Sejam bem-vindos ao terceiro número da Headbangers Magazine Portugal.As primeiras palavras vão para a colaboração de Miguel Correia, uma das personagens mais importantes da cena nacional, no que respeita à divulgação do Heavy Metal feito em Portugal e não só. Um verdadeiro headbanger.. Nesta edição, voltamos a cruzar oAtlântico, rumo ao continente americano, onde temos vindo a ganhar alguma expressão. O mesmo acontece em Portugal..
Acreditamos no que fazemos, na equipe (pequena, mas fantástica) que temos mas, acima de tudo, nos objectivos a que nos propusemos, quando a Headbangers Magazine Portugal nasceu! Já passaram NOVE MESES!
Obrigado a todos aqueles que confiam no nosso trabalho. Obrigado a si, que nos lê de três em três meses. Voltamos no final de outubro… até lá, Stay True, Stay Metal!
Rui Martins(Direcção e Produção) headbangers.mag@gmail.com
José F.Andrade e Miguel Correia (Produção e Conteúdos) Flávio Medeiros Martins/Line Design Lab (Design) 4
STEPAN KOBYAKIN
STEPAN KOBYAKIN
É um dos casos de sucesso no que respeita à integração nas nossas ilhas. Stepan Kobyakin é natural de São Petersburgo e reside em São Miguel desde 1996. De resto, é um dos músicos mais requisitados de São Miguel, acontecendo o mesmo ao nível da produção.
Comecemos pelo princípio, aquando da tua chegada a São Miguel. Era certamente muito diferente do que estavas habituado?
Cheguei a São Miguel em 1996, quando eu tinha apenas 8 anos de idade. Naquela época, eu sabia muito pouco sobre esse novo lugar para onde me mudei. Não tinha uma compreensão completa de estar no meio do oceanoAtlântico vivendo numa ilha, mas a minha adaptação foi tranquila e rápida. Se eu fosse mais velho, certamente teria sentido mais o choque cultural. Para mim, a maior diferença foi a presença do mar praticamente em todos os lugares e a sensação de desconhecimento em relação a tudo e a todos.
Atua adaptação foi fácil ou difícil?
Segundo minhas recordações, a adaptação transcorreu de forma bastante fluida.Após dois meses, iniciei os meus estudos numa escola, fiz novas amizades e aprimorei progressivamente o meu domínio da língua portuguesa.Acredito que, por estar numa fase de aprendizagem, assimilei com relativa facilidade esse novo idioma e me adaptei rapidamente ao novo ambiente. Olhando para trás, sinceramente, não tenho certeza de como me adaptei tão bem. Acredito que o fato de ter chegado aqui em criança tenha desempenhado um papel fundamental nessa transição bemsucedida.
Lembras-te da primeira banda de que fizeste parte aqui?
Aprimeira banda de qual fui teclista foi uma banda de metal, os Summoned Hell. Pode-se dizer que entrei de cabeça no mundo das bandas, já que eu vinha da música clássica e acabei ingressando na música pesada, um género musical que havia começado a explorar pouco antes de me juntar a essa banda. Foi como se eu tivesse descoberto um universo totalmente novo. Senti que havia encontrado a minha verdadeira vocação. Isso ocorreu por volta de 2004, se não me engano, e essa banda perdurou por 9 anos, durante os quais realizamos diversos concertos na ilha e em Portugal continental, gravamos um videoclipe e lançamos um álbum.
Musicalmente, quais são as tuas principais influências?
Sempre fui um grande admirador dos Children of Bodom. Tanto Janne Wirman (Children of Bodom) quanto Jordan Rudess (Dream Theater) foram grandes influências para mim.A criatividade de Tuomas Holopainen, dos Nightwish, também me encanta, o que faz com que os Nightwish sejam uma das minhas influências e bandas favoritas. Essa admiração se reflete num projeto que criei chamado Finding Sanity, onde é evidente a forte influência
dessa banda.
És conhecido por fazer parte de diversas bandas e projetos que ora podem ser de Heavy Metal como Pop/ Rock. Gostas de tudo ou quase tudo ou não gostas de dizer não a quem te convida?
Aminha recusa ocorre apenas quando não disponho de tempo ou interesse pelo projeto em questão. Já experimentei projetos de música pimba e romântica, motivado pelo excesso de tempo livre em determinado período da minha vida. Na altura podia-se dizer 'tudo o que vier à rede, é peixe'.Actualmente, o Metal é o género musical que pratico menos. Nos últimos anos, tenho participado em projectos de diversos estilos, principalmente na música portuguesa. Embora tenham tentado me envolver com o Jazz, recusei devido à complexidade para o meu gosto.
Nos últimos tempos, tens sido escolhido para gravar e produzir alguns trabalhos. Foi outra paixão que descobriste?
Desenvolvi o gosto pela gravação e composição musical enquanto trabalhava em músicas com a minha primeira banda em 2005. O desejo de registar as nossas criações, para partilhar com o público nos impulsionou, mas, como éramos jovens e estudantes na época, não tínhamos recursos financeiros para investir nisso. Foi então que comecei a pesquisar online e a adquirir conhecimentos de forma autodidacta. Iniciamos gravações de qualidade inferior na minha casa, utilizando apenas um computador, piano, baixo e guitarra.Apartir desse ponto, continuei a aperfeiçoar esse interesse, dedicando horas a assistir vídeos educativos no YouTube, trocando dicas e técnicas com amigos e, principalmente, experimentando por conta própria.
Tiveste alguma formação a esse nível?
Aminha única formação é na área musical, o que acredito ter sido benéfico para o meu desenvolvimento nesse campo. No entanto, sou essencialmente autodidacta. Há dois anos, finalizei a construção do meu modesto "home studio" para ter um espaço dedicado exclusivamente à música. É o meu refúgio, por assim dizer. Em janeiro do ano passado, comecei a oferecer os meus serviços a outras bandas e, desde então, perdi a conta do número de faixas que gravei. Embora não me considere um profissional na área, os clientes têm ficado sempre satisfeitos (that’s what she said).
Que trabalhos tens atualmente em estúdio?
De momento, estou envolvido nas
gravações das bandas Kakerlakk, Carnification, MournolithAbyss e estou trabalhando na produção do álbum dos In Peccatum.Além disso, estou gravando algumas faixas para o João Quental. Tenho também um forte interesse pela fotografia e vídeo, e realizo a captura de áudio e vídeo de algumas performances do baterista Pedro Sá Dias. No ano passado completei a gravação do primeiro álbum dos Kakerlakk, intitulado 'Overdue', gravei 6 das 9 faixas do álbum '9' dos Moby Islands e fiz as gravações musicais para o livro 'As Fantásticas Lendas dosAçores', da autoraAna Isabel D’Arruda, além de várias outras músicas de bandas que não consigo recordar neste momento. Quando tenho um tempo livre, que é escasso, dedico-me à produção de algumas composições pessoais.
Que equipamento usas em estúdio e já agora se preferes o digital ou o analógico?
Nós estamos numa era bastante digital e a meu ver, consegue-se simular imenso material analógico através de «pluguins» e para mim essas ferramentas são mais que suficientes visto que também não sou nenhum profissional na área. Único material físico que possuo, que é essencial num estúdio minimalista, é um bom computador, um interface para a captação dos instrumentos musicais, um microfone condensador para a captação das vozes e um par de monitores de estúdio. O processamento todo dos instrumentos e vozes é feito através de «pluguins» no computador e possuo, tal como muita gente na minha situação, uma vasta biblioteca de instrumentos virtuais.
Em que bandas estás actualmente?
Atualmente toco comAlquimia, João Moniz, Carmen Raposo, In Peccatum e, mais recentemente, integrei os Kakerlakk. Este último é um projeto que iniciei gravações no meu estúdio caseiro no ano passado e, devido ao gosto pelo seu estilo musical, decidi aceitar a participação. De resto, contribuo com a gravação de teclados em praticamente todas as bandas que passam pelo meu estúdio caseiro.
MOONSPELL
O momento, é de celebração para os mais de 30 anos de vida, que irá ter o seu ponto alto no próximo dia 26 de outubro no Meo Arena. Falo dos Moonspell e a conversa que tivemos com o Fernando Ribeiro levanta o véu sobre tudo o que vai acontecer nesse dia.
A
banda promete fazer história!
Antes de mais, Fernando Ribeiro quero agradecer, em meu nome pessoal e de toda a equipa da Headbangers, a tua disponibilidade para esta entrevista...Ainda me lembro, certamente tu não, mas na época do “Wolfheart”, foi quando te entrevistei a primeira e penso que única vez, mas ainda te fui buscar, na altura ao vosso local de ensaio em Alfornelos, para te levar a algumas entrevistas a rádios com as quais eu colaborava, já lá vão 32 anos!!! Que balanço fazes?
Que grande história, obrigado pela recordação. São, de facto, muitos anos!!! Balanço: nem sei por onde começar, mas na verdade damos graças de chegar até aqui, por entre por as boas e más coisas que passámos. O balanço é a luta e o trabalho diários que temos para nos mantermos vivos e relevantes, tudo o resto é passageiro.
O que sentes quando ouves dizer que vocês são uma inspiração não só musical, mas também pela resiliência?
Não sinto nada de especial. Conheço-me demasiado bem, e aos meus defeitos, para me considerar um exemplo seja para que for. No entanto, acho importante que Moonspell persevere, porque agora há uma banda em Portugal que fez aquilo que muitos achavam (e alguns ainda não acreditam) impossível e isso pode inspirar novos projetos e novas gerações.
...o que vai acontecer no dia 26 de outubro deste ano, no Meo Arena.
O objetivo desta entrevista é, naturalmente, falar daquilo que será a celebração destes anos de vida da banda mais icónica de Portugal e aponto para o que vai acontecer no dia 26 de outubro deste ano, no Meo Arena. Como é que surgiu a ideia desta colaboração com a Orquestra Sinfonietta de Lisboa?
Por: Miguel Correia
Aprodutora (Crumbs) ligou-me com esta proposta desafiante que eu hesitei em aceitar pela dimensão da sala e imensidão e exigência do trabalho. Mas, depois, como é típico meu, pensei porque não? Mas, tínhamos de fazer algo que ainda não tínhamos feito, o que já era difícil. Já tínhamos a ideia de fazer algo com uma orquestra e juntei as peças e assim foi marcado o maior concerto de sempre dos Moonspell em nome próprio.
Para quem não os conhece, quem são o Maestro Vasco Pearce deAzevedo e o pianista Filipe Melo?
O maestro Vasco Pearce deAzevedo é um dos maestros com maior reputação em Portugal e dirige entre outras a Sinfonietta de Lisboa, que é o seu projecto pessoal. Mas já trabalhou e dirigiu a Sinfónica, a Metropolitana e está sempre ávido de novas experiências o que se encaixa perfeitamente no espírito de Moonspell.
O Filipe Melo é um amigo de longa data que conhecemos por altura do seu filme de zombies “I will see you in my dreams” para o qual fizemos uma música. Para além de pianista (na área do Jazz) é um arranjador magnifico para orquestra e colabora habitualmente com o maestro. Também é conhecido pelos seus dotes de argumentista em “A Balada de Sophie”, ”Os Vampiros”, “Dog Mendonça” e “PizzaBoy”, é um tipo excelente e um verdadeiro homem do Renascimento. É um privilégio trabalhar com eles.
E como está a ser preparada toda esta colaboração? Que tipo de arranjos podemos esperar para os clássicos da banda e quais os temas já trabalhados?
Os arranjos são surpreendentes e cheios de força. O resultado será nada mais que épico porque junta a força do Metal com o poder do clássico, são 45 músicos, entre sopros, cordas, etc. Temas já trabalhados e sem levantar muito o véu “Alma Mate”, “1755”, entre outras. Tudo isto será uma grande surpresa, não se preocupem.
Será este um projeto para levar as outras destinos, dentro do possível?
Está nos planos. Já temos alguns convites da Bulgária, Roménia, Espanha e México.
O que os fãs podem esperar da produção do concerto?
Será simplesmente a maior produção de sempre da banda. Estamos a reunir as peças, mas para já será um palco desenhado para o efeito, pirotecnia, mais de 50 pessoas em palco, gastámos todo o nosso cachet no som, porque sabemos ser uma sala complicada, tudo isto é a pensar nos fãs e em mais nada e claro fruir a experiência de ouvir os nossos temas dimensionados a uma escala nunca ouvida.
Vou acompanhando as tuas incursões em diferentes meios: livros, diferentes colaborações, artigos de opinião. Depois disto, o que é que te falta fazer a título pessoal e o que é que falta fazer aos Moonspell?
Obrigado. Na verdade, não me falta fazer nada. Vou fazendo por gosto, por vontade de comunicar. Existem ainda uns países que ainda quero tocar com a banda, pelo menos mais dois discos de originais, tenho ideias para mais um livro de poesia e dois romances e claro o trabalho com aAlma Mater Records e, em primeiro lugar, a família, em especial a minha mulher, filho, sobrinhos pais e irmãos.
Que mensagem gostavas de deixar aos nossos leitores?
Apareçam no MeoArena para nos ajudarem a fazer história! Não se irão arrepender!Atour Sombra também está muito interessante, vemo-nos no Verão, under the spell!!! Fernando, muito obrigado, mais uma vez pela tua disponibilidade, e fico, como sempre, a torcer pelo sucesso, não somente teu, mas de toda a banda. Obrigado em nome de toda a banda e um abraço nosso!
Rui
Vasco
SÉRGIO PAULO
Falar de Sérgio Paulo é falar de um dos pilares do underground nacional. Foi responsável pela distribuidora e posteriormente editora Guardians of Metal, pela fanzine com o mesmo nome e pelos Afterdeath, mítica banda de Death Metal, do qual era vocalista.
AGuardians of Metal ficará, para sempre, ligada ao underground nacional como uma das mais importantes distribuidoras de Heavy Metal. À distância que o tempo nos separa, que análise fazes a essa época?
AGuardiansOfMetal sou eu e eu continuo a vender discos, logo ainda existe.Aforma de os vender é que foi mudando ao longo dos mais de 30 anos que ando nisto. Há 30 anos por exemplo
não havia internet para fazer encomendas, lojas de discos só nas grandes cidades do litoral e a maioria delas tinham poucos discos de Metal, então eu andava pelo país em concertos e festivais tipo caixeiro viajante a vender discos de Metal que lá não chegavam. Depois nos finaisdos anos 90 abri a loja física em Lisboa que durou 7 anos, em 2005 comecei a ir vender a festivais de Metal em Espanha e até aoWackennaAlemanha fui vender, na altura em que fechei a loja
física. Entre 2008 e finais de 2010 estive um pouco mais parado no que toca à venda de discos pois tive um bar deHeavyMetal, oIronPub ea partirde 2012 passei a vender mais lá para fora através de plataformas como oEbay,Discogs,etc
Havia ainda a newsletter e depois houve um jornal. Certo?
Em formato jornal só saiu uma vez e houve uma revista que fiz 3 números.A
AFTERDEATH
newsletter/catalogo em fotocopias foi o formato usado durante mais tempo.
Ainternet trouxe imensasvantagensmas também desvantagens. Hoje é fácil chegar mais longe, mas, a competição é deveras maior. Qual a tua opinião?
Ainternet trouxe mais desvantagens que vantagens.Assim que o download começou a ser rápido de fazer as vendas de discos diminuíram drasticamente em todo o Mundo, principalmente em países com menos poder de compra como o nosso. Se dantes, bandas e editoras tinham grandes gastos para fazer a promoção, a verdade é que havia retorno através das vendas que compensava e as bandas editavam álbuns novos quase todos os anos, hoje em dia as bandas estão cada vez mais tempo para lançar um álbum novo pois não é rentável, serve apenas de pretexto para as bandas irem em tournée e venderem merchandise e há bandas que continuam no activo, mas já desistiram de gravar novos álbuns e as editoras vão sobrevivendoprincipalmente através dareedição deantigos lançamentos para um publico mais velho que ainda compra discos.
Redes sociais, qual a sua importância no contexto musical?
Quase toda a gente está nas redes sociais
hoje em dia, logo é a melhor forma das bandas e editoras passarem a informação acerca das suas actividades, tanto que muitos já desistiram de ter um site e têm apenas páginas nas redes sociais.
Falemos deAfterdeath, um dos pilares da cena nacional.Abanda terminou definitivamente ou poderá regressar um desses anos?
Abanda terminou no Verão de 1997 e muito dificilmente voltará ao activo e aos palcos, pois depende de todos os que passaram pela banda terem vontade de o fazer e não apenas de mim.Aúnica coisa que depende de mim são as reedições de material antigo, por issoem 2012 editei em vinil uma compilação com as demos e faixas raras que também acabou por sair em CD em 2013, como sobraram capas das demos em 2017 fiz uma reedição comemorativa dos 25 anos da demo “BehindLife” numerada e limitada a 130 copias, em 2019 fiz o mesmo com a demo “UnrealSight” mas limitada a 70 copias e para o ano faz 30 anos que o álbum “Backwords” foi editado e pretendo fazer uma reedição em vinil e talvez em cassete também.
Já agora, que razões motivaramao términos?
Nos 7 anos que a banda existiu foram constantes as mudanças de formação eeu fuio único que esteve lá desde o
início até ao fim, normalmente o entusiasmo com que entravam desaparecia depressa até que me fartei e em vez de procurar novos músicosepus um ponto final na banda em 1997.
Que análise fazes ao panorama nacional, uma vez queactualmenteexiste um número significativo de bandas que praticamHeavyMetal, nas suas diferentes vertentes?
O lado negativo é que existem muitas bandas e pouco público. O lado positivo é que há muito mais bandas a ir tocar lá fora, seja em festivais ou fazendo-se à estrada em tournées não só naEuropamas inclusive noutros continentes. Para o meu gosto, das bandas maisnovasmas que praticam um MetalOldSchool gosto particularmente dosToxikulleThrashwall, das antigas registo o regresso aos palcos dosThormenthorque considero a melhor banda portuguesa de sempre, os Ramp a quem as mudanças de formação parecem ter feito bem,osGenocideque deram origem aosGrindeade que em Outubro vão voltar aos palcos, osPitchblackque este mês conto ver em Lisboa, os Ibéria que estão a gravar um álbum novo,etc
Planos para o resto de 2024? Continuar a fazer aquilo que gosto.
CAES DE GUERRA ~
Por: Miguel Correia
Uma das pessoas mais ativas no nosso underground, vai dividindo o seu tempo entre colaborações, muitos dos seus projetos e claro a sua vida familiar e profissional. Motivados pelo lançamento de “Trono de Sacrifícios”, de Cães de Guerra, um desses seus projetos, fomos conversar com o infame LordSir7Peles. Bem-vindos ao Apocalipse!
Depois de “Cabras, Cães & Leite de Bode”, de 2021, surge este ano “Trono de Sacrifícios”. Comparativamente como olhas para estes dois trabalhos?
“Cabras, Cães & Leite de Bode”, é mais manta de retalhos, já tinha duas músicas gravadas que ficaram de fora do EP "Forjados noAço", a "Greta Profunda" e parte da "XF17 Motorizada Infernal" a "Carniceiro de Satã" foi desenvolvida a partir de um trecho que tinha inicialmente gravado para "Portal do Inferno" que acabou por não se enquadrar, mas como todas as ideias são válidas, foi aproveitada para o álbum de Cães de Guerra - “Cabras, Cães & Leite de Bode”.
Por sua vez "Trono de Sacrifícios" na minha perspetiva está mais homogéneo e compacto, mais pensado como um todo desde o início, é um álbum mais bem estruturado e ao mesmo tempo mais sombrio, também mais difícil de digerir, obriga o ouvinte a dedicar-se a ele para conseguir absorver tudo o que se vai desenrolando, ou seja não é tão direto, não prende o ouvinte há primeira como o “Cabras, Cães & Leite de Bode”, mas é muito superior a nível de composição e liricamente, embora mais sóbrio e sério, não lhe faltam momentos de loucura ébria e humor corrosivo.
Tenho de confessar que o som de Cães De Guerra, a princípio estranha-se, mas depois entranha-se. Concretamente como defines a sonoridade deste projeto?
Eu chamo-lhe Necro Rock n' Roll, a base é uma mistura de Speed, Thrash, Black ou como alguém já o definiu "Motorhead" com asteroides, na verdade é mandar tudo para dentro do caldeirão
da negra poção mágica, misturar e regurgitar cá para fora, para mim faz sentido, siga! Não ouço música por rótulos e por isso não me preocupo muito com opiniões ou o que quer que seja...Nós queremos é sangue e destruição!
Quais são as tuas maiores inspirações musicalmente falando?
Musicalmente falando, Cães de Guerra é inspirado por bandas de Speed/Thrash, Black e Rock n’Roll como por ex: Slayer, Venom,Testament, Overkill, Nocturnal, Destroyer 666, Disaster, Sepultura dos primórdios, Motorhead, não esquecendo os nacionais e não menos relevantes, Filii Nigrantium Infernalium,Alcoholocaust,Alastor etc, são tantas, estas são apenas algumas daquelas que oiço com alguma regularidade, o revivalismo que se vive atualmente dentro do Thrash/Black Metal com várias e muito boas propostas a surgir um pouco por todo o lado nos últimos anos dentro deste espectro, despertou-me o interesse em criar algo nessa base, embora beba diretamente dessas influências é uma mescla de variados géneros, sem ser nada de original, não estamos cá para inventar a roda, mas que é facilmente identificável como “Cães de Guerra” com o meu cunho pessoal, sem uma direção concreta definida nem planeada, as ideias surgem e progridem naturalmente sem regras nem critério, se soar bem para mim e me agradar está ótimo, se outras pessoas se identificarem e curtirem então é excelente, não sou hipócrita ao ponto de afirmar que apenas escrevo e componho música para mim, isso soa-me falso porque toda a gente curte ser elogiado e enaltecido pelo seu esforço e trabalho. Liricamente sou eu próprio, as minhas influências, são
vivências, convivências e experiências de vida, tudo em meu redor me pode inspirar, para avacalhar qualquer assunto é relevante, as composições são totalmente em português e assim continuaram pois faz parte da essência daquilo que defini para o projeto e principalmente porque somos portugueses e apesar de tudo ainda tenho orgulho na minha língua e País.
Sei que tens outros projetos, aliás eu conheci-te pelo Portal do Inferno, como bem te recordas, mas para além deste teu projeto ainda há por aí outras coisas tuas também a circular. Como é que tu encaixas uma composição em algum destes teus projetos? Como é que chegas à conclusão de que esta música vai para Portal do Inferno, esta para Vil Garrote ou para Cães de Guerra…
Todos os meus projetos são bastante diferenciados na minha ótica de visão, logo é fácil saber onde se enquadra cada música e ou letra, a nível de lírica quando me surge uma ideia anoto e sei automaticamente onde aquilo vai fazer sentido, quando chega a altura de escrever o álbum é pegar nas notas e desenvolver a ideia a partir daí, nem sempre resulta, mas não deito nada fora o que hoje não se consegue encaixar ou parece não fazer sentido, mais tarde pode vir a revelar-se uma excelente ideia, embora seja um desorganizado nato, quando quero gravar algo por Ex: de Cães de Guerra, foco-me única e exclusivamente nisso e levo o projeto do principio ao fim, obviamente isto é uma regra que posso quebrar a qualquer momento como já aconteceu, por vezes acordo fodido das ideias e não me apetece pegar nesse projeto e para desanuviar gravo três músicas de
Chavasckall ao primeiro take hehehehe, só para exorcizar os demónios internos e depois volta tudo ao mesmo.
És o típico músico que não quer saber do que os outros pensam sobre o que tu fazes nos teus discos. Isso dá alguma liberdade quando estás a compor?
Eu vejo o metal como uma forma de arte livre, sem qualquer barreira e/ou fronteira, para mim só faz sentido se for assim, a partir do momento em que te limitas a ti próprio, ou és limitado por outrem, já não estás a ser verdadeiro e todo o culto, aura e felling morrem...a música para mim é puro divertimento e liberdade, não faço música a pensar agradar ninguém, faço a música que quero e gosto, desde que me sinta realizado com isso para mim está ótimo e acredito que enquanto assim for vai haver sempre mais alguém que se identifica.
Surge por aqui um tema dos brasileiros Velho, falo de “Satã Apareça”, como é que surgiu a ideia?
Quando conheci a banda através de um amigo, fiquei colado ao som deles, verdadeiramente underground e verdadeiro, essa foi uma das primeiras malhas deles que ouvi e me marcou de tal forma que me fez descobrir mais profundamente o seu legado e a sua maneira de viver a música, automaticamente fazia todo sentido para mim uma cover de "SatãApareça" em Cães de Guerra, como forma de homenagem e agradecimento ao culto do senhor das trevas.
Em Portal do Inferno, tens uma colaboração muito especial de Lady Noir, a tua filha. Como é que ela vive ou sente este género de música e já agora qual é a opinião de Lady Noir sobre o que escreves musicalmente?
Antes de mais a Lady Noir não é convidada ou colaboradora, é parte integrante e fundamental de Portal do Inferno, o projeto foi desde o início idealizado por nós os dois, ela é uma voz crítica e ativa no projeto, aliás ela só faz mesmo o que quer e quem por vezes tem de ceder quando as opiniões divergem sou eu, caso contrário não acontece.
ALady Noir desde que nasceu que convive diariamente com o heavy metal portanto está bem familiarizada com a cena, tem um bom conhecimento geral da história e evolução do Rock e Heavy Metal, só para referir que uma das suas bandas preferidas de sempre são os Queen, obviamente que ela acompanha e ouve outras coisas fora do espectro do Rock e Heavy Metal, pois é uma ávida consumidora de música e está constantemente em busca e a descobrir coisas novas, tem um gosto bastante apurado e felizmente não segue nem
acompanha modas, abomina a maior parte do que os miúdos da idade dela ouvem hoje em dia, felizmente! Um grave problema, que não é de todo problema, é a apetência por possuir o formato físico, de preferência edições mais raras e/ou limitadas, onde será que ela foi herdar está apetência dispendiosa é que não sei hahaha. Relativamente à sua opinião quanto ao que escrevo para Portal é tudo esmiuçado por ela e só é editado com a sua concordância, logo tem obviamente de gostar, já a história é outra quanto à temática para Cães de Guerra, mas não liga nem se intromete, já sabe o que a casa gasta.
Sempre muito crítico para com as religiões num todo…Se fosses tu a mandar tudo seria diferente, certamente extinguias todas as religiões…
Sim, com certeza sou bastante crítico em relação a qualquer tipo de religião, seita e/ou culto...tudo não passam de falácias e politiquices que alguém com alguma capacidade de argumentação, persuasão e manipulação, conseguiu incutir no rebanho dos mais fracos e influenciáveis, que sentem a necessidade de acreditar em algo para conseguirem prosseguir com as suas míseras vidas, deixaram-se levar e seguem cegamente essas doutrinas, ao ponto de viverem e morrerem por elas, sem religião e política, que no fundo são a mesma merda, certamente teríamos um mundo melhor, sem tanta violência, guerras, etc...
AAssembleia do Metal 2023 presenciou um momento digamos único…Cães De Guerra ao vivo. Finalmente saíste das trevas para a luz…do palco! Como viveste esse momento? Quem alinhou contigo naquele palco? É para repetir?
Foi sem dúvida um momento marcante e desafiante, eu gosto de desafios e não excluo a hipótese de o voltar a fazer, mas não está para já no horizonte mais próximo essa ideia, até porque nunca fez parte dos meus planos tocar ao vivo, à meia dúzia de anos atrás, era apenas um ouvinte acérrimo destas sonoridades negras, quem diria que em 2024 estaria onde estou, com vários discos editados nos mais variados gêneros do metal, nem nos meus sonhos mais húmidos do tempo da revista "Gina" e dos filmes culturais da "Cicciolina" isto me passava pela cabeça.
O Carlos Guimarães dos Caminhos Metálicos, andava ao tempo a pressionar para que eu tocasse ao vivo, um dia em que me encontrava fragilizado, cedi à pressão e quando me dei conta já era tarde demais para reparar o mal feito, sendo eu natural daquelas paragens, foi um tremendo gosto e prazer poder apresentar os Cães de Guerra ao vivo no Fest, não podia ter sido melhor, dadas as
circunstâncias. Uma vez que não tenho banda formada eu e o Carlos Pires (Furcas) conseguimos reunir malta de alto calibre para a performance, nenhum dos elementos é fã ou está familiarizado com o meio Heavy Metal, no entanto acreditam no projeto e como bons amigos, em prejuízo das suas vidas profissionais e familiares prontificaramse de imediato para actuar.
O que podemos esperar mais de Lord Sir7Peles?
Portal do Inferno de momento está em standby, muito por falta de tempo e oportunidade para gravar, embora tenha um álbum completamente escrito e mentalmente idealizado, a Lady Noir, está numa fase da vida em que está completamente focada em tomar decisões relevantes e fundamentais para o seu futuro, mas como no entretanto tínhamos escrito e gravado este single "Sangue do Meu Sangue" para apresentar ao vivo naAssembleia do Metal, achei que não o devia manter na obscuridade e decidi disponibilizar a música nas plataformas digitais, para os três fãs do projeto não se esquecerem que ainda existimos.
Para fechar a nossa entrevista, que mensagem gostarias de deixar para todos aqueles que ainda estão na fase da garagem enquanto banda ou projeto disso?
Desde que me dediquei mais afincadamente aos meus projetos naturalmente travei contacto com mais pessoal do meio e tenho constatado que existem montes de projetos e bandas, que nunca saem da gaveta ou da garagem, de grande qualidade, porque infelizmente os próprios não acreditam naquilo que fazem, acham que nunca está o suficientemente bom para ser editado ou mostrado ao público e vivem num constante processo de desenvolvimento e aperfeiçoamento das composições, o que muitas vezes acaba por matar toda a essência e felling da cena, acaba por ficar demasiado polido, perfeito e artificial, sem qualquer alma, porque querem soar exatamente como a banda X ou Y, em vez de soarem originais e únicos, infelizmente são os tempos que vivemos. Então queria deixar uma mensagem de confiança, o pessoal tem que acreditar mais em si próprios e no seu trabalho, claro sem, no entanto, inchar os egos, não se devem acharem melhores que os outros, existe espaço e oportunidades para todos, com humildade e respeito, podíamos ter uma cena de união do caraças e isso infelizmente não existe, porque muitas vezes parecem as beatas que ao domingo vão à missa apenas com o único motivo de cuscarem e saberem da vida alheia para criticarem e falar mal. Fiquem bem! nunca se esqueçam, oiçam sempre música diabólica e Satânica. Saudações do Reino de Satã.
TERRAMORTA
Os Terramorta, compostos por Seer, Nero Sangrus, HellVigário, Sargervs e Lycan, membros que participaram em diversos projetos musicais como os Venial Sin, Morbius, Infernal Kingdom, Crown Of Grief e Arcanvm Woods, não são apenas mais uma banda, mas sim um símbolo da força e da vitalidade do Heavy Metal nacional, e surgem não só com vontade de inovar o mesmo, mas, também, de mostrar uma imponência única ao vivo. Estruturados numa sonoridade Symphonic Black/Death Metal, os Terramorta rasgaram as cortinas do nosso underground, lançando no passado fevereiro o álbum de estreia intitulado “Chronophobia”.
Aqui fica o registo da nossa conversa com Carlos Ribeiro aka Nero
Olá, Carlos, muito obrigado pela oportunidade desta entrevista e começo por perguntar, naturalmente, até porque há quem não saiba ainda a vossa história. Tu e o Hélder estão na base da formação dos Terramorta. Como é que tudo aconteceu?
Olá, o prazer é nosso. Sim, eu e o
Hélder estamos na base da formação da banda. Foi engraçado o começo de tudo, já não falava com o Hélder há uns anos, ele ligou-me para lhe dar umas dicas sobre gravação de baterias acústicas, material, etc., acabamos por marcar um almoço, a nostalgia aliada a um verde fresco deu origem a um tema que ficou em aberto: “E se fizermos uma cena nova?” Eu já tinha em mente o estilo, há
alguns anos que pensava em fazer algo do género, foi o sítio certo há hora certa. “Chronophobia”, é o vosso disco de estreia, uma odisseia, e através dele os Terramorta fazem uma “reflexão sonora sobre a efemeridade da existência humana”. Como é que os elementos sonoros presentes representam tudo isso?
Na parte sonora tentamos que a orquestra seja o ponto que reflita o sentimento… Basta ouvir ‘The Chaos Begins’para ter aquela sensação de desequilíbrio e inquietação da trompete gritante na segunda parte, mais exemplos existem, a calmaria do instrumental na declamação do tema ‘Your God is a Lie’seguida de uma «blast beat» agressiva, etc… Não quis ser muito técnico nas guitarras, a ideia sempre foi a simplicidade reforçada pelos instrumentos de orquestra (muitos bem escondidos, só mesmo para ouvidos atentos).
E de que forma as letras refletem aquilo que vocês intitulam de «Fomo» (Fear of Missing Out)?
Todos nós temos algo a dizer ao mundo, no nosso caso já passamos por muito, depressões, ansiedade e até burnouts…. Mas quem sofre mesmo de Fomo é o Seer…. O Fear of Missing Out (traduzido para algo como “Medo de Perder Oportunidades”) é principalmente retratado em temas como ‘Chronophobia’, ‘Morte’, e até ‘Post Mortem’, é baseado no sentimento e na dúvida de que algo melhor poderia acontecer, no qual somos impedidos de presenciar por diversos motivos, é um sentimento de desaproveitamento da vida, já ela curta e incerta.Acronofobia e a morte fazem uma forte sinergia a alimentar este sentimento, pois quanto menos tempo temos, maior é a certeza que a nossa capacidade de aproveitar a vida é limitada, junto com a morte, no qual pode acabar com nossa jornada a qualquer momento e sem aviso.
Fiz este álbum motivado pelo sentido de perda de tudo o que me foi tirado precocemente. Conseguia ouvir os temas antes de os compor, foi escrito com propósito, não o conseguiria fazer em mais nenhuma linguagem. Fiz questão de usar bastantes trompetes, que era o instrumento do meu pai.
Um álbum ou música pode ter muitas fontes inspiratórias, normalmente dizemos que reflete um momento ou uma fase ou algo do género…posso perceber num todo que essa perda te marcou…queres comentar?
Indiscutivelmente a perda do meu pai. Morreu sem me poder despedir dele durante a pandemia. Era doente acamado e muito novo para partir, com cinquenta e poucos anos estava numa cama, revoltado e ainda consciente, à medida que os anos foram passando a demência tomou conta dele e não lidei bem com isso. No dia em que ele morreu apenas consegui dar-lhe um beijo na cabeça enquanto o metiam na ambulância, o prognóstico era o do costume, uma crise relacionada com a doença, quando recebemos a chamada o mundo desabou. Ele sempre me apoiou e eu senti que não tinha feito tudo por ele… Isso irá estar sempre comigo,
tenho tentado lidar com isso através da música.
Como foram trabalhadas as composições?
Fazer os temas foi a parte mais fácil, entrei em modo eremita, entrava no estúdio de manhã e só saía à noite, às vezes sonhava com melodias, de manhã registava logo e ia compondo durante o dia, havia dias em que enviava ao Hélder mais de 20 riffs.
E que influências musicais existem enquanto guitarrista e neste caso compositor e até que ponto elas são presença na sonoridade da banda, uma vez que há por aqui uma fusão de estilos e de linhas orquestrais bem conseguida?
Eu estudei música, o erudito foi me incutido na formação, não gosto muito de rótulos de estilos, mas sim tenho várias influências, não é de admirar se disser nomes como Septicflesh, Behemoth (recente), Dimmu Borgir, Immortal, Death, mas eu raramente ouço metal, penso que o Facelift dos Alice in chains anda no meu carro há mais de 5 anos…. Um álbum que andava a ouvir durante a composição do Chronophobia foi o Blackstar do David Bowie, comovente, arrepiante e deslumbrante…
Sei que já tiveste outros projetos, com sonoridade bem diferente porquê esta opção na sonoridade dos Terramorta. Atentativa de acompanhar tendências?
Sim, tive e tenho vários projetos, desde Morbius, cuja minha saída foi em 2002, e nunca mais tive um projeto de Metal. Se fosse para acompanhar tendências lançava outros temas que tenho na gaveta, simplesmente fartei-me de tocar solos difíceis e de fazer rock, tenho 3 álbuns na gaveta que provavelmente nunca irei divulgar. Lancei o álbum “The Devil in You “ dos Dogs apenas pelo sentimento, pois o álbum foi lançado 10 anos depois de a banda ter “acabado”. Terramorta é o estilo de música em que consigo exprimir-me, como já referi, é a única linguagem em que consigo transpor o que sinto.
Dentro do alinhamento qual é aquele(s) tema(s) que sentes que és tu que tem a tua “cara” por tudo o que soa?
“Burnout Looms”, pois passei por isso não uma, mas duas vezes, e temo que vá a caminho da terceira. O refrão retrata exatamente a experiência.
Estamos a falar de um disco que deduzo lançado por vocês, portanto criaram uma editora para o efeito. Foi, digamos, difícil arranjar uma
editora que se alinhasse com o projeto Terramorta?
Sim, não foi por falta de tentativas e contactos, ninguém nos ouviu, penso que dado o meu historial de produtor lá pensaram que era mais um “álbum de produtor”, sem sentido de banda e por tudo em prática. Não encontramos editora que se alinhasse com os nossos objetivos, foi então que decidimos criar a nossa.
Como foi falado anteriormente, um disco no seu todo é fruto de um momento. Estás satisfeito com este “Chronophobia”?
Não só estou satisfeito como estou mais do que orgulhoso, de mim e dos meus companheiros, principalmente do Hélder, que é uma máquina de trabalho árduo.
Alguma história engraçada que queiras partilhar?
Existe um sample algures no álbum que foi gravado do Seer a defecar, não vou elaborar, apenas divirtam-se com a caça ao tesouro!
Depois de apresentado o disco, como é que tudo correu e como está a ser preparada a divulgação em termos de mais atuações ao vivo? Datas fora de portas? E que podemos esperar da banda ao vivo?
Datas marcadas, para já só em Portugal, 5 datas como já divulgamos e não vamos dar mais shows em Portugal este ano.Ao vivo, os que já nos viram no concerto de apresentação já ficaram com uma ideia, mas aguardem pelo palco maior.
Por: Miguel Correia
Nota de Introdução
Com o tão aguardado segundo álbum, "AMass To The Grotesque",produzido porAndré Moraes,um músico multi-talentoso conhecido pelo seu trabalho no "Dante XXI" dos Sepultura e na banda sonora do filme "Lisbela e o Prisioneiro",no estúdioAudio Porto em PortoAlegre/ RS.Amixagem e masterização do álbum ficaram a cargo de Jim Morris no lendário Morrisound Recording em Tampa,Flórida, conhecido por produzir alguns dos maiores clássicos do Death Metal dos anos 80 e 90. E a conversa, foi claro está, com Jairo “Tormentor” Guedz.
Olá, Jairo, começo por agradecer a disponibilidade para esta entrevista, penso ser a terceira vez que conversamos e desta feita a oportunidade surge para falar do novo trabalho dos The Troops Of Doom, o que é sempre excelente motivo…
Olá meu amigo! Espero que esteja tudo bem contigo. Sempre um prazer! Ótimo, vamos nessa...
Falando então no disco o que o título "AMass To The Grotesque" revela sobre os temas e atmosfera do novo álbum? Quais os elementos líricos e sonoros que nos levam a esse mundo obscuro e macabro?
THE TROOPS OF DOOM
Aclamados como um supergrupo, os brasileiros The Troops Of Doom surgiram para reviver o Death Metal clássico dos anos 80, inspirados pela era inicial de nomes como Sepultura ainda com Jairo e outras bandas influentes como Slayer, Celtic Frost, Kreator e Possessed. Por: Miguel Correia
"AMass To The Grotesque" é uma celebração dos aspectos mais obscuros e grotescos da existência humana. Liricamente, mergulhamos em temas que exploram a corrupção, a decadência e a perversidade que permeiam a sociedade. É um reflexo das sombras que todos carregamos, uma representação das angústias e dos horrores que muitas vezes preferimos ignorar. Musicalmente quisemos resgatar aquela aura das produções dos discos de Thrash/Death Metal dos anos 80 e início de 90, uma abordagem imperfeita, no melhor dos sentidos, orgânica e visceral, sem seguir fórmulas e padrões estéticos de mercado ditados pela indústria musical nos dias de hoje. Nós queríamos algo legítimo!
Comparado com o álbum de estreia "Antichrist Reborn", quais aspetos da sonoridade dos The Troops of Doom sofreram maior evolução?
Acredito que nosso novo álbum seja um trabalho mais maduro, mais consistente e traz algumas sonoridades antes não exploradas em relação aos EPs e ao Antichrist Reborn. No começo estávamos bastante conectados com o meu passado no Sepultura e esse era o foco principal, mas com o passar do tempo, a gente foi se distanciando disso discretamente, dando espaço para nosso próprio DNAvir a tona. Mas foi tudo de maneira bem natural, a gente nunca força algo quando estamos compondo, a
gente deixa fluir. Mas tudo isso está nas nossas veias, simplesmente colocamos para fora. Com o passar dos lançamentos, essa nossa química foi se renovando e fomos desenvolvendo algo mais nosso dentro da música, o que é muito positivo, é claro. De qualquer forma a raiz é sempre a mesma!
Porque é que a faixa "Chapels of the Unholy" foi a escolhida como primeiro single do álbum? Como é que este tema se torna o representante ideal da identidade e sonoridade dos The Troops of Doom neste novo trabalho?
Escolhemos dois singles para que passassem o recado, como espécie de síntese do álbum, ainda antes dele ser lançado. Não é uma tarefa das mais fáceis, honestamente, até porque nós da banda temos todas as músicas como filhos e cada uma delas tem sua importância dentro do disco. Mas escolhemos a “Chapels Of The Unholy” como primeiro Single por ela ser uma música mais intensa, rápida e direta, como forma de chegarmos mostrando esse novo disco com os dois pés na porta (risos). Essa foi a intenção! Já o segundo single, que foi a faixa “Dawn Of Mephisto”, apesar de conter essa mesma agressividade, ela é mais experimental, com partes cadenciadas e momentos mais melódicos.
Como é que a letra de "Chapels of the
Unholy" aborda a decadência da fé e a escuridão da mente humana? Que mensagem a banda pretende transmitir com essa temática?
Exatamente! Ela fala dos lados mais sombrios da vida, explorando temas como corrupção, engano e a atração pelo conhecimento proibido, explorando os aspectos mais sombrios da religião.
Os comentários a este novo trabalho vindos de Øystein G. Brun (Borknagar) e Mille Petrozza (Kreator) elogiam "AMass To The Grotesque” afirmando que toda a sonoridade transporta para a época de ouro do Death metal. Como é que recebes estes elogios e de que forma o som da banda serve como uma "máquina do tempo" para os fãs nostálgicos da era de ouro do Death Metal?
Receber elogios de figuras como Øystein G. Brun, do Borknagar, e Mille Petrozza, do Kreator, é uma honra imensa para a gente. Esses caras são referências no mundo do metal, e saber que eles apreciam nosso trabalho é uma validação incrível do que estamos fazendo. E sinal de que conseguimos capturar a essência crua e visceral daquele período. Nosso som serve como uma "máquina do tempo" porque, além das influências óbvias, nos dedicamos a manter a produção e a composição fiéis ao estilo daquela era. Usamos uma abordagem direta e sem frescuras, com o intuito que os fãs nostálgicos sintam a mesma energia e agressividade que sentiram quando ouviam aquelas álbuns clássicos pela primeira vez. Nos motiva a continuar honrando as raízes do Thrash/Death Metal, ao mesmo tempo em que buscamos nosso próprio caminho dentro desse legado.
Os The Troops of Doom conseguiram lançar três Eps ("The Rise of Heresy", "TheAbsence of Light" e "Prelude to Blasphemy") e o álbum de estreia ("Antichrist Reborn") em apenas dois anos desde a sua formação e agora temos um álbum altamente aclamado, num caminho sempre ascendente. Como é que tudo isso é possível? Falar de maturidade musical não será certamente a única explicação?
Realmente, a trajetória da banda nesses últimos dois anos tem sido intensa e produtiva, e é incrível olhar para trás e ver tudo o que conseguimos realizar em tão pouco tempo. Falar de maturidade musical é importante, mas não é a única explicação para esse sucesso.Acho que a nossa paixão e dedicação é um fator primordial, aliado obviamente a toda nossa experiência prévia.Abanda é nova, mas somos músicos já experientes no cenário, então isso claramente ajuda muito.Além disso a parte de planejamento e organização, e todo apoio e atenção que recebemos daAlma
Mater Records é algo que pesa para o sucesso de um disco também. Enfim, estamos realmente comprometidos com a nossa música e com os nossos fãs, e tudo isso nos impulsiona a continuar crescendo e evoluindo da melhor maneira possível.
As expectativas iniciais com este trabalho estão a ser cumpridas?
Sem dúvida!As expectativas iniciais com este trabalho estão sendo mais do que cumpridas, estão sendo superadas! Desde o início, tínhamos uma visão clara do que queríamos alcançar com "A Mass To The Grotesque", mas a recepção positiva e o reconhecimento que estamos recebendo têm sido incríveis. Estamos muito satisfeitos com o caminho que estamos trilhando e com a resposta que estamos recebendo. Isso só nos dá mais energia e motivação para continuar fazendo o que amamos e levar o The Troops of Doom a novos patamares.
EAndré Moraes, qual a relevância da sua participação como produtor deste álbum?
OAndré é um produtor musical experiente e muito criativo. Ele já produziu o Sepultura, no álbum Dante, ele é compositor de trilhas sonoras, inclusive indicado ao Grammy pelo seu trabalho com a trilha do filme Lisbela e o Prisioneiro. Eu imagino que tenha passado ai em Portugal também na época. Foi um filme muito grande aqui no Brasil.Além disso ele é amigo do Alex e do Marcelo de longa data, então o ambiente de gravação foi muito amigável, leve e descontraído. Ele entendeu muito bem a proposta do que estávamos querendo trazer para a sonoridade do disco. Ficamos 10 dias todos juntos produzindo o disco em PortoAlegre, aqui no sul do Brasil, no estúdioAudio Porto, que é tido como um dos melhores estúdios do país. O estúdio tem uma diversidade enorme de equipamentos maravilhosos para gravação, então não foi muito difícil a gente alcançar esse som mais orgânico e vintage, em referência ao que era produzido nos anos 80 e começo de 90. Tudo isso colaborou muito para o resultado final do disco.
E porquê a escolha de Jim Morris da Morrisound Recording para mixar e masterizar "AMass To The Grotesque" é tão significativa?
Estamos sempre buscando sonoridades fora da caixa, e fora da época, já que hoje em dia tudo acaba se parecendo e seguindo muito um padrão moderno de produção, tudo muito plástico, robótico, audível e perfeito, o que na nossa concepção é algo negativo e não transparece verdadeiramente como a banda é ao vivo. Então buscamos o Jim Morris e o estúdio Morrisound exatamente pelo histórico magistral
deles em produções de grandes clássicos do Death Metal. Jim captou nossa essência, é um disco que pulsa, com suas imperfeições, no melhor dos sentidos, e que melhor se assemelha com o som da banda ao vivo, sem frescuras, sem maquiagem… Puro, simples e cru! Tem aquela sonoridade rústica da era de ouro do Death Metal, que era exatamente o que estávamos buscando nesse novo trabalho.
E como recaiu a escolha em Dan Seagrave para artwork?
Dan Seagrave é provavelmente o melhor artista gráfico de Metal de todos os tempos, autor de dezenas de capas clássicas do Death/Thrash Metal dos anos 80 e 90, então a escolha nos pareceu quase óbvia quando estávamos trabalhando no conceito do disco. Queríamos que o contexto estético do álbum fosse perfeito, trazendo a essência do Death Metal «oldschool», e nada melhor do que o Dan Seagrave para isso. O trabalho dele é fantástico e ele conseguiu traduzir todo o sentimento em torno do título do disco em uma única imagem.
Não podia deixar de falar de Sepultura e do anúncio do fim da banda. Como elemento que este na origem dos mesmos, como encaras este anúncio. Falaste alguma coisa com eles depois disso?
Estive com oAndreas algumas coisas, mas não falamos diretamente sobre isso, pra ser honesto. Eu acredito que eles ainda tinham muito a oferecer e eu achei um fim precoce, pegou muita gente de surpresa, mas entendo perfeitamente o posicionamento doAndreas em relação a isso e acredito que todos devem respeitar a decisão dele e da banda.
Agosto a estreia em solo nacional no XV OpenAir Pindelo dos Milagres. O que podemos esperar?
Finalmente está chegando a hora! Estamos muito ansiosos pela nossa primeira Tour Europeia e um dos shows que estamos mais animados para fazer é no Milagre Metaleiro. Ouvimos muita coisa positiva sobre o festival! Adoramos Portugal, obviamente temos essa conexão entre nossos países, a língua, alguns costumes e tudo mais, então tenho certeza que será um grande evento! Vamos tocar músicas praticamente de toda nossa discografia, incluindo alguns covers do Sepultura, dos primeiros disco que eu participei. Vai ser do caralho!
Jairo mais uma vez muito obrigado pela simpatia
Eu que agradeço pelo interesse de saber mais sobre a história do The Troops of Doom. Muito obrigado por todo apoio e esperamos ver todos vocês aí em Portugal no Milagre Metaleiro!Até lá! Grande abraço!
DESERT STORM
Durante uma série de anos, na década de 1990 mais especificamente, Marco Scharfenort e os seus Desert Storm eram presença mais do que obrigatória em tudo o que eram fanzines, revistas e programas de Heavy Metal, um pouco por toda a Europa. Passados quase trinta anos, voltamos ao contacto com um das figuras icónicas do underground germânico.
Em primeiro lugar, é fantástico voltar a falar contigo novamente, passados quase 30 anos, sobre música e sobre os teus Desert Storm!?
Também estou muito feliz com isso… Parece que foi ontem que trocamos a primeira correspondência.. o tempo passou depressa...
Acena underground mudou muito e hoje em dia ninguém usa mais cartas
de papel ou flyers. Sentes falta desses tempos?
Sim, de certa forma, mas como músicos, temos que acompanhar os tempos da era digital. Para mim, tudo é feito via PC e internet, como de resto acontece com praticamente toda a gente.
Os Desert Storm continuam no activo desde 1992.Alegião de fâs continua fiel desde então?
É esta a conclusão a que chegamos também, ou seja, que temos uma boa base de fãs em todo o mundo que ainda hoje é leal, infelizmente tudo é feito pela internet, perdendo um pouco da «proximidade» ou até mesmo da cumplicidade que se criava com todos, de forma geral.
O que tens feito musicalmente nos últimos anos?
Muita coisa mudou, o estilo da música mudou muito, existem mais direções diferentes do rock ao metal. Tentei diversas aproximações a diferentes sonoridades.
Continuas a tocar ao vivo?
Desde o Corona Virus que não tocamos ao vivo. Deixou de fazer sentido porque financeiramente ficou incomportável. O mercado não está propriamente aberto a isso...
As redes sociais têm sido importantes, no contexto promocional?
Sim, principalmente no Facebook, YouTube, Spotify entre muitas outras… Temos que estar presentes e manter «alimentadas» as nossas redes sociais. Só assim, os fãs continuam a saber de nós...
Acena Metal em Hamburgo continua forte?
Sim, ainda sobrevive, mas já diminuiu muito. Os clubes onde outrora nós e muitas outras bandas tocavam, estão quase todos fechados. No que respeita a bandas, a situação é um pouco melhor...
Como tem sido 2024 até agora?
Está a correr bem!As duas músicas novas que lançamos estão a ter um feedback muito positivo. Foram feitas com oAndreas da banda Minotaur.. logo, como sabes, companheiro de longa data.
PRIME EVIL
A conversa foi com o guitarrista/fundador Mike Usifer. Bem-vindos o universo dos Prime Evil, uma banda com história e com estórias (nem sempre alegres para contar). Fazem parte da cena Metal de Nova Iorque e têm em “Evilution X” o seu mais recente lançamento.
Em primeiro lugar, parabéns por “Evilution X”. Como é estar de volta à música?
Obrigado! É sempre óptimo lançar material de Prime Evil mais uma vez.
Este é o nosso primeiro lançamento desde o nosso vídeo/single “Soul Shattered” em 2020, embora tenhamos trabalhado durante a maior parte deste tempo.Até aqui.
Aprodução, mixagem e masterização foram feitas por ti. E a gravação?
Começamos a gravar “Evilution X” no final de 2021 para podermos lançar no seu 10º aniversário em 2022.
“Evilution” foi lançado inicialmente em 2012 em CD e cassete através da Inferno Records, mas nós cuidamos da distribuição digital.Aparentemente, usamos o distribuidor errado, porque não está disponível digitalmente há algum tempo. Como não estava mais disponível digitalmente e foi originalmente gravado com bateria programada, decidimos regravar as músicas com um baterista ao vivo, e relançá-los digitalmente. Também percebemos que o nosso Ep “Terminal Dementia” lançado na Rage Records em 1992 completaria 30 anos em 2022, além de ser o 35º aniversário da nossa demo auto-intitulada, de 1987, então decidimos regravar “Terminal Dementia” e “Kill For Me”Assim sendo, trat-se de um lançamento de
vários aniversários. O nosso mais novo integrante, o bateristaAntonio Padilla (Teloch Vovin), gravou toda a bateria no seu estúdio de bateria particular em Nova York, durante o inverno de 20212022. Nessa altura, fui diagnosticado com cancro, causado pelo tabaco. No Primavera de 2023, após exames e testes,deu-se a recuperação - consegui começar a gravar todas as guitarras um ano depois, Gravei ainda o baixo, bem como mixei e masterizei tudo, no meu estúdio de produção,AuralAssault Studio em NY. O nosso vocalista,Andy Eichhorn, gravou todos os vocais no Barking Dog Studios em Brewster, NY durante o verão de 2023. Richie Kennon (Subzero) projectou a sessão vocal.
O disco soa exatamente como vocês queriam?
Coletivamente, passamos mais tempo garantindo o desempenho e os sons/tons/energia que gravamos. O resultado é exatamente o que queríamos. Para ter uma boa gravação, ela tem que ser boa desde a fonte.
As músicas antigas que fazem parte deste disco foram de fácil escolha?
Sim, muito fácil. Só precisávamos escolher uma música da nossa demo auto-intitulada, e como “Kill For Me” é a única música que ainda tocamos ao vivo daquela demo, não houve outra escolha realmente.
Festivais ou uma tour para divulgar o novo lançamento?
Não, não estamos fazendo nenhum show no momento. Este projecto demorou mais do que esperado por causa do meu cancro, então estamos a escrever o nosso próximo álbum para gravar em 2025.
Qual a tua opinião sobre a cena Metal atual de Nova York?
Acena Metal de Nova York continua forte.Ainda há muitos veteranos na cena rasgando tudo como Malignancy, Morpheus Descends, Demolition Hammer, Suffocation, Internal Bleeding, entre muitos outros...
Última pergunta: quais são as expectativas da banda para o disco e também para 2024?
Estamos extremamente felizes com o resultado do álbum. Nós trabalhamos duro cada parte de cada música para ter certeza de que foi a melhor performance que poderia dar; e se não fosse, voltávamos e garantíamos que sim. Não poderíamos estar mais felizes com a performance ou a produção. É de longe o nosso melhor lançamento até agora, e esperamos ansiosos para melhorá-lo com o nosso próximo lançamento.
HUMAN INFECTION
Exatamente por que decidiram reeditar «Gravesight»?
Basicamente, o “lançamento” original não fez justiça a este álbum de forma alguma. Era apenas digital, com trabalho de arte muito mau e mixagem inacabada.Aliás, a mixagem teve muitos problemas que, provavelmente, só eu percebi, mas que ainda me incomodaram muito ao longo dos anos. Estávamos originalmente planeando trabalhar com algumas editoras diferentes, mas nunca deu certo e antes que percebêssemos, já se passaram alguns anos e o nosso baixista havia saído, então apenas colocamos isso no Bandcamp, no final de 2019, principalmente para que as pessoas parassem de perguntar e também para dizer que foi “lançado” na mesma década em que foi gravado. Neste ponto eu estava bastante desanimado com a coisa toda.Apartir daí, permanecemos em estado de semi-hibernação (com alguns falsos recomeços ao longo do caminho) até 2022, quando finalmente
decidimos levar a banda a sério novamente e depois de cerca de um ano ensaiando e fazendo shows, decidimos finalmente faça justiça a este álbum com nova arte, melhor som e, o mais importante, um lançamento físico.
Além da remasterização, vocês regravaram solos ou sessões rítmicas?
Não, nada foi regravado. Nós consideramos isso no início. Há alguns espaços aqui e ali que eu teria preferido «consertar» porque eles foram desalinhados durante a mixagem original e algumas pequenas partes foram totalmente excluídas, mas, infelizmente perdemos contacto com a pessoa que mixou o álbum, então não conseguimos recuperar o «master» impossibilitando um remix completo e qualquer regravação.Acerta altura, tens que ser realista sobre as coisas, e estou feliz por termos sido - não poderia estar mais feliz com o resultado.
Qual programa de áudio usaram para
fazer o trabalho de remasterização?
Aremasterização foi feita pelo nosso guitarrista Jeremiah, então tive que perguntar a ele.Aqui está sua resposta: "Para o meu DAW eu usei oAvid Pro Tools e uma mistura de plug-ins Izotope, Waves e LeapwingAudio para obter o tom geral do master."
Esta versão de 2024 também traz 4 faixas bónus da demo promocional de 2016. É uma espécie de presente para os fãs?
Sim! Essas versões foram gravadas no início do nosso trabalho no álbum. Algumas cópias físicas foram lançadas e distribuídas gratuitamente num show que fizemos no início de 2017, sendo que este lançamento é bastante obscuro. Essas gravações são muito mais cruas e brutais, e apresentam letras e ideias vocais diferentes das do álbum. Em retrospectiva, foi um erro regravar todas as 4 músicas. 13 músicas talvez seja demais e também algumas dessas versões demo são realmente melhores
Directamente de Roanoke, Estado da Virgínia, para todo o mundo que fala e entende a linguagem do Death Metal. Os Human Infection são um dos grandes exemplos de persistência e sabedoria. «Gravesight» é um disco obrigatório na colecção privada de qualquer headbanger que se preze.
do que as versões que acabaram no álbum, na minha opinião, ou seja, "In the Dreaming Eye ".
Vocês já têm material novo escrito e, se sim, planeiam lançar quando?
Nenhum material ainda, mas isso é o próximo assunto da agenda. Já faz muito, muito tempo que não escrevemos nada (todas as músicas de “Gravesight” datam de 2015/16), então estamos muito animados para ver como ficará depois de todo esse tempo.
Música ou letra, o que vem primeiro?
Música sempre. Pessoalmente, acho muito difícil ter bons padrões/cadências vocais quando eles são escritos de antemão.
As letras geralmente são sobre o quê?
No nosso primeiro álbum, os tópicos das letras eram mais sobre misantropia e degradação da sociedade, com um
pouco de sangue misturado - adequado ao nome da nossa banda, eu acho. Desde então tudo começou a mudar, e a maioria das letras de “Gravesight” tem temas anticristãos e niilistas, com algumas coisas ocultas misturadas, porque eu estava brincando com essas coisas na época.Agora eu sinto que posso ter levado essas coisas um pouco longe demais, então acho que retornaremos aos tópicos misantrópicos/ sangrentos nos nossos próximos lançamentos. É apenas hora de mudar isso e parece que há inspiração infinita na vida real, hoje em dia.
Vocês formaram-se por volta de 2007/08 então minha pergunta é: vocês ainda são influenciados por alguma grande banda?
Absolutamente! Nossas principais inspirações são bandas como Cannibal Corpse, Suffocation, Hate Eternal, Krisiun, MorbidAngel, Deicide e Vader. Praticamente as mesmas bandas hoje e no início. Fomos rotulados de "old
school Death Metal" em várias críticas, mas acho que nunca caímos sob esse guarda-chuva, não parecemos muito com 1991, acho. Nosso estilo é basicamente uma mistura de Death Metal clássico e cativante, baseado em riffs com alguns elementos de material moderno/brutal e um pouco de Grindcore aqui e ali.
Vocês já tocaram na Europa?
Não, mas sempre quisemos ir! Se bem me lembro, fizemos uma oferta há anos atrás a um promotor para abrir os Vital Remains, mas foi uma daquelas situações de adesão que não é realmente o nosso estilo, então recusamos.
O que conhecem da Europa e, por conseguinte, de Portugal?
AEuropa tem uma cena Metal incrível por toda parte. Quanto a Portugal, conheço Moonspell, Sacred Sin e Disaffected de lá - todas grandes bandas!
ZACK MOONSHINE
É o mentor da MDPR - Metal Devastation, empresa que alberga o melhor de diversos mundos, como a rádio, a promoção de bandas e lançamentos, festivais de Heavy Metal, etc, etc… Zack Moonshine, como é conhecido no meio, pode ser a resposta para a promoção e divulgação de bandas e trabalhos discográficos, tanto nos Estados Unidos, de onde é oriundo, mas também do resto do mundo.
Horas são suficientes para todas as coisas que fazes?
Não, 24 horas por dia muitas vezes não parece tempo suficiente para fazer «malabarismos» com tudo. Desde dirigir um programa de rádio, até gerenciar promoções, organizar festivais, trabalhar com revistas e manter presença nas redes sociais, é um acto de equilíbrio constante. No entanto, a minha paixão pelo Metal mantém-me motivado e e faz-me seguir em frente. Não é apenas um trabalho; é um trabalho de amor que me leva a aproveitar ao máximo cada momento.
Conta-nos como tudo isso começou?
Comecei no mundo do rádio em 2008. Tudo começou quando fui entrevistado sobre a minha banda (de um homem só) Brutal Death F..k. Durante essa entrevista, os apresentadores perguntaram se eu teria interesse em apresentar um programa de rádio e foi assim que tudo começou. Uma oportunidade levou a outra e antes que eu percebesse, eu estava profundamente envolvido em vários aspectos da cena musical do Metal. O que começou como um simples programa de rádio cresceu e se tornou uma plataforma abrangente que abrange rádio, promoções, festivais e muito mais, tudo sob a bandeira Metal Devastation.
Porquê Metal?
Por que não Metal? Para mim, o Metal é tudo. Tem sido uma presença constante na minha vida desde a infância, ajudando-me a navegar em alguns dos momentos mais desafiadores. O poder, a emoção e a comunidade dentro do Metal são incomparáveis. Não é apenas um género; é um modo de vida que ressoa profundamente em mim. Quase sinto que devo algo à música que tanto me deu, e é por isso que estou tão dedicado a apoiar e promover a cena Metal.
Tens quatro «promo-packs»
diferentes para ajudar artistas e bandas a alcançar mais pessoas. Qual o «pack» mais popular?
Normalmente, os novos clientes começam com o pacote mais acessível. É um ponto de entrada para eles experimentarem os nossos serviços e verem o valor que agregamos aos seus esforços de promoção. Depois de perceberem o impacto positivo que podemos ter, muitas vezes voltam para pacotes maiores, que oferecem um suporte mais abrangente. É gratificante ver as bandas crescerem e expandirem o seu alcance através dos serviços que prestamos.
Trabalhas com pessoas de todo o mundo, desde programas de rádio até revistas, etc. Quão interessante é isso?
É incrivelmente fascinante e enriquecedor trabalhar com pessoas de todo o mundo. Enquanto crescia, viajei muito, o que me expôs a diversas culturas e perspectivas. Esta exposição precoce incutiu em mim um profundo respeito pela diversidade e uma curiosidade pelo mundo. Trabalhar com artistas internacionais, programas de rádio e revistas permite-me continuar explorando diferentes culturas e estilos musicais, fazendo do trabalho que faço com o Metal Devastation, não apenas um trabalho, mas uma aventura global.
O que é que uma banda precisa fazer para ser promovida pela MDPR?
O processo é simples. Bandas interessadas nos nossos serviços promocionais devem entrar em contato comigo diretamente pelo e-mail zach@metaldevastationradio.com.A partir daí, podemos discutir as suas necessidades específicas e como podemos ajudá-los a alcançar um público mais amplo.
Quais são algumas das bandas mais importantes com as quais já trabalhaste, em termos de promoção?
Tivemos o privilégio de trabalhar com muitas bandas excelentes, mas uma experiência marcante foi promover o novo single de Ola Englund com sua banda Feared. Foi um projecto emocionante porque o Ola é uma figura muito respeitada na comunidade do Metal. Há muitas outras bandas importantes com as quais trabalhamos, mas essa está particularmente fresca na minha mente.
Como está a cena do Metal no Tennessee e em todo o estado?
Acena Metal no Tennessee é relativamente pequena, especialmente se comparada a outros géneros que são mais proeminentes aqui. No entanto, temos o Metal Devastation Music Fest, que é um evento significativo para os fãs de Metal da região. É algo que as pessoas anseiam o ano todo, já que é um dos poucos veículos corajosos o suficiente, para mostrar o Metal em um estado onde muitas áreas são fortemente influenciadas pela cultura da igreja. O festival reúne entusiastas do Metal de todo o mundo e oferece um espaço vital para a comunidade.
O que sabes sobre Portugal?
Tenho muitos amigos em Portugal e visitei o país há muitos anos. É um lugar lindo com uma rica herança cultural e adoraria voltar um dia.Acena Metal também é vibrante e apaixonante.
Última pergunta. Qual o teu Top 5 de todos os tempos?
1. Iron Maiden - Number Of The Beast
2. Black Sabbath - Black Sabbath
3. Metallica - Master Of Puppets
4. Pantera - Vulgar Display Of Power
5. Sepultura –Arise
MORBID GRAVE
É o projecto de um homem só, mas nem por isso, menos importante. Morbid Grave espelha as ideias e conceitos de Michael Huhle, um dinamarquês com créditos firmados no velho continente e que se apresta agora para «tomar de assalto» os Estados Unidos, com «The Slime Crawlers»
Morbid Grave é uma banda completa ou um projeto de um homem só e cujo o mentor é Michael Huhle?
Morbid Grave é um projeto de um homem só. Tudo começou em 2021, durante o bloqueio da Covid 19, quando não havia nada para fazer.Aminha banda anterior, Ravishing, tinha acabado de terminar e eu tinha muitas ideias e precisava criar algo novo, então foi assim que os Morbid Grave começaram.
Além de Morbid Grave, ainda tocas em outras bandas?
Bem, eu tenho outro projeto a solo chamado Grímnismál que é Melodic Doom/Death Metal, na linha de Paradise Lost, My Dying Bride entre outros.Além disso tenho alguns projetos de estúdio com uma amiga (Sarah) chamados Djævles Skrig (Black Metal),Augu Sigyn (Blackened Doom).Acabei de formar uma dupla de Thrash Metal com outro amigo (Sylvester) chamado Depraved Insanity.Ainda estamos a trabalhar nas músicas e esperamos ter uma demo pronta ainda este ano. De resto, já toquei em bandas como Deadly Sins (1996-2001), Ravishing (2000-2005 e 2011-2021), Indoctrination (20032008), Blackhorned (2001-2019), Victimizer (2004-2007) e Illnath ( 2010-2011)
Como foi o processo de gravação e quem produziu o trabalho?
Gravei e produzi tudo sozinho.Amaior parte é gravada no meu estúdio de ensaio e a gravação, mixagem e masterização adicionais são feitas no meu «ome studio».
O resultado final é o que querias?
Sim, acho que consegui capturar a vibração e a feiúra e horrorosidade que buscava. É um som sujo, feio e primitivo, assim como Morbid Grave tem que fazer. É claro que sempre há espaço para melhorias, mas nunca foi feito para soar perfeito ou limpo, mas seguindo em frente haverá uma melhoria natural, mas ainda gravada e produzida da mesma maneira.
As letras são sobre o quê em geral?
Bem, em geral as letras são pequenas histórias de terror sangrentas sobre morte, decadência, zumbis, podridão e tudo que é nojento. ”The Slime Crawlers” é uma história solta sobre criaturas antigas infectadas por bactérias invadindo e destruindo tudo em seu caminho, espalhando morte e doenças.
Com esse contrato discográfico com a HPGD quais são tuas expectativas?
Bem, estou muito feliz por ter lançado o CD e a promoção que ele (Mike) faz para o álbum é incrível. Minha expectativa é apenas divulgar a música e que as pessoas a apoiem e comprem. Como não é uma banda ao vivo, o meu objetivo é apenas criar e poder lançar música e acho que o HPGD faz um trabalho fantástico para mim, então obrigado ao Mike.
O mercado dos EUAé algo que desejas?
Absolutamente. Quero dizer, todos os lugares onde posso lançar a minha música são ótimos. Nos EUA, na Europa e em todos os lugares onde a minha música possa estar disponível e com suporte é óptimo para mim.
Dois meses após o lançamento, como tem sido a divulgação e que tipo de comentários tens recebido, principalmente da imprensa de Metal?
Tem sido um pouco lento no começo, e como é um projeto de estúdio que não posso promover com shows ao vivo, então com entrevistas como essa e muita promoção e apenas colocando isso na cara das pessoas o tempo todo, espero que isso aconteça. Aumentar o interesse e a atenção para Morbid Grave e outras coisas que faço.Até agora as reações foram muito boas
Acomunidade Metal da Dinamarca apoia a tua música?
Ah, sim, sinto um bom apoio. O que eu faço é obviamente muito underground e limitado, mas tenho boas reações e feedback, então sinto um bom apoio da comunidade Metal underground aqui.
Três anos após o início de Morbid Grave, o que nos tens a dizer?
Bem, posso dizer que estou feliz com o Ep e o álbum que fiz desde que tive a ideia durante o isolamento. Haverá muito mais por vir de Morbid Grave no futuro. No momento tenho 4 músicas para um novo Ep em que estou trabalhando. Espero ter um lançamento digital no meu «bandcamp» no final deste ano ou no início do próximo. Já agora, não deixem de visitar e apoiar Morbid Grave e HPGD e meus outros projetos.
ASSIMILATOR
"Expelled Into Suffering" é o título do trabalho composto por quatro temas dos norte-americanos Assimilator. A banda oriunda do estado de Indiana pratica «Old School Death Metal» de elevada qualidade. Sem dúvida, um colectivo a seguir com atenção...
Quando é que vocês se formaram e porquê esse tipo de Metal?
Originalmente esta banda foi formada há pouco mais de 6 anos e vários nomes atrás. Esta iteração começou no ano passado com a formação atual. Todos nós sempre amamos géneros de metal extremo e a união do grupo fez sentido. As músicas fluíram naturalmente e o processo de composição foi fácil.
Eventualmente vocês estiveram em outras bandas no passado?
Sim. Todos nós já estivemos em outras bandas ou estamos atualmente em outras bandas além de estarmos em Assimilator.
As vossas principais influências vêm da Suécia, mais concretamente de Gotemburgo, e EUA.. por que Gotemburgo e quais as bandas de lá que vos influenciaram?
O Tim adora os anos 80 e a cena de Gotemburgo também.Acho que é mais sobre o som do que sobre bandas específicas. Podes ter muitas influências dos anos 80, no que respeita a riffs. Algumas das bandas que gostamos são as óbvias, comoAt The Gates, Entombed e Grave.
O que é que vocês conhecem mais da Europa, falando de Metal?
Thrash e Death metal alemão, Death e Grind britânico e toda a cena
escandinava. O Tyler é um conhecedor de Black Metal.
Conta-nos sobre o processo de gravação e produção?
Para este EP gravamos no estúdio do Tim. Ele tem uma configuração muito boa. Isso deu-nos tempo para tocar a bateria e depois tocar a guitarra, o baixo e os vocais ao vivo.Antes de gravar, fizemos faixas demo de «scratch» e
alguns amigos de confiança deram-nos opiniões após escutarem essas demos, para fazer alterações aqui e ali nas músicas.
As letras são sobre o quê?
O tema geral é que a vida é difícil.A faixa-título é sobre nascer/dar à luz. «Changeling» é sobre ser pai.Aforja noturna consiste em morrer lentamente à medida que a luz é sugada da vida de alguém. «IAm» é sobre o medo da vida após a morte e como ele controla as decisões de tantas pessoas nesta vida.
O que vem primeiro; música ou letra?
Difícil de dizer. Temos riffs e músicas escritas o tempo todo e as letras vêm
separadas disso. Eles meio que se casam no final. Então é escrito separadamente e a letra da música é escolhida com base na energia da música.
Vocês percorreram 14 estados dos EUA. Planeiam voltar à estrada novamente?
Absolutamente.Acabamos de terminar uma curta semana e meia com Throne. Adicionamos mais alguns estados à lista.Adoramos tocar ao vivo e é uma grande parte da razão pela qual fazemos isso em primeiro lugar. Temos mais alguns shows este ano com Scab Hag e depois entramos em estúdio antes de sair no próximo verão.
O contrato de gravação com a HPGD Records é apenas para este lançamento?
Isso depende do HPGD. O rótulo é incrível. Eles são um trampolim para tantas grandes bandas e um verdadeiro lar para o underground.
Como é a cena metal de Indiana?
Variado. O norte de Indiana, de onde viemos, tem bandas incríveis como Severed Headshop, Necessary Death e Between the Killings. Indianápolis tem Mother of Graves, Obscene e Flesher. Então é uma cena de Death Metal forte com um estilo diferente para cada um.
Acomunidade Metal local apoia-vos?
Sim, mas raramente tocamos na nossa cidade natal. Gostamos de mantê-lo como um evento especial, por isso tocamos apenas uma vez por ano em Fort Wayne. Indianápolis é a nossa «casa fora de casa» e jogamos lá com mais frequência porque tem mais a ver com o fato de ser uma cidade maior.
Quais são as expectativas da banda para este disco?
Esperamos que as pessoas ouçam e gostem o suficiente para ir aos shows. Planeamos fazer mais shows e seguir com outro disco. Fora isso, não há muita expectativa. Depois de colocar a música no vazio, ela se torna de todos. Mais shows e mais música. Essa é a esperança...