A CADEIA ECONÔMICA DO FUTEBOL BRASILEIRO E DE FLORIANÓPOLIS (por Henrique Santos)

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A CADEIA ECONÔMICA DO FUTEBOL BRASILEIRO E DE FLORIANÓPOLIS

por HENRIQUE SANTOS

JORNALISTA

BACHAREL EM ADMINISTRAÇÃO EMPRESARIAL PÓS-GRADUADO EM GESTÃO DO ESPORTE

EDITOR E ARTICULISTA DO PORTAL MEUFIGUEIRA, MARCOUNOESPORTE, ESPN FC, ENTRE OUTROS

Abril 2023

Abril 2023

[Subtítulo do documento]

APRESENTAÇÃO

O futebol brasileiro possui poucos e atuais dados acerca do seu papel na cadeia produtiva (geração de emprego, renda, receita, tributos), direta, mas, em especial, indiretamente. Um estudo realizado em 2019 pela consultoria Ernst & Young apresentou dados do poderio do futebol nacional na economia1 .

O estudo trouxe números referentes a 2018, porém, após esse período houve a pandemia (2020-2022), bem como renegociação das cotas de tv, aumento nos prêmios e incremento em diversas áreas do esporte, incluindo a entrada do mercado de apostas esportivas. A CBF, por exemplo, teve mais de R$ 1 bilhão de arrecadação somente em 2022, o mesmo montante do Flamengo, o líder em receitas no Brasil. Já, reportagem publicada pelo UOL2 acerca das apostas esportivas destaca que a estimativa é de que o setor invista R$ 3 bilhões em patrocínios e publicidade por ano, entre camisas de times, placas de campeonatos e espaços na mídia (televisões, sites, vídeos de youtube). O número é do governo federal que levantou dados sobre o tema para regulá-lo.

Na época da apresentação do “relatório sobre o papel do futebol na economia do país”, o percentual no PIB brasileiro representava 0,72%, algo em torno de R$ 48,8 bilhões, sendo a CBF, as Federações Estaduais e clubes responsáveis diretos por R$ 11 bilhões. Só em tributos, o futebol representou R$ 761 milhões em arrecadação. Foram gerados mais de 156 mil empregos em 2018, que representaram R$ 3,34 bilhões em salários e encargos sociais. Se trouxermos para a realidade de 2022, mantendo o mesmo percentual, este número hoje chegaria a R$ 70 bilhões considerando o PIB do ano passado na casa dos R$ 9,9 trilhões, conforme projeção do IBGE. Mas, como dito acima, houve pandemia (ponto negativo), além das renegociações de contratos de mídia e a entrada do mercado de apostas no futebol nacional (pontos positivos).

1 Estudo realizado pela Ernst & Young e apresentado pela CBF em 2019. Disponível em https://www.cbf.com.br/a-cbf/informes/index/cbf-apresenta-relatorio-sobre-papel-do-futebol-naeconomia-do-brasil

2 Texto do jornalista Rodrigo Mattos para o UOL. Disponível em https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/rodrigo-mattos/2023/04/23/apostas-esportivasgeram-r-3-bilhoes-em-patrocinios-e-publicidade.htm

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De acordo com o estudo da EY, se a CBF, Federações Estaduais e clubes contribuíram diretamente com R$ 11 bilhões na composição do nosso PIB, indiretamente foram responsáveis por outros R$ 37,8 bilhões, alavancados a partir da relação entre eles e a mídia, patrocinadores, torcedores, indústrias, logísticas e governos.

Futebol brasileiro representa 0,72% do PIB

(+ de R$ 70 bilhões)

Em 2021, os 20 clubes de maior faturamento do Brasil tiveram uma receita total de R$ 6,972 bilhões

"A relevância do futebol deve ser vista como negócio e não só como lazer. É um setor produtivo que afeta diretamente nossa economia" –afirmou Walter Feldman, ex-Secretário Geral da CBF

Trazendo os dados para Santa Catarina e utilizando o mesmo percentual nacional, 0,72% de contribuição do futebol para o PIB local, que alcançou R$ 350 bilhões em 2020, o futebol catarinense representaria algo em torno de R$ 2,5 bilhões por ano. Logicamente, estão inclusos neste montante os principais clubes do estado (Avaí, Brusque, Chapecoense, Criciúma, Figueirense, Joinville, entre outros), além de Federação, Ligas e toda a cadeia produtiva. Ainda segundo os dados da EY, as receitas são divididas de tal forma:

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• 55% matchday

• 33% clubes

• 4% hotelaria

• 4% outros

• 3% mídia

Da mão de obra empregada, a maior parte (55%) é de pessoas envolvidas nas operações de jogos, chamado Matchday

Podemos dividir tal relação da seguinte forma: Matchday - estrutura para realização das partidas, com seguranças, orientadores, stewards, dentre outros. Demais atores envolvidos direta e indiretamente: CBF, Federações Estaduais, advogados e juristas esportivos, setor de hospitalidade, setor logístico, aviação, arbitragem e empresas de material esportivo.

Além disso, há geração de empregos e renda diretamente envolvidos nas competições disputadas em âmbito nacional. Em 2018, foram cerca de 156 mil postos de trabalho. “Os estádios, através de seus postos de empregos gerados a cada partida, alimentação e bebidas, são responsáveis por mais da metade do total de postos de trabalho gerados, alcançando aproximadamente 55% do total, reforçando que o principal gerador de empregos do Futebol Brasileiro é o espetáculo em si”, relata o estudo da EY.

No entanto, ainda há grande potencial para o futebol nacional crescer e alavancar tais números. A projeção é que se o campeonato da Série A chegar a 70% de ocupação dos estádios (alcançava 48% em 2018), haveria o incremento considerável em receitas e postos de trabalho.

“Para cada 1% de aumento da taxa de ocupação média dos estádios do Campeonato Brasileiro, seriam gerados aproximadamente R$ 4 milhões em todo o campeonato, isso desconsiderando um provável e natural incremento do ticket médio. Realizamos o mesmo exercício para a geração de empregos nos estádios, onde poderiam ser gerados aproximadamente 8 mil novos empregos

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diretos no Matchday, um aumento de 14% de postos de trabalho nos estádios utilizados na Série A”, destaca a EY e CBF.

Em 2021, os 20 clubes de maior faturamento do Brasil, na somatória das receitas individuais apresentadas abaixo, tiveram uma receita total de 6,972 bilhões de reais, demonstrando assim uma forte recuperação referente ao ano de 2020 e atingindo o maior patamar da história3

Da mão de obra empregada, a maior parte (55%) é de pessoas envolvidas nas operações de jogos, o Matchday

55% matchday

33% clubes

4% hotelaria

4% outros

3% mídia

Em Florianópolis, no ano de 2022, quando Avaí disputava a Série A e o Figueirense estava na Série C, a ocupação da Ressacada e do Scarpelli,

3 https://cassiozirpoli.com.br/o-ranking-de-receitas-dos-clubes-do-brasil-em-2021-20-maiores-geraramr-69-bilhoes/

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A cadeia produtiva do futebol supera 200 mil postos de trabalho criados

respectivamente, alcançou marcas próximas aos 48% da média nacional. No estádio avaiano, foram 9.466 torcedores por jogo, enquanto na casa alvinegra estiveram pouco mais de 8.8 mil espectadores em média. Dessa forma, o Avaí chegou aos 53% de ocupação. Já o Figueirense atingiu em torno de 45%4 .

Logo, o futebol praticado em Florianópolis ficou na média nacional, ou seja, cerca de 48%.

Deve-se, no entanto, considerar os cenários em que os maiores públicos foram registrados (adversários de grande porte como Flamengo, Palmeiras e Corinthians, além das promoções realizadas e a reta final da Série C), o que, por si só, inflacionou os percentuais.Arealidade, porém, deve ser diferente em 2023, haja vista que o Avaí se encontra na Série B e o Figueirense pode não disputar o acesso.

Por isso, mostra-se tão relevante elencar ações para fortalecer quem tanto contribui para a economia local, casos de Avaí e, especialmente no caso deste estudo, do Figueirense. Assim, este estudo pretende destacar os seguintes pontos a fim de auxiliar a quem milita no desporto: pertencimento; ocupação dos estádios; geração de emprego e renda; atuação do poder público; percentual do futebol no PIB brasileiro e catarinense.

Incremento de público, renda e receita na cadeia produtiva do futebol

4 Pesquisa realizada no site da CBF por meio das análises dos documentos disponibilizados pela entidade ao fim de cada jogo de Avaí e Figueirense no Campeonato Brasileiro de 2022.

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Pertencimento Casa Cheia Apoiodo poder público Valor agregado

Figueirense e Avaí estão situados numa região de cerca de 1 milhão de habitantes, somando as quatro principais cidades: Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu. O alvinegro, por estar localizado no Continente, e ter seu Centro de Treinamento em Palhoça, teoricamente abrange uma população maior que o rival. No entanto, ambos sofrem com algo peculiar, a falta de representatividade no interior do estado.

Enquanto no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, por exemplo, os times da Capital são também fortes no interior, em Santa Catarina, cada região tem seu representante e quem é de fora da cidade pouco tem relevância. Logo, o contingente deAvaí e Figueirense resumese à Grande Florianópolis, sendo que boa parte dos moradores não é local e ainda traz consigo suas preferências por outros clubes como Grêmio, Internacional, Flamengo e Vasco principalmente.

Um levantamento do “Apostagolos.com” mostra que o Flamengo é o clube mais pesquisado da internet, no Brasil. O rubro-negro liderou em 21 dos 26 estados, além do Distrito Federal, como a agremiação mais buscada na web. Santa Catarina, inclusive, está entre os estados que mais buscaram o Flamengo na internet. O Palmeiras foi o maior concorrente dos cariocas em buscas5

Nosso estado é o único da Região Sul com o maior equilíbrio de forças, com Avaí, Figueirense, Chapecoense, Criciúma e Joinville; Santa Catarina não teve nenhum clube que conseguisse alcançar pelo menos 1% no ranking das maiores torcidas brasileiras.

Já a pesquisa DNA Torcedor, divulgada pela Ibope Repucom, em 2017, que investiga hábitos das torcidas de futebol no Brasil, revela que o país possui 110,4 milhões de torcedores em todo o território nacional. Destes, 41,4 milhões, equivalente a 37%, torcem para mais de um time.

5 Trecho publicado pelo portal ND+ disponível em https://ndmais.com.br/futebol/levantamento-mostraclubes-mais-pesquisados-por-estado-veja-o-vencedor-em-sc/

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PERTENCIMENTO

O movimento do torcedor misto não é exclusivo de alguma região ou estado, mas é possível notar lugares que esse fenômeno se intensifica. Em Santa Catarina, a mesma pesquisa revela que de todos os torcedores do estado, 34% se identificam como torcedores mistos. Existem alguns processos que tornam Santa Catarina como um dos estados com mais torcedores mistos, desde o contexto do futebol catarinense, até transmissões de rádio ou TV6 .

Dessa forma, resta à dupla se fazer presente em sua região. Aumentar a presença nas principais cidades é o desafio de Avaí e Figueirense. Por isso, deve-se facilitar o elo entre o clube e os moradores dessas localidades, seja levando jogos das categorias de base ou master para campos em São José e Biguaçu, além de facilitar a presença dos torcedores no CFT do Cambirela, na Palhoça. Atualmente, tanto a base quanto o profissional “escondem-se” em Palhoça quando treinam ou disputam jogos de menor apelo no Centro de Treinamentos.

A sensação de pertencimento deve ser melhor explorada pelo clube, haja vista sua contribuição para o local, seja na divulgação, bem como na geração de empregos indiretos, principalmente, e também na movimentação da economia vizinha seja com a presença de jornalistas, como de times rivais. Estes consomem nos estabelecimentos próximos como bares, restaurantes, postos de gasolina, etc. Além disso, pela proximidade do local de treinamentos, vários jogadores e integrantes da comissão técnica do Figueirense residem no município de Palhoça, sendo assim, o clube um gerador indireto de tributos como IPTU de seus colaboradores, por exemplo.

Outrossim, o alvinegro, por meio da ASFIG, paga os encargos do CFT. A Associação dos Amigos do Figueirense possui declaração de utilidade pública, podendo receber recursos públicos, no município de Palhoça, onde está o CT (comodato da prefeitura desde 1991).

6 Análise extraída de publicação para jornal-laboratório do curso de jornalismo da Univali acerca dos torcedores mistos em Santa Catarina. Disponível em http://jornalcobaia.com.br/torcedor-misto-umaanalise-do-modo-de-torcer-em-santa-catarina/

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Se o Figueirense se faz presente em Palhoça, o mesmo não acontece em São

José e Biguaçu, por exemplo. Para alavancar sua presença, é necessário levar o clube a estes locais, seja por meio dos jogos da base ou do master, seja por meio de ações pontuais do marketing (ex-jogadores, mascote, sorteios dirigidos, atividades nos aniversários municipais, etc). Só assim, o torcedor sentirá fazer parte do contexto.

Outro momento importante que contribui para a sensação de pertencimento é a facilitação de comparecer ao estádio. O torcedor não trocará de time em caso de derrotas ou por não poder estar no Scarpelli, mas ele reagirá positivamente no menor “afago” do seu clube.

Sem incentivo extra e facilitação na presença ao Scarpelli, o torcedor não se sente parte do contexto e se afasta do seu clube de coração, deixando de consumi-lo seja nas arquibancadas, na compra de produtos ou na associação. Aí gera um efeito dominó, prejudicando toda a cadeia econômica fomentada por milhares de clientes/consumidores/torcedores. Sem personas, perdem todos.

CASA CHEIA

Na reta final do Campeonato Brasileiro da Série C, o Figueirense realizou promoções e chamou o público para empurrar o time rumo ao acesso. A subida escapou por pouco, mas, nos últimos cinco jogos, o público mais do que dobrou em relação aos primeiros oito duelos, ultrapassando, inclusive, os 19.300 espectadores (quase 100% de ocupação do estádio) na penúltima partida daquele campeonato.

Mesmo com ampla promoção de ingressos, é possível dizer que houve incremento em toda a cadeia produtiva direta (Matchday) e indireta (bares, transporte, mídia, hotéis, etc), proporcionando ganho desportivo e econômico, afinal, como demonstra o estudo da EY, o maior gerador de empregos da cadeia produtiva são os próprios estádios, palcos do espetáculo, através de toda a estrutura para realização das partidas, restaurantes, bares e lanchonetes.

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No Brasileirão 2022, Avaí (Série A) e Figueirense (Série C) alcançaram

53% e 45% de ocupação de seus estádios

170.401 torcedores na Ressacada - Maior público: Avaí x Flamengo (17.557 espectadores)

114.771 torcedores no Scarpelli - Maior público: Figueirense x Paysandu (19.307 espectadores)

Para cada 1% de aumento da taxa de ocupação média dos estádios do Campeonato Brasileiro, seriam gerados aproximadamente R$ 4 milhões em todo a competição.

"Se conseguir aumentar a presença de público nos estádios, o futebol brasileiro como consequência vai gerar mais emprego. Ou seja, se houver uma reforma no modelo de exploração do futebol brasileiro, a atividade pode proporcionar mais impostos e cargos de trabalho para a sociedade", Gustavo Hazan, analista da EY.

Embora o estádio estivesse cheio em alguns momentos, sua capacidade é diminuta em relação ao número de torcedores de Avaí e Figueirense na Grande Florianópolis. Sendo assim, o clube precisa falar principalmente àqueles que não vão ou comparecem ocasionalmente aos jogos. Até por isso, se faz necessário cativar quem prefere acompanhar as partidas pela TV e/ou Internet ou simplesmente busca se informar sobre resultados e competições em momentos

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distintos das disputas. Estes, ainda, são torcedores e merecem atenção especial, pois também são consumidores/clientes.

Encarado como um bem e diante das percepções de consumo e recursos limitados dos torcedores, o futebol apresenta cada vez mais o que economia chama de bens substitutos. O lazer e a indústria do entretenimento apresentam possibilidades de fruição que concorrem com o torcer em estádios.

Para o nosso interesse, essas possibilidades podem ser dividas na esfera do ambiente público e privado, além de pertencer, ou não, ao universo do futebol.

O torcer estádios, então, disputa espaço diretamente com: o futebol internacional, as modalidades privadas e públicas de assistir um jogo e os próprios jogos digitais. Cabe ressaltar que, concorrentemente, essas atividades também podem agregar a experiência do torcer em estádios. E indiretamente com: shows musicais, cinema, streamings, redes sociais e atividades de lazer ao ar livre.

Ainda assim, essa substituição não é tão fiel ao comportamento do consumidor do futebol, haja vista os componentes que tornam o esporte algo único.

“Podemos afirmar que o conceito de Economia do Esporte começou com Simon Rottenberg, quando escreveu sobre o mercado de jogadores de beisebol em um artigo semanal no “Journal of Political Economy“, em 1956. Nele, Rottenberg afirmava que a economia do esporte poderia ser analisada como qualquer outra indústria tradicional, salvo algumas diferenças, na qual eu destaco o “Princípio da Incerteza do Resultado”7

O conceito é simples. Segundo o autor, um dos principais fatores de atração nas competições esportivas é a incerteza sobre o resultado do jogo ou da competição.

7 Trecho extraído do artigo “A importância da imprevisibilidade para a economia do futebol brasileiro”. Disponível em https://maquinadoesporte.com.br/analise/a-importancia-de-imprevisibilidade-para-aeconomia-do-futebol-brasileiro/

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Entre os “substitutos”, estão, por exemplo, os cinemas da Grande Florianópolis. Para assistir a um filme (com ar condicionado, poltrona confortável, serviço de comida e bebida, banheiros limpos, sem intempéries climáticas como vento e chuva), o espectador paga entre R$ 35 e R$ 40 por um “programa” de cerca de 2 horas, duração parecida com a de um jogo de futebol (90 minutos + acréscimos + intervalo).

Os valores são mantidos independente do filme (ganhador do Oscar, blockbuster, adulto, infantil, maior duração, etc) e da localização na sala de cinema.

Já os ingressos cobrados por Avaí e Figueirense variam conforme os setores, momento na tabela e adversários. Na partida entre o time da ilha e o Flamengo, em 2022, as entradas variavam entre R$ 150 e R$ 200, sendo este jogo o de maior procura e apelo do clube na Série A do Campeonato Brasileiro. Ainda assim, não houve lotação da Ressacada (17557 torcedores presentes, sendo que a capacidade do estádio é de 17800 pessoas). Foram vendidas 6358 entradas e compareceram 11.199 sócios do clube.

A maior presença do público nos estádios gera, também, maior custo de operação, no entanto, tratar a “casa cheia” apenas como um item a mais nas despesas não deveria ser o principal aspecto para limitar que o torcedor esteja no local de jogo. Hoje, a renda de bilheteria é privilégio de quem avança a fases finais das competições ou, em alguns casos, de clássicos decisivos em campeonatos estaduais (o único motivo para sobrevivência deles ainda).

Apesar do fator financeiro, outros itens como o desempenho desportivo do time motivado por seu torcedor, a possibilidade de novos públicos, o consumo dentro e nos arredores da praça esportiva precisam ser levados em consideração. Mas para isso, deve-se entender que o futebol move além da paixão, haja vista que partidas pouco atraentes geram, aí sim, grande desfalque aos combalidos cofres dos clubes nacionais.

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Levantamento do repórter Matheus Deichmann aponta lucro mínimo ou prejuízo (no caso do Avaí) em relação à renda de bilheteria nos jogos do Campeonato Catarinense

Outro levantamento, dessa vez do CORREIO, mostra que, dos R$ 4,4 milhões gerados nas bilheterias após 132 jogos, só R$ 1,7 milhão (38,64%) chegou ao caixa dos 12 clubes. As despesas com taxa de arbitragem (R$ 472.347,06) ou com a confecção de ingressos (R$ 399.545,30), por exemplo, foram maiores que as receitas líquidas de bilheteria de todos os clubes, exceto o Bahia8

No cenário macro, contar com bilheteria é privilégio de poucos times do Brasil. Saber explorar o papel do torcedor, dentro e fora do contexto do jogo, é o desafio dos gestores que também podem usar a presença do público para barganhar apoio e mostrar seu “tamanho” na cadeia econômica e produtiva.

8 Levantamento publicado pelo Jornal Correio, em 2012, acerca do campeonato baiano. Disponível em https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/clubes-ficam-com-apenas-40-do-dinheiro-gerado-navenda-de-ingresso/

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GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA

A cadeia produtiva do futebol tem como seu eixo principal um conjunto de empresas e instituições identificadas conjuntamente como entidades do futebol: clubes, federações, administrações de estádios e outras instituições relevantes.

A atividade econômica de tais entidades pode ser caracterizada resumidamente como a produção de cinco produtos-fim: direitos federativos e eventuais comissões de agenciamento associadas, cotas de patrocínio, direitos de licenciamento de marca, direitos de transmissão e receitas de estádios (bilheteria, consumo nos estádios e programas de sócio torcedor).

Esta cadeia envolve ainda outras empresas e instituições: patrocinadores, empresas licenciadas e empresas de comunicação. Este conjunto de empresas e instituições é denominado o setor futebol (BLUMENSCHEIN e NAVARRO, 2013, p.86). Produtos como esses fazem parte da chamada indústria do entretenimento, que se baseia na padronização de bens e sérvios de lazer voltados para públicos massificados. Como milhões de pessoas participam dessa indústria, buscam-se estratégias de reprodução que por sua vez, justificam-se pelas próprias necessidades dos consumidores (GOMES et al, 2010, p. 20)9

A primeira janela de 2022, no futebol brasileiro, movimentou cerca de R$ 300 milhões, totalizando 67 negociações. Foram 38 saídas e 29 entradas no futebol nacional.

Uma das principais motrizes da indústria esportiva é a comunicação. Somente na mídia da Grande Florianópolis, quatro emissoras de tv (NSC, Band, ND Record e SCC SBT) cobrem o futebol local. Soma-se ainda as rádios (CBN, Guarujá, Jovem Pan, Mais Alegria) e as transmissões via internet (VEG, Bestsound, etc), jornais, sites, bem como os canais segmentados (criados e voltados ao torcedor) nas redes sociais, reunindo diversos profissionais e milhares de espectadores. Por consequência, todos possuem anunciantes, ou

9 Trecho extraído do livro “O preço da Emoção”. Disponível em https://www.gov.br/cidadania/ptbr/acoes-e-programas/outros/programa-academia-futebol/livros/livro-4_preco_da_emocao.pdf

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seja, empresas que emprestam seus nomes e divulgam suas marcas na “carona” de Figueirense e Avaí, movimentando milhões de reais por ano/temporada.

Um novo entrante é o mercado de apostas esportivas, a ser regulamentado pelo governo federal nos próximos dias. A estimativa é de que o setor invista R$ 3 bilhões em patrocínios e publicidade por ano, entre camisas de times, placas de campeonatos e espaços na mídia (televisões, sites, vídeos de youtube). O número é do governo federal que levantou dados sobre o tema para regulá-lo.

% DO FUTEBOL NO PIB BRASILEIRO E CATARINENSE

Minas Gerais era o estado que mais possuía clubes em seu território em 2018 (19% dos municípios).

A seguir, vem Santa Catarina (14%) e São Paulo (12%)

O futebol catarinense pode representar R$ 2,5 bilhões por ano aos cofres públicos

PODER PÚBLICO

Só o Figueirense tem cerca de R$ 800 mil parcelados com a prefeitura de Florianópolis referente ao IPTU da área do estádio Orlando Scarpelli10.Além disso, o clube e o Executivo municipal possuem acordo acerca da área do

10 Informação contida no Balanço Patrimonial do Figueirense Futebol Clube.

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ginásio Carlos Alberto Campos, anexo ao estádio, cuja metragem equivale a milhões de reais. Além disso, ainda treina no CFT localizado na Palhoça e pertencente à ASFIG, associação criada para conceber benefícios ao Figueirense.

Nestas duas cidades, o alvinegro é gerador de empregos, renda, tributos, contribuindo para a economia local. No entanto, apesar da renegociação de dívidas, não há maiores contrapartidas dos poderes públicos municipais. Também não há retribuição do estado de Santa Catarina para com o clube que leva o nome catarinense aos quatro cantos do país e até mesmo ao exterior.

Em locais, como o Rio Grande do Sul, o banco estatal (Banrisul) patrocina Grêmio, Internacional, Juventude, Caxias, Ypiranga, entre outros times participantes das competições nacionais, fomentando e ajudando no desenvolvimento do esporte local. Em Mato Grosso, é a vez do poder público estadual patrocinar o Cuiabá estampando a frase “Conheça Mato Grosso” na parte de trás da camisa.

Se, por um lado ajuda financeiramente seu representante na elite do futebol brasileiro; por outro, incentiva o turismo, especialmente àqueles que deixam seus estados e cidades para frequentar o estádio público (Arena Pantanal) durante as competições disputadas pelo time da capital mato-grossense (Brasileiro, Copa do Brasil, Sul-americana), atraindo torcedores, dirigentes, jogadores, imprensa de diversas localidades. Estes frequentam o estádio, mas também consomem em restaurantes, comércio, hospedam-se em hotéis, utilizam o aeroporto, entre outros serviços. Quanto mais forte o clube do estado, mais competições e rivais de grande apelo estarão no calendário da cidade e do Mato Grosso.

Pode parecer óbvia a importância de um clube de futebol para a economia, porém pouco se faz em relação ao poder público. Exceto parcelamento de dívidas e acordos pontuais, tanto prefeituras, como governo estadual, além do legislativo, apenas observam a situação de penúria de nossos times sem ao menos quantificar o prejuízo aos cofres públicos de derrotas em campo e

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fracasso fora dele. Ainda assim, nota-se o poder público como fomentador de diversas atividades, distribuindo quantias para festas, carnaval, igreja, futebol amador, entre tantas outras áreas, mas, em Santa Catarina, por exemplo, não se vê uma empresa estatal investir no futebol. Aqui, ao contrário de Rio Grande do Sul e Mato Grosso, não há apoio em forma de patrocínio aos clubes.

Ainda assim, caso a participação do futebol no percentual do PIB seja refletida no que gerava, em 2018, em âmbito nacional, os times catarinenses seriam responsáveis por mais de R$ 2,5 bilhões ao ano direta e indiretamente aos cofres públicos, empregando milhares de pessoas e movimentando toda a cadeia econômica No entanto, falta a contrapartida, bem como o apelo dos dirigentes esportivos para conquistarem o apoio financeiro dos governantes.

Levantamento da EY, em 2018, demonstrou que só em tributos, o futebol representou R$ 761 milhões em arrecadação. Foram gerados mais de 156 mil empregos naquele ano, que representaram R$ 3,34 bilhões em salários e encargos sociais.

Dados recentes mostram que o Avaí gastou, em 2021, R$ 135 mil de INSS sobre receitas e pagou R$ 21 milhões em salários e encargos11. De igual forma, a ASFIG (Associação dos Amigos do Figueirense) possui declaração de utilidade pública, podendo receber recursos públicos, no município de Palhoça, onde está o CT (comodato da prefeitura desde 1991). Assim sendo, o Figueirense gera empregos e paga tributos não só a Florianópolis. Além disso, como diz o estatuto da ASFIG, a Associação tem como um de seus deveres "defender as coisas do Figueirense Futebol Clube".

Então cabe ao poder público ajudar seja com subvenção, com placas, campanhas institucionais. Um "visite Floripa" na camisa, etc, afinal, como demonstra o relatório da CBF, Minas Gerais era o estado que mais possuía

11 Informação publicada no Balanço Patrimonial do Avaí Futebol Clube

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clubes em seu território em 2018: agremiações em 19% dos municípios. A seguir, vinha Santa Catarina, com 14% e São Paulo, 12%.

Assim sendo, urge o desporto procurar o poder público para demonstrar seu potencial, haja vista que, caso não provocado, o governo continuará apoiando inúmeros projetos sem focar no futebol catarinense.

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CONCLUSÃO

O futebol possui grande papel na cadeia econômica e produtiva de cidades, estados e do país. Seja por meio de tributos, empregos diretos e indiretos, além da movimentação proporcionada pelos clubes que jogam, treinam, aparecem na mídia, o esporte gera riqueza. Falta, no entanto, demonstrar seu potencial à sociedade e aos governantes, assim angariando apoio e recursos

Por calendário modificado em virtude da Copa do Mundo 2022, além de fracassos em campo, o Figueirense ficou sem jogar oficialmente por quatro meses entre outubro do ano passado e maio de 2023. Eliminado da fase final da Série C e da Copa Santa Catarina, o alvinegro terminou sua temporada passada em 28 de outubro, voltando a entrar nos gramados somente em 14 de janeiro deste ano. Depois disso, novamente alijado das semifinais e finais do Campeonato Catarinense, o clube teve seu último jogo no estádio Orlando Scarpelli em 19 de março, voltando a atuar, em casa, somente em 08 de maio pela segunda rodada da Série C. Neste longo período, a cadeia econômica local (bares, ambulantes, hotéis, uber, etc) deixou de ser movimentada, proporcionando um prejuízo a quem tem no futebol uma renda extra movida pelos torcedores que comparecem ao estádio Orlando Scarpelli.Além disso, não houve o ganho devido ao Matchday. Tudo isso porque o alvinegro, enfraquecido dentro e fora de campo, não obteve resultado esportivo, causando danos que

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poderiam ser evitados caso tivesse conquistado vitórias nas competições disputadas.

Dessa forma, é possível concluir que, quanto mais forte forem os clubes, mais riqueza irão gerar, haja vista que 55% das receitas são provenientes do Matchday. Ter casa cheia na grande maioria das partidas garante incremento em todo o espetáculo dentro e fora de campo. Obviamente, por se tratar de esporte, apenas poucos vencerão as competições, mas quanto mais forte e disputado for o certame, maior a geração de emprego e renda, ampliando a cadeia produtiva envolvida no futebol brasileiro, catarinense e florianopolitano.

Em termos de comparação, enquanto a cultura devolve R$ 13 para R$ 1 investido12, o desporto ainda carece de maior aprofundamento quanto ao seu potencial de gerar riqueza. Menos de 1% do PIB ainda é pouco, entretanto representa bilhões inseridos pelo futebol na economia.

O desafio é incrementar toda a cadeia e saber demonstrar o quão importante é o futebol para o desenvolvimento da sociedade, gerando emprego e renda em todas as esferas.

REFERÊNCIAS

• https://www.cbf.com.br/a-cbf/informes/index/cbf-apresenta-relatoriosobre-papel-do-futebol-na-economia-do-brasil

• https://www.oeconomista.com.br/futebol-e-economia-caminham-lado-alado/

• https://www.abcdoabc.com.br/brasil-mundo/noticia/dinheiro-esporteonde-vem-onde-vai-95245

• https://rodrigomattos.blogosfera.uol.com.br/2019/12/13/futebolmovimenta-r-53-bi-na-economia-do-brasil-mas-so-gera-1-de-imposto/

12 Estudo encomendado pelo Ministério da Cultura à Fundação Getúlio Vargas, divulgado em 2018 comprovou que a cada R$ 1 investido em eventos culturais, pelo menos R$ 13 retornaram aos cofres públicos. Disponível em http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/cada-r-1-investido-em-arte-ecultura-gera-r-13-na-economia/448492

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• https://www.segs.com.br/demais/361719-negocio-futebol-esporte-e-umdos-principais-players-economicos-do-pais

• https://maquinadoesporte.com.br/analise/a-importancia-deimprevisibilidade-para-a-economia-do-futebol-brasileiro/

• https://unisantacruz.edu.br/v4/download/janela-economica/2011/13-acadeia-produtiva-do-futebol.pdf

• https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/outros/programaacademia-futebol/livros/livro-4_preco_da_emocao.pdf

• https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/rodrigomattos/2023/04/23/apostas-esportivas-geram-r-3-bilhoes-em-patrociniose-publicidade.htm

• https://cassiozirpoli.com.br/o-ranking-de-receitas-dos-clubes-do-brasilem-2021-20-maiores-geraram-r-69-bilhoes/

• https://ndmais.com.br/futebol/levantamento-mostra-clubes-maispesquisados-por-estado-veja-o-vencedor-em-sc/

• http://jornalcobaia.com.br/torcedor-misto-uma-analise-do-modo-detorcer-em-santa-catarina/

• https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/clubes-ficam-com-apenas40-do-dinheiro-gerado-na-venda-de-ingresso/

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