8º Boletim Informativo POR OUTRAS PALAVRAS - Setembro 2012

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xenofobia O processo de demolição em curso no Bairro de Santa Filomena (Amadora) ameaça despejar todos os residentes que ali construíram as suas vidas (ou parte delas), independentemente de se encontrarem ou não abrangidos pelo Plano Especial de Realojamento (PER), correndo o risco iminente de serem despejados sem terem uma habitação. Esta controvérsia tem originado a produção de alguns artigos nos media, mas mais no sentido de reportar os acontecimentos, do que na tentativa de despoletar uma discussão pública consequente, sobre um processo que afronta os princípios da dignidade e respeito pelas pessoas, bem como um conjunto de cartas internacionais, designadamente, a Carta Europeia dos Direitos Fundamentais. No sentido de lutar contra esta situação, a Associação de Moradores do bairro, a plataforma Habita e algumas pessoas têm promovido um conjunto de acções de protesto contra as demolições. Uma das acções que maior visibilidade obteve nos meios de comunicação foi um protesto realizado primeiro no interior (todas as pessoas tiraram uma senha de atendimento e foram expulsas) e posteriormente no exterior, em frente à Câmara Municipal da Amadora, após uma reunião com a Vereadora da Habitação, Clara Tavares, que afirmou, perentoriamente, a demolição do bairro. Ora, esta notícia, que postula que os moradores invadiram a Câmara Municipal (sic), ‘obrigando à intervenção da PSP’ (sic), não só não explica aquilo a que se refere com a palavra invasão - que se aproxima de um imaginário, por um lado de guerra ou, por outro, de ocupação - mas em qualquer das situações perpassa a ideia relacionada com uma carga violenta, de força. De forma complementar, a formulação ‘obrigando à intervenção da PSP’ legítima a acção da polícia, que aparece aqui como ‘forçada a agir’. Neste sentido, a tónica é colocada na acção e na culpabilização dos moradores. A notícia não se limita a descrever objectivamente os factos, mas sim a elaborar um juízo de valor sobre o sucedido. Acrescente-se, ainda, que a palavra final é a da autarquia, que funciona como uma espécie de reposta aos moradores supra-citados e que justifica a sua actuação: ‘vamos acabar com a miséria’ (sic). Um discurso caritativo que encapota situação de planeamento, de interesse e especulação imobiliária.

NOTA:

Esta

notícia foi publicada em Junho de

2012

mas,

perante a sua atualidade, decidimos incluir análise

a

sua nesta

edição.

in Primeiro de Janeiro, 20/06/2012

N.º 8, Setembro 2012

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