Grupo Pedras Negras

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Sem dúvida, uma simples política de fomento à feiras públicas e mesmo de promoção de mercadinhos municipais, aproximando campo e cidade, propiciaria o desenvolvimento das economias locais e a sustentabilidade da agricultura familiar. O atual Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) é um outro bom exemplo da necessidade de se avançar na gestão dos recursos carreados para o território. Em outra pesquisa do Ibase, essa especificamente sobre o Pronaf, evidenciou-se a dificuldade do programa em coordenar no território os seus componentes de crédito, assistência técnica e infraestrutura, fazendo com que os crescentes recursos dispostos para a agricultura familiar não consigam livrá-la de uma relação subordinada ao agronegócio e da especialização produtiva, como no caso dos grãos (milho e soja, por exemplo). Além do aspecto alimentar, mas associado a ele, constata-se que a centralidade da questão rural se coloca ainda mais pelo uso, em meio à atual crise dos combustíveis fósseis, da biomassa como fonte de energia. Não se trata, nesse caso, de simplesmente reproduzir o modelo produtivista, de subordinação e instrumentalização da natureza e dos trabalhadores do campo por pacotes tecnológicos e estruturas de produção e distribuição profundamente concentradas. Por que a energia produzida em uma região não pode ser comercializada no próprio local? Por que não conciliar de modo integrado a produção de energia e alimentos? De fato, não se pode negligenciar o imenso impacto social que um outro modelo de desenvolvimento rural no país, não centrado na chamadas monoculturas e na exportação, poderia ter em termos de geração de trabalho e renda para o conjunto da população brasileira e da própria redefinição da relação entre o rural e urbano. Essa se constitui hoje, sem sombra de dúvida, em uma questão nacional da maior relevância e urgência. 12. As queimadas na região amazônica respondem por cerca de 75% das emissões brasileiras de gases causadores das mudanças no clima do planeta. Os níveis de emissão têm aumentado tanto nos últimos anos, que o Brasil alcançou um feito inédito – e até há poucos anos inesperado: tornou-se um dos quatro maiores emissores do planeta, aproximando-se perigosamente dos outros dois poluidores mais tradicionais, os Estados Unidos e a China. Como consequência dessa situação, o Brasil se fragilizou internacionalmente. A disparada das emissões brasileiras ocorreu simultaneamente a dois fenômenos científicos. O primeiro, foi a publicação dos relatórios do Painel Internacional para Mudança Climática, da ONU, que solidificou a tese que a intervenção humana é disparadamente a principal razão das alterações do clima. O segundo, foi o avanço da compreensão da importância da Amazônia para a formação do regime de chuvas em uma das principais regiões produtoras de alimentos do planeta, que está localizada em boa parte da Argentina, do Uruguai, do Paraguai e do sul do Brasil. Qualquer perda de capacidade da Amazônia fixar carbono – seja através das queimadas e/ou da derrubada de árvores – influencia decisivamente a capacidade produtiva, principalmente de grãos – entre as principais commodities internacionais – desses países e desta região brasileira, uma vez que o regime de chuvas no sul é determinado pela qualidade dos ventos produzidos na Amazônia. Além disso, o crescimento abrupto das emissões permitiu que mais uma vez retornasse ao debate midiático uma suposta incapacidade deo país gerir seus recursos naturais amazônicos – onde estão algumas das mais extensas e intensas reservas de recursos naturais estratégicos, como água potável de superfície, minérios variados e valiosos, madeiras nobres e uma enorme área agricultável.

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