Reportagem para a Revista KIDS in

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Inventando

Coleção Primavera/ Verão 2013 da Tyrol

Moda Antigamente, a moda era produzida e difundida com foco no público adulto, sendo apenas estendida para as crianças, que eram vestidas parecendo miniaturas dos próprios pais. Esse comportamento era reflexo de relações familiares mais formais e de uma comunicação restrita entre pais e filhos, com rígidas regras hierárquicas, nas quais os pequenos não tinham tanta “opinião” dentro do núcleo familiar. De várias décadas para cá, foi surgindo uma maior abertura na relação

entre pais e suas crianças, que se tornaram atores sociais expressivos, inclusive nos aspectos que envolvem o consumo e, consequentemente, a moda. Na última década, principalmente, estilistas de grandes marcas começaram a perceber esse nicho e, com isso, a pensar produtos modernos, que protejam, confortem e divirtam os pequenos. Vamos conhecer esses profissionais-artistas, o que pensam sobre moda infantil e contemporaneidade e, de quebra, o trabalho que desenvolvem?

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Roupas para futuros adultos Em contato com novas tecnologias desde que nascem — leia-se tablets, computadores, celulares, televisão —, as crianças têm acesso a informações de todos os tipos, inclusive no que diz respeito à moda, e são livres para escolher e criar o seu próprio estilo. E isso é feito com o conhecimento e apoio da maioria dos pais. Mas, nem sempre foi assim. De acordo com o historiador e medievalista francês Philippe Ariès, no livro “História social da criança e da família”, as crianças da Idade Média eram consideradas frágeis, já que havia elevados índices de mortalidade infantil na época. Sem receber muita atenção dos pais, elas eram tratadas como “bibelôs” e viviam em uma espécie de “anonimato” até a vida adulta. Tanto cuidado e zelo se refletia nas roupas, que eram vistas apenas como uma “necessidade”, além de muito apertadas e com quase

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nenhuma liberdade de movimento. Na opinião da estilista Marta Rodrigues, da Fábula, linha infantil da marca Farm, no passado, não só as crianças se vestiam como adultos, mas se comportavam como eles e até casavam ainda na infância: “A moda é o reflexo de uma época e muda de acordo com os hábitos, a política e as crenças de cada sociedade”, explica. Já Adriana Barra, dona de marca homônima para adultos que estendeu seus talentos à moda infantil na descolada Boobooska, complementa que os movimentos limitados das crianças, com o uso de roupas apertadas, transformavam os pequenos, com o tempo, em adultos aptos a seguir padrões e protocolos, sem muita liberdade de expressão: “Criança é sinônimo de brincar e brincar é sinônimo de liberdade. Só que, para isso, o corpo precisa estar livre para se expressar, o que não ocorria antigamente”, enfatiza.


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“Eu quero essa” Apenas em meados do século XIX houve uma reorganização da família em torno das crianças. Elas passaram a ser afirmadas como parte do núcleo familiar, começaram a atrair a atenção dos adultos e saíram, enfim, do “anonimato”. A partir daí, os pais reconheceram que o ato de brincar era importante para o desenvolvimento dos filhos, e não apenas o rigor educacional imposto por regras. Aos poucos, as crianças foram ganhando mais liberdade dentro de casa. A mudança no papel dos pequenos dentro do núcleo familiar se refletiu também nas decisões de compra da família, nas quais os pequenos começaram a ter participação efetiva, especialmente com o incentivo dos pais em contribuir para a educação financeira das crias por meio da mesada. A partir da segunda metade do século XX, as decisões de compra das crianças se tornaram cada vez mais comuns, de acordo com suas cores, marcas e modelos preferidos. O aumento da exigência dos pequenos consumidores também fez com que as empresas buscassem uma maior profissionalização na produção do vestuário infantil e, com isso, começaram a surgir no mercado estilistas voltados à criação de produtos inovadores para as crianças. E, ao contrário das coleções de antigamente, que se repetiam quase que invariavelmente por não existir um conceito de moda no vestuário infantil, as coleções dos estilistas de hoje são fruto de várias influências. Afinal de contas, as habilidades das crianças com tecnologia, a acessibilidade que possuem às diversas mídias e outras mudanças culturais têm contribuído para que esses pequenos consumidores começassem a acompanhar de perto as tendências e tudo o mais relacionado à moda. Por essas e outras, não se pode fazer feio, não é mesmo?

Estilistas e suas influências Existem dois fatores que Mariana Monteiro, coordenadora de estilo da marca La Estampa, fica atenta na hora de criar roupas para crianças: o tamanho das estampas e o conforto do tecido. Para ela, os motivos das estampas devem se “comunicar” com as crianças, ser lúdicos e contar uma história: — Hoje todo mundo tem muito mais acesso a informações sobre moda, inclusive as crianças, seja por meio de séries, desenhos infantis, cantores e bandas teens, além de outras influências vindas, especialmente, da mídia. Além disso, as crianças de hoje têm vontade própria, sabem o que querem usar, gostam de ir à loja e escolher as roupas e os pais acabam respeitando essa vontade. E todo esse universo infantil se reflete no modo como fazemos moda atualmente. Na opinião da estilista Marta Rodrigues, da Fábula, as crianças têm as “antenas” mais sensíveis do que os adultos para o que está por vir em se tratando de moda. E questões atuais, como sustentabilidade, além de expressões culturais vindas da música e do cinema, por exemplo, influenciam na criação da estilista: — Quando estou criando procuro ter o olhar atento da criança, muito menos reprimida do que nós, adultos, e com uma imaginação sem limites. As cores e estampas que uso refletem o espírito do tempo, pois moda é cultura e expressão de ideias e sentimentos de uma geração. Consumo, desejo personalidade, identidade, cultura. Para a estilista da marca Boobooska, Adriana Barra, tudo isso está interligado quando se fala em produção de roupas infantis. De acordo com Adriana, o processo de criação começa com uma fantasia, um desejo e a visualização de um mundo perfeito: — A moda é a transformação do sonho em um produto e esse processo passa pela

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Os pequenos exigentes fizeram com que as empresas profissionalizassem a produção do vestuário infantil Coleção Primavera/ Verão 2013 da Fábula

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“Moda – Uma história para crianças” Autora: Kátia Canton Ilustrações: Luciana Schiller Além de mostrar uma perspectiva histórica da moda - da Pré-história à corte de Luís XIV e dos precursores da alta-costura no século XIX até o estilista moderno Jean Paul Gaultier -, o livro integra a sua narrativa os universos da arte e espetáculos e revela as curiosidades que envolvem a criação de modelos famosos e de acessórios. como achar | editora.cosacnaify.com.br

fotos: Nadia Bignon e Nathalie Blanzat (ilustração pág. 8); Rafael Lucena (pág. 11); Serge Guerand (pág. 12.)

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“Keka tá na moda” Autora: Helen Pomposelli Ilustrações: Roberta Lewis Keka é a protagonista que conduz o leitor a uma viagem pela história da moda no século XX. Em uma visita à casa da avó, a menina encontra um chapéu e, ao experimentá-lo, se transforma em uma típica garota da década de 1910, e, a partir daí, basta trocar de chapéu para ver como se vestiam as pessoas em 1920, 1930, até os dias atuais. como achar | livrariasaraiva.com.br

observação de modelagens, cores, tendências e público. A moda é aquilo que usamos e trocamos todos os dias com facilidade, sendo assim, ela é a maneira mais rápida de expressarmos as nossas vontades para todos sem precisar falar nada. “Existem questões mais importantes na hora de vestir uma criança do que seguir tendências. Não se trata apenas de fazer roupas, mas, de levar qualidade e conforto para os pequenos através das peças”. Essa é a opinião da estilista da marca Tyrol, Mira Schiller, que enfatiza que as crianças de hoje estão muito mais exigentes com relação à liberdade de movimentos e ao conforto que as peças podem proporcionar: — Pais e crianças podem encontrar de tudo no mercado de moda infantil hoje em dia, mas, eles estão mais conscientes sobre os tecidos e acabamentos que melhor atendem as suas necessidades. E devemos isso, especialmente à tecnologia, pela qual se tem mais acesso a informações sobre moda e, consequentemente, a melhores escolhas dentro desse universo. –por helouise melo

“Nique toda chique” Autora: Jane O’Connor Nique ensina, com muitas cores e bom humor, alguns segredos indispensáveis de elegância. Um livro irresistível para meninas que amam se enfeitar e ser muito, muito chiques. como achar | travessa.com.br “A Menina que conversava com as roupas” Autora: Paula Aciole Ilustrações: Jana Magalhães O livro é baseado nas histórias da infância da própria autora, que era muito magrinha quando pequena. Ela conta que sofreu muito em uma época em que magreza não era sinônimo de elegância - pelo menos para as crianças. E foram as roupas que a ajudaram a resolver os seus grilos de ser “fora do padrão”. como achar | livrariacultura.com.br

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