Expressão 7 setembro 2017

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número 7 ano 24 usjt setembro/2017

Bruna Diniz

Cerveje-se Tá com sede? Bebe uma breja Especial - pág. 4 e 5


ano 24 |no 7| setembro/2017

Um brinde à cerveja!!

Ainda não estamos no verão, mas o calor implacável nos faz sonhar com uma breja super gelada, não é mesmo? Aliás, nem precisa do verão para pensarmos nesse precioso líquido tão apreciado no mundo todo. Você sabia que o brasileiro consome, em média, 62 litros da bebida por ano? Mas estamos bem longe do campeão mundial: a República Tcheca, com 143 litros por habitante/ano. De toda forma, somos um país cervejeiro. Faz parte da cultura nacional o hábito de incluir o consumo da cerveja nos momentos de relax, de socialização, de comemoração... Por isso, a reportagem especial do Expressão mergulhou (quase literalmente, rsrsrs) nesse tema tão refrescante e saboroso. Fomos compreender um pouco sobre as origens da cerveja; aspectos do consumo no Brasil e no mundo; detalhes sobre os processos de fabricação; como aprender a fabricar sua própria breja; os tabus que ainda envolvem a mulher que aprecia essa bebida. Enfim, exploramos informações sobre o mundo da terceira bebida mais popular do mundo, que perde apenas para a água e para o chá. Depois de ler nossa reportagem, recomendamos um brinde bem gelado!! E, enquanto você brinda, pode continuar a leitura desta edição, que está recheada de boas reportagens. Em Educação, abordamos a educação financeira na era digital e conversamos com criadores de canais no YouTube que procuram orientar os jovens a lidar com dinheiro. Na editoria Vida Digital, falamos sobre plataformas que promovem a interação de autores e leitores. Criar uma obra literária, ao longo da história, foi um processo geralmente solitário. Com a tecnologia, o trabalho criativo passou a ter novas características. Já em Artes, destacamos a experiência do Coletivo Gleba do Pêssego, um grupo premiado que atua em regiões periféricas de Sampa e registra as inquietações da comunidade LGBT. Já nossa última página, com Esporte&Lazer, apresenta um roteiro de aventuras urbano e inusitado. Nossa equipe foi conhecer um Polo de Ecoturismo no extremo sul da cidade, onde é possível praticar esportes radicais, trilhas, contemplação da natureza e descobertas históricas. Que tal essa aventura? Confira tudo isso aqui no Expressão – o jornal laboratório do curso de Jornalismo da São Judas.

In(visível) 10 lugar do 90 Concurso Fotográfico “Fração de Segundo”, com o tema “Sou apenas um rapaz latino americano...”, música de Belchior Helen Christo - aluna do 3o ano de Jornalismo - Campus Mooca

Cem anos de Solidão

Profa Iêda Santos e Profa Jaqueline Lemos

Maria,

“A diligência de Úrsula andava de braços com a de seu marido. Ativa, miúda, severa, aquela mulher de nervos inquebrantáveis, a quem em nenhum momento da vida se ouviu cantar, parecia estar em todas as partes desde o amanhecer até a noite já bem avançada, sempre perseguida pelo suave sussurro das suas anáguas de cambraia”. Estela Alves | estelaalves38@yahoo.com.br

do campo aos consultórios médicos Danillo Domingos | Danillo Domingosj@outlook.com

Maria Santino em seu consultório em Penápolis De família humilde e tradicional, filha de um cearense com uma índia, trabalhadores do campo, por um tempo seguiu o trabalho dos pais. A sétima filha de oito irmãos. Quarenta e oito de idade e uma trajetória de vida digna de respeito e orgulho. Maria Santino, mais conhecida pelo seu apelido, “Tica”, é uma pessoa de bem com a vida, energia contagiante. Quando criança estudou em uma escola rural próximo a sua casa, e ao chegar aos dez anos de idade, ainda criança, já começou a contribuir na renda da família, seu primeiro trabalho foi na colheita de tomates e assim permaneceu até chegar à atual oitava série. “Eram muitas pessoas para alimentar, apesar das minhas tias morarem próximo a nós, também não tinha uma vida confortável, então todos ajudavam de alguma forma. Não posso dizer que foi uma infância ruim. Meus pais realmente não tinham condições melhores a nos oferecer e naquela época

não tínhamos os privilégios de hoje, desde as coisas mais simples, como beber um refrigerante por exemplo, a gente tomava no natal”, comenta Maria. Continuou com o trabalho maçante, porém no corte cana. Seus pais se mudaram para cidade de Penápolis alguns anos depois. Maria enxergou uma oportunidade de estudar novamente. Mesmo com as mãos calejadas pelos movimentos repetitivos pelo facão e as pernas cansadas do trabalho continuou indo à escola. “Nesta fase as coisas eram difíceis porém a minha vontade de ser alguém me fazia acreditar num futuro melhor para minha família, então eu trabalhava durante o dia inteiro em baixo do sol quente e à noite frequentava as aulas, eu sempre fui dedicada, esforçada, não inteligente.” Apesar da vida corrida tinha momentos de diversão, aos finais de semana saia com as amigas, mas sempre com a permissão dos pais. Mini-saia colorida era a peça

da época, seu pai, Manoel, implicava com cumprimento, e como obediente que era, trocava de roupa, mas apenas a cor, e estava autorizada a sair. “Quando mudamos para a cidade, as coisas foram melhorando e as oportunidades foram surgindo. Já adolescente, meus pais deixavam eu sair com a minha irmã mais velha, Cícera, que já estava para se casar, então foi assim que começaram as paqueras.” Seguindo os passos de sua irmã, Vilma, que já estava trabalhando na área da saúde, como auxiliar de enfermagem, começou o curso oferecido na época pelo município. Conta que era difícil entrar porque precisava ter alguns conhecimentos que a escola precária na qual estudou nem chegou a abordar. Aproximadamente dez anos após se formar começou o curso de auxiliar de enfermagem. “O curso me fez ter a vontade de ajudar as pessoas mais simples assim como eu, ele foi o ponto inicial para mudar de vida e ter uma profissão. Assim que conclui o curso, já trabalhava no hospital Santa Casa de Penápolis e comecei a conhecer várias pessoas da área e eu consigo me situar desde a faxineira até o melhor médico que estiver no plantão.” Durante esse tempo engravidou do seu primeiro filho, Bruno. Batalhou para cuidar e oferecer o melhor para ele. Contou com a ajuda de sua mãe, Sebastiana para

conseguir trabalhar e cria-lo. Em 1994 nasceu seu segundo filho, Rafael e em 1998, tem seu terceiro filho Marcelo. “Sempre fui independe, nesse período meu pai veio falecer em 1994, meus irmãos já tinham se casado então eu precisei trabalhar mais ainda. Me tornei o “chefe de casa”, fazia todos os plantões possíveis e tinha dois empregos, nunca deixei faltar nada para os meus filhos e para minha mãe”, conta Maria. Foi a primeira de sua família juntou com a sua irmã, Vilma, a fazer um curso superior, e teve essa oportunidade graças ao programa estudantil FIES (Fundo de Financiamento Estudantil). “Política é uma coisa de gente grande, mas não tenho como ir contra a quem oferece oportunidade para as pessoas. Eu jamais pensei em sentar numa sala de aula de universidade, por todos os fatores que a vida me colocou. Entretanto, com esse programa foi o início de uma grande transição na minha vida! Foram os quatro anos mais corrido e noites mal dormidas, mas eu sabia que iria valer a pena cada sono. A formatura foi incrível”, comenta. Hoje é concursada em sua área há quase nove anos. Ama o que faz e ainda tem aquele mesmo sentimento de quando começou, de ajudar as pessoas. É realizada. Sua maior diversão hoje é pescar, e curtir seus netos, ama passar o tempo com eles.

Quando mudamos para a cidade, as coisas foram melhorando e as oportunidades foram surgindo

Publicado em 1967, “Cem anos de solidão, é possivelmente o mais conhecido dos títulos do latino-americano Gabriel García Márquez. Esse livro rendeu ao seu escritor o Prêmio Nobel de Literatura em 1982 por ser considerada a segunda obra mais importante de toda a literatura espanhola. Com uma tiragem inicial de 8 mil exemplares, foram vendidos mais de 300 milhões de livros traduzidos em 35 idiomas no mundo todo desde que foi lançado. Em “Cem anos de solidão”, Gabriel García Márquez conta a história da família Buendía. José Arcádio Buendía casou-se com Úrsula Iguarán, sua prima. Mas como todo o povo de interior tem suas histórias, eles diziam que o casamento de pessoas da mesma família nasceriam aberrações. Devido a esses e outros motivos, o casal resolveu ir embora de onde moravam e criaram um novo povoado chamado Macondo. Eles tiveram quatro filhos, José Arcádio, Aureliano Buendía, Amaranta e a filha adotada Rebeca. O livro acompanha a família Buendía em Macondo por cerca de cem anos, no qual o vilarejo passa por diversos momentos bons e ruins. “Li este livro há uns quinze anos. Lembro-me de que na época considerei uns dos melhores livros que li na vida. Narrativa envolvente, emocionante. Foi ele que me iniciou na leitura da obra de Gabriel García Márquez”, comenta Maira Mariano, professora da língua

portuguesa. Gabriel García Márquez escreveu um livro praticamente baseado no irreal e com histórias bem livres, tendo personagens que sobem no céu e conversam com fantasmas, mas também criou personagens que vivem mais de cem anos e isso era uma normalidade para a comunidade de Macondo. “Indiquei o livro para vários amigos, foi uma febre entre os conhecidos. Era uma loucura acompanhar a narrativa com tantos nomes parecidos, mas ao mesmo tempo instigante. Não me lembro da narrativa em detalhes, mas não me esqueço da força de Úrsula, a matriarca da família”, conta Maira. No livro, várias gerações passam no decorrer do tempo, pessoas vivendo e morrendo todos os dias, e isso faz despertar a compaixão. Repleto de elementos que prendem a atenção de quem lê, a história é contada de uma forma que impressiona. Extremamente cativante, tem uma narrativa bastante harmoniosa e fluida. O livro também pode ser considerado como uma autêntica enciclopédia da imaginação.

expediente Jornal laboratório do 40 ano de Jornalismo da Universidade São Judas Reitor Ricardo Cançado Vice-reitor Fabrício Ghinato Mainieri Pró-Reitor de Graduação Luís Antônio Baffile Leoni Diretor da Faculdade de LACCE Prof. Rosário Antonio D’Agostino Coordenadora dos cursos de Comunicação Profª Jaqueline Lemos Jornalistas Responsáveis Profª Iêda Santos (MTB 31.113) Profª Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Projeto Gráfico e Supervisão Profª Iêda Santos Redação Alunos do JOR4AN-MCA 2 Impressão Folha Gráfica (11) 3224.7667

Jornal Expressão

Capa Foto: Bruna

Diniz

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ano 24 |no 7| setembro/2017

Educação financeira na era digital Economistas simplificam a linguagem econômica em canais do YouTube e ajudam jovens a lidar melhor com o dinheiro Thaynara Dalcin

Conteúdo financeiro na internet faz sucesso entre os jovens

Thaynara Dalcin | thaynara.usjt@gmail.com

Dois estagiários de uma consultoria econômica ficavam perdidos com a maioria dos termos utilizados pela equipe dentro das reuniões de trabalho, mas acreditavam que essa dificuldade era consequência da falta de experiência. O tempo passou e eles aprenderam que esses jargões significavam coisas muito mais simples do que imaginavam e que poderiam (e deveriam) ser transformados numa linguagem acessível, dentro e fora do mercado de trabalho. A partir dessa história, César Esperandio e Étore Sanchez criaram o canal Econoweek, que após algum tempo passou a contar com a presença da economista e jornalista, Yolanda Fordelone. Com a proposta de fazer da economia algo simples e divertido, eles utilizam o bom humor para realizar a tradução das

principais notícias econômicas do mundo, além de dar dicas de investimentos e finanças. O canal conta com 10 mil inscritos e mais de 3 mil curtidas no Facebook. César explica a importância de simplificar linguagens técnicas. “Várias outras áreas, como o Direito, por exemplo, têm exatamente a mesma característica e achamos que isso dificulta a participação de todos em discussões muito importantes no dia a dia. Desde a negociação do seu ajuste salarial uma vez por ano, até posicionamento frente às propostas de emendas à constituição, como a reforma trabalhista, da previdência ou do teto dos gastos públicos, como vemos agora”. Um dos precursores da economia no YouTube foi Thiago Nigro, dono do blog O Primo Rico. Há 7 anos,

ele começou a ter contato com o mercado financeiro e percebeu que os brasileiros poderiam investir de forma mais inteligente, com maior rentabilidade, assim, foi atrás de certificações e teve contato com mais de mil investidores de sucesso. Criou o blog e em sequência o canal, que conta com mais de 180 mil inscritos e 5,3 milhões de visualizações. Thiago acredita nos reflexos que a transformação financeira pessoal possui na economia do país. “Em uma economia aonde as pessoas lidam melhor com o dinheiro, elas investem de forma mais produtiva, são mais empreendedoras, gastam menos dinheiro com dívidas e mais com o que realmente faz a economia girar. Além disso, eu acredito que as pessoas que possuem uma relação saudável com o dinheiro também são mais felizes”.

E todos que falam sobre economia deveriam utilizar o humor? A simplicidade? Os canais divergem de opinião. César gostaria que as grandes mídias modernizassem a linguagem para que a pauta financeira atingisse leitores de outras seções. “O que vemos são especialistas falando para especialistas, quando, na verdade, temos informações importantes que impactam sobre todos, mas que poucos conseguem entender”. Thiago, por outro lado, acredita que essas mídias possuem um público fiel e devem manter sua fórmula, mas que podem apostar, também, no mundo digital, “Não acho que eles deveriam mudar a linguagem, mas, sim, investir em outras mídias, utilizando das redes sociais e da linguagem simples e eficaz permitida por elas”.

Combate à depressão e ao suicídio Quem disse que profissão tem gênero? Considerados tabus pela sociedade, figuram problemas de saúde pública

A realidade e o desafio de alunas contra o machismo na graduação Mayara Galdino | galdinob.mayara@gmail.com Mayara Galdino

Luanna Nery | luannasouzanery@gmail.com

A cada 40 segundos uma pessoa no mundo comete suicídio. É o que aponta um levantamento divulgado em 2014 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que coloca o Brasil como o 8º país com mais suicídios. Mas o que leva uma pessoa a tirar a própria vida? A depressão é uma das causas do suicídio, mas não a única. O Brasil é o país que possui a maior prevalência da América Latina: 11,5 milhões de brasileiros enfrentam a doença. As escolas têm um papel fundamental na conscientização, prevenção e no combate à depressão e ao suicídio. É o que explica Maria Clenia Vieira Freires, diretora na Escola Estadual de Ensino Fundamental Francisco Rufino. “Quanto mais a escola abrir espaço para tratar desses assuntos, mais oportunidades os jovens terão para dialogar e expor os seus sentimentos. Mas, infelizmente, ainda falta muita preparação e conhecimento para saber lidar com situações desse tipo”, diz a diretora. Amanda Emilene Arruda, ex-diretora e atual orientadora educacional na Escola Estadual Dom Alano Marie Du Noday, pondera que, além da falta de profissionais capacitados para atender essa demanda, outro fator que gera

problemáticas é a crise de valores, causada pela ausência das famílias na construção dos comportamentos éticos, morais, emocionais e de autoconfiança nas crianças e nos adolescentes. “Partimos do princípio de que os alunos já trazem de casa uma construção primária. No entanto, na prática, não é o que ocorre. Desse modo, a escola se vê permeada de necessidades que não podem ser deixadas de lado porque afetam diretamente no processo de ensino e aprendizagem. A depressão e o suicídio fazem parte deste conjunto de problemas sociais”, enfatiza Amanda. Normalmente, quando são detectadas características

comportamentais diferentes no aluno, a família é chamada ao diálogo e orientada a levá-lo a um profissional para diagnosticar o problema. Mas para a psicóloga Gabriela Araújo Blasi apenas essa ação não é o suficiente. “Acredito que, da mesma forma que são discutidos temas relacionados à saúde física, é também necessário que seja abordado o lado psicológico, pois a cabeça adoece assim como o corpo. A disponibilidade de um psicólogo plantonista para atender alunos e pais e outro a equipe pedagógica, assim como um acompanhamento mais próximo em sala de aula, são opções que fazem a busca por ajuda ser encarada de forma mais leve”, pontua Gabriela. Mayara Galdino

Como combater os problemas da nova geração?

Futuras engenheiras expoem machismo no youtube O machismo estrutural de nosso país é reproduzido em diversos setores da sociedade, consequentemente mulheres sofrem diariamente na luta pela conquista de seu espaço. Essa é a realidade de milhares de universitárias brasileiras que escolheram fazer a diferença e ingressar numa área vista por muitos como “masculina”, a engenharia. Débora Silva, estudante de engenharia civil no Centro Universitário UNA (MG) encontrou este obstáculo antes mesmo de começar a faculdade. ‘Acho que o machismo começa quando você responde à pergunta de alguém sobre o curso que pretende fazer. Automaticamente surge um olhar espantado, um “nossa” e depois vem per-

guntas do tipo “mas vai trabalhar em obra? ”, essa situação é humilhante’, afirma Débora. Dos alunos recebidos por ano na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), a mais concorrida para engenharia no Brasil, apenas 27% são mulheres. Essa diferença se repete em outras faculdades, refletindo no mercado de trabalho e no corpo docente das universidades. “Existe também o fato de que 99% dos professores são homens, e as mulheres inseridas nas áreas de engenharia, estão, em sua maioria, em áreas de menor reconhecimento”, comenta Gabriela Andrade, estudante de engenharia civil na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Os casos de machismo são frequentes e pouco

denunciados em algumas instituições como comenta Nathalia de Santis Castro Lima, estudante de engenharia civil na Universidade São Judas Tadeu. “Em uma aula de materiais, na sala de uma amiga, o professor associou um objeto com o utensílio doméstico de lavar arroz, afirmando que isso faria as mulheres entenderem”, expõe Nathalia. A ascensão de coletivos feministas nas instituições de ensino tem ajudado a conscientizar estudantes sobre o problema. Um vídeo publicado em abril por universitárias para a gincana Integra Poli, baseado no clipe “Survivor” da cantora Clarice Falcão, mostra alunas com expressões machistas pintadas em seus corpos. A ação teve grande repercussão atingindo 300 mil visualizações e serviu de exemplo para coletivos. “Houve um caso em que um professor foi proibido de dar aula para alunos de engenharia química, que tinha maioria de mulheres e diversos homossexuais, por fazer “piadas” sobre isso. O Coletivo Feminista Maria Curie tomou providencias e ele foi demitido. Por conta desse grupo, as coisas têm mudado bastante por aqui”, acrescenta Ana Carolina M. Bertolacini, estudante de uma universidade em São Paulo.

Técnicas para estudar ajudam alcançar metas Coach de estudos é um profissional que identifica no estudante suas dificuldades de aprendizado e ensina técnicas para melhorias Fernanda Souza | souzacarolinafernanda94@gmail.com Fernanda Souza

Estudantes apostam em ajuda personalizada Jornal Expressão

Dhaiany Canola decidiu pegar firme nos estudos para fazer a prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e também prestar concursos públicos na área de Direito. Porém, como em tantos casos ela não tinha muito dinheiro para investir e quando participou de um sorteio de um curso que realizava sessões gratuitas com um ‘personal trainer’ de estudos. Sim, ela ganhou e desde então sua rotina não é mais a mesma, hoje se dedica a estudar para alcançar suas metas. “Meus estudos estão rendendo mais, não fico procrastinando como antes. Tenho mais motivação para cumprir minhas metas diárias,

pois sei que no final do dia ou no próximo encontro com o coach ele irá perguntar se fiz tudo como deveria”, diz a estudante sobre o que mudou em sua rotina após o auxílio do profissional. Conhecido pelo termo coach (treinador em inglês) este profissional se diferencia de um professor particular, pois não ensina o conteúdo teórico para o aluno, mas identifica possíveis bloqueios que atrapalham na hora de estudar e a partir daí desenvolve técnicas que ajude o estudante a melhorar o desempenho até atingir a sua meta no dia da prova. Filipe Maciel é profissional coach e analista comportamental e alerta para o fato

de que nem todos estudantes necessitam de um treinador para estudar. “Via de regra explico na primeira sessão o que é coaching e como ajudarei com as técnicas e as tarefas para um melhor desempenho. Tudo isso através de algumas perguntas que identificarei se de fato existe a necessidade do meu auxilio enquanto coach”. Além de sessões particulares, Filipe faz parcerias com Cursos Preparatórios para concursos públicos, Exame de Ordem e o Enem e foi graças a essas parcerias que ele pode ajudar a Dahany, que hoje se dedica aos estudos em tempo integral. E não é só na técnica que esse profissional dos estu-

dos ajuda. A parte motivacional é trabalhada por ele, dando motivação e cobrando rendimento do aluno. Uma espécie de fiscalização que não deixa o estudante se sabotar na hora de fazer suas tarefas. Nas redes sociais é cada vez mais comum perfis de concursandos que dividem suas experiências de terem um treinador para estudar e descrevem a rotina de estudos, suas dificuldades e abdicações para alcançarem a aprovação tão desejada. A estudante Dahany se inspirou e hoje também tem um perfil público no Instagram, o concursanda novata, para contar suas experiências de e ajudar quem precisa.


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Cerveja

Somos cervejeiros! A bebida número um nas mesas dos botecos brasileiros

Paola Munhoz

Jéssica Souza | js.souuza@gmail.com

Quem nunca pensou nela depois de um dia cansativo de trabalho ou em sábado de sol? A cerveja é a bebida mais consumida pelos brasileiros. Segundo a Innovare Pesquisa, a média dos brasileiros é de 62 litros por pessoa ao ano. O Brasil está entre os três maiores produtores de cerveja do mundo e ocupa o 17° lugar dos países que mais bebem cerveja. Mundialmente a mistura de malte, lúpulo e água domina o terceiro lugar no ranking das bebidas mais consumidas, perdendo apenas para a água e o chá. Os registros mais antigos sobre a criação da cerveja correspondem há 6 mil anos. A descoberta da bebida é atribuída aos Sumérios por habitarem em uma região com abundância de cereais. Este povo vivia na região da Mesopotâmia, na civilização

antiga. O processo de fermentação foi descoberto por um acaso: os padeiros que tinham livre acesso aos grãos e leveduras começaram a produzir o líquido em pequena escala. “Foram os romanos que divulgaram a cerveja para o resto do mundo. Se todos bebemos cerveja hoje, temos que agradecer a eles. O império fez questão de levar a cerveja para todo o território que ele conquistava, e foi aí que a bebida definitivamente ganhou popularidade e o nome que tem hoje”, comenta Cláudia Francisco, historiadora. A cevada era deixada de molho até germinar, depois era moída e com ela eram feitos pequenos bolos. Depois de prontos, a levedura era adicionada. A mistura era levada ao forno e, quando estavam parcialmente assados

e desfeitos, os bolos eram postos em jarras com água e deixados para fermentar. Na Suméria, 40% da produção de cereais era direcionada às casas de cerveja, chefiadas por mulheres. Mais tarde, os egípcios aprenderam a arte de fabricar cerveja e carregaram a tradição no milênio seguinte, incluindo a bebida à sua dieta diária. A cerveja produzida naquela época era bem diferente da de hoje em dia: era escura, forte e muitas vezes substituía a água. Mas a base do produto, a cevada fermentada, era a mesma. Na Idade Média, a Igreja Católica assumiu a fabricação que, até então, era uma atividade familiar. O monopólio da fabricação da cerveja até por volta do século XI continuou com os conventos. No Brasil, a cerveja chegou em 1808, com a mudan-

ça da família real portuguesa para o país. Apesar de ser a bebida favorita do rei, os brasileiros demoraram para apreciá-la. Até 1830 a bebida mais popular era a cachaça. Só em 1900 a cerveja brasileira nasceu. O estado do Rio de Janeiro, mais precisamente em Petrópolis, era onde concentrava-se a fabricação. A cidade hospedava duas fábricas que tinham uma produção média de três mil garrafas por mês. “Como as pessoas que moravam aqui na época do império não tinham o costume de beber cerveja, a produção era mínima e extremamente rústica. Tudo era feio artesanalmente pelas famílias de imigrantes que moravam no Rio para consumo próprio”, explica Renata Moraes, engenheira química e sommelier de cerveja artesanal.

Brasileiro está entre os que mais bebem cerveja no mundo

Consumo: no Brasil e em outros países do mundo

Bebida popular é consumida em maior quantidade na Europa

Brasil é o único país da America Latina dentre os que mais consomem cerveja

Guilherme Sanches | guilherme_sanches2009@hotmail.com

No Brasil, ninguém tem dúvidas. A cerveja é uma das bebidas mais consumidas do país. Mas em comparação com o resto do mundo, em qual posição o nosso país ficaria? Esse levantamento é para você, amante da bebida, programar sua próxima viagem para o país mais consumidor. Em pesquisa mais recente, realizada em julho de 2016 pela empresa alemã Bath-hass Group, vemos um resultado surpreendente. O Brasil alcança somente a 17ª colocação entre os maiores consumidores. Os brasileiros consomem em média 62 litros de cerveja por ano. De acordo com o sommelier Anderson Cesari, especialista em cervejas, esse número é normal. “Não é surpresa o Brasil ser o 17º colocado. Não existe essa relação de produção e consumo. Esse número vem aumentando. A tendência do

Faça você mesmo! Aline Oliveira | aline_28oliveira@hotmail.com Arquivo pessoal

Na Escola Superior Cerveja e Malte, busca por cursos aumenta gradativamente a cada ano Você já se imaginou fazendo a sua cerveja em casa? Não? Pois saiba que isso é possível e que há especialização para essa arte. Alguns bares e escolas, especializadas no ramo, disponibilizam diversos cursos sobre cerveja artesanal, incluindo a produção do líquido. Carlo Giovanni Lapolli, que faz cerveja em casa há dez anos, foi convidado em 2014 a dar aulas no curso

de Cervejeiro Artesanal na Escola Cerveja e Malte, em Blumenau – SC. Cervejas artesanais deixaram de ser uma moda passageira para virar uma espécie de hobby, existem diversas combinações de aromas e sabores da bebida. “Tenho notado que atualmente a procura pelo conhecimento sobre cerveja tem se expandido rapidamente, desde a degustação, harmonização e produção”, comenta Carlo.

Esse aumento de público pode ser justificado pelo lema dos cervejeiros “beba menos, mas beba melhor”, uma análise de custo-benefício que o consumidor tem percebido. O brasileiro quer beber algo de boa qualidade e bem feito. As opções de curso são variadas envolvendo a produção, aromatização e degustação. As aulas dos cursos misturam teoria e prática, sem deixar de contar a história da cerveja tradicional. A Escola Cerveja e Malte, em que Lapolli dá aulas, oferece 50 opções de cursos nas áreas de sommelieria, gestão de empreendimentos cervejeiros e produção industrial e caseira. Desde 2014, passaram cerca de 4.500 alunos nos cursos. O público que procura as aulas não tem uma característica definida, principalmente com a expansão do consumo de cerveja artesanal. “É muito variado, não tem mais o nicho de ser cervejeiro, são pessoas de várias idades, porque a produção é um hobby que acaba agregando não só ao aluno,

mas também aos amigos, pois se torna divertido compartilhar o que aprendeu”, diz o professor. Nos últimos anos, além de ter aumentado o público interessado em cerveja artesanal (cerca de 36% entre 2010 a 2014), a busca pelo assunto invadiu áreas do Brasil que antes não tinham muito interesse e tradição na produção de cerveja artesanal (que é muito forte do meio para baixo do país). “Percebo uma procura muito maior de outras regiões, antes a gente crescia apenas no sul e sudeste, agora tem uma procura maior do norte e nordeste, apresentado um conhecimento exponencial, querendo estudar seja por hobby ou para mudar de profissão”, relata Lapolli.

Escola Superior Cerveja e Malte Endereço: Rua Elsbeth Feddersen, 72 - Blumenau Telefone: (47) 3380-5200 www.cervejaemalte.com.br

país é aumentar, sim, tudo conspira a favor. Brasileiro tem ganhado um pouco melhor, e isso influencia muito. A perspectiva é de crescimento. O mercado da cerveja sempre fica no azul, cresce ano após ano.” Então se você acha que nós bebemos muita cerveja, é porque ainda não viu os números do consumo da bebida em alguns países da Europa. O país mais consumidor é a República Tcheca, que alcança impressionante média anual: 143 litros por habitante. No pódio, temos a Áustria e Alemanha. Nesses países, a média anual por pessoa chega a 108 e 107 litros, respectivamente. Completando o top 5, a Irlanda aparece em quarto e, como o país é cheio de bares e pubs, o consumo dos irlandeses é de 94 litros por ano. Por fim aparece a Polônia, com média anual de 89 litros por habitante.

Os outros países que completam a lista são: Romênia (89 litros por pessoa); Bélgica (81 litros); Austrália (80 litros); Espanha (78 litros) e Reino Unido (77 litros). Em relação à produção da bebida, porém, o cenário muda. O Brasil é o terceiro maior produtor, perdendo apenas para Estados Unidos e China. Em quarto e quinto lugares estão a Rússia e a Alemanha. “Dos anos 1990 pra cá, os Estados Unidos tem transformado o mercado da cerveja. Lá eles tem muita estrutura, muito poder aquisitivo e reinventaram a cerveja. É como se fosse a cereja do bolo. Eles pegaram o que já era bom e transformaram em algo fantástico. Se eu pudesse escolher uma cerveja pra beber hoje, seria a da escola americana”, finaliza o sommelier Cesari.

Advogado fala sobre proteção às crianças e adolescentes

Álcool e saúde juntos é possível?

Núbia Lima | nubialima52@gmail.com

beatriz_fernandessimonelli@ hotmail.com

Expressão: Sobre a proibição da venda alcóolica aos menores, existe uma multa ou pena para tal violação? Valdemirson Tonin: Sim. A partir da lei 14.546, de 19 de outubro 2011, tornou-se proibido vender, ofertar, fornecer, entregar e permitir o consumo de bebidas alcoólicas a menores de idade. Sendo a multa de 3 a 10 mil reais, a depender da infração, podendo acarretar de 2 a 4 anos de prisão. Expressão: Como os comércios podem se calçar legalmente para que não violem as leis contra o consumo entre os jovens? Valdemirson Tonin: As principais informações ao proprietário podem ser encontradas no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), além de que estes estabelecimentos que forneçam bebidas alcoólicas devem fazer a contra campanha.

Jornal Expressão

Beatriz Simonelli|

Segundo a Fundação Giovanni Paolo II, na Itália, o consumo moderado pode reduzir em 31% as chances de se ter uma doença cardíaca.

De acordo com estudos da Universidade de Loyola, EUA, pessoas que consomem cerveja têm menores chances de desenvolver Alzheimer.


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Cerveja

Além dos bares e botecos

Paraíso em São Paulo

Ary Cruz | cruz.ary@hotmail.com

Eles estão mais dispostos a aprender sobre cerveja do que encher a cara

O mundo da cerveja cresce a cada ano com novos sabores para os que amam uma gelada

Para alguns, a cerveja é coisa séria. No ano passado, a Oktoberfest reuniu um público de 534.806 pessoas em apenas quinze dias de evento, levando a um consumo de 663.247 litros de chope das mais variadas espécies e gostos. Cervejeiros de carteirinha, eles fazem viagens para degustar os mais diversos

tipos de cerveja. É o prazer cotidiano se transformando em reuniões históricas para os que amam “tomar uma”. O próximo evento que os paulistanos poderão participar é o Encontro Cerveja Artesanal, já em sua 6ª edição, que traz anualmente um público de 4 mil visitantes, o que comprova seu sucesso. Neste ano, Arquivo Pessoal

Espaço do evento: conforto para degustar as cervejas

o ritual se repete, e será possível desbravar as novas receitas dos mestres cervejeiros. Uma explosão de sabores: doces, amargas, cítricas. A promessa é que haverá mais de 200 rótulos e o único dinheiro necessário é o do ingresso de acesso, ou seja, é o momento para quem deseja passar por novas experiências. “Já comprei o meu ingresso pelo site. Fiquei sabendo deste evento através da internet, e, se falou em cerveja artesanal, pode me incluir também. Não somente como uma recreação, mas também porque aprender sobre cervejas desse tipo é muito interessante”, afirma Eduardo Machado, professor de história. A degustação de cerveja é open, o que significa cerveja livre para todos os presentes. O evento buscou trazer mais atrações para esta edição: palestras, shows, rodadas de negócio antes do início do evento para os profissionais do setor e algumas surpresas. Haverá também uma mini-feira voltada aos pequenos produtores e para os que desejam produzir sua própria cerveja.

Maturação e refinamento são indispensáveis para a qualidade Bruna Diniz | brunadeboni@hotmail.com Arquivo Pessoal

Barril onde ocorre a maturação da cerveja Pode ser no domingo assistindo a um jogo de futebol, no churrasco com a família ou até mesmo no happy hour com os amigos, a cerveja está frequentemente presente nos encontros e é a queridinha dos brasileiros. Um tipo de bebida que vem ganhando espaço são as ditas “cervejas gourmet”. O consumo se baseia em um novo hábito, em que se bebe menos, mas com maior qualidade. Mas será que todos que a apreciam sabem como são produzidas? Com essa alta das cervejas artesanais e especiais, a maturação, um dos métodos que envolve a fabricação da

cerveja, ficou mais conhecida. Esse processo serve para o amadurecimento da bebida. Com ele, é possível obter uma bebida com mais sabor, que arredonda os aromas e chega na tonalidade desejada. Antônio Palmieri, 36 anos, advogado e conhecedor do processo de maturação, pretende abrir a própria fábrica de cerveja ainda este ano e explica sobre. “Isso é feito após a fermentação, e ela tem que repousar numa temperatura inferior ao do primeiro passo, ou seja, 10°, 20°. Cada uma possui uma temperatura diferente, porém, sempre abaixo do processo de fer-

mentação. Assim, o fermento vai trabalhar absorvendo os componentes, e vai eliminar alguns compostos, deixando-a melhor”, conta. Outra técnica muito apreciada na produção artesanal é o dry hopping, que consiste basicamente em adicionar o lúpulo na fabricação de cerveja, nas etapas após o resfriamento, durante a fermentação ou maturação da bebida. Assim, os óleos essenciais, que são bastante voláteis e perdem suas características rapidamente, com as adições de lúpulo no final da fervura tornam-se uma excelente opção para aproveitar o melhor deles, extraindo o máximo de aroma da cerveja. “Uma comparação que pode ser feita com este processo é aquele pão que o padeiro faz, deixa crescer, descansar, para ficar maior e melhor, ou quando um cozinheiro faz uma feijoada, coloca todos os ingredientes e deixa na água para poder ficar limpa. A maturação, além de atingir um nível de claridade maior, também deixa a cerveja no ponto”, finaliza Diorande Contro Júnior, dono da empresa de chope Soft Beer.

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Ronaldo Rossi, dono e fundador da Cervejoteca Henrique Santos | henrique_santos00@hotmail.com

Stout, Bock, Ice. São apenas algumas das tantas cervejas. A fachada é muro amarelo com o portão branco. Dentro é bem aconchegante. Algumas mesas de madeira para que o pessoal se sinta mais à vontade. Cerca de 750 rótulos nacionais e importados colorem as prateleiras. “Eu sempre falo que a Cervejoteca é o lugar mais legal do mundo. É onde você vai para comprar, conversar, dar risadas e não necessariamente para beber”, explica o dono do estabelecimento, Ronaldo Rossi, chef formado em Gastronomia e sommelier em cerveja. A barba acompanha um sorriso orgulhoso ao falar da história do comércio. Já trabalhou 22 anos na cozinha, nove deles só com cerveja. A Cervejoteca tem o maior acervo de cervejas da cidade de São Paulo e um dos maiores do Brasil. Começou há cinco

“O santo graal”: cerveja é paixão entre os brasileiros existe com o produto”, avalia Diorande Contro Neto, representante comercial da marca de chope Soft Beer. “Acredito que as pessoas bebem 50% por causa das propagandas, que costumam ser

Jornal Expressão

bem instigantes, e 50% também pelo produto em si, afinal, se o produto não fosse bom, pouco adiantaria a propaganda”, analisa Diorande. O consumo pode estar no mesmo pé de outros produtos

Endereço da Cervejoteca: Rua Serra de Bragança, 1552. Horário de funcionamento: Aberto todos os dias, das 11h às 21h (com exceção aos domingos, das 11h às 14h).

A desconstrução do tabu da mulher enquanto consumidora e produtora de cerveja Adriene Colim | colimadriene@gmail.com

Você provavelmente já ouviu ou já até proferiu frases como “que feio mulher beber!”, “uma moça tão bonita bebendo...”, e por aí vai. São só algumas da extensa lista de comentários machistas que você faz, mas não deveria de qualquer site desconstruído contemporâneo. Trata-se de uma repressão sociocultural causada pelo machismo, em que a mulher não deve beber, mantendo a postura de ‘certinha’ e delicada – enquanto os homens brindam mais um golaço num bar

Gabriel Proiete | gabrielproiete@hotmail.com Gabriel Proiete

Pode ser quente, fria, copo de vidro ou plástico. Não importa como você deseja a sua cerveja. As pessoas encontram no rito de amar a cerveja a sua irmandade. O espaço é o mero motivo da justificativa. “Como temos poucas mesas, sempre haverá alguém convidando você para sentar e dividir, a fim de socializar – uma questão que tem muito a ver com a cerveja. Sempre quis que mais pessoas de fato pudessem ter um conhecimento cervejeiro”, conclui Rossi. Vale a pena visitar. Só não vai virar o nariz quando beber.

Deixe-a beber em paz!

Vai uma gelada aí?

Muitos dizem que, em diversas oportunidades, o papo em um bar não flui direito sem um copo de cerveja como acompanhante. Muitas vezes, a bebida alcoólica vem atrelada a outros tipos de cultura muito difundidas no Brasil, como a do futebol e a dos churrascos em família. O consumo ocorre nos mais diversos locais e espaços: bares, botecos, restaurantes, baladas, comemorações em geral e até em oficinas artesanais, próprias para quem aprecia e conhece o produto de forma mais aprofundada. “Vivemos em um país tropical, onde é geralmente quente. A cerveja aqui, com o forte investimento das propagandas, com o sabor já conhecido e com a refrescância, tomou o paladar do brasileiro, fora o custo-benefício que

anos como uma loja pequena e, hoje, conta até com sommeliers especializados e marcas da República Tcheca, Alemanha, Irlanda, Polônia, entre outras. O espaço também oferece cursos na área para quem aspira à fabricação de cerveja artesanal. A movimentação aumenta conforme anoitece. ”Sempre venho com os meus amigos aqui. Não só pelo fato de gostarmos de beber cerveja, mas porque valorizamos um momento para aprender sobre ela. Estou estudando para me tornar um mestre cervejeiro”, conta Carlos Teixeira, profissional de Tecnologia da Informação.

muito tradicionais no País. “Hoje vejo a cerveja no mesmo patamar que o café em relação a consumo de produtos alimentícios por pessoas adultas, pelo menos de forma regular. Vem sendo dominante na área”, continua Diorande. “A cerveja também está muito ligada ao sentido de ‘relaxamento’ das pessoas. Após uma semana de estresse no trabalho, de conflitos familiares e outros problemas, a cerveja vem como símbolo de uma espécie de libertação, uma forma de descarregar as coisas ruins, quase sempre junta de momentos específicos, como os happy hours. E, nesses meios, quem não bebe normalmente tem a fama de que ‘não se diverte’”, explica o escritor, publicitário e especialista em cervejas, Filipe Luiz.

carregado de ‘geladas’ e garçonetes a seus dispor. No entanto, pesquisa feita pelo Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) revelou que o consumo de bebidas alcoólicas por mulheres aumentou 8,4% de 2011 a 2016. “A cerveja é uma grande evolução para mim no sentido de que as mulheres podem colocar suas vontades na cara da sociedade e quebrar cada vez mais esse paradigma.”, diz Marina Fonseca, estudante de arquitetura. Não é só no consumo de cerveja que as mulheres ainda são barradas. A repressão está presente até na produção da bebida. Fernanda Ueno, mestra cervejeira da Cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto, estudou Engenharia de

Alimentos na UFSC e começou a se interessar pela produção de cerveja nessa época. Depois de formada, fez curso de mestra cervejeira na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e hoje também é uma das donas da Japas, cervejaria encabeçada só por mulheres. “A maioria das pessoas ainda vê o estereótipo do cervejeiro barbudo e tatuado. Chegam perguntando quem é o cervejeiro, e quando falamos que é alguma de nós ou que todas somos, sempre rola um ‘nossa, mas você? Tão pequenininha e magrinha! Mas o bom é que no final, muita gente consegue enxergar o nosso trabalho e ver que somos tão ou mais capazes do que um homem para a mesma função”, relata. Rogério Volgarine

Fernanda Ueno é mestra cervejeira da Colorado


ano 24 |no 7| setembro/2017

Wattpad traz visibilidade a escritores

Aplicativo permite que os usuários deem o seu feedback por meio de comentários, mensagens e votos em cada capítulo dos livros Nathaly Pedrosa |souza.nathaly@yahoo.com.br Nathaly Pedrosa

Escreve, lê, rabisca, joga fora. Esse tem sido o ritual de escritores ao longo de séculos, tendo apenas a si como guias de seu processo criativo. Porém, essa realidade está mudando com a era da tecnologia. O primeiro passo foi a troca do manuscrito em papel para o formato digital e agora a novidade é deixar que os leitores participem do processo de criação dos livros. O Wattpad é uma plataforma online que tem permitido esse tipo de inteiração entre leitores e autores. Segundo dados da própria empresa, são cerca de 45 milhões de usuários utilizando o app mensalmente, no mundo, com suporte para 50 línguas. Quem cria pode publicar simultaneamente os capítulos do seu livro, artigo ou poema e ter por meio de comentários o feedback de quem lê. Isso também torna a tarefa de revisar o texto mais fácil, pois os usuários não só elogiam, mas apontam

os erros também. É por esse motivo que tem sido considerado uma grande comunidade literária. “Ter uma resposta imediata da sua arte, saber o olhar das pessoas sobre o enredo e sobre os personagens é muito bom”, comenta Joelma Santos, estudante de Língua Francesa e Literatura, que utiliza o Wattpad para escrever há 2 anos. Para novos autores é ainda uma forma de divulgação de seu trabalho, quando mais votos o seu livro tiver, mais em destaque ele vai estar e maior a possiblidade de editoras se interessarem por ele. “Já recebi duas propostas de editoras, uma delas foi a Rocco, me chamaram no privado no Wattpad e disseram que já estavam de olho no meu livro fazia algum tempo”, diz Brenda Thalia Rodrigues, estudante de Fonoaudiologia, que escreve a quatro anos no aplicativo. As editoras colocam olheiros para leras obras que têm melhor re-

torno do público e dentro o próprio Wattpad existem concursos literários para descobrir novos talentos. Há ainda quem prefira continuar no formato digital e disponibilizar seus títulos em lojas virtuais. “A vantagem de publicar em formato digital, em lojas como a Amazon, é que podemos escolher a nossa porcentagem de lucro e não gastamos com papel. O trabalho de divulgação é o mesmo e, no caso de não dar certo, o investimento é menor. Apenas revisão, diagramação e capa”, comenta Beatriz Castro, formada em Letras e escritora. Alguns exemplos de livros que nasceram no Wattpad e foram publicados em editoras físicas ou digitais são: Garotos Perdidos de Lilian Carmine, After de Anna Todd, O safado 105 de Mila Wander, Delicioso Desconhecido de Letícia Bastos Mendes e Meu Chefe Indomável de Janny Paganotti.

IOS e Android disputam consumidores Computadores feitos Sistemas Operacionais apresentam diferentes características para conquistar usuários Thais Martins | thaismartinsr@hotmail.com

Android e iOS são os dois sistemas operacionais que mais fazem sucesso no mercado nacional e internacional. Segundo a Gartner, consultoria americana especializada no mercado de tecnologia, em uma pesquisa feita entre abril e junho de 2015, foram vendidos no mundo cerca de 330 milhões de smartphones, dentre eles 96,8% foram Android ou iOS, sobrando apenas 2,8% para Windows e BlackBerry. Ainda segundo a pesquisa, a marca Samsung, que possui o sistema operacional Android, é líder de vendas entre as fabricantes para o consumidor, com 72 milhões de aparelhos vendidos, já a Apple vendeu 48 milhões de celulares no período dessa pesquisa. “A característica principal que vem a cabeça quando se lembra do iOS é a questão do preço, diferença marcante com relação ao Android, que muitas vezes tem o valor mais em conta, mas do ponto de vista operacional, ambos se equiparam sem muitas diferenças, vai mais do gosto da pessoa, por conta da estética e da facilidade de mexer em cada sistema”, conta Leonardo Mares, de 18 anos, estudante de tecnologia da informação. O Android é um sistema operacional móvel, atualmente desenvolvido pelo Google e o iOS, também

um sistema operacional móvel, é da Apple. As opiniões sobre qual é o mais bem colocado são sempre divididas, no entanto é impossível definir qual sistema é o melhor, já que cada um possui suas particularidades, vantagens e desvantagens. Com relação às diferenças, é possível listar algumas. Por serem sempre do mesmo fabricante, os produtos da Apple possuem a mesma interface, o que facilita na hora da troca, em contrapartida, por possuir uma enorme variedade de fabricantes, os smartphones com Android possuem sempre uma interface personalizada e que da identidade ao dispositivo.

“Eu já tive muitos celulares com Android e também com iOS, atualmente tenho os dois, um utilizo para trabalho e outro para uso pessoal. Eu vivo alterando os sistemas, porque gosto muito dos dois, por exemplo o iOS é muito fácil de mexer e o Android possui muitas variedades de aplicativo”, explica Adriana de Souza, usuária do sistema operacional iOS e Android. A briga entre os dois sistemas é sempre constante por conta das inovações frequentes, dos lançamentos de smartphones e das atualizações dos sistemas, é importante considerar que um não é melhor do que o outro, tudo depende da vontade do usuário e de suas necessidades. Thais Martins

Aparelhos com diferentes sistemas operacionais: Android e IOS

Aplicativo de transporte também é delivery Julia Lopes | julialopes.sp@hotmail.com

O UberEats é uma extensão do aplicativo de transporte Uber, que presta serviços entregando comida para os clientes de mais de 100 restaurantes que participam do programa. Ele começou a funcionar na cidade de São Paulo em dezembro de 2016. O aplicativo é autônomo e a comida é entregue por um motorista tradicional da Uber ou por motoboys cadastrados na plataforma apenas para essa especifica função. Está disponível na Google Play e Apple Store para baixar em qualquer smartphone. Quando o cliente faz o pedido é feita uma soma entre o preço da refeição e da corrida e o pagamento é feito através do app e o cliente ainda consegue acompanhar onde está o seu pedido. “Já trabalhava para o Uber, depois só expandi as minhas funções na empresa”, comenta Elias Nando, motorista da empresa. Ele acrescenta que acha inteligente a empresa expandir os horizontes criando novidades. De acordo com o site da empresa, os principais restaurantes que fazem essa parceria com o aplicativo faturam mais de $6.400 por mês, o que significa $75.000 por ano.

Julia Lopes

O aplicativo UberEats está disponível em iOS e Android Alguns estabelecimentos alimentícios que já trabalham com a empresa de transporte em São Paulo são: Croassonho, Cosí, Bobs, Subway, Pizzaria Barretos, La Peruana, Meats, Chinmi, entre outros. O diferencial do UberEats é que a empresa só faz o serviço delivery para o restaurante, como

um serviço terceirizado. Já nos outros aplicativos de entrega de refeição o app só serve para fazer o pedido, o entregador é contratado do restaurante. “Pedi uma refeição pelo aplicativo pela primeira vez há um mês, e foi muito rápido, a comida ainda estava quente, fiquei impressionada”, conta Carolina Prado Rossato, usuária do UberEats. Ela agora recomenda para todos os amigos e que as irmãs dela já o aderiram nos seus celulares. No Uber tradicional o motorista recebe o chamado do passageiro, já no Eats é a empresa alimentícia que o designa na hora de levar a comida. O cliente pode conferir o andamento do pedido através do aplicativo em tempo real. O tempo de entrega é uma soma entre o preparo do prato e a corrida até o local de entrega. O horário de serviço é determinado pelo restaurante. No app é possível conferir todo o cardápio dos parceiros do programa. E caso ainda não saiba o que pedir é só procurar na lista de alimentos, como: Pizza, comida brasileira, chinesa, japonesa, hambúrguer, torta, entre outros. Se ainda não experimentou, tente e comprove como é fácil.

para

vestir

Renata Tomaz | renatatomaz18@hotmail.com

As roupas servem como proteção para que não fiquemos expostos às variações climáticas ao nosso redor. Também têm finalidade estética, social, comunicacional e até ritualística. Se por um lado a moda está seguindo um caminho desenfreado de roupas fast-fashion, por outro ela funde-se à ciência para criar tecnologias “vestíveis”. Existe um movimento na indústria eletrônica e da computação que está desenvolvendo equipamentos que poderão ser vestidos. Roupas computadorizadas será a próxima etapa para tornar portáteis computadores e equipamentos sem ter de prender dispositivos eletrônicos em nossos corpos ou encher os bolsos de aparelhos tecnológicos. “A Google possui um projeto, Jacquard, que pretende inovar ainda mais a área de roupas inteligentes. Para que o efeito sensitivo possa existir em roupas, usam-se cabos condutores de energia embaralhados no tecido, de forma compacta para manter as propriedades do material, como a cor e a textura. Assim, o elemento resultante da combinação é capaz de funcionar como receptor, identificando quando o usuário está pressionando em certa área da roupa”, exemplifica o estudante de sistemas da informação Thiago Cavalari. As roupas inteligentes, à base de nanotecnologia, podem ter várias características: conduzir eletricidade, facilitar o equilíbrio térmico e manter o corpo seco, bloquear raios UVA e UVB, fios bacteriostáticos podem deter o crescimento das bactérias, tecido tratados com nanotecnologia podem repelir líquidos, tornando-se impermeáveis e à prova de manchas; roupas especiais podem detectar a presença de armas químicas e fechar os poros (do tecido) de maneira automática. “A D-Shirt, por exemplo, é uma camisa de alta tecnologia que possui sensores que detectam o movimento, frequência cardíaca, velocidade, padrões respiratórios e localização GPS. Com essa ca-

Arquivo Pessoal

Fachada Wearable do ano de 2015 miseta é possível realizar corridas sem a necessidade de usar qualquer tipo de aparelho extra, seja um smartphone, uma pulseira de captação de dados ou mesmo um relógio inteligente. Basta vestir a camisa e praticar esportes para que os dados comecem as ser analisados”, conta o engenheiro da computação Jairo Cantuária. O estilista Ricardo O’ Nascimento possui um estúdio criativo focado em inovação no campo da computação como vestimenta, e para ele a moda e a tecnologia sempre andaram lado a lado. “Imagine a revolução que foi a invenção do zíper, ou do poliéster. Quando pensamos em tecnologia, imaginamos primeiro aparatos eletrônicos, mas tecnologia é uma ferramenta. A ideia de colocar eletrônicos em roupas não é nova, existe desde muito tempo. É definitivamente uma peça de wearables technology. Eu não vejo a ideia de unir moda e tecnologia como uma coisa inovadora, a diferença é que agora temos tecnologia para fazer as coisas virarem inteligentes e o mesmo acontece com roupas”, comenta Ricardo. Arquivo Pessoal

Julia Lopes

Vestuário captura as cores e as formas do ambiente, feito por O’Nascimento Jornal Expressão


ano 24 |no 7| setembro/2017

Gleba do Pêssego faz convite à reflexão Realizadores audiovisuais representam inquietações de minorias sociais e de pessoas fora dos padrões impostos Carol Souza | ccarolinesouza@gmail.com

Ganhadores do 9º Prêmio Criando Asas e de Melhor Filme para Reflexão, no Festival de Cinema da Diversidade Sexual, o Coletivo Gleba do Pêssego é uma fruta que deve ser saboreada com gentileza. Formado por jovens das periferias da grande São Paulo, e com alguns integrantes da comunidade LGBT, o coletivo tem por objetivo compartilhar suas inquietações perante a escassa presença das minorias, dentro e fora das telas. Suas obras tratam temas marginalizados e com densidade, sem perder a delicadeza e a forma poética. Conversamos com o integrante, Guilherme Candido. Expressão: Qual o conceito, na escolha do nome pêssego? Guilherme: O pêssego é uma fruta muito bela, aveludada e delicada, mas que possui em seu interior um

caroço pesado, grotesco e inesperado. Isso nos representa de uma maneira muito fiel, pois fazemos filmes de forma delicada e cuidadosa. Embora nossos temas sejam sempre fortes e afrontosos. Expressão: No filme Menarca vocês abordam as pressões sociais que a mulher sofre, logo após a primeira menstruação. Qual o objetivo do filme? Guilherme: Gerar abertura para esse diálogo, que não acontece usualmente entre as mulheres, de geração em geração. Um convite à reflexão sobre o quanto o machismo está inserido em nossas vidas e de como ele precisa ser discutido e quebrado, sempre que possível, para um público mais amplo. Expressão: O filme Translúcidos se passa em uma clínica, na qual a transgeneridade é tratada como

patologia. Aqui no Brasil, essa visão é persistente? Guilherme: Lutamos pela representatividade. Questões LGBT têm ocupado cada vez mais espaço, nas grandes mídias. Mas, de nada adianta, se formos representados de maneira caricata. Nós sempre existimos. Translúcidos foi feito com nossa indignação ao percebemos que a transgeneridade está presente na Classificação Internacional de Doenças (CID). Nós não somos doentes e queremos o que é nosso por direito: nossa vida. Expressão: Qualquer pessoa pode fazer parte do Coletivo? Guilherme: Atualmente o Coletivo é formado por amigos. Mas, somos bastante abertos e flexíveis, se tiver interesse, marca uma conversa com a gente. Prometemos não morder!(risos)

Gabriel Canazzi

Coletivo Gleba do Pêssego em ensaio fotográfico

Expressão: Como vocês prospectam o Coletivo daqui há dez anos? Guilherme: Temos bastante medo da situação po-

Dublar é muito mais que falar Dar vida, emoção e acessibilidade a personagens históricos e inovadores é a função do dublador

lítica atual do Brasil e para onde isso levará o audiovisual brasileiro. Porém, acreditamos na força e na potência de todxs nós, de nossas

ideias, no amor e garra que temos pelo fazer cinema. Para que jovens da periferia possam aprender, assim como nós aprendemos.

Livraria se especializa em autores periféricos

Gizela Lima

Vitor Mauricio | vitor.maauricio17@gmail.com

Um personagem de cinema, animação ou de algum jogo de videogame, tem elementos visuais importantes, porém, a voz é algo fundamental e determinante para dar vida a ele. Segundo a empresa Filme B, em 2014, 59% das salas de cinema no Brasil eram de filmes dublados, além do aumento na procura por games com narrações e interações em português. Dentro desse ambiente, o profissional de dublagem procura desenvolver um tom exato para que a figura proposta pelo diretor de roteiro se encaixe. Tudo é observado na hora da escolha, desde a idade o dublador, até a sonoridade e aspectos físicos. “Pois, quando o ator tem uma fisionomia parecida com o persona-

gem, geralmente ele terá um instrumento [voz] parecida, e costuma funcionar bem escalar por aparência”, diz Bruno Sangregório, Coordenador de Curso na Dubrasil. Assim que o diretor define qual ator utilizar no processo de roteirização das cenas, o interprete procura estudar o personagem, aquecer a voz antes de entrar no estúdio, e interpretar de forma especifica o que o texto propõe. A função é manter a ideia do original (legenda), sem perder o sentido na hora de traduzir. Para trabalhar nessa área, existe uma carreira de ator. A pessoa decide seguir quando realiza um curso anual de dublagem. “Se o profissional em questão não tiver uma especializa-

ção na área, terá maiores desafios na realização do trabalho”, disse Zodja Pereira, CEO da Dubrasil. Para a função, a pessoa procura deixar de ter uma rotina fixa, em um dia ela pode gravar em média dez personagens, além de descobrir, às vezes, na hora quem irá interpretar no estúdio. Isso faz com que o profissional

tenha de cuidar, preservar e trabalhar a todo momento suas cordas vocais. Entre os cursos necessários para desenvolver vozes, o ator precisa obter o DRT de ator, e ao iniciar o aprendizado encontrará aulas de colocação vocal, sincronismo labial, técnicas de interpretação de corpo e texto, respiração, entre outros. Dubrasil

Estúdio da escola Dubrasil

Inspiração para literatura marginal

Casa das Rosas abre portas para Slam do Corpo Poetas recitam suas obras por meio da linguagem brasileira de sinais Bruna Tosi | brunatbarros@hotmail.com

Surdos, mudos e ouvintes. Juntos, compartilhando arte. É disso que se trata o Slam do Corpo, a batalha de poesias onde jovens poetas criam um novo jeito de falar, ouvir e despertar as mais profundas emoções humanas. O projeto funciona da seguinte forma: uma dupla de poetas, sendo um ouvinte e um surdo, apresentam uma poesia que deverá ser de autoria própria. Enquanto o surdo utiliza Libras - a linguagem de sinais brasileira – para recitar

o poema, o ouvinte traduz os sinais simultaneamente. Contudo, quem não possui uma dupla, também pode participar. A equipe do Slam do corpo, composta pelo grupo Corposinalizante em parceria com o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e o Sarau do Burro, vai preparada para auxiliar os artistas, disponibilizando tradutores e intérpretes de ambas linguagens. “Eu fui ao evento com medo de não entender as poesias, mas no fim, acabei me

surpreendendo bastante. Não era preciso saber libras para entender os poemas, pois a forma como eles se expressavam eram tão boas que, na minha opinião, nem precisavam ser traduzidas para compreendermos”, afirma Vitória Oliveira, estudante. Existem somente três regras básicas para participar do projeto. A primeira, e principal, é que os poemas deverão ser de autoria própria; a segunda, demarca o tempo. Três minutos para cada apresentação, no máximo; e a Bruna Tosi

Recitação de poema no local

Jornal Expressão

última, é a que mais define o projeto: não deverão ser utilizados acompanhamentos musicais ou objetos para interpretação dos poemas, somente a voz e o corpo. “Ao utilizar o corpo e expressões faciais para recitar os poemas, senti como se eles estivessem transbordando emoções para sentirmos suas dores, tristezas, ressentimentos e paixões. Foi uma experiência incrível!”, explica Carolina Souza. Após cada apresentação, os jurados, escolhidos minutos antes da apresentação – uma mescla de surdos e ouvintes – apresentam suas notas, valendo de 0 a dez pontos. Mas, somente as notas dez são comemoradas, pois simbolizam as chances do participante ganhar um kit de livros de poesia, e o título de grande poeta da noite. Porém, no final, o que realmente importa para eles não é o título. Mas, a chance de poder se comunicar e ser ouvido por dezenas de pessoas que compartilham seus mesmos sentimentos e outras mais dispostas a compreende-los.

Gizela Lima | gizelallima@gmail.com

Caracterizada por dar a voz à população periférica essa literatura de linguagem coloquial, com gírias e palavrões traz em sua essência a promoção do esclarecimento e voz aos esquecidos pelo mercado editorial formal. Conteúdos que costumam ser ácidos e críticos como a temática do dia a dia da periferia, mostram a realidade de sofrimentos e conquistas desta parcela da população. Apesar de sua grande contribuição cultural e linguística as obras periféricas não encontravam espaço, nasce então a Livraria Suburbano Convicto especializada no assunto. O escritor Alessandro Buzo que já publicou dez livros de literatura marginal e é dono da livraria, abre o local todas às segundas-feiras na Rua 13 de Maio, para o “Sarau Suburbano”. Buzo criou o Sarau em 2004 no bairro Itaim Paulista e quando mudou para o centro no bairro do Bixiga, acabou dando outra cara para a região que apesar de ser afastada dos polos periféricos não é uma zona ocupada pela elite paulistana. O espaço é bastante convidativo aos que apreciam a cultura hip-hop, na entrada da galeria encontramos um grafite que demonstra a importância que a Suburbano Convicto dá a arte urbana e como procura defendê-la, no primeiro andar onde se reúnem os artistas e leitores temos um ambiente especialmente pensado na temática, mais grafites, pôsters entre as estantes dos livros, dão a cara inovadora e descolada que o tema tanto pede.

Paulo Henrique Santos, estudante de tradução e intérprete que visita o Suburbano Convicto fala sobre o coletivo. “Com certeza o que mais me atrai é o espaço que os artistas conseguem, não é algo pra “inglês ver”, não fica só na apresentação que fazem na segunda-feira, na livraria eles podem ter suas obras publicadas e expostas também”. Em meio a tantas outras formas de arte, inclusive com maior visibilidade, o professor de educação artística Adriano Chagas comenta a importância de movimentos culturais como os saraus. “Acho valiosíssima a participação da literatura crítica oriunda das periferias, não acredito que seja algo é passageiro, mas que veio pra ficar, influenciar e conscientizar os jovens no momento político que vivemos no país”. Adriano completa: “Como educador e defensor da cultura popular procuro incentivar movimentos que estimulam o crescimento do aluno e cidadão que estou lidando em sala de aula”. Não é de hoje que a forma de consumir cultura se reinventou. Desde o final dos anos 60 e começo da década de 70 os movimentos artísticos urbanos ganharam força em meio à opressão e precisaram resistir para conquistar um novo público para a arte como um todo. Entretanto a rentabilidade do conteúdo periférico ainda preocupa e pode sim comprometer seu futuro.


ano 24 |no 7| setembro/2017

Polo de Ecoturismo de São Paulo reúne lazer e diversidade Esportes radicais, trilhas, aventuras, contemplação e história no extremo-sul da cidade Bruna Fillol | brunafillol@gmail.com

O extremo sul de São Paulo é uma região repleta de matas, abriga inúmeras espécies animais e tem quarenta tipos de cachoeiras. A mais conhecida e a de mais fácil acesso é a do Jamil. Nela, é possível praticar esportes radicais, como rapel, canoagem, boiacross e stand up paddle (remada em pé) e rafting. Essas atividades são realizadas dentro ou ás margens do rio Capivari-Monos que é preservado pelo estado paulista. “Rapel e tirolesa são atividades com tempo menor, as trilhas são maravilhosas e possuem um tempo longo e vários níveis de dificuldade”, destaca o organizador do passeio em parceria com a Selva SP, Marcio Borges. Para quem gosta de esportes radicais e espera curtir boas aventuras, a dica da vez é conhecer o Parque de Aventura. Sem precisar sair de São Paulo, o local é repleto de mais de sete tipos de esportes que exigem muito esforço físico.

O boiacross é realizado no rio Capivari-Monos, onde o participante desce o rio em cima de uma boia e pode sentir na pele a velocidade das águas e apreciar a mata. A tirolesa possui seus 130 metros e é indicada para os amantes de altura e adrenalina. A Fazenda Maravilha mescla pontos históricos com uma parte da natureza que ainda é desconhecida por parte dos turistas. Rastros de animais da fauna brasileira são facilmente reconhecidos durante a caminhada nas trilhas. E nelas, é possível observar e contemplar as cachoeiras do Oásis, do Fornão e do Sagui, que são totalmente apropriadas para banho. A vista para o mar também se faz presente. A região também é marcada como o início do trajeto para uma travessia de 28 km que liga o sul da cidade de São Paulo até Itanhaém. O local é repleto de trilhas, dentre a mais conhecida a “Trilha Proibi-

SelvaSP Canoar

Turistas praticando ducking (canoagem) no rio Capivari-Monos da” que deixou muita gente experiente em apuros. As trilhas que são permitidas pela administração

do Parque Estadual Serra do Mar são: Trilha da Bica, Trilha do Mirante e Trilha do Telégrafo.

A região possui uma cratera denominada como Colônia de 3, 6 km de diâmetro, resultado de um meteoro que

se chocou com a Terra há cerca de 20 milhões de anos. Em seu interior está o bairro de Vargem Grande, e possui cerca de 40 mil habitantes. Esse paraíso perdido está localizado entre os bairros de Engenheiro Marsilac e Parelheiros, a menos de 40 km ao extremo sul. “O passeio deve ser planejado com antecedência. Em alguns pontos, o sinal de celular não funciona, e parte do caminho é em estradas de terra. Esse passeio é aconselhável somente para aqueles que não tem medo de cansaço”, menciona o guia turístico da região, Lucas Lima. A região ainda possui o primeiro Borboletário de São Paulo, um dos maiores do Brasil, que é localizado em uma área de preservação ambiental. Além de apreciar várias espécies de borboletas, é possível participar de uma palestra com biólogos e com isso, o passeio além de ser divertido, se torna educativo.

Gameterapia é uma prática terapêutica Futebol com humor na web Realidade virtual de videogames auxilia na reabilitação de pacientes Raquel Porto | quelbporto@gmail.com

movimentos dos consoles da Nitendo Wii e Xbox. “Os videogames com realidade virtual são usados nas diversas áreas da fisioterapia: principalmente ortopédico, esportiva e neurologia. Muitos dos jogos podem ser utilizados ainda na geriatria, oncologia pediátrica e até mesmo em uroginecologia”, explicou a fisioterapeuta, Danielle Barros. Danielle também falou sobre outros tratamentos, além da fisioterapia que podem fazer uso da gameterapia “A gameterapia atua na educação física como condicionamento físico, na

psicologia especialmente em crianças e inclusive na fonoaudiologia na reabilitação do "Processamento Auditivo Central", que tem como objetivo estimular as habilidades auditivas alteradas”, explica. Uma pesquisa realizada na Medical College of Georgia descobriu que os jogos de tênis, boliche e boxe melhoraram as habilidades motoras e diminuíram também a ocorrência de casos de depressão. Estes permitem que o paciente movimente todo o seu corpo, o que também o ajuda a ter mais reflexo, equilíbrio e concentração.

Atualmente há mais de vinte jogos de realidade virtual projetados exclusivamente para fins terapêuticos criados pelo iREX, sigla inglês que significa Interativo Sistema de Exercícios, ampliando assim, as alternativas de recuperação dos pacientes, além de torna-la mais rápida. “As reabilitações são mais rápidas e maiores pois a tecnologia proporciona um feedback através de pontuação tornando o estímulo maior com esse lado lúdico” diz, Daniel Coelho, representante da empresa Miotec, especialista em desenvolver e fabricar equipamentos para tratamentos fisioterapêuticos.

Arte - Miotec

Arte simulando uma sessão de fisioterapia com gameterapia

Ponto para a diversidade Trio de amigos reúne público LGBT para treinos de Rugby

Leonardo Barbeiro| leonardo.barbeiro@hotmail.com Leonardo Souza

Primeiro time LGBT de Rugby treina no Ibirapuera Com 15 jogadores em campo, 80 minutos divididos em dois tempos, uma bola oval e alguns equipamentos de proteção o jogo que teve origem inglesa e no século XIX, exige uma forte resistência física e fôlego, pois as regras são muito rígidas e permitem jogas mais bruscas. Em geral o jogo pode ser em quadra fechada ou aber-

ta e praticado por homens e mulheres sem qualquer restrição, mas assim como em qualquer outro esporte o preconceito sobre diversidade de gênero é presente e acaba provocando um certo afastamento do público LGBT do cenário esportivo. Pensando nisso Bruno Kawagoe, Marcelo Cidral e Alan Alves organizam en-

contros com toda a classe LGBT sem restrições e sem preconceitos, um espaço para praticar o esporte sem se preocupar com olhares e julgamentos sobre sua maneira de se expressar ou se comunicar. O trio, com muita paciência, ensina os iniciantes as primeiras jogadas e regras do jogo e todos são bem-vindos de drags a heteros desde que se relacionem bem com a diversidade. “ Nós já treinávamos em outros times e tínhamos o objetivo de trazer o esporte para o mundo LGBT, pois acreditamos que muitos nunca tiveram esse contato principalmente pelo preconceito. Assim como eu que sofri por ser mais delicado e os meninos não me chamarem para jogar, o intuito e empoderar e trazer essas pessoas para o mundo do Rugby”, afirmou Alan Alves um dos organizadores do evento. Os encontros têm acontecido aos sábados à tarde no obelisco do Ibirapuera e tem tido uma boa aceitação

do público, muitos vão a primeira e vez e aderem aos encontros tornando os projetos futuros, de torna-los um time fixo, para futuros campeonatos e misto, que seria a primeira vez na história do rugby, mais próximo. “Esses encontros são uma grande fonte de inclusão social, praticar esporte é uma forma de combater depressão, ansiedade e tudo mais. E para o público LGBT sempre foi um direito que nos foi retirado por justamente sempre estar desconfortável com o meio esportivo e as pessoas que costumam frequentar ele”, disse Rogério Franco de Oliveira, frequentador assíduo dos encontros. A iniciativa não conta com nenhuma ajuda financeira ou qualquer outro incentivo a não ser a boa vontade dos três organizadores, que encontraram em um esporte supostamente agressivo e nada pró-LGBT, uma forma de praticar sua cidadania proporcionando diversão e inclusão para as pessoas.

Letícia Marques | letmarquesr@gmail.com

A maneira que as pessoas se informam está cada vez mais rápida e engraçada, assim acontece nas redes sociais que discutem sobre futebol sem clubismo. Memes e gifs são uma maneira muito prática para falar sobre melhores lances de uma partida, faltas não cobradas, jogadores que pecaram durante o jogo e aqueles que mandaram muito bem. Esse jeito de fazer humor através do futebol cresceu bastante nas redes sociais, ocupando espaço não só no Facebook “Nossa idéia de fazer paródias no Youtube surgiu depois de ver um vídeo chamado Bohemian Rhapsody with Footballers, onde cantam o clássico do Queen só com nomes de jogadores. A partir daí a gente pensou em fazer vídeos desse estilo”, comentou André Drummond, dono do canal e página FutParódias. No Facebook, uma das páginas mais acessadas é a do “Fanáticos por Futebol” com mais de 2 milhões de curtidas, seguido da “Futebol é arte, ousadia faz parte” com quase 1,4 milhões de curtidas e “Futebol da Depressão” com 1,3 milhões. No Youtube, um dos canais mais visualizados é o “Desimpedidos” com mais de 3 milhões de inscritos, seguido pelo “FutParódias” com mais de 600 mil e o “Futirinhas” com quase meio milhão. Com o sucesso na criação, os donos das páginas levam a sério a criação de conteúdo “Após a escolha do tema, procuramos

uma música que tenha um “clima” mais propício para abordar o caso. Depois de escolhido tema e música, compomos a letra em conjunto. Após isso, um cuida de toda a parte do áudio e outro da edição do vídeo”, responde o dono também da página FutParódias, Leon Whosoever. A maneira de postagem depende de cada plataforma, no Facebook os memes e gifs dominam as páginas e no Youtube, vídeos mais elaborados com roteiro, debate e um diálogo direto com o torcedor fazem sucesso. Mas só fazem mais sucesso por causa dos internautas que levam tudo na esportiva. “O foco é passar um conteúdo humorístico e relevante ao público. Acredito que toda zoeira sarcástica contra os clubes que se encontra em páginas de Futebol, devemos sempre levar na esportiva e não no Clubismo”, diz Ildes dos Santos, dono da página Futebol é Arte, Ousadia Faz Parte. E claro que todo esse sucesso se dá por conta do imediatismo que a internet possui, ainda mais para quem quer estar ligado em tudo que acontece no seu time. “A Internet se tornou uma ferramenta muito importante para meios de divulgações, hoje em dia tudo que a pessoa quer saber, ou tem dúvidas sobre algo elas sempre vão primeiro pesquisar na Internet. E por isso sempre estamos atualizados, para que as pessoas nos procurem para saber notícias e se divertir”, comenta Ildes.

O foco é passar um conteúdo humorístico e relevante ao público

Foi-se o tempo em que os videogames eram considerados aparelhos voltados apenas para o entretenimento e alienação social. Diversos estudos já comprovaram que os consoles e os jogos fazem mais bem do que mal. Ajudam com a formação da memória, a capacidade de raciocínio e planejamento estratégico, além da coordenação motora. Baseado nisso, médicos de especialidades como a fisioterapia, ortopedia, fonoaudiologia e neurologia passaram a utiliza-los também como uma forma de tratamento. A esse novo método de intervenção terapêutica dá-se o nome de gameterapia. A gameterapia foi desenvolvida no Canadá. Hoje, no Brasil, atualmente, diversos hospitais e clínicas têm feito uso do tratamento em pacientes de diferentes faixas etárias. A terapia é aplicada juntamente com os outros tratamentos tradicionais durante as sessões, e no caso da fisioterapia são utilizados os jogos com sensores de

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