HSM Management - Degustação (edição 113)

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estudo de caso do Rock in Rio REVELa COMO É GERENCIAR um dos maiores festivais do mundo

General dos eua no Iraque ensina sobre otipo de equipe que funciona

management

Quer inovar no modelo de negócio? ATAQUE as crenças de seu setor

“ deixei

a crise para os outros”

R$ 54,00 nº 113 NOV./dez.

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Estratégias adotadas por empresas para combater o pessimismo e crescer

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NESTA EDIÇÃo

novembro-dezembro 2015

64 Xiaomi, um unicórnio em

fase de crescimento O Brasil é o primeiro mercado da “Apple do Oriente” fora da Ásia e um teste de força para sua internacionalização.

72 A média gerência

desabafa Gestores relatam o desafio de atuar entre o topo e a base da organização – e contam o que fariam de diferente.

Nosso código de cores HSM Management organiza seu conteúdo pelos temas de gestão que mais interessam aos líderes de hoje e de amanhã. Cada matéria tem um tema principal e, de modo multidisciplinar, aborda outros. Identifique os temas também pelas cores:

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estratégia e execução liderança e pessoas empreendedorismo educação executiva ética e sustentabilidade inovação marketing e vendas

18 Geekie e o

aprendizado adaptativo Essa startup criou um algoritmo que identifica os gaps de conhecimento dos estudantes e adapta o conteúdo. Está crescendo muito.

58 Vire suas crenças de

cabeça para baixo Eis a maneira de as companhias tradicionais conseguirem inovar em modelo de negócio.

82 O general e seu

time de times O comandante dos EUA no Afeganistão e no Iraque achou um modo de gestão alternativo. Rock in Rio Conheça os pilares estratégicos do Rock in Rio, que em 30 anos se converteu em uma marca global poderosa posicionando-se como uma Disney dos festivais de música. Cobertura exclusiva do Rock in Rio Academy by HSM.

direto ao ponto

8 Contagem regressiva com Marc Goodman • 12 16 Apesar da crise... afaste a negatividade 4

| edição 113

Garantindo que você é você •

ISTOCKPHOTOS; DIVULGAÇão

88 No backstage do


“Deixei a crise para os outros” Conheça a mentalidade e as armas de gestão de empresas e gestores brasileiros que se recusam a ser abatidos pelo atual período de incertezas. Eles querem estar prontos quando a economia voltar a crescer.

1. 2. 3.

98 E a Galinha Pintadinha

chegou lá Com a primeira marca brasileira no ranking dos maiores licenciadores do mundo, a Bromélia Produções vive um novo desafio: continuar lá.

100 Empresas falam a

linguagem do real Aproximar-se dos consumidores de carne e osso não transforma só a área de comunicação; pode mudar as organizações.

106 UniBB e o desafio de

antecipar o futuro Visite a universidade corporativa que foi eleita a melhor do mundo. Ela é brasileira.

A crise é feia, mas você pode com ela p. 26 Tempos difíceis pedem gestores desesperados audaciosos p. 36 Empresas que se mobilizam e inspiram p. 46

colunistas

24 86

do Empreendedor: Cesar Augusto Carvalho • 70 do André Barrence • 80 do Pedro Mandelli • do Líder: Osvaldo Barbosa de Oliveira • 104 do Trainee • 114 da HSM: Rivadávia Drummond edição 113 |

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direto ao ponto

Contagem regressiva com

MARC GOODMAN

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Na série de TV CSI: Cyber, babás eletrônicas são hackeadas por bandidos que querem sequestrar os bebês. Quão realista é esse tipo de ameaça? Quanto devemos nos preocupar? A ameaça é muito realista e devemos nos preocupar demais. Recentemente, um jipe Cherokee foi hackeado em Saint Louis, nos EUA, quando trafegava a 120 km/h em uma via pública. Os hackers foram capazes de desligar o motor do veículo e pará-lo completamente. É desesperador. Enquanto a maioria de nós ainda se preocupa “apenas” com hackers invadindo computadores, servidores e, mais recentemente, celulares, muitos objetos físicos do mundo estão ficando hackeáveis porque estão sendo conectados à internet. É o que está sendo chamado de internet das coisas – segundo a Cisco, haverá mais 50 bilhões de “coisas” ligadas à internet em 2020. Mais equipamentos de ginástica, carros, marca-passos, grids de eletricidade, hospitais, oleodutos, fábricas, lâmpadas, drones, animais de estimação, iluminação de rua e termostatos estão ficando online e, portanto, tornando-se hackeáveis. Quando isso acontece, a “superfície de ameaça” aumenta absurdamente. A verdade é que os hackers têm cada vez mais locais sobre os quais agir, para nos afetar com finalidades nefastas. E tentarão fazê-lo. Precisamos nos prevenir.

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Saiba mais sobre Marc Goodman Quem é: Estrategista global e consultor especializado no impacto dos avanços tecnológicos sobre a segurança, as empresas e as relações internacionais. Já atuou em mais de 65 países. Trajetória: Ao longo de 20 anos, trabalhou com organizações como Interpol, ONU, Otan e FBI (onde foi futurista residente), adquirindo vasta experiência em ameaças de última geração à segurança pessoal e empresarial, incluindo crimes no ciberespaço, terrorismo cibernético e guerras informatizadas. Empreendimentos: Fundou recentemente o Future Crimes Institute, para treinar as pessoas sobre implicações de segurança e riscos das tecnologias emergentes.Também é professor da Singularity University, da Califórnia. Seu livro, Future Crimes, foi lançado em 2015.

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Os perigos devem ser sentidos em curto prazo (10, 20 anos) ou isso ficará mais para o longo prazo (50, 100 anos)? Em curto prazo, continuaremos a ver uma variedade cada vez maior de ataques contra as infraestruturas tecnológicas atuais. Criminosos atacarão a internet das coisas e usarão ambientes de imersão, como a realidade virtual, contra nós.Traficantes de drogas usarão a tecnologia de impressão 3D para imprimir drogas em casa. Para o longo prazo, conforme os campos da biologia sintética, genética e inteligência artificial se desenvolverem, podemos esperar que também sejam alvo de abuso, não só por criminosos e terroristas, mas até por Estados nacionais.

3

Como se prevenir contra isso? Temos de começar já a analisar as implicações de segurança e privacidade de todas as ferramentas tecnológicas de nossa vida. Quem deixar para depois enfrentará graves consequências. Em meu livro [Future Crimes, ou Crimes do Futuro], criei o que ficou conhecido como Protocolo Update. São seis passos simples que toda pessoa pode adotar para se proteger. Eles se baseiam em uma pesquisa do Ministério da Defesa da Austrália, segundo a qual os usuários que seguem esses seis passos reduzem os riscos em 85%. [Veja quadro ao lado.]

Divulgação

O especialista em segurança de tecnologia alerta para as ameaças criadas com as inovações tecnológicas e sugere um protocolo de seis passos para preveni-las


O protocolo

UPDATE U

, de update (atualização). Os softwares sempre têm bugs que os tornam mais vulneráveis. Atualize-os automaticamente.

P

, de passwords (senhas). Não use a mesma senha em vários dispositivos. Use um programa de gestão de senhas para gerá-las, sem a necessidade de memorizá-las. Se der, adote o sistema de identificação por dois fatores, que significa receber uma senha pelo celular para uso cada vez que for utilizar um recurso da internet.

D

, de download (baixar). Só baixe programas de fornecedores confiáveis e desconfie sempre de quem oferece softwares “grátis”. Leia as permissões dos apps. Se são gratuitos, sua privacidade não está garantida.

A

, de admin (administrador). Evite operar contas de usuário com status de administrador do sistema, pois nelas, se você clicar em um link malicioso quando estiver logado como admin, corre o risco de ver um software indesejado se instalar em seu computador.

T

, de turn-off (desligar). Desligue o computador ou pelo menos o Wi-Fi quando a máquina não estiver em uso. Ninguém terá acesso a sua máquina se ela estiver off-line.

E

, de encrypt (encriptação). Windows e Mac têm programas gratuitos de encriptação total do disco. Use softwares de VPN (virtual private network) quando estiver usando redes Wi-Fi públicas. Coloque senha em seu smartphone na última versão do Android ou iOS, pois isso dificulta o acesso e encripta os dados.

2 1 O primeiro hacker de contas bancárias era brasileiro e sabe-se que nossos bancos sofrem muitos ciberataques. Os países em desenvolvimento são mais vulneráveis? Não creio. Há quase 3 bilhões de pessoas online no mundo e todas estão igualmente vulneráveis, não importa se vivem em um país rico ou emergente. Além disso, os bilhões remanescentes ficarão online logo, com aparelhos móveis, e, por causa da incrível onda de inovação e desenvolvimento econômico que virá para eles, a vulnerabilidade será maior. Sobre os brasileiros, eu diria que a maioria dos geeks de vocês está usando suas habilidades para beneficiar a sociedade, tanto que há uma cena estimulante e vibrante de startups de tecnologia em cidades como São Paulo. Entretanto, sempre existirão pessoas ruins, em todos os lugares, e elas vão usar suas habilidades para tirar vantagem das outras.

Uma organização como o Wikileaks é um modo de ser hacker do bem? O lado bom dos hackers é que, sempre que houver evidência de crime no mundo contemporâneo, podemos esperar que eles entrem em ação para nos defender. Agora, não é fácil responder sobre as atividades do Wikileaks. De um lado, uma sociedade transparente beneficia a todos, sim, e é preciso mesmo expor todo tipo de corrupção do governo, fraudes e transgressões. Porém, de outro, há realmente a necessidade de segurança nacional, e o Wikileaks a ameaça. Eu diria que deve haver equilíbrio entre denúncias justificadas e segurança nacional; sempre que não houver, a organização responsável pelo vazamento de dados não será do lado do bem. edição 113 |

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coluna do

LÍDER

Osvaldo Barbosa de Oliveira É diretor regional do LinkedIn para a América Latina. Gerencia as áreas de negócios de soluções de talentos, soluções de marketing e soluções de vendas de toda a região. Foi responsável pelo início das operações da empresa no Brasil, em 2011. Antes, atuou por 20 anos na Microsoft.

SOBRE UMA VANTAGEM COMPETITIVA NADA ÓBVIA

T

oda empresa busca criar vantagens competitivas para crescer e criar valor. Podem ser patentes (como acontece com a indústria farmacêutica), acesso a recursos naturais únicos (mineração), canais de distribuição (varejo), entre outras. O rápido avanço tecnológico tem provocado mudanças disruptivas no cenário competitivo, levando à ideia de que a verdadeira vantagem competitiva seria a capacidade de adaptação e inovação das empresas. Nesse raciocínio, os talentos da organização, que são os únicos recursos que efetivamente podem transformar conhecimento em estratégia e estratégia em execução, seriam a real prioridade e vantagem competitiva. Porém como podemos garantir um ambiente que favoreça não só a atração e retenção de talentos, mas também o alinhamento necessário para conduzir a inovação e a realização dos objetivos corporativos no longo prazo? Acredito que a criação de um conjunto de valores sólidos que representem a empresa e possam ser absorvidos por todos

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| edição 113

os colaboradores seja a base fundamental para o sucesso corporativo. Não são frases vagas em um quadro na parede da empresa, e sim os princípios operacionais que usamos para gerir os negócios. Se todos os talentos da empresa, independentemente de sua posição hierárquica ou função, incorporarem esses valores para a tomada de suas decisões, estou convencido de que teremos uma organização voltada para o sucesso. Especialmente em situações complexas, ambíguas ou de concessões de curto versus longo prazo é que vemos a importância de uma âncora de valores fortes. Os valores não são conceitos abstratos e dissociados dos negócios. Não devemos buscá-los em manuais ou em outras organizações, mas criá-los internamente, de modo que representem o DNA e a aspiração da empresa. Para isso, é importante também ter claras a missão (o objetivo mensurável), a visão (diferente da missão, é o verdadeiro norte da organização, inspirando e criando um senso de propósito) e a cultura (a personalidade coletiva da empresa e aquilo a que ela aspira ser). Salários e benefícios, como assistência médica, seguro de vida e fundo de pensão, são commodities facilmente implementadas por qualquer organização que queira ser competitiva. Valores e cultura são únicos; não podem ser

OS VALORES NÃO SÃO CONCEITOS DISSOCIADOS DO NEGÓCIO; NO LINKEDIN, O PRINCIPAL VALOR É “USUÁRIOS EM PRIMEIRO LUGAR”

copiados. Pesquisas mostram que cada vez mais candidatos estão buscando empresas que tenham um propósito e valores sólidos em vez de marca ou posição de destaque. Dou como exemplo nosso LinkedIn, cujo principal valor é “usuários em primeiro lugar”. Sendo uma rede que tem como missão “conectar profissionais do mundo todo para torná-los mais produtivos e bem-sucedidos”, sabemos que nosso sucesso está diretamente relacionado com a utilidade do que entregamos aos aqui inscritos. Nossos serviços corporativos, responsáveis por 80% de nossa receita, são uma consequência da existência dessa massa de usuários; portanto, nada mais lógico que “usuários em primeiro lugar” seja nosso principal valor. Os líderes, a começar pelo conselho de administração e pelo CEO, têm papel fundamental nesse processo. Cabe-lhes definir tais valores, demonstrá-los no dia a dia (liderando pelo exemplo) e manter os colaboradores responsáveis por eles e segui-los. Assim estarão criando a verdadeira vantagem competitiva.

ARQUIVO PESSOAL

Os valores corporativos são “a” vantagem competitiva por excelência, porque promovem o alinhamento essencial e não podem ser copiados


marketing e vendas | reportagem

Empresas falam a

LINGUAGEM DO REAL

I Vale a leitura porque... ... algumas empresas, como a Natura, estão conseguindo até 8 milhões de visualizações na internet para campanhas marcadas pela linguagem do real, em que o consumidor é o protagonista. ... esse tipo de comunicação, chamado de buzz marketing, traz alguns benefícios importantes para as marcas. ... é preciso entender também as mudanças que o buzz marketing impõe às empresas.

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Imagine você dando plantão na véspera de Natal em um hospital e, de repente, um chef de cozinha lhe oferece uma lauta ceia. Ou você no Dia dos Pais em um estádio de futebol com seu filho e, no intervalo da partida, este aparece no telão para homenageá-lo. Ou a leitora, grávida de sete meses, que, passeando distraída em uma rua de lojas, acha na bolsa um delicado par de sapatinhos de lã com um vale-enxoval. Todas essas histórias são reais. E todas são ações de marketing. Cada vez mais marcas brasileiras, como Electrolux, Kleenex, Natura, GVT, Itaú e Toyota, têm incluído em suas campanhas de publicidade esse novo formato de comunicação: vídeos com histórias reais de consumidores, normalmente cativantes ou engraçadas, provocadas pelas empresas. A marca normalmente aparece como coadjuvante e o protagonista é o consumidor. O resultado almejado? Que esses vídeos viralizem na internet, o que pode custar menos que a mídia tradicional. Os números revelam o potencial de viralização. A primeira campanha que citamos, do hospital, foi da Electrolux e teve mais de 4 milhões de acessos. A segunda, da Natura, já alcançou 8,7 milhões de visualizações. A terceira, da Kleenex, somou 1,5 milhão.

O conceito por trás desse formato, batizado de buzz marketing, não é novo – surgiu há cerca de 20 anos nos Estados Unidos –, mas ganhou força mesmo com a internet e, no Brasil, prolifera de três anos para cá. As empresas não estão passando incólumes pelo buzz marketing. O conceito já gera mudanças no modo como operam e, no limite, pode transformar suas estratégias de marketing, seu relacionamento com os consumidores e até, quem sabe, sua mentalidade. As razões da tendência A viralização na internet é apenas a ponta do iceberg do que se busca com o novo formato. A eficiência da mensagem para chegar ao alvo é um dos aspectos mais importantes. “Na internet conseguimos customizar e segmentar a mensagem que a marca quer passar”, define Sandra Montes, diretora de marketing da Electrolux para a América Latina. Com a agência F/Nazca, a fabricante de eletrodomésticos tem trabalhado esse formato desde 2014 e as três campanhas que já fez somam mais de 8 milhões de visualizações.

ISTOCKPHOTO

Tendência cada vez maior, a publicidade conta histórias de pessoas reais, interagindo com os consumidores | por LUÍS INDRIUNAS



marketing e vendas | reportagem

Médicos Sem Fronteiras Expatriados do Congo

ActionAid Sim ou Não

Kleenex O Embolsador

Sony Pictures Brasil Pixels

Toyota Velozes e Furiosos

Itaú Rock in Rio

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cionados com a GVT no Google aumentou mais de 50% entre os consumidores. Seja pela aproximação, seja pela relação emocional, seja pela confiança, o buzz marketing está levando as empresas a aprender uma nova língua para “conversar” com a sociedade, não só com seus consumidores. Esta é chamada de “linguagem do real” por Gilberto Topczewski, diretor da BigBonsai, agência que produziu a campanha do Itaú para o Rock in Rio, em que as pessoas participavam de um karaokê na rua. A linguagem do real constitui também um instrumento de prevenção contra um eventual afastamento, hoje mais fácil de ocorrer graças à internet. “Sabemos que as redes sociais deixam as marcas vulneráveis a críticas, mas campanhas como essas aproximam marcas e consumidores nas mesmas redes”, analisa James Scavone, diretor de criação da Agência Salve, que fez as campanhas da Klee-

nex e da Natura e é voltada para esse tipo de publicidade.

Ao optarem pela interseção entre conteúdo e publicidade, as empresas buscam uma forma de lidar com a sociedade mais do que com consumidor, na visão de Gilberto Topczewski, diretor da BigBonsai

Mudanças nas empresas A linguagem do real dá mais trabalho às empresas. Em primeiro lugar, o planejamento deve ser minucioso. A Agência Salve, por exemplo, fez uma campanha para a Toyota em que, ao pedirem um táxi, os fãs dos filmes Velozes e Furiosos eram atendidos por um sósia do ator Dominic Toretto dirigindo um Toyota Supra. Para chegar aos fãs, a Salve teve de contatar suas namoradas pelo Facebook. “Elas sabiam, mas eles eram pegos de surpresa”, conta Scavone. No planejamento, todos os possíveis desdobramentos precisam ser antecipados, para que se saiba como agir. Tome-se como exemplo a campanha da Kleenex, batizada de O Embolsador, na qual o ilusionista Philip Blue escondia presentes nas bolsas de mulheres que andavam pela Rua Oscar Freire, em São Paulo. Dá para imaginar

DIVULGAÇÃO

Busca-se uma humanização de marcas e produtos e, assim, uma aproximação entre empresas e consumidores. “Nosso objetivo era que as mulheres que assistissem à campanha enxergassem em si mesmas o sentimento exposto, como a ansiedade na espera pelo filho”, observa a gerente de marketing da Kleenex, Ana Helena Ferraz. “Com essa identificação, o consumidor tende a criar uma relação emocional com a marca, o que gera uma posterior fidelização”, complementa Montes. Tornar a marca mais confiável também é um objetivo. “Pessoas comuns têm mais credibilidade do que qualquer marca”, destaca André Felipe, diretor de criação da Ginga. A agência digital produziu para a GVT, com a Loducca, a campanha #contacomigo, na qual blogueiros, todos clientes da GVT, dos mais diferentes perfis, contam a história de seus blogs. O impacto foi grande: no pico da campanha, a intenção de busca por termos rela-


Electrolux A Cozinha da Fantasia

Electrolux Uma Noite Especial

Natura Dia dos Pais

GVT #contacomigo

Trident Ela me Deixou – Skank

Fiat Safe Key

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alguns dos problemas que ocorreram por conta disso, certo? Vale acrescentar que foram necessárias muitas horas de gravação para chegar às melhores histórias. O buzz marketing está levando as empresas a ir além das campanhas. Pode ser algo simples, como fez a Electrolux em sua campanha de Dia das Mães: depois de veicular o filme A Cozinha da Fantasia, no qual mães cozinham enquanto seus filhos contam histórias, organizou kits com desenhos feitos com base nas narrativas contadas pelas crianças e os distribuiu. Ou pode ser algo mais complicado, como o desenvolvimento de soluções tecnológicas. Esse foi o caso da Fiat, que contratou a startup de tecnologia e design D3 para desenvolver um produto que seria o vetor de uma grande campanha com linguagem do real: a Safe Key Fiat. Trata-se de uma chave com bafômetro: se você soprar e tiver ingerido álcool, a Safe Key Fiat não abre o carro. Edson Pavoni, sócio da D3, tem outras soluções tecnológicas para buzz no currículo, como o trabalho para a Trident em torno de um videoclipe da banda mineira Skank: as pessoas podiam fazer uma versão personalizada do videoclipe e compartilhá-la no Twitter. Ou ainda o app Bloom, para o Rock in Rio, um aparelho instalado em vários pontos do evento que deu a cada smartphone o poder de agendar horários nos brinquedos sem ter de enfrentar filas – o gatilho

+ ação As empresas acabam tendo de agir mais para poder falar a linguagem do real, como fez a Fiat ao criar uma chave-bafômetro que trava a porta do carro quando o motorista está alcoolizado

perfeito para gerar vídeos espontaneamente compartilha­ dos na internet, dispensando até um filme oficial. Segundo Marcelo Pontes, chefe do departamento de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), esse movimento de buzz com soluções tecnológicas só deve intensificar-se no Brasil, especialmente com a

Olimpíada de 2016. “Oportunidades não faltarão”, diz. Inspiração documental Organizações sem fins lucrativos, nas quais a linguagem do real é uma prática enraizada há mais tempo, dão dicas sobre o futuro dessa tendência. Tome-se como exemplo o trabalho da produtora Fato, do Rio de Janeiro, cuja equipe foi para um campo de exilados do Congo filmar a médica Ana Maria Amorim, brasileira, do Médico Sem Fronteiras. “A realidade acaba sendo repassada para a campanha com força”, afirma Glauco Kuhnert, diretor da produtora. Quem sabe a comunicação corporativa não se aproximará cada vez mais dos documentários – e, depois, da vida real.

Você aplica quando...

... decide experimentar o buzz marketing para, em um primeiro momento, aproximar-se de seus consumidores e, depois, para comunicar-se abertamente com a sociedade em geral. ... dispõe-se a adotar ações reais que precedam ou acompanhem uma campanha desse tipo, tais como soluções tecnológicas.

edição 113 |

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coluna direto ao da coluna do PONTO

Rivadávia Drummond É professor e presidente da HSM Educação Executiva, mas gosta de se apresentar também como pai da Anna Sophia e baterista.

CONSTRUINDO O ROCK IN RIO ACADEMY A inovação incluiu trabalhar confiança criativa e design thinking, além de colaboração interorganizacional; e nossa experiência pode ser útil para sua empresa também

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rior. Meu conselho é: embarque na Hellmann’s Airlines (viaje na maionese)! Não permita a censura ou o julgamento precipitado. 4. Prototipação. O que interessa mesmo é o “prototipando”! Transforme as divagações e ideias das fases anteriores em algo do mundo físico. Pode ser qualquer coisa que se materialize: uma parede de post-its, um objeto, uma narrativa ou até um desenho. O protótipo só tem valor se as pessoas puderem interagir e experimentá-lo. Protótipos nos permitem uma conversa com nossas ideias e propiciam feedback imediato sobre o que funciona e o que não funciona. Não tenha medo de errar: se fracassar, terá sido um fracasso honesto e de baixíssimo custo. 5. Teste. O objetivo dessa fase é coletar inúmeros feedbacks sobre os protótipos construídos. Observe a utilização e o engajamento dos pri-

meiros a experimentar. Aqui você pode descobrir que a solução ainda não é boa o bastante ou que o problema não foi definido corretamente. Por fim, um tripé de conceitos, construídos ativamente pela liderança, deu musculatura à participação do time nesse processo: a confiança criativa, o pensamento do design (design thinking) e a inovação. A confiança criativa é que faz o time colaborar ultrapassando as fronteiras, como nesse caso de colaboração entre duas organizações – HSM e Rock in Rio; o método adotado por designers é que ajuda a descobrir as suposições escondidas nos problemas a serem resolvidos; e a inovação tem de ser vista como um esporte de contato, que demanda de nós o melhor que temos para dar todos os dias. Repassando um dos destaques do Rock in Rio 2015, eu lhe pergunto: “Ready, Freddy?”.

MEU CONSELHO É: EMBARQUE NA HELLMANN’S AIRLINES! NÃO PERMITA O JULGAMENTO PRECIPITADO!

LOLASTUDIO: ZEN

“E

se fizéssemos um estudo de caso ao vivo no qual os participantes pudessem interagir diretamente com os protagonistas do caso?” Essa foi nossa proposta ao juntarmos os times da HSM Educação Executiva e do Rock in Rio para desenvolver o RiR Academy by HSM. Uma pequena maluquice? Talvez, mas a proposta pode ser adjetivada de várias outras maneiras, como altamente colaborativa e realmente inédita na educação executiva brasileira. O caso Rock in Rio em si é uma inspiração para qualquer empresa e está bem desenvolvido na página 84 desta edição. O que eu quero compartilhar com o leitor é como nasceu o Rock in Rio Academy. Inspirados na d.school, de Stanford, utilizamos um processo criativo e não linear de cinco elementos para chegar a essa inovação. 1. Empatia. Partimos do princípio de que inovar é responder a uma pergunta simples: que problema o cliente (prospect ou suspect) está tentando resolver? E, então, como podemos tornar sua vida mais fácil, simples, barata e conveniente? A empatia é a base do processo de design centrado em gente. A lição aqui é que você não desenhe ou construa para você! Esqueça a pesquisa de mercado ou o roteiro de entrevistas: deixe que os usuários guiem a conversa e expressem suas emoções. 2. Definição. Trata-se do retorno dos encontros de empatia com “gente de verdade”, com vista a desdobrar e sintetizar as descobertas. O objetivo é focar e gerar um bom ponto de vista que permita emoldurar o problema. 3. Ideação. É a geração de ideias rápidas e em grandes volumes tentando identificar soluções para o problema definido na etapa ante-


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