Hoje Macau 1 MAR 2019 #4238

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

CIMEIRA

TUDO COMO DANTES PÁGINA 13

Condenados em trânsito IREM BARUT

PÁGINA 4

Rapsódia OPINIÃO

PAUL CHAN WAI CHI

PRODUTO INTERNO BRUTO

Abranda o ritmo

GRANDE BELEZA VALÉRIO ROMÃO

CINESTESIAS V

ANTÓNIO DE CASTRO CAEIRO

OUTRA VEZ ROMA JOSÉ NAVARRO DE ANDRADE

hojemacau

Anatomia do buraco

Raimundo do Rosário cumpriu o prometido: a lista onde se faz o ponto da situação das obras públicas de valor superior a 100 milhões de patacas foi ontem apresentada aos deputados.

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JUSTIÇA

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MOP$10

SEXTA-FEIRA 1 DE MARÇO DE 2019 • ANO XVIII • Nº 4240

Como de costume, raros são os projectos que cumprem prazos e orçamentos. A derrapagem orçamental média é de 2,5%, enquanto os deslizes temporais indicam uma média de 13%.

PÁGINA 5 SOFIA MARGARIDA MOTA

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ARMANDO TEIXEIRA | EXPERIÊNCIAS NO LMA ENTREVISTA


2 ENTREVISTA

ARMANDO TEIXEIRA

Armando Teixeira, conhecido como mentor dos Balla, está de regresso a Macau para um concerto que marca a estreia ao vivo do projecto Modular Extravaganza, amanhã, no LMA, pelas 21h30. Ao HM, o artista falou do trabalho musical que fez para o filme que estreia em Agosto acerca da vida de António Variações e das surpresas que encontrou no território Esteve cá há dois anos, e na altura disse que uma das suas curiosidades era perceber o que Macau tinha de particular para que vários músicos portugueses a abordassem nas suas canções. O que levou de Macau? Levei a vontade de voltar. Fiquei com a sensação que não vi nada e que deveria ter estado mais tempo, deveria ter conhecido mais. É impossível conhecer Macau numa semana, num mês e se calhar nem numa vida. Depois de cá ter estado, passado um tempo, deu um documentário na RTP sobre Macau e foi giro rever as coisas que tinha visto aqui. Não do ponto de vista mais turístico, mas é fascinante ver como as pessoas andam na rua, ver os espaços que de dia não existem e à noite aparecem, como os restaurantes. A forma como as pessoas vivem é de facto o que mais curiosidade me desperta. Outra coisa que me surpreende, é ver como os portugueses vivem em Macau e

“O que gosto mesmo e´ de misturar o experimental com a canção” a maneira como sinto que Macau está ainda tão ligado a Portugal. Sem ser no sentido colonialista, dá-nos um certo orgulho pensar que no outro lado do mundo Portugal tem presença. Quando somos um país pequeno na Europa, sentir a presença de Portugal nestas ruas é bom. Parece que é pouquinho, não é? Mas aquilo que mais me marcou foi encontrar aqui os vestígios de Portugal. Pode parecer redutor para aquilo que é a China ou que é Macau, mas para mim é isto. O que vamos ver neste concerto de amanhã? A ideia deste concerto surgiu depois da viagem marcada para Macau. Eu e o Duarte [Cabaça], que toca comigo nos Balla e nos Knock Knock, marcámos a viagem para vir passear e concretizar a tal vontade de voltar. Depois fomos convidados para dar este concerto e foi uma oportunidade de aproveitar a nossa vinda. Ainda por cima trata-se de um projecto muito diferente. É um projecto também com o Duarte, uma coisa instrumental, mais electrónica. Vamos fazer uma coisa como nunca fizemos antes. É a estreia deste projecto? Sim, costumamos tocar com sintetizadores e bateria e neste caso vai ser um sistema modular, uma caixa com sons. É uma coisa que nunca fizemos ao vivo. O concerto faz parte do evento que assinala o 33º aniversário da RUC, uma rádio universitária, independente e que vai mar-

“Já não existe essa coisa de conhecer música pela rádio. A rádio agora não tem programas de autor, a rádio agora é playlists que se repetem ad eternum.”

cando a divulgação musical nas esferas mais alternativas. Como vê o papel da rádio em geral para divulgar a música que se vai fazendo?

“Dizia há uns anos, quando estava nos Bizarra Locomotiva ou nos Da Waesel que queria uma banda para envelhecer e que me permitisse ir mudando. Os Balla são essa banda.”

SOFIA MARGARIDA MOTA

MÚSICO

Quando se fala de rádio, fico com a ideia de que a preocupação comercial para subsistir e fazer dinheiro é o que mais importa. Parece ser mais importante do que divulgar música. Já não existe essa coisa de conhecer a música pela rádio. A rádio agora não tem programas de autor, a rádio agora são playlists que se repetem ad eternum. Ainda há pequenas estações com programas de autor, mas que no fundo não têm repercussão para as pessoas. A rádio está com o seu papel um pouco apagado no que respeita à divulgação de música, por culpa própria. Está mais interessada em entretenimento e em dar o que as pessoas querem ouvir sem pensar. Já mencionou noutras alturas o fascínio que tem pelo oriente e pela música que por aqui se faz. Que tipo de sonoridades deste lado do mundo o fascinam? Quando estivemos cá há dois anos, uma das coisas que assisti e que me marcou foi uma ópera chinesa. Penso que não seria uma ópera muito elaborada e deu-me a ideia que era quase como as casas de fado em que as pessoas vão para ali e cantam. Não sei se é assim que se passa mas foi essa a sensação que me deu. A ópera chinesa soa de uma maneira tão estranha que quase me parece música improvisada e isto fascina-me bastante, até porque não conheço. Também não é coisa para ouvir em casa. Penso que é para se ir a um sítio e ouvir ao vivo. Pelo que pude assistir, havia uma espécie de ordem pela

qual entram os instrumentos e um respeito muito grande por todos os instrumentos. A precursão impressionou-me. É conhecida a sua colaboração com os Bizarra Locomotiva e os Da Waesel, além dos Balla e dos Knock Knock. São projectos muitos diferentes entre si. Knock Knock é um projecto mais de experimentação, mais electrónico e sem limites. felizmente ainda se pode fazer isso. Não é para tocar em grandes palcos mas é uma coisa que me dá muito gosto por causa da experimentação. Mas muita dessa experimentação normalmente levo


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estivemos a refazer essas canções, a recriar uma banda. Há documentos e gravações dessas músicas que são muito diferentes dos originais e daquilo que conhecemos agora como sendo original. Nós pegámos nesse som e fizemos a música do António Variações como nunca foi ouvida por ninguém. Até há um inédito de um ensaio. Também há músicas como o tema “Perdi a memória”, “A canção do engate” e “Toma o comprimido” que são tudo temas que já estavam feitos antes. Este trabalho foi uma espécie de arqueologia. Fomos pegar nessas gravações e inventar uma banda que tivesse a sonoridade que eles tinham na altura. O nosso trabalho é completamente fiel aos originais. Tudo o que temos é documentado. Há mesmo exemplos em que as músicas não estavam acabadas, em que faltavam partes e nós fomos buscar as novas versões e adaptámos o som ou fizemos coisas que achámos que tinham que ver com aquele som. Quando me convidaram para fazer este trabalho pensei que era para fazer uma visão minha daquela música, mas não era nada disso. Foi até mais interessante do que isso. Foi recriar uma sonoridade que nunca existiu mas que foi esboçada por ele. Os músicos tocavam mal e nós tínhamos que tocar aquilo bem. Foi muito bom e já está feito. Por outro lado são temas que antecederam o famoso concerto no Trumps que deu origem à entrega de cassetes ao Júlio Isidro e que depois resultaram no sucesso do António Variações. Vamos, depois da estreia do filme, em Agosto, começar com concertos que pretendem recriar esse momento no Trumps. Vamos recriar o espectáculo com o cantor que faz deAntónio Variações no filme e que canta bem, vamos ter figurinos e tudo.

para os Balla que tem mais canções mas também têm esse lado experimental que quero manter. Acabo por alimentar os Balla com estes projectos paralelos que vou tendo. O que gosto mesmo é de misturar o experimental com a canção, isso é o que me dá mais gozo. O resultado já não é de certeza pop, da maneira como o pop é visto actualmente. Há uns anos, nos anos 80 quando era miúdo e ouvia música, os Orchestral Manoeuvres in the Dark ou os Depeche Mode achavam-se, eles próprios, experimentais. Eram bandas electro-pop, experimentais e faziam canções. Agora quem faz canções é pop, é a Lady Gaga. É

completamente diferente, não há a pop que existia há uns anos. Como vê o panorama actual da música portuguesa? Isso está óptimo. Sempre a crescer, com coisas novas todos os dias. Mas não é fácil para os mais novos. Eu já tenho uma carreira, e as coisas

“Se as pessoas sacam indiscriminadamente discos na internet não se paga nada ao artista.”

vão andando naturalmente. Mas os miúdos mais novos não sei como conseguem subsistir com a música porque os discos não vendem e as pessoas também estão cada vez mais habituadas a não pagar ou a pagar pouco por concertos. Chega a uma altura em que a arte tem que ser financiada. Se as pessoas sacam indiscriminadamente discos na internet não se paga nada ao artista. O nosso mercado é muito pequeno e não se consegue viver de concertos. Por outro lado, os grandes sucessos comerciais acabam por estar no you tube e estar associados a subgéneros como o kizomba, por exemplo. Era uma

coisa que nós pensaríamos que seria considerada marginal e que nem passa nas rádios, o que é engraçado, mas depois acaba por ser aquilo que tem mais visibilidade. Também faz música para filmes. Como é esse processo? Bem, prefiro falar do último trabalho que fiz e que tem que ver com um filme especial. Já fiz música para filmes dentro do conceito normal, mas neste caso não foi nada disso. É música para o filme sobre a vida do António Variações. A história passa-se antes do António Variações ter sucesso em que já tinha bandas de garagem e nós, eu com os Balla,

Alguma novidade em termos de projectos? Estamos a terminar o novo disco dos Balla. Felizmente aquilo que faço com os Balla e com os Knock Knock preenche-me completamente. Dizia há uns anos , quando estava nos Bizarra Locomotiva ou nos Da Waesel que queria uma banda para envelhecer e que me permitisse ir mudando. Os Balla são essa banda. É uma banda com a qual posso ir envelhecendo no sentido de me ir adaptando conforme o meu estado de espírito e a maneira como vejo a música. Não queria estar associado a um estilo especifico que me obrigasse a estar a vida toda a fazer aquilo. Os Bizarra Locomotiva estão a fazer a mesma coisa há quase 30 anos. Não é uma coisa que queira para mim. Sofia Margarida Mota

Sofia.mota@hojemacau.com.mo


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1.3.2019 sexta-feira

JUSTIÇA PEQUIM E MACAU CHEGAM “A CONSENSO” PARA A TRANSFERÊNCIA DE CONDENADOS

Aberta janela de transferências Macau e Pequim vão dar início à cooperação no âmbito da transferência de condenados. A decisão resulta da visita da secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, à capital onde esteve reunida com o ministro da Justiça chinês, Fu Zhenghua

P

EQUIM e Macau chegaram "a consenso" sobre o início à cooperação no âmbito da transferência de condenados, bem como aprofundar o intercâmbio judiciário e jurídico, foi ontem anunciado. Numa visita à capital chinesa, que terminou ontem, a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, reuniu-se com o ministro da Justiça chinês, Fu Zhenghua, para debater "o início da cooperação no âmbito da transferência

O

S deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) concordam que a proposta de alteração à lei da prevenção e controlo do ruído ambiental vai tornar mais expedito o processo de autorização de obras durante o período nocturno, ao eliminar etapas administrativas. A apreciação entrou na recta final, ficando a faltar a entrega de uma nova versão para ser emitido o parecer e o diploma subir ao plenário. “Entendemos que, de facto, o Governo consegue atingir o objectivo de simplificar os trâmites administrativos”, afirmou o presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, Ho Ion Sang, após a reunião de ontem com o secretário para os Transportes e Obras Públicas. O diploma introduz basicamente duas mexidas, descritas por Raimundo do Rosário como “cirúrgicas”. Em síntese, é simplificado o processo de autorização, ao eliminar a obrigatoriedade de publicação do despacho do Chefe do Executivo em Boletim Oficial; e alargado o leque das excepções, passando a incluir as obras de manutenção do metro. À luz do diploma, há outros dois casos concretos que esca-

de pessoas condenadas", indicou, em comunicado, o gabinete da secretária. No encontro foi também estabelecida a necessidade de desenvolver "esforços mútuos para impulsionar e aprofundar a cooperação judiciária entre

dos Serviços Prisionais do Ministério da Justiça chinês estiveram também reunidos com a delegação da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) para apresentação de ambos os regimes jurídicos alusivos à transferência de condenados e "a situação de cooperação com o exterior" nesta matéria, acrescentou. Pequim e Macau criaram ainda "um mecanismo de contacto" para o desenvolvimento da próxima fase dos trabalhos, adiantou a mesma nota. A RAEM tem, actualmente, acordos sobre a transferência de pessoas condenadas com Portugal (assinado em 17 de Dezembro de 1999, pouco antes da transferência do exercício da soberania para a China), com a Região Administrativa Especial de Hong Kong (2005), com a Mongólia (2012) e com a Nigéria (2018).

as duas partes, bem como a cooperação e o intercâmbio no âmbito jurídico".

TROCA DE IDEIAS

Representantes do Departamento de Cooperação Internacional e do Departamento

No encontro foi também estabelecida a necessidade de desenvolver “esforços mútuos para impulsionar e aprofundar a cooperação judiciária entre as duas partes, bem como a cooperação e o intercâmbio no âmbito jurídico”

Sprint burocrático Apreciação na especialidade da proposta de lei sobre ruído entra na recta final

pam à proibição de produção de ruído perturbador entre as 22h (ou as 23h no caso de sábado e véspera de feriados) e as 9h do dia seguinte. A saber: os serviços de manutenção do sistema de drenagem pública ou dos sinais de trânsito e a recolha e transporte de resíduos urbanos e limpeza de vias públicas. A única “novidade”

diz respeito ao metro, porque, “na prática”, como constatou Ho Ion Sang, grande parte dos trabalhos, como a recolha de lixo, realizam-se já durante a noite, sem queixas de maior. O mesmo sucede com as obras, afirmou, dando o exemplo recente da intervenção na Avenida Almeida Ribeiro. Além de “minimizar o impacto

no trânsito”, a realização à noite também “permite reduzir a [sua] duração”, realçou. Apesar de o secretário ter garantido serem “poucas” as queixas relativas ao ruído ambiental, os deputados contam ter em mãos os números concretos na próxima reunião. Já descartada está a possibilidade de o Governo mexer durante o actual mandato nas restrições ao ruído produzido nos espaços públicos durante o dia, levantada por deputados, confirmou Raimundo do Rosário. D.M.

AL COUTINHO LAMENTA ATITUDE DE HO IAT SENG

O

deputado José Pereira Coutinho lamentou que o presidente da Assembleia Legislativa (AL) tenha respondido através da comunicação social à sua proposta de deslocação de uma deputação a Portugal. No início de Fevereiro, José Pereira Coutinho tinha escrito a Ho Iat Seng a propor a visita de um grupo de deputados de Macau aos parlamentos de Portugal, Madeira e Açores, como forma de celebrar o 20.º Aniversário da RAEM e ao 40.º Aniversário do restabelecimento das relações diplomáticas entre a China e Portugal. Contudo, Ho apontou que não tinha havido qualquer convite de Lisboa e considerou que a deslocação seria cara. A resposta dada aos órgãos de comunicação social não agradou a José Pereira Coutinho. “Lamento, contudo, que a resposta ao meu supracitado pedido fosse feita por V. Exa, através dos meios de comunicação social, de que não há convite oficial e de que a deslocação seria muito cara”, notou o deputado. Ainda segundo informação do legislador ligado à Associação dos Trabalhadores de Função Pública de Macau (ATFPM) houve posteriormente uma resposta por escrito, a revelar que o presidente da AL enviou para a Mesa da Assembleia Legislativa a proposta. Será este órgão que vai analisar o assunto e, caso a ideia tenha luz verde, vai igualmente designar a composição da eventual delegação.


política 5

sexta-feira 1.3.2019

A

tutela liderada por Raimundo do Rosário revelou ontem uma lista com o ponto de situação de 49 empreitadas públicas com valor superior a 100 milhões de patacas, cumprindo a promessa feita aos deputados de disponibilizar dados actualizados sobre as derrapagens – tanto em termos de orçamento como de prazos. Segundo a tabela disponibilizada nos ‘sites’ de cinco serviços (DSSOPT, GDI, GIT, DSPA e DSAMA), as empreitadas públicas com valor superior a 100 milhões de patacas derraparam, em média, 2,5 por cento face ao orçamento inicial. Já em termos do prazo, o desvio foi, em média, de 12,9 por cento. De ressalvar, porém, que em ambos os casos, as contas são feitas a 34 das 49 obras elencadas, dado que as restantes 15 não têm orçamento nem prazo de execução definido. O pior registo vai para o Metro Ligeiro – em ambos os casos –, com a derrapagem orçamental a atingir 27,8 por cento e a temporal 111,1 por cento. Em termos de incumprimento do prazo de execução, a Linha da Taipa do Metro Ligeiro surge à cabeça, já que as obras dos três segmentos (Centro, Cotai e Posto Fronteiriço) demoraram, até ao momento, sensivelmente o dobro do tempo face ao calendário inicial. Um cenário justificado com a

OBRAS PÚBLICAS EMPREITADAS SUPERIORES A 100 MILHÕES COM DERRAPAGEM MÉDIA DE 2,5%

Deslizes do costume

milhões e 693 dias) está na etapa da celebração do contrato. Das obras com valores acima de mil milhões de patacas destaca-se o Centro de Formação e Estágio de Atletas, sem derrapagens no cumprimento do prazo de execução, mas com um desvio de 4,7 por cento nos custos. Cenário idêntico verifica-se com o Complexo para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, cujo andamento continua dentro do prazo (600 dias), ao contrário das contas, já que o orçamento cresceu 0,7 por cento relativamente aos 692,8 milhões de patacas iniciais.

GCS

A média de derrapagem orçamental de obras públicas com um valor superior a 100 milhões de patacas corresponde a 2,5 por cento. O cenário agrava-se no desvio relativamente ao prazo inicial, cuja média é na ordem dos 13 por cento

HABITAÇÃO PÚBLICA EM ORDEM

Obras dos segmentos do Centro, Cotai e Posto Fronteiriço da Linha da Taipa demoraram sensivelmente o dobro do tempo face ao calendário inicial

“adaptação do projecto às condições reais do local da obra, da disponibilização tardia de algumas parcelas e do desvio de infra-estruturas das concessionárias”. O Centro Modal de Transportes da Barra – a obra com o orçamento mais elevado de toda a lista (1,23 mil milhões) – também derrapou: os gastos subiram 3,2 por cento, enquanto o prazo sofreu um desvio de 14,3 por cento em relação aos 1.399 dias de trabalho previstos. O orçamento da Superestrutura do Parque de Materiais e Oficina, por seu turno, derrapou 10 por cento, mas não houve desvios relativamente ao prazo de execução. Já a Estação da Barra, adjudicada por 1,1 mil milhões de patacas e com um prazo de execução de 1.238 dias de trabalhos, apresenta uma “’ficha limpa’, sem derrapagens orçamentais ou temporais.

FAZER AS CONTAS

Excluindo o Metro Ligeiro, a obra com maior derrapagem orçamental

é o Túnel de Ká Hó, cujos custos aumentaram 21,5 por cento face ao valor da adjudicação (254,1 milhões de patacas). O desempenho em termos da execução da empreitada também foi negativo, dado que o prazo supera em 39,3 por cento os 930 dias de trabalho previstos. Já o novo hospital encontra-se dividido em quatro itens, mas apenas um, o relativo à Escola de Enfermagem, tem informações de relevo. Segundo a tabela, a obra, adjudicada por 609 milhões de patacas e com um prazo de execução de 700 dias, derrapou 3,5 por cento em termos orçamentais e 0,7 por cento em termos temporais. O hospital propriamente dito encontra-se em “branco”, uma vez que o prazo para a apresentação de propostas para a construção das estruturas principais (Hospital Geral, o Edifício de Apoio Logístico, o Edifício de Administração e Multi-serviços) termina no próximo 19 de Março. Segundo o anúncio do concurso público,

o prazo máximo de execução foi fixado em 1.150 dias de trabalho, ou seja, aproximadamente três anos. Na mesma etapa encontra-se a quarta ponte entre Macau e a Taipa, cuja abertura de propostas do concurso limitado por qualificação prévia teve precisamente lugar ontem. A tabela actualiza ainda as informações sobre os aterros C e D: as obras do primeiro, com orçamento de 816,1 milhões e um prazo de execução previsto de 645 dias de trabalho, encontram-se actualmente em curso; enquanto as do segundo ainda não foram iniciadas, não havendo orçamento nem calendário. Relativamente ao Estabelecimento Prisional, os dados indicam que as obras da segunda fase, adjudicadas por 1,05 mil milhões de patacas, não só já custaram mais 2,4 por cento, como também já estão a durar mais 18,2 por cento do que o suposto (1.020 dias de trabalho). Já a terceira fase (739

A lista contempla ainda três empreitadas de construção de habitação pública, cujo progresso não sofreu qualquer atraso, sendo de ressalvar, no entanto, que essas obras se encontram em distintas fases. A de Mong Há (fase 2), por exemplo, está na da celebração de contrato. Também há, com efeito, obras em que os gastos encolheram face ao orçamentado, de que é exemplo a quarta conduta de abastecimento de água a Macau. Já casos de obras com uma execução inferior ao previsto não existem. Da lista das 49 empreitadas públicas com valor superior a 100 milhões de patacas há oito em que as obras ainda não foram iniciadas. É o caso da obra de instalação de triagem de materiais inertes resultantes de demolições e construções que “não tem condições de iniciar devido à instabilidade do terreno”. Uma empreitada ligada à da melhoria das características geotécnicas do aterro para resíduos de materiais de construção, actualmente na fase de adjudicação. Diana do Mar

dianadomar@hojemacau.com.mo

GCS

KÁ HÓ CEDÊNCIA DE TERRENOS SEM CONTRAPARTIDAS, GARANTE ROSÁRIO

A

Raimundo do Rosário

Sociedade de Turismo e Desenvolvimento Insular (STDI) não vai ter qualquer contrapartida por ter prescindido da concessão, por arrendamento, de cinco parcelas de terreno, em Coloane. A garantia foi dada ontem pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário. “Não,

de certeza absoluta”, afirmou, quando questionado pelos jornalistas, à saída de uma reunião da Assembleia Legislativa. Isto apesar de a desistência ter sido solicitada pelo Governo, com vista a viabilizar a ampliação da Barragem de Ká Hó. Segundo informações complementares disponibilizadas pela Direcção dos

Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), após negociações, a empresa concordou em abdicar das cinco parcelas e “o Governo não necessitou de proceder à sua compensação”. As cinco parcelas perfazem 3.632 metros quadrados de um terreno com uma área global de 767.373 metros quadrados, onde

se encontra implantado um complexo turístico e recreativo”, o Grand Coloane Resort (antigo Westin). Os lotes integram um terreno definitivamente concedido à STDI, fundada pelo magnata de jogo Stanley Ho e actualmente gerida pela filha Pansy. O prazo de arrendamento foi renovado até 2023. D.M.


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1.3.2019 sexta-feira

EDITAL

EDITAL

Edital n.º : 10 /E-BC/2019 Processo n.º :478/BC/2018/F Assunto :Demolição de obras não autorizadas pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) Local :Avenida Marginal do Patane n.º 893, via pública do Edf. Kun Cheong Court (corredor comum do 1.º andar), Macau. Li Canfeng, Director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), faz saber que ficam notificados o dono da obra e o proprietário, bem como os utentes do local acima indicado, cujas identidades se desconhecem, do seguinte:

Edital n.º : 13/E-BC/2019 Processo n.º :497/BC/2018/F Assunto :Início da audiência pela infracção às disposições do Regulamento de Segurança Contra Incêndios (RSCI) Local : Travessa dos Bombeiros n.º 3, Edf. Seng Wai, parte do terraço sobrejacente à fracção 6.º andar D e escada comum entre o 5.º andar e o 6.º andar, Macau. Li Canfeng, Director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, faz saber que ficam notificados o dono das obras e os utentes dos locais acima indicados, cujas identidades se desconhecem, do seguinte:

1.

Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que no local acima indicado realizaram-se as seguintes obras não autorizadas:

Infracção ao RSCI e motivo da demolição de um compartimento com portão metálico, janelas de vidro e Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, 1.1 Construção gradeamento metálico no corredor comum do 1.º andar. obstrução do caminho de evacuação. ao n.º 4 do artigo 10.º, 1.2 Instalação de um portão de enrolar metálico no corredor comum do 1.º andar. Infracção obstrução do caminho de evacuação. Obra

2.

De acordo com o n.º 1 do artigo 95.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho, foi realizada, no seguimento de notificação por edital publicado nos jornais em língua chinesa e em língua portuguesa de 20 de Novembro de 2018, a audiência escrita dos interessados, mas não foram carreados para o procedimento elementos ou argumentos de facto e de direito que pudessem conduzir à alteração do sentido da decisão de ordenar a demolição das obras não autorizadas acima indicadas.

3.

Sendo as escadas e corredores comuns do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI. Assim, nos termos do n.º 1 do artigo 88.º do RSCI e por despacho de 21 de Fevereiro de 2019, exarado sobre a informação n.º 00172/DURDEP/2019, ordena ao dono das obras ou seu mandatário que proceda, por sua iniciativa, no prazo de 8 dias contados a partir da data da publicação do presente edital, à demolição das obras acima indicadas e à reposição do local afectado, bem como aos interessados e aos utentes que procedam à remoção de todos os materiais e equipamentos nele existentes e à respectiva desocupação, devendo, para o efeito e com antecedência, apresentar nesta DSSOPT o pedido da demolição das obras ilegais, cujos trabalhos só podem ser realizados depois da sua aprovação. A conclusão dos referidos trabalhos deverá ser comunicada à DSSOPT para efeitos de vistoria.

4.

5.

6.

Findo o prazo estipulado, não será aceite qualquer pedido de demolição das obras acima mencionadas. De acordo com o n.º 2 do artigo 139.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se ainda que nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 89.º do RSCI, findo o prazo referido, a DSSOPT, em conjunto com outros serviços públicos e com a colaboração do Corpo de Polícia de Segurança Pública, procederá à execução dos trabalhos acima referidos, sendo as despesas suportadas pelos infractores. Além disso, findo o prazo da demolição e da desocupação voluntárias, a DSSOPT dará início aos respectivos trabalhos, os quais, uma vez iniciados, não podem ser cancelados. Os materiais e equipamentos deixados no local acima indicado ficam aí depositados à guarda de um depositário a nomear pela Administração. Findo o prazo de 15 (quinze) dias a contar da data do depósito e caso os bens não tenham sido levantados, consideram-se os mesmos abandonados e perdidos a favor do governo da RAEM, por força da aplicação do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 6/93/M, de 15 de Fevereiro. Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração e/ou de segurança do edifício. Nos termos do n.º 1 do artigo 97.º do RSCI, da decisão referida no ponto 3 do presente edital cabe recurso hierárquico necessário para o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, a interpor no prazo de 8 (oito) dias contados a partir da data da publicação do presente edital.

RAEM, 21 de Fevereiro de 2019 O Director dos Serviços Li Canfeng

1.

Na sequência da fiscalização realizada pela DSSOPT, apurou-se que nos locais acima indicados realizaram-se as seguintes obras não autorizadas: Obra

Infracção ao RSCI e motivo da demolição

1.1

2.

Construção de um compartimento com paredes em Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do alvenaria de tijolo, pavimento em betão e janelas de vidro caminho de evacuação. na parte do terraço sobrejacente à fracção 6.º andar D. 1.2 Construção de um segundo compartimento com paredes em alvenaria de tijolo e cobertura e gradeamento Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do metálicos, sobrejacente ao compartimento acima caminho de evacuação. indicado. 1.3 Instalação de gradeamento e de um portão metálicos na Infracção ao n.º 4 do artigo 10.º, obstrução do escada comum entre o 5.º andar e o 6.º andar. caminho de evacuação. Sendo as escadas, corredores comuns e terraço do edifício considerados caminhos de evacuação, devem os mesmos conservar-se permanentemente desobstruídos e desimpedidos, de acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 10.º do RSCI, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/95/M, de 9 de Junho. As alterações introduzidas pelos infractores nos referidos espaços, descritas no ponto 1 do presente edital, contrariam a função desses espaços enquanto caminhos de evacuação e comprometem a segurança de pessoas e bens em caso de incêndio. Assim, as obras executadas não são susceptíveis de legalização, pelo que a DSSOPT terá necessariamente de determinar a sua demolição a fim de ser reintegrada a legalidade urbanística violada.

3.

Nos termos do n.º 3 do artigo 87.º do RSCI, a infracção ao disposto no n.º 4 do artigo 10.º é sancionável com multa de $4 000,00 a $40 000,00 patacas. Além disso, de acordo com o n.º 4 do mesmo artigo, em caso de pejamento dos caminhos de evacuação, será solidariamente responsável a entidade que presta os serviços de administração ou de segurança do edifício.

4.

Considerando a matéria referida nos pontos 2 e 3 do presente edital, podem os interessados, querendo, pronunciar-se por escrito sobre a mesma e demais questões objecto do procedimento, no prazo de 5 (cinco) dias contados a partir da data da publicação do presente edital, assim como requerer diligências complementares e oferecer os respectivos meios de prova, em conformidade com o disposto no n.º 1 do artigo 95.º do RSCI.

5.

O processo pode ser consultado durante as horas de expediente nas instalações da Divisão de Fiscalização do Departamento de Urbanização desta DSSOPT, situadas na Estrada de D. Maria II, n.º 33, 15.º andar, em Macau (telefones n.os 85977154 e 85977227).

RAEM, 21 de Fevereiro de 2019 O Director de Serviços Li Canfeng


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sexta-feira 1.3.2019

Crime Burlada em 2.9 milhões por namorado virtual

Noite de chamas

A vítima vivia no apartamento que terá começado a arder, alegadamente devido a um problema com um dos electrodomésticos. O incêndio levou mais três pessoas ao hospital, reteve vários moradores nas habitações e obrigou à retirada de 100 pessoas do edifício

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M homem de 83 anos perdeu a vida num incêndio que deflagrou na quarta-feira à noite, por volta das 21h03, no Bloco B do edifício Van Sion Son Chun, no Fai Chi Kei. A confirmação do óbito foi avançada pela Polícia Judiciária. O fogo terá começado num electrodoméstico. O equipamento em causa não foi identificado, mas o jornal Ou Mun avança que poderá ter sido um aquecedor. “Às 22h10 de ontem [quarta-feira], a PJ foi informada pelo hospital público de que um apartamento no Fai Chi Kei estava a

arder e que um homem tinha sido transportado de urgência para o hospital, onde foi declarado morto”, começou por informar a força de segurança. “A investigação ao caso começou a partir desse momento”, foi acrescentado. Quando chegaram ao apartamento em causa, a vítima já apresentava batimentos cardíacos muito fracos e dificuldades respiratórias. Além do homem, outras três pes-

soas, uma do sexo masculino, com 60 anos, e duas do sexo feminino, com 54 e 73 anos, que viviam na mesma unidade residencial, necessitaram de ser transportadas para o hospital, devido à inalação de fumos. O incidente fez ainda com que cerca de 100 pessoas fossem retiradas do prédio em causa. Por este motivo, foi montado no local um centro de comando para assistir os moradores e também o

“O fumo era mesmo muito denso. Nem conseguia ver os meus dedos. Por isso, e para evitar o perigo, tive de regressar a casa.” CHOI RESIDENTE DO EDIFÍCIO VAN SION SON CHUN

Instituto para a Acção Social abriu um centro de acolhimento.

MORADORES PRESOS

Após as chamas, o jornal Ou Mun entrevistou um dos moradores, com o apelido Choi, que fez o relato do “inferno” que se viveu dentro do edifício. De acordo com a versão apresentada, este morador estava sozinho em casa, a dormir, e acordou com os gritos dos vizinhos a dizer “fogo”. Segundo as declarações prestadas o morador só conseguiu sair com a ajuda dos bombeiros. “Mesmo em casa, o fumo era muito espesso e não parava de entrar por debaixo da porta de entrada. Mesmo as paredes já estavam a ficar todas pretas”, relatou. “Assim que decidi que ia sair de casa, abri a porta para o corredor, mas o fumo era mesmo muito denso. Nem conseguia ver os meus dedos. Por isso, e para evitar o perigo, tive de regressar a casa. Felizmente, com a ajuda dos bombeiros, embrulhei-me numa toalha molhada e deixei devagar o prédio”, contou o homem de apelido Choi. O caso continua a ser investigado pela PJ para apurar a causa do incêndio e os motivos que levaram à morte do homem. João Santos Filipe

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DSAT Pagamento de imposto automóvel estende-se até Abril

Os proprietários de veículos têm até 1 de Abril para efectuar o pagamento do imposto de circulação, de acordo com uma nota emitida pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). “A DSAT apela aos proprietários de veículos que ainda não efectuaram o pagamento do imposto de circulação de veículos para que o façam o mais brevemente possível a fim de não incorrerem em multa por pagamento em atraso”, pode ler-se no comunicado. O imposto é referente ao ano de 2019 e abrange automóveis, ciclomotores, motociclos e máquinas industriais. TIAGO ALCÂNTARA

TRAGÉDIA IDOSO MORRE EM INCÊNDIO NUM APARTAMENTO NO FAI CHI KEI

Uma residente foi alegadamente vítima de uma burla no valor de 2,9 milhões de patacas na sequência de uma “relação virtual” com um suposto engenheiro. De acordo com a Exmoo, a vítima terá recebido o pedido para depositar a quantia na conta do namorado virtual que alegava precisar do montante para resolver um problema num projecto que tinha em Itália. Desde Setembro do ano passado até ao dia 11 deste mês, a alegada vítima de burla depositou quase três milhões de patacas na conta indicada pelo “namorado”. Quando recentemente se preparava para realizar mais um depósito, a mulher foi alertada de que poderia estar a ser vítima de um esquema online que utiliza este método para extorquir dinheiro. “Depois de pensar na situação, percebi o que me estava a acontecer e pedi ajuda”, apontou de acordo com a mesma fonte. As autoridades estão a investigar o caso tendo em conta a possibilidade de existência de uma rede criminosa. Até à data, ainda não há detenções.


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1.3.2019 sexta-feira

Em 2018, o PIB ‘per capita’ atingiu 666.893 patacas, traduzindo uma subida de 2,9 por cento

ECONOMIA PIB CRESCEU 4,7 POR CENTO, EM TERMOS REAIS, NO ANO PASSADO

Trambolhão numérico A economia de Macau cresceu 4,7 por cento, em termos reais, no ano passado, reflectindo um forte abrandamento de cinco pontos percentuais, impulsionado pela acentuada queda do investimento privado

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ritmo de crescimento da economia de Macau abrandou significativamente no ano passado, batendo as estimativas, recentemente revistas em baixa, do Fundo Monetário Internacional (FMI) que aponta-

vam para um crescimento de 5,3 por cento. Segundo dados publicados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 4,7 por cento, em termos reais, alcançando 440,3 mil milhões de patacas, ou seja,

abaixo do aumento anual de 9,7 por cento em 2017. “A procura interna apresentou um comportamento desfavorável, com uma contracção anual de 1,7 por cento, registando-se uma queda anual de 12,5 por cento na formação bruta de capital fixo, arrastada pelo decréscimo substancial do investimento do sector privado em construção”, explica a DSEC. O impacto da diminuição do investimento foi amortecido nomeado pela despesa do consumo privado (+4,5% por cento) e pela despesa de consumo final do Governo (+3,8 por cento). Graças à subida suave da procura externa e ao aumento do número de

visitantes e respectivos gastos, as exportações de serviços – a principal força motriz do crescimento económico – subiram 9,4 por cento em termos anuais, destacando-se as de jogo e as de outros serviços turísticos, com um incremento anual homólogo de 10,3 por cento e 9,4 por cento, respectivamente. Já as exportações de bens cresceram 11 por cento. O deflactor implícito do PIB, que mede a variação global de preços, aumentou 3,6 por cento no ano passado.

PESOS DIFERENTES

Olhando aos principais componentes, o peso das exportações líquidas de bens e serviços na

formação do PIB subiu em 2018 para 50,5 por cento (contra 46,9 por cento em 2017), reflectindo um crescimento de 3,5 pontos percentuais. Em sentido inverso, o peso da procura interna desceu 3,5 pontos percentuais, para 49,5 por cento, devido ao decréscimo de 3,2 pontos percentuais no peso do investimento, enquanto os pesos da despesa de consumo privado e da despesa final de consumo do governo baixaram ligeiramente 0,3 e 0,1 pontos percentuais, respectivamente, segundo a DSEC. Segundo os dados revistos do PIB, a economia de Macau cresceu, em termos reais, 9,3 por cento no primeiro trimestre; 6 por cento no segundo; 1,9 por cento no terceiro e 2,1 por cento no quarto Já o PIB ‘per capita’ atingiu, no cômputo do ano passado, 666.893 patacas, traduzindo uma subida de 2,9 por cento. Diana do Mar

dianadomar@hojemacau.com.mo

PATRIMÓNIO CULTURAL INTANGÍVEL PROCISSÕES INCLUÍDAS EM CONSULTA PÚBLICA

JUSTIÇA TUI MANTEM REVERSÃO DE TERRENO CONCESSIONADO À YAT YUEN EM SEAC PAI VAN

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S procissões católicas de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos e de Nossa Senhora de Fátima são duas das 12 manifestações recomendadas para inscrição na lista do Património Cultural Intangível de Macau, em consulta pública, no próximo mês. A consulta pública destina-se a “reforçar a salvaguarda do património cultural intangível” do território, de acordo com uma nota do Instituto Cultural. Entre 13 de Março e 11 de Abril, a população pode ainda considerar dez outras

recomendações, como a Gastronomia Macaense, Teatro em Pátua, Crença e Costumes de Na Tcha, Crença e Costumes de A-Má, Festival do Dragão Embriagado, Música Ritual Taoísta, Naamyam Cantonense (canções narrativas), Escultura de Imagens Sagradas em Madeira, Preparação do Chá de Ervas e Ópera Yueju (ópera cantonense). A procissão do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos realiza-se todos os anos, no primeiro sábado e domingo da Quaresma, e

tem início na Igreja de Santo Agostinho, dirigindo-se à Igreja da Sé, fazendo o percurso inverso no segundo dia. Com uma longa história em Macau, esta procissão remonta a 1708. Desde 1929, tem lugar todos os anos, em 13 de Maio, a procissão de Nossa Senhora de Fátima, entre a Igreja de S. Domingos e a Ermida da Penha.

Tribunal de Última Instância (TUI) considerou improcedentes os recursos interpostos pela Companhia de Corridas de Galgos Macau (Yat Yuen), relativo a um terreno na Zona Industrial de Seac Pai Van, e pela Companhia de Investimento Polaris, Limitada sobre o terreno localizado na Baía do Pac On, mantendo a decisão do Chefe do Executivo em declarar a caducidade das concessões destes terrenos. O terreno concessionado à Yat Yuen situa-se em Coloane, na Zona Industrial de Seac Pai Van, designado por lote “SK1” e tem uma área de 5.235 m2, O

arrendamento do terreno, válido pelo prazo de 25 anos, contados a partir da data da celebração da escritura pública (30/11/1990), decorria até 29 de Novembro de 2015. Em 13 de Fevereiro de 2017, o Chefe do Executivo proferiu despacho, no sentido de declarar a caducidade da concessão do terreno por termo do prazo do arrendamento. Já o segundo terreno, situa-se na ilha da Taipa, na Baía do Pac On (Sul) e possui uma área de 19.314 m2. O terreno foi concedido à Companhia de Investimento Polaris, Limitada a 26 de Dezembro de 1990, sendo o arrendamento válido pelo

prazo de 25 anos, período que terminava a 25 de Dezembro de 2015. A 21 de Março de 2016, o Chefe do Executivo declarou a caducidade da concessão também por termo do prazo do arrendamento. As duas concessionárias interpuseram recursos contenciosos de anulação para o Tribunal de Segunda Instância (TSI) que os julgou improcedentes. “Inconformadas, as duas concessionárias recorreram para o TUI que julgou improcedentes os dois recursos”, aponta Gabinete do Presidente do Tribunal de Última Instância em comunicado.


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sexta-feira 1.3.2019

JOGO LUCROS DE OPERADORAS SJM E GALAXY REGISTARAM SUBIDAS NO ANO PASSADO

Com bolsos mais fundos Ganhos da operadora fundada por Stanley Ho cresceram quase mil milhões de dólares de Hong Kong, o que representa um aumento 45,2 por cento. Em relação à operadora de Lui Che Woo os ganhos foram de 29 por cento com os lucros a serem de 13,5 mil milhões de dólares

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S lucros das concessionárias do jogo SJM e Galaxy cresceram 45,2 por cento, para 2,85 mil milhões de dólares de Hong Kong, e 29 por cento, para 13,5 mil milhões de dólares, respectivamente, em 2018. Os resultados foram apresentados, ontem. No que diz respeito à SJM, os lucros foram de 2,85 mil milhões de dólares de Hong Kong em comparação com os 1,96 mil milhões acumulados em 2017. Este aumento foi motivado pelo crescimento das receitas do jogo que subiram 8,3 por cento de 31,10 mil milhões para 33,68 mil milhões. “O mercado do jogo de Macau continuou a acelerar e a SJM conseguiu ganhos materiais, ao nível das receitas, ganhos antes de impostos ajustados e lucro líquido”, afirmou Ambrose So, vice-presidente e CEO da empresa, em comunicado. De acordo com a informação divulgada pela SJM, em 2018 a operadora teve uma quota de mercado de 14,9 por cento, 19,5 por cento do mercado de massas e 12,2 por cento do mercado VIP, ou seja dos grandes apostadores. No comunicado emitido ontem foi ainda feita

O documento diz também que as obras [do Casino Grand Lisboa Palace] devem ficar concluídas “na primeira metade do ano” e que o espaço vai começar a operar “o mais depressa possível”.

uma actualização sobre o estado das obras do casino Grand Lisboa Palace, o primeiro projecto da operadora no Cotai. “Houve progressos rápidos ao longo do ano e estamos a prever o fim da fase de construção dentro deste ano”, disse Ambrose So. O documento diz também que as obras devem ficar concluídas “na primeira metade do ano” e que o espaço vai começar a operar “o mais depressa possível”.

OPTIMISMO SOBRE GUERRA COMERCIAL

Em relação à Galaxy, os lucros foram de 13,5 mil milhões de dólares de Hong Kong no ano passado, o que representa um aumento de 29 por cento, em relação aos 10,5 mil milhões de dólares gerados em 2017. Este aumento dos lucros reflecte uma subida nas receitas da empresa que aumentou 13,5 por cento para 55,21 mil milhões de dólares de Hong Kong. “São resultados registados apesar do desenvolvimento de mais competição tanto em Macau como ao nível regional, assim como a existência de vários desafios geopolíticos e económicos, que tiveram um impacto directo nos sentimentos dos consumidores”, afirmou Lui Che Woo, presidente do grupo Galaxy, em comunicado. O mesmo documento fala ainda que há motivos para “optimismo” em relação ao desenvolvimentos mais recentes da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Apesar destas notícias positivas, a empresa sublinha que continua a esperar desafios ao nível da geopolítica e da economia. João Santos Filipe

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TURISMO MAIS DE 18 MIL VISITANTES ESPERADOS NA 13.ª GLOBAL GAMING EXPO ASIA

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AIS de 18 mil pessoas são esperadas, em Maio, na Global Gaming Expo Asia (G2E Asia), uma feira internacional que junta anualmente empresas e especialistas do jogo de todo o mundo em Macau, anunciou ontem a organização. Este ano, a 13.ª edição, de 21 a 23 de Maio, vai apostar sobretudo no conteúdo e tecnologia digital, tecnologia de resorts integrados e soluções de negócios, no desenvolvimento do jogo e lotaria, na tecnologia financeira no continente asiático e em ‘Esports’(competição através de videojogos). O programa de conferências da feira vai discutir temas como as perspetivas e riscos na área do jogo na Ásia. O evento, que normalmente conta com altos quadros da indústria do jogo em Macau, no ano passado recebeu o director executivo da Melco, Lawrence Ho, filho do fundador da Sociedade de Jogos de Macau, Stanley Ho, e este ano tem previsto receber Pansy Ho, que é copresidente e accionista da MGM China, empresa que também explora o jogo em Macau, disse à Lusa fonte da organização, durante um almoço com a imprensa. A filha mais velha de Stanley Ho e a Fundação Henry Fok anunciaram, em 24 de Janeiro, um acordo para garantir o controlo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) Holdings Ltd e da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), fundadas por Stanley Ho. A aliança foi anunciada pela empresa de Hong Kong Shun Tak Holdings Ltd, de Pansy Ho. Com esta aliança, Pansy Ho e a Fundação Henry Fok passam a assegurar 53,012 por cento das acções da STDM, de acordo com a informação prestada pela empresa. A exposição do G2E Asia, que decorre no hotel-casino Venetian, vai ocupar cerca de 34.000 metros quadrados, em dois andares. Esta edição conta ainda com a atribuição dos prémios G2E Asia, para “reconhecer a excelência e a inovação” na indústria do jogo. Mais de 16 mil profissionais visitaram a feira no ano passado.


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CINEMA GALAXY APRESENTA CICLO COM FILMES QUE MARCARA

MÚSICA ORQUESTRA DE MACAU APRESENTA “AZZOLINI E LU JIA” A 15 DE MARÇO

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Orquestra de Macau (OM) apresenta o concerto “Azzolini e Lu Jia” no dia 15 de Março (sexta-feira), pelas 20h horas, na Igreja de S. Domingos. A entrada é livre e os bilhetes distribuídos uma hora antes da actuação. Sob a batuta do Director Musical Lu Jia, a Orquestra irá colaborar com o famoso fagotista Sergio Azzolini para apresentar dois concertos para fagote, de A. Vivaldi e C. Stamitz, tocando a OM na segunda parte a Sinfonia N.º 4 “Italiana” de Mendelssohn, a fim de imprimir o sabor europeu do período romântico. Nascido

em Bolzano (Itália), em 1967, Sergio Azzolini é conhecido pelo seu extraordinário talento e desempenho de instrumentos clássicos, especialmente os utilizados na música barroca, sendo reconhecido como uma autoridade na interpretação dos trabalhos de Vivaldi na execução do fagote. Além disso, a OM organiza uma masterclass no dia 13 de Março, na qual o fagotista Azzolini irá orientar os participantes sobre técnicas de fagote em actuações a solo ou com ensemble de sopros, sendo esta aberta a observadores.

De Hollywood para o Cotai

Moda Paulo de Senna Fernandes vence concurso internacional O macaense Paulo de Senna Fernandes foi ontem distinguido com “Gold Prizes” do concurso internacional IDA Annual Award 2019, prémio norte-americano que vai na 12.ª edição. O designer local, em comunicado, congratulou-se com a honra da distinção obtida. “Sinto orgulho

de ter competido num concurso de alto nível, houve mais de 10000 participantes neste concurso”, pode-se ler no comunicado. Paulo de Senna Fernandes refere ainda que os membros do júri acharam o seu vestido “um dos mais belos”. “Sempre quis competir todos anos pelo

reconhecimento internacional, pois devo mostrar que em Macau existe talentos, sendo a minha obrigação levar o nome “RAEM” a todo o mundo”, comenta o premiado. O designer macaense participou na competição com um vestido azul, subordinado ao tema “Sereia”. PUB

Até ao dia 6 de Março, quarta-feira, as salas UA Galaxy Cinemas oferecem aos cinéfilos a possibilidade de assistirem a alguns dos filmes que marcaram a edição deste ano dos óscares

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os óscares vão para... o Galaxy. O complexo UA Galaxy Cinemas está a passar um ciclo com filmes que foram distinguidos pela Academia dos Óscares na edição deste ano dos mais populares prémios da sétima arte. O ciclo já está em andamento e decorre até ao dia 6 de Março, com uma selecção de dez películas que marcaram as nomeações para as principais categorias dos prémios. Entre os filmes escolhidos este ano vão ser exibidos: “Assim Nasce Uma Estrela”, “Green Book - Um Guia Para a Vida”, “The Incredibles 2: Os Super-Heróis”, “Ralph

Breaks the Internet: Wreck It Ralph 2”, “Homem-Aranha: No Universo Aranha”, “A Favorita” e “Vice”. O conjunto de filmes selecionados pretende ser acessível a todas as idades e gostos, obedecendo ao género de filme e às nomeações recebidas.

POR CATEGORIAS

Os filmes estão a ser exibidos numa sala, portanto, cada dia será dedicado a uma das películas que foram distinguidas no Teatro Dolby. Hoje será exibido “Assim Nasce Uma Estrela”, protagonizado, escrito e realizado por Bradley Cooper e abrilhantado por


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AM OS ÓSCARES

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HOJE NO PRATO Paula Bicho

Naturopata e Fitoterapeuta • obichodabotica@gmail.com

Trigo-Sarraceno Nome botânico: Fagopyrum esculentum Moench Família: Polygonaceae. Nomes populares: FAGÓPIRO; GRÃO-SARRACENO; SARRACENO; TRIGO-MOIRO; TRIGO-MOURISCO; TRIGOMOURO; TRIGO-NEGRO; TRIGOPRETO. Nativo da Ásia Central e Setentrional, o Trigo-sarraceno é actualmente cultivado com fins medicinais e alimentares nas regiões temperadas da Ásia, América e Europa. Trata-se de uma planta herbácea de caule erecto e avermelhado, que pode alcançar meio metro de altura; apresenta folhas em forma de seta e as flores, de cor rosa ou branca, crescem aos cachos nas axilas das folhas ou extremidades dos ramos; os frutos possuem cantos afiados e, com a maturação, adquirem uma característica cor enegrecida e brilhante. Com as suas flores as abelhas fazem um mel escuro e aromatizado. Cultivado na China desde tempos remotos, o Trigo-sarraceno foi introduzido na Europa no século XIV, onde se tornou um alimento popular até ao século XVIII. No entanto, com o protagonismo dos cereais e da Batata, a sua importância decaiu. Foi no passado o principal alimento dos Bretões e Eslavos, povos particularmente robustos e resistentes. Também o exército chinês alimenta os seus soldados com Trigo-sarraceno para lhes proporcionar mais força e resistência. Embora os seus grãos constituam um valioso substituto dos cereais, é considerado um pseudocereal, por não pertencer à família das Gramíneas.

Lady Gaga, arrebatou o galardão de melhor canção original. O fim-de-semana tem uma programação dedicada à família, com a exibição de três películas de animação. Neste capítulo, destaque para “Homem-Aranha: No Universo Aranha”, dirigido por uma tripla de realizadores, Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman, que ganhou o óscar para melhor filme de animação. Durante sábado e domingo, haverá ainda tempo para os outros nomeados vencidos

“The Incredibles 2: Os Super-Heróis” e “Ralph Breaks the Internet: Wreck it Ralph 2”. Na segunda-feira será a vez de “Vice”, película que venceu apenas na categoria de melhor maquilhagem, apesar das oito nomeações que averbou. “A Favorita” vai estar em destaque na terça-feira,

dia 5, nomeado para nove categorias, mas que também apenas conseguiu arrebatar uma estatueta para Olivia Colman, como melhor actriz. Finalmente, e para fechar com chave de ouro, será exibido na quarta-feira um filme que já havia brilhado no Festival Internacional de Cinema de Macau: “Green Book - Um Guia Para a Vida”. A película de Peter Farrelly foi um dos grandes vencedores dos Óscares 2019, ao conquistar as estatuetas para melhor filme, melhor actor secundário para a interpretação de Mahershala Ali e melhor argumento. João Luz

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Composição Teor elevado em fibras, vitaminas (B1, B2, B3, B5, B6, ácido fólico, E), minerais (cálcio, cobre, ferro, flúor, fósforo, magnésio, manganês, potássio, selénio, zinco) e compostos antioxidantes; é uma boa fonte de proteínas, fornecendo aminoácidos essenciais escassos noutros cereais (lisina). Contém ainda gorduras, ácidos fenólicos, lignanos, flavonóides (rutina), tocotrienóis, esculósido, D-quiro-inositol, considerado uma fito-insulina, e ácido fítico (um antinutriente). Acção terapêutica Com uma composição equilibrada, o Trigo-sarraceno é muito nutritivo e digerível, remineralizante e um bom reconstituinte; além disso, aumenta a energia, é gerador de calor, auxilia o crescimento, fortalece os músculos e favorece a recuperação muscular. É muito indicado para convalescentes, pessoas idosas, grávidas, mulheres

a amamentar, crianças e adolescentes em fase de crescimento, trabalhadores braçais e desportistas. Deve ser ingerido regularmente por pessoas vegans e vegetarianas por possuir aminoácidos essenciais. Por não conter glúten é considerado um alimento seguro para celíacos. Bom para a saúde do coração, este grão reduz o colesterol LDL e aumenta o HDL, e diminui a pressão arterial prevenindo as doenças cardiovasculares; protege e fortalece os vasos sanguíneos, evitando os edemas de origem circulatória, reduzindo o risco de hemorragias e melhorando a circulação do sangue; combate ainda a anemia. Por estes efeitos, é benéfico na hipertensão arterial, arteriosclerose, fragilidade capilar, tendência para hemorragias e nódoas negras, frieiras, hemorróidas e anemia. É igualmente recomendado a diabéticos por baixar os níveis de açúcar no sangue. Outras propriedades O Trigo-sarraceno tem também mostrado contribuir para a saúde do sistema digestivo. Com efeito, melhora a digestão, regula o trânsito intestinal, tem um efeito protector sobre o tracto digestivo e promove uma flora intestinal saudável; auxilia ainda a prevenir os cálculos biliares. Por proporcionar saciedade e contribuir para a redução da massa gorda, além de outras propriedades já referidas, está igualmente indicado nos regimes de emagrecimento. Este alimento contribui para a libertação de neurotransmissores que combatem a ansiedade, a depressão e as dores de cabeça, e aumenta a capacidade de aprendizagem e memória. Melhora a função imunitária e tem actividade antioxidante, protegendo as células contra o envelhecimento precoce e alguns tipos de cancro. Como consumir Devido ao seu poder de aquecimento, o Trigo-sarraceno é ideal para a estação fria do ano. Para obter os benefícios deste “cereal” adocicado, deve consumi-lo regularmente e na forma integral. Sugestões: Grão: cozido acompanhado de legumes ou em empadão. Flocos: como cereal de pequeno-almoço ou em sopas de vegetais. Farinha: combinada com a de Trigo, na elaboração de pão, panquecas, crepes, bolos e biscoitos. Precauções Apesar de não conter glúten, pode haver contaminação cruzada – ler o rótulo da embalagem. As pessoas sedentárias devem ingerir o Trigo-sarraceno com moderação. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.


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1.3.2019 sexta-feira

VENEZUELA RÚSSIA E CHINA REJEITAM QUALQUER ACÇÃO MILITAR NO PAÍS

União contra a força Os dois principais aliados de Nicolas Maduro expressaram esta semana o seu repúdio contra qualquer ingerência externa na Venezuela e deixam o aviso de que uma acção militar no país seria interpretada como um “acto de agressão contra um Estado soberano e uma ameaça à paz e à segurança internacional”

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Rússia e a China opuseram-se esta quarta-feira a qualquer acção militar contra a Venezuela, numa altura em que os Estados Unidos querem avançar com uma resolução no Conselho de Segurança da ONU sobre a crise venezuelana. Em Wuzhen (leste da China), o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, afirmou que Moscovo, um aliado do Presidente venezuelano contestado Nicolás Maduro, está a trabalhar com todos os países que encaram

com preocupação o cenário de uma eventual interferência militar na Venezuela. Nas mesmas declarações, Lavrov, que se encontrou em Wuzhen com os seus homólogos chinês e indiano, denunciou as tentativas “descaradas” de criar “pretextos artificiais” para uma intervenção militar, como, por exemplo, o argumento de uma operação humanitária. A administração norte-americana liderada pelo Presidente Donald Trump, que contesta Nicolás Maduro e reconhece o opositor Juan

Guaidó como Presidente interino venezuelano, já afirmou que não descarta nenhuma opção, inclusive militar, para lidar com a crise venezuelana. E o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, já chegou a declarar que “os dias de Maduro estão contados”. Washington pretende avançar esta semana com a votação de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU sobre os últimos acontecimentos na Venezuela e focada na autorização para a entrada da ajuda humanitária naquele país. PUB

“Uma Faixa, Uma Rota” 2019 “Bolsa de estudo no exterior” Prazo de inscrição 1 de Março e 17 de Maio de 2019 Requisitos obrigatórios (I) Residentes permanentes da Região Administrativa Especial de Macau Estar no último ano do ensino secundário de uma escola de Macau; 2. Pretendam frequentar um curso de licenciatura a tempo inteiro no Brasil, Malásia, Indonésia, Filipinas, Tailândia ou Camboja. 1.

(II) Residentes da China Interior 1. Cidadãos de Guangdong ou Fujian; 2. Sejam finalistas do curso de licenciatura ministrado por uma das instituições do ensino superior de Macau; 3. Pretendam frequentar um curso de mestrado a tempo inteiro em Portugal, Brasil, Malásia, Indonésia, Filipinas, Tailândia ou Camboja. Consulte mais informações detalhadas no site da Fundação Macau: www.fmac.org.mo Inscrições e outras Informações Endereço: Avenida de Almeida Ribeiro, NºS 61-75, Circle Square, 7° andar, Fundação Macau Telefone : 87950920 ou 87950913 E-mail : db_info@fm.org.mo

É previsível que a Rússia, que como os Estados Unidos e a China é membro permanente do Conselho de Segurança e tem a capacidade de vetar a resolução, rejeite o texto norte-americano. “Não é por acaso que as autoridades do Brasil, por exemplo, já declararam que não vão participar ou disponibilizar o seu território aos norte-americanos para uma agressão contra a Venezuela”, referiu ainda Lavrov.

PALAVRAS DITAS

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo também destacou que “nenhum” país latino-americano, incluindo o Grupo de Lima (13 países latino-americanos e o Canadá), expressou publicamente o apoio a uma intervenção militar. “Acho que os Estados Unidos deveriam ouvir os países da região”, concluiu Lavrov. As palavras de Lavrov surgem no mesmo dia em que o Senado russo (câmara alta do parlamento) advertiu, numa declaração, que uma intervenção militar na Venezuela seria interpretada como um “acto de agressão contra um Estado soberano e uma ameaça à paz e à segurança internacional”. O Senado russo também apelou à comunidade internacional e a várias organizações, como a ONU ou o Parlamento Europeu, para apoiarem um diálogo, um processo político pacífico

“Não é por acaso que as autoridades do Brasil, por exemplo, já declararam que não vão participar ou disponibilizar o seu território aos norte-americanos para uma agressão contra a Venezuela.” SERGUEI LAVROV MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS RUSSO

na Venezuela e para evitarem “qualquer tentativa de ingerência externa”. Já a China, país que é tradicionalmente favorável a uma política externa fundamentada na não-ingerência, frisou que a actual crise política que abala a Venezuela é um assunto interno. “A questão venezuelana é por natureza um problema interno da Venezuela”, afirmou o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, no seguimento das declarações do seu homólogo russo sobre uma eventual intervenção militar estrangeira. O ministro dos Negócios Estran-

geiros chinês também pediu respeito pelas “princípios básicos das relações internacionais” e pela “soberania” dos Estados. Até à data, cerca de 50 países já reconheceram o presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó (que se autoproclamou em Janeiro), como Presidente interino da Venezuela. Já Maduro conta com o apoio da Rússia e da China. As autoridades chinesas temem que um regime liderado pela oposição venezuelana não pague os milhões de dólares emprestados por Pequim a Caracas.

Pequim espera que Trump e Kim se encontrem “a meio do caminho” A China afirmou ontem que os EUA e a Coreia do Norte devem “encontrar-se a meio do caminho” depois de a cimeira em Hanói ter terminado sem acordo (ver página ao lado). O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Lu Kang afirmou em conferência de imprensa que a situação na península coreana experimentou uma “reviravolta” significativa no ano passado, um “resultado conquistado com muitas dificuldades”. Lu enalteceu o regresso dos EUA e da Coreia do Norte a um

caminho rumo ao acordo político, que considerou ser a “única saída”. Na conferência de imprensa após a cimeira, Donald Trump considerou o Presidente chinês, Xi Jinping, como um “líder altamente respeitado em todo o mundo” e afirmou que este foi “muito cooperativo” na questão norte-coreana. Trump lembrou que a China é altamente influente devido ao alto volume de negócios com a Coreia do Norte. Pequim é o maior parceiro comercial e principal aliado diplomático de Pyongyang.


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cimeira entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano terminou sem acordo devido ao impasse sobre as sanções e as reticências de Kim Jong-un em abdicar totalmente do programa nuclear. “Existe ainda uma lacuna” entre o desejo de ambas as partes e, por isso, “temos que manter as sanções”, afirmou Donald Trump, numa conferência de imprensa, após a cimeira em Hanói ter terminado sem um acordo. “Eles queriam que as sanções fossem levantadas na totalidade e nós não podemos fazer isso”, detalhou Trump, acrescentando que prefere “assinar um bom acordo do que fazê-lo ‘a correr’”. Trump deixou a capital vietnamita depois de a cimeira terminar mais cedo do que o previsto. “Às vezes tens que te levantar e ir embora e, desta vez, foi isso que aconteceu”, disse. O Presidente dos EUA revelou que Kim se ofereceu para desmantelar algumas partes da sua infraestrutura nuclear, incluindo o complexo nuclear de Yongbyon, mas que não estava preparado para abdicar de outras partes do programa, incluindo as fábricas para produção de urânio. “Eles estavam dispostos a desmantelar parte das áreas, mas não podíamos desistir de todas as sanções”, afirmou. Trump disse ainda que não há planos para uma terceira cimeira, mas que Kim lhe garantiu que a Coreia do Norte não vai realizar testes nucleares e com mísseis balísticos. O secretário de Estado norte-americano, Mike

HANÓI DIFERENDOS SOBRE AS SANÇÕES DITAM FALHANÇO DE CIMEIRA TRUMP – KIM

Uma mão cheia de nada

O segundo encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un acabou sem acordo e mais cedo do que o previsto. Divergências sobre as sanções e a desnuclearização acabaram por impedir um desfecho positivo nas negociações entre os dois países

LAMENTOS DE SEUL

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Pompeo, disse, no entanto, que “estão hoje mais próximos de um acordo do que há 36 horas”. Em comunicado, a secretária de Imprensa da Casa Branca afirmou que os “dois líderes discutiram várias formas de avançar na desnuclearização

e questões económicas”, mas que “nenhum acordo foi alcançado desta vez” e que as delegações esperam voltar a reunir no futuro”.

SEDUÇÃO EM SACO RÔTO

Num encontro com os jornalistas antes das negociações

“Eles queriam que as sanções fossem levantadas na totalidade e nós não podemos fazer isso”, detalhou Trump, acrescentando que prefere “assinar um bom acordo do que fazê-lo ‘a correr’”

arrancarem, Trump baixou as expectativas, afirmando que não “tem pressa” para que se chegue a um acordo. Kim Jong-un afirmou que, “se não estivesse disposto” à desnuclearização, não estaria em Hanói. A Coreia do Norte sofreu já décadas de isolamento e pobreza extrema, incluindo períodos de fome que causaram milhões de mortos, mas não abdicou de desenvolver um programa nuclear como garantia de sobrevivência do regime. Trump tentou seduzir, em Hanói, o regime PUB

Tilândia Milhares de passageiros retidos devido ao conflito Índia-Paquistão Milhares de turistas ficaram retidos no aeroporto de Banguecoque após o encerramento do espaço aéreo do Paquistão, na quarta-feira, devido às crescentes tensões com a Índia. Cerca de 30 voos, a maioria com destino ou origem na Europa, foram afectados, anunciou a companhia aérea Thai Airways. De acordo com uma porta-voz da transportadora tailandesa, citada pela agência Efe, há pelo menos quatro mil passageiros afectados. Na quarta-feira, o Paquistão anunciou o encer-

ramento do seu espaço aéreo, em resposta à escalada militar com a Índia, que se intensificou depois do derrube, no mesmo dia, de dois aviões de combate indianos. A nova escalada entre as duas nações (que detêm armas nucleares) intensificou-se depois do ataque da Índia contra campos de treino do grupo radical islâmico Jaish-e-Nohammed (JeM) responsável pelo atentado que provocou a morte de 42 polícias na zona indiana de Caxemira no passado dia 14 de Fevereiro.

norte-coreano com boas perspectivas económicas caso aceite a desnuclearização e se insira na comunidade internacional. A Coreia do Norte e o Vietname partilham décadas de amizade e, em teoria, continuam a ser aliados ideológicos, mas as reformas económicas e a integração na comunidade internacional lançados por Hanói impulsionaram o desenvolvimento económico do país.

Presidência sul-coreana lamentou ontem que a cimeira entre os líderes dos EUA e da Coreia do Norte tenha terminado sem acordo, mas mostrou-se optimista na continuação das negociações, considerando que houve progressos significativos em Hanói. “É lamentável que o Presidente Trump e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, não tenham chegado a um acordo global na sua cimeira de hoje [ontem]”, disse em comunicado o porta-voz da Casa Azuk, sede da Presidência sul-coreana. No entanto, Kim Eui-kyeom disse parecer “claro que foram alcançados muitos progressos, mais do que em qualquer outro momento no passado”. No mesmo comunicado, a Presidência considera que o facto de Trump admitir a possibilidade de aliviar as sanções em troca de passos no sentido do desarmamento nuclear da Coreia do Norte mostra que as negociações entre os dois países entraram num “nível elevado”. Seul espera por isso que Washington e Pyongyang possam continuar a manter um “diálogo activo”.


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Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

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NASCIMENTO DE VÉNUS, BOTTICELLI

OFício dos ossos

Valério Romão

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ENHO amigos e amigas detestáveis pelos quais o tempo parece não passar. Normalmente são pessoas cujo estilo de vida privilegia a conservação de um estado de funcionamento razoável do corpo, seja pela alimentação, pela prática de desporto, pela recusa do álcool e do tabaco ou, mais geralmente, pela combinação de uma multiplicidade de hábitos saudáveis. Na verdade, a mera descontinuação de um hábito negativo e a adopção de um contraponto positivo parece ser suficiente para operar um deslocamento do centro de gravidade dos preceitos de vida; o sujeito que deixa de fumar descobre-se passado pouco tempo no ioga e apreciando torções de coluna que, em tempos idos, o deixariam num estado pré-paraplégico. Não parece possível – ou de todo o modo provável – ser saudável às fatias. Somos tendencialmente atraídos por polos ao redor dos quais gravitam uma constelação de elementos com graus distintos de afinidade. É assim, por exemplo, com as pessoas com as quais nos relacionamos a diferentes níveis. Por terem uma determinada profissão, por exemplo, esperamos de-

A grande beleza les um certo gosto musical, uma certa orientação política, um certo estilo de roupa. Os intervalos nos quais a diversidade de manifestações de cada característica acaba por não nos surpreender não são alvo de racionalização ou de inspeção prévia. A surpresa acontece sempre a montante da conceptualização. Na surpresa descobrimo-nos sempre no momento imediatamente posterior a derrocada de uma pré-concepção. “Mas como é que podes ser de direita sendo actor?”; a nossa compreensão do mundo é, como Nietzsche não se cansava de dizer, preguiçosa. Funcionamos por anotações gerais e vagas. O ponto de vista é essencialmente mandrião. E

A beleza é uma espécie de passaporte diplomático: o seu portador pertence a uma elite de acesso privilegiado nas mais diversas situações sociais

não se cansa, por isso mesmo, de ser apanhado em contrapé. Nunca tive particular fascínio por me ver ao espelho. Nunca tive, aliás, razões para isso. Mas houve uma altura, até há dez anos, na qual a coisa era modicamente suportável. Lembro-me muitas vezes de Charles “o outro lado da lua” Bukowski e do seu repúdio por espelhos. As pernas eram a sua única medalha estética. Não se cansava de repetir a Jane, o seu grande amor, “look at my legs, baby, I’ve got great legs”. Cada um se ocupa de promover e gabar o si-próprio na montra como pode e sabe. Li há uns dias uma peça entre a sociologia e a curiosidade, como soi escrever-se nestes dias, uma coisa com aparente validade científica e ainda assim leve, o fast-food servido no porão da ciência que sempre desbloqueia uma conversa num jantar de colegas em que ninguém quer lá estar. A peça era sobre pessoas consensualmente bonitas – era esta a ideia que passava – e as suas experiências em entrevistas de emprego. Enquanto que o comum mortal com rosto de anonimato se tenta escapar como pode ao pisoteamento em que se transformaram a maioria das entrevis-

tas de emprego, às iterações de Adónis ou de Helenas pergunta-se-lhes apenas quando podem começar. A impressão decorrente da beleza, sobretudo da beleza que parece engrandecer e simultaneamente esmagar tudo em seu redor, deixa-nos numa posição de extrema vulnerabilidade: a pessoa diante de nós, por um motivo que não racionalizamos mas que intuímos imediatamente, é muito maior do que somos. A beleza é uma espécie de passaporte diplomático: o seu portador pertence a uma elite de acesso privilegiado nas mais diversas situações sociais. O único revés da beleza – o seu fardo, se assim o quisermos colocar – é o facto de esta ser muitas vezes um factor de intimidação alheia. E quando não o é, é fonte de desconfiança: aquele que é belo vê a beleza como uma coisa entre outras na constelação de atributos através dos quais se pensa. Por isso nunca tem a certeza de que os outros – aqueles pelos quais este se interessa – se interessam por ele pela expressão de uma afinidade que ultrapassa os limites da pele ou apenas para serem co-portadores, ainda que que a fingir, da luz herdada na lotaria genética.


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tonalidades António de Castro Caeiro

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S infinitivos: “vestir”, “despir”, “mergulhar”, “enxugar”, “adormecer”, “acordar”, “andar”, “correr”, “sentar”, “deitar”, “levantar”, “adoecer”, “convalescer”, “trabalhar”, “descansar”, “alterar”, “ligar”, “desligar”, “crescer”, “envelhecer”, “amar”, “nascer”, “morrer” dizem o “ser” da vida humana. O ser da vida humana não é uma substância matemática e inerte, infinitesimal ou infinita, interior ou exterior, mas é uma actividade dinâmica, implica-nos na mudança, altera, transforma, mesmo quando tudo se mantém inalterado. O fluxo da consciência pode correr à velocidade da luz, quando olhamos para alguém que se encontre ao pé de nós, mas o espaço em que nos encontramos está inalterado, pelo menos aparentemente. O mesmo acontece quando revisitamos os sítios da nossa infância que não sofreram processos agressivos de urbanização. Tudo pode permanecer inalterado. E, contudo, a última vez que lá estivemos pode ter sido há décadas. Nós não somos definitivamente os mesmos. Basta invocar uma lembrança de uma situação ocorrida há mais de quarenta anos para perceber que não somos os mesmos, ainda que os sítios possam parecer os mesmos. Entre as duas apresentações podia só ter decorrido um instante, um dia ou uma semana. Mas, não, passaram-se décadas. Talvez que as próprias coisas também se tivessem alterado debaixo da lente transparente do tempo. De facto, a divisão da casa em que me encontro era a sala de estar da casa dos meus avós. Já cá não estão sofás, nem a velha telefonia, nem a pesada mesa

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Cinestesia V

de jantar com cadeiras de madeira negra à volta, nem armários, nem os avós. Agora, a divisão serve de quarto de dormir e de gabinete de trabalho. O tempo enxertado entre a memória da sala de jantar com toda a gente viva e a percepção do espaço agora é de mais de quarenta anos, mas podia ser de um só dia ou do tempo que demorou a transformar o conteúdo de sala de jantar no conteúdo quarto de dormir e gabinete de trabalho. Os infinitivos exprimem acções. Para percebermos os seus conteúdos temos de invocar-nos a nós como seus protagonistas: vestimo-nos, despimo-nos, mergulhamos, enxugamos, etc., etc., ou então temos de ver alguém a executar as acções expressas por eles: alguém adormeceu, acordou, anda ou corre. A gramática antiga fala de “nomes de acção”. Como o no poema de António Machado se escuta que não há caminho, que o caminho se faz andando ou caminhando. O que aí está enunciado é que o caminho não é asfalto ou terra batida, nem pedras da calçada nem alcatrão nem nenhum dos materiais que revestem ruas, estradas e calçadas. O caminho implica saber fazer-se ao caminho a pé ou de meio de transporte, implica uma intervenção determinada. É isso que

nos leva do ponto de partida ao ponto de chegada, da partida à meta. O ser humano está espalhado por todo um sem número de acções. Ser é agir, ser humano é já em acção. As acções podem parecer as mais simples que existem: respirar, ver e ouvir, levantar-se e ir-se embora ou deslocar-se com um determinado fim em vista. Sou sempre eu o protagonista de todas as acções. Podemos também agir em proveito próprio ou com prejuízo, reflexivamente ou passivamente. Podemos estar expostos à acção de terceiros, agentes da passiva a que nos expõem. A doença adoece-nos, a saúde convalesce-nos, o trabalho cansa, somos levantados e deitados, vestem-nos e despem-nos, como fazem as avós na infância. A percepção que cada um tem de si próprio não permite perceber que há limites estanques em cada uma destas acções, ainda que as consigamos compreender num horizonte de limites opostos. Vestir é o contrário de despir, adormecer de acordar, nascer de morrer, etc., etc.. Mesmo aqui se percebe que somos protagonistas de acções contrárias uma da outra. Sou eu quem adormece e que acorda, quem se veste e despe, que se molha e enxuga, anda, para, senta-se, deita-se, levanta-se. Tudo sem nos

Por defeito existir é ser o tempo que passa. O tempo começou a passar desde o primeiro instante. Desde o princípio que somos suficientemente velhos para morrer. Ser no tempo é ser a morrer

Infinitivos apercebermos do limite estanque, das fronteiras temporais e espaciais complexas que se erguem entre cada uma das acções. Nós compreendemos que antecipamos acordar no dia seguinte quando vamos para a cama dormir e quando nos levantamos, depois de acordar prevemos sem pensar nisso que vamos dormir à noite ou quando estivermos com sono. Antecipamos o sítio onde descansar depois do almoço para recuperar com a sesta para a travessia da tarde, o dia inteiro de manhã com todas as tarefas a desempenhar, funções a exercer. Sou eu no fim do dia que traz consigo como uma cauda do cometa ainda muito próxima da sua cabeça todo o dia que passou, até um fim de semana inteiro, umas férias, um ano lectivo ou os anos da vida. Ser eu, o sou implicado no ser da minha vida, está distendido para lá dos limites que se estabelecem de forma abstracta entre início, começo, princípio e fim. A percepção que cada um tem de si próprio, a propriocepção excede todas as acções, mesmo acções paralelas a decorrer em simultâneo e a coexistirem, desde sempre já e até à hora da nossa morte. Todas as acções estabelecem um hiato entre si mesmo quando se repetem. Quantas vezes adormecemos e acordamos, mergulhamos na praia e nos secamos, adoecemos e convalescemos, começamos a trabalhar e descansamos? E somos sempre nós a fazer transitar acções para o interior de outras acções, iniciá-las e terminá-las deixar decorrer em simultâneo, deixar para o dia seguinte, interromper provisória ou definitivamente. Nascer aproxima-se mais do sentido do ser enquanto a acção originária, a proto acção ou a arqui acção no interior do qual decorre tempo. Nós próprios somos passivos relativamente ao nosso nascimento. Precisamos de pai e de mãe ou de engenharia genética. Não nos fazemos a nós próprios, não nos fazemos nascer a nós próprios, mesmo que muitas vezes renasçamos ou ressuscitemos como se fosse a partir desses momentos que tudo começasse a ser a sério, como quando amamos e somos amados. E, mesmo assim, diz o poeta que “aqui não se pode amar senão deixar-se amar”. E mesmo que se diga no nosso idioma: “temos virão”, temos a a percepção do tempo, a percepção de si próprio a sermos sempre a passar de forma ininterrupta, descobrimo-nos a crescer em diversas fases, quase aos solavancos, os pelos púbicos e a barba, o cabelo que cai e o rosto que envelhece. O tempo passa irreversivelmente. Somos o tempo que passa no tempo que vem sempre para passar a partir da sua própria essência. Por defeito existir é ser o tempo que passa. O tempo começou a passar desde o primeiro instante. Desde o princípio que somos suficientemente velhos para morrer. Ser no tempo é ser a morrer. Não se morre nunca apenas na hora da nossa morte senão a partir do primeiro instante, logo ao nascer.


ARTES, LETRAS E IDEIAS 17

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PLANO DE CORTE José Navarro de Andrade

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STIVÉSSEMOS na Roma Antiga e a Grande Noite dos Óscars de 2019 seria o equivalente ao desfile triunfal do general conquistador ao longo do fórum até ao templo de Júpiter, aclamado em apoteose pela multidão e arrastando atrás de si os despojos. Para que não se deslumbrasse, o escravo que suspendia a coroa de louros sobre a sua cabeça segredava-lhe: “memento mori” (“lembra-te que és mortal”). Que vitória se celebrou na passada noite de 24? A da admissão da Netflix na MPAA ocupando o assento deixado livre pela Fox entretanto fundida com a Disney. Para que o simbolismo do acto não passasse em claro esta nomeação foi anunciada a 22 de Janeiro, dia em que se divulgaram os candidatos aos Óscars entre os quais, pela primeira vez, constava uma produção da Netflix – “Roma”. Em terra de filmes nenhuma coincidência é deixada ao acaso. A Motion Pictures Association of America representa os interesses dos grandes estúdios que se supõe coincidentes com os interesses da indústria em geral. Luta infatigavelmente desde 1922 junto dos legisladores para que nada prejudique e muito incentive a economia do cinema. Em resumo: faz lobby em Washington. Um dos seus presidentes mais famosos, dinâmicos e determinantes foi Jack Valenti que entre 1966 e 2004 conseguiu garantir, por entre ventos e marés

Outra vez Roma extremamente adversos, não só a sobrevivência como o crescimento da produção cinematográfica. Foi ele o homem que tomou tantos pequenos-almoços quantos os necessários com o Presidente Clinton até dar cabo das veleidades da Microsoft em subordinar a indústria de cinema à economia das então apelidadas de “novas tecnologias.” O espectador menos distraído ou que chega a horas ao cinema deve ter reparado que à cabeça dos filmes, depois de surgido o logotipo de uma conhecida “major”, sucedem-se nomes de empresas de produção pouco memoráveis. Disney, Universal, Paramount, Warner, Sony (ex-Columbia) concentram sobretudo o seu investimento na distribuição, ou seja, na parte comercial da fileira, e entregam os afazeres da produção propriamente dita a estas companhias. Toda esta constelação tem como clientes principais as companhias de exibição, ou seja, as donas de salas de

cinema. A seguir vêm as televisões, nos seus diversos formatos. A maior destas cadeias é a AMC que “por acaso” é desde 2012 propriedade de um poderoso grupo chinês, o Dalian Wanda Group. Um certo mau-estar, portanto. Entra então em cena a Netflix. Até à chegada deste serviço a hecatombe da indústria musical acontecida no início do século gerou uma forte e quase irremovível suspeita no cinema em relação a tudo que tivesse a ver com a internet. Pior do que a pirataria foi a cultura que ela desenvolveu, a ideia de que a música ou o audiovisual são bens comuns, como o ar que se respira, cujo acesso e usufruto é um direito gratuito. Isto é tão tolo como achar que as costeletas aparecem no supermercado por milagre. O percurso da Netflix foi tudo menos previsível como são sempre as grandes transformações. E, também como de costume, resultou de uma série infindável de decisões, umas circunstanciais outras

Uma poltrona na MPAA, uma obra prestigiada por prémios e louvores dantes reservados ao circuito do cinema, um modelo de negócio radiante – o mundo não está a mudar, já mudou. E a arma fumegante foi encontrada na mão da Netflix

estrategicamente audazes, à imagem das partículas postas a correr num acelerador até que da sua colisão deflagre matéria nova. Tal como as majors assim a Netflix foi acrescentando à sua actividade de distribuição o investimento na produção até atingir o ponto de não-retorno e de consolidação actual. De início vista e combatida como concorrente, mesmo como intrometida, mal deu sinais de generosidade em relação aos produtores, a Netflix tornou-se um parceiro deveras interessante na fileira do cinema. Veio oferecer a produtores e distribuidores uma alternativa à exibição em sala, deu-lhes acesso a um mercado irresistivelmente crescente e inexplorado, a internet, introduzindo a lei a ordem no que era um faroeste. Os índios desta história são os canais de TV cabo pagos – a HBO, por exemplo – cujo público está a migrar para outras plataformas e as salas de cinema que embora ainda não sintam na bolsa – o ano de 2018 terá sido o mais rentável de sempre – já sentem na estratégia o efeito desta concorrência: menos filmes, mais bombásticos (e caros), para um público afuniladamente adolescente. Isto vai acabar mal… Uma poltrona na MPAA, uma obra prestigiada por prémios e louvores dantes reservados ao circuito do cinema, um modelo de negócio radiante – o mundo não está a mudar, já mudou. E a arma fumegante foi encontrada na mão da Netflix.


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Albergue 6 5SCM9| 18h30 8

3 7 2 4 0 0 1 2 5 9 6 4 3 8 Amanhã MÚSICA 7 |33º 8 ANIVERSÁRIO 3 4 1DA RUC 0 COM 5 MODULAR 2 6 EXTRAVAGANZA E FASLANE LMA4| 22h0 7 3 8 1 9 6 2 5 9 1 7 0 2 6 8 3 Diariamente 2 4 | “REENCARNAÇÃO” 8 1 6 3DE ALLEN 7 9WONG5 EXPOSIÇÃO Creative Macau | Até 9/03 9 3 6 2 4 5 0 1 7 3 6 | OBRAS 5 9PRIMAS 7 DE4ARTE8RUSSA 0 1 EXPOSIÇÃO MAM | Até 22/04 8 7 0 6 2 9 1 5 4 EXPOSIÇÃO 1 2 | ESCOLA 4 0DE PINTURA 5 8 DE3XANGAI 7 9 MAM | Até 10/03

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EXPOSIÇÃO | 3ª TRIENAL DE GRAVURA DE MACAU Centro de Arte Contemporânea, Galeria Tap Seac, Galeria 9 4Temporárias 6 2 do7IAM, 0Galeria 8 de 3Exposições 1 de 5 Exposições e Casa Nostalgia das Casas da Taipa | Até 17 de Março

2 8 1 4 6 0 3 7 7 6 9 1 Cineteatro 4 5 7 8 3 1 8 0 1 2 0 9 8 4 6 5 0 3 5 2 9 7 2 3

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HAPPY DEATH DAY 2 U SALA 1

HAPPY DEATH DAY 2 U [C]

Um filme de: Tomonori Sudo 19.15

Um filme de: Christopher Landon Com: Jessica Rothe 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 3

SALA 2

BEN IS BACK [C] Um filme de: Peter Hedges Com: Julia Roberts, Lucas Hedges 14.30, 16.30, 21.30

FATE/STAY NIGHT HEAVEN’S FEEL II - LOST BUTTERFLY [C] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS

THE WANDERING EARTH [B] FALADO EM PUTONGHUA LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Frant Gwo Com: Jing Wu, Chuxiao Qu, Guangjie Li, Man-Tat Ng, Jin Mai Jaho 14.30, 19.15

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SOLUÇÃO DO PROBLEMA 10

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Nadia faz 36 anos e está 4 3festa9de8celebra6 1 numa ção do seu aniversário. 7 4 5 0 3 9 No final, morre. Nadia 6 0e volta 2 3 8 5 acorda à mesma festa. Volta a morrer. E 0 8 1 2 4 6 assim sucessivamente. 1 cada 2 6regresso 7 9 há4 Em uma história a ser con3 5 7 6 2 0 tada, uma festa a ser 8 9 uma 4 1 5 7 revivida, conversa a ter e um fenómeno que a protagonista, interpretada por Natasha Lyonne, não consegue explicar. No início “A boneca russa” até parece repetitiva, mas com o avançar dos episódios impõe a reflexão e uma curiosidade crescente. Sofia Margarida Mota

www. hojemacau. com.mo

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DO ESPANTO

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Um polícia despistou-se ontem por volta da 1h30, na Avenida Dr. Sun Yat Sen, na Taipa, e precisou de ser transportado para o hospital. O agente foi o único envolvido no acidente.

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DRAGON BALL SUPER BROLY [B] FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS Um filme de: Tatsuya Nagamine 16.45, 21.30

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PROBLEMA 11

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S U D O K U

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Hoje FOTOGRAFIA | EXPOSIÇÃO “RAÍZES LUSÓFONAS 7 VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO

EXMOO

8 2 0 7 2 0 6 8 9 TEMPO PERÍODOS DE CHUVA MIN 19 MAX 23 HUM 75-98% • 2 3 4 8 0 1 5 9 2 O QUE FAZER 4 8 ESTA SEMANA 5 7

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10 durante uma entrevista que Ontem fiz1 voltei da facilidade 0 a apercebe-me 2 3 7 com que esquecemos o que um dia 6 nos 3 surpreendeu9ou nos 5 nos encantou, fez sentir estar 7 num 0 lugar diferente, 4 8no momento de chegada a Macau. Foi 9 sentir 8 o espanto 4 5 para 6 preciso do outro voltar a reparar8que9neste canto 4 3 do mundo os letreiros se apresentam em 0 linguagens 7 duas diferentes, para voltar 6 a sorrir como 1 quando vi pela primeira 5 vez a denominação de estabelecimento 0 restaurantes 2 9 locais. 1Foi comercial nos preciso que me avisassem de que 6 1 vivo num lugar invulgar em que piso as pe4da3calçada da minha 0 6 dras terra quando 8 atravesso o largo do Senado. Agora, os pauzinhos que me enchem a gaveta 12talheres da cozinha lá de casa - em dos vários tamanhos 9 2 para7diferentes 4 finali0 6 dades - já não são aqueles instrumentos 4que me deram cabo da cabeça 5 exóticos e da coordenação quando 5 7 8 6há anos os 0 pedia nos restaurantes chineses, lá do 0 lado 3 do mundo. 6 Estas 4 outro e outras 9 aparentes minudências são de 0 3 facto o que faz a singularidade deste pedaço de 2 um dia nos tocaram 5 terra, aspectos que e que agora3estão quase esquecidos. 7 6 4 Coisas que sem darmos por ela, nos 6 mais ricos, mais 1 9cheios, mais 2 tornaram nós. Foi bom que me tivessem dado 7 9 5o ontem o alerta de que a capacidade de 4 8não deve 1 ser aniquilada 9 pela 3 espanto normalidade. Sofia Margarida Mota

“A BONECA RUSSA”

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Diana do Mar, João Santos Filipe; Sofia Margarida Mota Colaboradores Amélia Vieira; António Cabrita; António Castro Caeiro; António Falcão; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; José Drummond; José Navarro de Andrade; José Simões Morais; Luis Carmelo; Michel Reis; Nuno Miguel Guedes; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; David Chan; João Romão; Jorge Morbey; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo

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opinião 19

sexta-feira 1.3.2019

um grito no deserto

U

A rapsódia da “Grande Baía”

M soldado que não quer ser general, não é um bom soldado. De igual modo, um povo que não tem aspirações, não pode ser pioneiro de reformas. As “Linhas Gerais do Planeamento para o Desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau” foram lançadas a 18 de Fevereiro de 2019. O novo papel de Macau nas Linhas Gerais do Planeamento é tornar-se “uma base de intercâmbio e cooperação que, tendo a cultura chinesa como predominante, promova a coexistência de diversas culturas”. Este papel deve coexistir com a sua condição de Centro Mundial de Turismo e Lazer e de Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Cada local tem o seu contexto histórico e as suas características ambientais. Macau é a mais pequena das nove cidades e das duas regiões adminstrativas especiais abrangidas pela Grande Baía. Macau também tem a maior densidade populacional e o maior número de carros em circulação. Para ser um verdadeiro Centro Mundial de Turismo e Lazer, Macau precisa, em primeiro lugar, de resolver o problema criado pelo afluxo de turistas, num número que excede largamente a sua capacidade de acolhimento. Quando uma cidade deixa de ser habitável, incapaz de proporcionar emprego e de acolher o turismo em boas condições, muito dificilmente pode ser considerada um centro de lazer. Para que isto volte a ser possível, a cidade terá de reencontrar o espaço necessário para a circulação de transportes e de tráfico rodoviário, e de reduzir o afluxo de turistas para um número comportável. Quanto à sua condição de Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, parece que o que está em jogo é mais a questão política do que propriamente a questão económica. Enquanto catalizador da cooperação comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, se se limitar a organizar o Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial da China e os Países de Língua Portuguesa, esse papel não se cumprirá. Se analisarmos a quantidade de pessoas que, actualmente, falam as duas línguas em Macau, verificaremos este número precisa de aumentar urgentemente. É também necessário melhorar o domínio do português junto daqueles que já o falam. Embora o português seja uma das línguas oficiais de Macau, o seu ensino não está tão disseminado como o do inglês, ao nível do

IREM BARUT, CHAOS IN THE CITY

PAUL CHAN WAI CHI

ensino não superior. Uma das formas mais eficazes de popularizar o seu uso, será torná-lo objecto de estudo obrigatório ao nível ensino não superior. No Planeamento para o Desenvolvimento da Grande Baía, propõe-se que o foco na inovação em ciência e tecnologia seja uma priopridade, que é precisamente uma área

em que Macau tem estado a ficar para trás. A realidade actual de Macau passa pela existência de muitas associações e comités, que acarretam inúmeras despesas sem produzirem resultados palpáveis. Nos últimos 20 anos, após a transferência de soberania, além da singular prosperidade da indústria do jogo, a realidade é que existe muito pouco

Quando uma cidade deixa de ser habitável, incapaz de proporcionar emprego e de acolher o turismo em boas condições, muito dificilmente pode ser considerada um centro de lazer Ex-deputado e antigo membro da Associação Novo Macau Democrático

investimento na área da inovação em ciência e tecnologia. O projecto de transformar Macau numa cidade inteligente está ainda numa fase embrionária. Para que se venha a tornar num verdadeiro motor do Desenvolvimento da Grande Baía, Macau tem de apostar nos seus pontos fortes, manter-se afastado das áreas em que não apresenta competências e dedicar-se de forma empenhada e competente à área do turismo e do lazer. Terá de maximizar as suas vantagens únicas, criadas pela indústria do jogo, e melhorar a imagem e as capacidades da cidade, de forma a desenvolver a qualidade da sua oferta turística. Só desta forma poderá acompanhar o ritmo de desenvolvimento de Guangzhou, Shenzhen e de Hong Kong. Para que o plano de desenvolvimento de uma cidade parta da sua própria iniciativa, e não de iniciativas alheias, é necessário que tenha vontade e poder de concretização. Se o plano não puder ser implementado com a força de trabalho local, mas implicar a contratação de especialistas estrangeiros, significa que não foi concebido pela própria cidade. Dos 660.000 habitantes de Macau, mais de 180.000 são estrangeiros não residentes. Esta população não residente criou problemas de acessibilidade, de habitação e de transportes. Estes problemas mostram que Macau está a passar por um processo de desenvolvimento que não é saudável. A prioridade deveria ser apostar no desenvolvimento do capital humano local e não na sua importação, para que Macau possa vir a ser “uma base de intercâmbio e cooperação que, tendo a cultura chinesa como a predominante, promova a coexistência de diversas culturas”. Analisando a parte do Planeamento para o Desenvolvimento da Grande Baía, que se refere à colaboração entre Macau e Zhuhai, em relação a Hengqin, ficamos com a ideia que pode vir a constituir um motivo de preocupação para as gentes de Macau. Para Macau poder encontrar uma solução para o problema da sua elevada densidade populacional, tem de maximizar a oportunidade de colaboração com Zhuhai no desenvolvimento de Hengqin. Através do Planeamento para o Desenvolvimento da Grande Baía, Macau pode tornar Hengqin numa nova área residencial para os seus habitantes. A legislação para governar esta nova área deverá ser apresentada em conjunto pelos Executivos de Zhuhai e de Macau e posteriormente submetida à aprovação do Governo Central. A ideia é transformar a Nova Área de Hengqin numa região especial partilhada por Zhuhai e por Macau. Deng Xiaoping disse que devemos ser ousados e rápidos na acção, quando se trata de implementar reformas. Transformar a Nova Área de Hengqin num distrito satélite de Macau será, para a cidade, a principal mais valia do projecto contido no Planeamento para o Desenvolvimento da Grande Baía.


Mais penosas são as consequências da ira do que as suas causas. PALAVRA DO DIA

Marco Aurélio

O ovo ou a galinha? Experiência de dois anos para exercer profissão levanta dúvidas a deputados

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UEM nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? É uma questão como esta que está a ser levantada pelos deputados da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que estão a analisar na especialidade a lei do registo e exercício da profissão de contabilistas habilitados. Esta é a futura designação para os actuais auditores de contas. No que diz respeito aos pedidos de licença para exercer a profissão de contabilista habilitado é exigido que haja uma experiência de “pelo menos, dois anos”. Desta, um ano da experiência ter de ser na RAEM e nos três anos anteriores à data de apresentação do pedido. “O diploma não responde às dúvidas sobre o que é necessário cumprir em primeiro lugar, se é a experiência ou a licença para exercer. Mas se as pessoas precisam de

O Paquistão libertará esta sexta-feira, como “um gesto de paz”, o piloto da força aérea indiana que foi capturado na quarta-feira, disse o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, diante dos parlamentares do seu país. “Em gesto de paz, vamos libetrar o piloto indiano” na sexta-feira, disse o chefe de Governo diante da Assembleia Nacional paquistanesa. O avião do tenente-coronel Abhinandan Varthaman foi abatido sobre a Caxemira paquistanesa na quarta-feira, durante um combate aéreo raro entre as duas potências nucleares. O primeiro-ministro paquistanês reiterou a sua oferta de conversações com Nova Deli, dizendo que esta é a única maneira de resolver todos os problemas. O Paquistão já se tinha manifestado ontem pronto para libertar o piloto da força aérea indiana capturado na quarta-feira, com o objectivo de ajudar a “reduzir a tensão” com a Índia, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros paquistanês.

que será realizada depois de uma primeira análise do diploma.

CRITÉRIOS MAIS APERTADOS

Outra das alterações que os deputados querem compreender é a escolha pelo estabelecimento de critérios mais apertados para o acesso à profissão.Até agora, os candidatos ficavam impedidos de obter uma licença caso tivessem cometido um crime no exercer da profissão. Porém, a nova lei especifica a questão ao dizer que se cometerem um crime com uma punição superior a 3 anos de prisão ou qualquer crime contra o património. “Quando se fala dos crimes contra o património, há muitos tipos de crimes, como roubo ou furto. Queremos perceber a razão do acesso ser mais rigoroso”, apontou Vong Hin Fai. Em sentido contrário, deixa de ser exigido que os candidatos tenham autorização de residência em Macau, critério que consta na legislação em vigor. J.S.F.

TIAGO ALCÂNTARA

Paquistão Piloto indiano capturado vai ser libertado

exercer durante dois anos para ter a licença, como é que podem exercer sem essa licença?”, começou por questionar Vong Hin Fai, presidente da comissão. “É um pouco como a situação de tentar perceber quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha”, acrescentou. No que diz respeito à actividade de auditores e contabilistas, actualmente há um regime de estágio. Esta seria eventualmente uma solução para este problemas. Contudo, a nova lei não tem qualquer ponto para regular os estágios na profissão. “Segundo a legislação em vigor há a possibilidade de fazer um estágio, que depois é concluído com um relatório. Mas a nova lei, que vai substituir os diplomas em vigor, não prevê esta possibilidade”, foi explicado. Estas questões vão ser colocadas durante a primeira reunião com os membros do Governo,

Eurovisão Ucrânia desiste de participar sob acusação de pressões políticas

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A Ucrânia renunciou ontem a participar no festival da Eurovisão, depois de a televisão pública ucraniana não ter conseguido um acordo com nenhum dos três primeiros classificados nacionais, nomeadamente a vencedora, que acusa a estação pública de pressão política. A UA:PBC, estação pública de televisão da Ucrânia, anunciou ontem, de acordo com as agências internacionais de notícias, que “renuncia a participar no festival internacional da canção da Eurovisão 2019”, que decorre em Maio, em Israel. A Ucrânia tomou a decisão de se excluir da edição deste ano depois de a vencedora do concurso nacional, Maruv, ter renunciado, na segunda-feira, a representar o país por pressões políticas, segundo afirmou, numa decisão secundada ainda no mesmo dia, pela segunda classificada e, ontem pela terceira. “Sou cidadã ucraniana, pago impostos e amo a Ucrânia com toda a sinceridade. Mas não estou disposta a actuar sob lemas que convertem a minha participação no concurso numa campanha de promoção dos nossos políticos”, escreveu Maruv na sua página na rede social Facebook.

Vong Hin Fai, deputado “O diploma não responde às dúvidas sobre o que é necessário cumprir em primeiro lugar, se é a experiência ou a licença para exercer. Mas se as pessoas precisam de exercer durante dois anos para ter a licença, como é que podem exercer sem essa licença?”

sexta-feira 1.3.2019

LOCAÇÃO ISENÇÕES FISCAIS NÃO PREOCUPAM EXECUTIVO

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Governo não está preocupado com a eventual perda de receita fiscal relacionada com as isenções atribuídas às empresas de locação financeira, actividade também conhecida como leasing, no âmbito do regime de benefícios fiscais para este sector. O cenário foi traçado, ontem, pelo deputado e presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, Chan Chak Mo. “Perguntámos se haveria algum problema com os benefícios fiscais. Mas o Governo disse-nos que não. Apenas poderá haver uma receita fiscal mais reduzida”, revelou o deputado. De acordo com o diploma, os rendimentos ligados ao leasing gerado pelas empresas no exterior e vindos para Macau ficam isentos do imposto complementar de rendimento, desde que tenham pago a tributação no exterior. Já em relação aos rendimentos internos da actividade, a taxa máxima aplicável é de 5 por cento, quando o regime actual, dependendo do montante dos rendimentos, permite que sejam atingidos valores de 12 por cento. Porém, o Executivo não apresentou uma previsão aos deputados sobre em quanto as finanças públicas vão ser afectadas: “O Governo não nos informou sobre qual será o valor. Actualmente, existem duas empresas deste género em Macau, mas não foram apresentadas contas”, explicou Chan. A comissão assinou ontem o parecer dos trabalhos de análise na especialidade no diploma. Este regime fiscal, que tem como principal objectivo diversificar a economia e atrair mais empresas de leasing para Macau, tem agora de ser votado no plenário. O Executivo não conseguiu adiantar aos deputados o número de empresas que espera atrair com este regime.


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