HOUSE MAG IMPRESSA - BLAZY #52

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TENDÊNCIAS MUSICAIS

O que esperar para 2025?

REDUÇÃO DE DANOS

Iniciativa essencial em eventos como um cuidado necessário.

HOUSE MAG FESTIVAL

A nova pérola da cena nacional.

E-MUSIC NOS GUETOS

Catalisador de cultura e inclusão.

CLUBES EM CRISE?

Em meio à instabilidades, marcas brasileiras emergem como potência.

GUI BORATTO

COLETIVOS BR

ADE 29a EDIÇÃO FUNK E HIP-HOP PRETAS NO FRONT CLEMENTAUM

Conquistou o topo das paradas do Beatport e se tornou um dos maiores expoentes do psytrance, levando a nossa bandeira para o maior evento de música eletrônica mundial, o Tomorrowland Bélgica.

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Alexandre Albini @alexandrealbini

EDITORIAL

“Todo e qualquer tipo de ato violento e abusivo, verbal ou físico, seja motivado por machismo, homofobia, transfobia, racismo, xenofobia, gordofobia ou contato íntimo não consensual, não será tolerado”, era o aviso já em 2018 nos eventos da Masterplano que, como outros coletivos, buscam entregar locais seguros para seus frequentadores (no país onde mulheres são vítimas de feminicídio a cada seis horas e de estupro a cada seis minutos). Alerta indispensável num momento em que o extremismo ganhava força, com violência e preconceitos sendo legitimados e normalizados por lideranças radicais mundo afora. Esta revista, inclusive, na edição 49 de junho daquele ano (minha última, após nove comandadas), estampava um especial que trazia 12 páginas sobre diversidade racial, sexual e de gênero.

Mesmo que nunca seja o bastante reforçar que a comunidade LGBT+ e negros sempre exerceram papéis fundamentais na história da música eletrônica (relatado no livro Bate Estaca), é inegável que este estilo sofre preconceito onde o conservadorismo tem forte atuação; cujas as pistas de dança continuam servindo como ambientes acolhedores, de liberdade, hedonismo e de resistência contra intolerâncias. “Som de drogado”, como se substâncias ilícitas ou lícitas (que impactam relações interpessoais e acidentes de trânsito, à exemplo do álcool) não estivessem em todos os âmbitos. Ainda que para tantos a política de redução de danos incentive o uso, é imprescindível abordagens preventivas que procuram oferecer informações dos riscos a quem opta por consumi-las.

Uma das ‘verdades inconvenientes’, na nação que mais mata travestis e transgêneros. Embora condutas homofóbicas e transfóbicas tenham sido enquadradas pelo STF na tipificação da Lei do Racismo, muito precisa ser feito para punir e evitar crimes dessa natureza. E uma ação bem-vinda, difundida para promover pluralidade, tem sido as listas de acesso “T”. Desrespeitos do público com equipes de serviços gerais e demais funções também são comuns. “Peças essenciais de qualquer evento, erguem cenários, garantem segurança para que o caos esteja sob controle, ajudam na limpeza transformando excessos em uma experiência fluida... enfrentando jornadas exaustivas, equipamentos inadequados, baixos salários e relações de trabalho irregulares”, aponta a matéria sobre ‘heróis invisíveis’.

Casos de violência policial, por uso excessivo da força que geram letalidade evitável, frequentes na história, mas que agora viralizam e são manchete, provam que esse modus operandi de repressão — por despreparo ou falta de monitoramento— pouco mudou desde os bailes do movimento Black Rio, durante a ditadura, conforme retratado em ‘identidade racial’. Porém, ações como Techno na Quebrada, Oficina de DJ e outras vêm mudando esse estigma, ao serem catalisadores de cultura e inclusão social em regiões periféricas. Seja pela influência do hip-hop (cuja figura do DJ e do MC divide protagonismo com o break e o grafite) e/ ou do funk —analisada, respectivamente, em reportagens distintas—, têm em comum de trazer a música eletrônica de volta às suas raízes pretas.

COLABORADORES

Gábi Loschi @gabiloschi

Há 17 anos a revista brasileira de música eletrônica. Eleita quatro vezes como “melhor veículo especializado” do país pelo Brazil Music Conference.

Adriano Canestri @adrianocanestri

Isabela Rosa @umaextrafunk
Aghata Prado @agrabah_
Iasmim Guedes @iasmimguedes
Duda Rezende @dudardisco
Isa Junqueira @isa_be_la
Kalani Silveira @kalanims
Alexandre Bezzi @alebezzi_
Bruno Artois @_brunoartois
Bruno Bellato @bellatobruno

Diversidade maior também nas cabines, com mais mulheres tendo destaque nos lineups. Adalamoon, BLANCAh, Clementaum, Devochka, Ekanta, Kenya20hz, Marta Supernova, Nihanna e Valenttina Luz contam seus projetos e vivências. Almanac, Blazy (expoente de um estilo até então inédito em capas da HM), Fatsync, Gui Boratto, Guy J, Patife e Querox são alguns dos representados, além de outros talentos em ascensão. Numa cena que talvez nunca teve tantas vertentes em alta e disputando relevância —detalhado na pauta de tendências—, é a primeira edição em que house, techno, psytrance e DnB (além de garage e outros) têm espaço junto e coexistem de fato, unido a um leque de assuntos que vai de comportamento de gerações, inteligência artificial, perda auditiva, influencers, produção musical; à moda e muito mais.

Maneiras e lugares de se consumir música, seja com vinil; num bar/balada tipo listening; em percepções do sound healing; em clubs como Surreal, D-EDGE, Greenvalley, Warung e Laroc/Ame que seguem crescendo e ganhando visibilidade internacional; ou em meio a multidões no House Mag Festival e Universo Paralello. Formas de senti-la, como nos casos de inclusão PcD da HM Academy: Aloss, ex-aluno de discotecagem, que tem sua própria festa para pessoas surdas; e Theo, DJ cego de nove anos, cuja sensibilidade impressiona. E HeyDoc!, artista com transtorno do espectro autista que já rodou o mundo. Sem esquecer o trabalho fundamental dos Fotógrafos e dos VJs — que transformam ondas sonoras em imagens num mercado que incorpora cada vez mais o visual.

Mas nem tudo são flores. Mudanças climáticas já impactam eventos como The Town, UMF Miami e Burning Man (surpreendido em 2023 pelas chuvas mais fortes na região em décadas). Não à toa, iniciativas do setor buscam gerar sustentabilidade a partir do gerenciamento de resíduos, reutilização de plásticos, compostagem, energia renovável, e desenvolvimento de economias circulares que envolvem comunidades próximas. Agências como Season Bookings, Atomic Soda e The BOREAL, conferências como Amsterdam Dance Event, a busca por formas de tornar a sua marca a melhor escolha, evolução de contratos musicais, indicações ao Grammy Latino como do álbum de Alok em parceria com indígenas, e um número crescente de brasileiros no topo dos charts, demonstram a maturidade do nosso setor.

Com pés no chão e conscientes de que pontos precisam ser aprimorados, seguimos analisando o todo com a independência necessária, muito amor pela causa e otimismo —através de uma programação de verão que promete ser das melhores dos últimos anos, impulsionada por ampliações de clubs e investimentos em infraestrutura de festivais (que, tendo pouco ou nenhum apoio do Executivo e Legislativo nas três esferas de poder, estimulam o ‘turismo de experiência’ e a ‘economia noturna’ das cidades, movimentando hotéis, restaurantes e o comércio local); além de uma cena alternativa pujante e formação de novos talentos. Vida longa à música eletrônica! Alexandre Albini Editor-chefe

Direção executiva

Jorge Vieira Junior (Fundador) jorgejunior@housemag.com.br

Jeniffer Ávila (CEO) jeniffer@housemag.com.br

Diretora de conteúdo Gabriela Loshi gabi@housemag.com.br

Editor-Chefe Alexandre Albini

Branding Vicente Waengertner Sulzbach wsdesign.ws

Direção de arte Catia Herreiro arte@housemag.com.br

Colunistas online Iasmim Guedes @iasmimguedes

Rodrigo Airaf @airaf___

Mathews Dornelas @mattdornelas

Tozzi @tozzimusic

Adriano Canestri @adrianocanestri

Comercial Janaína Somoskovitz +55 48 99200-2002

Laura Marcon @lauravmarcon

Matt Dornelas @mattdornelas

Leo Lamoda @____lamoda

Leticia Azevedo @azvleticia

Rodrigo Airaf @airaf___ Rodrigo Rodriguez @rodrigorodriguez

Victor Raphael @vicraphael_

Contato redação gabi@housemag.com.br

Jurídico SMN Advogados

Redes sociais @housemag

Mari Boaventura @boaventuramar
Luiza Serrano @luoliserra
Vitoria Zane @vitoria.zane

O FUTURO É ANCESTRAL

Álbum de Alok, com participação

de indígenas brasileiros, recebe indicação na categoria de ‘Melhor Performance de Música Eletrônica’ no Grammy Latino

Quando Alok anunciou o lançamento de O Futuro é Ancestral —que saiu em abril deste ano—, estava claro que não seria um álbum qualquer. Mais do que música, era um movimento. O disco, em parceria com artistas indígenas brasileiros, trouxe ao centro do palco cantos e a cultura dos povos originários, tão rica e pouco conhecida pela maioria dos brasileiros. O projeto chegou a uma das maiores vitrines da música mundial: o Grammy Latino.

Indicado na recém-criada categoria de Melhor Performance de Música Eletrônica com a faixa “Pedju Kunumigwe” —que significa “ouça os pássaros”—, em colaboração com os Guarani Nhandeva, a música chama à conexão com a natureza e às raízes espirituais. A inclusão da categoria reflete o reconhecimento de um gênero que há décadas rompe fronteiras, mas que agora dialoga ainda mais intensamente com as raízes culturais do continente. Alok não apenas representou a cena eletrônica com sua indicação, mas também mostrou que a ancestralidade e a inovação devem caminhar juntas.

Produzido ao longo de três anos, o primeiro álbum de Alok resgata a cultura indígena, com direitos autorais destinados aos artistas participantes e investimentos diretos nas comunidades. Oito faixas e mais de 50 músicos indígenas de oito etnias fazem parte do projeto: Yawanawá (Acre), Huni Kuin (Acre), Guarani Mbya (Owerá, de SP), Guarani Nhandeva (PR), Guarani Kaiowá (Bró MCs, do MS), Xakriabá (MG), Kaingang (PR) e Kariri Xocó (AL).

Levado a fóruns globais, como a ONU, o trabalho é definido por Alok como uma tentativa de “amplificar vozes que já são fortes, mas que foram silenciadas por muito tempo”. Na cerimônia em Miami, Alok levou representantes dos Guarani Nhandeva, como o cacique Everton Lourenço e o músico MC Nhandewa, para o centro de uma das maiores premiações musicais. Apesar de não vencer a categoria, a presença deles foi um gesto poderoso e a mensagem da música ecoou no mundo. Para aqueles que ouviram os cantos e sentiram as batidas, o prêmio já foi conquistado. Confira um faixa a faixa deste belíssimo álbum:

Sina Vaishu (Yawanawá): A track impecável que convida a seguir o caminho ancestral e transformar pensamentos.

Pedju Kunumigwe (Guarani Nhandewa): Celebra a harmonia com a natureza.

Canto do Vento (Kariri Xocó): Fala da conexão entre vida e ancestralidade.

Yube Mana Ibubu (Huni Kuin): uma oração de resistência e sobrevivência.

Manifesto O Futuro é Ancestral (Célia Xakriabá): Reflexão poética e política sobre cultura originária.

Rap Nativo (Owerá, Guarani Mbya), com a frase de Célia: “Antes do Brasil da coroa, existe o Brasil do cocar.”

Jaraha (Guarani-Kaiowá): Declaração de retomada de terras.

Sangue Indígena (Kaingang): Um grito de defesa das terras indígenas.

Sina Vaishu (house remix): destacando o poder espiritual da música Yawanawá.

Gábi Loschi @gabiloschi
Foto: Divulgação

Vinil em evidência

Bastante coisa mudou com o “desaparecimento” do vinil. Quando a era digital chegou, perdemos muito da mídia analógica, sendo resistido por uma pequena parcela de DJs. A partir da evolução da discotecagem, CDs e pendrives ganharam espaço, fazendo com que o mercado migrasse para os formatos digitais. Com isso, as lojas de discos no Brasil perderam força, ficando quase inexistentes por anos.

Nos últimos tempos, o interesse voltou a crescer, o analógico ganhou espaço e aquele mini-clã que ainda consome vinis começou a se expandir. Devido os obstáculos para importação, a compra (normalmente vinda da Europa ou EUA) segue sendo algo desanimador. Altos

Tati Pimont

@tatipimont

impostos, demora e perda de pacotes no transporte, custos de envio absurdos e Real desvalorizado tornam a tarefa ainda mais complicada.

Por efeito da pandemia e a demanda em alta, lojas surgiram e outras voltaram à atividade. A STVA Records é uma delas. Focada em trazer títulos de house, techno, electro, trance e demais vertentes, tem como objetivo facilitar a pesquisa e compra, com listas completas no Discogs —que funciona como um banco de dados sobre lançamentos e artistas, além de referência para amantes da música.

Com a dificuldade de acesso para discos de música eletrônica, tais iniciativas (com catálogo no Insta-

gram) vieram para diminuir a lacuna entre DJs e apreciadores brasileiros dos selos e produtores europeus que vivem essa cultura. Outras como Little House, Doze Record Shop e Fancy Records também oferecem tal experiência —algo que, antes, só era possível em lojas online ou físicas do exterior.

Parte essencial disso é a curadoria dedicada, que envolve buscar coleções, garimpar em vários lugares do mundo e selecionar materiais que atendam a diferentes necessidades (a reciclagem de títulos, junto a lançamentos e raridades, garante que fiquem acessíveis). Iniciativas como feiras e colaborações entre lojas consolidam o movimento, criando oportunidades para quem respira música analógica.

Festival Universo Paralello chega à 18ª edição com formato renovado

Nos dias 27 de dezembro a 3 de janeiro de 2025, a paradisíaca Praia de Pratigi, na Bahia, receberá sete palcos estrategicamente posicionados à beira-mar, incluindo o Main Floor, 303 Stage, Art Car Ritual, Palco Paralello/Chill Out, Circulou, Utopia, e a pista alternativa Pirata. Serão contemplados vários gêneros musicais, como trance, house, techno, rap, reggae, dub, forró, maracatu, carimbó, cumbia… No Palco Paralello, a diversidade será garantida com apresentações de Hélio Bentes (Ponto de Equilíbrio), FBC,

Forró Red Light, e demais atrações. Entre os destaques da música eletrônica, estarão nomes como Alok, Vintage Culture, ANNA, Ratier, Giorgia Angiuli, Astrix, Phaxe, Neelix, Gabe, Blazy e muitos outros. Além das apresentações, o público poderá participar do espaço Circulou que conta com múltiplas atividades para todos os públicos, como workshops, oficinas, aula-show e bate-papos com artistas brasileiros e estrangeiros, proporcionando uma experiência de imersão cultural completa.

1 ano de D-EDGE Rio

Idealizado pelo DJ, produtor e empresário Renato Ratier, o Centro Cultural D-EDGE (CCD) completa um ano como pilar no fortalecimento da cena eletrônica carioca, apoiando coletivos como Neblina, Inception, Wobble, Manto, Dogma e Cocada. Localizado no Porto Maravilha, une música, arte, gastronomia e moda sob uma arquitetura emblemática, atuando como espaço de criação, experimentação e aprimoramento. Já recebeu Charlotte de Witte, Pete Tong, ÂME e várias outras atrações.

Carlos Capslock 2025

Em 18 de janeiro, a festa independente que é considerada referência na cena clubber, comemora 14 anos de atividades em um super evento na Fabriketa, em São Paulo. Para embalar 18 horas de programação foram escalados mais de 30 artistas, com destaque para Aninha, Badsista, Cashu, DJ Hell, DVS1, Eli Iwasa, Hyperaktivist, Jaloo, Juliana Huxtable, Marky, RHR e Tessuto. Oito performers também interagem com a ‘craudi’, neste que é o terceiro festival da marca.

Magia Réveillon

Já pensou em passar a virada de ano vibrando alto com experiências transformadoras e autoconhecimento? O Magia Réveillon é o local perfeito. Realizado em Florianópolis, na Praia Mole, traz ativações que promovem consciência e conexão com a natureza e a espiritualidade por meio de shows de bandas e DJs, práticas de yoga, dança tântrica, rituais, galeria de arte, astrologia e mais. O evento é livre de bebidas alcoólicas, com cacau cerimonial e uma praça de alimentação variada.

Viralizando no TikTok, rede social habitada em maioria por jovens da geração Z, a Rewind conquistou diferentes públicos. Sendo assim, atrai não somente quem viveu a música dos anos 2000, mas também quem descobriu esses hits por meio de playlists e plataformas de streaming. E um dos nomes aclamados do período é KASINO, que estreou no Laroc para 4 mil pessoas, celebrando os 21 anos do projeto e os 25 de carreira de Fábio Almeida (JAMM’), um dos idealizadores.

Álbum colaborativo, Senna Driven tem o objetivo de conectar fãs ao redor do mundo. Apresenta 21 músicas mais bônus criadas por 33 artistas de 13 nacionalidades. Teve seu lançamento oficial em 1º de novembro, durante o GP de São Paulo de F1. Antes disso, contou com faixas nos sets de Armin Van Buuren, na fanzone do GP da Holanda, e Meduza, na etapa de Monza. No Brasil, foram apresentadas pela primeira vez durante o Rock in Rio, e em formato showcase no Tomorrowland.

Há mais de um ano, a OMNES Records se consolida não apenas ao apostar em novos e promissores nomes da house music, mas também ao estar empenhada em impulsionar e fortalecer os lançamentos realizados. Desde o início, tem sido um farol de criatividade e qualidade, comprometida em oferecer uma plataforma para artistas emergentes explorarem e desenvolverem suas carreiras. Fruto disso foi a bem-sucedida primeira edição da festa Experience, em Florianópolis.

Foto: @eliotbessa
Foto: @dopamineblur
Foto:
Foto: @RTimages

A ARTE DE OUVIR:

A nova fronteira dos espaços para audição –com ou sem pista de dança

Trocando a energia frenética dos clubs pela tranquilidade de um ambiente mais intimista, os Listening Bars e Bar-Baladas estão conquistando espaço no Brasil, oferecendo uma experiência onde a música é o centro das atenções. Sem a urgência das pistas de dança, os formatos propõem uma relação mais pessoal, uma coleção de vinis selecionados, variados níveis de implementação de sistema de áudio (que os distingue) e uma atmosfera que combina drinks elaborados, gastronomia e conforto.

Os Listening Bars ou Hi-Fi Bars apresentam um conceito inspirado do Japão –como no icônico Martha, de Wataru Fukuyama–, e na essência speakeasy que também se espalha pela Europa. A proposta é focada em apreciar cada detalhe da música, fazendo referência a cultura e comportamento associados a espaços que a tem como verdadeiro elemento central. Com som de alta fidelidade, tem o objetivo de provocar uma completa imersão aos ouvintes, proporcionando audição profunda e realista.

Enquanto isso, o Bar-Balada é um formato que vem se reinventando ao também priorizar a audição, porém acompanhado de uma pista compacta, perfeita para quem busca menos agito, sem muita euforia. Nesses lugares, DJs encontram oportunidade para experimentar, e esse é o grande diferencial. Girando discos raros ou montando sets que criam sensações distintas do clima tradicional dos clubs, retoma o papel de curador sonoro, desafiando e ampliando a percepção dos que procuram além do óbvio.

Algo que chegou forte em São Paulo, sendo o Caracol Bar um dos pioneiros a representar o conceito com curadoria aplicada. O Matiz, premiado como melhor Bar-Balada pela Veja Comer & Beber SP, se destaca igualmente pela programação e vista deslumbrante. O Dômo traz uma pegada gastronômica com toque asiático e música em vinil, enquanto o Âmago ressignifica o charme do centro, ao mesmo passo que o Elevado Conselheiro propõe o lado B dos DJs convidados junto a uma seleção refinada de vinhos.

Ágatha Prado @agrabah_

E a tendência não para por aí. Cidades como Curitiba contam com o mais recente Macro Bar & Pista –trazendo um ambiente confortável como se o ouvinte estivesse na sala de casa– e o Honey Vox, com uma pista nos fundos do bar para quem vai estender a noite. Outro espaço é o Speaker. Inaugurado em dezembro, conta com sistema de som exclusivo projetado por ADL (Acoustic Devices Lab), entregando a essência de um listening bar através de atmosfera futurista em um complexo de três operações.

Florianópolis, com o Gris e o Hangar T6 –com curadoria que se destaca pela profundidade da pesquisa musical apresentada– e Balneário Camboriú, com o Acaiá Café, também abraçaram a ideia, provando que isso é de fato um fenômeno em expansão. A diversidade de propostas, que vão do vinil ao digital, do jazz à eletrônica, mostra que os formatos se adaptam a diferentes públicos e estilos, representando uma nova forma de viver a música, em que cada detalhe sonoro se transforma em experiência.

Fotos: Lucas Rubini
Fotos: Tinkaud
Matiz Bar
DJ Tati Pimont, no Caracol Bar

INFLUENCERS

Assim como eram os garotos propaganda nos anos 70 e 80, hoje os influenciadores digitais são presença carimbada nas campanhas de marketing nos mais diversos nichos. O setor acumula grande crescimento de 2010 pra cá e ainda teve sua força intensificada no período de isolamento social causado pela Covid-19. Na música eletrônica, não demorou para que os primeiros aparecessem e desde a época em que os vlogs de YouTube estavam em alta, alguns canais, como o Diário de um Frito, passaram a cobrir, recomendar eventos, e fomentar a cultura dancer para seus mais de 200 mil inscritos.

Depois, a telinha virou, e seja no TikTok ou no reels do Instagram, uma enxurrada de conteúdos é publicada, apresentando novos artistas e músicas, mostrando experiência em eventos, ensinando a dançar estilos como o shuffle ou o “sarrinho”, fazendo humor com a rotina dos ravers, dando dicas de como se vestir e infinitos temas, como fazem Tiago Melchior, Matheus Emekatê, Luiza Serrano, Halley Silva, Ruiva do Sarro, Victoria Vaz, e outros. Os cabeças da indústria então que não se atentam à potência desse marketing, deixam de aproveitar uma força na qual marcas já estão se beneficiando, especialmente entre faixas etárias mais jovens.

Segundo o estudo “think with Google”, 70% dos adolescentes afirmam se identificar mais com os influencers do que com celebridades tradicionais; e 6 a cada 10 estão propensos a comprar suas indicações. Cenário parecido em demais gerações, pois outro estudo da USP descobriu que 40% dos consumidores já compraram pela indicação de um influenciador. Não à toa, são a segunda maior fonte de informação para tomadas de decisões. No Brasil, 44,3% dos usuários estão acompanhando algum; e por isso, apresento a seguir passos que aumentarão as chances de desenvolver parcerias de sucesso com esses profissionais:

Encontre os que tenham a ver com o seu nicho, seu bolso e não subestime o poder do marketing de conteúdo! Existe gente falando de tudo e de todos os jeitos que você possa imaginar. Seja público mainstream ou underground, tem influenciadores de diversos tamanhos conversando com essa galera.

Entenda que se camuflar no conteúdo do criador é importante para que a publicação ressoe com os seguidores e obtenha boa performance. Mais do que todos, este conhece seu próprio público e sabe como se comunicar. Por isso, dê liberdade criativa para que faça algo performativo e não só institucional.

Não peça em cima da hora! Requisite com pelo menos 30 dias de antecedência da data que você quiser o conteúdo. Para alguns, 15 dias é o suficiente, mas em determinadas épocas do ano a demanda aumenta, então considere iniciar a conversa logo no início do planejamento de sua campanha.

Matt Dornelas @mattdornelas
Ruiva do Sarro
Halley Silva
Victoria Vaz
Victor Raniery
Tiago Mechior
Luiza Serrano
Matheus Emekatê

EM FRANCA EXPANSÃO

Completar 15 anos de atividade com processos eficientes, objetivos claros e reconhecimento é uma tarefa que pode soar mais fácil em muitos mercados. Mas, na música eletrônica, comemorar 15 primaveras de um projeto em boa forma e com o fôlego de quem acabou de iniciar sua jornada, com ânimo e disposição para encarar desafios e propor diferentes possibilidades, é para poucos.

Principalmente após superar duas crises mundiais que afetaram diretamente a cena da música eletrônica. Em 2015, a desvalorização do Real em relação ao Dólar e o cenário econômico instável resultaram na dificuldade de DJs internacionais virem para o Brasil. Em 2020, a pandemia mundial da Covid-19 alterou severamente a rotina da população, que precisou se isolar para conter a propagação do vírus, interrompendo qualquer atividade com aglomerações e contato físico.

Acontecimentos que poderiam abalar —e de fato abalaram— muitas empresas, com especial atenção ao mercado de eventos e de entretenimento. Mas a Season Bookings Agency sempre levou sua marca registrada ao pé da letra: #WeDoMoreThanBookings. Não só superou essas duas importantes dificuldades, como se reinventou para,

além de fixar suas raízes, ganhar cada vez mais capilaridade e expandir sua atuação no psytrance, dentro e fora do Brasil.

Começando pelo início, para entender esse DNA empreendedor e resiliente, em 2009, Vitor Falabella e Max Grillo iniciaram essa caminhada. Deslumbrados pela atmosfera que conheciam bem como DJs e promoters, somaram a sua paixão pela música eletrônica a aptidão para gerir negócios. A ideia logo ganhou corpo e a Season Bookings passou a exercer um papel importante dentro do mercado brasileiro.

Inicialmente, a agência apresentava um casting que, apesar de focado no psytrance, contava com nomes que produziam e tocavam sonoridades como electro house, house e minimal. Já nesse início, a veia caça talentos se mostrava aguçada, descobrindo Dirtyloud, Ruback (anteriormente formado pelos irmãos Marcos e Lucas do Dubdogz) e Lógica (dos irmãos Bhaskar e Alok). Vale destacar que os primeiros passos de Alok em seu projeto solo foram dados ainda na agência.

A visão antenada e ouvidos apurados renderam a Falabella nomes como Neelix, Vegas, Fabio

Querox
Neelix
Phaxe
Foto: Hector Moreira
Foto: Leandro Quartiermeister
Foto: Hector Moreira

Fusco e Captain Hook, que tiveram a sua primeira representação no Brasil por meio da agência. E o que dizer de uma das sonoridades mais pedidas nos lineups brasileiros? Off beat, uma ‘vertente’ mais melódica, emotiva, com movimento pulsante e contínuo. Foi pioneira ao reunir produtores que trabalhavam com essa progressão sonora, fechando parcerias com Phaxe, Querox e Ghost Rider, consolidando seu casting dentro da vertente que possui uma alta adesão do público, principalmente no Brasil.

Construindo uma narrativa e elos dentro da Season Bookings, a conexão entre artistas já consolidados e nomes da nova geração do psytrance passou a ser primordial para sustentar essa estrutura. Surgiram então promessas que se posicionaram nas pistas do Brasil e do mundo, entre elas Blazy, GroundBass, Dang3r, Sighter, só para citar alguns nomes que tiveram seus trabalhos potencializados pela agência mais recentemente.

Neste percurso, a visão 360º da sua direção incorporou eventos autorais que se tornaram também um espaço de confraternização entre artistas, equipe e, claro, o próprio público: SB Summer Edition e Season Bookings Label Party,

com edições dentro e fora do país. Ao alimentar essa expertise, a agência passou a ser vista como núcleo de curadoria importante para palcos e selos de psytrance no Brasil, sendo convidada para assinar lineups de eventos de grande relevância, como 303 Stage, XXXPerience, House Mag Festival, só para citar alguns.

Enxergar caminhos que possam trazer novas oportunidades para seus artistas se transformou em um compromisso essencial para que a agência tenha sempre um papel de atuação de destaque dentro da cena da música eletrônica. Um exemplo disso foi a rápida percepção acerca do diálogo entre psytrance e techno, que aproximou não só produtores musicais como também proprietários e promoters de clubs. Rapidamente, a Season Bookings soube a hora de entrar nesse mercado e somá-lo às festas e festivais ‘open air’, que já são tradicionais no trance.

Essa decisão contribuiu para novos públicos e para mais um ponto marcante que celebra esses 15 anos: a forte internacionalização dos artistas brasileiros do seu casting, com apresentações no Tomorrowland Bélgica e Ultra Miami. A entrada em festivais com artistas de diferentes sono-

ridades também foi uma conquista fruto desta sensibilidade e de um trabalho interno que inclui bookings, logística, financeiro e marketing muito bem alinhados e capacitados para cumprir o seu trabalho e visualizar lacunas que possam ser preenchidas para ampliar a atuação da agência.

Uma delas foi o mercado de influencers digitais. Após a pandemia, houve um aumento exponencial de criadores de conteúdo dedicados à música eletrônica que, com resultados expressivos passaram a ter necessidades que só poderiam ser supridas por meio de um trabalho de agenciamento. Uma conexão imediata não só com a operação da Season Bookings como as necessidades de marketing da empresa e dos seus artistas.

Quais serão os próximos passos? Quais oportunidades ainda poderão ser exploradas? São perguntas que podem causar ansiedade e até mesmo receio sobre o que está por vir, mas para a Season Bookings são questões trabalhadas ao desenvolver diariamente a sua habilidade de olhar, também, de fora para dentro, ir além do seu escopo de trabalho e construir relações sólidas e humanizadas: #wedomorethanbookings.

Lu Serrano @luoliserra
Dang3r
Fabio Fusco
Vitor Falabella Blazy
Foto: Hector Moreira
Foto: Leandro Quartiermeister
Foto: Hector Moreira
Foto: Hector Moreira

COLETIVOS DO BRASIL: A CENA EM MOVIMENTO

Iniciativas independentes que fazem a cena girar com o lançamento de artistas e eventos

A música eletrônica é oriunda de galpões e porões da periferia, bem afastado do mainstream e principalmente das grandes cifras. Com o passar do tempo chegou nos maiores festivais, DJs começaram a ser famosos internacionalmente e a indústria se consolidou como uma das mais importantes do mercado musical.

Por trás das marcas que arrastam dezenas de milhares, estão iniciativas independentes que fazem a cena local girar com o lançamento de novos artistas e eventos regulares. Durante 2024, divulgamos estas iniciativas e as separamos por regiões.

No Sudeste, temos um número maior deles. Em São Paulo, podemos encontrar exemplos de grande influência como Carlos Capslock, ODD, Mamba Negra e Gop Tun. Kode, Wobble, O/NDA e outros no Rio de Janeiro. Na capital mineira muitos movimentos de resistência se mantêm vivos como Masterplano, Baile Room, 1010 e mais. No Espírito Santo, a Toro faz um baita trabalho, assim como Fluido, Festa Tara, Discotopia e demais festas.

Ser um coletivo num país continental como o Brasil é tarefa complicada, em que cada região tem cultura e costumes diferentes, e por conse-

quência uma ampla variedade de gêneros musicais que fazem sucesso. O preconceito com a eletrônica também é um dificultador que vai desde atrair novas pessoas até a liberação de alvarás junto às autoridades para realização de festas.

No Nordeste, essa missão é ainda mais difícil. Por isso devemos valorizar e muito o trabalho feito por coletivos como a Manifesto, Climaxxx, UMBALA, Serra Beat, Masterplan, Meludo, Yõkai Crew, Boikot, Beco Sounds, Templo Encantado, Progressive Generation, UnderDisco, entre inúmeros outros, popularizando cada vez mais a dance music.

Trema, região Centro-Oeste
Foto: Patrick Semansky
Adriano Canestri @adrianocanestri

Manimamba, região Nordeste

No Sul, Santa Catarina oferece em paralelo aos superclubs como Warung, Greenvalley e Surreal Park coletivos tais quais Phobia, SHËLTEr, Clubber House, Slut Rave, Tontura e por aí vai. O Paraná tem os tradicionais Club Vibe e Park Art que recebem artistas internacionais, e a cena com os núcleos Alter Disco, Furtacor, 4x4, Ciclo, Bioma, além de iniciativas no interior como 0dB enterprises e Sharp Movement. Já o Rio Grande do Sul conta com as tradicionais Levels e Colours. Além dessas, há outros como BASE, Crema, Plano, Arruaça, MNI, BSMNT, Síntese, B Side, Kontack e mais.

Já o Norte não fica pra trás. A cena por lá também é bastante calorosa e recebe em diversos clubs constantemente nomes importantes. Entre os movimentos da região estão Vandal Hostil, Jacundá, 5o2 Room, Techno Frequency, Tribe Beat, Deep Soul, Vortex P2P, Sucuri Fest entre outros.

E o Centro-Oeste é onde a cultura sertaneja e do agro é extremamente presente. E mesmo assim vemos eventos como o Abstract Festival que levam milhares a curtir música eletrônica. Dessa forma, é importante celebrarmos o empenho de núcleos como Eletromanas, Nin92wo, Trema

Techno, Cadela Soundsystem, Tonica BSB, Love Beats, Ekos, Techno Fighters entre outros.

Diante do exposto, este texto é uma forma de valorizar e divulgar o trabalho daqueles que lutam pela cultura e pela música eletrônica em nosso país, seja por uma causa, pela comunidade ou pela arte. Por isso, lembre-se sempre que quando os grandes festivais ou marcas famosas não estiverem na sua cidade/Estado, provavelmente um coletivo estará se movimentando para juntar uma galera e curtir um som. E vou te contar um segredo: às vezes o rolê é até melhor, viu?!

Jacunda techno, região Norte
Baile Room, região Sudeste
Foto: ageuvaladares
Foto: paulofiesds
Bioma, região Sul
Foto: Eudig

GUI BORATTO

Poucos artistas conseguem transformar emoções em paisagens sonoras tão cativantes quanto Gui Boratto. Mergulhar em sua trajetória artística é desafiador, pois constroi pontes complexas entre melodias e hits que ressoam nos corações e mentes de fãs há quase duas décadas. Conversamos com ele sobre sua abordagem sonora, visão do mercado global e dedicação a novos talentos por meio da Atomic Soda, sua nova agência. Um papo inspirador repleto de nuances e histórias que refletem sua autenticidade e genialidade.

Olá, Gui! É um prazer realizar esta entrevista. Sua música toca a alma de milhares de pessoas. Quais são os seus trabalhos que mais te tocam?

Olá! Acho que “The Black Bookshelf”, Take My Breath Away e “Besides”. E, claro, “Acróstico” [sampleada no filme Colateral], “The Verdict” e “Scene 2”. Esses trabalhos mostram lados diferentes de mim, além do Gui de “No Turning Back” e “Beautiful Life”.

Seu som é emocionalmente sofisticado. Recentemente, você produziu “Closer To God”, para o álbum em homenagem a Ayrton Senna. Como foi o processo criativo para traduzir a essência de uma lenda das pistas em música eletrônica?

Desde pequeno jogo videogames, de Enduro a Need For Speed. Nessas trilhas, há tensão, pressão das curvas e do cronômetro, e dopamina quando vencemos, com a música tendo papel

fundamental. Esse dinamismo inspirou meu trabalho. Quando Edo Van Duijn, chefe do projeto “Driven”, me convidou, ainda na fase embrionária, recebi arquivos de entrevistas e documentários com o Senna. Escolhi algumas frases para incluir na faixa. Foi um processo maravilhoso e emocionante. Mas duas semanas antes da entrega, fui informado de que não estavam mais disponíveis. Tive que adaptar, o que acabou melhorando o resultado. Substituí pelas frases que vocês escutam na minha música. Fiquei muito feliz com o resultado e em participar do projeto.

Você frequentemente colabora com grandes nomes e já recriou clássicos de ícones como Massive Attack e Pet Shop Boys. O que faz de

uma faixa um clássico eterno? Existem segredos para a atemporalidade?

Atemporal é o que ainda está em uso e permanece relevante. Se a abordagem plástica traz algo novo, se não tiver função além da beleza, vai envelhecer e cair em desuso. Quanto à música, é difícil entrar nesse quesito. Melodia boa perdura e é unânime. Independente da produção, estética e outras “perfumarias”. Música boa é eterna!

Você já disse que a harmonia é o seu fio condutor, com toda a profundidade emocional, característica que faz sua música ser reconhecida no primeiro acorde. Como a busca por essa estética mudou ao longo dos anos, especialmente agora que você se envolve

Emoções em forma de som e novos horizontes

tanto com gestão artística quanto com criação musical?

A harmonia é uma das “partes” mais importantes. Apesar de não ser considerada “autoral” (o que discordo), traz alegria, esperança, medo, tristeza, confiança e força para enxergar uma situação da vida. A relação entre harmonia e melodia formata a música. Como componho há algumas décadas, tenho alguns desses desenhos formados. Isso fica claro na minha assinatura.

Na Atomic Soda, como sua experiência pessoal e visão de mercado impactam na escolha dos artistas e no desenvolvimento da marca? Quais qualidades são essenciais para um artista estar em seu roster?

Nos últimos 20 anos, toquei em todos os grandes festivais e clubes no mundo. Faço parte de três agências, conheço bem esse mercado. Mas selecionar um artista e ter convicção que faremos uma boa parceria, é diferente. A intimidade dessa relação e alinhamento entre lançamentos e bookings vai resultar em uma operação bem sucedida. Não existem qualidades genéricas, mas aquelas específicas que fazem de cada artista único. Na Atomic Soda, temos o Coppola, Marky, Zerb, L_cio, Gabriel Brasil, Sarah Stenzel, Meme, Junior C, Felguk e outros tão maravilhosos quanto, mas diferentes entre si. São artistas com relevância e notabilidade em seus nichos e estilos. Mas todos são especiais.

Fale mais sobre a parceria com a Denise Klein, como e por que surgiu a necessidade de fun-

darem uma nova agência de bookings, e qual a sua visão para os próximos anos?

A Atomic Soda descobre e desenvolve novos talentos, conectando-os com o mercado, e faz os bookings de forma confortável ao artista. Desde a minuciosa avaliação do local, ao billing, slot-horário, à logística, calendário e estratégias que o coloquem para “rodar”, protegendo-o. Um roster mais enxuto e dedicado a cada artista. Isso quem faz é minha sócia Denise Klein, que todos sabem ser uma das mais queridas e experientes “bookers” do país. É uma espécie de trabalho de “manager” mesmo que ela sempre fez. Acho que em um futuro bem próximo, a Atomic Soda estará diretamente alinhada com gravadora e o empresariamento artístico realmente 360º (management), coisa que ninguém realmente fez no Brasil até então. Mas vamos com calma.

Como você vê o papel dos produtores brasileiros em manter a essência do techno e do house, enquanto exploram uma linguagem mais universal?

O techno não exprime a origem do criador. Normalmente instrumental, se torna uma linguagem universal. Mesmo que haja transformação e/ou evolução natural de qualquer estilo ou gênero de música, os holofotes do mundo todos estão voltados para o Brasil. Como já disse a clarividente jornalista Claudia Assef anos atrás, referindo-se ao Renato Cohen: “Brasil: A bola da vez”.

Após anos em turnê e experiência global, você vê alguma diferença notável na forma como

Gábi Loschi @gabiloschi
Fotos: Divulgação

diferentes culturas interpretam e absorvem o techno melódico?

Existe música para qualquer situação. Até mesmo o silêncio. No fundo, música é reivindicação.

A interpretação de techno, melódico ou não, é apenas mais uma “moda”. As modas vêm e vão. Ciclicamente.

É difícil um produtor ter uma assinatura tão única e ao mesmo tempo repleta de camadas como a sua. O que considera essencial para manter tamanha autenticidade?

A formação de cada artista é diferente. Isso é maravilhoso. No meu caso, não tenho formação de DJ, mas acadêmica: em relação a aprender instrumentos, compor. A autenticidade vem da composição, do trabalho contínuo e sistemático de compor e produzir há anos. Isso traz a “assinatura”. Além de músico, sou atraído pela eletrônica, tecnologia, mecanização e automação de coisas.

A D.O.C. Records rapidamente se destacou no cenário devido à qualidade e identidade de suas assinaturas. O que você busca em novos artistas ao vislumbrar uma oportunidade de lançá-los?

Não lanço algo que não gosto. Claro que existem outras questões não menos importantes, como o gênero, estilo, discurso. Mas música, apesar de democrática, é algo muito pessoal. Você gosta ou não. Mas que existe “bom gosto”, existe :-)

A Kompakt tem sido uma parceira significativa em sua carreira e uma das labels pioneiras no cenário. O que você aprendeu trabalhando com ela que ajudou a moldar sua visão de artista e empresário?

Minha família Kompakt: uma linda relação de 20 anos. A estrutura deles, como gravadora, é comparada com aquele produtor de maçã, que vende

“A INTERPRETAÇÃO DE TECHNO, MELÓDICO OU NÃO, É APENAS MAIS UMA “MODA”. MODAS VÊM E VÃO. CICLICAMENTE.”

a fruta diretamente do pé ao consumidor, sem passar por intermediários. Isso acontece também no DOC. A música vem do artista para nós, ouvintes. Sempre tive liberdade criativa total em meus álbuns e singles, no conteúdo, nas músicas, estilo, na arte da capa e até mesmo na época e forma do lançamento. O Michael [Mayer] me confessou que, apesar de exigir tempo e paciência, escuta absolutamente tudo o que recebe. Além da capacidade de unir e conectar tantos selos, agências, organizadores e produtores de eventos, aprendi a enxergar que todos esses núcleos, aparentemente “concorrentes”, podem e devem ser parceiros. Isso fortalece nosso mercado. Essa relação, quando amistosa, agrega, não subtrai.

Quais novidades podemos aguardar para 2025? Suas lives, lançamentos e outros pontos de suas diferentes facetas profissionais? 2025 está cheio de novidades para o DOC, reestruturado, com lançamentos constantes, em torno de dois por mês. Haverá o esperado DOC Magnum Vol.II, um V/A de inéditas. No Vol.I, tivemos pérolas como L_cio, Shadow Movement e Monolink, então desconhecido na época. Já a Atomic Soda promete preencher o nicho no mercado de nossos artistas, claro. Muitos têm nos procurado para trabalharmos juntos. A agência vai crescer naturalmente, mas não queremos ter um roster extenso, a ponto de sacrificar os devidos cuidados e atenção que cada artista precisa. Tem que ser algo customizado mesmo. E a MUZIKIZMO, empresa criada com o objetivo de “empoderar” artistas através de uma gestão bem feita, amplificando sua visibilidade, influência e oportunidades, alavancando a carreira do artista. Quanto ao Gui, tenho vários lançamentos previstos também. Já antecipo aqui a vocês, um clipe, de uma música inédita minha, com música e imagens feitas com várias tecnologias. Não vejo a hora!

HOUSE MAG FESTIVAL

A NOVA PÉROLA DA CENA NACIONAL

Quando soubemos que a House Mag tornaria-se aliada do Surreal Park para a sua nova etapa de eventos, não restaram dúvidas de que seria uma combinação perfeita. De um lado, o superclub de Renato Ratier, que é o maior do mundo em extensão e, com sua característica inovadora, já está também na rota dos principais destinos clubber em apenas três anos de funcionamento.

De outro lado, nossa revista, que se incumbiu do desafio de provar para o cenário que é possível fazer um evento incrível, grande e ambicioso com um lineup quase totalmente nacional (apenas Querox, Spectra Sonics e Franco Cinelli são de fora do Brasil). O resultado veio cedo: cerca de duas semanas antes da realização, a produção teve que anunciar o sold out da pista.

O ineditismo foi além dessa estreia no maior “parque de adultos” do globo. Primeiro, o House Mag Festival, que rolou no dia 21 de setembro, foi o único até agora a fazer o espaço funcionar por inteiro, com cinco pistas que acolheram as milhares de pessoas presentes. E segundo, a produção foi perspicaz ao abrir as portas, de forma inédita no Surreal Park, para o psytrance, que engloba uma das comunidades mais apaixonadas do universo da dance music. A música psicodélica ganhou para si um main stage.

Fotos: Diego Jarscel

Rodrigo Airaf @airaf___

Deu tão certo que até o artista-chefe, Vegas, considerou o momento digno de ser emoldurado e eternizado na parede da sua casa. Aliás, a super tenda em nada passou por economia de estrutura, desde o sistema de som aos telões de LED espalhados pelo espaço. “Eu não enxergava o fim da pista! Não é sobre o Vegas, é sobre o poder do trance, um estilo que já teve tantos altos e baixos no nosso Estado, e fomos presenteados com uma noite inesquecível”, afirmou em publicação no Instagram.

A visão da House Mag para um festival plural se refletiu no lineup com um todo. Para a ocasião, a logística cuidou de um total de 78 artistas, com o maior equilíbrio possível entre homens e mulheres. A sensação que ficou foi a de que todos eram headliners. Desse modo, a configuração do evento fez com que “comunidades” fossem criadas —oldschool house, psytrance, tech house, progressive house etc— e, ao mesmo tempo, garantisse uma circulação fluida e constante das pessoas entre os palcos.

Valenttina Luz

Além disso, Ratier, que já demonstrava empolgação com o projeto, foi convidado para fazer uma pré-festa memorável, na semana anterior, com um long set que deu o tom da potência do festival. Dentre as demais parcerias, a famosa igrejinha ficou sob responsabilidade do coletivo Botanic, com curadoria focada no espectro oldschool do house.

Os esforços da produção foram enormes, sendo criados novos estacionamentos em conjunto com os moradores e trabalhadores locais, equi-

pes maiores para cada pista e para as funções de zelo e segurança do evento. Além disso, a participação da Season Bookings, comemorando 15 anos e colaborando na curadoria do palco principal, foi fundamental.

Um verdadeiro ecossistema de profissionais mobilizados, dia e noite, para tudo estar pronto em um dos pontos altos do ano; um festival completo, bonito e com propósito honesto, em que todos ganham: os artistas, o público e a cena nacional.

Foto: Adriel

BATE ESTACA

tanta pesquisa, amor e noites mal dormidas. Conversei com esta instituição da cena clubber sobre mais detalhes de seu livro.

Livro do DJ e jornalista Camilo Rocha conta a história da cena eletrônica de São Paulo

Antes do DJ ser glamourizado, drags terem reality, clubber ser um termo cool e promoter uma profissão reconhecida; toda a galera da noite passou por aventuras para garantir seu espaço e tornar-se história nos livros.

Bate Estaca (editora Veneta 2024) cobre de forma verídica com fatos e fotos, a efervescente cena eletrônica de São Paulo de 1988 a 2005. Escrita pelo Jornalista, DJ e agitador cultural Camilo Rocha, a obra cruza relatos autobiográficos com o de diversas figuras chave que fizeram pistas e afters acontecerem ao som compassado que dá nome ao livro. O famoso “tuts tuts” que nos hipnotizou como um canto de sereia e manteve, muitos de nós, devotos de estilos como house, techno e trance.

A obra mostra urgência por ser uma das poucas no país ao cobrir o tema noite/cena dance, ao lado dos também ótimos “Todo DJ já Sambou” (2003) de Claudia Assef e “Babado Forte” (1999) de Érika Palomino. Completando uma importante trinca literária para quem quer se interar sobre DJ Life, moda e tudo que faz parte desse mundo.

Em Bate Estaca, o autor nos transporta para uma jornada de clubes míticos como Nation, Sra Krawitz, Massivo (idealizado pelo saudoso Mauro Borges), do icônico after hours Hell’s Club, e Lov.e (um divisor de águas no final dos anos 90, início dos 2000, que mudou a cara das casas alternativas). Também cobre com detalhes as raves. De seu início improvisado com as primeiras Avonts, Orybapu, até a consagração com as XXXPerience e Universo Paralello, mobilizando milhares de pessoas. E o boom do techno como cultura importando ícones como The Prodigy, Chemical Brothers em celebrados festivais como Skol Beats e a chegada, mesmo que breve, da Love Parade em nossas terras.

A cultura DJ e todos seus subgêneros sonoros são explicados minuciosamente pelo jornalista que esteve ali o tempo todo como ouvinte, personagem, e testemunha ocular de todas mudanças e evoluções. Nomes que se tornariam lendas como Mau Mau, Marky, Eli Iwasa estão retratados em seu início e mostrando que até hoje seguem firme nesta profissão que exige

De jornalista porta-voz da dance music a DJ e agitador cultural, como foi essa trajetória que o levou a ser testemunha de tantas transformações da cena eletrônica brasileira?

A obsessão com música vem da adolescência, boa parte da qual eu fui um menino meio indie, meio gótico que amava os Smiths, o The Cure e o Bauhaus. A conversão pros sons dançantes e eletrônicos começa com New Order e Depeche Mode, até aparecer na minha vida uma coletânea de house de Chicago. Um crédito especial vai para o DJ Mauro Borges, que me apresentou muito som ritmado e ensolarado, um lado da música que nunca mais larguei. Eu também me identifiquei muito rápido com a proposta clubber, a ideia da diversidade inclusiva, da potência celebratória da pista e do DJ como criador. O arremate veio quando morei em Londres entre 93 e 96 e fiz uma imersão pesada na cena britânica em uma época muito efervescente e fundamental.

Bate Estaca começou como uma coluna musical, com anos de dedicação e pesquisa até chegar no livro. Como foi esse processo de juntar memórias, depoimentos e lembrar de tantos rolês e causos?

As ideias de um livro, de juntar essas memórias e fatos em um lugar só, já assombram minha cabeça desde 2000. Daí, há cerca de sete anos, disse pra mim mesmo: “Não dá mais, preciso

Fotos: Fábio Mergulhão
Cibermano
Dmitri
Lov.E

escrever esse troço”. Comecei a pensar na estrutura e decidi pela divisão dos capítulos em espaços, e não em gêneros musicais ou épocas. Os espaços físicos e presenciais constituem o epicentro de uma cena, assim como da cultura, da música e do comportamento, onde se concretizam as ideias, os desejos e as trocas. Esse recorte hoje é muito pertinente: clubes fixos e espaços alternativos passam tantas dificuldades em cidades como São Paulo e Berlim.

É doido pensar que raves já foram caso de polícia. De uns anos pra cá essas festas, antes quase secretas, deram lugar a festivais com super estrutura, patrocínio e lines cheios de nomes internacionais. Você acha que o caráter transgressor foi perdido?

Eu acho que sempre vai haver lugar na cena eletrônica para a transgressão. É um universo muito aberto a diversos tipos de expressão, muito convidativo aos que afrontam as normas e padrões. Se a rave era transgressora nos anos 90, nos anos 2010 festas como Mamba Negra, ODD e Batekoo assumiram esse posto ao valorizar e dar palco a sexualidades e identidades diversas e não normativas.

Na linhas do tempo do livro, qual período você acha que foi pro bem, ou pro mal, a melhor época para os DJs?

Os anos 90 foram um tempo que revelou muitos DJs excepcionais, lançando as bases que influenciaram gerações seguintes. Porém, e aponto isso no livro, era um clube restrito, e

esmagadoramente masculino. Acho que os últimos dez anos foram excepcionais para que as DJs mulheres ocupassem espaços, e mais recentemente DJs trans. Então, cada época tem pontos positivos.

Uma coisa citada no livro foi o Hell’s Club e a cultura dos after hours. Eu particularmente ficava fascinado com a galera montada na fila para entrar no clube. E isso às 4 da manhã de domingo! Será que a cultura de dançar se escondendo do amanhecer com óculos escuro será algo que ficará apenas pra posteridade?

Ah, eu acho que a instituição after sempre vai existir porque o que não falta é inimigo do fim por aí. Porém, reconheço que, em São Paulo por exemplo, já houve um tempo de mais opções pra quem não queria ir pra casa quando o dia nascia. Havia sempre festas, clubes e inferninhos que seguiam manhã adentro. Tem várias pesquisas com as gerações mais jovens apontando que uma boa parte deles preferem hábitos mais saudáveis e menos notívagos, muitos usando menos álcool e drogas. Pode ser um ciclo, que daqui uns anos, diante do apocalipse climático, as pessoas voltem a se jogar muito. Veremos.

Alexandre Bezzi @alebezzi_
Foto: Claudia Guimarães
Hell’s Club

FUSÃO DE TALENTOS E RIQUEZA DE ESTÍMULOS: COM MAIS DE 15 ANOS DE HISTÓRIA, O AMAZON CLUB É REFERÊNCIA EM CUR ADORIA REFINADA. EM SEUS LINEEUPS, UNE DESDE GR ANDES NOMES COMO HERNÁN CAT TÁNEO E GUY J ATÉ TALENTOS REGIONAIS, FORTALECENDO A CENA ELETRÔNICA.

AMSTERDAM DANCE EVENT:

Uma semana mágica de música e conexões

O Amsterdam Dance Event é, para mim, a melhor época do ano. Durante uma semana poderosa, Amsterdã se transforma no centro global da música eletrônica, reunindo as maiores marcas do mercado e tudo o que amo: networking, palestras, festas incríveis, grandes amigos, artistas e parceiros.

Este ano marcou minha décima participação, mas foi uma das mais especiais. Pela primeira vez, fui convidada como palestrante, apresentando um painel sobre como crescer na cena brasileira ao lado de Marcelo Madueño, profissional que admiro profundamente. E tive a honra de mediar outros dois painéis de grande relevância: um sobre o lançamento do álbum em homenagem a Ayrton Senna, que reuniu artistas e DJs de várias nacionalidades, e outro sobre diversidade, com a presença de talentosas artistas globais como Slim Soledad, TOCCORORO e ALADA.

“É muito importante pensar sobre diversidade, mas também que as empresas estejam dispostas a fazer o seu trabalho corretamente. Caso contrário, você pode fazer um festival somente com artistas pretos, mas se não tiverem pessoas pretas trabalhando no evento, provavelmente nós sofreremos racismo. Então é importante ter treinamento dentro dos setores para que a base seja segura e aconchegante para todos”, afirmou ALADA durante o painel.

O ADE é um espaço diverso. Há quem vá fechar negócios, quem vá tocar e quem vai apenas curtir os eventos. Para nós, que trabalhamos com música eletrônica, o desafio é conciliar tudo isso —criar conteúdo, marcar reuniões e ainda aproveitar as festas. Normalmente, vou credenciada pela House Mag, cobrindo o evento para a revista, além de captar clientes para minha agência de assessoria de imprensa, a The BOREAL Agency.

No entanto, este ano, com a responsabilidade de conduzir três painéis de extrema importância —todos em inglês e para os maiores players do mercado eletrônico global—, foquei em networking e na experiência de representar o Brasil em um evento de tamanha magnitude.

Foi incrível ver tantos brasileiros em destaque, sejam clientes da minha agência ou outros artistas que brilham cada vez mais no cenário global. Um exemplo é a festa da Kaligo Records, do DJ Melgazzo, realizada no domingo à noite, que tradicionalmente encerra o ciclo dessa grande conferência.

Cada participante vive o ADE de uma maneira única. Por isso, reuni depoimentos de alguns dos profissionais da música eletrônica brasileira presentes este ano. Compartilharam experiências, aprendizados e dicas valiosas para quem deseja participar. Confira o que eles têm a dizer:

Gábi Loschi @gabiloschi

“O maior insight que tiro deste ADE é que as conexões acontecem de forma natural. Então, uma dica que dou é ir com a mente aberta para ter novas experiências, conhecer pessoas. Não tente abraçar tudo e use transporte público, porque Uber é muito caro. Pelo que conversei durante a conferência, o hard groove e o euro trance vêm crescendo bastante. Das festas, fui no DGTL e gostei bastante do Caribou. Não conhecia a banda e com certeza quero ver de novo.” Acid Asian, artista.

“É um ambiente para conectar-se com profissionais, artistas inspiradores e referências, tudo de forma acessível. Essa proximidade coloca você no centro das inovações e colaborações. O que mais me marcou foi o networking. Fiz contatos valiosos que já impulsionam novos projetos, como minha futura label de festas, NANT, fruto de parcerias nascidas durante a conferência. Os painéis também são incríveis para atualização tecnológica, e as festas trazem experiências para todos os gostos. Um momento especial foi o long set do Mahmut Orhan. Seu som, com mistura fluida e afro house intenso, inspira muito meu trabalho. Ainda toquei em uma boat party, que foi incrível!” Annëto, artista.

“Primeira vez e fiquei encantada. A quantidade de festas acontecendo ao mesmo tempo é impressionante, e ali senti a importância da música eletrônica. Fui a eventos de labels como Exhale, Awakenings, Drumcode e Unreal, vivenciando diversas vertentes do techno. Destaque para Kiki, que fez uma festa gratuita no Gashouder; e Awakenings com ingressos esgotados em cinco minutos. ADE é o lugar perfeito para conhecer grandes labels e DJs. Foi incrível!” Anna Maura, Technera Memes.

“Um grande aprendizado é obter uma perspectiva ampla sobre o mercado e estar apto a mudanças. Percebi, em palestras, movimentações e novos posicionamentos de empresas, grandes players e artistas buscando se conectar com o público da nova geração. Para quem vai pela primeira vez, é essencial planejar a programação e estar aberto a tendências. O evento reúne diversos conteúdos e proporciona uma intensa troca de experiências. Com certeza, voltarei no próximo ano.” Carla Cimino, marketing Entourage Artists.

“O maior insight foi a proximidade com os artistas de afro do mundo inteiro, principalmente os africanos. Tive oportunidade de trocar ideias com todos para entender como é esta cena em outros lugares já com essa cultura mais antiga, sem ser no hype de agora. Com isso pude conhecer diversos setores que posso atuar, tanto com gravadoras e eventos como demais movimentos. Não comprei o passe do ADE, então todos os encontros que fiz foram externos das conferências; mas ano que vem quero comprar. A dica que dou é se programem, pois lá tem muita coisa e chegando tem mais ainda.” Curol, artista.

“Muitas coisas práticas poderiam ser ditas, como vá preparado para andar muito, dormir pouco e ter uma avalanche de conteúdo para consumir. Mas acho que meu maior insight dos anos que frequento o ADE é ‘vá com a cabeça e coração abertos para o que vai acontecer’. A imersão na cultura eletrônica e os encontros ao acaso com outras pessoas da cena são a grande magia do evento.” Diogo Nomad, especialista em marketing.

“O que me chamou atenção foi a quantidade de artistas e eventos; a maioria dando certo. É mais um sinal que o mercado vive um momento de fortes ‘nichos’ dentro da música eletrônica. Desde o hard style ao minimal techno, DnB e muitos outros, estamos vendo núcleos de sucesso aparecendo cada vez mais. Neste contexto, acho que o mundo das gravadoras tem mudado rapidamente, de editoras e principalmente agências de booking pequenas. A lição para entrantes é criar suas próprias marcas, ecossistemas e times. Meu sentimento no ADE foi que o ‘novo mundo’ está chegando, e poucos têm antecipado mudanças de comportamento, consumo e tecnologia. Quem estiver preparado vai ter vantagens competitivas.” Edo van Duijn, diretor criativo BULLDOZER NETWORK.

“Essa foi a sexta vez que fui ao ADE, e percebo cada vez mais que temos conhecimento, público e ferramentas para desenvolver uma cena tão forte quanto qualquer outra. Em 2015 havia dúvidas, mas as conquistas dos nossos artistas provam essa capacidade. Nesta edição, ficou claro que precisamos seguir firmes, apostando no novo. Conheci artistas sul-coreanos que veem o Brasil como referência, o que abre portas para colaborações. Em 2025, planeje bem os painéis e chegue cedo nos mais disputados!” Felippe Senne, manager.

“Ainda existe uma forte carência por metodologias e aplicação de processos mais estruturados em diversas áreas do mercado, desde a criação de experiências transformacionais e ritualísticas, proporcionar acessibilidade aos eventos e até como se analisar um P&L de forma construtiva. Minha dica para o ADE 2025: ficar atento aos painéis de inovação e construção de comunidades. Melhor evento: Mochakk Calling, pois ele representa a ascensão de uma nova onda de artistas brasileiros na Europa.” Marcelo Madueño, produtor de eventos.

“O ADE é um curso intensivo sobre a indústria da música eletrônica e o meu maior aprendizado foi a importância do contato direto com os sujeitos da cena, sejam A&Rs, promoters etc. Voltamos com várias propostas de publishers e até uma possibilidade de co-gerenciamento internacional. Planeje os contatos que você deseja, pois lá é o melhor lugar para ter um tête-à-tête e abreviar meses de conversas por e-mail. A apresentação que mais gostei foi da Mila Journée, na festa do Vintage. Entregou um set com IDs dela que sairão em 2025 e com aquela energia que a caracteriza.” Si Oliveira, manager.

“É uma experiência que combina aprendizado, networking e inspiração. O maior insight foi perceber como o mercado está evoluindo constantemente. Eventos como Awakenings se destacam pelo equilíbrio entre lotação e conforto. O set do Pan-Pot foi marcante, com groove e energia alinhados ao meu estilo. Recomendo a todos do nosso meio comparecerem ao ADE, pois é o melhor lugar do mundo para estar por dentro das tendências.” Melgazzo, artista e label manager.

“Acho que um grande aprendizado é a vivência do networking. Fala-se muito sobre isso, mas lá é de forma intensa. Uma dica para quem pretende ir ao ADE é estudar a programação e fazer um cronograma com tudo que quer participar. É muita coisa e certamente você terá que fazer escolhas. E a performance que mais chamou a minha atenção foi a da Miss Monique, no Awakenings. Ela fez o set mais pesado que já a vi tocar e foi muito foda!” Mila Journé, artista.

QUALIDADE E CONFORTO CLUBBER

Carregando os “mantras” moda, música e arte, a Unknown chegou em setembro de 2022 na cena eletrônica brasileira. A marca tem loja física customizada e loja online, com uma proposta interessante: criar um clima de balada. “Na loja física, em Brasília, a cada 15 dias convidamos um artista local para fazer um set. Os cabides estampam nomes de DJs do Brasil e do mundo. Também temos CDJ disponível para os frequentadores, iluminação e um som ambiente de alta qualidade”, conta o diretor executivo Ermison Carlos, que tem 25 anos de experiência no mercado têxtil.

A ideia pro projeto foi algo que ele levou a sério na pandemia, período em que muitas pessoas se dedicaram a mais tarefas criativas. “Em 2011, passei a frequentar festas pelo Brasil. Naquela época, já trabalhava no ramo têxtil como vendedor e, em 2013, resolvi abrir nossa própria loja de tecidos, prestando também um serviço de consultoria em moda. Mas foi durante a pandemia que a paixão pela música eletrônica aumentou, pois passei a discotecar. A princípio, era somente um lazer, e logo surgiu um negócio que unisse a paixão por tecido, moda e música”, comenta.

Na parte técnica, o foco é na qualidade dos tecidos. E na criação das artes, a ideia é representar

os clubbers de uma forma tão ampla quanto seu guarda-roupa. Camisetas, regatas, jaquetas corta-vento, moletons e acessórios como óculos, bolsas transversais, bonés, toucas e moletons são a matéria por baixo das estampas, que podem tanto ser minimalistas quanto abordar aspectos do estilo de vida da cena e das vertentes da música eletrônica.

Ermison, que, além de criador da marca, é também o designer de todas as peças, conta que eles levaram para a marca as modernidades têxteis de hoje. “Além de possuirmos um centro de estamparia próprio, usamos nas peças os mais variados materiais como algodão pima, lã persa, fios egípcios, suedines, entre outros. Além disso, as nossas peças são confeccionadas com reforços nas costuras, o que garante mais durabilidade. Faço cada peça como se eu fosse usar, esse é o segredo”.

“Nosso processo de inspiração e criação passa por uma contínua pesquisa, brainstorming, desenvolvimento de conceitos, criação de estampas, testes, ajustes, apresentação visual, feedbacks e revisões”, detalha. Para o futuro, ele garante que pretende criar filiais da Unknown em mais cidades. Enquanto isso, se você é de fora da capital federal, já pode ir às compras na loja online.

O QUE ESTÁ POR TRÁS DA MARCA UNKNOWN

Loja online: www.unknowns.com.br

Rodrigo Lemos @rodrigolemos
Inspirado no álbum de Renato Ratier, que terá edição de remixes e projeto Art Car, mega palco impressiona pelos números

Caio Amaral e Igor Rodrigues @discotecaio e @aigolive

Em outubro de 2024, o Surreal celebrou a abertura do palco Ritual, inspirado no álbum homônimo de Ratier, inaugurando uma nova e ambiciosa fase para o complexo. Projetado como um ninho, simboliza a fusão de arte, sustentabilidade e inovação com uma estrutura monumental que ecoa o legado musical e a visão artística do DJ e empresário do entretenimento, além de consolidar o club como referência na cena eletrônica.

A estrutura do Ritual o torna o maior palco coberto do mundo: 3.200 metros quadrados e 17,5m de altura integrados no conceito de ninho. Criado por Ratier e desenvolvido por Surya Design e Fabiano Tamburus, a decoração é formada por 70 km de bambu, 10 km de madeira de reflorestamento integrados a 2 km

de fita LED, 45 strobos, 10 km de tecido e 2 km de piaçava. É exemplo de arquitetura consciente e sustentável, unindo estética, tecnologia e respeito à natureza.

Inaugurado em um evento com a estrela do techno Charlotte de Witte, a agenda do Surreal Park para o Ritual já conta com apresentações programadas de ANNA, Carl Cox, Lee Burridge, Maceo Plex, Mita Gami e Ratier. Mas o “Ritual” não só inspirou a criação deste espaço icônico, como marca uma jornada que excede os palcos. O álbum, lançado em 2023, vai ganhar uma edição de remixes assinados por nomes como Curol, Phonique, Dimitri Nakov, Drunky Daniels e mais...

E ainda vai além: o conceito do álbum também levou Ratier a dar vida ao Art Car Ritual. Ins-

pirado no ritual mais antigo da humanidade, o Ritual do Fogo, traz um convite à cura e à renovação espiritual. Guiado pelos três cálices de fogo, símbolos do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o Art Car Ritual vai percorrer o Brasil, transformando cada parada em uma verdadeira celebração.

Mais do que palco móvel, o Art Car é uma obra de arte viva. Com estrutura toda em aço, quando aberto se transforma em uma escultura monumental de mais de 14 metros de altura em que cada detalhe incorpora a riqueza da ancestralidade, trazendo à tona a força de cura e a transformação que a obra representa. E já tem estreia programada: será na virada do ano, fazendo parte da edição do festival Universo Paralello.

SIMBOLIZA A FUSÃO DE ARTE, INOVAÇÃO, SUSTENTABILIDADE COM ESTRUTURA MONUMENTAL

TALENTOS EM ASCENSÃO

Com o poder das redes sociais nas mãos, os criadores podem dar visibilidade pra própria arte, ou conseguir um impulsionamento por meio de suportes de DJs já estabelecidos

Se antigamente o artista precisava que um empresário o encontrasse para mostrar seu talento ao mundo, hoje a regra mudou, e o público é o olheiro que pode fazer um DJ/produtor deslanchar. Com o poder das redes sociais nas mãos, os próprios criadores da arte podem dar visibilidade a ela e, hora ou outra, conseguem um impulsionamento, seja por meio de suportes de DJs já estabelecidos, dos charts de vertentes em alta nas grandes plataformas de venda, ou de um evento que, atento a toda essa movimentação, dê a oportunidade do artista e público se encontrarem. Essas combinações costumam coroar os headliners do futuro, alguns dos quais mencionei a seguir.

No tech house, não só Fatsync tem chamado a atenção, mas também a carioca GIU. Exalando

carisma em sua comunicação, que gera muita identificação com as novas gerações, não demorou para que ela fosse incluída no catálogo da Hub Records, a maior gravadora de música eletrônica da América Latina. Abbud, Pricila Diaz, GREG (BR), Bruna Strait, Pithman também viraram destaque dentro desta vertente.

Outra vertente que apresenta expansão meteórica é o afro house. VXSION alcançou ao lado de Maz o top 1 overall do Beatport com “Amana”. Em sua discografia, o produtor coleciona charts e suportes que vão de Black Coffee a Keinemusik. Não é diferente para Riascode, que tocou nas edições brasileiras do Ultra, Lollapalooza, Tomorrowland, clubs como Greenvalley e, aos 17 anos, já lançava pela STMPD, gravadora de Martin Garrix.

Indo para os ritmos mais acelerados, HNGT tem representado o Brasil no peak time. Suas músicas foram parar no pendrive de nomes icônicos como Sama Abdulhadi, que em um de seus sets não economizou e tocou cinco faixas do artista. Nesse mesmo ano, ainda recebeu suportes da belga Amelie Lens! Esses novos expoentes da música eletrônica estão fazendo muito barulho, e não poderia deixar de citar Kaio Barssalos, Molothav e Lutgens.

No psytrance, gênero que frequentemente tem se misturado com techno em grandes festivais, o DJ produtor mineiro Macedo trouxe essa mistura para dentro de suas produções e alcançou suporte de ninguém menos que Indira Paganotto no Tomorrowland.

Foto: @Alexandreqrzt
GIU

Gabi Giordan, no melodic house & techno, tem unido seu repertório musical a cenários deslumbrantes por todo o Brasil. Os live sets ganharam a atenção do público, enquanto suas músicas ressoaram no Tomorrowland Bélgica neste ano. Pacs também viu essa magia acontecer, com seu edit de “Innerbloom” sendo uma das faixas mais tocadas durante todo o festival.

O indie dance tem ganhado mais adeptos e na nova geração de produtores, Gabss é um deles, conseguindo apoio de Jamie Jones, Wade, The Martinez Brothers, Solomun, entre outros. E quem também conquistou um lugar na Diynamic este ano foram Fel C, ID ID, Walterwelt e Simo, talento carioca que tem criado literalmente uma relação de longas horas com sua

base de fãs. As prestigiadas noites “Simo all night” zeraram ingressos, levando house music para clubs como o D-EDGE Rio.

A força nacional não para e ganha espaço na Europa, onde temos uma brasileira dando o que falar. Kesia foi uma das únicas a representar o nosso país em festivais e clubs imponentes como Brunch, Elrow, Time Warp Madri, Space Ibiza, além de ter feito shows no Peru, Chile e Alemanha.

Essa lista está em aberto e recebe nomes a cada mês que passa nas redes da House Mag e Matt Dornelas. Muitos outros ainda hão de vir, e estamos ansiosos para conhecer novos talentos de todo o Brasil.

Foto: @luisabungner
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Foto: @pedropiniz
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Foto: @lucaspassador
Matt Dornelas @mattdornelas
Riascode
VXSION
Kesia
Gabi Giordan
Simo
Gabss

MÚSICA, CURA E CONSCIÊ NCIA

Na interseção entre a pulsação das pistas de dança e as terapias sonoras, Ivan Stone descobriu sua missão: usar o som como ferramenta de cura e autoconhecimento. Hoje terapeuta vibracional, a música eletrônica o iniciou no universo das frequências que alteram a consciência através da vibração. Confira como sua transição artística revelou o potencial da música para curar e transformar.

Você começou como DJ/produtor de música eletrônica. Quando decidiu explorar o som como ferramenta de cura?

Em 2019, comecei a perceber a música não só como entretenimento, mas como ferramenta de transformação emocional. Muitos artistas falam sobre epifanias, e em festas de música eletrônica, as batidas e frequências levam o público a estados alterados de consciência. A dança, quando livre e espontânea, é transformadora. Estamos rígidos, e a música e o movimento permitem que ultrapassemos essas barreiras. Não a vejo como uma “cura” espiritual no sentido religioso, mas como ferramenta de expansão da consciência. Ela nos conecta com padrões vibratórios de pensamentos que movem nossas emoções, nos fazendo revisitar memórias e conceitos guardados.

O que é o Sound Healing e como o público pode se beneficiar dessa prática?

O Sound Healing vai além de ouvir, é sentir. O som se torna curativo a partir de instrumentos afinados, criando ressonância com nosso corpo e permitindo acesso a estados que não alcançaríamos sozinhos. Cada parte do corpo tem uma frequência vibracional, e quando expostos a sons harmônicos, o corpo ajusta suas frequências naturais, promovendo equilíbrio e introspecção. A vibração vocal também é poderosa, pois libera emoções reprimidas e promove paz e bem-estar. O som organiza nossas estruturas, e todos se beneficiam disso, pois somos parte da natureza, que se organiza por si mesma.

Para quem busca cura e autoconhecimento, quais os primeiros passos?

Terapias sonoras através do Sound Healing com Ivan Stone

O primeiro passo é praticar a introspecção, se conectar com a voz interior e entender que somos parte do todo. Somos bombardeados o tempo inteiro por informações e refletimos o que mais damos atenção. Silenciar a mente é fundamental para explorar o que está dentro de nós, algo que deixamos de fazer por medo ou falta de interesse em ter uma relação melhor consigo.

Há algum relato transformador de alguém que participou de suas sessões?

Muitos buscam alívio para ansiedade, insônia, vícios, sentimentos de desconexão. Um caso marcante foi um rapaz com tensão constante no peito. Durante a sessão, sentiu uma vibração intensa, e ao final, descreveu uma sensação de leveza e relaxamento profundo, que não experimentava há anos. Nos dias seguintes, ele dormiu melhor e renovou a clareza mental, o que o ajudou a tomar decisões importantes. As histórias mais impactantes para mim são de pessoas que se libertaram de vícios, se perdoaram por abusos passados e alcançaram momentos de compreensão.

Foto: Divulgação
Gábi Loschi @gabiloschi

REPRESENTATIVIDADE

A música é uma das formas de expressão da arte mais antigas que temos registros, e se adaptou conforme a evolução da civilização e da tecnologia. Durante o período de colonização das Américas e da escravização dos povos africanos, era a forma para se manifestarem culturalmente e se reconectarem com suas raízes. Diante disso, a música feita pelos pretos foi se desenvolvendo até chegar em ritmos que conhecemos como blues, jazz, soul, rock and roll, hip-hop, disco e nossos amados house e techno. Mas para entender melhor sobre a comunidade negra e a música eletrônica precisamos voltar na linha do tempo.

Na década de 70 a disco music estava em alta nos Estados Unidos, principalmente em Nova Iorque, Filadélfia e Chicago. O estilo era derivado do soul e do funky, com um ritmo dançante e moderno, cheio de instrumentos elétricos. Nessa época, viveu seu auge a partir das discotecas (onde pretos, gays e periféricos divertiam-se), seguindo firme apesar da repressão policial. Revelou para o mundo artistas que fizeram história e são celebrados até hoje como Bee Gees, ABBA, Donna Summer (com arranjos de Giorgio Moroder), KC and The Sunshine Band, Michael Jackson, Barry White e os saudosos Tim Maia e Rita Lee.

No Brasil, também sob influência da disco music, um dos maiores movimentos culturais acontecia. O Black Rio foi um período, durante a ditadura mili-

Adriano Canestri @adrianocanestri

Porque a comunidade preta foi fundamental para a construção da música eletrônica

tar, que as discotecas eram espaço para os negros se sentirem emponderados. Inclusive, o primeiro DJ do país, Osvaldo Pereira, é um homem preto. A disco que era a onda do momento deu espaço à sua filha house music no início dos anos 80. Pegando embalo na efervescente cena de Chicago, surge igual um meteoro. DJs como Frankie Knuckles, Larry Heard e Marshall Jefferson foram alguns dos responsáveis pela internacionalização do gênero, além do lendário club Warehouse.

Assim como na década de 1970, o movimento house continuava majoritariamente com pretos, gays e periféricos, mas atraindo bem mais pessoas. Iniciava-se ali a difusão da dance music com a mensagem da inclusão, diversidade e respeito. As noites nos clubs eram alvo de uma moda ousada e expressiva para a época. Em paralelo, o techno surge em Detroit, nos EUA. Encabeçado por Der-

rick May, Juan Atkins e Kevin Saunderson, que formavam o The Belleville Three, bebeu de fontes como disco, blues e daquilo que vinha da Europa como o som dos alemães Kraftwerk (cuja inspiração denota dos grooves de James Brown).

O techno soava como um som futurista, sem muito ou nenhum vocal e repetitivo, que combinava com Detroit. A cidade passava por uma revolução industrial e social, canalizada e transmitida para o mundo. Apesar de ter cruzado o oceano como o house e se tornado popular por toda a Europa, principalmente na Alemanha, nunca é demais reforçar que todo o movimento da música eletrônica, sua criação, valores e estilo de vida tem influência direta da cultura e do povo preto; algo que enfatiza a necessidade de sempre se resgatar as origens do que vivemos e acreditamos para termos ainda mais pluralidade e representatividade.

Fotos: Almir Veiga

GUY J: MAGIA EM EVOLUÇÃO E O RÉVEILLON NO BRASIL

Um dos mais potentes artistas da música eletrônica mundial, o israelense Guy J consolidou um legado notável como produtor e fundador de gravadoras influentes. À frente da icônica Lost & Found, que por anos figurou entre os maiores selos do progressive house, marcou uma era no gênero antes de encerrar as atividades para abrir espaço para um novo capítulo: a criação da Early Morning, com estreia marcada pelo aclamado EP Million years from now/Just rain.

A nova label reflete a constante evolução artística de Guy J e sua habilidade em reinventar-se enquanto mantém a essência que o tornou nome indispensável na cena global. Durante o Amsterdam Dance Event (ADE), batemos um papo exclusivo sobre carreira, conexão com o Brasil —para onde ele retorna no Réveillon do Surreal Park— e as novas direções que sua jornada musical está tomando. Tudo dentro do seu barco lotado que sempre encerra a maior conferência eletrônica do mundo.

Olá Guy, como enxerga o mercado de música eletrônica no geral hoje? Bem e com uma competição saudável. Há 15 anos as pessoas ouviam David Guetta e hoje escutam techno. David Guetta também é ótimo, mas techno talvez seja mais parecido com o que eu toco. É ótimo ver o que está acontecendo na cena.

O que essa festa no barco finalizando o ADE representa pra você?

É geralmente um conceito diferente de club ou festival. Você entra e fica preso aqui até o final. É uma vibração única, e dentro de tantas festas no ADE, é uma forma especial de terminar o evento.

Em 2023 você encerrou a Lost & Found e neste ano começou um novo capítulo com a Early

“ANO NOVO É ÚNICO E O SURREAL É MÁGICO. ESTOU

ANSIOSO!”

Morning. Por que achou que era o momento certo de recomeçar?

A decisão foi porque, igual você disse, era uma super label, e tudo que se faz com amor tem uma magia. Até o último lançamento todos foram bombas e achei que, se caso seguisse, essa magia poderia diminuir. Eu queria que a label significasse algo para as pessoas e continuasse.

Quais os seus objetivos agora com a Early Morning?

A mesma visão, encontrar músicas únicas. Já está sendo desafiador, desde o princípio. Hoje há tantos bons produtores. Espero que não seja a mesma coisa, mas que vamos criar um movimento novamente, essa magia.

Este ano você foi ao Surreal Park e vai voltar para a noite de réveillon, que é uma época muito especial para os brasileiros... Ano novo realmente é único e toda vez que vou ao Surreal é mágico, pois amo o club, o espaço, as pessoas. Renato [Ratier] está fazendo um grande trabalho e para mim é uma honra estar lá nesse dia e saber que minha música tem recebido tanto carinho no Brasil. Estou ansioso para esta data! Deixe um recado final… Brasil, amo vocês! Obrigado House Mag pela entrevista. Vamos abrir e fechar o ano da melhor forma possível!

Gábi Loschi @gabiloschi
Divulgação

RESOLUÇÕES DE SUCESSO

BLANCAh elenca cinco decisões determinantes para suas conquistas

São 20 anos dedicados às sonoridades melódicas com releases de relevância global, suportes frequentes de nomes como Tale Of Us e Solomun, tours que rodam o mundo e chegam à sua consagração na América do Sul; e, por fim, a presença nas label parties mais importantes do estilo como Afterlife, X-Future, Time Warp e mais: BLANCAh é um acontecimento na cena eletrônica, não apenas pelo que faz, mas como faz.

É claro que quem vê esse momento incrível de carreira sabe que a jornada foi longa, trabalhosa e cheia de decisões determinantes para ampliar a visibilidade de sua arte mantendo identidade e valores intactos. Ela nos trouxe cinco dessas resoluções e você pode aprender agora:

MERGULHO NA PRODUÇÃO

A escolha pelo mundo da produção é particular, mas para BLANCAh, estudar e mergulhar no estúdio foi essencial: “Definitivamente foi a

minha produção musical que alavancou minha carreira internacionalmente e me deu credibilidade como artista”, diz ela, que já lançou em labels emblemáticas como Renaissance Records, Steyoyoke, seu label HIATO, entre outros.

PRODUZO, LOGO EXISTO

Para BLANCAh, foi a possibilidade de se expressar artisticamente através da música que fez com que ela se identificasse como “artista” muito mais do que como “DJ”. A partir disso, todas as decisões em sua carreira tem um caráter mais pessoal e conceitual e menos mercadológico: “No cerne da questão está um instinto nato de criar, me expor em fazer arte para mim mesma por uma pura necessidade visceral de existir”. E esse é o gancho para o terceiro ponto;

SER EXCEÇÃO, NÃO REGRA

“Ser absorvida e flutuar no mercado para viver de Arte não quer dizer se moldar. Quando com-

ponho, nunca penso em seguir uma estética específica para me encaixar em determinado label, ou estilo musical. Componho primeiro para mim mesma, para me desafiar, para me agradar. Componho o que eu gostaria de ouvir”, diz. Não por menos alguns de seus releases foram uma exceção nos catálogos dos labels. O que havia? Uma essência artística distinta, que nasce e cresce com o quarto ponto.

CONCEITUAR SEMPRE

Tudo o que nasce de BLANCAh segue um norte criativo: “Eu tenho essa necessidade de criar conceitos artísticos. Cada novo trabalho musical, ensaio fotográfico, vídeo, tudo tem um roteiro, um pensar, um porquê. Isso dá corpo, dá sentido, fortalece, cria identidade e identificação”. Quem realmente gosta da BLANCAh, gosta da música e de todo um contexto conceitual e visual que existe desde o início.

VALORES ACIMA DE TUDO

Não “vale tudo” para alcançar a fama. Para BLANCAh, o respeito a todas as pessoas que estão nesta cadeia do processo do entretenimento é primordial. Do público ao contratante, de colegas artistas à técnicos, de profissionais diretos e indiretos que contribuem para o cenário: “Não passo por cima de ninguém e nunca me esqueço de onde eu vim. Não me deslumbro com nada e sou grata com cada conquista. Viver de arte é um privilégio e eu honro a minha vida com respeito e humildade”.

Foto: Letícia Ichnaz
Laura Marcon @lauravmarcon

5 FORMAS DE TORNAR O SEU EVENTO A MELHOR ESCOLHA

O mercado de eventos é dinâmico e altamente competitivo. Apenas quem sabe usar as melhores estratégias consegue sobreviver. Tornar o seu evento a escolha preferida do público exige planejamento detalhado, visão clara e capacidade de criar experiências inesquecíveis. O caminho é longo, mas com essas cinco estratégias, que aplico nos meus eventos, você vai estar mais próximo do sucesso.

ordinário em extraordinário. Pode ser um conceito inovador, uma conexão emocional, um propósito alinhado a causas importantes; ou, em outras palavras, entregar o que o seu público mais valoriza, maximizando recursos financeiros com o que realmente faz a diferença na hora da escolha.

CULTIVE RELACIONAMENTOS COM STAKEHOLDERS

O entendimento profundo sobre os requerimentos de clientes, fornecedores, artistas, patrocinadores, órgãos públicos e comunidade local é a chave do sucesso. Para os clientes, faça pesquisas detalhadas, identifique dados demográficos, interesses e comportamentos de consumo. Aos demais, entenda se são a favor ou contra o seu evento, qual é o nível de influência/poder que exercem, além de saber sobre requisitos técnicos e funcionais.

#01 #02

A MELHOR PROPOSTA

PELO MELHOR CUSTO

“Por que alguém deveria escolher o meu evento ao invés do concorrente?” As respostas das suas pesquisas contêm o segredo da transformação do

#03 BRANDING

O posicionamento de marca é o que diferencia um evento comum de um desejado. Para ser a melhor escolha, pergunte-se sobre: propósito e valores, identidade visual, tom de comunicação, tipo de atendimento e experiência, conexão emocional e, claro, como deseja ser reconhecido. Um evento bem posicionado não compete por preço; compete por valor percebido.

#03 #04

PDCA

A execução impecável é essencial para que o público perceba valor. Cada etapa do evento, da concepção até o encerramento, deve ser muito bem estruturada para mapear riscos, elaborar planos de contingência e evitar falhas. Faça verificações e ajustes constantemente dentro de um ciclo de qualidade (Plan-Do-Check-Act). O uso de técnicas e ferramentas de metodologias como o PMBOK, Scrum e Agile tornam os eventos mais eficientes e eficazes.

#05

SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL

Incorporar práticas sustentáveis e ações de impacto social não só agrega valor à marca do evento, como também fortalece a conexão emocional com os participantes. Comece com pequenas mudanças, como a redução de resíduos, políticas de reciclagem e plantio de árvores. No lado social, desenvolva laços com a comunidade local através de vagas de trabalho e capacitação profissional.

Se destacar entre a concorrência não é mais um bicho de sete cabeças. Conheça o público, posicione-se com autenticidade, ofereça valor real e execute com excelência. Quando você transforma um evento em uma experiência inesquecível, a concorrência deixa de ser uma preocupação.

Marcelo Madueño @m_madueno
Foto: Pedro Pini

CENA EM CRESCIMENTO

A MATURIDADE DO MERCADO DE MÚSICA

ELETRÔNICA BR E COMO SE DESTACAR

Nosso mercado vive um momento de consolidação e novas oportunidades. O Brasil vinha se destacando nas últimas décadas com a chegada de festivais como o Tomorrowland e o crescimento de eventos locais como o Só Track Boa, além de clubes e festas, mas perdemos uma parcela do público na pandemia para outros gêneros. Saímos da reclusão, mas o mercado nacional entrou em crise com a chegada de marcas internacionais, o encarecimento dos ingressos e mudanças no estilo de vida. Porém, 2024 parece finalmente apontar para a maturidade, refletida não apenas na estrutura profissional, mas em um público mais exigente.

Embora enfrente desafios estruturais, o mercado nacional já não é mais uma promessa: artistas emergem para o cenário mundial, marcas investem e eventos atraem multidões. O público brasileiro se consolidou como um dos mais apaixonados pela cena. Festivais internacionais consideram o Brasil uma parada obrigatória, enquanto eventos menores prosperam com propostas criativas e intimistas. Artistas internacionais também querem nosso engajamento, por isso fazem collabs com nomes nacionais relevantes, contratam assessorias de imprensa para fortalecer sua marca e investem em estratégias para crescer aqui.

Com tudo isso, o espaço para amadores diminui, e se destaca quem entende que o sucesso na música vai além do talento: trata-se de construir uma marca sólida e conectada com a comunidade. Então o que você, DJ e produtor, pode fazer?

Invista em sua marca pessoal DJs são mais do que músicos; são marcas. Isso vai além de desenvolver uma identidade visual forte, ter estilo e presença nas redes sociais. Falo de posicionamento, saber seus valores e construir sua narrativa. Invista em branding.

#01 #02

Não tenha medo de inovar É importante saber seu nicho, mas também olhar para onde o mercado está indo. O público é cíclico, assim como os sub-gêneros, então não fique parado: faça testes e crie algo que seja sua assinatura. Blazy foi criticado pelo remake de “Makup” e hoje é um dos seus maiores sucessos. Alok também, mas hoje lidera movimentos e todos colhem os frutos do caminho desbravado por ele. Defenda o que acredita.

Seja autêntico!

#03 #04

Produção musical de qualidade Qualidade técnica é essencial. Tocar a alma das pessoas também. Invista em cursos, equipamentos e colaborações com produtores experientes.

Seja presente nos eventos Tocar em festas pequenas ou horários alternativos pode ser o ponto de partida. Saia de casa, frequente os lugares, faça networking.

#05

Assessoria de imprensa

A assessoria amplia a visibilidade e posicionamento do artista. Agências como a The BOREAL Agency conectam DJs a jornalistas, podcasts e influenciadores, apresentando-os de forma alinhada ao mercado. Essa pode ser a diferença entre ser lembrado ou esquecido.

O futuro pertence aos que enxergam a música como arte e negócio, e estão dispostos a apostar para crescer.

Foto: Divulgação
Gábi Loschi @gabiloschi

AVISA: CLEMENTAUM É O NOVO FENÔMENO DO “CUZIL”

Fui à festa Slut Rave, em Florianópolis, conferir ao vivo o set da Clementaum. Eu já esperava bastante dela, afinal, já sabia que a DJ e produtora havia se tornado um estrondo no underground brasileiro. Naquelas quase duas horas de apresentação, ficou claro que o hype que a orbita é totalmente justificado. Foi uma explosão de sonoridades, numa mixagem ágil e dinâmica, que passou por house, techno, tribal house, breakbeat, funk carioca, bass house, hard house e mais. Aliados a essa musicalidade fora da caixa da Clementaum estão a sua personalidade expansiva, seus bordões (como “AVISA” e “IQUINIC”), e os seus looks inconfundíveis –isso inclui a bolsinha prateada, item obrigatório em suas apresentações. É seguro dizer: na nossa cena, não tem ninguém igual.

O público da festa em questão, em maioria da geração Z, tratou a artista como uma verdadeira popstar das pistas de dança. “Eu fico muito feliz por isso, virei realmente uma ‘diva pop do underground’, sabe? E às vezes toco em festas pequenas, de cidades do interior, as festas se organizam pra isso e lotam; um monte de gente querendo tirar foto comigo!”, conta a artista. “O rolê ideal para mim e, principalmente, para as pessoas à minha volta, é o que a gente se sente seguro e que possamos ser nós mesmos. Usar o look que quiser, dançar do jeito que quiser e se sentir bem, sem pessoas julgando em volta”.

Esse apetite por festa começou em 2016, quando Clementaum se tornou uma das primeiras DJs da cultura ballroom de Curitiba. Na verdade, sua contribuição foi tão grande para aquela cena que

Rodrigo Airaf @airaf_____
Foto: Gabriel Renne

ela ganhou o status de overall princess – uma espécie de reconhecimento honorário do universo ballroom. “Tipo a Rihanna em Barbados”, eu disse e ela concordou, rindo. Ela também produziu seus próprios eventos a partir de 2018. “Quando decidi de vez ser DJ, meio que virei de qualquer vertente. Eu queria tocar música eletrônica, minhas pesquisas de sons mais latinos, de vogue beat, umas doideiras. Só que não tinha muita oportunidade de tocar essas coisas”, conta. Mas, aos poucos, foi criando seu próprio terreno no mundo dance, e a sua carreira pegou ainda mais tração quando se mudou para São Paulo, há dois anos.

“O DJ que mudou a minha vida foi o Skrillex, que eu vi no Lollapalooza. Nunca tinha visto nada igual antes. Sabia que ele era super nerd, e pensei: ‘esse cara teve que se moldar e inventar essa coisa de DJ performer porque ia tocar em festival’. Achei ele muito foda”, conta. Apesar desta referência, não é no dubstep que Clementaum se ampara quando entra no estúdio de produção. Sua pesquisa é um mix poderoso da qualidade pulsante da música eletrônica com os batuques e ritmos latinos, a exemplo da guaracha, vertente muito consumida na Colômbia. Também é comum encontrar em sua estética sonora sons de berimbau, samples de chicotes, vocais sincopados de funk carioca e rap, baterias de escola de samba, crashes de vogue, e synths que nos remetem ao electro house.

O barulho em torno de Clementaum já a levou a fazer colaborações importantes, a exemplo de Idlibra, Carlos do Complexo, um remix para Pabllo Vittar e um clipe com o Cyberkills, “+ AÇÃUM”,

inspirado em “Thriller”, do Michael Jackson. Mas a novidade mais recente é outro marco para ela: a faixa “PASSAÇÃUM (ÉoQquerida?)”, uma colaboração com Karol Conká, sua rapper favorita.

Tão diligente quanto suas produções é sua pesquisa de repertório, que amplia o escopo sônico da artista com bastante ecletismo. Isto é, um set da Clementaum nunca será muito parecido com o outro. Por isso, pode trafegar pelas cenas. Por exemplo, em poucas semanas, ela pode tocar em grandes festivais, como Primavera Sound, cumprir residência na festa paulistana Kevin (conhecida pelo hedonismo com house music como combustível), tocar para o público pop do Zig Club ou se apresentar no High Club, antro do tribal house na selva de pedra.

Neste ano, Clementaum pôde levar seu som mais longe. Em sua primeira turnê internacional, viveu por três meses na Europa. “Todos os gringos curtiram muito o som. Amei tocar em Málaga, na Espanha, a galera realmente pirou. Outro rolê que foi ‘IQUINIC’, e que eu não esperava que seria tão bom, foi em Varsóvia, na Polônia. A galera sempre muito animada, gritando e pulando muito. As sonoridades eletrônicas latinoamericanas realmente estão em alta lá fora”, comenta. Além desses lugares, tocou em Berlim, Milão, Lisboa, Porto, Madri, Londres, Paris e Amsterdã. Mas foi em Barcelona, em pleno Primavera Sound (festival tido como um grande termômetro artístico global) que o ponto mais alto da turnê foi alcançado: teve, finalmente, um episódio do Boiler Room para chamar de seu.

“ROLÊ IDEAL PARA MIM, E PESSOAS À MINHA VOLTA, É O QUE [...] POSSAMOS SER NÓS MESMOS!”

Toda essa persona artística 360 graus da Clementaum sempre trabalha em favor dela, e sua presença constante nas redes sociais cria conexão instantânea com a audiência. “Pra mim isso é tão natural. Eu sempre fui a esquisita e engraçada da escola, que inventava bordões, fazia as próprias roupas, pintava o cabelo, e que gostava de músicas diferentes”, comenta. Não à toa, algumas de suas ações viram memes nas festas, como na sua turnê atual, De Volta ao Cuzil Tour. “Aquela coisa de colocar ‘cu’ nos nomes das cidades peguei do pessoal do Twitter/X. Eu vi o povo chamar Brasil de ‘Cuzil’ e, naturalmente, comecei a chamar assim. Quando ouvi um amigo chamar Curitiba de ‘Curitoba’, comecei a espalhar. Chamei o Rio de Janeiro de ‘Cu de Janeiro’ no microfone. São Paulo chamei de ‘Merdaulo’. Recife chamei de ‘Cucife’… e o povo tá amando!”, ela ri.

Por aqui, seguimos intrigados com a figura artística imponente e refrescante de Clementaum, e animados em acompanhar o seu crescimento nas cenas do Brasil e do exterior. “Se você se sente livre e sexy me ouvindo, é isso o que quero transmitir. Você pode ser quem quiser nesse momento”.

Foto: MH Conrado
Foto: Alba Rupérez

AS TENDÊNCIAS MUSICAIS PARA 2025

Análise de charts mostra que boa parcela do Top 100 é composta por releituras, que acabam trazendo um grande apelo para os ouvintes, para as pistas e para as playlists.

A música em 2025 deverá refletir um mundo cada vez mais conectado e impactado pelo que estamos observando hoje: o número ilimitado de lançamentos e de regravações em diferentes estilos, marcados por incontáveis colaborações entre artistas de variados segmentos, BPMs mais acelerados e a torcida por uma maior quantidade de novos hits —principalmente no mainstream.

Enquanto isso, o afro house, o melodic house, o melodic techno, o indie e a sonoridade dos anos 90 criam nichos dentro da música eletrônica entre o comercial e o alternativo. Já no Brasil vemos gêneros como o pop nacional, o piseiro, o trap e o funk (em suas variadas vertentes) reafirmarem a potência da rica cultura brasileira em um processo contínuo de expansão, com novos expoentes e grandes sucessos —dentro e fora do streaming.

Parcerias como a de Zerb [único brasileiro no Top 10 do Shazam Global] com Coldplay em “feelsllikeimfallinginlove” e com The Chainsmokers em “Addicted”, a de Alok com artistas do pop como Bebe Rexha, Ava Max e Jess Glynne, e a de Anitta com The Weeknd na faixa “São Paulo”, provam como uniões funcionam e conectam estilos. Além disso, remixes que resgatam a antiga e a atual MPB contribuem para essa pluralidade —como os de MAZ para Luedji Luna e Sued Nunes e os dois volumes do álbum Clássicos Reboot do DJ Meme.

O afro house se firmou como uma das vertentes de maior crescimento, apesar de percebermos um certo desgaste com faixas utilizando a mesma fórmula. Com raízes profundas na música africana, combina batidas percussivas com bastante leveza, criando uma atmosfera vibrante. Embora não seja novo como muitos pensam, ga-

Rodrigo Rodríguez @rodrigorodriguez

nhou maior projeção graças a artistas como Black Coffee, Keinemusik, Themba, Shimza, Curol, MAZ, Antdot, entre outros.

Sucessos como “Move” (Adam Port) e “I Adore U” (HUGEL, Topic) destacam esse lado mais comercial, que foram das pistas para as rádios, trilhas sonoras, playlists globais e para a TV. Versões inéditas com grandes nomes do pop como Camila Cabello e Ellie Goulding, reforçam essa consolidação. Artistas como Diplo, Camelphat e até mesmo Drake têm incorporado elementos do afro em algumas produções. Essa abordagem impulsiona o consumo nas plataformas de streaming e diversifica as bases de fãs e seus repertórios.

Já o melodic house e o melodic techno se destacam pela fusão de melodias emotivas e atmosferas cativantes. Tem como principais represen-

Foto: Roberto Castano
Black Coffee

tantes RÜFÜS DU SOL, Argy, Ruback, ARTBAT, Massano, Yotto, e Vintage Culture com o lançamento de seu álbum Promised Land. A música alternativa vem ganhando espaço também, incorporando influências da disco, do jazz, do funky e do soul em produções marcantes para quem busca ouvir sonoridades menos comuns.

Álbuns recentes como In Waves (de Jamie xx), Honey (de Caribou), e Hyperdrama (do duo Justice) apresentam essa mistura com texturas sonoras complexas, participações especiais e uma abordagem criativa que equilibra nostalgia com futurismo. Tal movimento é percebido através do remix de Mochakk para “Lost In Space” da banda Foster The People, pelos diversos anúncios de turnês de artistas indie e até pela exibição de um dos filmes do Daft Punk nos cinemas em todo o mundo.

Remixes têm tido papel crucial da pandemia pra cá, especialmente numa fase marcada pela escassez de músicas internacionais que viraram sucessos e pelo ressurgimento de faixas antigas que se tornam virais nas redes sociais. Num momento em que artistas e produtores enfrentam o desafio de inovar, a análise de charts como do Beatport e do 1001 Tracklists mostra que parcela significativa do Top 100 é composta por releituras, que acabam trazendo um grande apelo para os ouvintes, para as pistas e para as playlists.

Um bom exemplo é a coletânea Together, lançada pela icônica gravadora britânica Defected

para celebrar seus 25 anos. A compilação —que traz uma levada contemporânea com estética saudosista— reúne em sua maioria clássicos do selo, como “Can’t Get Enough” (Soulsearcher), “Finally” (Kings of Tomorrow), “Hey Hey” (Dennis Ferrer), “Cola” (Camelphat) e “The Cure & The Cause” (Fish Go Deep), entre outros.

Além das regravações, a influência da sonoridade dos anos 90 permanece muito em evidência, refletida em festas como a Rewind do club Laroc, o programa Summer Mix Eletro Hits da Mix FM e no lançamento de faixas que incorporam elementos do eurodance. Referências a isso incluem as vibrantes “Set Me Free” de Nic Fanciulli, “Good 4 U” de Luuk Van Djik e “Car Keys” de Alok (lançada em 2023).

David Guetta, ANNA, Charlotte de Witte, Purple Disco Machine, Dubdogz, Eats Everything, Jamas Mac e Alex Wann são alguns dos que têm renovado clássicos que marcaram gerações passadas para torná-los relevantes para a geração atual, como “Pulverturm” (Niels Van Gogh), “Forever Young” (Alphaville), “My Love” (Route 94), “Upside Down” (Diana Ross), “Quem Não Quer Sou Eu” (Seu Jorge), “Mess It Up” (The Rolling Stones), “Universal Nation” (Push), “Try Again” (Aaliyah), entre muitas outras.

O que leva a crer que 2025 será marcado por uma mistura musical ainda mais intensa, com artistas explorando elementos que buscam soar

Vintage Culture

REMIXES TÊM TIDO PAPEL CRUCIAL, EM FASE MARCADA POR RESSURGIMENTO DE FAIXAS ANTIGAS QUE SE TORNAM VIRAIS NAS REDES SOCIAIS

alternativos e incorporando BPMs acelerados, mas com o objetivo de alcançar maior apelo comercial e gerar mais streams nas plataformas. Muitas regravações como estratégia dos produtores e DJs são esperadas, com combinação de elementos do afro, do tech-house, da disco, do funk brasileiro e de outros estilos.

Podemos esperar tudo isso para 2025, através de maior diversidade e a fusão de vertentes dentro da eletrônica que estão impactando a indústria musical. Surpresas certamente virão; mas, por outro lado, é possível saírem mais remixes de “Freed From Desire” (Gala) e “Show Me Love” (Robin S) e diversas MTGs [montagens]. Os festivais seguirão abraçando toda essa pluralidade sonora e a música brasileira continuará a expandir seus horizontes, conquistando ainda mais espaço no cenário global.

RÜFÜS DU SOL
Foto: Eliot Lee Hazel

CLUBS EM CRISE?

Em meio à instabilidades globais e gentrificação, marcas brasileiras emergem como potência da música eletrônica

A cena clubber desempenha um papel vital no amadurecimento e na formação de novos amantes da música eletrônica. Esses espaços não são apenas locais de entretenimento, mas também ambientes onde culturas se entrelaçam, estilos musicais são explorados e novas e genuínas conexões são formadas. Clubs emblemáticos em cidades como Berlim, Londres e Ibiza têm sido cruciais na promoção de gêneros, como techno e house, ajudando a moldar a identidade musical de gerações. A experiência de dançar ao som de DJs renomados em pistas completamente vivas e responsivas permite que os frequentadores desenvolvam um profundo apreço pela música eletrônica, tornando-se defensores ativos de toda a cena.

O panorama global dos clubs tem enfrentado desafios significativos, e o fechamento de

importantes lugares tem se tornado uma tendência preocupante para todo o setor, com a especulação imobiliária comprometendo ainda mais a cena clubber. O Watergate, um dos principais e mais icônicos da Alemanha, anunciou que após 22 anos irá encerrar suas atividades. Outro que pretende encontrar uma nova locação é o Wilde Renate, que também devido ao fim do contrato de aluguel, tende a fechar suas portas no fim do ano que vem. Já no Reino Unido, o icônico Printworks teve o mesmo fim devido a solicitação da British Land, empreiteira proprietária do local, em transformá-lo em um grande centro de escritórios e salas comerciais.

Entretanto, o cenário brasileiro, mesmo sem incentivo governamental e enfrentando o conservadorismo político, tem crescido nestes anos pós-pandêmicos. Só no ranking da revista britâ-

nica DJ Mag há dois grandes clubs no Top 10 e três tiveram crescimento em suas colocações. Mas ao que se deve a razão do Brasil indicar um dos maiores avanços neste setor em específico?

VALORIZAÇÃO DA ECONOMIA NOTURNA

A cultura dos clubs e da música eletrônica se entrelaça com a apelidada “economia noturna” que impulsiona serviços diversos, como hotéis, restaurantes e aplicativos de transporte, principalmente em cidades litorâneas e destinos turísticos. Esses espaços têm atraído tanto turistas nacionais quanto internacionais, ajudando a promover o Brasil como um destino de entretenimento de alto nível. Locais como Camboriú, Itajaí, Búzios e o litoral paulista são perfeitos exemplos.

Foto: @Alisson Demetrio

CONEXÃO COM A NATUREZA E O TURISMO DE EXPERIÊNCIA

Os clubs brasileiros se destacam por oferecerem não apenas música, mas experiências imersivas, aproveitando-se de paisagens naturais icônicas. Warung Beach Club, Laroc Guarujá, Greenvalley e Privilège são estabelecidos em paisagens deslumbrantes, como praias e montanhas, o que os diferencia dos grandes centros urbanos. Isso é atraente aos estrangeiros, especialmente num momento em que o turismo de experiência é uma tendência mundial.

MODO FESTIVAL E O FOMENTO À CULTURA CLUBBER

Clubs têm adotado uma imersão de experiência em suas edições, com artistas de diversos estilos e agregando espaços de merchandising e ativações de grandes marcas em suas estratégias. Em Camboriú o Surreal Park, complexo de 135 mil metros quadrados, oferece 5 palcos além de mais 2 em construção, incluindo a “Jet Set”, uma pista de dança projetada em um antigo avião. Já o Laroc Valinhos agrega-se ao seu irmão mais novo Ame Club para

Foto: @OXGNStudio
Foto:
Bruno Bellato @bellatobruno
Greenvalley
D-EDGE Rio
Warung Beach Club
Foto: @EbraimMartini

proporcionar edições como o Ame Laroc Festival, durante o carnaval e a Elrow XXL, com dois temas diferentes, pela primeira vez no Brasil.

EXPANSÃO DE PROGRAMAÇÕES E LINEUPS DIVERSIFICADOS

Os clubs brasileiros estão investindo em parcerias com DJs e labels estrangeiras, fortalecendo a reputação do país na cena global. Essa expansão ajuda os frequentadores a terem acesso a uma programação que mescla o local e o internacional, o que é raro de ser visto em muitos outros países. Entre os exemplos estão o recente Verknipt Brazil, o festival de hard techno que pela primeira vez se apresenta no Ame Club e teve uma vasta gama de DJs regionais entre os talentos do selo.

RESILIÊNCIA E ADAPTAÇÃO AO CONSERVADORISMO POLÍTICO

Embora o cenário político atual apresente desafios em termos de restrições e conservadorismo, o setor cultural e de entretenimento vem se mostrando resiliente. Clubs e promotores têm buscado formas de driblar essa pressão, seja por meio de parcerias privadas, financiamento coletivo ou colaborações internacionais,

para manter a cena ativa e inovadora. Um bom exemplo são as ações do grupo Caos em conjunto com a prefeitura de Campinas, que através do projeto “Campinas Toca Disco”, leva música eletrônica para diversas gerações e a um público eclético em locais públicos.

CRIAÇÃO DE SELOS

FONOGRÁFICOS E AGÊNCIAS PRÓPRIAS

Clubs como o D-EDGE, Warung e Ame investiram em suas próprias gravadoras e agências de bookings. Isso não só garante uma curadoria de qualidade na escolha da programação de suporte, como fortalece uma cadeia produtiva dentro da cena regional em que atuam, gerando oportunidades para artistas locais e dando maior autonomia aos estabelecimentos.

ACESSO AO MERCADO INTERNACIONAL E COLABORAÇÕES GLOBAIS

Parcerias internacionais, como a recente entrada do Grupo Laroc na Warner Music Group, possibilita remixagens do catálogo da Warner Chappell para artistas brasileiros em ascensão, além de oferecer uma distribuição mundial em massa de faixas brasileiras, que podem ser um marco para o país. Essas colaborações

CLUBS BRASILEIROS ESTÃO INVESTINDO EM PARCERIAS COM DJS E LABELS INTERNACIONAIS, FORTALECENDO

A REPUTAÇÃO DO PAÍS NA CENA

colocam o Brasil em evidência na cena eletrônica e atraem novos públicos para o país, que enxergam nos clubs locais uma experiência autoral de alta qualidade.

A ascensão dos clubs brasileiros no cenário global representa um exemplo de resistência, inovação e adaptação cultural em um mercado tão competitivo quanto o latino-americano, ao conseguirem criar uma forte identidade própria, atraindo olhares de toda a comunidade internacional. No ritmo desse crescimento exponencial, os locais não só se tornam epicentro culturais e criativos, mas impulsionam também através das suas bases e do contexto histórico a cultura eletrônica para novos horizontes, influenciando diretamente o futuro do setor.

Foto:
@RT Imagens
Ame Club
Foto:
Adriel Douglas
Surreal Park

A JORNADA DE ARY JÚNIOR

DO SUCESSO NO FIELD CLUB À GESTÃO DE ARTISTAS, UMA TRAJETÓRIA DE ADAPTAÇÃO

NO MERCADO DE MÚSICA

ELETRÔNICA

BRASILEIRA

Ary Glonek Júnior é um nome que representa paixão e reinvenção no mercado da música eletrônica com uma jornada de 18 anos. Tudo iniciou-se em Papanduva-SC, quando fundou o Field Club há 14 anos, que se tornou um marco para a cena. Ao longo de sua existência, atraiu público de várias cidades tanto do próprio Estado, como do Paraná. “Sempre fiz tudo com muito coração, e o clube foi o começo de tudo”, conta Ary.

O Field logo se consolidou como ponto de encontro, recebendo nomes como Alok, Vintage Culture, Illusionize, Kolombo, Boris Brejcha… No entanto, entre 2016 e 2017, o mercado enfrentou mudanças significativas, e a crise econômica afetou a realização de eventos. “Por mais que o club fosse um sucesso, não era mais suficiente para sustentar meu trabalho. O custo de trazer grandes artistas estava ficando insustentável”.

Diante da necessidade de se reinventar, fundou a Field Talents, uma agência para gerenciar DJs. Inicialmente representando talentos locais, passou a contar também com Flux Zone, Rocksted, Visage, Tough Art entre outros. Tal sucesso levou à criação da Field Management, uma agência com foco na gestão de carreiras de artistas. Essas iniciativas fizeram com que Ary se destacasse como um grande nome na gestão musical.

Com o tempo, o Field Club se tornou apenas uma parte deste portfólio, que priorizou o trabalho como booker e a organização de eventos. Em 2020 durante a pandemia, junto com seu sócio Alexandre Olstan Menezes, criou o It’s Time Now, uma plataforma de mentorias para DJs. O projeto, que ofereceu treinamentos em áreas como produção musical e gestão de carreira, foi um sucesso, atingindo mais de 400 artistas.

Ao longo deste período, trabalhou como booker na Plusnetwork e ao se desligar da agência, ingressou na Box Talents, para uma nova etapa em sua jornada, ao passar a bookar artistas com agendas concorridas como Devochka, INNDRIVE, Fatsync, Illusionize, Almanac e vários outros. “Ainda mantenho o trabalho de booker, agora na Box Talents, e continuo com o clube e gerenciando a carreira de alguns artistas”, explica.

Hoje, é responsável por vários artistas em ascensão e consolidados no mercado nacional. O Field Club ainda segue ativo, mas realizando bem menos eventos por ano. Apesar dos desafios ao longo dos anos, Ary mantém uma visão otimista sobre o futuro da música eletrônica no Brasil. “A cena está difícil, mas sigo apaixonado pelo que faço. Sempre busco me adaptar e, quem sabe, novos projetos surjam no futuro”.

Foto:
Laura Stetner @laustetner

FUNK: A FACE ELETRÔNICA

LEGITIMAMENTE BRASILEIRA

Se a música tem um papel crucial na definição cultural de um lugar e tempo, o funk é provavelmente um dos maiores representantes da identidade musical brasileira. Extrapolando a condição de gênero musical, se consagrou uma declaração de cultura e resistência. Mas como se tornou essa força tão significativa? Aliás, o que o leva ao posto de face da música eletrônica legitimamente brasileira? Para entender seu DNA, recapitular as suas raízes e o caminho que percorreu é tarefa obrigatória.

Nos anos 80, o Miami bass explodiu nos Estados Unidos com um som hipnotizante, baseado em linhas de baixo marcantes e batidas ressonantes da Roland TR-808, em uma estética bem delineada e letras explícitas —muitas vezes extraídas do hip-hop. O ritmo encontrou um terreno fértil nos bailes black cariocas, quando DJs perceberam que poderiam adaptá-lo às suas próprias realidades. Sua simplicidade e potência foram cruciais para criar a sensação imediata de conexão e identificação, mesmo em contextos sociais e geográficos tão distantes. Nesse cenário que DJ Marlboro, um dos mais influentes, emergiu reconhecendo seu potencial para ser moldado de acordo com as narrativas locais.

Marlboro foi pioneiro ao misturar as batidas importadas com os elementos da música regional, resultando em um som que reverberava a identidade nas periferias. Lançado em 1989, D.J. Marlboro apresenta Funk Brasil é considerado o marco zero

do gênero, dando início ao processo de tradução cultural feito por uma recriação com linguagem própria. Essa foi a faísca de um fenômeno estrondoso. As batidas do Miami bass se fundiram com a vivência do dia a dia das comunidades, resultando em algo completamente novo e ao mesmo tempo familiar. Tornou-se então fruto do hibridismo cultural, utilizando a música eletrônica como ferramenta ao expressar um som que ressoasse tanto nas ruas quanto nas pistas de dança.

Entretanto, a relação entre o funk (que ainda enfrenta um ostracismo por parte dos meios tradicionais da e-music no Brasil) e o que convencionalmente se chama de “música eletrônica” nem sempre foi harmônica. Esse afastamento pode ser compreendido por diversos fatores: questões sociais, preconceitos e a própria divisão de classes. Porém, essa aparente separação é mais ilusória do que real, pois compartilham mais semelhanças do que aparentam: do uso criativo dos sintetizadores à importância da figura do DJ. Estruturalmente, dividem a essência rítmica intensa e repetitiva —além da utilização de samplers e drum machines. Esses gêneros também evoluíram e se adaptaram em resposta às suas respectivas comunidades, funcionando como uma máquina de contar histórias, tecendo narrativas através de suas letras e produção musical.

Seja nas festas underground de Chicago, nos armazéns industriais de Detroit, nas favelas cariocas ou nas vielas paulistanas, a música é uma fer-

Beltran
Foto: mverde

ramenta poderosa de afirmação identitária. É essa intrínseca capacidade de inovação e adaptação que conecta as diversas facetas da música eletrônica, em um rico diálogo que transcende barreiras geográficas e culturais. Afirmar que esses campos jamais deveriam ter se distanciado é um convite à apreciação do funk como parte inseparável do rico ecossistema da música eletrônica.

Do carioca DJ Ramon Sucesso e o seu beat bolha (destaque recente na coluna The Art of DJing, do Resident Advisor) e a inconfundível Deize Tigrona, ou na ‘cremosidade’ sonora de BH com DJ Akila, FBC e Vhoor; passando pela potência do Sul com Clementaum. Sem contar os paulistas Caio Prince, Deekapz, Mu540, Kyan, CESRV… a lista de produtores, DJs e MCs que ignoram as barreiras invisíveis entre os nichos é grande. E de artistas que ascendem da música eletrônica também: BADSISTA, Classmatic, CRAZED (BR), KAIR, Mochakk, RHR e Valentina Luz são alguns dos que merecem a menção ao incorporar o funk enquanto parte de suas respectivas assinaturas. Beltran, DJ produtor de Bento Gonçalves-RS, consolidou-se uma referência pontual neste sentido.

O jovem ascendeu musicalmente em 2022, mesmo ano que cravou um dos maiores hits de sua carreira e do catálogo da Solid Grooves Raw (comandado por Michael Bibi). Lançada em setembro daquele ano, “Smack Yo’” pavimentou uma estética que virou a sua rubrica e também o catapultou internacionalmente. Ele seguiu explo-

rando isso em faixas como “Tira a roupa - Putaria mix” (com vocais do MC Jajau), consolidando de vez o sucesso da sua abordagem. No entanto, “Smack Yo’” ainda merece destaque já que vem passando por um retorno interessante nos últimos meses. A track se tornou a trilha sonora do ‘Ombrinho Challenge’, um desafio de dança que caiu nas graças das redes sociais no mundo inteiro, em especial na Coreia do Sul. O fato mais curioso dessa dinâmica é que o passinho em questão é do funk paulista, viralizado com uma música que, categoricamente, é tech house.

O fascínio que o vem inserindo em espaços antes restritos a gêneros como house e techno e o internacionalizando, reside exatamente nessa capacidade de inovação e reverência cultural —um reforço que a música eletrônica pode ser politicamente poderosa e socialmente engajada. Entender e respeitá-lo enquanto parte da legítima música eletrônica brasileira é celebrar a diversidade sonora do país e reconhecer vozes que já foram desvalorizadas. Devemos não apenas respeitar, mas também abraçar sua complexidade e potencial.

O funk é uma manifestação vigorosa da musicalidade brasileira e de como a música eletrônica pode ser um ato revolucionário e unificador. É sempre válido lembrar que cada gênero conta uma história e que todas elas são legítimas. E se você sente que não é para você, está tudo bem, desde que saiba conviver e respeitar as diferenças —dentro ou fora das pistas de dança.

DJ Malboro
Baile Clandestino
Isabela Junqueira
@isa__be__la
Foto: Marco Macedo
Foto: Underlight fotografia

HIP-HOP E A INFLUÊNCIA NA E-MUSIC

DJ, Breaking, Grafite e MC em evidência

Com a celebração de 50 anos da Cultura Hip-Hop ao redor do mundo, muita gente teve conhecimento de que não é apenas um ritmo musical, mas sim quatro manifestações artísticas fundamentais: DJ, Breaking, Grafite e MC. A música, que não se resume somente ao rap, é uma parte muito importante dentro desse contexto, até porque tudo começou com uma festa idealizada por Cindy Campbell, irmã do DJ Kool Herc. É sabido que existiam outras festas e DJs, mas esta é considerada o pontapé de um movimento que revolucionou também a moda, as artes plásticas, a dança e as pistas.

E foi nas pistas de dança e principalmente na arte dos toca-discos que DJs do hip-hop revolucionaram com suas técnicas e produções criativas

e autênticas. Scratch, transforms, beat juggling, turntablism, colagens e tantas outras foram criadas, aperfeiçoadas e popularizadas. Grand Wizard Theodore é considerado o descobridor do scratch, Grandmaster Flash é a referência histórica na arte do turntablism, Kool Herc, Afrika Bambaataa, GrandMixer DXT e demais nomes popularizaram a presença de DJs como músicos em outros estilos.

Durante toda a década de 70 o trabalho desses DJs ficou restrito aos guetos de Nova Iorque, às Block Parties (festas de quarteirão) e aos sound systems. Com as primeiras gravações oficiais mostrando suas técnicas e os filmes lançados mundialmente, tudo mudou e passaram a ser referência. Com grande influência da música afro-estadunidense, no Brasil não foi diferente

e veio ecoar mais fortemente através das equipes de baile em diversos Estados, com maior presença em São Paulo e Rio de Janeiro.

Isso se populariza em 1983 primeiro pela dança, o que na época a mídia batizou de break dance. Até que em 1984, através das telas de cinema, com a chegada do filme Beat Street, aquela geração descobriu que a dança fazia parte de uma cultura que também tinha MCs, DJs e o Grafite. Não demorou muito para que os primeiros DJs do hip-hop tivessem alguma influência na música e nas pistas. Mesmo com a dificuldade em ter os melhores equipamentos, foram surgindo no país todo.

A Cultura Hip-Hop acontece simultaneamente em diversos lugares, tanto em grandes capitais quanto em cidades do interior durante os primeiros anos da década de 80. Ao mesmo tempo, isso não tira a importância histórica da Estação São Bento na capital paulista, pois foi ali que aconteceram grandes encontros que acabaram impactando, influenciando e inspirando toda uma geração. Concentrando essa importância nos DJs, por ali passaram KL Jay, Hum, Ninja, MC Jack e tantos outros.

Tecnicamente os DJs brasileiros tiveram mais destaque a partir da década de 90, mesmo com todas as dificuldades de acesso citadas. Nas pistas e bailes das periferias mostravam que não eram apenas bons na questão técnica, mas também tinham seleções musicais que até hoje servem de inspiração para as novas gerações de artistas. Já na metade dos anos 90 as festas se espalham pela cidade de São Paulo e chegam a bairros mais centrais e também nos chamados “de classe alta”, como Jardins e Pinheiros.

A criatividade, a curiosidade, a necessidade e o amor pela música fez com que muitos se tornassem beatmakers e até produtores, criando assim as suas próprias músicas. A descoberta e o acesso a equipamentos como baterias eletrônicas, sequenciadores e qualquer outro acessório que fosse possível fazer uso de samples, levou esses DJs ao próximo nível. Na coletânea Hip-Hop Cultura de Rua, considerada o primeiro disco do gênero no Brasil, Akira S. foi o responsável pelas produções do grupo O Credo e já utilizava esses equipamentos.

No grupo Região Abissal, dos primeiros a lançar disco solo por uma grande gravadora, DJ Giba utilizava tais equipamentos ao vivo e em estúdio. São muitos os que passaram a criar as suas próprias batidas, como Cuca, Raffa, Madzoo, Hum, Som3 e também alguns que não eram DJs, mas tinham uma relação muito forte com o rap e a música negra em geral, como o saudoso Fábio Macari (19622012). Ainda é preciso dizer que vários na década de 90 se destacaram e ganharam o mundo na cena eletrônica tiveram forte influência do rap e da Cultura Hip-Hop, como DJs Marky e Patife.

É importante contextualizar toda essa movimentação do final dos anos 80 e durante todo os anos 90, pois foram esses acontecimentos que preparam o terreno para a cena que existe hoje. Na virada do ano 2000 a quantidade de DJs produzindo suas próprias músicas era muito maior e a qualidade também cresceu com o acesso a novas tecnologias e melhores estúdios. Dos anos 2000 pra frente já não estavam mais fazendo produções apenas para grupos de rap; as colaborações estavam no rock, no samba, no reggae, na MPB… enfim.

VÁRIOS QUE SE DESTACARAM

NA CENA

ELETRÔNICA

TIVERAM UMA INFLUÊNCIA

DIRETA DA CULTURA

HIP-HOP, COMO DJS MARKY E PATIFE

Outro ponto positivo é a presença das manas nos toca-discos e também nas produções. Até o começo dos anos 2000 era difícil para qualquer um fazer relação de 10 mulheres DJs no hip-hop; hoje quem acompanha a cena consegue citar facilmente mais de 30 nomes. Só para ficar em São Paulo destaco Tati Laser, Vivian Marques, Simmone Lasdenas, Lisa Bueno, Miria Alves, Miya B, Cinara, Esteves, Priscilla Groove e tantas outras.

Atualmente é quase impossível contabilizar o quanto DJs do hip-hop e suas produções estão presentes nas pistas, dentro dos mais diversos estilos de música. Com os avanços tecnológicos, ter acesso aos equipamentos já não é mais um problema tão grande, pois já é possível fazer música com o celular na palma da mão. Assim, os DJs e produtores brasileiros se proliferam e estão presentes nas pistas do mundo. Nem todos têm ligação com a Cultura Hip-Hop, mas não dá pra dizer que o que aconteceu nos anos 80, 90 e começo dos anos 2000 não influenciou de alguma forma o que acontece hoje.

Foto:nononono
Foto: Michael Bosboom
Gil Souza @elementosmag
DJ Grandmaster Flash

GREENVALLEY 17 ANOS

Iniciada no sunset com Michael Bibi, a agenda segue nas próximas semanas com &ME do Keinemusik, Steve Angello, Vintage Culture e muito mais

O novo formato adotado pelo Greenvalley para comemorar o seu 17° aniversário foi um sucesso absoluto. A Sunset Party, do dia 16 de novembro, teve o DJ britânico Michael Bibi como grande atração. Além dele, nomes como Chemical Surf, Beltran e Maya comandaram a festa que marcou a abertura do verão com ingressos esgotados. A ocasião especial foi um convite a todos os fãs para vivenciarem o club e toda sua natureza sob uma nova perspectiva.

Nesta primeira parte serão realizadas mais seis festas inesquecíveis, recheadas de nomes internacionais e nacionais dos mais relevantes. No mês de dezembro, o dia 28 reserva uma data especial para os fãs de EDM, com o DJ produtor Steve Angello, um dos nomes por trás do lendário grupo Swedish House Mafia. O artista retorna ao club após seis anos e traz no repertório hits conhecidos mundialmente como “Tell me why” e “Show me

love”. O duo Dubdogz também está confirmado, e promete trazer toda energia do seu set para a noite, que ainda conta com Liu, Atkø e Margot.

Dia 29 uma noite de headliners estreantes. Os holandeses do projeto ANOTR trazem ao litoral catarinense sua vertente inovadora do house music, mesclando influências disco, soul, funky e jazz, como em seus trabalhos mais ouvidos: “Relax my eyes”, “Vertigo” e “Help”. Outro escalado é o londrino PAWSA, co-fundador da Solid Grooves ao lado de Michael Bibi, que traz em seus sets um tech house potente e com muito groove. Ele é responsável pelas clássicas “The groovy cat”, “Roll play” e pelos recentes hits “Too cool be careless” e “Pick up the phone”. O lineup também conta com Aline Rocha e a dupla Cattch.

Em 31 de dezembro o réveillon Greenvalley promete iniciar 2025 com as energias renovadas em um

dos destinos mais procurados do país. Inspirado nas principais festas internacionais, traz uma atmosfera que une gastronomia e drinks all inclusive, além de experiência audiovisual, performances e música. Para comandar a noite, um lineup com Korolova, DJ produtora ucraniana que em 2023 fez mais de 100 apresentações em 50 países; Antdot, DJ produtor brasileiro de afro house, organic e melodic house; além de Dropack e Carol Seubert.

No dia 2 de janeiro, o club recebe &ME, integrante do Keinemusik, um dos grupos de maior hype da cena eletrônica atual. É um dos DJs produtores mais elogiados e procurados do momento, carregando na bagagem lançamentos solos, remixes, projetos e colaborações ao lado de Adam Port e Rampa (outros integrantes do grupo), como “The Rupture Pt.III”, “Thandaza” e “Move”. Curol, Malive B2B Riascode e South Birds também estão confirmados para a data.

No dia 4 de janeiro, Vintage Culture, figura muito querida pelos fãs do Greenvalley, chega para comemorar seus 10 anos de residência. A data irá marcar a estreia da nova label do artista, Affairs, e promete ser o início de mais um capítulo marcante na carreira do DJ. Essa será sua primeira apresentação no club após o lançamento do último álbum, o aclamado Promised Land. A noite ainda conta com um convidado especial, o holandês Joris Voorn, além de Arodes, Dooze e Antônio Oliva.

Para fechar a primeira parte da agenda de verão, no dia 11 de janeiro, o estadunidense John Summit, que lançou recentemente o álbum Comfort In Chaos, volta ao club para mais uma performance que promete ser memorável. A noite ainda conta com a presença de Illusionize, conhecido pelo seu bass house energético e sets eletrizantes, além de Bhaskar e Georgia. Outras informações, no site ou perfil oficial do Instagram.

NA PRIMEIRA PARTE DA PROGRAMAÇÃO SERÃO SETE FESTAS INESQUECÍVEIS, RECHEADAS COM NOMES NACIONAIS E INTERNACIONAIS RELEVANTES

Garim (Koi Comunicação) @koicomunicacao

Fotos: Diego Jarschel
Fotos:
Pedro

BLAZY: O PSYTRANCE BRASILEIRO NO CENTRO DA CENA GLOBAL

Acumula topos das paradas no Beatport, se tornando um dos maiores expoentes do estilo

Henrique Janelli dividia sua imaginação entre os campos de futebol e a imensidão do universo. Cresceu ao som do rock, influência dos pais, mas foi na psicodelia que encontrou sua verdadeira paixão. Hoje, sob o codinome Blazy, conquistou o topo das paradas do Beatport e se tornou um dos maiores expoentes do psytrance global, levou a nossa bandeira para o maior evento de música eletrônica mundial, o Tomorrowland Bélgica, e será o primeiro DJ brasileiro de psy no Ultra Miami, em 2025.

“Tocar no Ultra Music Festival é um sonho para qualquer DJ. Fazer parte desse lineup é um privilégio enorme. Ainda mais produzindo um estilo que lá não possui um grande apelo popular. Isso torna tudo muito mais especial e gratificante”, expressa o gaúcho. Com uma carreira marcada por viradas decisivas e ascensão no cenário internacional, o jovem de Pelotas-RS transformou seus sonhos em realidade. Em uma conversa exclusiva, nos levou por uma viagem no tempo, relembrando os marcos de sua trajetória, transformações que moldaram seu som e novidades, como sua primeira colaboração com Vini Vici, “Corpo e Canção”, que chega em 2025.

“Estou muito feliz em compartilhar um pouco da minha história com uma revista tão conceituada e de alguma forma expandir também os caminhos do psy. É um estilo que muita gente ainda não conhece ou ainda não teve a oportunidade, apesar de ser gigantesco. Sinto que só vem crescendo e não tem como ser diferente. É apaixonante”, revela Blazy.

A INFÂNCIA

Como era o Henrique criança? Agitado, distraído e muito curioso. Meus pais me incentivavam com livros de curiosidades dos planetas e sobre o tamanho do universo. Quando tinha uns sete ou oito anos perdi minha avó, Teresinha, e percebi quão insignificante era a nossa existência. Foi o meu primeiro choque existencial, e associei aquilo a toda a imensidão do universo.

Nessa mesma época você ouviu música eletrônica pela primeira vez, como foi?

Quando tinha oito anos, foi coincidentemente psytrance e Astrix. Meu irmão, Marcel, chegou em casa depois de ir a uma festa e me mostrou.

Guedes @iasmimguedes

Era “Poison”, primeira faixa do álbum Artcore do Astrix. Meus pais são rockeiros, então era basicamente a única coisa que eu conhecia. A música eletrônica expandiu minha cabeça de uma maneira inacreditável e passei a pesquisar sobre psytrance. Procurava por psychedelic trance —sabia apenas que era um estilo musical— e baixava no Kasaa. O que mais me chamou atenção foram as buildups, aquela subida que cria expectativa antes do drop, pois isso no psy é muito marcante e carrega uma energia. Mostrei para o meu amigo de infância, o Hector Moreira (meu videomaker atualmente), que também gostou. Nas festinhas de garagem com o pessoal da escola, lá pela quinta série, colocávamos pra criançada ouvir. Ninguém entendia nada, mas gostavam porque era uma coisa diferente.

O INÍCIO

Quando o desejo de se tornar DJ surgiu? Queria ser astronauta, mas desisti ao descobrir que precisava passar no ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica]. Quis ser jogador de futebol, mas mesmo treinando, não tinha o talento natural que os outros garotos. Desisti, aos 14 ou 15 anos, justa-

Iasmim
“COMECEI A PESQUISAR SOBRE COMO SER DJ E UM ANO DEPOIS JÁ TINHA LANÇADO MINHA PRIMEIRA TRACK.”

mente pelo sonho de ser DJ. Me recordo de escutar uma faixa do Swedish House Mafia, que me despertou para o mundo da música. Quando vi o clipe deles, pensei: “Eu quero fazer isso”. Comecei a pesquisar sobre como ser DJ e um ano depois já tinha lançado minha primeira track. Iniciei pela produção porque ainda era adolescente e não tinha idade para tocar em festas. Comecei pelo psytrance, mas era difícil encontrar tutoriais na época. Foi quando conheci o progressive house e mergulhei de cabeça no gênero. Enviei minha segunda música para o Felippe Senne, que tinha uma gravadora chamada Brazilian Vibes. Ele curtiu, deu alguns feedbacks, e após melhorias a lançou em 2012.

Você experimentou outras sonoridades e até participou de um projeto de trap. Compartilha um pouco dessa história.

Surgiu a oportunidade de tocar pela primeira vez, em uma festa de dubstep, depois veio a proposta para outra e me convidaram para ser de um coletivo. Na primeira reunião conheci o Rodolfo [Aura Vortex]. Ele cursava Economia e eu estava no segundo ou primeiro ano do ensino médio. Ficamos amigos e, inclusive, a primeira música que lancei com o Senne foi o Rodolfo que fez a capa. Depois, dois caras do coletivo me convidaram para fazer uma colaboração em um projeto de trap, chamado Pesadão Tropical —tipo Tropkillaz, que misturava funk [carioca] e outras sonoridades brasileiras. Eu era um dos únicos produtores da cidade. Entrei para o projeto, lançamos a música e viralizou na cena do trap.

O APOIO

E como foi com os seus pais?

Quando minha primeira música saiu, meus pais começaram a me apoiar mais, ao perceberem

que não era brincadeira. Meu computador era muito ruim e minha mãe, Marta, deixou usar o notebook dela para produzir. O lance do Felippe Senne foi fundamental para isso.

Como tudo impactou na cena eletrônica da sua região? Como foi o apoio por lá?

Em Pelotas a cena era pequena, mas foi crescendo junto comigo, com o Aura Vortex e o Gottinari. A cidade chegou a ter festas de duas, três mil pessoas… foi uma época de ouro. Sempre tivemos muito suporte da galera da nossa cidade, pois éramos da pista e de repente estávamos nos palcos, tocando fora. Faziam campanhas para as festas da capital nos contratarem, votavam nas enquetes. Foi muito massa esse carinho! Tem um grupo que se chama “sem fim”. O Júnior e a Guaíra eram responsáveis por organizar as excursões para as grandes raves e com certeza foram os que mais contribuíram para o nosso crescimento. Eles mobilizavam excursões para nos ver, e na hora dos nossos sets o front ficava lotado. Isso nos deu uma grande força no início da carreira.

Sou grato demais e sempre lembro da galera que me ajudou. Tenho total consciência que não teria conseguido se não fossem essas pessoas.

Quais foram os primeiros grandes eventos que você se apresentou como Blazy?

São João Trance, em 2014, no Nordeste. Na minha região foi o Orion Festival, em 2016, quando eu fiz a “Tandava” para ser o tema da festa e se tornou a minha música mais famosa.

ASCENÇÃO

Mais de 14 milhões de plays só no Spotify, “Tandava”, em collab com Gottinari, foi um dos maiores hits do psy nacional. Como essa track impulsionou sua carreira?

“Tandava” foi instantânea! Fomos para a casa do Demiam, depois de um after… estávamos no estúdio e tocou Shanti People no YouTube (ficamos impressionados com o vocal). Fizemos só um kick e bass e um exemplo de drop, suficiente pra já sacarmos que seria hit. Prometemos que não contaríamos a ninguém, só depois de pronta. O Demiam entrou em contato com Shanti People, que gostou da ideia, e a partir daí já fiz um dropzinho mais arrumado. O Rodolfo foi na minha casa e mostrei para ele. Depois de ouvir não me deixou sair para uma festa porque eu tinha que terminar a música, se não perderíamos uma das maiores bombas. Passei

a noite fazendo e de manhã subi no SoundCloud. O Rodolfo fez um vídeo teaser de anúncio e postei no Facebook. No mesmo dia já estava viralizada e nem tínhamos ela pronta, só aquele pedaço do preview. Três dias depois que lançamos, era a mais vendida do mundo no Beatport.

Naquela época era difícil, porque o Vini Vici estava no auge e tinha acabado de lançar uma collab com o Armin van Buuren, e a música estava no Top 1 há muito tempo. Não tinha como tirar, tanto é que ao conquistarmos o Top 2 já comemoramos. Quando “Tandava” pegou primeiro lugar não acreditamos, foram meus pais que me avisaram. Minha mãe até escreveu na parede do meu quarto a letra inteira da música. A partir disso foi uma virada de chave e comecei a ter uma certa projeção internacional, ficar conhecido. Logo depois veio a “Interlude” e foi então que as coisas pegaram fogo e começou a dar certo de verdade.

“Interlude”, com Vortex, foi outro hit viral. Conta um pouco de como surgiu essa track e como impulsionou ainda mais a sua carreira. Tive a ideia da “Interlude” antes de ser produtor de verdade. Um amigo me mostrou um vídeo no YouTube que tinha o violino, e na hora já pensei que ficaria irado em um psy. Eu nem sabia fazer

“‘TANDAVA’ FOI INSTANTÂNEA! PASSEI A NOITE FAZENDO E DE MANHÃ SUBI NO SOUNDCLOUD. [...] TRÊS DIAS DEPOIS DE LANÇADA, ERA MAIS VENDIDA DO MUNDO NO BEATPORT”
“‘Interlude’ foi a constatação do que estava acontecendo não era por acaso. Duas em seguida deram bastante força ao projeto.”

música, tinha 14 anos, nem havia começado a produzir de verdade, estava dando os meus primeiros passos. Fiquei com aquilo na cabeça, mas nunca me achei bom o bastante para fazer aquela ideia, pensava que ainda não era o momento. Depois de “Tandava” encontrei o momento ideal. Demorei para terminar e quando lançou a galera já estava na expectativa. Era muito especial e eu queria fazer algo teatral com ela. Alugamos uma casa antiga em Pelotas, contratamos atores e fizemos uma ideia de vídeo. Foi minha primeira experiência com audiovisual e deu muito certo, foi bem massa!

A “Interlude” foi uma constatação do que estava acontecendo não era por acaso. Duas em seguida deram bastante força para o projeto e até hoje são as mais famosas. Quando somos jovens e estamos começando, temos uma ingenuidade na produção que perdemos com o tempo. Então é comum no início da carreira fazer coisas muito marcantes, porque você

não está preso a nada e suas referências são amplas, o que gera coisas mais especiais. Por isso são as mais icônicas, e também pelo contexto da época.

OS SUPORTES

Você já recebeu grandes suportes, como da Charlotte de Witte e da Indira Paganotto. Como se sente com artistas de outros estilos tocando suas tracks e vendo o psytrance ocupando novos espaços?

Os suportes das meninas do techno deram uma acendida na cena. Foi muito bom quando a Charlotte tocou a “Universe”, pois a música já havia saído há dois anos e explodiu novamente. Ali começou todo mundo a olhar para o psytrance. A Indira foi a primeira a me dar suporte, já tocou várias minhas e também me ajudou bastante a expandir. O que mais respingou foi quando a Charlotte tocou “Tandava” e deu uma viralizada de novo, dobrando a quantidade de plays diários. A track já era famo-

sa, mas tinha passado o hype e ela fez dar uma revivida, principalmente para a cena internacional. Isso é muito bom para o psy porque leva o gênero para os grandes palcos e atrai gente nova.

Aqui no Brasil está rolando isso e tem dado certo, fazendo sucesso e mostrado que o público é apaixonado pela cultura, essa parada mais união. Está lotando e no Surreal foi o maior público. O psy é muito forte e os clubs abrirem espaço é fundamental para nossa cena. Estão nos dando visibilidade, é uma troca recíproca.

Você foi uma das grandes atrações do House Mag Festival no Surreal Park e presenciou aquele público gigantesco prestigiando a pista de psytrance. Como foi fazer parte disso? É gratificante ver que a nossa cena tem força e ver o apoio da galera é muito maneiro. Desde o início, o set do Vegas foi assustador (risos), e ver até no final da festa a pista cheia, o público interagindo. Acho que ninguém esperava acontecer naquela proporção e foi especial.

JORNADA INTERNACIONAL

Este ano você esteve nos EUA, Argentina, Portugal, Alemanha, Dinamarca e na Bélgica. Como foi se apresentar no Tomorrowland? Foi demais! Fora do Brasil foi a festa mais louca que já toquei, com certeza. Nunca tinha ido ao Tomorrowland, então não fazia ideia de como seria. Sabia que era algo incrível, mas não tanto. O lugar é uma Disney da música eletrônica. Minha carreira internacional ainda está no início, e fiquei com medo de não ter ninguém. Quando chegou na hora da apresentação estava lotado. A comunidade brasileira é muito forte lá. Nós temos essa energia e no TML não é diferente, contagia todos em volta. Fui bem recebido, estrutura impecável… pensam nos mínimos detalhes. Não tem nada ruim, é tudo perfeito!

Você vivenciou momentos bem especiais nessa turnê. Compartilha algum com a gente.

Todos os momentos dessa tour são especiais, mas tem um outro acontecimento que foi massa. No Nibirii Festival, toquei na sexta e fiquei para curtir os outros dias. No domingo, me pediram para fazer o encerramento, topei na hora. Nesse dia, antes de irmos, peguei minha mochila e deixei meus pendrives em uma carteira que uso só para isso. Fiquei em dúvida se levava ou

não, e minha namorada disse para eu levar. Os caras me convidaram para encerrar a festa e eu adoro tocar (risos). Entrei lá e fiz um set sunset. Comecei com o Neelix, ele virou uma música comigo, e no final foi com o Phaxe. Foi bem legal!

MOMENTO ATUAL

Fale um pouco sobre essa sua evolução sonora, como as coisas foram acontecendo e por que você decidiu mudar?

Senti que precisava mudar em dois momentos: primeiro logo após a “Tandava” e após a “Interlude”. Depois do auge me cansei daquilo, da necessidade da música ser só para a pista, de ter que bombar. Não me identificava mais. Comecei a produzir um estilo de som melódico, bem mais deep, introspectivo e melancólico. Havia muito preconceito com o progzão e a galera mais antiga falava que aquilo estava acabando com a cena. Até hoje falam, sempre tem algum estilo acabando com a cena (risos).

Fui mais para a linha do Morten Granau e Phaxe (principais referências desse som mais melódico e deep), com influência do progressive house, antes de se tornar o melodic techno do Anyma. Fiz os remixes de “Innerbloom” e “Sweet Disposition”, colaborações com Thrive e Sighter, respectivamente, e as duas viraram muito. Inclusive, o vocalista do The Temper Track gostou e acabamos conseguindo lançar oficialmente depois de um tempo. A “Innerbloom” na época também viralizou bastante, tendo milhões de streams. Logo em seguida veio a pandemia e eu já estava indo para as tracks mais sentimentais. Também lancei o remix para o Neelix, em “Make UP”, que também bombou.

A partir de então rolou uma identificação mais forte com o projeto, caí de cabeça. Com esse estilo chamei atenção do Phaxe e Morten Granau. Consegui fazer B2B com os dois mais de uma vez. Foi inimaginável, uma grande conquista tocar com eles. Temos músicas que vamos lançar. Depois decidi dar um próximo passo e mudar de novo. Senti a necessidade de fazer um som um pouco mais pesado, mas não queria voltar para o super comercial de antes, queria um pesado mais introspectivo. Fiz a “Mama Índia” e “Dystopia”. De novo deram certo no início e foi o pontapé inicial pra eu fazer um álbum naquele estilo, e é onde estamos hoje. Foi uma escadinha: comecei no som mais pista de todos, descemos para o melódico e agora dei uma subida para o mais psicodélico, introspectivo e hipnótico.

“O PSYTRANCE É MUITO FORTE. [...] ESTÃO NOS DANDO VISIBILIDADE, É UMA TROCA RECÍPROCA.”

Você conquistou o Top 1 no Beatport oito vezes, foi o produtor de psytrance mais jovem a alcançar o topo dos charts na plataforma e vem crescendo cada dia mais sua popularidade, nacional e internacional. Como se sente em relação ao momento que está vivendo?

Sem dúvida o momento atual é o mais maduro. De um tempo pra cá tudo mudou muito, principalmente por causa do álbum. Com o The Chase produzi muitas horas todos os dias. Acabou que gostei desse estilo de vida mais centrado e com uma rotina bem marcada. Me senti mais feliz assim e disposto pra fazer as coisas. Meu momento é de maturidade e isso está evidente na sonoridade.

Você deu o nome de “The Chase” para sua turnê, em homenagem ao seu álbum, que colocou as sete músicas entre as mais vendidas do Beatport no gênero. Imaginava essa repercussão?

Trabalhamos para dar certo, mas nunca sabemos como vai ser, pois quem decide são as pessoas. A galera tem que comprar a ideia, se identificar. Quando fazemos uma coisa de coração temos essa conexão e naturalmente vem a identificação. Isso aconteceu com o álbum, mesmo sendo uma sonoridade diferente do que a galera estava acostumada a ouvir.

Fale um pouco mais sobre The Chase. Criamos um universo para o álbum, um alfabeto próprio. Cada música tem sua carta inspirada no tarô, e seu próprio significado que será revelado ao longo do tempo. Pretendo manter esse universo de “The Chase” por mais tempo. Tem toda a simbologia, o misticismo, os personagens… É meio cyberpunk, pós-apocalíptico, Mad Max e que envolve magia. É uma conexão com o início de tudo. O significado é justamente por causa dessa brisa que tive quando criança sobre o propósito da vida e porque as coisas acabam. “Chase” é sobre perseguir, e traduzimos isso para o que você persegue, qual o seu objetivo aqui. Naturalmente estamos sempre buscando mais.

Minha namorada me ajudou muito com o conceito e com as letras (que são existencialistas). Tem poemas dela, canta em duas das faixas. Todas as escritas flertam com essa ideia do propósito da vida. A agência Muzik fez os símbolos, todo o design das cartas. Mandamos referências e conseguimos chegar no resultado bem maneiro.

“MEU MOMENTO É DE MATURIDADE E ISSO ESTÁ EVIDENTE NA SONORIDADE.”

A EQUIPE

Quem são os profissionais que atuam com você e que ajudam o Blazy ser o que é hoje? Sempre tive apoio, incentivo, sorte e confiança depositada. Hoje não é diferente e tenho o suporte de bastante gente. O cara principal com certeza é o Ralpho Albuquerque. Está comigo há mais de cinco anos. A atenção que ele deu mudou muito os rumos que as coisas tomaram. Ele brigou por mim, confiou cegamente, é o principal alicerce da equipe. Tem a Exclusive, responsável pelo management. O Vitor Falabella é o cara que me deu oportunidade de entrar na Season Bookings, que pegou meu CD lá atrás e acreditou. Além de empresário é um bombeiro do projeto porque tem uma habilidade surreal de acalmar as pessoas e segurar a onda. O Pedro Ishii cuida da burocracia. A parte chata do Blazy ele faz tudo, um pilar essencial.

A agência Muzik, é fundamental. Meus amigos também, claro: o Hector, meu videomaker, que me acompanha quase todo o final de semana e me aguenta desde os três anos de idade. Tem o Guilherme Xac, que fez quase todos os meus videoclipes. Ele é brabo e em muitas vezes sustentou a barra sozinho. Minha companheira abraça a parada, confio muito no gosto dela. O Jhonny cuida do meu TikTok e me ajuda com as mídias sociais. Descobriu os maiores virais que já postei nas minhas redes. A Wave Star aguenta pacientemente minhas decisões e estilo de pensar não muito claros. Quem eu não citei, me desculpe.

A NOVA GERAÇÃO

Como você enxerga a nova geração de produtores de psytrance?

Está vindo bem e ficou muito psicodélica por um tempo com influência do Freedom Fighters, Captain Hook. E no Brasil principalmente, por conta do Groundbass. Acho que ele inspirou bastante gente a ir para um estilo mais dark, lento, pesado... e daí surgiram vários produtores excelentes. Entre os que se destacam têm o Limbu e Ullien, e agora a galera que tem feito um som pra cima, voltando ao psy acelerado.

O que um DJ precisa para fazer sucesso no mercado atual?

Para divulgar uma música antes era difícil, tinha que fazer CD promo, anúncio no jornal... e

“Tocar no UMF é um sonho para qualquer DJ. Fazer parte desse lineup é um privilégio.”

hoje temos as redes sociais que atingem mais pessoas e é gratuita. Então por que não usar?

Falo disso porque não basta só fazer música, tem que saber divulgá-la. Outra coisa é acreditar em si próprio e estudar. É claro que existe maior competição, mas também não é desculpa porque tem muito material para aprender, cursos, vários artistas bons que dão aula e ensinam tudo.

O FUTURO

Você já colaborou com muitos artistas na cena psytrance, mas ainda há alguém que queira incluir nessa lista?

Tem vários que eu gostaria de fazer música. Esse ano rolou com alguns que sempre admirei: Faders, lenda do fullon, e Vini Vici, que é uma grande inspiração —tenho até uma tatuagem em homenagem. Fazer uma música com eles é uma grande conquista e vamos lançar ano que

vem. Tem outras collabs para 2025, mas fica aí de curiosidade. Um cara que nunca fiz, e não conversei sobre, mas gostaria muito de fazer é o Astrix. Com certeza meu primeiro contato com a música eletrônica, minha maior influência de todas.

Quais são os planos para o futuro?

Um dos meus objetivos com a mudança de sonoridade é conquistar espaço no Boom Festival, em Portugal, e Ozora, na Hungria. Mas no geral tem vários: EDC, Ultra, Burning Man… todos seriam maneiros. Penso em atingir outros públicos no futuro.

O que te motiva e te faz seguir sonhando?

Minha principal motivação é o Henrique que sonhou lá atrás e também a galera que apoia o projeto. Se não fosse por eles não teria a oportunidade de realizar isso. Não existiria Blazy e meu sonho não poderia estar acontecendo.

E-MUSIC NOS GUETOS

Que a house music nasceu preta, entre grupos até então marginalizados pela sociedade e que, com o tempo, foi embranquecida, não é novidade para ninguém (ou não deveria ser). Festas grandiosas, elitizadas, hetero cis normativas, tornaram-se comuns, mas suas raízes, o povo que deu origem a tudo isso, foi deixado de lado, até que finalmente, a música eletrônica começou a encontrar um novo eco nas periferias.

São Paulo é um exemplo dessa efervescência. Com enormes festivais, festas, bares exclusivos, coletivos e afins, a transformaram em uma das maiores cenas de dance music. E falando em Estado, quantos no mundo já sediaram eventos como Lollapalooza, Tomorrowland, Ultra, EDC, só para citar os internacionais? É natural então, que mesmo esquecidos, alguns grupos precisam trazer para si, aquilo que é seu por direito.

DAS FESTAS

ELITIZADAS, ATÉ

ECOAR NOVAMENTE NAS PERIFERIAS,

MUSIC

AGIR

Projetos como o Techno na Quebrada, em São Paulo, são catalisadores dessa mudança. Ao promover festas e workshops em comunidades periféricas, democratiza o acesso à música eletrônica, incentivando jovens a conhecerem novas sonoridades e ampliar conhecimentos. Essa iniciativa não apenas fortalece a identidade cultural local, mas também oferece uma ferramenta de empoderamento e expressão.

Uma iniciativa mais recente, a Oficina de DJ da Associação DiversaMentes em parceria com o CACP, em Perus, zona oeste da capital paulista, é outro exemplo. Numa região com forte presença do funk e hip-hop, as instituições encontraram a oportunidade de ensinar uma nova profissão para sua comunidade local, trazendo esses ritmos tão comuns entre seus munícipes, atrelando à música eletrônica.

Victor Raphael @victorcarvalhoph
Summer all day, com Victor Lou

A conexão com o funk carioca, gênero popular nas periferias brasileiras, é um ponto crucial. Ambos os ritmos compartilham raízes comuns e possuem o poder de mobilizar e unir as massas. Ao reconhecer essas similaridades, podemos construir pontes entre esses universos culturais, ampliando assim o alcance das sonoridades eletrônicas e fortalecendo a cena musical brasileira como um todo.

As iniciativas não se limitam a coletivos ou associações, contando também com a participação de importantes nomes da nossa cena. A mais recente foi a gravação do set “Summer all day” na Rocinha, a segunda maior favela do Brasil. De acordo com Victor Lou, em entrevista ao portal Beat for Beat, ele se sentiu muito bem acolhido e em paz, uma imagem diferente daquilo que todos imaginam: um ambiente hostil.

Hoje, já é possível enxergar um crescimento exponencial no consumo de música eletrônica entre os jovens, especialmente nas periferias, mas muito do conteúdo é solto, sem contextualização. Essa nova paixão de alguns, representa uma oportunidade para aproximá-los da cultura eletrônica, mostrando que a dance music e outras linguagens podem coexistir e se complementar.

Levá-la para as periferias é um movimento de inclusão social importantíssimo e grandioso. É combater o preconceito, seja estrutural ou não, além de fortalecer a autoestima dessas populações. É mostrar que todos podem e devem acessar tais locais, muitas vezes negligenciados pelo poder público. É criar espaços de convivência e diálogo, para que diferentes culturas possam se encontrar e trocar experiências.

Projetos como o Techno na Quebrada ou a Oficina de DJ, não são exclusivos de São Paulo, é claro, surgindo em diversas partes para demonstrar a força desse movimento de letramento musical e sua capacidade de transformar vidas. No entanto, a falta de recursos e a resistência de muitos, seja da comunidade eletrônica em abraçar as periferias ou da população local, são obstáculos a serem superados.

O futuro da música eletrônica nas periferias é promissor. Ao continuarmos investindo em iniciativas, promoveremos uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos tenham acesso à cultura e possam expressar sua criatividade. Nesse contexto, se torna um instrumento de transformação social, capaz de unir pessoas ao construir um mundo mais diverso e conectado.

A E-MUSIC, NESSE CONTEXTO, SE TORNA UM INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL, UNINDO PESSOAS AO CONSTRUIR UM MUNDO DIVERSO E CONECTADO

Techno na Quebrada
Foto: Lorisvimaker
Foto: Lorisvimaker
Foto: @victorcarvalhoph

DEVOCHKA EM AÇÃO

Mayra Cruz, conhecida como Devochka, é uma figura emblemática na cena eletrônica, tendo iniciado sua carreira em 2010 em Minas Gerais. Tornou-se uma revelação em 2015, sendo reconhecida por suas performances que estabelecem forte conexão com o público. Em 2016 fez sua estreia no “Top 50 DJs” da Revista House Mag, e desde então tem se apresentado em grandes festivais no Brasil e no mundo.

Comemorando 15 anos de carreira em 2025, a artista reflete sobre sua trajetória, crescendo de forma orgânica e sem depender de estratégias artificiais. Ela atribui seu sucesso à autenticidade, que conquistou um público fiel. Ao longo de sua jornada, observa avanços significativos na inclusão de mulheres nos lineups, pois quando dava seus primeiros passos havia poucas DJs com trabalho reconhecido.

Devochka teve que quebrar inúmeros tabus para conquistar respeito no mercado da música eletrônica. Em um ambiente antes dominado por homens, ela e outras DJs talentosas abriram caminho onde ‘tudo era mato’, enfrentando barreiras para assegurar um espaço onde as mulheres eram julgadas como produtos. Hoje, o cenário é diferente: vemos cada vez mais artistas ocupando posições de destaque.

Com uma trajetória marcada por grandes festivais, tem vivido momentos inesquecíveis, como sua apresentação no Lollapalooza e no Rock in Rio —verdadeiros sonhos realizados. Mas um dos ápices foi na XXXPerience BH 2017: sendo a segunda artista a se apresentar, jamais imaginaria que uma multidão chegaria tão cedo para prestigiá-la, simbolizando o impacto e respeito que conquistou ao longo de sua carreira.

Recentemente, se destacou no House Mag Festival, apresentando-se ao lado do também produtor Gustavo Mota. Com 10 anos de amizade e sintonia, adaptaram suas sonoridades para criar uma apresentação totalmente sinérgica. Essa colaboração notável evidencia o poder da conexão musical num back to back em que a harmonia alcançada proporciona experiências não habituais ao público de ambos.

Alcançou o cenário internacional ao lançar a segunda versão em remix do seu hit “Aladin”, que ultrapassou 50 milhões de reproduções, sobretudo na China e na Índia, o que lhe rendeu o certificado “Play de Safira” pela Associação Brasileira de Músicos Independentes (ABMI) em 2023. Esse marco surpreendeu a artista, mostrando que a música eletrônica feita por artistas independentes também pode ser universal.

ARTISTA CELEBRA 15 ANOS DE CARREIRA COM PERSPECTIVAS NOVAS DE FUTURO

Para o futuro, não planeja mudanças drásticas nem planos mirabolantes. A meta é seguir trabalhando intensamente em 2025, lançando novas músicas e levando sets repletos de feeling para todo o Brasil. Além disso, está decidida a tornar essa fase especial, ampliando o alcance de suas produções e consolidando ainda mais o seu nome no cenário da música eletrônica. Afinal, 15 anos não são 15 dias, não é mesmo?

Lollapallooza 2023
Fotos: Pridia
Henrique Mattar @henrique.mattar
Foto: hesmaik

NOVA FASE NO MINI GAME

A cor vermelha ganhou um significado diferente na cena eletrônica brasileira desde 2019 com o boom do duo Almanac pelas pistas do nosso país. Desde então, o projeto de Dave e Lester vem conquistando seguidores e fãs de seu som alegre e irreverente, com raízes no bass house e desande. Essa inquietude que marca o projeto não se mostra presente só nas apresentações e vira combustível para uma nova fase dentro do Almanac, que agora se prepara para mostrar uma renovação feita com muito cuidado para este final de 2024/início de 2025.

A EVOLUÇÃO DE ALMANAC PARA 2025

Tive a oportunidade de conversar diretamente com o Lester, que tirou um tempinho na sua viagem ao ADE para falar de futuro, referências e algumas novidades do que está por vir:

Como surgiu essa vontade de renovar? Começou a se formar por volta de dois anos atrás, no início de 2022. Naquele momento, já estávamos muito satisfeitos com as conquistas que havíamos alcançado no cenário nacional, em termos de lugares onde tocamos e o impacto que tivemos. No entanto, passamos a sentir que estávamos “estagnados” dentro do som que fazíamos. Fizemos alguns testes dentro do tech house, mas percebemos que não queríamos nos afastar tanto das nossas raízes. Temos como grandes influências artistas do bass house (como Walker & Royce), e queríamos continuar a trilhar um caminho próximo a essas referências —que são muito fortes lá fora, mas ainda não chegaram com tanta força no Brasil. Então mergulhamos no estúdio para desenvolver nossa técnica e pesquisa, mas sem perder o que nos define como Almanac. Logo, as pessoas perceberam essa diferença de sonoridade nos últimos sets que soltamos —e essa resposta (positiva ou negativa) nos deu muita energia, porque as reações mostravam que a mudança era visível além da nossa própria percepção.

O que mudou e o que se manteve no processo de crescimento?

Quem nos acompanhava e curtia faixas como “Mini game” e “Melhores bailes do mundo” —que temos muito orgulho de ter feito e que funcionaram super bem na época— pôde perceber que, mesmo mantendo os timbres e elementos, o foco hoje é diferente. O que realmente mudou foi o apelo do nosso som, ou seja, para quem estamos direcionando essa nova fase.

Como a Gibi, label de vocês, entra nessa fase?

A Gibi está passando por uma transformação importante junto com a gente. A ideia não é que seja apenas uma record label, mas também uma content label —se tornando uma plataforma para fomentar a cultura da música eletrônica no Brasil.

O que esperar do Almanac nos próximos meses? Podemos garantir que tudo vai parecer novo, especialmente para marcar esse amadurecimento do nosso som e os 10 anos de projeto em 2025.

Letícia Azevedo @azvleticia

REDUÇÃO DE DANOS

INICIATIVA

ESSENCIAL EM FESTIVAIS

DE MÚSICA ELETRÔNICA

COMO UM CUIDADO NECESSÁRIO

A redução de danos em festivais de música eletrônica, especialmente no Brasil, ganhou destaque devido ao aumento de eventos de grande porte, onde o consumo de substâncias psicoativas e o comportamento de risco são realidades presentes. A proposta visa melhorar a segurança e o bem-estar dos frequentadores, com foco no acolhimento, apoio e educação, e não em repressão. Essa prática abrange ações que protegem a saúde dos participantes, mesmo que estejam expostos a comportamentos de risco. A abordagem preventiva evita medidas punitivas e busca oferecer informações e apoio a quem opta por consumir substâncias. Em eventos como Universo Paralello e Dekmantel, há iniciativas como:

Estandes informam sobre o uso de drogas, os riscos e dicas de prevenção, como manter-se hidratado e reconhecer sinais de overdose.

Em alguns festivais, há oferta de preservativos, água, tampões de ouvido e folhetos informativos. Frequentadores podem testar substâncias para garantir que não são adulteradas. Iniciativas independentes como o coletivo ResPire e REPENSE RD oferecem também informações sobre os riscos.

Locais tranquilos para descanso, que auxiliam quem passa por uma experiência negativa. Os “chill out” (não confundir com a pista de mesmo nome) são essenciais para evitar crises de ansiedade.

DROGAS MAIS PERIGOSAS

Álcool

Heroína

Crack

Metanfetamina

Cocaína

Tabaco

Anfetamina

Cannabis

GHB

Benzodiapezina

Ketamina

Metadona

Mefedrona

Butano

Anabolizantes

Khat

Ecstasy

LSD

Buprenorfina

Cogumelos

Fonte: David Nutt 2010

Perigo para os outros

Perigo para os usuários

TABELA DE INTERAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS

LSD

Cogumelo DMT Nbone Nbom

LSD

Cogumelo DMT

Nbone Nbom

Maconha

Ketamina

MDMA MDA

Cocaína

Álcool

GMB/GBL

Benzoadiazepínicos

Essas medidas buscam proteger a integridade física e mental dos participantes, apontando que o suporte e a educação são mais eficazes do que a proibição. A repressão ao consumo de substâncias não consegue abarcar todas as nuances das experiências em festivais, enquanto uma abordagem acolhedora pode tornar o ambiente mais seguro. Festivais de Portugal, Espanha, Reino Unido, EUA e Austrália são exemplos de práticas consolidadas de redução de danos. Boom, Sónar e o Burning Man se destacam por oferecer testagem de substâncias e atendimento psicológico.

No Brasil alguns eventos já oferecem apoio psicológico, áreas de descanso e campanhas educativas, com participação de ONGs como a “É de Lei”. Porém, a ausência de políticas unificadas e o estigma social ainda são obstáculos significativos. O que pode ser melhorado?

Formação de equipes: Capacitação de profissionais para lidar com emergências físicas e psicológicas.

Campanhas educativas: Informações devem ser disseminadas de forma ampla e planejada, antes e durante os eventos.

Diálogo com o público: Pode ajudar a diminuir os riscos e promover o autocuidado.

MDA

GMB/ GBL

Benzoadiazepínicos Maconha

Para aprofundar o tema, Carol Filigoi, psicóloga e integrante do REPENSE RD, abordou os desafios da saúde mental nos festivais, o papel da testagem e a necessidade de um acolhimento humanizado.

#1 Desafios com substâncias: as “bad trips” podem ocorrer com qualquer pessoa. Fatores como o tipo de substância, o estado emocional e o ambiente influenciam muito.

#2 Espaços de cuidado: essencial ao apoio de frequentadores, para que possam relaxar e receber água e frutas, além de estarem à vontade para compartilhar ou não suas experiências.

#3 Impacto da testagem: a prática contribui para atitudes mais seguras, reduzindo o risco de consumo de substâncias adulteradas e aumentando o conhecimento sobre os efeitos.

#4 Aceitação do público: jovens em geral têm demonstrado interesse em saber mais e testar substâncias, enquanto pessoas com maior tempo de uso tendem a confiar mais na experiência pessoal.

#5 Crises psicológicas: equipes devem estar atentas a sinais como medo, isolamento e atitudes de automutilação. No entanto, é impor-

Baixo risco e efeitos diminuídos Baixo risco e efeitos aumentados

! Cuidado, pode ser perigoso Perigoso

X Muito perigoso

tante manejá-las sem contê-las, valorizando o diálogo e a escuta ativa.

#6 Desafios de implementação: falta regulamentação e legislação específica que legitime o papel dos redutores de danos em eventos. Educação do público e o apoio à criação de leis podem torná-la uma prática mais amplamente aceita.

#7 Consumo consciente: em parcerias com influenciadores e cursos, as redes sociais se mostram uma ferramenta poderosa para disseminar informações importantes.

#8 Abordagem menos repressiva: fortalece a saúde mental dos frequentadores e promove um ambiente onde as pessoas podem pedir ajuda sem medo de julgamento.

#9 Redução de danos em eventos: embora o preconceito e o tabu ainda sejam grandes obstáculos, a presença de psicólogos e redutores de danos traz benefícios importantes para a segurança dos festivais.

#10 Aprendizado e transformação: A presença de equipes especializadas e espaços acolhedores pode fortalecer a cultura dos festivais, promovendo o bem-estar de todos.

Kalani Silveira @kalanims
Cocaína Ketamina Álcool

ALEMÃO COM CPF BRASILEIRO

Se um dia a língua portuguesa foi um desafio, Querox transformou o Brasil em segunda casa e conquistou o público com o seu ‘off beat’

Mais de nove mil quilômetros separam a Alemanha do Brasil. Distância encurtada por Querox nesses últimos 12 anos de shows no país que já chama de segunda casa. Saudade, inclusive, é uma palavra que não só se tornou a sua preferida, como também é frequentemente repetida por Toby, que apesar de ter uma personalidade mais reservada e tranquila, conquistou um círculo de amizades especial, com quem aprendeu o idioma e construiu uma família de apoio.

Conterrâneo de nomes como Neelix, Ben Böhmer e Boris Brejcha, o DJ produtor nasceu na Alemanha, um dos principais pólos da música eletrônica mundial, berço de eventos com grande tradição e da mais alta qualidade, seja no verão com as open air ou no inverno em clubs disputadíssimos. Participa com frequência de lineups em Los Angeles, Cape Town, Melbourne e Buenos Aires, incluindo festivais como Half Moon, na Tailândia, e Burning Mountain, na Suíça.

Mas nem mesmo o verão europeu tem o calor e o tempero que os fãs brasileiros compartilham, e sente em pistas como as do Universo Paralello, Liquid Sky, XXXPerience, Cyclus, Greenvalley, Surreal Park, El Fortin, só para citar algumas, a energia do público que abraçou a sua sonoridade, popularmente conhecida como ‘off beat’. “É uma música que toca o coração, a alma, e tem a capacidade de trazer lágrimas aos olhos dos ouvintes”, explica Querox.

“Pode ser um meio de ajuda em certas situações da vida, como muitos já me disseram”, elucida ao se descrever artisticamente como “um garoto selvagem que dá voz a quem precisa”. Se a música dele é tão visceral, não seria incomum essa identificação com os brasileiros, reconhecidos como um público apaixonado e enérgico, que se entrega às faixas do fundador da Prog On Syndicate, uma das principais gravadoras de progressive trance do mundo, lançada em 2009.

Artista responsável por marcar a produção musical de uma geração, fazendo história com uma linha sonora que, apesar de não ter a psicodelia como característica principal, transcende ouvintes de todas as idades por meio da sua carga emocional potente. Hinos como “Tripical Moon”, ao lado de Phaxe, que alcançou o topo do chart de psytrance no Beatport, ou “Freetown” e “Green State”, são alguns dos que registram essa fase mágica e uma parceria de longa data com o produtor dinamarquês.

Um dos nomes mais consolidados do psytrance da atualidade, assina uma história íntima com o Brasil, onde constroi uma conexão natural e passa a maior parte do seu tempo, tendo declarado um sonho de criar raízes ao fazer planos de residir aqui um dia. Terra inspiradora, que o estimula musicalmente e o permite ampliar a sua criatividade por meio de pistas calorosas. Sua relação com a nossa bandeira verde e amarela repercute dentro e fora do país, o tornando um brasileiro de coração.

Luiza Serrano @luoliserra
Foto:
Leandro Quartiermeister

NIHANNA E ANNËTO

A harmonia de dois grandes DJs em um back to back especial

Desde o início da dance music, é sempre uma experiência extraordinária quando dois artistas brilhantes se unem para tocar em back to back, criando uma conexão especial no palco e na pista. E foi o que se viu no House Mag Festival, no Surreal Park, e no Aramacaw, em Goiânia/GO: o encontro entre Nihanna e Annëto, com uma musicalidade que se complementa de maneira notável.

Nihanna, com uma sonoridade espiritual e nômade, reflete sua rica trajetória desde o Tocantins até a Bahia e, mais recentemente, Santa Catarina, onde lançou a inovadora label Mística Sounds. Sua habilidade em criar atmosferas expressa sua visão de vida. Junto a ela, Annëto, um multi-instrumentista e produtor que transita entre afro house e melodic house & techno. Sua experiência em palcos como Laroc e UP Club, além de ter se apresentado na turnê de David Guetta no Brasil, evidencia sua capacidade de conectar-se com o público de maneira poderosa.

Essa junção só poderia resultar numa celebração de criatividade e talento; acontecendo, de fato, uma sinergia entre ambos. E para entendermos melhor isso, separamos algumas perguntas sobre o início do trabalho em conjunto, bem como inspirações e planos para o futuro.

Como surgiu a ideia de fazer esse B2B com a Nihanna?

De forma bem natural, pois temos gostos musicais bastante alinhados. Ela vem do organic house, enquanto meu som é mais puxado para o afro house, e isso gerou uma combinação que achamos interessante. Apesar de nunca termos tocado juntos antes, já conhecíamos o trabalho um do outro, então foi tranquilo.

Houve troca de influências ou playlists antes do evento?

Nihanna: Costumamos fazer uma ligação pra falar sobre o set. Trocamos influências e ficamos ouvindo as músicas que a gente está mais conectado no momento. Também conversamos sobre a vibe do evento e o que esperamos de toda essa experiência.

Nihanna, de que forma o público reagiu ao set? Deu pra ver e sentir o quanto as pessoas se conectam com nosso som. Foi muito marcante viver tudo isso no Surreal Park (House Mag Festival) e no Aramacaw, onde criamos uma atmosfera linda demais.

Como combinam estilos para uma performance fluida?

Annëto: Foi praticamente um feat perfeito em termos de fluidez. Os dois gêneros se combinam de maneira progressiva e harmoniosa, e o resultado foi incrível! Ficamos realmente felizes com o que conseguimos criar juntos.

Por fim, como foi se apresentar no House Mag Festival?

Nihanna: Inesquecível e com certeza se eternizou no meu coração. A saudade é grande e dá vontade de voltar no tempo só pra viver mais uma vez. Fiquei tão feliz com o resultado do set e de ver aquela pista cheia e vibrante. Só tenho gratidão.

Annëto: Foi um grande marco na minha carreira, e fazer parte de lineups tão importantes é algo que me deixa imensamente feliz. Não tenho palavras para expressar o quanto estou satisfeito com esse momento e pronto para os próximos passos.

Henrique Mattar @henrique.mattar
Foto: Marcelo Oliveira

GARAGE E DNB EM ALTA

Em outubro de 1997, o festival Free Jazz trouxe o icônico Goldie e sua trupe “Metalheadz DJs”. Esse momento foi fundamental na transição da música eletrônica no país, impulsionando a exportação de artistas brasileiros como Patife e Marky para Londres, onde garage, grime e drum’n’bass estavam em ascensão. Hoje, coletivos como Speedtest e Tijolo mantêm vivo esse legado, atraindo a geração Z para as sonoridades britânicas.

Tal influência começou nos anos 80, dominando pistas como The Great Brazilian Disaster, em Belo Horizonte, e Rave Party Manaus Dance Festival. Nesse período, o acid house, precursor da cena britânica, foi impulsionado pela cultura sound system jamaicana, que levava frequências graves para festas nas periferias. No Brasil, o ítalo house era o som comercial em alta, enquanto o drum’n’bass ganhava força em casas como a Arena Music Hall.

A partir do final dos anos 2000, a presença desses movimentos começou a se dissipar no Brasil, com festas e selos enfrentando alterações no mercado musical. Isso só foi mudar na década de 2010, quando o grime e outros estilos conquistaram espaço e novos coletivos e festas emergiram. Um desses eventos foi a Speedtest, criada para mesclar sons eletrônicos brasileiros com influências internacionais.

A RETOMADA DOS GÊNEROS

BRITÂNICOS NAS

PISTAS BRASILEIRAS

REVELA UMA CENA

ELETRÔNICA EM RENOVAÇÃO E UM

PÚBLICO MAIS

ABERTO A OUTRAS SONORIDADES

“A Speedtest foi um projeto pensado para unir música eletrônica brasileira, como funk carioca e tecnobrega, com referências de jungle, drum’n’bass e garage”, relata Chediak, criador do selo. Diogo Queiroz, produtor da Speedtest, complementa: “Fazemos isso pelo desejo de criar, independente do lucro. Marcamos a primeira festa em Copacabana, e o evento se tornou itinerante, com o selo crescendo e se tornando referência.”

Outro exemplo é a DJ Akila, que, ao tocar no Só Track Boa, destacou: “Levar meu som pra além

Isabela Carolina Rosa @umaextrafunk

da música, sendo uma mulher negra em um festival gigante onde poucas pessoas são negras, é um lugar muito foda né? Representar a música preta, o grime, o garage, o drum’n’bass é também fazer parte de uma questão de comunidade, fazendo a galera conhecer sons que carregam a história de ser também uma coisa política, social.”

A Tijolo Records, selo criado em 2018 em Nova Iorque pelo paulistano sixx4sixx, também contribuiu ao trazer nomes importantes da música eletrônica para o Brasil, promovendo intercâmbios culturais. “Fundamos a Tijolo com a ideia de integrar ritmos como jungle, garage e drum’n’bass à cultura periférica. A essência do selo está em conectar a música de rua e a eletrônica, dialogando com o hip-hop e a cena brasileira”, explica.

Porém, a pasteurização de festas e lineups levou produtores como sixx4sixx a repensarem o papel dos selos. Agora, ele planeja registrar artistas de Nova Iorque e trazer o material ao Brasil, tornando as festas mais pontuais. Isso revela uma cena eletrônica renovada, em que coletivos alternativos e independentes expandem a oferta musical ao combinar ritmos internacionais e influências locais, atraindo um público cada vez mais ávido por novas experiências sonoras.

Foto: Wander Scheeffër
DJ Akai, na Speedtest
DJ Akila, na Só Track Boa BH

POR ONDE ANDA DJ PATIFE?

Wagner Ribeiro, ou DJ Patife, marcou época na música eletrônica na década de 90 e início dos anos 2000 levando o drum ‘n’ bass brasileiro para diversos países. Hoje, ele ainda se apresenta, porém concilia a carreira com a paixão pelas estradas. Sem mais delongas, veja a breve entrevista realizada com essa lenda.

A paixão pela música sempre caminhou com você? Como foi se tornar DJ produtor?

Seja gravando fitas k7, ou na rua onde morava, sempre tinha algo tocando que me chamava a atenção. Foi um longo processo. Mesmo trabalhando aos doze anos, o dinheiro que ganhava não era suficiente para comprar discos, equipamentos e frequentar as matinês que eu curtia. O amor e a dedicação eram tão grandes que nada era obstáculo, e isso aprendi quando dei meus primeiros passos com o hip-hop. O drum ’n’ bass entra na minha vida na metade dos anos 90. Produtor musical eu não sou. Faço batidas, mas até hoje não me considero um. Não gostava de ficar no estúdio, achava chato, repetitivo e complicado. Só que logo comecei a estudar e entender melhor aquele universo.

Você passou por mais de 100 países como DJ. Qual a sensação de ter vivido isso?

Tudo que vislumbrei quando pensei em ser DJ era aprender a mixar e quiçá, um dia tocar numa cabine em algum club. Vivi e vivo muito mais do que imaginei; por isso, me sinto realizado.

Conciliando a carreira com a paixão pelas estradas, nos conta sobre seus

feitos atuais

Quando foi que a chave virou e assumiu a cabine dos caminhões?

Em 2020 estava numa tour de oito datas na Austrália e cinco na Nova Zelândia quando começou as restrições em aeroportos. Certo dia, meu filho me perguntou por que eu não tentava o mercado de motorista. Aquilo reverberou em mim alguns dias e fui pesquisar. Para minha surpresa, havia e ainda há um grande déficit no setor; e assim, em 17 meses completei o processo de formação e cursos necessários. A grande realização pessoal será trabalhar no Brasil. Porém, no transporte de passageiros.

Como é dividir as duas profissões?

Com o verão na Europa, o setor reduz o fluxo. Assim, muitas empresas concedem férias entre julho e setembro, então aproveito para tocar nos festivais e outros eventos.

Você e o Marky eram próximos no boom do DnB?

No início dos anos 2000 estávamos lado a lado. Após 2007 fui morar em Brasília e vivenciar outras coisas. É raro encontrá-lo, especialmente depois de 2016 quando mudei para Europa. Mas, hora ou outra, falamos em clubs e festivais. Meu carinho, gratidão e respeito por ele é enorme.

“Sambassim” é um marco na sua carreira. Qual a importância desse remix?

Se não fosse “Sambassim” e a Fernanda Porto, nada disso aconteceria. Teria me envolvido

com produção, mas sem tanto reconhecimento. Essa música abriu portas para ambos dentro e fora do cenário DnB.

O que a vida como caminhoneiro te proporciona que a como DJ não oferece?

A realidade, o crescimento pessoal e a valorização da mão de obra. Como DJ sou muito “bajulado”, já aqui ninguém faz ideia de quem sou. Essa experiência é maravilhosa porque me traz a bagagem que preciso para o meu futuro projeto que está totalmente ligado ao relacionamento humano, cura, terapia, palestras, musicoterapia.

Muito obrigado! Te desejamos todo o sucesso! Que assim seja a todos nós e conte comigo. Forte abraço.

Adriano Canestri @adrianocanestri
Foto: Midifusion inc

VERSATILIDADE SONORA

Primeiro brasileiro do psytrance a alcançar a marca de 100 milhões de plays no próprio canal do YouTube, o DJ produtor sempre teve uma visão 360º do seu projeto, o que permitiu que em pouco tempo se tornasse um dos nomes mais requisitados na cena do trance nacional, com apresentações dentro e fora do país, como Flor da Vida, Hipnótica, Bug, LiquidSky vs Baobá, Yanomami, Moving, Garden, Insônia, Terratronic, Equilibrium, Atchuca, e mais recentemente House Mag Festival no Surreal Park, e Outdoormix na França.

Carioca da gema, Bruno Felipe, aka Trampsta, faz parte da geração que viveu um calendário de eventos disputado na Cidade Maravilhosa em um passado não tão distante, com atrações de médio porte aos finais de semana e de grande porte mensalmente. Isso contribuiu para a sua formação como DJ e para seu desenvolvimento de palco, mergulhando de vez nesse universo a partir de 2004. “Minha identidade musical é bem a cara do Rio, e com certeza fui muito influenciado pelas pistas daqui a produzir essa linha de som”, revela.

Suas produções autorais são marcadas por muito groove e uma sonoridade às vezes eufórica, às vezes mais dançante, mais psy, mas sempre alegre e divertida, Ao longo da carreira, experimentou outras vertentes, como o electro house, sob a alcunha de ‘Felipe Vera’. Trabalho este que veio acompanhado de sua antiga profissão: atuou como editor em uma produtora audiovisual. Transformar seu projeto musical em mul-

timídia foi um pulo para o artista e ponto muito assertivo, tendo em vista seus vídeos virais no YouTube, com 20 milhões de views em um desses, dois passando 30 milhões, e outros dez também batendo a casa dos milhões.

São faixas como “Slow down”, em colaboração com Gonzi, lançada em 2020 e que foi uma grande virada de chave para o produtor. O que o levaram para a residência, por exemplo, de uma competição de esportes radicais, o Outdoormix, na França. Suas produções são marcadas por forte identificação com o público, seja em versões para músicas já conhecidas ou faixas originais. “Esse lance de reestilizar para o trance é uma caraterística praticamente de 100% dos artistas brasileiros. Eu acho que ali na ideia da música, da referência, começa a atrair pessoas por identificação do que escutam foram do eletrônico”, explica.

Com muita determinação e talento que ultrapassa barreiras, Trampsta sonha em se apresentar no Rock in Rio, o que reforça ainda mais a característica versátil do produtor ao se propor tocar em um festival multicultural de tal grandeza. A passos largos, vem caminhando rumo a realização do seu sonho ao ter a sua sonoridade abraçada cada vez mais por pessoas de dentro e fora da música eletrônica. Impactadas por seu talento através das diversas possibilidades que o artista explora para alcançar novos e já conhecidos públicos, tem mostrado que sabe muito bem usar diferentes canais de comunicação online a favor da sua música.

EM ESCALADA

CRESCENTE NA CENA PSYTRANCE, O DJ PRODUTOR TRAMPSTA TEM MOSTRADO TODO SEU PODER NAS PRINCIPAIS PLATAFORMAS DE STREAMINGS

Luiza Serrano @luoliserra

A PRODUÇÃO DE EVENTOS E OS HERÓIS INVISÍVEIS

Por trás das luzes, das batidas eletrizantes e dos sorrisos que preenchem uma festa ou festival, existe um mundo quase secreto, habitado por profissionais que seguram o peso do espetáculo. Enquanto o artista é exaltado no palco, esses operadores trabalham nos bastidores, garantindo que o impossível aconteça —e muitas vezes sem o reconhecimento que merecem. Produzir um evento é como montar um quebra-cabeça com peças que insistem em mudar de lugar. O público escuta o som impecável, a luz que dança com o ritmo e o espaço organizado, mas não faz ideia de quem está por trás disso.

É aí que entra o produtor —a mente inquieta que traduz ideias em experiências—, que nunca está sozinho. Técnicos de som e luz ajustam cada detalhe; montadores erguem cenários inteiros; seguranças garantem que o caos esteja sob controle; bartenders e equipe de limpeza transformam os excessos da noite em uma experiência fluida... Até mesmo quem etiqueta ingressos ou organiza filas tem sua função vital. Já chegou a um evento onde tudo parecia fora de lugar? Em que a fila não andava ou o

transporte para casa simplesmente não existia? Essa é a ausência dos invisíveis em ação.

Mas o brilho do espetáculo esconde uma dura realidade. Esses profissionais enfrentam jornadas exaustivas, muitas vezes sem equipamentos adequados, com baixos salários e contratos irregulares. Sobrecarga de funções e falta de comunicação são constantes, e o que deveria ser uma colaboração se transforma em um campo minado emocional. Não é só físico, a desvalorização pesa: o público raramente enxerga o esforço, e os próprios produtores, em vários casos, não têm estrutura para cuidar da equipe. O resultado? Profissionais exaustos, desmotivados e uma experiência comprometida para todos.

UMA INDÚSTRIA BILIONÁRIA QUE NÃO CUIDA DE SUAS BASES

O paradoxo é cruel: enquanto a indústria do entretenimento movimenta bilhões, seu alicerce é formado por relações frágeis. Esses

SE

QUEREMOS EVENTOS MAIS INCLUSIVOS, SUSTENTÁVEIS E GENUÍNOS, É PRECISO

COMEÇAR PELAS BASES

trabalhadores invisíveis são o coração pulsante da cena, mas frequentemente recebem migalhas em troca. Pensar no futuro é ir além das luzes e dos headliners. O que isso significa? Que produtores e gestores precisam olhar para dentro. Se queremos eventos mais inclusivos, sustentáveis e genuínos, é preciso começar pelas bases. Respeitar horários, pagar salários dignos, fornecer equipamentos adequados, criar contratos claros —o básico, mas ainda uma exceção.

E você, público, também pode fazer a diferença. Reconheça os trabalhadores invisíveis e perceba o esforço que existe além do palco. Seja gentil com quem organiza, serve, limpa e cuida da sua segurança. Esses detalhes constroem um ambiente mais autêntico e humanizado. Os eventos que moldam gerações, quebram paradigmas, criam memórias afetivas e novos movimentos culturais só existem porque há um exército oculto segurando as pontas. É hora de trazê-los para o centro da conversa —não para roubar o brilho de ninguém, mas para garantir que a cena continue viva, pulsante e inovadora.

Mariana Boaventura, Turmalina Nogueira, Theresa Menezes e Jess Pauline

REFERÊNCIAS IMPORTAM

“Eu acredito no feminino!”. Essa é a afirmação de Adalamoon, DJ produtora há 18 anos, que traçou um caminho na música eletrônica guiado pelo talento, paixão, dedicação e autoconhecimento. A artista, que recebe mensagens de outras mulheres por ser uma inspiração, necessitou de mais do que uma dose extra de coragem: precisou mergulhar nessa trajetória que a levou a ocupar espaços ao lado dos principais nomes do gênero. “Quando comecei a frequentar a cena psytrance, não tinha ideia de que poderia ser DJ até ver, pela primeira vez, uma mulher tocando em um festival”, conta Diane Moon aka Adalamoon.

Hoje, ela retribui toda essa admiração com sua própria label, a Ixchel Music, que representa um movimento dentro da cena da música eletrônica ao colocar a mulher como artista principal. Além de lançar faixas pela sua gravadora, Adalamoon também promove seus trabalhos por selos como SYNK87, Vagalume, Goa Trance Nations e Zero1 Music. O início artístico foi aos 18 anos, tocando em Guadalajara, no México. Sua aptidão natural e energia contagiante logo a tornaram uma sensação local, e sua fama cruzou fronteiras, levando-a a colaborar com a Alchemy Records UK em 2010 e ingressar na Iboga México em 2012.

Desde então, se apresentou em pistas ao redor do mundo, das praias ensolaradas de Goa ao coração pulsante de Tóquio, comandando públicos de até 15 mil pessoas e marcando presença em festivais como EDC México, Glastonbury, Boom Town Fair e Universo Paralello —o primeiro marco de sua conexão com o Brasil. “Cheguei ao festival

em 2009 e me apaixonei pela cultura trance brasileira, com todas as suas nuances e diversidade. Conheci pessoas maravilhosas que são meus amigos até hoje e, claro, meu marido Mack”, que não só decidiu morar no país como também dar vida a um projeto paralelo com ele.

Enquanto o Special M tem proposta mais teatral, Adalamoon sempre seguiu uma vertente mais psicodélica, desabrochando no full-on. Essa jornada ganhou nova dimensão com sua profunda admiração pela música clássica, que tem estudado nos últimos anos. O resultado dessa abertura a novas possibilidades sonoras foi o lançamento de seu primeiro álbum solo em 2024. “Metamorfosis me curou de tudo que vivemos na pandemia, me deu asas. Cada música tem um significado de evolução e crescimento, um estilo mais aberto, mais original, mais eu”, afirma a artista, carinhosamente chamada de Moon.

Tal evolução culminou em seu retorno à Season Bookings, agência que a acompanha na construção de novas pontes. “Estamos alcançando juntos lugares nos quais ainda não havia me apresentado”. Entre esses estão o Surreal Park, em Camboriú, além de Gate 22 e Caos, em Campinas. Assim, a cada passo, amplia o espelho para as que só precisam de uma referência encorajadora. À medida que degraus mais altos são alcançados, oportunidades se abrem também para outras produtoras. Aquela jovem que não imaginava que mulheres poderiam ser DJs agora contribui ativamente para o fortalecimento de uma cena feminina mais forte e unida.

MEXICANA DE CORAÇÃO VERDE E AMARELO, ADALAMOON
INICIOU A CARREIRA NUMA CENA DE PSYTRANCE COM POUCAS MULHERES E, HOJE, É UMA INSPIRAÇÃO
Foto: Diego Jarschel
Lu Serrano @luoliserra

DO QUE O SEU CORPO PRECISA QUANDO SE SENTE MEIO OVER?

Overpills se prepara para um upgrade do seu querido pack salva-vidas para os festeiros

Felizmente não estamos mais no período em que as pessoas ainda estavam descobrindo a redução de danos. Tabus à parte, a questão aqui é biológica. O corpo humano, inevitavelmente, não aguenta sozinho os excessos que podem ocorrer durante festas, e é por isso que algumas marcas de suplementação apareceram nos últimos anos. A Overpills é uma delas, e tem se destacado pela qualidade e eficácia.

Com uma fórmula cientificamente comprovada, a marca traz um mix de aminoácidos e vitaminas essenciais para erradicar o que o New Order certa vez chamou de “blue monday”. Mas não

apenas nessas situações. As cápsulas, apesar de feitas para serem tomadas antes de dormir, também servem para a recuperação do corpo após exercícios intensos no geral. Tudo isso disponível em pacotes individuais e em combos.

Nessa busca pelo bem-estar, a Overpills vem como uma solução fundamental para a recuperação física do clubber, melhora do humor e equilíbrio emocional, combate à fadiga, aumento da energia e redução de sintomas de ressaca. E tem novidades chegando: vai ser lançado em janeiro a versão 2.0 do pack que nos salva do mau humor e indisposição durante o pós-festival.

PRETAS NO FRONT

Uma

visão sobre como DJs pretas lidam com a representatividade nas pistas

Falar sobre representatividade das DJs pretas é mais intenso e complexo do que muitos imaginam. Esse tema, capaz de abrir portas e transformar realidades, é essencial, especialmente no contexto do house e suas raízes. No Brasil, a discussão se torna ainda mais urgente, dada a invisibilidade histórica e a necessidade de dar voz e espaço a quem frequentemente tem sido marginalizada.

Mulheres estas que rompem os limites de redutos periféricos e enfrentam, além das questões raciais e do machismo, a invisibilidade no mercado, desvalorização e a constante luta por reconhecimento. Desafiam estereótipos, quebram barreiras e constroem espaços de afirmação não apenas na música, para reivindicar o seu lugar de direito e fortalecer sua voz no cenário artístico.

Por isso, se faz necessário refletir sobre representatividade como o início de uma nova era, onde essa presença, talento e voz sejam reconhecidas e celebradas —não apenas como um reflexo de resistência, mas como uma contribuição para a transformação social e o desenvolvimento da mú-

sica eletrônica. Confira o que Marta Supernova, Kenya20hz e Valenttina Luz têm a dizer.

A house music, como se sabe, é uma sonoridade criada por pretos LGBT+ para serem corpos livres e expressivos. Ainda que na prática seja mais complexo, como enxerga sua representatividade sendo DJ, mulher e preta nesta sociedade?

Marta Supernova A gente acaba representando o sonho de muitas mulheres negras. Para pessoas que querem viver disso, que amam música eletrônica ou serem DJs, mostramos que também é possível. Mas ainda é difícil, sendo o mainstream um lugar que poucas de nós ocupam, acessam e conseguem tocar. Vejo que homens brancos, principalmente em começo de carreira, têm uma facilidade grande de entrar em espaços, ganhar certos cachês… que mesmo eu tendo tocado no Rock in Rio, no Time Warp, e com a legitimidade de grandes selos mundiais, ainda não consigo acessar. Esse lugar da representatividade é complexo, porque o assunto não se encerra na minha trajetória, e na capacidade de construir um espaço para mim na cena, nem da Valenti-

na. Não pode ser sobre uma questão individual. Acho que a gente ainda é uma exceção que comprova a regra.

Kenya20hz Sempre foi algo que não tentei me prender. Porque, a partir do momento que se coloca dentro desse lugar, existe um peso muito grande em cima das expectativas que as pessoas colocam em você, do papel que busca representar. Porque a gente fica nessa busca por sempre acabar chamando a atenção de posições de poder e de influência. Uma vez sabido que as pessoas que controlam a cena muitas vezes vêm de um histórico privilegiado, para que se conecte com elas é necessário que passe por cima disso. Então, fica muito marcada uma perspectiva negativa do que é representatividade. É um fardo que você precisa carregar. Mas vendo de fora, posso dizer que hoje entendo como uma responsabilidade necessária, extremamente positiva e que abre portas para outras pessoas como eu.

Valenttina Luz Acabei de fazer o meu debute em Natal-RN. Após a minha Eurotour, tive o privilégio

Valenttina Luz, no Time Warp Alemanha

de ter diversas passagens pelo Nordeste, conhecer vários artistas pretos, o que me trouxe muito feedback positivo e uma outra ótica sobre meu trabalho; podendo me ver nesse lugar plural e o quanto o meu trabalho influencia outras pessoas pretas. Hoje o vejo como essencial, principalmente pela cor que carrego. Então me sinto inspirada e acho que muito por conta dessa representatividade.

Saúde mental é fundamental. Sabendo que nossa mentalidade sempre foi colonizada e padronizada, como evitar lugares que não nos “pertence”? Tocar em grandes clubs, festas e festivais abre portas, mas como expressar isso?

Marta Cria-se a sensação de que uma carreira de DJ só é construída por espaços mainstream e que são conhecidos de um público específico, que paga e consome essa música eletrônica mais nichada, em grandes eventos... Isso não é uma realidade. Festas que têm uma longevidade, um impacto nas suas cenas locais muito grande, mas que não são reconhecidas como tal, acabam suprimidas pelos grandes eventos. É preciso entender quem são esses parceiros –quais trajetórias posso construir e que são colocadas na realidade, não só em quem consegue pagar um marketing melhor–, e que são importantes para a construção de uma carreira.

Kenya20hz O amor é a única força que vai te manter em pé para adentrar lugares que você sabe que te causam coisas que são muitas vezes nocivas. Jamais ficaria num lugar que não me sentisse à vontade; mas te digo que várias vezes durante a minha carreira tive que estar. E a gente precisa ter um equilíbrio, porque não nos vemos ali. Hoje posso dizer que isso não acontece mais. Já toquei em muitos festivais que são tidos como mainstream e tenho muito orgulho, pois me trouxeram muito crescimento e amadurecimento profissional, por terem públicos totalmente diferentes.

Valenttina Hoje entendo o que é a falta de saúde mental. A minha vida pessoal é bem complexa e aconteceram várias coisas, mas é o lugar que sempre quis estar enquanto artista e profissional. Então tento lidar da melhor forma, com muita terapia e academia. Hoje, quando estou em um grande clube, óbvio que tenho um cuidado maior. A maioria das pessoas sabem o que já passei no início desse acesso, mas consigo lidar de uma forma bem tranquila. Inclusive, pode chamar que eu vou!

Duda Rezende @dudardisco
Kenya20hz
“ESSE LUGAR É MEU E ACREDITO NISSO!”

VALENTTINA LUZ

A arte, sem dúvidas, é nossa forma de expressão e de mostrar que estamos aqui, existindo e resistindo. Como foi seu letramento racial através da música eletrônica?

Marta Dentro da música eletrônica você tem toda a parte historiográfica de como foi criada nos Estados Unidos, de como migra para a Europa e chega no Brasil, se tornando uma questão muito diferente do que é fora. Aqui temos uma relação que tem a ver com as culturas periféricas. Vários gêneros populares foram calcados basicamente na música eletrônica. Então, a questão racial extrapola essa história da house music em Chicago, Detroit e Nova Iorque. No Brasil, o impacto da possibilidade de criação de sonoridades, de ritmos, de cenas culturais e musicais traz uma diversidade de questões sociais, de acesso, de cultura, de espaços e de tipos de festa.

Kenya20hz Essa pergunta é um pouco difícil de responder, porque meu letramento racial não veio através da música, e sim de outros processos existenciais pelos quais passei, passo e vou passar. Mesmo servindo como ferramenta para a solidificação do meu posicionamento e da minha autoavaliação em relação à minha racialidade, a música não foi o fator que a gerou, e sim a que possibilita a manutenção desse meu lugar identitário. E foi através desse entendimento, no qual a música foi fundamental, que pude reconhecer outros iguais fazendo arte assim como eu.

Valenttina A house music realmente trouxe uma negritude que nem sabia que existia dentro de mim. Algo que veio bem orgânico, e é diário. Esse contato pós-Europa com o Nordeste vem sendo um super letramento. Trocando uma ideia no backstage, com as minhas amigas, falamos exatamente disso: como no rolê eletrônico, os produtores e muitas vezes o próprio público, não conseguem ver garotas iguais eu nesse lugar de destaque, numa tentativa de nos descredibilizar ou menosprezar. Mas esse lugar é meu e acredito nisso!

Foto: Robert Schwenk
Marta Supernova

HEYDOC!

MÚSICA É MEDICINA PARA A MENTE

Elias Augusto Gabriel, mais conhecido como HeyDoc!, é um dos nomes promissores da música eletrônica brasileira. Produtor e DJ nascido em Goiânia, sua trajetória é marcada pela superação e autenticidade. Aos 25 anos, ele já acumula um histórico respeitável na cena, mas o caminho até aqui foi longe do convencional.

Aos 21 anos, veio o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), que trouxe respostas e desafios. Desde pequeno, percebia o mundo de uma forma diferente, mas foi só na fase adulta que compreendeu que suas singularidades tinham um nome. Esse entendimento transformou sua vida e moldou seu estilo na música eletrônica. “Para mim, a música é mais do que entretenimento. É um remédio, uma forma de me conectar com o mundo”, explica o artista.

Antes de se dedicar à música, Elias cursava Medicina. Crescido em uma família de médicos, seguir essa profissão parecia natural, mas a rotina e responsabilidades da futura profissão o levaram à depressão. Decidiu, então, abandonar os estudos no 4° ano de curso e se entregar ao mundo artístico. A música, que antes era apenas uma paixão, transformou-se em sua missão de vida, levando-o a aprofundar e refinar suas habilidades como produtor.

Com uma assinatura característica —de graves intensos e uma atmosfera introspectiva—, HeyDoc!

conquistou apoio de nomes relevantes da cena eletrônica, como Tchami e Claude VonStroke, e começou a levar sua mensagem para além do Brasil. Na Europa, incendiou pistas em Ibiza, Faro e Amsterdã. Na Ásia, levou sua energia para Myanmar e Tailândia, em cidades como Yangon e Bangkok. Na América do Norte, tocou em Ottawa, Orlando, Los Angeles e Miami, consolidando-se como um artista sem fronteiras.

HeyDoc!, que já havia sido convidado especial do showcase em Miami da Confession, gravadora de Tchami, refletiu sobre a experiência de dividir palco pela primeira vez no Brasil com o francês: “É a realização de mais um sonho. Estar novamente no Laroc, ao lado do cara que é minha inspiração na música eletrônica, é uma grande honra”.

Para Elias, a autenticidade é essencial. Ele desafia os padrões da música eletrônica e os estigmas em torno do autismo. Seu trabalho é uma extensão de sua identidade e, nas redes e nas pistas, busca mostrar que as limitações podem se transformar em potência criativa.

Planejando explorar novos horizontes e levar sua mensagem a mais pessoas, mostra que a música pode ser um caminho de cura. “Acredito que, através do som, podemos nos conectar profundamente. No final, todos buscamos um lugar para pertencer, e eu encontrei o meu na música!”

Welike Digital @welike_digital

Fotos: Fernando Sigma

O ROLÊ DA Z:

Como o contraste entre gerações impacta o consumo de música e festivais —segundo o especialista em Neuropsicologia, Luis Valle

A virtualização da vida e das relações sociais já é uma realidade, não há como negar. E embora queiramos culpar a pandemia, não podemos acusá-la como única causadora da atual situação. Entretanto, tal período foi um dos grandes responsáveis por transportar a vida social ainda mais para as redes. E desse estilo de vida algoritmizado a geração Z entende muito bem. De acordo com Luis Felipe Valle, mestre em linguagens, mídia e arte pela PUC-Campinas, e especialista em Neuropsicologia pela

FCM-UNICAMP, o ciberespaço exerce influência na percepção de realidade que as pessoas têm. O pesquisador acredita que a dimensão cultural é resultado, mas também é produtora dessas relações.

A geração Z, por exemplo, se desenvolveu junto com a tecnologia. Formada por nascidos entre 1995 e 2010, entre as demais características estão a preocupação com questões sociais e o desapego às barreiras geográficas.

Além disso, possui maior preocupação com o bem-estar. Isso provocou uma mudança na vida noturna: ao contrário da anterior, a Y (também conhecida por Millennials), que não se intimidava em passar a madrugada festejando, nem em lidar com as consequências da ressaca no dia seguinte; a Z diminuiu o consumo de álcool, conforme dados de 2023 do Relatório Covitel –pesquisa sobre hábitos de saúde dos brasileiros. Entre as motivações está o interesse pelo autocuidado.

Vitoria Zane @victoria.zane

Ainda segundo Valle, a geração Z tem extrema preocupação com o registro e compartilhamento de experiências como forma de validação dentro das redes sociais, o que acaba por deslocar a presença no momento presente. Dentro de uma festa ou festival, a preocupação é maior em produzir materiais do que em vivenciar o espaço. O planejamento para ir a um rolê é feito nos mínimos detalhes: a pessoa já sabe a roupa que vai vestir, a hora que vai sair de casa, qual o setlist, coreografia… Esta é uma grande diferença de comportamento em relação à geração Y, que parecia mais desbravadora, no sentido de estar mais aberta para a experiência sem fazer muitos planos.

“Parece que a novidade causa ansiedade e estranhamento. A geração Y consumia a bebida buscando um sentimento de liberdade no descontrole, de sair de um lugar previsível, muitas vezes de maneira inconsequente. Para a Z, fotografar a garrafa ou a fumaça do vape, mostrar o acontecimento, é mais emocionante do que consumir propriamente. Porque esse descontrole causa quase uma angústia. Há uma preocupação em não passar por uma cena constrangedora e virar meme. Mas há uma grande necessidade de autoafirmação, um ‘não sou careta, tô no rolê’, e o tempo todo precisam performar”, ressalta Luis Valle, também professor no Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ).

Essa roteirização das experiências afeta todo o mercado musical, tanto no consumo quanto na produção. A construção de uma faixa passou de mais experimental e criativa para algo planejado e baseado na ajuda dos algoritmos. Entenda: não há um julgamento sobre o que é certo ou

A

errado, apenas a constatação de que o processo tem mudado, pois a música é uma das grandes formas de expressão do tempo. O hippie, por exemplo, aparece num período de guerras como negação da violência. Da mesma forma, o hip-hop teve sua crescente no período de empoderamento da população afro-estadunidense. No Brasil, a Tropicália serviu como enfrentamento à censura durante a Ditadura.

A música eletrônica não fica de fora: a house music surgiu em Chicago a partir de movimentos advindos das culturas LGBTQIA+ e negra, que anos antes também foram responsáveis pela consolidação da disco music, som periférico que servia como refúgio contra qualquer tipo de discriminação. Não distante temporalmente disso (ou geograficamente, em Detroit), o techno foi um grande catalisador da união das pessoas após a queda do muro de Berlim, assim como com o advento do trance e das raves ilegais em todo Reino Unido impulsionadas pelo Segundo Verão do Amor. Mas se a música reflete o ambiente, como o som atual tem sido uma expressão genuína e direta do que vivemos agora?

Enquanto a geração Y segue resistente a ouvir coisas novas, tentando reforçar sua identidade, a Z busca criar sua própria, muitas vezes reinventando aquilo que foi sucesso no passado. “Não se faz música longa para poder caber no TikTok, o refrão precisa grudar na cabeça. Busca-se fazer um viral… que cresce rápido, vira hit, mas passa um tempo e ninguém lembra. E embora a música acompanhe a trajetória cultural da sociedade, a gente parece estar reciclando coisas muito mais do que criando, de fato. E olha que curioso, até mesmo as

dancinhas ensaiadas atuais, de certa forma, são um resgate dos passinhos na discoteca e nas matinês do passado”, considera o pesquisador.

E A ALPHA?

Marcada por nascidos a partir de 2010, ainda é cedo para afirmar como o comportamento desses adolescentes guiados pela conectividade, com perfil mais independente e versátil, pode moldar o consumo do mercado musical. Enquanto os baby boomers foram mais disciplinados, a geração seguinte extravasou. Coube a Z portar-se com mais responsabilidade. Para Valle, essa rigidez é uma tentativa de controlar a situação e as emoções. E é justamente isso que vai provocar uma mudança comportamental na alpha, que já está tendo uma criação diferente do que a Z teve. O espaço é mais acolhedor e menos autoritário, com liberdade e respeito para o tempo de desenvolvimento de cada um.

“Acho possível que a Alpha possa acabar reconquistando esse espaço de criatividade, de liberdade, de expressão e de ruptura com a expectativa. E pensando no macro, a gente está enfrentando várias crises, seja econômica, social, ambiental. O mundo vai precisar ser, de alguma forma, revisado. Se eu tivesse que apostar, diria que os alphas serão muito mais revolucionários do que tem sido até agora os Z. Do mesmo jeito, podem acabar sendo uniformizados, estandardizados pelo algoritmo, com todo mundo sendo ensinado pelo ChatGPT. E pode ser que demore mais até uma geração aparecer e apontar uma necessidade de ruptura mais abrupta. É um ciclo também, né?”.

VERDADES INCONVENIENTES

NINGUÉM PEDIU, MAS FATO É QUE

SE A CENA NÃO

TE AGRADA, VOCÊ

TAMBÉM PODE TER

CULPA. BATEU, DOEU?

PEGA QUE É TEU!

Cultura clubber é tudo de bom, né? Somos o novo hype do entretenimento global, estamos nas rádios, nas lojas, no Fantástico, nos casamentos, na religião. Temos festas e festivais para todos os públicos e gostos, bons momentos com a galera, sets que “salvam a vida” e resgatam os melhores sentimentos, mas por que então a gente se depara cada vez mais com situações desagradáveis dentro e fora da pista?

Já não é de hoje que as redes sociais são inundadas de reclamações, muitas das quais insatisfeitas com decisões ou posturas tomadas por alguma das partes dessa engrenagem. E será que todas são fundadas ou muita gente não sabe, esqueceu ou abandonou a vontade de entender sobre a sustentabilidade do nosso cenário?

São diversas as peças —e personagens— necessários para fazer com que o resultado seja positivo. A produção precisa estar com objetivos e ações alinhados com o público-alvo, a entrega artística tem que ser interessante, coerente com horário e proposta. Já o público está para dar um bom suporte aos projetos que gosta, constar nos eventos e levar sua melhor energia para a pista de dança.

Todos os pontos dessa equação são importantes. Sendo assim, resolvemos te lembrar e quem sabe fazer refletir sobre alguns deles.

DESGOSTEI, LOGO DETONO

Eventos caminham com expectativas e nem sempre a produção vai fazer escolhas que nos agradam, mas a resposta para isso não é uma “opinião” grosseira e ofensiva nas redes sociais. Seja na contratação artística (que pode custar milhares de reais e um alinhamento dos astros) ou em questões estruturais e de regras, a ideia é também manter a segurança e o bom andamento. Enquanto alecriners estão carcando o dedo nos comentários, tem uma equipe lidando com grandes responsabilidades para botar a galera pra dançar e artistas tendo seu trabalho desvalorizado. Se você é desses, apenas pare!

O BENDITO INGRESSO

Talvez muitos não saibam, mas comprar ingressos antecipados vai além da renda para fazer um evento rolar. E não aquele comprado dois dias antes, tá? Esse também conta, mas é praticamente impossível definir estrutura, ambiente, som, luz e equipe suficientes sem uma noção de quantidade de público num tempo hábil de produção. Se é certa sua presença na festa que curte, valorize o trabalho, tente comprar com antecedência e deixe de lado o aguardo pelas listas VIPs —não as inclusivas, é claro—, cupons ou cortesia. Se você adquire de última hora e acha que faltou algo, avalie o hate.

O MALDITO CELULAR

Se é permitido ou não na pista, não vem ao caso agora. O que é inadmissível por unanimidade são

flashes atrapalhando artistas e experiência de público e vídeos excessivos ou zombando terceiros que estão se divertindo. É o tipo de atitude de uns que inibe a liberdade de outros e, pior, transforma a pista, local de conexão com a música e extravasamento de energia, em ambientes engessados e até caretas. Entenda que nem tudo precisa ser registrado, especialmente em ambientes claros ou em afters. Nestes casos, o celular até pode ficar, já o dono pode pegar seu caminho pra casa.

VEM AQUI, PRODUTOR

Sabemos que esse é um universo de grandes dificuldades, mas respeito, honestidade, segurança e valorização precisam ser palavras de base e ordem com absolutamente todo mundo. Sejam coerentes com a proposta apresentada e a entrega realizada. Valorize quem faz acontecer, do técnico de som e luz ao pessoal da limpeza e segurança. Não adianta encher o bolso enquanto toda a equipe recebe duas coxinhas e um refri. Responsabilize-se pelos seus acordos e honre-os. Por trás dos contratos tem pessoas que prestam serviços e dependem disso para alimentar familiares e funcionários.

VALE PARA ARTISTAS, TÁ?

A relação entre contratante e artístico é tão linda quanto desafiadora, mas pode ser muito simples quando o respeito atua junto. Conheça bem seus artistas contratados, linha de som, adequação ao horário, etc. Lembre-se dos locais e da diver-

sidade. As exigências, principalmente técnicas, existem para que as performances sejam as melhores possíveis; então, caso tenha dificuldade ou não seja possível cumpri-las, entre em contato com a equipe (ou tour manager) e busque a melhor saída, pois este serzinho criativo se preparou por horas pra estar ali e, acredite, um imprevisto pode mudar tudo.

ARTISTA, PERO NO MUCHO

O cenário explodiu artisticamente e a fase é de fartura criativa, mas ser artista é ser profissional o tempo todo. Não existe a “última bolacha do pacote”; por isso seja legal com o staff e busque entender cada contexto e perspectivas (não significa abrir mão de tudo, ok?). Saber quem toca antes e/ou depois e respeitar colegas de cabine

é uma lição primária. Nem sempre sua verdade sonora será absoluta na conexão com a pista e traçar uma nova rota dentro das suas possibilidades artísticas faz parte da arte do DJing. Será que precisamos entrar no fator horário, sobriedade e comprometimento?

MENOS EGO, MAIS AMOR

A música eletrônica é um mercado bilionário e carrega muitos aspectos desse meio. Mas não dá pra esquecer que pista de dança é amor, respeito, igualdade, coletividade e liberdade de expressão. Respeitar as diferenças de gêneros musicais, grupos que a consomem, gerações, personagens que fazem a cena girar e formas de comunicação não deveria ser um tópico a ser lembrado. A pista nasceu da diversidade, dos excluídos, gays, negros e imigrantes. Jovens que se rebelaram e se uniram para criar um campo livre em que todos possam conviver em sua máxima existência e personalidade.

O mundo já está maluco demais, acelerado demais, complicado demais pra gente depositar energias e atitudes ruins na delícia da pista de dança. Se cada um fizer a sua parte, continuará sendo nosso refúgio, carregador de baterias, catalisador de boas energias e solo fértil para o crescimento da cultura, sustentabilidade de profissionais e artistas e de uma expansão fantástica do talento brasileiro nos mais diversos âmbitos desse cenário. Quem também acredita? Laura Marcon @lauravmarcon

VIRADA DE CHAVE

De colaborações a palcos de peso,

Sighter

redefine sua trajetória no psytrance

Algumas escolhas podem mudar o rumo de uma carreira, sejam estrategicamente idealizadas ou naturalmente desenvolvidas, como é o caso de Sighter, DJ produtor do Sul do país. Sua primeira colaboração com Neelix, uma versão para “Give it to me”, do Timbaland, ganhou os holofotes das pistas de dança de todo o mundo, alavancando o projeto do brasileiro que já assinava faixas como “Making Me Nervous”, “Sweet Disposition” e “Dystopia”.

“No início achava que a track era muito comercial e até ficava um pouco off no set [risos]. Um tempo depois mandei para o Neelix e virou uma colaboração nossa”, explica. Apesar da versão não ter sido lançada oficialmente, se tornou presença obrigatória nas pistas ao redor do mundo e foi fundamental para moldar a sonoridade atual do Sighter, com sonoridade que caminha do trance melódico ao psicodélico, proporcionando atmosferas sensoriais.

Parte da nova geração do psytrance que tem proposto uma estética sonora e visual que

conversa muito com públicos mais jovens, o produtor tem contribuído para uma renovação da cena sem perder as origens do gênero musical, caracterizada pela construção mais lenta e hipnótica. “Nos últimos anos quis fazer um som que qualquer pessoa possa curtir, mas sem perder o espírito do progressive, agradando públicos novos e também os mais antigos”.

Com pouco mais de dez anos de carreira, iniciou sua vida musical em uma banda de rock com amigos, tocando em pubs, até participar de sua primeira ‘rave’. “Eu não fazia a mínima ideia como tudo funcionava. Comecei a produzir as minhas primeiras tracks e só um tempo depois aprendi como discotecar e tocar. Sempre gostei muito de música e de fazer música”, relembra.

Na época, se aventurando em uma nova sonoridade, trazia como background vertentes do rock, através de Alice in Chains, Pearl Jam e Pink Floyd. Hoje, transita entre bandas como Linkin Park, Bad Omens e Bring Me The Horizon. “Gosto do jeito que conseguem mesclar estilos

e fazer bons edits no estúdio. Tem muita influência de música eletrônica envolvida”, completa. Além, é claro, de projetos como Township Rebellion, Stephan Bodzin e deadmau5.

Essa riqueza de referências trouxeram Sighter para o lugar de um produtor criativo e que ressignificou a sua própria estética. Caminho que o tem levado a viajar o mundo por meio do seu som. “É muito gratificante conhecer pessoas do mundo todo, novas culturas, cidades, diferentes pistas de dança, cada uma com diferentes características. Isso torna tudo ainda mais prazeroso. Cada pista funciona diferente e todas são muito iradas”.

Empolgado para seus próximos passos, solo e junto a Magic Moments, label encabeçada pelo dimarquês Phaxe, Sighter espera expandir a sua visão artística e habilidades no estúdio, para continuar explorando sonoridades e a sua própria criatividade. Afinal, virar uma chave na carreira pode não ser tão difícil, mas, dar continuidade às portas que se abrem pode ser um grande desafio, que tem provado tirar de letra.

Lu Serrano @luoliserra

BRANDÃO: DE ERECHIM AO TOP 10 OVERALL DO BEATPORT

Focado nos grooves do tech house, o DJ produtor gaúcho vem firmando cada vez mais seu espaço —também como instrutor

Música sem parar e uma abordagem de bem com a vida: assim podemos resumir a presença do DJ produtor Brandão na cena de música eletrônica. Focado nos grooves do tech house, o artista gaúcho vem firmando seu espaço cada vez mais. “O último ano foi um período de crescimento profissional, impacto positivo na vida de outros e reconhecimento na cena”, conta.

Natural de Erechim-RS, e com base em Florianópolis-SC, é uma figura querida na cena da região. O contraste é claro: ele parece viking, mas é um amor de pessoa e cheio de talento. Não à toa, foi o escolhido para conduzir o processo de aprendizagem do DJ Theo, artista com deficiência visual de apenas 9 anos, na House Mag Academy —a escola de DJs irmã da House Mag, onde Brandão leciona. Com esta experiência, pôde reafirmar sua aptidão e satisfação em compartilhar conhecimento, criando memórias que ficarão para sempre na mente de ambos.

Na discotecagem, é do grupo dos perfeccionistas. “A transição tem que sair redondinha”, ele sempre diz. E desafia a criatividade das pessoas não importa a vertente musical. É claro que sua técnica chama a atenção: em seu “currículo discotecário”, Brandão tem passagens constantes pelo Terraza Music Park, Surreal Park e Amazon Club, clubs de relevância nacional.

“Meu maior propósito como artista, além de fazer com que cada vez mais pessoas consumam a minha arte, é cravar meu nome entre os grandes do tech house nacional e alimentar a cena de uma maneira saudável, seja com músicas, formando talentos ou trabalhando em novos projetos de diversas formas”, comenta.

Construindo uma carreira com calma, constância, longevidade e credibilidade, também empresta energia para a Time To Dance Records, que co-pilota com o duo Doctor Jack, onde cumpre residência, e para a rotina de

estúdio, que segue religiosamente. E tem funcionado: neste ano, ele entrou no Top 10 geral do Beatport com o EP Darararará, alcançando também o Top 3 de tech house.

Outro EP que esteve nos charts da plataforma foi AHAM, lançado pela Delicious Records, chegando à posição 11 no chart de tech house releases. Já nas cabines, além da sua estreia no Jungle Club, uma participação que considera marcante em 2024 foi tocar na Fusion, festa que acontece no Amazon Club e que elevou a experiência do club a um novo nível em Chapecó-SC.

“O próximo ano será muito importante. Acredito que a partir do momento que você chama atenção, tem a obrigação de se manter crescendo e evoluindo constantemente. Então os planos são esses: continuar os lançamentos e com as gigs pelo Brasil, fazendo um bom trabalho na curadoria da label e inspirando os meus seguidores e amigos”.

Rodrigo Airaf @airaf_____
Foto: Fabiana FiedlerMedusah Arte Visual

ATOMIC SODA

DENISE KLEIN E GUI BORATTO FUNDAM NOVA

AGÊNCIA DE

BOOKING BRASILEIRA

Em um mercado aquecido e em crescimento como o da música eletrônica hoje no Brasil, surge a Atomic Soda, uma agência para artistas que tem como seus pilares as mentes por trás do negócio: Denise Klein e Gui Boratto.

Denise Klein é uma figura conhecida entre os principais players do mercado, tanto nacionais como internacionais. Sua experiência como booker inclui uma vasta gama de artistas renomados, como Dubdogz, Alok, Chemical Surf, Vintage Culture, Mochakk, Bruno Be, Cat Dealers, Maz, Curol, Gabe, Bhaskar e muitos outros. Além de gerenciar a carreira de grandes talentos nacionais, Denise também assessorou turnês de ícones internacionais como Carl Cox, Tiesto e David Guetta.

Gui Boratto é um músico que dispensa apresentações. Há décadas atuando como produtor e DJ, ele também tem sua própria gravadora ‘’D.O.C’’. Agora, embarca em uma nova função, agenciando artistas com todo o seu conhecimento e vivência dentro deste mercado, nacional e internacional.

Tendo como base a experiência e o networking desses dois nomes, a Atomic Soda atuará no booking dos DJs parceiros, encontrando datas em diferentes palcos no Brasil e no exterior.

Com a missão de descobrir e desenvolver talentos e conectá-los com oportunidades que os ajudem a alcançar seu pleno potencial, a agência promoverá carreiras de sucesso, e também cultivará relacionamentos de confiança e parcerias duradouras.

Hoje, o casting dos artistas da agência já conta com artistas como Coppola, DJ Marky, Felguk, Gabriel Brasil, Gui Boratto, Junior C, L_cio, Sarah Stenzel e Zerb.

Acompanhe a Atomic Soda no Instagram: @atomicsodaagency e para mais informações entre em contato pelo email: denise@atomicsoda.com.br

Adriano Canestri

CONSISTÊNCIA E INOVAÇÃO

Com carreira agenciada pela Box Talents e Mz9 Managment, Gustavo Mota segue se reinventando; e sendo sucesso nas pistas

MZ9 Managment @mz9_management

Em quase duas décadas de estrada, Gustavo Mota firmou-se como um nome de destaque na música eletrônica brasileira, com apresentações em festivais como Rock in Rio, Lollapalooza e Só Track Boa, além de passagens por África do Sul, Estados Unidos, Vietnã, Egito e Suriname.

Com lançamentos em gravadoras como Spinnin’, Smash the House e Sony, é também fundador da Muzenga Records, ao lado do sócio Bruno Mattos, oferecendo uma plataforma que abre portas para novos talentos e promove inovação, incentivando produtores a ganharem espaço.

Carismático e próximo de seus fãs, mantém uma conexão especial ao interagir nas redes sociais e até em grupos exclusivos de WhatsApp, em que compartilha tanto novidades musicais quanto sua rotina pessoal, incluindo treinos, alimentação e bastidores de shows.

Em 2024, vive uma fase intensa, com apresentações em praticamente todos os fins de semana e shows internacionais, incluindo passagens por Argentina e Bolívia. Nessas ocasiões, gravou sets ao vivo, disponíveis no YouTube, consolidando sua base de seguidores nesses países. Com datas já programadas para retorno e novas apresentações previstas no Chile, expande sua presença na América Latina.

Outro destaque é o projeto em parceria com a DJ Devochka, uma colaboração b2b que começou no clube El Fortin e rapidamente conquistou os fãs. O set, gravado e lançado no YouTube, gerou grande repercussão, levando o duo a realizar mais de dez shows juntos em locais como Surreal Park, Adore e Café de La Musique, atendendo aos pedidos do público em diferentes cidades.

Buscando sempre incorporar novos timbres, Gustavo Mota mantém uma identidade sonora

que fãs reconhecem e valorizam, criando uma base leal que o acompanha a cada lançamento e performance. Através de uma agenda lotada, colaborações e um envolvimento com o público, se destaca como um artista que permanece fiel a si mesmo, enquanto continua evoluindo e conquistando novas plateias pelo mundo.

Foto: Christiano Wagner

DO PALCO ÀS PASSARELAS

A CONEXÃO ENTRE A MÚSICA ELETRÔNICA

E A MODA

Duas expressões de arte com diversos pontos de conexão, moda e música eletrônica estão intrinsecamente conectadas pela forma como expressam a estética visual, até o impacto cultural; ambas com o poder de influenciar e transformar. A música eletrônica sempre foi associada a um visual marcante e futurista. Entre os anos 1980 e 90, esteve ligada a subculturas que definiam essa identidade também por meio da moda. Movimentos como o techno de Detroit e o house de Chicago, deram origem a códigos próprios. As roupas usadas nos clubes underground ou nas raves desafiavam o convencional, com looks andróginos, extravagantes, ou minimalistas, que refletiam a liberdade e a experimentação.

Festivais, como o Tomorrowland, Burning Man, Coachella, Ultra e o EDC, são locais onde a moda ganha destaque. Com looks criativos, o público manifesta as vibrações da música e o desejo de autoexpressão, desfilando estilos como o cyberpunk, neon, techwear, ravewear, etc. A moda clubber é visualmente impactante, excêntrica e repleta de detalhes que celebram a individualidade e a energia da vida noturna. Vai desde tons fluorescentes e metálicos, materiais sintéticos que criam um visual sensual, até a combinação de elementos do passado, como referências da moda dos anos 1970 e 80 (com influências do disco e punk), combinadas a maquiagens bem elaboradas e acessórios dos mais diversos.

Com o tempo passou a inspirar designers e grifes como Raf Simons, Diesel, Balenciaga, Dries Van Noten, Chloé, entre outras. Clubes como o Hell’s, Massivo, Sound Factory e o Madame Satã não só serviram como espaços musicais, mas também de palcos para manifestação visual e moda, criando uma cena vibrante e autêntica. Algo que chamou atenção da marca brasileira de streetwear, criada em 2014, a BAW Clothing que lançou em 2023 uma collab com a linha de whisky Ballantine’s. A coleção “Bawllantine’s” trouxe roupas e acessórios inspirados nas drum machines (baterias eletrônicas feitas para programar ritmos), que revolucionaram a cena da música eletrônica e do hip-hop na década de 1980.

Fundada no mesmo ano da BAW Clothing, a Pornograffiti se tornou a líder do underground, acumulando colaborações com nomes que vão de Pabllo Vittar, Carlos Capslock até Victor Ruiz. Criada por Caio D’Andréa, nasceu na cultura clubber brasileira com a missão de desenvolver peças que reflitam a diversidade e autenticidade da cena, além de ser uma comunidade de expressão artística e social, impulsionada por uma legião de entusiastas da e-music. Uma pequena amostra de como a moda e a música eletrônica expressam criatividade, comunicam sentimentos e ideias, refletem a cultura e permitem que as pessoas explorem sua própria identidade, mudem percepções e desafiem as regras vigentes.

Iasmim Guedes @iasmimguedes
Foto: Julia Pavin
Foto: Recreio Clubber
Eli iwasa
Valenttina Luz

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Os eventos extremos, como ondas de calor, tempestades intensas e secas prolongadas evidenciam a mudança climática como fonte de um problema que fica cada vez mais claro. A queima de combustíveis fósseis e o agronegócio são apontados por especialistas como os principais causadores do aquecimento global, afetando bilhões de pessoas. Por isso, se faz necessário refletir sobre nosso papel como entusiastas dessa cultura de pista e sobre ações para mitigar catástrofes que geram prejuízos de grande escala.

Festivais como The Town 2023 em São Paulo e o UMF 2024 em Miami sofreram com chuvas intensas, e até o Burning Man 2023, no deserto de Black Rock, Nevada-EUA, foi surpreendido pelas tempestades mais fortes já registradas na região em décadas. Embora acordos firmados na COP29 e no G20 no Rio de Janeiro busquem avanços, cientistas alertam que tais iniciativas são insuficientes para atenuar os danos causados pela ganância corporativa e interesses econômicos de poucos em detrimento da vida na Terra.

E além de nos afetar diretamente, é necessário olhar também o modo como mega-festivais vem ocorrendo, considerando sua frequência, quanti-

orgânicas

dade de público e infraestrutura. Devemos ponderar onde frequentamos e considerar que o hedonismo não pode ser nosso único foco, pois tais eventos são parte de um sistema social complexo que demanda maior responsabilidade. A energia elétrica de equipamentos, LEDs e estruturas temporárias, por vezes descartadas sem reaproveitamento, geram uma pegada de carbono elevada.

No entanto, alguns festivais vem promovendo um ambiente de celebração de forma consciente. Os europeus estão hoje à frente da sustentabilidade quando o assunto é rave, como o Tomorrowland Bélgica, o Boom Festival em Portugal e o DGTL na Holanda. Dentre as várias iniciativas tomadas é possível citar o gerenciamento de resíduos, reutilização de plásticos, sistemas de compostagem e energia renovável, reaproveitamento de materiais e desenvolvimento de economias circulares que envolvem comunidades próximas.

Já na América Latina temos o Defqon.1 no Chile, que teve a edição mais recente em junho deste ano. O festival foca em hardstyle e promove ações sustentáveis como separação de lixo gerado, reutilização de estruturas e parcerias com ONGs locais. Outro exemplo do continente é o

EXTREMOS DO CLIMA IMPACTAM FESTIVAIS E COMO BUSCAR A SUSTENTABILIDADE SE TORNOU REGRA

Tomorrowland Brasil, que demonstrou entender o recado do clima e adotou algumas medidas para melhorar a gestão de rejeitos e uso de fontes de energia renováveis, envolvendo iniciativas voltadas para educação e orientação do público.

São apenas alguns casos que nos ajudam a olhar para ideias como banheiros compostáveis e colaborações com fornecedores locais para alimentação, provando que a parceria com ONGs voltadas à sustentabilidade é estratégica para eventos de grande porte. Assim, tais iniciativas dentro desses espaços tendem a ter maior incentivo e embasamento, se multiplicando e fazendo com que os festivais de música sejam sobre celebração, mas também sobre integração com a natureza e um profundo respeito pelo meio ambiente.

Leo Gimenes @____lamoda
Lixeiras
para coleta seletiva Banheiro compostável

MÚSICA ELETRÔNICA PARA TODOS

Com sede em Florianópolis, a escola de DJs House Mag Academy é a nossa irmã mais descolada e, é claro, compartilha dos mesmos valores e desejos de contribuir para a cena. Ao longo dos anos, o endereço no bairro do Itacorubi virou um hub de trocas positivas em torno da carreira, discotecagem, produção musical e mais. Conectando DJs iniciantes a grandes nomes com frequência em seus workshops e no cotidiano da casa, e com centenas de membros em sua comunidade online, a HMA é uma força somatória no mercado nacional.

Para a população de pessoas com deficiência (PCD), a HMA também tem uma trajetória de grande aprendizado e muita satisfação com os resultados. Um exemplo é o Aloss, ex-aluno de discotecagem que hoje tem sua própria festa anual para as pessoas surdas da região Sul bra-

sileira. “A surdez não cria limitações, mas um caminho. Cada caminho pode levar a qualquer conquista”, conta o artista, que está neste momento criando um curso de produção musical para pessoas surdas em parceria com a escola. “A HMA se tornou um espaço onde posso crescer, me expressar livremente e explorar minha paixão pela música. Estou animado para continuar essa trajetória juntos”.

Em 2024 foi a vez do Theo, aos 8 anos, ganhar sua oportunidade de aprender discotecagem. Em uma percepção banal, sua história poderia sugerir para algumas pessoas que a deficiência visual seria um obstáculo definitivo para se tornar DJ. Mas, como mencionado em encontro especial com a DJ Mari, também cega e aluna da AIMEC Balneário Camboriú, não é bem assim. É mais sobre sentir a vibração das músi-

A ABORDAGEM

DA HOUSE MAG ACADEMY DIANTE DE UM MUNDO DIVERSO

Fotos:
Fabiana
Fiedler
Iaell, Theo e Aloss

cas, criar técnicas para acessar o que deseja no equipamento e no máximo, ganhar assistência para a montagem do setup. De resto, é simples: deixe o feeling fazer junto com você.

Desde o começo das aulas, na missão de guiar Theo nesse processo está o DJ produtor Brandão. Em reportagem feita no Instagram da House Mag por este que está escrevendo, conta que parecia aprender mais com o Theo do que o contrário. “Sei que faz bem pra ele, mas talvez não saiba o quanto me faz bem também. É um prazer passar meu conhecimento”, conta o gaúcho, que mora em floripa.

Segundo Iaell, DJ, produtor e dono da House Mag Academy, “estudos na área de educação musical demonstram que os surdos e cegos podem aprender música assim como qualquer pessoa ouvinte e vidente; no entanto, ainda existe certo

“ESTUDOS PROVAM QUE OS SURDOS E CEGOS PODEM

APRENDER MÚSICA

ASSIM COMO

QUALQUER PESSOA

OUVINTE E VIDENTE”

estranhamento e resistência”. Theo concorda, afinal, está emoldurado para ele o seu ‘guarda-chuva dos desejos’: “Foi um exercício da minha escola e eu tinha que escrever o que queria ser e grudar debaixo desse guarda-chuva. Coloquei que queria muito ser DJ e hoje sou um!”

“Theo possui ouvido e sensibilidade ímpares para a música. Sua paixão pela música eletrônica é comovente, assim como o desejo em ser DJ. Adaptamos o nosso curso para o processo de aprendizagem dele e deu certo”, comenta Iaell. No fim das contas, Theo ganhou um equipamento próprio para treinar, graças a uma vaquinha feita entre os seguidores da House Mag e House Mag Academy. Quando tentamos dizer o porquê de fazermos o que fazemos como profissão, este é um bom relato para explicar. Nos vemos nas aulas e nas pistas!

Quer saber mais sobre nossos cursos? Fala com a gente no @housemagacademy :)

Rodrigo Airaf @airaf_____
Aloss

EKANTA JAKE:

Pioneira e ícone do psytrance no Brasil, Ekanta Jake é símbolo de transformação, arte e conexão. Com 27 anos de carreira, seu legado molda e inspira a cena eletrônica brasileira.

JORNADA RESILIENTE

Começou a trabalhar cedo, aos 13 anos, ajudando nos negócios da família, que iam de loja de uniformes a locadora de VHS. Embora sonhasse em ser bailarina, foi nos anos 90, durante sua estadia na Holanda, que encontrou seu verdadeiro propósito: a música eletrônica. Em Amsterdã, conciliou diversos empregos, como modelo e serviços de limpeza.

No club Trance Buddha, onde trabalhou em várias funções, teve suas primeiras experiências como DJ. Em sua primeira rave, se apaixonou pelo psytrance. O talento a levou ao palco do festival Dance Valley, marcando um grande passo na carreira. Ao retornar ao Brasil, trouxe consigo o desejo de popularizar esse estilo, pavimentando o cenário e criando conexões através da música.

LEGADO MUSICAL

Em 2000, lançou sua primeira faixa, “Intro The Forest”, em parceria com Zyz (Gemini Soul), representando sua conexão com a natureza. Em 2024, revisitou suas origens com a releitura da track, que será lançada em breve. Um dos maiores hits, e um clássico das pistas, é o remix de “Jurema” (2005). Lançou trabalhos como os álbuns Raízes Eletrônicas (2015) e Vozes (2021).

Recentemente, assinou a nova compilação da sua série 303 Stage: o New Tales

UP E 303 STAGE

Ekanta é um dos pilares do Universo Paralello. No coração do festival, comanda o 303 Stage, combinando tradição e inovação. Nessa edição, o palco terá nova localização e cenografia inédita, além de curadoria voltada aos sons noturnos. “Pela primeira vez de costas para o mar, a tenda contará com um coletivo de artistas que representam muito todo nosso movimento, sistema de som também diferenciado e chegando pela primeira vez no UP. Este ano conectamos mais sons noturnos, psicodelia garantida”, revela.

CONEXÃO FAMILIAR

Mãe de Alok e Bhaskar, frutos de seu ex-relacionamento com Juarez Petrillo (Swarup), Ekanta é a matriarca de uma família que respira música. Em janeiro deste ano, protagonizaram um dos maiores momentos da história do UP: todos juntos tocando na pista principal. No Tomorrowland Bélgica, Ekanta subiu ao palco ao lado de Alok. Na edição brasileira do festival, fez um B2B com Juarez, emocionando o público.

EM EVOLUÇÃO

Em 2025, Ekanta pretende lançar mais um álbum. Além de DJ e produtora, ela também se dedica à terapia de som (Sound Healing), e segue inspirando e transformando.

RAINHA DO PSYTRANCE NACIONAL E GUARDIÃ DE LEGADOS

Iasmim Guedes @iasmimguedes

Fotos: Skyrave Shadows

SPECTRA SONICS:

uma potência japonesa no psytrance

Quando se fala em música no Japão, rapidamente se pensa no J-pop e seus grandes astros. Porém, apesar de esse cenário ser o mais difundido publicamente, a cultura japonesa possui uma cena de música eletrônica vibrante, diversa e que ocupa um lugar de destaque em grandes centros urbanos como Tóquio, Osaka e Kyoto.

É sob essa atmosfera que Spectra Sonics vem ganhando os holofotes do psytrance, realizando um trabalho consistente desde seu primeiro lançamento, o EP Voyage, em 2011, pela Grasshopper Records, que assinou seu debut para o pú-

blico internacional. Em 2015, Sentimental, álbum lançado pela mesma gravadora, posicionou de vez o nome do ‘japa’ no circuito da música eletrônica e entre os principais nomes do gênero.

Com um visual de cabelos e roupas coloridas, muita simpatia e alto-astral, contagia a pista de dança com apresentações cheias de energia e uma sonoridade com basslines frenéticos e altas doses de psicodelia. Suas composições reúnem melodias profundas e ritmos cativantes, aclamadas por DJs e fãs do psytrance ao redor do mundo, criando um contraponto que destaca sua originalidade.

Spectra Sonics abusa da inovação, tecnologia e criatividade para construir sua própria narrativa em um laboratório sonoro que teve início em festas underground de Tóquio. Não à toa, faz parte do catálogo de lançamentos da Shamaniac Tales, gravadora de Astrix, com faixas que já alcançaram quase um milhão de plays no Spotify, tornando-o uma das potências do psytrance japonês.

Seu destaque crescente na cena global é um elo cultural que representa e conecta a cena asiática a países tradicionais e reconhecidos por terem uma história longeva dentro do trance. O DJ produtor já se apresentou em países da Ásia, Europa, América do Norte, América do Sul e Oriente Médio.

Para Masaya, nome por trás do Spectra Sonics, o idioma não é uma barreira, já que se comunica por meio de uma linguagem universal: a música. Ele sabe se expressar com muita positividade e energia por onde passa. Sua representatividade também se estende aos seus dois projetos paralelos, Majide e Double Hélix, que se diferenciam pelas sonoridades. Enquanto o primeiro é mais dançante e uplifting, elevando as sensações, o segundo oferece linhas mais introspectivas, progressivas e experimentais.

Essa pluralidade artística dentro do psytrance reforça o talento e a versatilidade de Masaya, que transita entre diferentes abordagens do gênero e explora sua criatividade na produção musical. Sua atuação de destaque na cena trance, em um país reconhecido por sua cultura pop, tem posicionado seu projeto e seu país de origem no circuito dos DJs e produtores de trance mais diferenciados e autênticos do mundo.

CONTRATOS MUSICAIS

No mundo competitivo e em constante mudança da música, artistas talentosos frequentemente precisam se associar a gravadoras para avançar em suas carreiras. No entanto, é importante entender os detalhes dos contratos para garantir proteção legal e aproveitar as oportunidades ao máximo.

EXCLUSIVIDADE

Um ponto de extrema importância é a cláusula de exclusividade. Esta estabelece que o artista não poderá trabalhar com outras gravadoras durante o período de vigência do contrato. É essencial que seja bem negociada, permitindo uma maior liberdade para buscar outras oportunidades ou até mesmo rescindir o contrato caso necessário.

REPARTIÇÃO DE LUCROS

A distribuição dos lucros é um aspecto crucial em qualquer contrato. É importante que o artista compreenda como os valores serão divididos com a gravadora, bem como as porcentagens que cada uma das partes receberá. Negociar cláusulas justas, garantindo que o artista receba uma remuneração adequada pelo seu trabalho, é fundamental.

PERÍODOS CONTRATUAIS

Os contratos com gravadoras geralmente possuem um período determinado de vigência. No entanto, é importante avaliar se existe uma cláusula que permita rescisão antecipada. Essa flexibilidade é crucial, possibilitando ao artista encerrar o contrato caso a relação se torne insatisfatória, evitando assim possíveis transtornos futuros.

PROPRIEDADE

INTELECTUAL

É indispensável ter conhecimento sobre como a gravadora trata os direitos autorais e a propriedade intelectual das suas obras. O contrato deve garantir que o artista seja creditado e remunerado corretamente em caso de sucessos comerciais.

DIVULGAÇÃO E MARKETING

As gravadoras são responsáveis por promover os trabalhos dos artistas que contratam. É importante que o acordo estipule quais serão os esforços de

divulgação e marketing a serem realizados, além de definir orçamentos e estratégias de promoção.

Em suma, a complexidade dos contratos entre artistas e gravadoras demanda uma compreensão detalhada. Ao considerar cuidadosamente cada cláusula, desde a exclusividade até a repartição de lucros e os períodos de vigência, possibilita proteger seus interesses e maximizar as oportunidades em carreiras musicais.

Além disso, garantir que as cláusulas relacionadas à propriedade intelectual e à divulgação e marketing sejam justas e eficazes, assegura que o trabalho do artista seja reconhecido e promovido de maneira adequada. Ao fazê-lo, é possível estabelecer parcerias sólidas com gravadoras que impulsionem seu crescimento profissional e artístico.

ENTENDENDO AS CLÁUSULAS-CHAVE PARA NEGOCIAÇÃO ENTRE ARTISTAS E GRAVADORAS

SAÚDE AUDITIVA

A audição é o sentido que nos conecta, nos permite perceber cada som ao nosso redor. Estimula o bem-estar, reduz estresse, melhora concentração, pode ter efeito terapêutico e deixa a gente feliz. Por isso, cuidar é tão importante! Para quem vive de música é ainda mais, por ser instrumento de trabalho. O ouvido humano é capaz de perceber frequências entre 20Hz e 20KHz, mas ao longo da vida vamos perdendo naturalmente a capacidade para sons mais agudos. Quando ficamos expostos ao ruído intenso aceleramos esse processo.

É um órgão que suporta até 85dB por período máximo de 8 horas, ou intensidade de 100dB por 1 hora; a partir disso as células da cóclea passam a ser lesadas de forma irreversível. Considerando que o decibel é uma escala logarítmica, que apresenta dobra de som a cada 3dB, fique atento: quanto maior a intensidade menor deve ser o tempo de exposição. É claro que nem sempre é fácil respeitar esse limite, o que traz um risco, não só para os profissionais da música, mas também do público e de todos os envolvidos na realização do evento.

COMO A PERDA AUDITIVA

IMPACTA NOSSA VIDA?

A música eletrônica é uma arte complexa, que exige não só conhecimento técnico, mas também audição perfeita, principalmente para quem trabalha em estúdio. O grande problema (com exposição constante a ruídos intensos) é que quando a perda é percebida a lesão já é definitiva, podendo vir acompanhada de queixas de zumbido. Lembrando que percebê-lo diariamente não é normal e sim um sinal de alerta que seus ouvidos estão sofrendo por conta do excesso de pressão sonora.

Outro sintoma comum é a hipersensibilidade auditiva, que distorce a sensação de intensidade trazendo desconforto a sons mais fracos do que de costume. Sintomas também como de ouvido tampado após um evento podem indicar uma perda

Andrea Soares fonoaudióloga CRFa – 2 -11424 @fonoaudiologaandreasoares

COMO TRABALHAR COM MÚSICA E MANTER

UMA AUDIÇÃO SAUDÁVEL?

auditiva temporária causada pela sobrecarga aos ouvidos. Progressivamente, torna-se permanente devido às recorrentes exposições. Por isso, ao perceber qualquer um desses sintomas não deixe de avaliar a sua audição com um profissional.

PROTEJA SUA AUDIÇÃO

Sabemos que não é viável orientar que se use o volume do retorno em fraca intensidade enquanto estiver tocando, até porque é a referência para melhor inteligibilidade auditiva em relação ao som da pista. Mas algumas medidas podem ser adotadas. Procure deixar a posição da caixa mais alta e perto de você, pois assim menor a pressão sonora necessária. Sempre que possível, dê preferência a ouvir a pista.

Os melhores aliados dos DJs são os protetores com filtro (que não distorcem o som e tem molde personalizado), que podem ser usados inclusive durante o uso de headphones. É possível escolher o nível de atenuação, de acordo com a audição e necessidade de cada músico. Uma dica é entrar no evento já com os protetores encaixados, assim você não perceberá a atenuação na hora de tocar.

Outra opção são os fones in-ear. Devido ao isolamento acústico, bloqueiam o som ambiente, permitindo que o usuário ouça música em menor volume. Em paralelo, não deixe de usar os protetores também nos momentos de lazer e de respeitar a intensidade recomendada ao fazer uso de fones. Prefira sempre os com redutor de ruído de forma a não aumentar o volume para competir com o ruído externo.

Como fonoaudióloga, sou uma grande apreciadora de música. Além de atender muitos músicos no consultório, gosto de frequentar os espaços que eles trabalham e acompanhar suas apresentações. Por isso, sei da importância do uso dos protetores. Saúde auditiva em ambiente ruidoso depende de proteção. Cuide da sua audição e divirta-se!

REVOLUÇÃO CRIATIVA:

Imagine que você é um explorador em uma imensa galáxia criativa. Cada estrela representa uma ideia, e seu trabalho é conectá-las para formar constelações únicas. Agora, imagine ter um copiloto chamado Inteligência Artificial (IA). Isso não define seu destino, mas ajuda a navegar com mais eficiência, apontando caminhos que você talvez nunca tivesse considerado.

A IA está longe de ser apenas uma ferramenta de automatização. Atua como parceira criativa, permitindo que artistas da música eletrônica expandam os limites de suas produções. De narrativas personalizadas para redes sociais até visuais cativantes para turnês, as possibilidades são vastas.

Aplicativos como AIVA e Amper Music, por exemplo, permitem criar composições em poucos minutos. Enquanto a forma tradicional exige conhecimento técnico e tempo, essas plataformas geram trilhas sonoras personalizadas que podem ser usadas como inspiração ou como parte de uma obra final.

Além disso, tem sido usada para revitalizar estilos musicais do passado. Um caso famoso é “Daddy’s Car”, música criada pela Sony em colaboração com IA para replicar o estilo dos Beatles. Essa prática abre portas para a experimentação, permitindo que produtores misturem tendências atuais com influências clássicas.

Com a IA, a velocidade da produção artística aumentou significativamente. O que antes levava dias ou semanas, agora pode ser realizado em poucas horas. Ferramentas como Runway, Amper Music, entre outras, eliminam barreiras técnicas, permitindo que a energia seja concentrada na concepção criativa.

Entretanto, a IA é apenas tão boa quanto as direções que recebe. A qualidade do resultado ainda depende da visão do artista, reforçando a ideia de que a tecnologia é uma extensão, e não uma substituição. Muitos produtores independentes a utilizam para criar trailers de músicas, gerando maior engajamento em redes sociais.

A aceleração do processo é especialmente útil em um mundo onde a presença digital e o volume de produção podem ser determinantes para o sucesso. Quem lança consistentemente conteúdos visuais e sonoros tem mais chances de se destacar em um mercado saturado.

Hoje, artistas não vivem apenas de suas criações musicais. A presença online é crucial para alcançar novos públicos e consolidar suas marcas. A IA auxilia nesse processo, otimizando desde estratégias de redes sociais até campanhas promocionais.

TIPOS DE ESTRATÉGIAS INTELIGENTES COM IAS

Automação de posts: Ferramentas como o ChatGPT ajudam a ajustar o tom de mensagens, garantindo autenticidade em cada interação.

Percepções sobre público: Sistemas de análise auxiliados por IA fornecem dados sobre os melhores horários para postar e os conteúdos que mais engajam.

Campanhas de pré-save inteligentes: IA ajuda a criar jornadas personalizadas que levam os fãs a engajar com músicas antes do lançamento.

Dica prática: Utilize IA para monitorar e identificar tendências emergentes na música eletrônica. Isso ajuda a adaptar suas criações e estratégias para se manter relevante.

Ferramentas como o Sprout Social ou o Hootsuite Insights usam IA para fornecer análises detalhadas sobre engajamento e comportamento do público. DJs e produtores podem identificar quais estilos e conteúdos mais ressoam com seus seguidores, ajustando suas estratégias de maneira ágil.

IMPACTOS DAS IAS NA MÚSICA ELETRÔNICA:

CASOS E DADOS REAIS

A adoção de IA na música cresce exponencialmente. De acordo com um relatório da Ditto Music, quase 60% dos artistas independentes já utilizam IA em algum momento de suas produções. Essa integração vai desde a criação de melodias até a automação de processos de marketing.

Outro ponto é o uso de deepfakes musicais, que levantam debates éticos e criativos. Enquanto alguns utilizam a tecnologia para criar remixes autênticos, outros veem nisso uma ameaça à originalidade. Ainda assim, a maioria concorda que a IA está apenas começando a impactar o setor e que é cedo para avaliar seus efeitos a longo prazo.

ESTAMOS PERDENDO NOSSA CRIATIVIDADE?

Embora fascinante, o uso excessivo de IA levanta preocupações. Há o risco de acomoda-

ção, ao se deixar que a tecnologia tome decisões importantes ou limite a experimentação. A dependência pode levar a uma padronização da música, algo que vai contra a essência criativa e artística.

Quando usada corretamente, não substitui a criatividade, mas a amplifica. Automatiza tarefas mecânicas e libera tempo para que artistas explorem ideias profundas e complexas. Será que estamos aproveitando ao máximo as oportunidades que a IA oferece para impulsionar a arte? Ou deixando que máquinas ocupem espaços que deveriam ser exclusivamente humanos?

UM NOVO HORIZONTE

A IA abriu portas para uma revolução criativa, permitindo que sejam explorados caminhos antes inimagináveis. De ferramentas para composição musical a estratégias de engajamento digital, a tecnologia está redefinindo o que significa ser um artista na era moderna.

Contudo, é fundamental manter a essência humana no centro do processo criativo. A verdadeira mágica da música eletrônica não está apenas nas máquinas, mas na alma de quem as opera. A tecnologia é um meio, não o fim. E, a pergunta que fica é: será que estamos prontos para equilibrar a eficiência das máquinas com a paixão inigualável da criatividade humana?

Bruno Artois @_brunoartois

POR TRÁS DOS VISUAIS:

Entenda mais sobre o trabalho do VJ pela perspectiva de profissionais do ramo

Já há algum tempo que as artes visuais complementam o espetáculo com projeções que conversam com a música, o local e a proposta do evento. Os telões são parte fundamental para a construção da atmosfera, e quem tem a responsabilidade de conduzir o público para uma viagem paralela à música é o VJ. É o responsável por manipular e projetar as imagens, vídeos e artes em tempo real.

Assim como um DJ precisa ler o ambiente, as pessoas e a pista para escolher as músicas, um VJ precisa ter essa sensibilidade no momento de colocar as projeções e criar uma coerência entre o visual e o áudio. Há também a possibilidade de determinados shows e artistas que utilizem artes específicas para cada momento, como nos shows de Anyma e no projeto HOLO, de Eric Prydz.

Desta forma, os VJs podem colocar sua assinatura fazendo um trabalho autoral nas telas. É comum samplear imagens/vídeos para desenvolver outro projeto por cima que seja mais coerente com o trabalho do profissional. Então, para entender

melhor em relação a essa figura imprescindível no cenário atual, convidamos dois importantes VJs para nos contar sobre experiências na profissão.

A inteligência artificial é uma aliada dos VJ. Costuma usar imagens geradas por IA?

Daniel Paz São ferramentas que agilizam muitos processos. Atualmente no meu workflow uso para gerar cenas, animar imagens, criar conteúdo temático, remixar vídeos, aumentar a resolução/qualidade das imagens —facilitar os renders também. Spetto Recortar uma imagem, completar um fundo, melhorar a resolução, tudo isso é acelerado. Então, faz parte do resultado final. Porém, não gosto da estética pura das IAs no VJ set. Acho interessante, mas muito artificial ou sem groove, sem alma.

Artes autorais ou buscá-las de outra forma?

Daniel Paz Existem muitas áreas que propiciam o uso somente de conteúdo autoral. No meu caso, que atuo com DJs sets variados por longas horas em festivais, o essencial é uma boa curadoria do material que irei apresentar.

Spetto Gosto de usar trabalho autoral para ter uma expressão artística própria, passando minhas ideias visuais ao público. Mas também utilizo outros materiais, texturas, loops que venham a agregar. Parte da arte do VJ é mixar imagens e sentidos, sincronizar isso de acordo com o sentimento da apresentação e dar ritmo ao cenário. Tudo respeitando uma estética e uma paleta de cores.

O que influencia na escolha das projeções?

Daniel Paz Os estilos musicais presentes nos lineups e o conceito de cada festa. Visuais usados para psytrance possuem características que não tem nada a ver com techno, por exemplo. Combinar projeções com o humor que os DJs estão tocando é fundamental, pois varia muito durante o evento. Spetto Saber respeitar a temática do evento e entender como é o público. Sou de uma geração de VJs que usávamos muito o humor nas projeções. Tirar o público da casinha é um poder que a arte tem. A música faz isso, a projeção também. A gente pode levar as pessoas a outros lugares e isso é entretenimento, é arte!

Fotos: Diego Jarschel
Adriano Canestri @adrianocanestri

HOUSE MAG ÁUDIO

IAs pra produção musical

Com mais de uma década de projeto, Drunky Daniels sempre foi um entusiasta musical por completo. Há três anos mergulhou na IA para testar e adaptar uma nova forma de produzir música, o que o habilita a eleger seu top 3 plugins a seguir:

Drunky Daniels @drunkydaniels

Clear: Da empresa Supertone, que tem diversos plugins incríveis com IA, limpa a reverberação de qualquer áudio (como vocais de ambientes barulhentos ou samples antigos). Perfeito para gravações ao ar livre, entrevistas em festas… É fácil e sinistro!

KITS: É uma plataforma incrível de modificação e criação. Consegue separar stems das músicas, criar vocais novos, transformar qualquer áudio em instrumento… e até um removedor de reverb e delay. É completo, potente e tem muita qualidade!

XO: Da empresa XLN Audio, organiza elementos da livraria, sugerindo loops e samples por similaridade. Também é um sequenciador que recomenda baterias direto dos samples pack, sendo sempre bem aproveitados e atualizados de diferentes formas. É algo que todo produtor musical deve ter!

Design sonoro

Sound design vai além da engenharia de som: é a essência da identidade musical que destaca um artista, tornando-o reconhecível e único. Requer controle sobre cada etapa, algo que muitos deixam para terceiros, podendo afetar a originalidade. Em 20 anos como produtor e 15 como DJ, percebi a importância de assumir os detalhes desse processo.

O primeiro passo é dominar os sintetizadores favoritos —Sylenth1 e Serum no meu caso. Conhecer nuances permite modular a gosto. Con-

tudo, o diferencial está na compressão, saturação e equalização. Anos de experimentação me ensinaram que esses são os elementos que dão personalidade ao timbre e, muitas vezes, delegados a engenheiros de som.

A cadeia de mixagem, incluindo plugins e hardwares analógicos, é imprescindível. Assim, recomendo que o produtor faça a mix final de suas músicas, testando configurações de equalização que ressoem com sua identidade. Por exemplo, opto por um

som menos agudo, com cortes acima dos 15kHz, o que suaviza a sonoridade e realça os graves.

No meu setup, uso plucks com filtros low pass para criar dinâmica. Uso EQ8 do Ableton e FabFilter Pro-Q3 para ajustes de frequência e aplico compressão e saturação para dar corpo e cor ao som. Só após esse tratamento inicial adiciono reverb e delay, finalizando com equalizações adicionais para garantir que o resultado reflita minha assinatura sonora.

Acústica eficiente

Para muitos produtores musicais, o desafio de alcançar a qualidade sonora perfeita em casa é uma missão constante. Com a popularização dos home studios, entender e implementar técnicas de tratamento acústico tornou-se essencial para quem busca excelência em suas produções. Os problemas enfrentados incluem reflexões primárias (pelas superfícies mais próximas); tempo de reverberação excessivo, que

embaraça o som e dificulta a definição; ondas estacionárias, que criam picos e vales de frequência indesejados; e o acúmulo de graves, que distorce a percepção dos tons mais baixos.

Enquanto o isolamento impede que o som entre ou saia do ambiente, o tratamento foca em melhorar a qualidade sonora dentro do espaço. Painéis absorventes, bass traps e difusores são

algumas das ferramentas que ajudam a controlar a acústica interna, eliminando eco e melhorando a clareza. O ambiente com tratamento eficiente proporciona uma maior precisão, permitindo que produtores tomem decisões mais acertadas durante as etapas de gravação e mixagem. A produtividade também é beneficiada, à medida que a edição é facilitada, poupando tempo e recursos na busca pelo som ideal.

Concluir que é um luxo para poucos é um erro. É um investimento fundamental para qualquer produtor que deseja elevar suas produções ao nível profissional. Ao otimizar o ambiente, não apenas melhora a qualidade do som, mas também aumenta sua eficiência criativa, permitindo que sua música se destaque.

Danilo Morttagua @morttaguamusic
Dubes Valente (Ilha Acústica) @ilhaacustica

Ableton Live 12.1:

O Ableton Live 12.1 traz uma série de funcionalidades e melhorias que prometem aprimorar a produção musical e o desempenho ao vivo. Com novos dispositivos, ferramentas MIDI avançadas e uma interface mais intuitiva, a atualização visa facilitar o processo criativo para produtores e artistas. Veja as principais novidades:

Auto shift: Promove correção de pitch em tempo real, uma espécie de auto-tune nativo. Ótimo para trabalhar com vocais, mas pode ser usado com quaisquer outros sinais monofônicos.

Também é possível tocar e harmonizar o sinal de entrada polifonicamente via MIDI e adicionar vibrato e modulação ao som usando MPE ou o LFO do dispositivo. A função Live Mode reduz a latência, ideal para performances ao vivo.

Drum sampler: Este dispositivo flexível combina controles essenciais com efeitos criativos como: 8 bits, time stretch, ring modulation, FM, envelope de pitch e punch; oferecendo uma maneira mais rápida de alterar e brincar com

suas batidas. Inclui controles de envelope AHD (attack, hold e decay) e várias opções de modulação, como velocity e slide, além de filtros otimizados para sons de bateria.

Limiter e Saturator: O Limiter traz agora o botão de maximize, para controlar a faixa dinâmica e o volume apenas com o threshold, e os modos de soft clip e true peak (utilizado na masterização para evitar pico entre as amostras), além de uma função de roteamento mid/side. O Saturator inclui o novo bass enhancer, excelente para subgraves como 808s, kicks e linhas de baixo. Na visualização expandida, a curva de coloração é exibida junto com os espectros de entrada e saída, oferecendo mais controle sobre a distorção.

Ferramentas MIDI: Ficou mais fácil encontrar algumas notas específicas em um clipe, sendo possível usar filtros por pitch, tempo, velocity, entre outros. Além disso, há novas ferramentas: Chop, que divide rapidamente as notas de maneiras padronizadas; Glissando e LFO, usa-

das para criar curvas aos parâmetros de MPE, que ampliam as opções de manipulação e expressão, permitindo variações complexas e detalhadas de pitch e pressão.

Interface e workflow: É possível acessar o histórico do undo, o que facilita a navegação entre as etapas de desfazer/refazer, enquanto a opção de full-height oferece mais espaço para o browser; sendo excelente para quem trabalha com telas pequenas, como em um notebook. O auto tagging agora classifica automaticamente os samples e plugins, melhorando a busca e organização dos arquivos.

Seja no estúdio ou no palco, o Live 12.1 otimiza o fluxo de trabalho e inspira músicos a transformar ideias em sons de forma mais rápida e intuitiva. Mais do que nunca, produzir vai além da técnica, transformando-se em uma jornada criativa em que expressão e inspiração se encontram, resultando em uma experiência artística verdadeiramente ilimitada.

Danilo Bencke @danilobencke

Guerra do Loudness

A masterização é a etapa final do processo de produção, em que o objetivo principal é transformar a faixa em uma versão que soe bem em todos os sistemas de reprodução, desde fones de ouvido até grandes eventos. Para a música eletrônica, em particular, é essencial para garantir que todos os elementos da faixa —desde o kick até os sintetizadores e efeitos— se unam em um som equilibrado, impactante e “polido”, sem perder a clareza e a energia que o gênero exige.

Uma série de ferramentas e técnicas são aplicadas, como equalização e controle de estéreo, para aprimorar a sonoridade ao ajustar frequências, adicionando compressão para controle de dinâmica e aplicando limitadores para maximizar o volume percebido, sem gerar distorções indesejadas. Essas práticas são especialmente importantes neste segmento musical, em que o impacto e a pressão sonora são fundamentais para a experiência dos ouvintes, especialmente em clubes e festivais.

No entanto, nas últimas décadas, temos vivido uma disputa conhecida como “Guerra do Loudness”. Esse fenômeno se refere ao aumento progressivo do volume percebido das faixas, em que produtores e engenheiros passaram a competir para criar músicas cada vez mais “altas”. A origem dessa tendência remonta aos anos 90, com a crescente popularidade de CDs e, posteriormente, a transição para formatos digitais e streaming, que facilitaram a distribuição em formatos de alta definição.

Contudo, esse processo pode prejudicar a qualidade, pois ao forçar o volume de uma faixa (ao utilizar limitadores e compressores ao extremo), a dinâmica sonora é comprometida. Elementos que deveriam soar com variação de intensidade, como bateria e sintetizadores, acabam achatados, ficando “sufocados” e sem nuances. Isso pode ser prejudicial para o impacto de estilos como o house e o techno, que dependem de transições ativas para criar uma experiência envolvente.

Recentemente o mercado tem reconsiderado essa abordagem. A partir dos sistemas de normalização (como do Spotify e YouTube), o volume é ajustado automaticamente para um nível padrão. Isso faz com que faixas comprimidas e limitadas não tenham vantagem perceptível em relação às com masterização mais dinâmica. De fato, músicas bem equilibradas acabam se destacando, pois mantêm a clareza e o espaço entre os elementos, oferecendo um resultado mais agradável para o ouvinte.

Assim, na masterização de música eletrônica moderna, é essencial buscar um equilíbrio e nitidez. Focar em uma boa equalização e posicionamento espacial dos elementos ajuda a preservar a “respiração”, mantendo o impacto sem sacrificar a qualidade. A faixa ganha uma presença natural e agradável, que respeita as intenções artísticas (seja de identidade, timbres, processamentos criativos, à escolha dos elementos) e maximiza a experiência para o público.

Gabriel Carminatti (Carmee)
@carminattibr

SUCESSO METEÓRICO

Talento nato da nova geração, Fatsync soma gigs importantes e produções que

viralizam

Sem dúvidas, Fatsync é um dos nomes mais falados do ano. Há tempos não via uma ascensão assim, seja no online ou em gigs, fazendo multidões vibrarem nas pistas que comanda e sendo convidado para estar ao lado de seus ídolos no estúdio. Sua presença é requisitada de Norte a Sul, mas em 2023 as coisas eram diferentes. Hoje tem tracks como a “F.U.M” somando mais de um milhão de reproduções e outras rumo a atingir essa marca em um futuro próximo.

Das orquestras às CDJs, ele revela que odiava dance music e pontua uma sequência de fatores que deram início a uma ascensão rápida. Agora, é reconhecido dentro e fora do país pelo seu talento. Rock In Rio e Só Track Boa são alguns dos palcos que ele pisou durante o ano, e em 2025, já está confirmado no Lollapalooza. Vivendo o sonho, após uma de suas gigs

tivemos a oportunidade de sentar com ele e conversar sobre tudo que tem acontecido em sua carreira.

Primeiramente nos conte qual foi o estalo que fez você amar música eletrônica?

Participava de uma banda sinfônica e achava que a eletrônica não era música. Por acaso comecei a andar com uma galera da escola que curtia, na época do eletro pop, tipo Black Eyed Peas, LMFAO, etc. Mas a chave virou mesmo num trabalho de Sociologia em que um dos grupos ficou responsável por apresentar festivais de todo mundo. Nunca vou esquecer deles: Marcos, Jeferson e Patrick. Fecharam com o aftermovie do Tomorrowland, isso era 2014. Algo me chamou a atenção e fiquei vidrado assistindo. Ali me apaixonei. Fico feliz pra caramba por ter estreado lá esse ano abrindo o palco Freedom.

Em 2024 você passou meses tocando de sexta a domingo. Como era entre setembro e outubro de 2023?

Estava no escritório de design trabalhando e tentando fazer com que o projeto sobrevivesse, pois Curitiba não estava bem de festas. Tinha passado por uma etapa do Circuito [C.R.I.M.E.] e tocando em uma festinha aqui, outra ali, cerca de uma a cada dois meses. Não dá nem pra comparar!

No começo levava isso como um hobbie ou já sonhava em viver de música?

O sonho de todo músico, independente da área, é viver disso. Raramente a pessoa vai ter como hobbie. E eu sempre sonhei, desde moleque, quando era da música clássica. Mas assim, é aquele negócio que a gente investe, mas às vezes não acreditamos que vai acontecer. É um lance de persistência mesmo.

A associação com o Toddynho já virou uma marca registrada, mas sabemos que é por você não ingerir bebidas alcoólicas… Desde pequeno sou membro da Igreja Mórmon. Lá, aprendi esse princípio e resolvi carregá-lo durante toda minha vida: a não ingestão de álcool e substâncias psicoativas; uma maneira de cuidar da mente e do corpo. Além disso, durante a adolescência vi amigos se perdendo de seus sonhos e familiares devido algum vício.

Se pudesse deixar um recado para quem te ajudou a chegar até aqui, qual seria?

Sou eternamente grato às pessoas que são responsáveis pelo meu sucesso. Graças a esse apoio estou onde estou. Deixá-los felizes enquanto toco faz tudo valer a pena!

Matt Dornelas @mattdornelas

AAASAS AASAS PARA O SEU VERÃO.

Maracujá

& Melão

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