h - Suplemento do Hoje Macau #65

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14 12 2012

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C H I N A C

大同

DATONG

CAP

António Graça de Abreu ABRIGADA NO norte da província de Shanxi, encostada à Grande Muralha, às fronteiras milenares da velha China, Datong pode orgulhar-se de possuir uma história antiquíssima. Hoje em dia, quando o comum dos chineses ouve falar em Datong, associa o nome ao carvão, e também às grutas budistas de Yungang que datam do século V e distam dezasseis quilómetros da cidade. Mas há muitas mais histórias para contar. Situada a 350 quilómetros de Pequim, o burgo foi outrora, e continua a ser hoje, um ponto chave de ligação entre a China e a Mongólia. No ano já distante de 1981, passei duas vezes por Datong, de comboio. Primeiro, no pino do Verão a caminho de Huhot, capital da Mongólia Interior chinesa e cinco meses mais tarde, na extrema do Inverno, com tudo coberto de neve e temperaturas de quinze graus negativos, no Transiberiano, o comboio que desde Pequim me levou à Mongólia, à Sibéria e finalmente a Moscovo. No passado, eram infindáveis as caravanas de camelos que lentamente iam unindo as terras do norte da China às paragens mongóis da Ásia Central, e era em Datong que os viajantes das longas jornadas encontravam um dos lugares de albergaria e acolhimento. Em 2004, na Primavera, e em 2011, no Verão, passei finalmente umas noites em Datong e agora sim, deu para a tarefa impossível de tentar conhecer e entender a cidade. Datong foi capital da breve dinastia Wei do Norte (386-494), os homens construtores das grutas budistas de Yungang. Chamava-se então Pingcheng e a sua fundação data do século III a.C. Com o povo Liao que ocupou toda a região a partir de 907, mudou de nome e passou a chamar-se Datong que significa “grande união”, o que corresponde a um conceito importante da moral confuciana. Confúcio fala pela primeira vez em Datong -- não a cidade mas o princípio de bom governo --, no礼记 Li Ji, ou “Livros dos Ritos” associando os dois caracteres “da tong” 大同 à grande unidade, à harmonia utópica que devia reinar entre os homens. Os Liao e depois os Jin (1115-1234), povos sinizados que chegaram a governar o norte da China e a Mongólia, encheram a cidade de magníficos templos budistas, alguns deles ainda hoje existentes, poupados à fúria destruidora de inúmeras rebeliões e conflitos que ciclicamente assolaram estas paragens do norte do império chinês. Na minha primeira estadia em Datong, Abril

de 2004, mal instalado num hotel feio e desconfortável construído nos anos cinquenta do século passado destinado aos especialistas soviéticos que, como técnicos, ajudavam os chineses a “construir o socialismo”, transportando para a China maquinaria e tecnologia já então obsoleta, nessa primeira visita fiquei com muito má opinião da cida-

de. Havia poeira amarela no ar vinda do não muito distante deserto de Gobi, havia fumo negro e restos de carvão um pouco por todo o lado -- a cidade está rodeada por minas de carvão. Infelizmente, Datong tinha a fama e o proveito de ser uma das cidades mais poluídas da China. E entre as dez cidades mais poluídas do mundo nove são chinesas.

Ainda hoje, 64% da energia eléctrica produzida e consumida no país tem por origem o carvão e a China é o maior consumidor de carvão a nível mundial. Existem minas um pouco por toda a parte, às vezes a funcionar em condições de absoluta precaridade e insegurança o que faz com que o número de mortos por acidentes ultrapasse os 3.000 por ano.


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