Dark Writer Br

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As frequentes falhas no Sistema de Posicionamento Global estavam causando uma verdadeira dor de cabeça na população durante os últimos dois meses. Os motivos das interrupções nunca eram informados com precisão pelo Departamento de Defesa, o que só fazia aumentar os questionamentos e suposições. – Talvez a alta temperatura tenha causado alguma confusão no campo eletromagnético – comentou Alice, também surpresa. – Legal, mais um motivo pra gente não viajar! – Mary agradeceu interiormente. Existem outros meios de se descobrir o caminho – disse Charles enfiando a mão no portaluvas e pegando um mapa da Inglaterra, um sorriso satisfeito no rosto. – Barato e prático. Mary viu sua última esperança de não fazer a viagem ir por água abaixo. Desanimada, encostou a testa no vidro da janela e observou os vários casarões e apartamentos do bairro passarem um atrás do outro, os cachorros de raça de seus jardins latindo para o automóvel em que estava. Pouco tempo depois, o carro já havia saído do bairro e pegava a principal estrada que os levaria para fora da cidade. – Não acredito nisso – disse Alice. – Era tudo que a gente precisava para tornar o dia melhor – falou Charles enquanto pisava no freio, parando o carro. O ânimo de Mary foi ao chão quando ela se ergueu para avaliar o tamanho do engarrafamento que iriam ter que enfrentar; uma fila interminável de carros se estendia perante seus olhos, tomando a pista até onde sua visão alcançava. As buzinas não paravam de soar e por toda parte guardas de trânsito tentavam pôr ordem naquela baderna. – Pelo visto nós vamos passar horas nesse engarrafamento – disse ela desanimada. – Se a gente tivesse saído mais cedo, como sugeri ontem, talvez não estivéssemos nesse trânsito – falou seu pai, parecendo irritado. – Agora vai me culpar por estarmos nesse engarrafamento? – perguntou Alice, em tom de quem também está irritada. – E já passou da hora de o prefeito dar um jeito no trânsito dessa cidade. – Acho que deve ter acontecido algum acidente – comentou Mary procurando algum sinal de fumaça que pudesse anunciar um incêndio ou qualquer coisa parecida, mas os altos prédios em volta impediam uma melhor visualização. – Tem de ser uma batida das feias pra deixar a cidade parada desse jeito – comentou Charles observando um guarda discutir com uma senhora que, aparentemente, queria contornar o carro visando passar por cima de um canteiro público. – Eu vou perder o café da manhã com minha nora, não posso me atrasar – gritava a velha, seus óculos escuros, que mais pareciam uma imitação dos olhos de algum inseto, se agitando sobre seu nariz. – Eu vou pegar outra pista que não esteja engarrafada. – A senhora não pode passar por cima do canteiro... ! – dizia o guarda, mas a idosa pisou fundo e seu velho carro de cor laranja contornou por cima do canteiro e foi para o outro lado da pista, deixando o guarda coberto de fumaça e terra. – A senhora vai... Cofff!... receber uma multa por isso! – gritou ele tossindo, enquanto pegava a prancheta e anotava os números da placa do carro. – É, nosso dia promete ser muito agitado – disse Mary boquiaberta, olhando para o pontinho laranja, o automóvel da coroa, que cada vez ficava mais distante. – Quero chegar à terceira idade com a disposição dessa senhora. O tempo foi passando, mas ao contrário do tempo, o automóvel onde estavam pareceu não sair do lugar. O trânsito ainda estava muito engarrafado e havia muita estrada pela frente. As buzinas dos carros soavam cada vez mais estressadas e impacientes, e os motoristas gritavam e xingavam, irritados. Mary já estava começando a ficar com dor de cabeça com aquela confusão toda, mas até agora o motivo do tráfego no centro de Londres estar parado não tinha sido anunciado. Nem os próprios guardas sabiam dizer, ou estavam tão nervosos e ocupados aplicando multas, que fingiam não ouvir as constantes perguntas que estavam


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