A rodovia SC-390 serpenteia a exuberante natureza da Serra do Rio do Rastro e dĂĄ vida a uma das paisagens mais idĂlicas do Brasil
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SURPRESA CATARINENSE RESORT ACONCHEGANTE SERVE DE BASE PARA QUEM DESEJA CONHECER, COM CONFORTO, OS CÂNIONS E AS VINÍCOLAS QUE ENVOLVEM UMA DAS ESTRADAS MAIS CÊNICAS DO BRASIL, NA SERRA DO RIO DO RASTRO
TALES AZZI
Por Roberto Araújo
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EM A DÚVIDA. VOCÊ NÃO QUER ACREDITAR NAQUILO QUE ESTÁ VENDO. A NATUREZA DEDILHA SEU SHOW EM VOLUME MÁXIMO. VOCÊ OLHA PARA CIMA E VÊ UMA MONTANHA DE QUASE 90 GRAUS, ENFEITADA POR UMA CACHOEIRA. OLHA PARA BAIXO E TEM ATÉ TONTURA COM O PRECIPÍCIO PINTADO COM O VERDE DE MILHARES DE ÁRVORES. MAS VOCÊ ESTÁ LÁ, SUBINDO A SERRA DO RIO DO RASTRO, COM O CARRO EM BAIXA VELOCIDADE E O CORAÇÃO A MIL, ENCANTADO COMO SE FOSSE UMA CRIANÇA. A PERPLEXIDADE SÓ FAZ CRESCER. COMO ASSIM? AQUI EM SANTA CATARINA TEM CÂNION? E DESTE TAMANHO? MAS ISSO NÃO PARECE O BRASIL. Essa região de geografia espantosamente íngreme estaria selvagem até hoje se tropeiros e seus burros não tivessem de ganhar a vida levando e trazendo mercadorias entre a serra e o litoral catarinense, distante dali 50 km. Para isso, criaram um caminho. Logo outras pessoas quiseram fazer o roteiro e surgiu uma estrada, hoje batizada de SC-390. Foi inevitável. Cada pessoa que escutava o dedilhar da natureza naquelas partes mais altas da serra catarinense precisava contar para os amigos. E estes, por sua vez, também queriam ver tal cenário de perto. E, assim, de amigo em amigo veio o turismo. Agora, a região tem até um eco resort megaconfortável, excursões com guias especializados, comida de primeira e excelentes vinícolas. Isso porque uma natureza como essa merece sempre um brinde (ou vários) pelo majestoso espetáculo.
NINGUÉM É DE FERRO Se a beleza é fundamental, também é preciso que haja conforto. Qualquer coisa como espaçosos chalés com lareira, qualquer coisa como um paisagismo que dê paz de espírito e tranquilidade, qualquer coisa como dias repletos de passeios e regalias. Há outras maneiras, mas essa é a melhor para quem pretende deixar-se seduzir pelos encantos singulares da região. A posição do Rio do Rastro Eco Resort não poderia ser mais estratégica. A entrada fica em frente ao mirante no topo do cânion, ao lado da SC-390,
e não se deixe enganar pelo “eco” no nome do resort. Ele nada tem a ver com improvisação ou rusticidade. E o aconchego é bem-vindo, pois na temporada de inverno as temperaturas podem chegar a 10 graus negativos em Bom Jardim da Serra, a cidade mais próxima, e há boa chance de você curtir um pouco de neve. Algo, digamos, também raro no Brasil. Por isso, toda a infraestrutura foi pensada para que nenhum dia fosse perdido. Além dos chalés com aquecimento central (o fogo da lareira é um charme extra), hidromassagem e cama enorme, uma varanda com grandes janelas permite uma ampla visão do lago, com sol, chuva ou neve. Como há espaço de sobra, um casarão abriga um completo centro de lazer com sala de eventos, biblioteca, sala de jogos, fitness, sauna, sala de massagem, piscina aquecida e coberta, entre várias atrações. Tudo independente do restaurante, que fica em outro prédio. Aliás, a gastronomia é um dos destaques do resort. Vale a pena experimentar o pernil de cordeiro, prato que serve uma família inteira e ainda sobra. Todos os pratos têm porções extremamente generosas, e a adega é bastante completa. Se o hóspede desejar, pode encomendar seus vinhos favoritos que serão providenciados. Há ainda o Galpão Crioulo, onde ocasionalmente a cultura tradicionalista é celebrada com fogo de chão, chimarrão, música ao vivo e danças típicas, além do churrasco, é claro.
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1 ROBERTO ARAÚJO / 2 ANDERS MARCIO DUARTE
Rio do Rastro Eco Resort tem estrutura de sobra para receber hóspedes exigentes; abaixo, Cânion das Laranjeiras, um dos mais lindos do planeta
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O hotel mais confortável da região fica isolado no meio do verde da serra. Tem chalés independentes, no entorno de um lago, equipados com banheira de hidromassagem, lareira, aquecimento central e uma agradável varanda. A gastronomia é o ponto forte, com destaque para os churrascos no fogo de chão. Oferece passeios pela região, como a cavalo pela borda dos cânions. Diárias a partir de R$ 995, com pensão completa. www.riodorastro.com.br
Por si só, o Rio do Rastro Eco Resort já seria ótimo. Mas o fato é que a grande atração mesmo está à volta dele, nos cânions de tirar o fôlego.
UM ABISMO NO MEIO DO CAMINHO De um lado da estradinha, macieiras. Do outro, araucárias que, depois de quase dizimadas e agora protegidas por lei, crescem em bosques recobertas por bromélias barba-de-velho. O 4×4 da agência Tribo da Serra segue pelas estradas secundárias de Bom Jardim da Serra até a fazenda Santa Cândida. É ali que, depois de calçar botas à prova d’água fornecidas pelos guias, começa uma caminhada até o Cânion das Laranjeiras. As botas se justificam. Não é por acaso que a região é chamada capital das águas. São muitos os riachos e alagados no caminho. Chegar à beira do Cânion das Laranjeiras torna incontrolável o sorriso aberto, e a vontade é encher o cartão de memória da máquina fotográfica para nunca mais esquecer o momento.
É comum deparar com motociclistas no mirante do Rio do Rastro; acima, café da manhã com vista para o Cânion da Ronda oferecido após cavalgada
A cena é didática para entender os cânions: a planície bucólica de um lado, a fenomenal rachadura que torna a paisagem bizarra, onde se pode ver as várias camadas de solo – a famosa coluna estratigráfica que tanto agrada aos geólogos. Do outro lado, novamente a paisagem com araucárias. Mas, como toda bela cena precisa de legenda, o guia Chico conta a história dos tropeiros (sempre eles) que subiam e desciam aquelas paredes com animais e mercadorias e ganhavam laranjas dos raros habitantes da serra. Por isso, o local ganhou o singelo nome de Cânion das Laranjeiras. Uma cachoeira despenca no nada. Observo a cena demoradamente e afasto-me do grupo para ficar em silêncio, em reverência comovida à natureza.
SOFÁS QUE ANDAM Há muito, muito tempo fui cavaleiro. Confesso que agora, depois dos 50 anos, não salto mais sobre a sela sem usar o estribo, como fazia na adolescência. Mas o passeio que fiz a cavalo foi a melhor parte
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da viagem. O pelego de carneiro sobre a cela e os cavalos treinados a jamais dar sustos nos hóspedes faziam com que a cavalgada pelas campinas parecesse acontecer sobre sofás andantes. Como convém, os cachorros do resort foram os primeiros a chegar às cocheiras. A proposta era tomar café da manhã no Cânion da Ronda. Na chegada, depois de amarrar os cavalos, pouco se via por causa da névoa. Mas isso só melhorou o espetáculo. Conforme o vento foi levando as nuvens embora e revelando a paisagem, o encantamento fez-se ainda mais forte. Satisfeito com a agradável refeição matinal, ficou mais engraçado cavalgar na volta e ver os cachorros, como o enorme terra-nova Hulk, se divertirem perseguindo os bois que corriam desorientados. Talvez felicidade fosse isso, rir com cavalos e cachorros num passeio pela manhã ensolarada no topo de um cânion.
UM BRINDE Oba! Visita a vinhedos. Já gostei do programa do dia. Foi em São Joaquim, a famosa cidade de inverno que aceitou o desafio de produzir vinhos de qualidade. Quando Carolina Ferraz, a sommelier dos Vinhedos de Monte Agudo, disse que não se preocupavam com quantidade, senti que tinha chegado ao lugar certo. Carolina explicou tudo sobre o terroir de altitude e como influenciava as características do branco, rosé e tinto das quatro marcas que produz. Para acompanhar, nada como
Cave de vinícola em São Joaquim, nos arredores do resort: mais uma das boas surpresas da viagem
um peixinho com arroz de beterraba. Acentuado pelos efeitos da degustação do vinho, ficou ainda mais bonito o cenário em volta do restaurante da vinícola, com lavandas floridas em primeiro plano e, ao fundo, vinhedos e araucárias. Já na Villa Francioni havia dezenas de marcas de vinho, dos mais variados encantos. Também no belo prédio, todo construído com tijolinhos à vista, é sempre possível ver passo a passo como é a produção do vinho, da colheita aos barris de carvalho onde envelhecem. Bendita seja a mão que colhe a uva, conforme está escrito numa das paredes da vinícola. De volta ao resort, fui mais uma vez ao mirante do Rio do Rastro. Estava lotado com motociclistas de vários locais do Brasil, todos encantados pelo desafio de enfrentar as curvas e curtir as paisagens. Aliás, o resort é um dos check points do Motorcycle Challenge e fornece até certificado para quem cumpre o desafio. De todas as formas de conhecer a região, talvez a mais desafiadora seja fazer uma maratona de 42 km, sendo que os 12 km finais são pela íngreme e maravilhosa estrada do Rio do Rastro. Entusiasmou-se? A próxima Uphill Marathon será em 2 de setembro de 2017. Mas pode apressar-se. Como são apenas 500 vagas, haverá até sorteio. Essa talvez seja a única maneira de você curtir bem de perto uma das mais belas paisagens que a maioria dos brasileiros nem sabe que existe.
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FOTOS: ROBERTO ARAÚJO / 1 DIVULGAÇÃO
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