza Na história do país Mas que tem sua riqueza

O desenho vai a capa, É feito em xilogravura Entalhado em madeira Quase uma escultura Passando tinta e prensando O papel vira formosura

“É importante conhecer Esses autores de outrora Pra entender nossa cultura E poder escrever agora” Comenta a professora Sobre a cultura educadora.

Tudo é feito pensado É trabalho de artesão Uma obra prima linda e simples Esculpida, feita a mão Que agrada todo mundo Que vê a arte com coração

Nesses versos simples Que comecei a poesia Cheia de rimas e versos Sigo com maestria Acaba com simplicidade Trazendo muita alegria Arquivo pessoal.

Programa de Formação de Palhaços Gabriel Magno O Programa de Formação de Palhaços para Jovens tem duração de dois anos com aulas diárias e mais um ano opcional com encontros pontuais e acompanhamento de projetos, num total a carga horária soma 1992 horas. O curso é voltado para pessoas com idade entre 17 e 23 anos e possui uma ampla grade curricular, que aborda desde a técnica circense até a confecção de maquiagem e figurino. A Escola, localizada próxima à estação Clínicas, também oferece cursos mais curtos para pessoas que querem se aproximar da linguagem do palhaço, porém estes costumam ser pagos. Depois de formados muitos continuam atuando em circos, filmes e empresas. Para ingressar no curso é preciso passar por um processo de seleção e quem se forma não se torna automaticamente um Doutor da alegria. “Eu queria uma formação que me desse um leque de possibi-

“ Capa de um Cordel em Xilofravura

lidades. Enviei meu currículo e carta de interesse, depois fiz três dias de teste e, no final, ainda rolou uma entrevista”, conta Wilson Souza, mais conhecido como Palhaço Wil que é formado pelo programa há dois anos. As aulas têm base em pesquisas realizadas pelos artistas membros da ONG durante anos de trabalho em hospitais. Elas são focadas no olhar, escuta, generosidade, permissão e no outro como objeto de estudo. A grade curricular tem o objetivo de dar ao aluno uma variedade de possibilidades para experimentação, para que este tenha autonomia para escolher um caminho a seguir. “A música foi o primeiro elemento a trilhar em todo processo de formação, o jogo foi o segundo. Depois, incluímos estudos de cultura popular, técnicas circenses e outros”, afirma o coordenador Heraldo Firmino. Para atuar em hospitais, ocorre um processo diferente, pois

são outros os pré-requisitos. É necessário ser formado em Artes Cênicas e dominar os ofícios da dança e da música. Assim como o curso de iniciação, a entrada para a ONG também envolve diversas etapas de apuração da capacidade dos inscritos. Qualquer pessoa que preencher as competências pode participar de uma prova para entrar no trabalho em hospitais desde que haja vagas abertas. A atuação do Doutor da Alegria não é voluntária, é subsidiada com verbas oriundas de leis de incentivo, patrocínios, doações e recursos próprios. Segundo Firmino, uma das maiores dificuldades dos alunos é financeira, visto que o trabalho do artista não é muito valorizado no Brasil. Também temos um problema cultural da família, dos amigos e da sociedade em reconhecer a arte como uma profissão séria. Por isso, os alunos recebem uma ajuda de custo em torno de R$400,00 e R$500,00.

Eu queria uma formação que me desse um leque de possibilidades. Enviei meu currículo e carta de interesse, depois fiz três dias de teste e, no final, ainda rolou uma entrevista” Wilson Souza

Diagramação e Revisão da página: Aline Luz, Amanda Chalegre, Guilherme Moura, Lucas Menoita, Manoela Matos

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especial

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Sono

Uma boa noite de ZZZZZZZ...

Dormir traz inúmeras vantagens para a saúde e a mente. Mas na agitação da vida moderna perdemos esses benefícios e enfrentamos os distúrbios do sono Letícia Vargas

Letícia Vargas A noite cai, o sono bate. No conforto da cama, uma pessoa deitada com celular na mão, navegando na web. Há alguns anos essa tem sido a realidade de muitos cidadãos, cuja rotina apertada e a distração causada, principalmente, pela internet têm reduzido consideravelmente as horas de sono. Voltando um pouco mais no tempo, podemos observar uma redução gradativa das horas de sono. A partir da Revolução Industrial, com o aumento da jornada de trabalho e as facilidades da energia elétrica, o tempo de sono sofreu alterações. O corpo humano não foi feito para trabalhar ininterruptamente. Isso desestabiliza o metabolismo e prejudica a síntese de alguns hormônios. Dormir é um grande aliado no combate à obesidade, hipertensão e problemas cardíacos. Além disso, várias funções são atribuídas ao sono, como a recuperação do debito energético diurno, manutenção da homeostase (estabilidade do organismo), de alguns neurotransmissores, consolidação da memória, entre outras. “Se a pessoa não dormiu durante a noite, o ideal é recuperar o sono em 24 horas e, mesmo assim, não será 100% reparador. O sono não é acumulativo, dormir muito nos finais de semana não minimiza os prejuízos causados pela semana mal dormida.

Cochilos de menos de 30 minutos depois do almoço são suficientes para descansar, sem atrapalhar o sono noturno. Porém, para pessoas insones, isso pode piorar o sono da noite”, afirma Odair Motta, médico especialista em sono e clínica médica. A redução do tempo de sono oferece males ao organismo, incluindo prejuízos cognitivos, aumento de irritabilidade e da liberação de cortisol e ACTH (hormônios relacionados ao estresse). Entretanto, existem alguns problemas para dormir que são grandes “vilões” na busca do bom e velho sono, como a insônia, apneia obstrutiva, síndrome das pernas inquietas, entre outros. Uma boa forma de tratá-los é por meio da fisioterapia. “Nos utilizamos do conhecimento de anatomia, fisiologia respiratória e ventilação mecânica a fim de realizar a adaptação e ajudar na melhor escolha de ventilação não invasiva e máscaras para o tratamento da apneia e hipopneia obstrutiva do sono. Fazemos o acompanhamento de todo o tratamento do paciente também”, completa Juliana Dantas Rodriguez, fisioterapeuta. Outra forma bem interessante é por meio da hipnose. Ainda há céticos, mas existem várias formas de tratamento por conta de diferentes formas de hipnose

como, por exemplo, a tradicional, que usa sugestão no transe hipnótico, e a Ericksoniana, que trabalha mais com metáforas e comandos embutidos e técnicas mais imaginativas de PNL (Programação Neurolinguistica) e hipnoterapia cognitiva. “Uso uma mistura desses métodos aplicados no transe hipnótico para obter melhores resultados. A hipnose é especialmente recomendável para distúrbios de sono porque, naturalmente, trabalha com frequências mais baixas no cérebro que são semelhantes ao sono. As vezes, é necessário trabalhar com relaxamento, comportamentos conscientes e inconscientes, diminuição de ansiedade etc. Sempre tratando cada pessoa e caso individualmente”, comenta Kaj Vardinghus, hipnoterapeuta. Buscar uma fuga do estresse do dia a dia é importante para uma boa noite de sono. Estaremos dormindo o suficiente se, no dia seguinte, acordarmos bem dispostos, com manutenção do humor durante o dia, sem sonolência e sem prejuízos da atenção, memória, concentração e funções executivas. Vale lembrar que algumas pessoas se sentem bem dormindo somente cinco horas, enquanto outras necessitam de oito horas ou mais de sono para se sentirem dispostas no dia seguinte.

Dicas para dormir bem:

Os brasileiros estão dormindo pior e cada vez menos, segundo o Instituto do Sono

Pausa para o cochilo Investimentos em espaços de descanso trazem inúmeras vantagens durante o trabalho

Fotos:Ana Carolina Marquez

• Adotar horários regulares de sono, ou seja, deitar e levantar habitualmente nos mesmos horários, mesmo nos finais de semana; • Evitar cochilos prolongados à tarde; • Um banho morno duas horas antes de dormir, pode ajudar a relaxar e abaixa a temperatura corporal; • Recomenda-se a prática regular de exercícios físicos, sempre pelo menos 6 horas antes do horário de sono. Fazer exercícios próximos ao horário de dormir pode tirar o sono; • Evitar agentes estimulantes como álcool e com cafeína (chocolate, refrigerantes, nicotina), refeições pesadas e excesso de líquidos antes de deitar; • Só vá para a cama se estiver com sono. Quanto mais o indivíduo sem sono quiser dormir, mais nervoso vai ficar e mais dificuldade terá em relaxar e adormecer; • São sugeridas atividades relaxantes próximas ao horário de sono, como ler, pintar, bordar, escutar boa música.

Você descansa o suficiente?

Ter poucas horas de sono pode causar estresse e ansiedade, entre outros problemas Amanda Cardoso Ao longo da vida, nossas necessidades de sono mudam de acordo com a idade e a rotina. Mas dormir continua essencial em

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todos os estágios. Dormir menos que o necessário para recuperar as energias causa problemas na memória e baixa resistência a doenças

e lesões, já que durante o sono o corpo libera os hormônios responsáveis por reparar danos em nosso corpo com mais intensidade.

Diagramação e Revisão da página: Vinícius Félix

Na sede do Mercado Livre, em Osasco (SP), para os funcionários relaxarem há puffes e sofás Thais Matuzaki Quem nunca sentiu aquela vontade de tirar uma soneca depois do almoço, especialmente no trabalho? Isso é comum, porém nem sempre conquistamos uns minutinhos de cochilo dentro de um ambiente colaborativo. Na contramão disso, algumas empresas aqui no Brasil, como Google e MercadoLivre, começaram a oferecer espaços para o repouso de seus funcionários. O resultado não poderia ser diferente: criatividade e bom humor a todo vapor. O escritório do Google, localizado na Avenida Faria Lima, disponibiliza a seus colaboradores pufes e redes. “A sala de descanso está sempre aberta, e cada um pode passar o tempo que quiser ali. Basta cumprir as 44 horas semanais”, conta Mônica Santos, diretora de RH da companhia, e ressalta que até

hoje, não teve problemas com o excesso de cochilo por parte dos empregados. “Esse tipo de ambiente mostra que valorizamos o bem-estar dos nossos funcionários e eles compreendem isso. Não extrapolam e geram retorno para a empresa”, afirma. Na sede do MercadoLivre, em Osasco, os funcionários podem cochilar nas salas de descompressão e de jogos, que fica aberta das 6h às 00h. Também há pufes e sofás para todo o lado. “Podemos ficar por lá em qualquer hora do dia. Sempre descanso por 20 minutos e volto muito disposta”, conta a funcionária Letícia Schimitt. Segundo o neurologista Leandro Teles, dormir de dia renova a capacidade cerebral, sobretudo após alguma refeição. “Durante a digestão, parte do fluxo sanguíneo é desviado para

o estômago, o que causa privação moderada de sangue em algumas áreas, como o cérebro. Por isso, ele fica mais lento e sentimos tanto sono após almoçar”, explica. Para Teles, essa pausa melhora a memória, reduz o estresse e aumenta a criatividade. A última, por exemplo, só aflora com qualidade quando o cérebro está totalmente descansado. “Em números, um cochilo de cerca de 25 minutos pode aumentar a capacidade de atenção em aproximadamente 50%”, estipula o médico. De acordo com o neurologista, um cochilo de 20 a 40 minutos, realizado todos os dias, é o suficiente. “Parece pouco, mas já é capaz de reduzir os níveis de cortisol e adrenalina no sangue. Assim, as pessoas relaxam e trabalham com mais qualidade”, esclarece.


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Sono

Benefícios da hipnose Entenda sua mente e como ter uma perspectiva do real e do imaginário através de um metódo terapêutico Ana Rita Luz A hipnose é vista por muitos como um mistério ou até mesmo ritual mágico, e reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como uma ferramenta de diagnóstico e tratamento, desde 1990, sendo utilizada para restaurar o organismo e reorganizar as funções vitais. “Na hipnose, acessamos a área responsável pela nossa imaginação e criação da realidade, onde estão armazenadas todas as programações de quem somos e como agimos. Essas programações começam quando ainda estamos na barriga da nossa mãe, e continuam por toda a vida, pois são fruto das experiências que vivemos diariamente”, explica Daniela Assunção, Coach de Vida e Carreira e Hipnoterapeuta OMNI.

Segundo especialistas, ainda que a pessoa esteja acordada, mas por instantes, sua percepção ao que acontece em torno é bloqueada, como se sonhasse acordado, isso pode-se considerar uma ato de hipnose, visto que a mente humana é capaz de ultrapassar o fator crítico (instância que delimita a consciência do subconsciente). A prática vem auxiliar no tratamento de doenças psíquicas como a depressão, ansiedade, transtornos do sono, estresse, e uma consequentemente melhora na hora de dormir. “Após ter o aconselhamento de médicos que deveria fazer algo para relaxar e amenizar o estresse, decidi pela hipnose. Achei bacana e confesso que por alguns meses estive mais tranquila. Infelizmente, não dei

continuidade, mas recomendo a terapia”, declara Graciana Siqueira, jornalista que utilizou da hipnose para tratamento. Durante a sessão o paciente permanece consciente, apesar dos olhos fechados, que podem indicar um estado de adormecimento, todos os sentidos do corpo continuam em alerta para que o terapeuta realize de forma coordenada as induções. “Com pequenos estímulos sensoriais externos, sejam táteis, visuais, olfativos, sonoros ou contextos comportamentais, fazemos o paciente sentir-se calmo e alcançar o nível de relaxamento físico e mental”, declara o especialista em hipnose Ricardo Maruyama. Para alcançar o resultado esperado pelo especialista e paciente, o primeiro passo

dever ser a confiança no procedimento, pois a pessoa deve desprender-se dos medos que podem atrapalhar a mente entrar no estado de hipnose. “As mudanças esperadas podem se dar de duas maneiras: acessando o evento inicial que gerou essa programação para fazer a dessensibilização, ou seja, dar um novo entendimento aquele fato ou inserindo novas programações de acordo com quem você quer ser e deseja agir, sob a perspectiva da pessoa mais madura e experiente. Com a técnica que eu utilizo, isso é possível de ser realizado em apenas uma sessão para 90% dos casos.”, conclui Daniela Assunção. E você toparia entrar nesta viagem por uma boa noite de sono?

Quantas horas o mundo dorme? Cada país dorme de um jeito diferente e a maioria deles está precisando de uma boa noite de sono

Luana Viana O aplicativo também foi adaptado para seguir diferentes fusoEstudiosos da Universidade de Michigan realizaram um estudo para determinar uma linha de sono em mais de 100 países -horários e dar dicas de com dormir melhor, que horas as pessoas no mundo. A pesquisa utilizou um aplicativo especial, criada deveriam se expor à luz do dia e como regular o relógio biológico. Cerca 6 mil pessoas toparam compartilhar a sua rotina e divulpela própria universidade, chamado Entrain, para entrar na rotina de seus usuários e verificar a hora que eles iriam para cama gar os resultados publicamente. Todos os dados serviram de base para determinar as horas dormidas nos em casa país. e a que horas se levantavam.

especial

Paralisia do Sono

Bruna Nunes • O quê é: “É o momento em que a pessoa está dormindo ou acaba despertando de um sono profundo e percebe que não consegue mexer seu corpo. Isso acontece porque a musculatura do corpo fica paralisada. A pessoa tem consciência de tudo do que está acontecendo ao seu redor, mas não consegue se movimentar. Qualquer pessoa pode ter essa paralisia. É um efeito natural do corpo”, explica Rosa Hassan, Neurologista da Associação Brasileira do Sono. • Quem já teve: “Estava dormindo tranquilamente. De repente, acordei. Abri os olhos. A primeira coisa que tentei fazer foi levantar, mas foi em vão. Depois tentei mexer meus braços. Apliquei força, mas não deu certo. Só consegui me mexer depois de 1h. Dei um impulso e levantei, me senti desesperado e minha mente pedia por socorro toda hora. É uma sensação horrível.”, relato de Gabriel Nunes, estudante.

Bruxismo César Gonçales

• O que é: Dores de cabeça constante, sensação de incomodo nos músculos da face, inchaços na mandíbula, dores nas costas e pescoço e até zumbido no ouvido, pode caracterizar o bruxismo, doença caracterizada pelo frequente ranger ou apertar dos dentes. Além de deixar os dentes doloridos, o bruxismo pode ocasionar a queda total dos dentes. A doutora Silvia Braga, especialista em cirurgia maxilar afirma que “o primeiro tratamento que realizo é a utilização de uma placa bucal de silicone que impede os dentes de se tocarem em excesso, protegendo-os, ao longo da noite. • Quem já teve: “Descobri o bruxismo durante a infância quando morava com minha avó, em uma noite ela acordou com o barulho diferente e percebeu que o barulho vinha do meu quarto, ao se aproximar percebeu que o barulho vinha de mim. Nunca fiz nenhum tratamento, mas durante a infância eu usava o protetor bucal, conforme fui crescendo, o médico disse que não era mais necessário. Não tenho nenhum incomodo na hora de dormir, às vezes, eu acordo assustado com o barulho do ronco e com o ranger dos dentes que o barulho é realmente muito alto”, conta Lucas Yasuhiko Kaji Mafra, estudante.

Luana Viana/Vinícius Félix

Sonilóquio Izis Guerrero • O quê é: Sonilóquio é o ato de falar durante o sono. É um fenômeno que também é chamado de sono paradoxal, um comportamento que acontece, quando as pessoas dormem. “É uma ocorrência muito comum e geralmente não é considerado um problema médico. Às vezes, quem está ao lado de pessoas que falam durante o sono, acabam escutando mais não compreendem”, comenta a psicóloga clínica especializada em psicossomática Eliana Torlado. • Quem já teve: “Na maioria das vezes em que durmo, dizem que eu sempre falo, mais eu nunca me lembro ao certo o que aconteceu na noite passada”, comenta a aposentada Maria Dalva. Solução exata não há. O que se pode fazer é seguir alguns procedimentos no sentido de amenizar. Há que reduzir o estresse o quanto possível, evitar alimentos muito pesados antes de ir para a cama.

Sonambulismo Erica Lima

“Me belisca que eu estou sonhando!”

Seja dormindo ou acordado, sempre temos uma mistura de sensações reais e lúdicas ao sonhar Fernanda Pizato Relatos bíblicos com José interpretando os sonhos do Faraó e Daniel antes de ser mandado à cova dos leões. Um sonho que acabou criando Yesterday dos Beatles. A teoria do pai da psicanálise Sigmund Freud. O sonho é um grande enigma humano. O que é o sonho? Por que sonhamos? Em “A interpretação dos sonhos”, de 1900, Freud diz que o sonhar é uma linguagem simbólica, pela qual se manifesta o nosso inconsciente, onde estão os conflitos não resolvidos e vivências reprimidas, que acabam governando todo o nosso comportamento.

Até então, o sonho tinha apenas interpretações ligadas a algo místico, premonições, ligações com o mundo espiritual, que ainda são admitidas em determinadas crenças. O psicanalista Dimas Mietto esclarece que os sonhos são um material muito rico para uma sessão de analise. “Os sonhos não são lineares, são simbólicos. A terapia desvenda o significado desses símbolos. E apesar de termos símbolos universais, como, por exemplo, associar ouro a riqueza, a associação dos simbolismos difere de pessoa para pessoa”, ele conta. A neurologia também busca explicações para a questão.

Diagramação e Revisão da página: Vinícius Félix

Nathália Galbes é recém-formada em medicina e está fazendo residência para neurologia no Hospital das Clínicas de São Paulo. Ela explicou que de dia a parte do cérebro que mais trabalha é o córtex pré-frontal, o setor responsável pelo pensamento racional. “Enquanto dormimos, essa área apaga e o resto todo funciona de uma forma supercarregada. Esse mecanismo dá liberdade ao inconsciente, e então surge o sonho”, diz ela. Já o médium de Umbanda Fernando Esteves explica que para essa religião o sonho pode ser uma forma de comunicação das entidades conosco.

E diz também que, além desse contato com o outro mundo, um sonho pode ser o nosso espírito andando por aí. “Existe o sonho consciente. O nosso espírito, enquanto o corpo descansa, sai para se projetar. Então, nesses casos o sonho é algo que está acontecendo, só que em outra realidade”, fala. Muitas são as interpretações. Quem estuda a mente hoje, independente da vertente, olha com atenção para os detalhes do sonho de cada pessoa, sem correr atrás de interpretações genéricas, individualmente, tornando o sonho uma forma de autoconhecimento.

• O que é: Um distúrbio benigno que se manifesta durante o estágio mais profundo do sono. “Durante um episódio de sonambulismo, o individuo consegue se levantar da cama e realizar algumas atividades, como andar, falar e até mesmo comer enquanto dorme. Acordar um sonambulo não é prejudicial, mas pode fazer com que os episódios fiquem mais frequentes”, informa Gustavo Antônio Moreira, médico especialista em medicina do sono e integrante do corpo clínico do Instituto do Sono de São Paulo. • Quem já teve: “Sou sonambula desde os 15 anos, e os episódios não ocorrem com frequência, mais ou menos umas seis vezes por ano. Fiquei sabendo quando minha mãe me contou que eu descia as escadas no escuro, ia em direção ao seu quarto e falava frases aleatórias, mas, no dia seguinte, não me lembrava de nada”, conta Pamella Deleame, 18 anos, estudante do primeiro ano de Direito.

Insônia Vinicius Felix

• O que é: De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos (DSM-V) a insônia é caracterizada pelas dificuldades em iniciar e manter o sono, o despertar antes do horário habitual sem conseguir voltar a dormir. Segundo o médico do sono e diretor da clínica HSono Franco Martins o tempo dos sintomas é o que a define: “A insônia pode ser classificada quanto à duração e quanto à etiologia. Quanto à duração, pode ser aguda ou crônica, sendo aguda aquela com durabilidade inferior a três meses, também chamada de insônia transitória ou de ajustamento.” • Quem já teve: “Quando não durmo adequadamente fico com mal humor, dor de cabeça e irritada. A meu ver, a insônia e causada por preocupações e stress. Em que, muitas vezes, tentamos achar a solução logo no momento em que é para relaxar e descansar. Ultimamente, estou tentando ter hábitos mais saudáveis para ter um sono mais tranquilo, tentando dormir mais cedo, esquecendo-se das tarefas do dia a dia”, comenta Eliana Santos, que tenta lidar com a falta de sono e suas causas.

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vida digital

ano 23 |no 15| dezembro/2016

Só mais essa foto Câmera frontal, uma boa pose, clique e pronto! A mania que ganha cada vez mais adeptos Ana Carolina

Vamos tirar uma selfie?”, quem nunca disse ou ouviu essa frase que atire a primeira pedra. O autorretrato é marca registrada da geração “y”, ou melhor, geração Millennials. A Selfie se tornou tão frequente, que o mercado visando integração a esse novo modelo de fotografia criou adereços que facilitam e até dão um “tchan” a mais nas fotos. Hoje ao andar por ruas como a famosa 25 de março - ou qualquer outro centro comercial- você encontra lojas especializadas em acessórios do ramo tecnológico, entre eles estão; pau-de-selfie para que tem braços curtos, lentes “olho de peixe” para quem quer uma foto mais estilizada e para os mais radicais há também capinha a prova d’ água, esse último promete não molhar o celular enquanto você se aventura naquele mergulho. A onda do selfie pegou tanto que especula-se que sua principal finalidade seja as redes sociais. De acordo com o Conecta do Ibope inteligência, brasileiros entre 15 e 35 anos são os mais adeptos, possuindo cerca de sete perfis em diferentes sites. Mas você já deve ter percebido também que a maioria das postagens que circulam pela sua

Adriana Oliveira

Cada vez mais pessoas aderem ao novo estilo de fotografia para expor a sua foto nas redes sociais time-line tem ao menos uma foto. E adivinha? É uma selfie! Ao mesmo tempo que temos aqueles que tiram uma foto e já

postam na rede, de outro, temos quem tira uma, duas, três, ou mais, até encontrar aquela que fique perfeita para o Instagram.

Apps que te deixam zen Aplicativos que prometem ajudar usuários a meditar aliam tecnologia ao bem-estar

Adriana Oliveira

A estagiária de treinamento, Nayara Lorraine, de 20 anos, tira de dez a doze selfies para eleger apenas uma. A tecnolo-

gia possibilitou uma maior instantaneidade e visibilidade aos que gostam de estar sempre em evidência, por dia são milhares de fotos, tem selfie no trabalho, na escola, no transito, na fila do banco e até na frente do espelho. Se você pensa que este é um hábito apenas dos mais descolados, engano seu, os mais retraídos também se renderam aos delírios do selfie. Quantas vezes você já não viu aquele amigo quieto de pouca conversa que não gosta muito de aparecer, mas que vez ou outra acaba soltando uma selfie em seu perfil na internet? Segundo a psicóloga Lilian Quintans: “O mundo virtual proporciona poder as pessoas para serem quem desejarem ser nessas relações, sem a necessidade de se mostrar ou mesmo declarando aquilo que não fariam além do mundo virtual”. A Sellfie também está presente no encontro com os amigos, naquela foto em que todos querem aparecer, mas ninguém quer ficar de fora para dar o clique. Não sabemos se foi este o caso, mas uma selfie tirada na entrega do Oscar em 2014 repercutiu tanto que na época foi a mais replicada no twitter, não era pra menos, a foto contava

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com pessoas do gabarito de Jennifer Lawrence, Julia Roberts, Angelina Jolie, Brad Pitt entre outros. Quem tirou a foto foi a apresentadora norte-americana Ellen DeGeneres.

Streaming Pirataria Mídias digitais têm ajudado a reduzir o número de downloads ilegais na internet Douglas Santos

Esses aplicativos facilitam a vida das pessoas que não conseguem dormir ou que querem meditar Adriana Oliveira Ao deitar na cama, depois de um dia fatigado, com os olhos pesados, mas sem conseguir dormir, ele puxou o celular para próximo de si, deslizou os dedos sobre a tela, programou no aplicativo o tempo de reprodução de seus sons favoritos: Nevasca de inverno, ondas do mar e chuva de verão. Dormiu, imaginando como seria adormecer em qualquer lugar que estes sons fossem reais. Determinados ruídos são capazes de tirar a tensão e relaxar, a chuva, por exemplo, é um dos sons que é excelente na indução ao sono. Por esse motivo, sentimos tanta vontade de tirar uma soneca quando ouvimos a chuva bater na janela de vidro e, conforme as pancadas de água se transformam em um temporal, é mais intensa nossa vontade de dormir. Nossa mente e corpo são obrigados a suportar a exposição ao estresse diariamente. Como solução, a maior parte das pessoas, usa remédios, ou têm uma “válvula de escape” que ajuda a melhorar o foco e a produtividade, entretanto, nem todos esses métodos são benéficos. Como, infelizmente, não podemos adormecer todos os dias com o agradável som de

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uma tempestade, muitas empresas apresentam agora como proposta a substituição dessas práticas por algo que não tenha nenhum aspecto negativo. Aplicativos que auxiliam o usuário a relaxar, aliados à meditação, e que podem ser gratuitamente instalados em smartphones. Patricia Souza, dona da empresa Guipa Mobile, cria aplicativos para outras empresas, e diz que independente do app, o foco é sempre, e sem exceção, o usuário. “A necessidade do produto para o cliente é o primeiro debate, o formato visual da realização é a segunda questão discutida e, por fim, o retorno que aquele aplicativo trará para quem o está lançando, é o que estimula uma argumentação antes de dar início a um projeto. Grandes empresas possuem meios de testar ideias com parte de seu público, e só desenvolvem algo depois de receber uma aprovação mínima,” diz. As propostas de todos esses aplicativos, que podem inclusive ser baixados para qualquer sistema operacional, é melhorar a qualidade de vida de seus usuários, como sono, redução de ansiedade, estresse e rela-

xamento do corpo. Isto tudo através de guias de meditação ou apps específicos para estimular o descanso mental. Estes têm sons de fenômenos da natureza e, às vezes, até sons mais incomuns, como uma máquina de lavar ou uma goteira de uma torneira mal fechada. Rain Rain é um app que permite combinar os sons disponíveis, dessa forma, o usuário tem a liberdade de criar a melodia que mais o agrada e salvar em seus favoritos. Outra possibilidade é definir o tempo de repetição dos sons sendo permitido marcar o exato momento em que a eufonia vai terminar. Alynne Silva, feirante, disse que atualmente usa os aplicativos com tanta frequência que já se tornou dependente de um deles. “Sempre tive problemas para dormir. Associado aos meus hábitos cotidianos, essa dificuldade se tornava mais intensa. Depois que instalei esse app, não consigo mais adormecer sem ouvir minha playlist de sons da natureza, mas diferente de um remédio, que provavelmente me faria muito mal, se usado assiduamente, adormecer usando o aplicativo só tem me feito bem,” fala.

Diagramação e Revisão da página: Juliana Campos

O entretenimento digital, popularizado pelos serviços de streaming, veio para ficar. Além de eliminar as chamadas mídias físicas, como CD’s e DVD’s, essas novas plataformas diminuíram consideravelmente a taxa de pirataria no mundo. Em pesquisa realizada pelo Intellectual Property Office (IPO), no Reino Unido, foi constatado que 45% das pessoas consomem conteúdo apenas por meios legais. A pesquisa também apontou uma queda no compartilhamento de arquivos piratas via torrent (meio ilegal), que caiu de 12% para 10% no último ano. Para os usuários do streaming, a principal vantagem da ferramenta é a rapidez do

acesso, a qualidade do material e o valor acessível. “Um ponto crucial é a qualidade do vídeo e aúdio, porque nem sempre quando você faz o download em meios ilegais o arquivo vem em perfeita qualidade, sem falar da existência de vírus. Em relação ao valor da assinatura, no início eu achei um pouco salgado, pois não conhecia o produto e as vantagens, mas quando constatei a qualidade achei o valor mais que justo”, conta Danilo Araújo Azevedo, estudante de Administração e usuário de serviços de streaming. Para quem gosta de música, o Spotify é um dos serviços mais utilizados do segmento. Em último levantamento divulgado em junho deste ano, o

número de usuários ativos do serviço aumentou de 75 milhões para 100 milhões. Já o Netfix, que se destaca pelo catálogo de filmes e séries, já ultrapassa a faixa de 75 milhões de usuários no mundo. Apesar da facilidade dessas novas ferramentas de entretenimento, há ainda quem prefere fazer download na internet. “O streaming exige conexão com internet, e como os planos de telefonia móvel não ajudam, eu prefiro ter o arquivo para ver off-line. E a vantagem de fazer downloads na internet é justamente a possibilidade de ter acesso ao arquivo off-line”, conta Marcos Galóis, estudante de Matemática na Universidade de São Paulo (USP). Adriana Oliveira

O Streamming virou febre em todo mundo depois que o Netflix se tornou popular


artes

ano 23 |no 15| dezembro/2016

A grandiosidade das maquetes

Sotero Cardoso

Com o intuito de reproduzir e incentivar a realidade, a criatividade e a criação, elas causam admiração pela beleza e similaridade Renan Nascimento

Prédios, cidades, pontos turísticos, estátuas, até mesmo, carros e pessoas, tudo isso reproduzido em miniaturas precisas e ‘grandiosas’, demonstrando que a maquete é uma manifestação artística muito importante para a arquitetura, engenharia e mercado imobiliário. Arte que desperta muita curiosidade e admiração. “Hoje em dia, uma maquete não só tem o objetivo de auxiliar o arquiteto com finalidades de volumetria e cores, é um produto de alto impacto e atratividade para quem vai adquirir um imóvel, que mostra perfeitamente o empreendimento como realmente será executado. Não deixando também de auxiliar os engenheiros em alguns pontos cegos, que em 2D não se torna claro o entendimento”, diz Inaldo Ferreira, gerente da empresa de maquetes Adhemir Fogassa. E para Inaldo, a arte está muito presente no que é feito. “A maquete é uma forma de expressar a realidade onde o maquetista tem a habilidade e sensatez de representar o objeto em dimensões estabelecidos em escalas desejadas”. A maquete é uma representação em escala reduzida de

É um produto de alto impacto e atratividade para quem vai adquirir um imóvel

um objeto ou projeto. Existente desde a idade média, em que era usada para planejar ataques em uma guerra, ela tem o seu valor como um método de aproximação com o objeto real no ponto dinâmico, realista e geométrico. Além disso, é uma grande auxiliadora nas áreas de arquitetura e engenharia. Principalmente para os arquitetos, em que para eles, assim como o desenho, a maquete tem um papel fundamental no processo de elaboração de projetos. Essa reprodução da realidade alimenta a reflexão do arquiteto, sendo um instrumento de visualização das ideias. Segundo a arquiteta Géssica Santos, a maquete é con-

siderada uma arte de linguagem plástica, que incentiva na criatividade e criação. “Além disso, é importante para facilitar no aprendizado, conseguimos com ela ter uma ampla visão entre a volumetria com seus cheios e vazios, com a mesma é possível entender melhor o meio em que está inserido a construção”. Contudo, na engenharia essa reprodução artesanal em miniatura não é tão importante quanto visto na arquitetura, mesmo assim é usada em alguns momentos, como para a observação do nível do terreno, se é plano ou alto, vê os cortes que podem ser usados, e se tem terraplanagem e perfurações. Diversos materiais são usados em uma maquete, como por exemplo, MDF de várias espessuras, acrílicos, papelões, espumas para vegetação no paisagismo, e diversos tipos de tinta. Os materiais recicláveis são poucos utilizados na construção do projeto, pelo fato das indústrias não disponibilizarem no mercado matéria prima, mas papelões e madeiras de reflorestamento acabam sendo usadas.

Miniatura de condomínio feita pela empresa de maquetes Adhemir Fogassa

Desenhar palavras Ballet sem fronteiras com diversidade Escritoras afro-brasileiras mostram suas obras ricas em conteúdo poético com ludicidade e reflexão

Na Cia de Ballet Fernanda Bianchini deficientes aprendem a dançar através de método inovador baseado no toque Thomás Santana

De saltos inseguros a rodopios magistrais, assim é o cenário de uma aula de ballet na Cia de Cegos Fernanda Bianchini. A bailarina que dá nome a associação criou um inédito método para ensinar ballet clássico para deficientes visuais, que há 21 anos renova a esperança de dezenas de meninas. Conhecida por ser a única no mundo a realizar este tipo de trabalho, o sucesso levou a companhia para palcos do mundo inteiro. Ensinar ballet para que não enxerga é um grande desafio. Uma bailarina precisa possuir leveza, se expressa bem, além de dominar os movimentos ágeis e acrobáticos que a dança exige. Mas a falta de visão não é uma barreira para as alunas, que aprendem através do toque cada passo. Enquanto um professor executa o movimento, as pupilas tateiam o corpo para em seguida executar repetidamente. “A ideia surgiu depois que a Fernanda começou a ensinar voluntariamente passos de ballet para algumas alunas cegas do Instituto de Cegos Padre Chico, localizado em São Paulo. Lá ela passou a desenvolver um método de ensino baseado no toque e repetição de movimentos, que foi pioneiro na dança”, diz Bianca Luiza, coordenadora de marketing do projeto.

‘Omo-Oba: histórias de princesas’ e ‘O mundo no black power de Tay’o’, ambos da escritora Kiusam de Oliveira; ‘Águas da cabaça’, de Elizandra Souza, são algumas das muitas obras de autoras negras com temáticas que ressaltam aspectos da cultura afro-brasileira

Após muito trabalho de repetição, toque e percepção, as alunas dominam plenamente a técnica da dança. A partir desse momento, a exigência feia a elas é a mesma de alunas que não possuem deficiência. O intuito da associação é que as apresentações seja, aplaudidas por elas realmente estarem fazendo um grande espetáculo, não por serem deficientes. O projeto que começou com aulas apenas para cegos, hoje abrange deficientes motores, visual, auditivo, mental e portadores de algumas síndromes. Atualmente a Associação possui 240 alunos sendo amparados. Bianca explica que quem possui deficiência não paga nenhum valor pelas aulas, quem não tem, arca com o custo de R$ 100 reais mensais, que é revertido para manutenção. “Minhas filhas sempre tiveram vontade de fazer ballet, porém as aulas nas escolas comuns ou eram caras, ou não tinham estrutura para cadeirantes. Como elas mesmo dizem, nas aulas elas se sentem num filme cheio de magia, a cada passo, cada giro, é como se fosse um sonho. Além de ensinar o ballet, a companhia ensina valores que realmente valem a pena, como o amor ao próximo, enxergar com os olhos do coração e ouvir com os ouvidos da alma”, relata Nubia Nascimento, mãe de três alunas do projeto. Arquivo Pessoal

Bruna Rizzi Ao longo de muitos anos, a cultura afro-brasileira e africana foi pouco falada dentro de grande parte do acervo literário nacional. Em 2003, foi aprovada a lei 10.639/03 que visa a inclusão no ensino de histórias da cultura africanas e afro-brasileiras, o que modificou em parte os matérias didáticos dados pelo governo. A representação da diversidade cultural e étnica é fundamental para discernir a igualdade entre crianças e jovens, como explica Kiusam de Oliveira, doutora em educação, mestre em psicologia e escritora de literatura infantil. Ela também faz parte ativamente de movimentos que buscam vencer o racismo e participou ativamente do movimento negro brasileiro na época em que a lei era apenas um projeto. Kiusam conta que existem muitos livros premiados de autores negros, mas que não ganham a mesma visibilidade que autores brancos por falta de conhecimento da população e do racismo ainda velado.

“Eu produzo literatura que, muitas vezes, busca incluir reis e rainhas africanas. Mas essas figuras estão associadas à uma religiosidade que muitas pessoas discriminam no Brasil. Então, se eu for falar de um Oxum e de Iemanjá que são ancestrais e são considerados na Nigéria, por exemplo, rei e rainha dentro da história do hemisfério, as pessoas facilmente vão associar à uma religião e não ao lúdico da literatura. Isso acontece por falta de informação da maioria dos brasileiros”, esclarece. Há cerca de 30 anos, a Mazza Edições nasceu com objetivo de publicar títulos com diversidade cultural. OMO-OBA, de Kiusam, está entre as publicações da editora. Elizandra Souza é jornalista, editora responsável pela Agenda Cultural da Periferia e fundadora do Mjiba – Jovem Mulher Revolucionária – e escritora há cerca de 15 anos. Águas da Cabaça, publicado em 2012, é um de seus livros que reserva poemas que remetem os traços da raiz

afro; Dara, a primeira vez que fui ao céu é um de seus contos, publicado em 2008, acaba de ganhar uma versão para o cinema em um curta metragem, com previsão de lançamento para final de 2016. O conto traz uma referência da literatura infantil no cenário rural com uma viagem lúdica. A escritora explicou que o espaço para o autor negro ainda precisa ser discutido mais e aponta que, apesar das turbulências políticas, alguns programas do governo cooperaram para que as pessoas negras ganhassem um pouco mais de espaço na literatura. “Tivemos muitos avanços no cenário da arte com o artista negro. As políticas públicas dos últimos anos tiveram uma influência nisso possibilitando que algumas pautas negras evoluíssem. Eu mesma, sou fruto disso, pois com as cotas pude ter uma formação acadêmica. As editoras, dificilmente, buscam essa temática. Nós que precisamos correr atrás para publicar uma obra”, esclarece Elizandra.

Aluna e professor durante performance da Cia de Cegos Fernanda Bianchini

Diagramação e Revisão da página: Bruna Rizzi, Thomás Santana, Renan Nascimento, Stephanie Tavares

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esporte & lazer

ano 23 |no15 | dezembro/2016

Nova onda no interior: surfar na represa Esportes aquáticos se tornam atrativos para turistas em cidades fora da grande São Paulo Adriano Barbosa Arquivo Pessoal

Aula de wakeboard na represa de Avaré, em São Paulo

Vento no rosto, prancha deslizando sobre a água e em um impulso decolar realizando um giro, uma pirueta ou um simples pulo no ar. Às vezes as ondas parecem mais fortes, o equilíbrio falta, um escorregão vem a queda, mas, ainda não acabou. Todos param, o atleta se levanta e começa tudo de novo, retomando a velocidade do barco, novas manobras podem ser tentadas. Esse é o wakeboard, um esporte, praticado em grandes áreas aquáticas, como na represa de Jurumirim em Avaré, no interior de São Paulo. No wakeboard adrenalina não falta para quem procura algo desafiador e divertido, especialmente os amantes da água. “Sempre gostei de surf, mas nunca consegui aprender, e a facilidade de aprender wake, dá vontade de continuar o dia inteiro. Descobri que o Wake exige um preparo físico, o que tem me obrigado a praticar outros esportes”, afirma Leandro Alves, jornalista e praticante do esporte. Para a sua prática são necessários, uma prancha de até 1,35 metros de comprimento, de 45 cm de largura, uma corda rígida,

que não atrapalhe no equilíbrio do praticante, com cerca de 17 metros, para manter o elo entre barco e atleta, e o veículo deve puxar o atleta em uma velocidade constante próxima a 30 Km/h. “Eu estou adorando. Ainda é um esporte um tanto elitista pelo alto custo dos equipamentos e para praticar no barco ou no cable. Por isso o ideal é começar devagar, fazendo uma aula por mês no barco”, diz Leandro. Não é difícil encontrar locais para praticar wakeboard, e instrutores que viram no esporte uma oportunidade de lazer nas áreas de água doce, aproveitando espaços no interior de São Paulo, ou mesmo em cidades perto da capital do estado. Unindo a paixão pelas modalidades aquáticas e a vontade de trabalhar com o que gosta, Thiago Martins criou a Avaré Wake School com a ideia de oferecer uma opção da prática do esporte e uma nova opção de lazer na região. “Minha primeira experiência profissional com pranchas foi no Snowboard, após 4 anos fora, pensei em voltar ao Brasil, mas queria continuar no ramo da

prancha. Passei um ano na Bahia de San diego criando minha técnica de ensinar, trabalhando com Wake, para voltar ao Brasil e continuar atuando nessa área das pranchas”, conta Thiago Martins que já atua a 10 anos na área de esportes com pranchas. Mesmo com a demanda crescente pelo esporte, sua prática ainda é considerada de elite apesar das variações de preços em relação a outras atividades, mas não oferecem os mesmos benefícios do Wake. A maior procura é por parte dos turistas. “Os locais não dão muita importância para a represa, e muitos vêm de fora, mesmo que é de Avaré e moram fora, voltam e trazem amigos para conhecer e praticar Wake. Eles são a maior parcela do meu público”, afirma Thiago. “Náutica é um setor elitizado, por causa dos custos com o barco e equipamentos, o que deixa o Wake um esporte caro. Há toda uma expertise do negócio, já que estou ensinando um esporte não é apenas um passeio, e eu recomendo a prática”, afirma Thiago, que cobra R$ 110 por pessoa, valor na média das demais escolas em São Paulo.

Roda da inclusão Capoeira adaptada desenvolve diversas habilidades motoras Wanessa Santos

‘Amazônia Paulista’ abriga riquezas estaduais Geologia, lendas e beleza natural podem ser apreciadas no percurso das trilhas em Eldorado, cidade no interior de São Paulo José Anderson

Primeiros acordes do berimbau. Expectativa…surpresa! A roda da inclusão, realizada pelo mestre Jefferson Fagundes, conhecido como mestre Taka, em Goiânia (GO), reúne hoje mais de 120 criança, algumas com deficiência física. A vida como professor de capoeira teve início como forma de retribuir a ajuda que teve quando era pequeno. Quando criança, participava de um projeto social, no qual jogava capoeira junto de seus irmãos, enquanto sua mãe trabalhava. Hoje, ele desenvolve com seus alunos o mesmo que aprendeu anos atrás: a transformação pelo esporte. A convite de uma amiga, passou a fazer parte do projeto Conviver, do Centro Integrado de Educação Moderna (CIEM) em 2009, escola na qual desenvolve a roda da inclusão. As aulas acontecem duas vezes na vezes na semana e promovem a interação entre alunos do

projeto, os da educação infantil e séries até o quinto ano. “Há sete anos participo do projeto, pelo bem que ele faz ao próximo, pelo bem que acredito que todo ser humano deve fazer ao próximo e o carinho que recebo das crianças. Desde então estou lá e tenho conseguido desenvolver não só as crianças com particularidades, mas as outras também”, explica o mestre. Em São Miguel Paulista (SP), a academia Alvorada Capoeira inclusiva desenvolve trabalho semelhante. O professor de educação física e capoeirista Ednaldo Adelino, conhecido também como mestre Mamão, começou sua trajetória no esporte em 1979, mas foi em 1995 que deu início as aulas adaptadas, como voluntário, na extinta Estação Especial da Lapa. Hoje, em sua própria academia desenvolve estas mesmas aulas para pessoas com deficiência. “Através da capoeira adaptada, o

aluno com deficiência desenvolve as mais diversas formas de habilidade motora, como, por exemplo, ritmo, controle muscular, noção de espaço, condicionamento cardiológico e muito mais”, explica o mestre. Rosilene Fernandes é mãe de Ana Laura, de 15 anos, que tem espinha bífida, resultado de uma má formação congênita do sistema nervoso central. Sua filha é uma das alunas do CIEM e participa do projeto de capoeira inclusiva do mestre Taka. A mãe acredita que a capoeira tem o poder de incluir aqueles que não teriam espaço. “A maior dificuldade foi encontrar um lugar que realmente trabalhasse em prol da inclusão, porque só assim a Ana Laura tinha possibilidade de superar uma barreira que é a exclusão social. O momento da capoeira é um momento ímpar em sua vida, no qual ela se sente verdadeiramente igual aos seus pares.” Fotos:: André Freitas

Caminho com escadas iluminadas que dão suporte no percurso dentro da caverna Caroline Lima Já pensou em fazer uma trilha com os pés e pernas submersos num rio? A primeira sensação é agonia e aquele friozinho na espinha. Mas ao decorrer do percurso a água no tênis deixa de ser um empecilho e você acaba se acostumando. Cada balanço no rio te faz imaginar um animal diferente, o suspense e adrenalina compensam todos os quilômetros percorridos e encorajam a chegar à última e mais bela visão: Queda do Meu Deus. O nome não é à toa, se refere aquela expressão mais sincera quando temos uma surpresa de tirar o fôlego. A cachoeira de 53 metros de altura é um verdadeiro espetáculo, e como se não fosse surpresa o suficiente, ela abriga debaixo de sua queda, uma pequena caverna. A trilha que passa pelo percurso do rio se chama Vale das Ostras e é uma das mais requisitadas pelos turistas que visitam a cidade de Eldorado. São mais de nove cachoeiras em seu percurso, de 5 até 53 metros de al-

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tura, piscinas naturais de águas cristalinas e escalada sobre pedras. Cada cachoeira proporciona uma aventura diferente. Estância turística, Eldorado está distante 280 quilômetros da cidade de São Paulo e possui uma geologia diversificada que atrai muitos visitantes ao longo do ano. É a quarta maior cidade do estado em área coberta por Mata Atlântica - com mais de 70%, em ótimo estado de conservação. O território abriga muitas cavernas, na qual a mais conhecida é a Caverna do Diabo (Gruta da Tapagem), localizada no Parque Estadual Caverna do Diabo. “Região é reconhecida pela UNESCO como Reserva da Biosfera do Patrimônio Mundial, desde fevereiro de 1993”, conta Gabriel Hallai, administrador da pousada Arapassu, em Eldorado. O Parque Estadual Caverna do Diabo constitui o Mosaico de Conservação do Jacupiranga. O lugar foi descoberto há mais de 50 anos e sua história é povoa-

da pelas mais incríveis lendas, o que atrai ainda mais o interesse dos visitantes. “A caverna tem intervenção humana no trecho de visitação, possui iluminação, escadas e guarda-corpos que a tornam acessíveis todas as idades. As formações dentro da caverna são a atração principal, é uma obra prima da natureza que merece diversas visitações, são muitos detalhes para se apreciar em todo canto se olhe”, conta Fernanda Sanches, pedagoga, sobre a visita que fez no último verão. Apelidada como Amazônia Paulista, Eldorado reserva grandes surpresas aos visitantes. Vale das Ostras e Caverna do Diabo são as principais atrações, mas as trilhas e paisagens não param por aí. Existe um catálogo com diversas opções apresentadas por guias turísticos, para indicar qual aventura se adequa ao que você busca e por onde começar. Lembrando que todos os passeios são feitos com acompanhamento profissionalizado.

Diagramação e Revisão da página: Gabriella Zavarizzi e Wanessa Santos

A menina Ana Laura é um das alunas do projeto Conviver, que trabalha a capoeira inclusiva, em Goiânia


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