Revista Brasa, mora?

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Ano 01, maio 2013

BRASA,MORA? Aqui há uma fonte da juventude

Perfil

As paixões de Sílvia

Literatura, cavalos, vinho, viagens e a melhor de todas: a VIDA

Iê, iê, iê, que dia feliz! Entrevistamos Angelo Máximo

Ative a idade

Viciados em luta

Praticantes de Jiu-Jistu depois dos 60 anos

Eu ainda quero

Salto de Bungee Jump, será que dá? Yara Gonçalez, 63 anos, e a vontade de saltar

Memória e cultura

Eu quero uma lambreta Mito em duas rodas

Roberto continua rebelde O Rei trava sua batalha

cinema

De rebelde a cult, a Boca do Lixo de Francisco Cavalcanti

Sangue, violência e sexo

CULTURA 60S E 70S - CINEMA - música - moda - COMPORTAMENTO - SAÚDE




Ano 01, maio 2013

sumário

Memória e cultura 10 Roberto continua rebelde

O Rei se rebelou contra alguns escritores que tentam descrevê-lo na época em que ele participou e se tornou referência de comportamento jovem dos anos 1960 e 1970

Perfil 38

Iê, iê, iê, que dia feliz!

No final dos anos 60, Silvio Santos apresenta no Show de Calouros uma das vozes mais aveludadas do Brasil, tão difícil de esquecer quanto a primeira namorada

47

As paixões de Sílvia

Literatura, cavalos, vinho, viagens e a melhor de todas: a VIDA

20

Eu quero um lambreta

Símbolo de uma geração, uma referência de ser jovem e rebelde, mas isso ficou lá nos anos 1950 e 1960, correto? Errado. Essa cultura ainda vive

Cinema 14

De rebelde a cult, a Boca do Lixo de Francisco Cavalcanti

Com mais de 40 filmes no currículo, o cinema paulista dos anos 60 aos 80 jamais seria o mesmo sem ele


Ative a idade 26

Viciados em luta

Como o Jiu-Jitsu faz parte da vida de dois praticantes da artes maciais

Xuxu Beleza 32

Resgatando paixões

Saúde 48

Nas ondas...de calor!

Menopausa e climatério, entenda as diferenças e conheça o tratamento para essa fase inevitável da vida de todas as mulheres

Eu ainda quero 36

Salto de Bungee Jump, será que dá?

Yara Gonçalez, 63 anos, e a vontade de saltar


Editorial

I

nventaram a máquina do tempo e estamos novo. Não, não inventaram, é só a sensação quando você mergulhar na revista que

em 1965 de que se tem preparamos.

Entre as lambretas e a rebeldia rock da Jovem Guarda cresceu essa geração que hoje experimenta uma idade que talvez nunca tenha imaginado chegar, mas já que chegou, porque Não Uma esse

não

ser

respeitado

por

seu

estilo

de

vida?

Brasa,mora?

por menos o título da revista é . gíria que traduz essa época de ouro cultural. Hoje saudosismo também pode ser vivido em nossas páginas.

Mas muita coisa mudou com o tempo, e é isso que tratamos aqui, o respeito por uma época e sua tradução para se viver bem em um presente movido por uma velocidade tecnológica que nem sempre respeita o pensamento e o espírito de um geração que mudou completamente o Brasil. Seja bem vindo e boa leitura. Aqui há uma fonte da juventude!

Israel Dias

Editor


A equipe

Christian F. Braga

Emanuelle Herrera

Gabriela Fernandes

Israel Dias

Kelly Vieira

Yara Pezeta




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Roberto continua rebelde

O Rei se rebelou contra alguns escritores que tentam descrevêlo na época em que participou e se tornou referência de comportamento jovem dos anos 1960 e 1970 Por Israel Dias

R

oberto Carlos apareceu para o mundo através da rebelde Jovem Guarda. Aquele movimento cultural que surgiu com o programa homônimo na TV Record. Lembra? Foram jovens tardes de domingo que revolucionaram o comportamento, a música e a moda da época. Sim, e era rebelde, e quem não queria ser rebelde naquela época? Rock, lambretas e guitarras elétricas os ingredientes precisos para se provocar a sociedade

vigente.Ser contra aquele modelo careta criado pela Bossa Nova era uma brasa, mora? E não por menos o jovem deve ser assim, diferente em pensamento e rebelde no comportamento, romper com modelos estabelecidos e impostos antes mesmo que ele nascesse.Mas um dia, o jovem Roberto deixou a Jovem Guarda. Em entrevista à Folha de S. Paulo, na edição de janeiro de 1968, ele deixou o seu adeus: “Estou triste à beça. Esse programa me lançou, me fez. São dois anos e meio de vida, de amizades Brasa,mora? | maio 2013 11


Aos poucos Roberto foi se tornando menos rebelde e acabou aderindo ao modelo de sociedade ao qual tentava ser diferente.

boas que ficam para trás. Esse programa era muito importante para mim”. Aos poucos Roberto foi se tornando menos rebelde e acabou aderindo ao modelo de sociedade na qual tentava ser diferente. Bom, até ai nenhum problema, essas coisas acontecem, não é mesmo? Então ele se tornou o romântico que conhecemos hoje.Mas de uns anos para cá Roberto se rebelou contra alguns escritores que tentam biografá-lo ou descreve-lo na época em que ele participou intensamente e se tornou referencia e modelo de jovem dos anos 1960 e 1970. Mas deixar a Jovem Guarda não significou perder toda a sua

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rebeldia.Em 1970, o livro “O Rei e Eu – Minha Vida com Roberto Carlos”, escrita por Nichollas Mariano, ex-mordomo de Roberto foi censurado. Claro que dentro dos tramites e meandros judiciais.Mas não ficou por ai, O Brasa conseguiu proibir mais algumas publicações.Alguns apelidos tais como: o “O Rei da Censura” e “Roberto, Mãos de Tesoura” circulam entre os críticos da postura que o Rei adotou. Quem é que disse que o Roberto não continua rebelde?Em 2007, o escritor Paulo César Araújo publicou a biografia “Roberto Carlos em Detalhes”, mas teve a circulação proibida. O livro até


E até dá para imaginar Roberto pensando como nos anos dourados: “E que tudo mais vá pro inferno”.

conseguiu ser vendido por algum tempo, depois foi recolhido em seguida. Os críticos que deram apelidos ao nosso Rei também dizem que ele tem 11 mil cópias desse livro no porão do sua casa.Agora, em 2013, foi a vez de Maíra Zimmermann escritora de “Jovem Guarda – Moda, Música e Juventude”, que também teve a distribuição proibida ser atingida. Mesmo com a proibição é possível encontrar o livro para compra na internet.Os três casos acimas são os que tiveram maior repercussão na mídia, mas há ainda o processo contra o escritor Ruy Castro que escreveu uma matéria sobre Roberto para

a revista “Status” em 1983.Enquanto a Lei de Biografia, proposta pelo Deputado Federal Newton Lima não se desenrola no Senado a briga vai continuar. O deputado defende que não há proibição em outros países para quem quer escrever uma biografia sem autorização prévia, e que isso é parte da liberdade de expressão. Uma coisa é certa, se “palavra de rei não volta atrás”, a proibição continuará. E até dá para imaginar Roberto pensando como nos anos dourados: “E que tudo mais vá pro inferno”. B Israel Dias é jornalista

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De rebelde a cult, a Boca do Lixo de Francisco Cavalcanti Com mais de 40 filmes no currĂ­culo, o cinema paulista dos anos 60 aos 80 jamais seria o mesmo sem ele, Francisco Cavalcanti, o diretor da Boca do Lixo Por Christian F. Braga e Kelly Cristina Vieira

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E

ram quase oito horas da noite de sábado, quando estacionei meu carro em uma vaga apertada na rua Euclides Pacheco, no movimentado bairro do Tatuapé. Naquela hora os bares e restaurantes locais já recusavam clientes, que abarrotavam as vias com seus carros em filas duplas em uma desorganização caoticamente sincronizada, absorvida com estranha naturalidade pelos moradores dali. Segui em direção à portaria do edifício onde fui recebida por duas amáveis senhoras, que, depois de alguns cumprimentos, me levaram até o primeiro andar. Antes de entrar no apartamento 109, fui advertida que no apartamento havia um cachorrinho, que andava meio indócil e impaciente por conta da idade e da cegueira, “Tome cuidado com as mãos”, “É melhor não fazer carinho”. Enquanto passávamos porta adentro, tomando os devidos cuidados, uma voz grave e suavemente tranquila se assomava a passos cuidadosos - era um senhor já de certa idade, cujo semblante sereno guarda a história hardcore do alvoroçado e amotinado cinema nacional, que instigava e chocava o país com um estilo despojado e desprendido de qualquer conceito de moral: a pornochanchada. Brasa,mora? | maio 2013 15


“Não estou aqui para fazer filmes para os intelectuais. Senão meia dúzia vai à sessão. O negócio é fazer o que o povão gosta. E eles gostam de sangue, violência e sexo!” arte onde fundamentou sua vida, e a de toda sua família. Simplicidade. Afinal, Cavalcanti é do povo, e no povo ele está.

C

om uma calça social, camisa listrada sobre uma regata branca e cabelos brancos impecavelmente penteados, o cineasta Francisco Cavalcanti estende a mão, agradece a minha presença e me convida a sentar, já não amparando os anos de idade ao corpo franzino. O apartamento simples, sem adornos, sancas ou lustres, reflete o que sempre foi a vida de Cavalcanti, uma luta contra os modismos convencionais, contra a onda da mesmice e da uniformidade de uma

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O começo de tudo No início dos anos 60, Francisco Cavalcanti abriu uma escola de teatro para promover novos talentos, sem muitas pretensões, afinal era apenas uma extensão da sua maior paixão, que era atuar. Com pouco tempo em atividade, já contava com mais de 1000 alunos matriculados. A escola ia de vento em popa. Com os proventos da escola, Cavalcanti resolveu alçar novos voos e, com a ajuda de seus alunos, lançou os seus quatro primeiros filmes, “Foram todos com recursos próprios”, orgulha-se o diretor. No entanto, apenas na década seguinte o ator, que tinha a característica multitarefa de escrever seus roteiros, atuar e também dirigir suas próprias produções, começou a ter seus trabalhos reconhecidos e comercializados pelas distribuidoras que afluíram ao centro cinematográfico de São Paulo, a Boca do Lixo. O gênero policial, recheado de sangue e violência, foi o primeiro a ser explorado


por Cavalcanti, mas o público queria mais, “Não estou aqui para fazer filmes para os intelectuais. Senão meia dúzia vai à sessão. O negócio é fazer o que o povão gosta. E eles gostam de sangue, violência e sexo!” exclama o cineasta. E movido por este pensamento o seu estilo tomou outra forma. Pouco a pouco, as tramas criminosas passaram a dar lugar a transas pecaminosas, traições inescrupulosas, e mulheres gostosas, com atores e atrizes que passariam a estampar as capas das fitas com frequência exaustiva, cuja fama conquistada na boca os alavancaram à televisão. Gugu Liberato, Pedro de Lara, Zilda Mayo, Helena Ramos, Davi Cardoso, Wilza Carla, Jean Garret, Francisco Di Franco e Zé do Caixão foram alguns dos artistas que fizeram parte das produções de Cavalcanti. Cavalcanti e Zé do Caixão: uma parceria sanguinolenta O mais respeitado artista do submundo pop brasileiro, José Mojica Marins, mundialmente conhecido como Zé do Caixão, foi além da atuação nas produções de Francisco Cavalcanti. Os

dois reuniram esforços e experiências e passaram a dirigir produções em conjunto, dando um tom ainda mais trash e soturno aos filmes que vertiam sangue das telas. Tenho muita amizade com o Zé Mojica... dirigimos uns 4 filmes em conjunto. Além de uma grande figura, é um grande amigo - orgulha-se. Emblemático, mas ainda o não preferido de Cavalcanti, A HORA DO MEDO (terror, 1986), foi o filme que selou a parceria dos dois diretores. Conseguimos mais de 9 milhões com essa fita! - recorda Brasa,mora? | maio 2013 17


em moeda atual, saudoso dos momentos onde as coisas pareciam mais autênticas e honestas no mundo do cinema. Hoje a Globo domina o mercado, a maioria do incentivo que tínhamos, vai pra ela. É duro de competir. - conclui. A fase atual Hoje, já com um ritmo bem mais tranquilo e desacelerado, Francisco Cavalcanti divide 18 Brasa,mora? | maio 2013

suas produções com seu filho, Fabrício Cavalcanti, que além de ter participado como ator mirim em grande parte dos filmes do pai, também produz, filma, dirige e atua nas produções cinematográficas nas quais se vê envolvido, herdando o gene multifacetado de Chico Cavalcanti. Pai e filho são sócios na produtora Plateia Filmes, instalada em Guarulhos, mantendo vivo o ofício preferido da família.


“...Para o brasileiro é uma vergonha nacional. Ele não come mas tem vergonha de dizer isto; e, sobretudo, não sabe de onde vem esta fome. Sabemos nós – que fizemos filmes feios e tristes, estes filmes gritados e desesperados onde nem sempre a razão falou mais alto...” (Glauber Rocha, sobre o cinema brasileiro no manifesto Estética da Fome - 1965) A última produção na qual trabalharam juntos contou com a presença de Nuno Leal Maia, ator da Rede Globo de Televisão, que dividia seu tempo entre as gravações na Globo e o set de filmagens de “Amor Imortal”, filme que carrega as características dos Cavalcanti, mas traz um componente não visto em películas anteriores: a espiritualidade. Uma estante simples ao lado da tevê servia de altar para as menções honrosas e troféus dos Cavalcanti, que me chamavam a atenção entre um café ou outra pergunta. Algumas prateleiras abaixo, livros espíritas ocupavam timidamente o espaço deixado pelo passado laureado. Cavalcanti assumira seu lado religioso, talvez por mea culpa, por ter passado a vida recrudescendo e incitando nas almas marginais os seus desejos mais primitivos,

reproduzindo a existência de vagabundos e ordinárias, encontrando facilmente moradia no imaginário daqueles que buscavam nos cinemas do centro o reflexo de sua própria bestialidade. B

Christian F. Braga e Kelly Cristina Vieira são jornalistas

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Minha Vida Lambreta

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a por uma

Símbolo de uma geração, uma referência de ser jovem e rebelde, mas isso ficou lá nos anos 1950 e 1960, correto? Errado. Essa cultura ainda vive Por Israel Dias

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U

m sonho de consumo ou uma inseparável companheira, a lambreta marcou época e ainda faz a cabeça de muita gente que amou e ainda ama esse meio de transporte econômico e prático. Símbolo de uma geração, uma referência de ser jovem e rebelde, mas isso ficou lá nos anos 1950 e 1960, correto? Errado.

Essa cultura ainda vive por todo o mundo. Existem fábricas, lojas, sites, blogs, campeonatos de velocidade e até scooterias - são os clubes - dessas pequenas joias que já foram fabricadas no Brasil. É o caso da Vespa e da Lambretta. Vamos começar a história pela Lambretta do Brasil Muitos podem não saber, mas a Lambretta foi a primeira fábrica de veículos do Brasil. Claro que em 1953 a Kombi era montada aqui, mas as peças eram importadas. Isso significa que a Lambretta saiu na frente até mesmo das indústrias automobilísticas. Assim, foi fundada em 1955 a Lambretta do Brasil S.A. Indústrias Mecânicas. Em seu apogeu, a marca superou as 50.000 unidades vendidas por ano. Foi nos anos 1958 a 1960. Vespa Em 1958, a Vespa começou a ser montada no Brasil, licenciada pela Piaggio Italiana. Ao contrário daqui, a Vespa continua sendo comercializada em larga escala pelo mundo afora. Existem novos lançamentos, edições históricas e muita coisa bacana no site oficial.

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Curiosidade. O nome Scooter é

literalmente traduzido como patinete. Isso mesmo, patinete infantil.

Mas cá entre nós, a maior rebeldia que eles fizeram foi colocar até 32 espelhos retrovisores nas scooters em protesto contra a lei que exigia pelo menos um. E olha que naquela época não era obrigatório o uso do capacete.

Um pouco antes, lá em Londres, ter uma lambreta era parte de uma cultura local, era integrar uma tribo urbana. É ai que entram os Mods. Foram os Mods os culpados pela cultura scooter? O Mod é considerado uma subcultura nascida em Londre no final da década de 1950. Eram jovens bem vestidos e que gostava de curtir os Pubs londrinos, e adivinhem... andavam somente de Lambretta ou Vespa. Dizem que existem resquícios dessa subcultura até hoje em cantos remotos das metrópoles mundiais. Os Mods eram arqui-inimigos dos Rockers e vivam se enfrentando nos becos de Londres. Igualmente, os Rockers tinham motos, mas não eram Lambrettas ou Vespas. Parte deste conflito ficou imortalizado no filme baseado na Opera Rock da banda londrina The Who, Quadrophenia. Brasa,mora? | maio 2013 23


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“Estilo de vida para muitos, filosofia para poucos”

B

rasa,mora? conversou com Márcio Fidelis, fundador do blog Scooteria Paulista onde divulga atividades e facilita a aproximação entre donos de scooters clássicas e motonetas históricas. “A ideia de manter viva a tradição é porque entendemos o scooterismo clássico como um estilo de vida, e queremos que isso permaneça fiel à sua essência.” “Estilo de vida para muitos, filosofia para poucos” Fidelis vive com sua Vespa, na verdade, é através dela que ele se mantém. “A motoneta transcendeu para uma filosofia, porque vivo em Vespa, trabalho com Vespa, a Vespa é o meu sustento.” É proprietário de duas Vespas, uma Originale 150 ano 1998 e uma 150 Super de 1980. E para quem quer começar? “É preciso saber que esse é um tipo de veículo que exige cuidados e muito empenho.Vai haver o dia em que sua motoneta vai parar e você vai empurrá-la por um quilômetro ou mais até o primeiro

posto que encontrar. Terá que sujar suas mãos. Ela possui um estepe, mas é você quem vai ter que fazer o serviço sujo. Fora isso, a satisfação é garantida.” E ele não para por ai, afirma que desbrava rodovias e paisagens, escreve, fotografa, cria artes visuais, entrevista veteranos, arma reuniões, mantem uma rádio online, edita um fanzine e mantem contato permanente com proprietários. E fecha dizendo: “É uma filosofia, porque motoneta pra mim é uma negação da sociedade consumista e vulgarizada que vejo quando estou nas ruas num veículo que não precisa se fazer de retro para comunicar o que é velha guarda”. B Israel Dias é jornalista

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Viciados em luta Como o Jiu-Jitsu faz parte da vida de dois praticantes da arte marcial

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Por Gabriela Fernades


“Somos os mais velhos daqui. Tivemos uma base de regras diferente de todos e somos muito respeitados”

“O

cheiro disso aqui é mais viciante que crack”. A frase parece ter sido dita por um usuário de uma nova droga de São Paulo, mas não é. Apontando para o seu quimono molhado de suor, Aloísio Magalhães, 65 anos e leiloeiro de arte conta como o Jiu-Jitsu faz parte da sua vida. Com a voz empostada, Aloísio começa a entrevista com saudosismo. Lembrandose dos seus 13 anos de idade, quando era brigão e rebelde, foi matriculado no judô para ver se criava juízo. E criou. Com uma doutrina rigorosa, o esporte mudou aquele garoto, que, aos 17 anos, já era faixa preta na modalidade. “O judô passou a ser uma terapia”, completa. Desde então, não largou mais o esporte. Diz, orgulhoso, que já foi professor do Mário Yamasaki, árbitro brasileiro do UFC (Ultimate Fighting Championship), principal campeonato de MMA (Mixed Martial Arts) do mundo. O Jiu-Jitsu foi o escolhido, há seis anos, quando resolveu praticar novamente uma arte marcial. Antes disso, fez natação por dez anos, monstrando que sempre manteve o corpo em atividade. Frequenta

a Academia Dida fielmente todos os dias, das 07h30 às 10h30, no período da manhã. Em forma, conta que parou por três meses, devido uma operação no ombro, e está voltando aos poucos, mesmo contra a recomendação médica: “Treino pelo vício, pois não fui liberado pelo médico. Tenho a noção de que não devo me exceder. Quando sinto algum tipo de desconforto, paro”. “Minha saúde está ótima em função do treino. Não tenho nenhum problema do coração”, comenta um orgulhoso Aloísio. Casado e pai de família, o leiloeiro diz que sua esposa é a favor da sua atividade física e estranharia o fato dele parar. Já faixa preta no Jiu-Jitsu, Aloísio treina de igual para igual com todos os alunos e rechaça qualquer tipo de favorecimento devido à idade: “Nunca notei diferença de tratamento. Se algum dia isso acontecer, serei o primeiro a recusar o treino. Na verdade, tenho mais fôlego que muito aluno de 20, 30 anos”, afirma. Mostrando a sua carteirinha de federado do Judô e Jiu-Jistu, Elizeo Bejo, 69 anos e chaveiro, diz que é faixa preta há mais de 30 anos. Com início também no judô, usa os mesmos argumentos do colega

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Enquanto o esporte se populariza, mais pessoas da terceira idade vêem a arte marcial como uma forma de manifestação do corpo humano para justificar sua entrada no esporte. Da rebeldia adolescente, também foi doutrinado no judô, onde passou a ter respeito pelos outros: “Fui matriculado pelos meus primos, a academia ficava na Lapa. Naquela época o esporte era praticado de forma escondida”. Já faixa preta no Jiu-Jitsu, parou de praticar o esporte por 15 anos, quando estava no 3° grau e retomou do zero, atualmente no 5° grau. Também professor de judô, deu aulas no Corinthians e já foi dono de academia. Atualmente, só lida com o esporte por prazer. Lembrando da época de juventude, diz que participou de diversos campeonatos e não tinha divisão, como é atualmente: “Lutávamos com 28 Brasa,mora? | maio 2013

qualquer um, não importando tamanho ou peso. Hoje são divididos por categorias e o maior não luta com o menor”, completa. Justificando sua escolha pela arte marcial, Elizeo argumenta que o futebol é mais violento que o Jiu-Jitsu, pois a todo o momento tem jogadores machucados, enquanto que no Jiu-Jitsu, o esporte fortalece o corpo, e completa dizendo ser mais leve que o judô, pois não tem tantas regras e imposições. Praticando de duas a três vezes por semana, o chaveiro tem a esposa contra o seu estilo de vida: “Ela não gosta de me ver praticando, pois diz que já passei da idade. Estou velho demais e pode prejudicar a minha saúde”, diz Elizeo.


“Somos os mais velhos daqui. Tivemos uma base de regras diferente de todos e somos muito respeitados”, completa dizendo: “Quem inicia no Jiu-Jitsu tem um conceito bom sobre o esporte. Todos aqui estão bem intencionados e o Dida não permite que o ambiente tumultue por alunos violentos e que têm outro conceito. Se isso acontecer, ele afastará o aluno”, Há 14 anos no mesmo local, Severino Soares da Silva. 40 anos e dono da academia, Dida, como é chamado, diz que tem em média cerca de 300 alunos, sendo entre oito e dez da terceira idade. “Todos os alunos são tratados de forma igual, mas ainda assim há todo um cuidado com os mais velhos. Alguns são mais

dedicados que os de 20, 30 anos”, afirma. Dono da faixa preta de 3° grau, o Sensei conta com instrutores para auxiliarem no treinamento, mas todos passam pela sua orientação. Enquanto o esporte se populariza, mais pessoas da terceira idade vêem a arte marcial como uma forma de manifestação do corpo humano. Praticar esportes que fujam do senso comum e facilitam a inclusão deste grupo, cada vez mais crescente no mundo esportivo. B

GABRIELA FERNANDES é jornalista

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Você sabia que... - Tanto a Federação quanto o Sensei podem graduar o aluno - Não há restrição de faixa para dar aula

QUer praticar?

- A cor do quimono é indiferente - Existem cinco cores de faixa, sendo as outras infantis: branca, azul, roxa, marrom e preta - Entre as faixas branca e marrom há graduações como forma de incentivo. A única utilizada na contagem é a preta, que varia do 1° ao 10° grau - Ao completar 30 anos de faixa preta, recebe a vermelha e preta (coral) e com mais 30 anos, a vermelha - A faixa preta só pode ser obtida a partir dos 19 anos de idade - Nunca entrar no tatame com algum tipo de calçado - Ao se referir ao próximo, deve-se falar “Oss”, como forma de respeito

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EQUIPE DIDA JIU-JITSU Rua Padre Antonio Tomás, 266 Fone: (11) 3675-8612 De segunda a sexta-feira das 07h às 22h e Sábado das 10h às 13h Valores: Todos os dias: R$ 120,00| 3x semana: R$ 100,00 | 2x semana: R$ 80,00 | 1x semana: R$ 60,00



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Resgatando Paixões Por Emanuelle Herrera | Fotografias de João Mantovani

O

entra e sai de carros, o toque estridente do telefone, o som de motores acelerando, o cheiro de gasolina e o corre-corre deram lugar a uma tranquilidade que permitia ouvir pássaros cantando em uma árvore, raras vezes interrompidos pelos carros que passavam pela avenida. Era um dia atípico em uma das mais conceituadas oficinas de customização de motores do Brasil, a Herrera Motorsports. Carros de marcas nacionais e importadas, modelos novos e antigos, dividem espaço nos dois galpões que formam a oficina. Entre eles é possível ver um Bel Air azul, um Mustang e

estacionado próximo à entrada, um Opala prata. Todos sob os cuidados do preparador Bruno Herrera. Usando jeans e camiseta branca, os cabelos grisalhos delatam os 46 anos de idade, mais de 20 deles dedicados a desenvolver motores de alta potência e transformar sonhos em realidade sobre quatro rodas. Considerado o mago dos motores, Bruno diz que prefere trabalhar os motores dos carros mais novos “pelo desafio tecnológico que eles oferecem”, mas realizar os upgrades em carros antigos também são desafios que ele aceita de bom grado. Brasa,mora? | maio 2013 33 11


Considerado o mago dos motores... Bruno explica que há dois tipos de restauração: “Existem os puristas, que gostam de restauração clássica, quanto mais próximo do original melhor. E existem aqueles que gostam dos desenhos clássicos, mas por baixo do capô querem tudo de um carro moderno, é a restauração com upgrade”. A Herrera Motorsports realiza esses upgrades nos carangos dos anos 60 e 70, levando a risca os conceitos de desempenho e dirigibilidade em todos os seus projetos. “Querendo ou não, a tecnologia antiga não deixa de ser antiga. Então o cara pega um Maverick, um Mustang, um Bel Air e debaixo daquele 34 Brasa,mora? | maio 2013

carro tem todo um hardware de carro moderno: motor, câmbio, freio, entre outras coisas que tornam o carro mais confortável e seguro”. Os projetos são personificados, elaborados depois de longas conversas com o dono do carro: “Os diálogos são necessários para que possamos entender como o cliente imagina o carro e explicar quais as possibilidades entre o sonho e a realidade, para que ele tenha um carro robusto e durável”. Para Bruno, o que leva uma pessoa a restaurar esses veículos é uma paixão: “O cara que traz um carro desses para cá está resgatando uma paixão. Às


...e transformando sonhos em realidade sobre quatro rodas vezes é um carro que ele queria muito na adolescência e não podia. Às vezes, o pai ou o avô tinha um. É uma ligação emocional que ele tem com o carro”. Entre os últimos trabalhos está um Maverick ano 74, que recebeu em seu motor V8 uma turbina Supercharger Rotrex e cabeçotes de alumínio, além do câmbio manual de cinco marchas com tração traseira. Originalmente com 135 cv de potência, hoje ele chega a 380 cv! Outra sensação é o Mustang 69 que recebeu um transplante de motor de outro Mustang, 26 anos mais novo. Já o Opalla Comodoro ano 77 ganhou um Kit Turbo completo com turbina,

escapamento, além da injeção eletrônica, tração traseira, freios a disco e nada menos do que 360cv. Mavericks, Mustangs, Bel Airs, Chevettes, outros ícones automobilísticos de uma geração inteira e que ainda mexem com os corações dos apaixonados por carros já passaram pelas mãos do preparador. “Fazer esses upgrades, alguns radicais, outros nem tanto, faz com que o carro ganhe dirigibilidade. Imagina dirigir um carro de 1969, com a tecnologia de 1969 no trânsito de 2013, é impossível!”, diz Bruno. B EMANUELLE HERRERA é jornalista

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Salto de Bungee Jump, será que dá? Yara Gonçalez, 63 anos, e a vontade de saltar Por Yara Pezeta

D

esde criancinha, a paulistana Yara Gonçalez, de 63 anos, foi uma pessoa muito Brasa, mora? Sempre a procura de uma boa aventura, ela não deixa de fazer uma boa viagem com a família e curtir a vida. Por conta da separação dos pais, Yara (minha xará), foi criada dentro de um colégio interno, mas isso só fez crescer a vontade de se manter ativa, pois como ela mesma diz “Desde pequena fui ligada no 440w! Curto uma boa caminhada aqui pelos parques de Vinhedo, cidade em que moro agora”. Mas agora, no auge de seis décadas e três anos de vida, Yara quer apreciar uma nova aventura: “Gostaria de saltar de bungee jump....mas agora? Com essa idade? Olha o coração!!” De acordo com a Associação Brasileira

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de Bungee Jump, o salto pode ser feito por qualquer pessoa sem limite de idade. Mas, é bom ficar atento a todas as especificações técnicas antes te saltar. É recomendável que o aventureiro tenha o peso mínimo de 45 kg, e não ter nenhum problema sério de saúde. Também é importantíssimo fazer este esporte acompanhado de um instrutor, segurança em primeiro lugar! Na hora em que for saltar, apenas deixe o seu corpo cair, sem dobrar as pernas e fique, de preferência, com as mãos pra cima. Depois de tudo isso, é só sentir a vibe e curtir a queda! B

Yara Pezeta é jornalista


Mergulhe nessa ideia!

Mas... muita calma nessa hora!

Se vocĂŞ estiver com tudo em cima na saĂşde, escolha os equipamentos corretos e invista nesta aventura! 37 Brasa,mora? | maio 2013 11


Iê, iê, iê, que dia feliz!

No final dos anos 60, Silvio Santos apresenta no Show de Calouros uma das vozes mais aveludadas do Brasil, tão difícil de esquecer quanto a primeira namorada

Por Christian F. Braga e Kelly Cristina Vieira

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Incontáveis televisores já sintonizavam o programa “Show de Calouros”, apresentado por Silvio Santos...

D

omingo Feliz. Em 1968, depois de milhares de famílias se reunirem em volta de uma mesa, com muita macarronada e conversa descontraída, a tarde caía, dando lugar à noite tristonha que precede a segunda-feira. Mas não era um fim de semana qualquer. Incontáveis televisores já sintonizavam o programa “Show de Calouros”, apresentado por Silvio Santos, com o propósito de encantar-se com os novos talentos ou divertir-se com os vexames impostos pelos terríveis jurados mais implacáveis que a tevê já viu. Aracy de Almeida, Alfredo Borba e Henrique

Lupo já estavam a postos para engolir mais um “calouro”, quando, a convite de Valentino Guzzo - a Vovó Mafalda - surgia no palco uma das vozes mais brilhantes do Brasil, Angelo Máximo. Naquele momento, Aracy de Almeida, que tinha o mórbido prazer de achincalhar qualquer cidadão que se aventurasse a pisar no palco do show de calouros, olhava de soslaio e se viu obrigada a soltar um sorriso e aplaudir aquele novato de apenas dezenove anos. Era o começo da carreira daquele cantor que tinha pinta de Elvis Presley e voz de Nat King Cole com Wanderley Cardoso. Brasa,mora? | maio 2013 39 11


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Revista Brasa,Mora? teve o prazer de entrevistar o intérprete de “Domingo Feliz” e “A primeira namorada”, em seu elegante restaurante, no bairro paulistano do Morumbi, o Angelo I. Brasa,Mora?: Sua carreira realmente começou no Show de Calouros ou sua história teve início antes do programa? Angelo Máximo: Começa lá atrás, onde nasci, em Goiânia, apesar de ter sido encomendado em Londrina, no Paraná (risos). Aos seis meses de gravidez, meus pais se mudaram para Goiás. Ali eu cresci, trabalhei depois em Brasília, fui soldado do presidente Figueiredo, no 1º Regimento de Cavalaria, quando comecei a cantar, pois gostava muito do Elvis, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Roberto Carlos e Renato e seus Blue Caps. Logo depois do exército, vim para São Paulo e participei do programa do Bolinha, na tevê Excelsior. Cheguei à final do concurso no Bolinha, quando o Valentino Guzzo me entregou um bilhete, pedindo para eu participar do programa Silvio Santos. E eu fui! (começa a cantarolar “A praia”, de Agnaldo Rayol) Brasa,Mora?: Foi essa oportunidade que te propiciou a primeira gravação? Angelo Máximo: Sim, em seguida fui convidado a fazer um teste na Beverly

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(selo). Eram cinco horas da tarde. Cantei e já assinei o contrato na hora! No dia seguinte já estava no estúdio gravando as músicas. Aí começou... e não parei mais. Brasa,Mora?: Qual foi o seu primeiro sucesso? Angelo Máximo: A primeira foi O nosso amor não está morrendo, quando começamos com aquela correria de visitar rádios, ir para outras cidades, como o Rio de Janeiro. Depois gravei uma canção do meu grande amigo Wando (olha para o alto e acena), que Deus o tenha, grande amigo. E depois... ah, depois... vem o Domingo Feliz. (pausa) Aí já dá emoção, né? (canta emocionado os primeiros versos de Domingo Feliz) Aí era Globo de Ouro, Silvio Santos, Chacrinha e tudo mais! Brasa,Mora?: Quantos discos você vendeu com a música Domingo Feliz? Angelo Máximo: Acredito que com todas as regravações e versões que fiz, já vendi mais de duas milhões de cópias, em toda a minha carreira. Depois com Vem me fazer feliz conquistei um disco de ouro, assim como foi com Barril de Chopp (e começa mais uma cantoria). Após estes sucessos, veio A primeira namorada, que jamais deixarei de cantar, como Domingo Feliz. Brasa,mora? | maio 2013 41


“E depois... ah, depois... vem o Domingo Feliz. Aí já dá emoção, né?...” Brasa,Mora?: E como estão os shows hoje? Angelo Máximo: Hoje temos um show de uma hora e meia, com todas essas minhas músicas de sucesso, além das músicas da jovem guarda, que regravei agora, e muitos temas lindos em italiano, Roberta, Volare, Dio come ti amo... e está chegando o DVD! Brasa,Mora?: Como foi, para a sua carreira, o período de transição econômica que o Brasil viveu nos anos 80 e 90, e o impacto na indústria fonográfica com o invento do sistema digital? Angelo Máximo: Foi muito prejudicial (Muda o tom e franze a testa). A gravadora sempre representou muito para o artista, com a produção, distribuição e divulgação. Com o aparecimento da internet, a divulgação é maior, mas a execução não. Com essa dificuldade aliada às dificuldades econômicas do país somada à pirataria, muitas gravadoras fecharam as portas. Brasa,Mora?: Com todos estes entraves, é possível viver de música no Brasil? Angelo Máximo: É complicado, complicado. Estamos conversando aqui no meu restaurante, o Angelo I, que 42 Brasa,mora? | maio 2013

dia 15 de agosto completa dezenove anos. Atendemos uma média de 600 a 700 pessoas por dia, o que dá um suporte para a minha vida e a da minha família. Mas como a música está em primeiro lugar, eu continuo cantando, mesmo porque muitos programas continuam me chamando, mas se não é esta casa abençoada aqui, seria muito difícil. Viver de música é muito bom, mas quando somos procurados. Agora, quando temos que procurar... já viu. Brasa,Mora?: Até quando vai carreira de Angelo Máximo?

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Angelo Máximo: Vejo ela indo até os últimos momentos da minha vida. Porque a coisa que eu mais gosto de fazer é cantar. Já conheci o Brasil inteiro e muitos países através da música. Tem como parar? Não tem. Brasa,Mora?: Qual foi o momento mais importante de sua vida musical? Angelo Máximo: Olha, foi quando comecei a frequentar os grandes programas de tevê onde eu via os meus ídolos cantarem, e percebi que estava ao lado deles, ficando semanas em primeiro lugar nas paradas de sucesso. Foi um momento maravilhoso.


Vapt Vupt com Angelo Máximo Idade: 65 anos Data de nascimento: 06/10/48 Signo: Libra Time: Santos Bebida: Vinho Lambrusco Comida: Churrasco e Risoto de Camarão Programa de TV: A Escolinha do Professor Raimundo Qual jogador não pode faltar na Copa 2014: Neymar Momento mais emocionante: Ver Domingo Feliz em 1º lugar Momento mais triste: Descobrir um aneurisma (operou e está curado) Quem ficaria na ponta da mesa, em seu restaurante: Roberto Carlos e Pelé Com quem dividiria um Barril de Chopp: Com todos vocês, do Brasa,Mora!!!

Ao final da entrevista, a equipe de Brasa, Mora? fez um breve comentário sobre o ídolo absoluto de Angelo, em referência a sua música “Elvis não morreu”, e com a tarde caindo, não mais em 1968, e também não era domingo, aquela alegria que Aracy de Almeida provou, tocou nossos ouvidos, no restaurante já fechado. E não havia câmeras de televisão, nem jurados, nem valia nada... Ah, valia! Valeu a história de uma figura de carisma insofismável, que agora cantava feliz, para brindar a própria vida. B

Christian F. Braga e Kelly Cristina Vieira são jornalistas

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As paixões de Sílvia Literatura, cavalos, vinho, viagens e a melhor de todas: a VIDA Por Yara Pezeta

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abe, a vida é curta, e você tem que saber aproveitar, e agora, nessa altura do campeonato, eu estou em sintonia fina, cada vez a gente capricha mais nas coisas que gosta de fazer e nas que faz, afinal, não sei quanto tempo mais eu vou poder fazer essas coisas, por isso que eu aproveito muito bem a vida”, quem relata essas frases de inspiração para qualquer ser humano, é a paulistana Silvia Cintra Franco, de 61 anos. Amante da vida como um todo, Silvia não espera o tempo passar para fazer tudo o que lhe dá prazer e felicidade. Dona de um currículo vasto, formouse em Língua e Literatura Portuguesa e Latina pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo em 1974, e logo após entrou no mundo da literatura, onde escreveu livros de aventuras voltados para o público juvenil. “Sempre quis ser escritora, tive várias profissões ao longo da vida, mas efetivamente o que eu sou, é escritora, as outras coisas fui conquistando no decorrer do tempo”, comenta.

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Literatura Para ela, um dos motivos de ela ter tido diversas profissões ao longo da vida é a vontade de sempre buscar algo novo. “Eu costumo dizer que tenho mais interesses do que consigo dar conta. Eu tenho toda uma obra de literatura juvenil, e tenho livros com outros assuntos, como o “Pra que tantos impostos?”, “Cultura, inclusão e Diversidade”, “O que é gastronomia?” e “O que é enologia?”. A essa altura eu acho que não quero continuar escrevendo mais literatura juvenil para não estar escrevendo mais do mesmo. As pessoas tem uma tendência: quando fazem sucesso com alguma determinada obra, continuam escrevendo sobre aquela mesma coisa até que chega uma hora que a criatividade esgota, com exceção de raríssimos casos, as ideias se acabam”, analisa sobre a possibilidade de voltar a escrever. Silvia foi convidada duas vezes para ir até Harvard para apresentar sua obra literária e falar um pouco sobre o Brasil, o que ela considera ter sido uma grande oportunidade e que ela não deixou passar.


Silvia exibe o tĂ­tulo de Dame Chevalier da Ordre des Coteaux de Champagne, de uma ordem medieval que conta com os amantes do Champagne

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“Eu estou fora do tipo do autor que faz mais do mesmo. “ Vinhos e Gastronomia

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e escritora a especialista sobre vinhos, Silvia fez todos os cursos possíveis para se especializar sobre a bebida, e atualmente, é editora de um site sobre Vinho e Gastronomia. “Enquanto escritora, cheguei a lecionar linguística na USP. Mas tive outras colocações profissionais, trabalhei na Fundação Carlos Chagas, fui relações públicas da Companhia de Transporte Metropolitano de São Paulo, fui assessora de imprensa de um grupo feminista chamado Conselho da Condição Feminina, mas chegou uma hora que eu resolvi dar uma de rozzini, e tratar de gastronomia e vinho. Meu site tem sete anos de mercado e estou muito feliz com ele”, frisa. Em 2012, Silvia recebeu o título de “Dame Chevalier da Ordre des Coteaux de Champagne” (Dama Cavaleira da Ordem de Coteuax de Champagne), uma ordem medieval que na época da revolução teve uma queda, mas que nos tempos atuais teve uma grande ascensão, e conta com os amantes de champagne, que rodam o mundo para divulgá-la. “No ano passado fui surpreendida ao receber este título aqui no Brasil”.

Viagens e Cavalos A paixão por cavalos começou quando Silvia ainda era bebê. Ela morava perto da hípica de Santo Amaro, na zona sul da capital paulista, e conta que quando 46 Brasa,mora? | maio 2013

chorava muito, sua babá dizia “Vamos ali ver os cavalos”, o que a fazia parar de chorar instantaneamente. Para ela, a paixão por cavalos existe desde sempre, mas que para ela conseguir ter alguns cavalos demorou muito tempo. “Eu sempre quis ter cavalos, mas entre ter cavalos e conseguir ter cavalos, demora, décadas. Porque você precisa de tempo e dinheiro, e são duas coisas que nem sempre andam juntas. Há cerca de sete/oito anos que comecei a ter cavalos. Eu tenho cavalos para montar, e não para somente ter. Tenho um manga larga e um Lusitano. Eu participei de provas de enduro em 2011, e ganhei em quarto lugar em duas delas”, comenta. Atualmente, Silvia percorre o mundo visitando vinícolas e conhecendo novos lugares. Ela também tem o hábito de fazer viagens de bicicleta, e um dos mais lembrados é o que fez de Praga até Viena. Este ano, a aventureira já passou pela França e sua próxima parada será a Sicília. B

Yara Pezeta é jornalista


“Eu não conseguiria viver sem ter uma vida ativa, eu venho de uma família em que viajar e ler é preciso. Os cavalos são fundamentais na minha vida. Viajar é preciso. Não tenho o menor problema ao revelar minha idade, tenho 61 anos, e sou muito feliz fazendo todas essas minhas atividades.”

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Nas ondas...de calor! Menopausa e climatério, entenda as diferenças e conheça o tratamento para essa fase inevitável da vida de todas as mulheres Por Kelly Cristina Vieira

Veja os principais sintomas:

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Após uma queda drástica dos hormônios estrogênio e progesterona, a menstruação cessa e se inicia a

Menopausa


Ilustração de Gus Morais

Já a menopausa é o marco do período em que a mulher passa da fase reprodutiva para a não reprodutiva

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o contrário do que muita gente pensa, climatério e menopausa não são sinônimos, nem doenças, mas sim uma baixa natural de hormônios femininos que traz consigo uma série de desconfortos. Quando a mulher nasce, ela já traz uma quantidade certa de células germinativas que dão origem aos ovários, conhecidos como folículos linfoides. Essa quantidade de folículos vai diminuindo ao longo da vida e quando a mulher chega à maturidade, por volta dos 45 e 50 anos de idade, ocorre uma queda drástica dos hormônios estrogênio e progesterona.

Esse período em que os folículos se reduzem até cessar a produção dos óvulos, é chamado de climatério. Já a menopausa é o marco do período em que a mulher passa da fase reprodutiva para a não reprodutiva, e que se dá após o climatério e depois de um ano da data da última menstruação feminina. Os sintomas desagradáveis já podem ser sentidos no climatério, e com o fim do último ciclo menstrual essas mudanças no corpo são bem mais intensas. Esses sintomas são na maioria dos casos, ondas de calor - que são chamados de fogachos - e eles geralmente são Brasa,mora? | maio 2013 49 11


Curta mais Curta mais o sol - Expor-se pelo menos 15 minutos ao dia, estimula a produção de vitamina D, que ajuda na absorção do cálcio e ajuda a evitar a osteoporose Curta mais exercícios físicos Atividades físicas regulares ajudam a manter o peso em dia e também a pressão arterial sob controle, além de prevenir a osteoporose e doenças cardiovasculares Curta mais soja e linhaça - A soja e a linhaça são ricos em fitoestrógenos, alimentos que ajudam na reposição hormonal de forma natural, ajudando a minimizar os sintomas da menopausa

acompanhados por sudorese intensa, palpitações cardíacas, tonturas, dores musculares, secura vaginal, além de perda da densidade óssea, onde cerca de um terço das mulheres desenvolvem a osteoporose. Mudanças na aparência também são notadas, pois a pele perde sua elasticidade, levando à flacidez, além de cabelos e unhas que também ficam mais finos, deixando-os mais quebradiços. As mulheres na idade da loba sentem, além das mudanças nos aspectos físicos, as que ocorrem também no sistema nervoso central, que acarretam em irritabilidade, depressão, distúrbios de ansiedade, perda de memória, insônia e também perda da libido. Mesmo com todos esses sintomas, as mulheres na menopausa podem ter uma vida extremamente normal, pois muitos desses sintomas podem ser amenizados com o uso de medicamentos, mudanças no hábitos alimentares e no estilo de vida. B

Curta menos Curta menos o sal - O sal também pode comprometer as células ósseas, o que aumenta a perda de massa óssea Curta menos o cigarro - Fumar pode causar uma antecipação de 12 a 18 meses na idade prevista para a menopausa 50 Brasa,mora? | maio 2013

Kelly Cristina Vieira é jornalista




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