Headbangers #2

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35 ANOS DE BENEATH THE REMAINS KOSUKE

#22024
~ ANTÓNIO
ZURRAPA PENTAGRAM
JOÃO RAPOSO
NEVES
HASHIDA

Oprometido é devido!Aqui estamos com o #2 da Nossa/Vossa revista online, Headbangers Portugal. 2024 promete ser um ano super agitado, com inúmeros concertos e festivais. Portugal está, definitivamente, na rota das grandes bandas de Heavy Metal e isso é um privilégio para todos nós, amantes do som eterno.

Um enorme agradecimento a quem nos fez chegar a sua opinião, através de mensagem, e-mail ou telefone. Agradecemos, ainda, todas as partilhas nas mais diversas plataformas digitais.

Para terminar, um sentido agradecimento aos entrevistados e às primeiras editoras que, apenas com um número, apostaram no nosso trabalho. Sem eles e sem vocês, nada disto seria possível.

Voltamos daqui a 3 meses!

Até lá, Stay Heavy...Stay Metal!

Rui Martins(Direcção e Produção) headbangers.mag@gmail.com

José F.Andrade e Miguel Correia (Produção e Conteúdos) Flávio Medeiros Martins/Line Design Lab (Design)

10 MTM-THE BIRTH OF A TRADEGY 18 DISBELIEF 22 TORN FABRIKS 26 M1KE Editorial HEADBANGERS 2
4 ANTÓNIO NEVES JOÃO RAPOSO 8 ALLAMEDAH 6 ZURRAPA 14 KOSUKE HASHIDA 20 35 ANOS DE BENEATH THE REMAINS 28 PENTAGRAM 16 29 NELSON FÉLIX 30 BLAST FROM THE PAST
HEADBANGERS 03 3

ANTÓNIO NEVES

Guitarrista, vocalista e fundador da banda In Peccatum, António Neves é um dos nomes obrigatórios da cena Heavy Metal regional. Regressamos ao passado, falamos sobre como tudo começou, bem como a forma como tudo se processava. A conversa é, especialmente, dedicada aos mais novos na cena…

Num ápice, passaram-se cerca de 26 anos, desde a formação de In Peccatum. Lembras-te do primeiro ensaio e do primeiro concerto?

Incrível como já se passaram 26 anos, desde o início da nossa formação… mas sim, lembro-me perfeitamente do nosso primeiro ensaio por variadas razões. Em primeiro lugar, porque quando começamos a banda, não tínhamos propriamente definido que género dentro do Heavy Metal seria o nosso, apenas sabíamos que queríamos tocar Metal e aliás, esta “indefinição” está bem presente na nossa primeira demo tape, «In Beauty». Isto então para dizer que no nosso primeiro ensaio não sabíamos bem o que fazer e então optamos por tocar ou pelo menos tentar tocar a «Alma Mater» dos Moonspell. O Gouveia nem tinha ainda um baixo seu, estava a tocar com um emprestado pelo Miguel Rego dos Dark Emotions, banda nossa conterrânea da Fajã de Baixo, e o Almeida, que na altura começou na bateria, nunca tinha sequer tocado bateria na vida e lembramo-nos perfeitamente dele sentado em frente à nossa bateria da marca Lazer, de cor vermelha e comprada na saudosa Discoteca Vasco, a perguntar qual braço passava por cima dos pratos de choque. O certo é que no final do ensaio, conseguimos tocar a música na sua plenitude, o que nos deixou com perspetivas de que, a partir daquele momento a coisa só podia melhorar. O certo é que 26 anos depois, continuamos a fazer aquilo que gostamos e nunca paramos.

Quanto ao primeiro concerto, este foi também inesquecível, isto porque a nossa estreia acaba por acontecer num dos mais emblemáticos palcos da ilha de São Miguel, o Coliseu Micaelense, por ocasião do concurso Novas Ondas ’98. Tínhamos apenas 8 meses como banda, 3 ou 4 temas originais e lá fomos nós pisar um palco com aquela dimensão. Outros dois factos engraçados…em primeiro lugar, por cima da bateria havia um placard com o logotipo do concurso

«Novas Ondas» e oAlmeida estava preocupadíssimo… «epá, e se aquilo cai por cima de mim quando estiver a tocar?» e não é que caiu mesmo? Felizmente não era pesado e não fez vítimas. Em segundo lugar, no final da primeira música o Gouveia deu um salto e acabou por cair de costas no palco, situação que na altura nem reparei, e depois no fim da atuação quando nos fomos juntar ao público, para assistir ao resto das atuações, havia pessoal a ir ter com ele a comentar que era grande louco, que se tinha atirado para o chão… mal sabendo eles que tinha sido um «acidente».

Sentes-te, de alguma forma, um “dinossauro” da cena musical açoriana?

Em parte sim, isto porque já ando nestas andanças desde os meus 15 anos. Com essa idade formei os Dilema, com mais 3 amigos, e tocamos bastante cá pela ilha em meados dos anos 90, tendo chegado a ir tocar à Graciosa e continente.Abanda acaba em 97, com a ida de alguns elementos para fora da ilha, para prosseguimento de estudos e os In Peccatum nascem no início de 98. Como agora tenho 45, são cerca de 30 anos dedicados à música. Por isso, pelo factor idade, sim, acabo por ser um “dinossauro” da cena musical local. Tirando essa parte, acabo por ser apenas mais uma pessoa que apenas gosta muito de música e que na companhia dos seus grandes amigos, faz por divulgar a «sagrada palavra» do Heavy Metal.

Achas que a banda podia ter ido mais longe ou fez o percurso possível?

Sim, podíamos ter feito um pouco mais, temos sempre essa sensação. Já podíamos ter ido tocar ao continente por diversas ocasiões, pois ao longo dos tempos foram chegando convites, como também já podíamos ter lançado um trabalho de longa duração, mas entretanto as vicissitudes da vida não permitiram que tal acontecesse. Quando

começa a vida pós estudos, a verdade é que tudo fica mais difícil de gerir em termos logísticos.Adisponibilidade deixa de ser a dos tempos de estudante, em que ensaiávamos 2 ou 3 vezes por semana, para passar a 1, o que depois acaba por ter também consequências na edição de trabalhos. Por exemplo, os nossos três primeiros trabalhos acontecem num espaço de 4 anos… Já o «MDLXIII» acontece 7 anos depois do «Antília» e neste momento temos o álbum em andamento há mais de 10 anos… Não nos podemos também esquecer que somos apenas mais uma, entre centenas de bandas do país e um grão de areia entre os milhares de bandas espalhadas pelo mundo e estamos aqui no meio doAtlântico… Posto isto, estamos satisfeitos com o nosso percurso até agora, pois fazemos aquilo que gostamos e creio que já deixamos a nossa marca no underground metálico nacional. Isto porque de tempos em tempos, recebemos e-mails de entusiastas, um pouco por várias partes do mundo, interessados em adquirir os nossos trabalhos… e só isto já nos deixa satisfeitos, pois significa que aquilo que tentamos transmitir chega às pessoas certas.

Sem querer parecer saudosista, naquele tempo é que era ou nem por isso?

Acaba por ser um misto de emoções relativamente a este aspeto. Quando nós surgimos, a internet estava a dar os primeiros passos. Nós somos do tempo da divulgação ser maioritariamente feita em papel, através do correio físico, dos flyers e do reaproveitamento dos selos… quem não se lembra de cobri-los com cola, para depois se limpar o carimbo dos Correios e se reaproveitar o selo? Era muito mais difícil gravar um registo e fazer chegar este som aos órgãos de divulgação. Era preciso enviar a cassete por correio físico às rádios e fanzines… demorava mais tempo…Atualmente com um computador e um mínimo de software e num quarto de cama, uma banda já grava um trabalho com elevada

HEADBANGERS 4 Bang your head with...

qualidade, som este que depois é disponibilizado no imediato, chegando a milhares de sítios no mesmo instante... Ficou tudo mais fácil, mas, para mim, perdeu aquela “magia”, por isso neste aspecto sim, naquele tempo é que era.

As tuas influências mantêm-se ou foram-se alterando com a evolução?

Ainfluência base mantém-se sempre.A minha banda favorita são os Iron Maiden.Apesar de In Peccatum musicalmente não ter ligação directa ao som deles, as harmonias de guitarras e as progressões musicais que os caracterizam acabam por se fazer notar em algumas partes das nossas músicas. Mais dentro do gótico, os Paradise Lost, Type O Negative ou Moonspell acabam por ser a minha referência. Por fim, Pink Floyd também é grande influência. Não só pelo facto de o David Gilmour ser um dos meus guitarristas favoritos, como a música deles ter uma componente, para mim, muito próxima da melancolia do Doom Metal. Vão também aparecendo bandas novas ou outras mais antigas que vou descobrindo e que vão também moldando aquilo que me influencia, enquanto guitarrista ou quando se está na sala de ensaios a criar música nova. Acaba por ser sempre um processo evolutivo.

O que ouves atualmente?

Além dessas bandas que numerei anteriormente e que são as minhas favoritas, ouço maioritariamente Hard n’ Heavy clássico. Posso juntar a esses

nomes Kiss,AC/DC, Def Leppard, Dokken, Guns N’Roses, Whitesnake, Van Halen, Judas Priest.Tenho andando também a ouvir bastante neste momento e dentro desta onda, Steel Panther. Incrível como uma banda recente a parodiar o Glam/ Hair Metal dos anos 80, consegue juntar fãs de vários tipos de Metal, mesmo os mais extremos. Acho que é daquelas bandas que toda a gente aprecia, mesmo que só ouças Black Metal norueguês dos anos 90. Saindo do clássico, ouço regularmente Ghost, Draconian, Cradle of Filth e Dimmu Borgir. E como só de Metal não vive o Homem, e por ser uma criança que cresceu nos anos 80, gosto bastante de tempos em tempos revisitar a música feita nessa altura.Amelhor música pop, para mim, foi a feita nessa década. Saindo da atmosfera do Rock, e relativamente a artistas mais recentes gosto de ouvir a Dua Lipa e a Lady Gaga. No meio do muito “lixo” que atualmente abunda, destaco essas artistas, pois inovam e sabem realmente cantar.

Como é que vês a nova geração de músicos ligados ao Heavy Metal?

Destaco sobretudo o muito talento, auxiliado pelas muitas ferramentas que as novas tecnologias permitem.Ainda sou do tempo em que para aprender uma música ou se tirava de ouvido, gastando as cassetes do tanto rebobinar, ou tinha-se de comprar as revistas da especialidade para se ter acesso às tablaturas. Presentemente, basta ir ao Youtube e seguir um tutorial.Além

disso, esta nova geração tem a facilidade de gravar e disponibilizar o seu som, como nós não tivemos. Tudo isto contribuiu para que a evolução seja melhor e mais rápida e isto nota-se nas novas bandas que vão aparecendo.

E no que respeita ao público, daquilo que observas do palco?

Dos últimos concertos que demos, destaco a interação e o à-vontade que presentemente o pessoal que está a assistir tem com as bandas. Há uns anos o pessoal tinha algum “medo” de se chegar à frente ou cantar com a banda. Presentemente acho o pessoal mais desinibido. Chega-se à frente, canta os refrões, bate palmas… Depois dos concertos vêm ter connosco para darem os parabéns pela atuação ou comentar sobre aspetos das músicas ou pedir conselhos técnicos sobre instrumentos. Sinceramente nesse aspeto houve uma grande evolução e melhoria.

Planos para 2024?

O grande projeto que temos em mãos há já uns anos continua a ser a edição do nosso álbum.Andamos a trabalhar nele há já anos e temos praticamente 75% do material gravado. Falta gravar a voz em 6 dos 8 temas que irão fazer parte da edição e teclados em 5 outros. Está tudo no bom caminho, mas lá está, as logísticas da vida de “adulto” nem sempre permitem que as coisas corram à velocidade que gostaríamos.

HEADBANGERS 5 Fotografia:
Azorean Metal

ZURRAPA

Como podemos chamar um grupo de amigos que, acima de tudo gosta de festa, convívio, de beber copos e de celebrar? Zurrapa, é o nome… Formados em meados de2017, osZurrapajá lançaram cinco discos e no passado dia23 de março, apresentaram no«Fora de Rebanho»,aquele que é o seu sexto álbum de originais. Depois de«Na Taberna do B.A.»(2017),«Zurrapa Som Sistem»(2018),«(Des)Governo no País das Maravilhas»(2020),«Lambe-me o Cubo»(2020) e«O Triunfo dos Porcos»(2022), a banda nacional de Punk Rock deu luz a«Manual de Incitação a uma Vida Boçal».

A Headbangers Magazine Portugal falou com o baixista Nuno Mendonça e naturalmente, este novo trabalho foi tema de conversa.

Dois anos após o «Triunfo dos Porcos», os Zurrapa surgem com «Manual de Incitação a uma Vida Boçal» que reúne 14 temas, (13 mais uma intro), de puro Punk Rock, como sempre corrosivo e divertido. Num país como o nosso, fontes de inspiração não vos devem faltar no momento de trabalhar as vossas composições?

Tudo verdade! Vivemos num país bem pequenino, mas enorme no que nos inspira. Trafulhices, corrupção e «cagadas» a nível político é coisa que não falta. Por muito que goste da banda como ela é, não me importava de só falar de copos, festa e unicórnios e viver num país um tudo ou nada menos corrupto.

Porque é que estas temáticas, (política, religião e festas) continuam a marcar a linha criativa da banda?

Fácil, a banda funciona um pouco como um veículo para fazermos passar a nossa mensagem. É a nossa maneira de nos tentarmos fazer ouvir. E se essa classe «filha da p...» que governa o nosso país insiste em nos «comer», não nos apetece ficar calados. O que nos incomoda dá letra, naturalmente, seja a política, a guerra, a religião ou qualquer outra «filha da p...». Mas não podemos viver sempre «com a faca nos dentes», também gostamos de beber uns canecos e fazer a festa. Como tal, também não colocamos nenhum entrave em falar disso.

Pelo que percebo na vossa sonoridade, qualquer música pode facilmente ser tocada em palco. Para uma banda que

vive muitos dos concertos é esse o objetivo no momento em que estão a compor?

Sim e não!Acomposição não é feita a pensar se resulta bem ao vivo ou não, mas de uma forma inconsciente, como gostamos é de tocar, é natural que as músicas acabem por sair com um «feeling» um pouco live. Depois de estarem feitas sim, às vezes fazemos determinados arranjos a pensar no palco.

É no palco que os Zurrapa se divertem mais ou é na gravação dos discos?

No palco! Mas sem pensar duas vezes. É no palco que nos sentimos bem! Para mim gravar músicas num disco é apenas uma parte do processo, essas músicas só ficam completas em cima do palco. Pessoalmente, na verdade, nem gosto de gravar. Por mim os discos eram todos gravados ao vivo, carregadinhos de pregos, mas 100% reais.

Seguindo também uma linha sonora muito personalizada, falo de um Punk Rock que auto intitulam de «xunga». É fácil elaborar estas linhas ou sentem a obrigação de mostrar algum prior nas mesmas?

Não temos qualquer tipo de pensamento nesse aspecto.Acoisa sai assim por si. Não nos esforçamos por tocar melhor, nem por sermos mais politicamente corretos. É assim que somos, é assim que vemos a banda e é assim que vai continuar a ser.

Os Zurrapa utilizaram a mesma forma de sempre na composição e gravação deste disco?

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Desta vez decidimos fazer «merda». Complicamos as coisas sem necessidade. Fizemos uma catrefada de riffs, construímos uns esboços de músicas e seguimos. Depois começamos a ver uma-a-uma e a gravar.Até na gravação fizemos «cagada» e tivemos de regravar coisas. O normal para nós é nos ensaios ir inventando e construindo as músicas nas calmas e ir tocando.

Relativamente à produção, não achas que a coisa poderia ter seguido outro caminho ou há toda uma intenção com a mesma neste disco?

Aprodução do disco, neste momento, está mesmo onde queremos. Somos nós que fazemos o processo todo, captação, gravação, misturas e masterização. E sim, é mesmo para soar como soa. Cru, direto, não polido, sujo, etc. É para soar a três gajos a tocar. Uma guitarra, um baixo, uma bateria e vozes. Simples e direto.

Porquê este título? O que nos resume perante as 13 faixas que compõem o disco?

O título é um reflexo do que vemos na sociedade. O pessoal cada vez tem mais acesso à informação e cada vez parece mais estúpido. Basta desbloquearem o telemóvel para terem acesso a tudo. Mas parece que não há interesse.Acreditam em tudo o que lhes dizem. Cada vez escrevem pior, cada vez têm menos cultura, cada vez a inteligência parece mais curta. Vai daí e se querem ser burros, tomem um «manual». Pode ser que assim comprem o disco. E se o comprarem, pode ser que passem um bocadinho a pensar pelas suas cabecinhas.

Já há ideia de como estão a ser as críticas?

Cada vez há menos «reviews» a discos, por isso cada vez é mais difícil perceber. Mas do que o pessoal nos tem dito, têm gostado das malhas. E a reação ao vivo às músicas novas tem sido mesmo muito positiva.

Como está a agenda de divulgação do novo trabalho? E o que podemos esperar?

Não estamos com uma agenda muito preenchida, mas temos algumas datas marcadas e umas quantas em avaliação ou negociação. Mas também é normal, no ano passado rodamos muito e quer se queira quer não, isso também faz diferença.

Vamos falar em divulgação; como vês o nosso meio, sentes que há apoio dos agentes de comunicação para com as bandas nacionais?

Há. E vocês são um entre vários exemplos…

Uma mensagem para os fãs da banda e leitores da Headbangers Magazine Portugal?

É aquela mensagem de sempre; apoiem as bandas nos concertos, comprem discos e apoiem as «zines» e rádios, porque o underground é isto.

Muito obrigado por nos darem este espaço!!!

Por:MiguelCorreia

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ALLAMEDAH

Falar dos Allamedah, é falar de uma inovadora banda portuguesa que emergiu no cenário musical em 2016, sob a liderança do cantor e guitarrista David Bitton e do baterista João Faria. A banda destaca-se pela sua sonoridade única, não se limitando às fronteiras do Metal Moderno, exploram a riqueza de outros estilos, entrelaçando o fado tradicional e o dinamismo do rap em algumas das suas composições. Exemplos notáveis são «Algema», que contou com a sublime voz da fadista Valéria e a mestria do guitarrista português João Luzio, e «Incerto», uma faixa que teve a colaboração do rapper americano Jayneto. Com letras que fluem entre o português, o inglês e até mesmo o hebraico, Allamedah são uma banda que, verdadeiramente representa a diversidade e a inovação no mundo do Metal Nacional.

Olá, David, muito obrigado por esta oportunidade! Vamos começar esta nossa conversa por falar, naturalmente, de como tudo começou?

Bem, eu agradeço imenso esta oportunidade e, vamos lá. Para quem não nos conhece, somos uma banda formada em Lisboa. Eu e o Faria já tínhamos uma banda juntos e, com o tempo, sentimos a necessidade de criar um projecto mais sério. O que fazíamos não era, digamos, algo que nos preenchia, lá está, não tinha a seriedade desejada. Então, em 2005, decidimos unir forças e iniciar um novo projeto. Já tínhamos material escrito e, com a contribuição do Faria, começamos a preparar novo material.Apartir daí, gravamos um Ep e seguimos a linha do Prog. Metal, com um estilo Progressivo Groove.

Surgem então osAllamedah, e uma curiosidade o nome que vocês criaram tem alguma relação com uma zona de Lisboa,Alameda?

Exatamente, aquilo foi na época de faculdade. Por exemplo, o Faria é das Caldas da Rainha, só que morava na época da faculdade, num daqueles quartos naAlameda, perto da zona onde ensaiávamos. E pronto, tem a ver com isso. Quando decidimos fazer o projecto, precisamos de um nome, e num desses dias, surge assim na cabeça «estamos na Alameda», e num jogo de letras surgiu

Allamedah. Tivemos de acrescentar aqui um «H», um «L», porque havia um consultório dentista, com o nome Alameda… a coisa compôs-se assim dessa maneira .

Que tipo de influências é que vocês têm, que vos leva a criar a forma brilhante como soam?

É assim, no início, quando nós começamos tínhamos 18, 19, 20 anos e naturalmente todos nós ouvíamos muita coisa. Lembro-me de ouvir muito Metal. Consumia muito a sonoridade ligada aos Trivium. O Faria gostava muito de Lamb of God, depois cada um de nós tinha sempre outras coisas que íamos ouvindo fora do Metal. O Faria, para além de baterista também toca sanfona e gaita de foles, o que acaba também por acompanhar no processo.

Sem dúvida, e para quem vos ouve sente isso mesmo. Há nas vossas músicas uma fusão sonora bem

conseguida e cheia de personalidade ao ponto de ouvir uma participação de alguém vindo de outras áreas como Fado e Rap?

Claro, tudo surge de uma forma muito natural. Cada um tem a sua personalidade musical. Eu acho que isso é uma coisa que quando nós vamos

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Fotografia: Bruno Biscaia

compor já vem «atrelada», está sempre presente nesses momentos de composição e no que toca às parcerias que tu falaste, elas normalmente nunca são muito pensadas. Depois das coisas terem corpo, por algum motivo, olhamos para aquela música e sentimos que talvez ficasse bem aqui alguma coisa diferente, ou associarmos imediatamente aquela música a um outro estilo. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o tema «Algema». Quando eu acabei de compôr a música, não sei porquê lembrei-me que aquilo poderia dar um excelente Fado ou semelhante.As coisas acabam por acontecer naturalmente connosco.

E estamos a falar de composição, como é que as coisas funcionam entre vocês?

Neste momento, na atual organização da banda sou eu e o Faria que somos os fundadores, e os restantes elementos funcionam como músicos de sessão, logo eles não têm uma grande influência na parte da composição. Nós apresentamos a música e eles trazem aquilo que sabem de melhor e conseguem, com base no que lhes é apresentado, naturalmente melhorar aqui ou ali alguma linha na guitarra ou no baixo.Antigamente, no início da banda,

também era eu e o Faria que trabalhávamos as composições. Eu compunha a parte instrumental, a parte melódica, aliás melodias e harmonias, o Faria obviamente acrescentava a parte da percussão. Depois, houve uma segunda fase, que foi com a entrada do Tiago Marinho, que também tem uma veia de compositor e também compôs algumas músicas, só que, entretanto, o Tiago saiu, portanto neste momento quem compõe atualmente sou eu e o Faria.

de ouvir, que nos agrada a nós próprios, quando estamos a compor, e se isso se traduzir em sucesso, excelente.

O importante é que façam algo de que gostam. Mas não sentem pressão, tendo em conta que estão numa editora com uma dimensão diferente e com uma projeção também ela diferente, algo para justificar a aposta que fizeram em vocês?

foi a Mighty Music que nos recebeu de braços abertos.

AMighty Music surge aqui no meio deste vosso caminho.Aminha pergunta, é como é que tudo aconteceu?

Bem, obviamente, uma banda independente tenta sempre chegar a um público maior. Esse é o principal objetivo de todas as bandas. E depressa sentimos essa necessidade. Fizemos o nosso trabalho de casa, por assim dizer, de nos dar a conhecer e foi a Mighty Music que nos recebeu de braços abertos.

Musicalmente falando, liberdade total na relação com eles?

Musicalmente falando temos a liberdade criativa que sempre tivemos.Acho que isso é uma coisa que nem foi sequer falada. Não tocámos sequer nesse assunto.

Por entre temas cantados em português e outros em inglês e até em hebraico...são apostas?

Anossa ideia, por acaso, é continuar a cantar mais em português do que em inglês, apesar do nosso mercado ser tão curto e até algo limitado, comparativamente ao mercado europeu e mundial. Mas é assim, numa resposta honesta, nem em inglês é fácil. Portanto, sei lá, acho que chegamos a uma altura onde já não estamos tão preocupados com isso.

Acho que o importante é fazermos aquilo que gostamos

Sabes eu pensei um pouco nisso, mas, cheguei à conclusão de que devemos seguir os nossos ideais e reforço; fazer algo de coração, independentemente da língua em que te expressas.Acho que o mundo está cada vez mais aberto a receber novas línguas e novas culturas, este intercâmbio cultural vai ter impacto também na indústria musical e vai ser um ponto positivo e não negativo. Acima de tudo tem de existir uma grande força de vontade uma vez que é difícil contrariar algumas das circunstâncias que nos rodeiam, depois vai depender um pouco do quão esperançosas ou sonhadoras são as pessoas. Eu acho que no nosso caso, somos bastante sonhadores.

Mas por vezes só a ambição ou ser sonhador não chega!

Pois, por vezes não chega...mas ajuda!

Mudando um pouco o rumo à nossa conversa. Estamos numa era onde a IAestá a proliferar em vários setores e a música não foge a esse avanço. Preocupa-te que isso traga grandes mudanças no sector?

Eu ainda não usei para escrever, mas já usei para criar umas «artworks», por exemplo para a música em si. Quanto ao resto, vamos acompanhando as tendências. É claro, aquilo que é importante perceber até que ponto vocês e cada um de nós na sua profissão, podem encarar isso como uma maisvalia.

O que é que esperas daqui para a frente?

Ah pá, espero que os próximos álbuns sejam feitos com a inteligência artificial, (risos). Mas por acaso estou aqui a imaginar que, possivelmente o mercado vai ficar tão saturado daqui a uns anos, da inteligência artificial e quem sabe se as pessoas vão passar a querer ver, mais do que nunca, música ao vivo, tocada ao vivo com toda aquela essência que rodeia a mesma.

Por:MiguelCorreia

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MTM - THE BIRTH OF A TRAGEDY

Foi, seguramente, a primeira grande montra de bandas de Heavy Metal a surgir no nosso país, em formato compilação. A editora MTM, foi responsável por este lançamento, em formato duplo Lp. Passados mais de trinta anos, a Headbangers Magazine falou com seu editor, Hugo Moutinho, - um autêntico visionário na altura – sobre o disco que mudou o paradigma do Heavy Metal feito em Portugal.

AMTM surge no início da década de 90, numa altura em que a cena Metal nacional estava prestes a explodir. Que memórias guarda dessa altura?

O início dos anos 90 assistiu ao surgimento de bandas muito interessantes, não só na área do Metal, mas também dentro do Pop/Rock Alternativo ou na música experimental. Algumas até já existiam desde o final dos anos 80, mas ainda não tinham editado qualquer disco.AMTM surge da necessidade de editar algumas das bandas com que trabalhávamos a nível de agenciamento, como os Entes Queridos e Terra Mar. Foram estas as primeiras bandas que editámos. Penso que a abertura a outros estilos acabou por ser natural, influenciada pelas bandas que começam a surgir à nossa volta.Aideia da “The Birth of a Tragedy”, que foi editada depois de outra compilação, a «Distorção Caleidoscópica», mais virada para o rock alternativo, surgiu porque ao contrário de outras sonoridades, as edições de bandas de Metal eram quase inexistentes. Havia imensas bandas no país inteiro mas muitas não passavam da edição de demo tapes. Com o apoio do jornal Blitz, lançámos o desafio e a resposta superou as expectativas.

Recebemos mais de quarenta cassetes, o que nos levou a optar por um Lp duplo, sob pena de ficarem muitas bandas de fora.

Recebemos mais de quarenta cassetes, o que nos levou a optar por um Lp duplo, sob pena de ficarem muitas bandas de fora.Ainda assim, só houve espaço para vinte! Com a edição da compilação e do primeiro Lp dos WC Noise, houve um contacto muito mais próximo com o underground metálico nacional.As bandas, os fanzines, os concertos em locais pouco prováveis, tinham o apoio de uma comunidade fiel. Havia um espírito de entreajuda que pouco se via fora desta comunidade e essa é uma das boas memórias que guardo dessa altura.

Passados mais de trinta anos, tem a real noção da importância que teve, como editor mas também como impulsionador do movimento na altura?

Há a noção de que a edição da compilação foi um ponto de viragem para algumas bandas e uma inspiração para outras. De certa forma, galvanizou a cena metálica nacional e começaram a aparecer mais compilações e discos em nome próprio, mas a MTM só teve quatro edições dedicadas ao Metal: a compilação «The Birth of a Tragedy», dois álbuns dos WC Noise, um dos Gangrena. Ou seja, só demos um pequeno empurrão, porque tudo o resto já lá estava.

Era, certamente, fã de Heavy Metal. Foi essa paixão que lhe moveu para lançar discos de uma sonoridade que na altura era ainda marginalizada?

Não era propriamente fã de Heavy Metal. Entre outras coisas, gostava de sonoridades mais pesadas. Partindo do Punk e do Hardcore cheguei aos Napalm Death e a outras bandas editadas pela Earache, acabando por alargar

horizontes.Algumas Os Thormenthor, Scourge ou Genocide, que fizeram parte da compilação, estavam em linha com algumas dessas bandas. Os WC Noise tinham sido convidados para a compilação, mas não puderam entrar por imposição da editora que lhes ia editar o primeiro disco. Na sequência da «The Birth of a Tragedy», tivemos acesso ao «Loud & Mad», que estava pronto, mas sem editora. Houve logo interesse da nossa parte em editar e o disco acabou a sair no final de 1992.AMTM funcionava não só como editora, mas também como empresa management e agenciamento, e os WC Noise passaram também a fazer parte da família. Os Gangrena surgem um pouco mais tarde, possivelmente influenciados pela «The Birth of a Tragedy», com uma maturidade a nível sonoro, que rapidamente se traduziu em disco.

Acolectânea «The Birth of a Tragedy» é, ainda hoje, o principal testemunho dos primórdios do Metal nacional. Pensou alguma vez na sua reedição?

Nunca pensei nisso. Vejo-a como um objecto de culto, representativo daquele momento, uma fotografia da classe de 1992. Quem tiver interesse em descobrir mais sobre a compilação, basta procurar na internet. O áudio está disponível.

Actualmente, como vê o mercado nacional, nesta e noutras sonoridades?

Aquantidade de bandas e edições, de todos os estilos, mostram que a música que se faz por cá está de boa saúde. Hoje as bandas têm o caminho mais aberto para se promoverem, para tocarem ao vivo, para editarem.

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LP1:

A1. Thormenthor-Absorbed In Prival Thoughts

OnAPale Dawn

A2. Genocide- Twisted Corpses

A3. Disaffected- Echoes Remain

A4. Exomortis- Reflections Of The Last Memory

B1. Sacred Sin- Terror Rise

B2. Shrine- My Hatred

B3. Cruel Hate- War With No Pain

B4. Raising Fear- Gone Mad

B5. Lakrau- Enemy

B6. Web-ANew Evil Kingdom

LP2:

C1. Decayed- Nocturnal Prayers

C2. Morbid God- SerpentAngel

C3. Descration- Slave Of Darkness

C4. Scourge- The Outcasts

C5.Afterdeath- Digital Horizons

D1. Shangai Blue- War Games

D2. Vowers- Motorbreath

D3. Silent Scream- Death Escapes Like Blood

D4. Dinosaur-Accident

D5. Harum- Ticket To Hell

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~ JOAO RAPOSO

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É, seguramente, um dos guitarristas de eleição do panorama metálico regional e foi um dos fundadores da banda micaelense Carnification. Recentemente, subiu ao palco como guitarrista convidado dos Drakh. O passado, presente e futuro, foram abordados na conversa que tivemos com o próprio.

Quando se fala nos primórdios do Heavy Metal feito em São Miguel, um dos nomes obrigatórios é o de Carnification. Que memórias tens dessa altura?

Lembro-me basicamente de tudo. De começar a ouvir metal, de andar com amigos que tinham bandas, de começar a aprender a tocar, de ter depois formado os meus Carnification, em conjunto com o Marco Camilo e com o Rui Frias, de muitos ensaios e, claro, do meu primeiro concerto com a banda. São estas as memórias que me marcam e depois destes anos todos ainda cá estou com energia para dar e vender.

Death e, por conseguinte, Chuck Schuldiner foram uma das tuas maiores influências. Certamente existiram outras?

Death é e vai continuar a ser a minha banda preferida e o Chuck vai ser sempre o meu ídolo, como guitarrista. Apesar de ouvir muitas bandas naquela altura, vou mencionar aquela que a par de Death foi a minha outra grande influência musical:At The Gates. Excelente banda, excelentes melodias, adorei quando que eles regressaram 19 anos depois, vieram com uma nova sonoridade, mas a essência da banda manteve-se e isto é o que eu aprecio mais, quando ouvimos uma determinada banda sabemos o que é que estamos a ouvir. Posso dizer que estes suecos são a minha segunda banda preferida, por todas as razões e mais algumas.

Principais diferenças, na tua opinião, sobre a cena local dos anos 90 e a actualidade?

Nos anos 90, praticamente havia uma banda em cada esquina, rapaziada nova, estudantes, sem muitas preocupações, enfim… jovens. Quando a vida começou a evoluir para esta mesma rapaziada, uns a estudar para fora das ilhas, outros a começar a trabalhar tanto na ilha como para fora dela, começou a notar-se um decréscimo no número de bandas e que continuou com o passar dos anos, até ficarmos só com algumas destas mesmas bandas no activo e penso, penso não, tenho a certeza que o metal nosAçores esteve quase morto.Actualmente, é que começou a surgir mais algum movimento no Metal açoriano, graças a

algumas pessoas que investiram o seu tempo e dinheiro para tentar dar uma nova vida ao nosso meio musical. Para que fique claro, estou a falar só do nosso Metal e não de outros estilos musicais. Também na década de 90, haviam muitos mais apoios monetários para as entidades que organizavam os eventos, atualmente estes apoios desapareceram e quem organiza prefere colocar nos cartazes bandas vindas de fora colocando a prata da casa de parte, salvo em raras exceções em que uma ou outra banda participa nesses eventos. Posso dizer que hoje, já se nota um movimento maior das nossas bandas underground do que há alguns anos atrás. É termos esperança que melhores dias virão.

Amorte do baixista Paulo Castro fezte ver a vida de forma diferente?

Não vejo a vida de forma diferente, pois todos sabemos que ela passa num piscar de olhos. Posso dizer que a morte do meu «brother» Paulo Castro mexeu, mexe e vai continuar a mexer comigo. O tempo sara algumas feridas mas nunca se esquece, temos é que aproveitar todos os momentos que a vida nos proporciona, até o dia de dizermos adeus a este mundo.

Pensaram em desistir por algum momento?

Depois da morte do Castro, afastei-me da música por um longo período de tempo, pois não tinha vontade de continuar depois do que se tinha passado. Bem mais tarde e a convite do Paulo Melo, para gravar as guitarras de WrekAge é que o bichinho começou a correr nas veias novamente. Passados uns meses, recebi outro convite do Nuno «Terceirense» Carreiro para integrar o line-up de Sanctus Nosferatu, o qual aceitei prontamente e aí a locomotiva começou a andar com toda a força.

Recentemente, voltaste a subir ao palco, como guitarrista suporte à banda Drakh. Como é que foi?

Subir ao palco, para mim, são momentos com muita nostalgia.Adoro tocar ao vivo e já não o fazia há algum tempo e quando os Drakh me convidaram para atuar com eles, aceitei o desafio. Foram dois concertos magníficos, cheios de energia, com uma ligação enorme entre a banda e público. Quando as coisas acontecem assim, vale muito a pena e

ultimamente tem-se visto mais alguns eventos de metal em que o público tem aparecido e mostrado muito recetivo com às bandas.

Qual é o actual estado de Carnification?

Vou responder a esta pergunta com a mesma resposta que dei numa outra entrevista, é assim: Carnification neste momento é como um vulcão adormecido que pode acordar a qualquer momento e entrar em erupção e mais não posso dizer.

Actualmente, o que é que ouves?

Se fosse responder à letra ficaríamos aqui a encher umas quantas páginas com a minha resposta. Vou resumir assim: Continuo a ouvir Death, como é óbvio, mas tambémAt The Gates, Dark Tranquillity,AmonAmarth,Arch Enemy entre outras… e, mais recentemente descobri Deliberalize através do Paulo Jorge Sousa (World Wide Metal), que é a banda com o som mais parecido com os Death até ao «Human» e diga-se de passagem, muito bom som. Façam uma pesquisa e vão perceber o que eu quero dizer.

2024 será como, musicalmente falando?

Musicalmente falando, estou a trabalhar com WrekAge, para ver se terminamos o disco ainda este ano, também estou a trabalhar com Sanctus Nosferatu para terminarmos o nosso Ep, este quase de certeza que ainda vai ver a luz do dia em 2024. Tenho Carnification em «banho maria», podendo aparecer qualquer coisa este ano, a ver vamos e se Drakh tiver mais algum concerto estarei ao lado deles para ajudar a banda no que for preciso.

Tenho Carnification em «banho maria», podendo aparecer qualquer coisa este ano, a ver vamos
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PENTAGRAM

São uma das mais importantes instituições do Metal feito no Chile. Liderados por Anton Reisenegger (vocalista e guitarrista) os Pentagram regressam, onze anos depois, com «Eternal Life of Madness», um autêntico petardo de Thrash Metal, como só os próprios conseguem produzir. Foi o próprio Anton Reisenegger que acedeu responder às nossas questões.

Bem-vindos, antes de mais!A que se deveram os atrasos para gravar e, posteriormente, lançar este álbum?

Bem, todos nós estivemos muito ocupados com outras bandas e/ou trabalhos, então demoramos um pouco para começar a escrever novamente. Depois que lançamos o último álbum, a pandemia chegou, então tivemos que começar a trabalhar remotamente, o que demorou um pouco mais. Só acho que

os relógios funcionam de forma um pouco diferente no planeta Pentagrama. Se considerares que levamos 28 anos depois de formarmos a banda para lançar o primeiro álbum, 11 anos para o segundo não é tão ruim assim, (risos)...

Como é que descreves «Eternal Life of Madness» tanto musicalmente como liricamente?

É 100% Thrash/Death Metal da velha escola. Não há riffs felizes aqui, apenas

pura maldade.

Música primeiro, letras depois. Existe algum motivo especial?

Eu sempre trabalhei assim. Às vezes tenho um certo tema lírico em mente, quando estou trabalhando em uma nova música, mas na maioria das vezes, eu apenas escrevo a música e então vejo que tipo de sentimentos ou imagens ela evoca e escrevo as letras de acordo com isso.

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Vamos falar sobre o processo de gravação, produção e masterização. O que foi usado neste álbum?

Posso dizer que são baterias de verdade, guitarras de verdade e amplificadores de verdade… (risos)

Expectativas para «Eternal Life of Madness», tanto naAmérica do Sul como na Europa?

Eu mentiria se dissesse que não tenho expectativas, mas a vida ensinou-me a ser cauteloso. Só espero que tenha o reconhecimento que merece e que depois de todo este tempo, finalmente nos permita fazer parte dos circuitos de digressões e festivais em todo o mundo.

Ainda trabalhas com Criminal e Lock Up?

Sim e Brujeria também.

É fácil agendar todas as bandas, principalmente no verão, por causa dos festivais?

Bom, para falar a verdade, eu tenho que dar prioridade a Brujeria, porque essa é minha principal fonte de rendimento. Eu tento agendar minhas outras bandas de acordo com o que o Brujeria está fazendo, o que às vezes é complicado, porque Brujeria é uma banda muito ocupada e muitas vezes fazemos shows

em cima da hora. Mas tenho esperança de que seremos capazes de fazer uma tour de verdade num futuro próximo.

Como vocês se sentem quase 40 anos depois do início da banda?

Nós sentimo-nos bem!Ainda estamos totalmente entusiasmados com a música, embora não sejamos tão ingénuos e mais cínicos agora. Mas todos nós temos um senso de humor muito cáustico, então rimos de toda merda que aparece.

Melhor e pior momento entre o início e a data atual?

Para mim, um dos piores momentos foi quando tivemos que demitir nosso baterista original depois de retornarmos e gravarmos o nosso primeiro álbum em 2011 ou algo assim. Mas ele simplesmente não estava à altura da tarefa. E um dos melhores momentos, para mim, foi abrir os Slayer na tour de despedida, em Santiago. Isso foi muito louco...

Os shows com o Slayer foram especiais?

Foi apenas um show, mas vocês têm que imaginar, quando éramos crianças só podíamos sonhar em tocar com nossa banda favorita, e agora, décadas depois, nós realmente o fizemos! Então, sonhos se tornam realidade, crianças!

Seguramente, vocês influenciaram a cena Metal chilena. Como está a nova geração de bandas aí?

Há um monte de novas bandas surgindo na cena chilena e, muitas delas, carregam o verdadeiro espírito underground e valem muito a pena ouvir. Estou feliz que as gerações mais jovens nos respeitem e quase nos referenciem, isso deixa-me muito orgulhoso.

Em termos de revistas, programas de rádio e festivais, como está o Chile?

Não existem revistas porque agora toda a imprensa está online. Há um programa de rádio de metal que eu conheço, que eu mesmo costumava fazer, mas desisti há alguns anos. O que melhorou muito foi o cenário dos festivais, já que hoje existem dois grandes festivais no país, o The Metal Fest e o CL Rock.

Além do «Flammen OpenAir», há algum outro festival a caminho?

Sim, também tocaremos no festival Metal Magic na Dinamarca e faremos vários shows em clubes pela Europa depois disso.

Anton Reisenegger (Guitars/vocals)

Juan Pablo Uribe (Guitars)

Juan Pablo Donoso (Drums)

Juan Francisco Cueto (Bass)

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DISBELIEF

Oriundos da cidade alemã de Hesse (Frankfurt) os Disbelief regressam aos discos com «Killing Karma», um trabalho verdadeiramente demolidor, sendo uma das apostas principais da editora Listenable Records. Death Metal em estado puro, é a dose oferecida pelo quinteto liderado por Jagger. A vossa atenção para a tortura que se segue...

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Como é que sabe estar de volta aos discos, ainda por cima com este estrondoso trabalho?

É, sem dúvida, muito importante e emocionante estar de volta aos discos. Estou muito satisfeito com o resultado do novo álbum «Killing Karma», do som e das novas músicas em si. O nosso último lançamento, foi exatamente no início da pandemia. Como sabes, houve um bloqueio total, sem shows ao vivo, sem contacto, isso foi horrível. Todo o entusiasmo dissipou-se e só pudemos tocar esses temas, passado um ano e meio.Actualmente, a situação é muito diferente e isso faz com que estejamos satisfeitos com o que pode vir.

Quando é que começaram a trabalhar neste disco?

Começamos a trabalhar neste novo material no final de 2022 e terminamos tudo, incluindo a parte de estúdio, em dezembro do ano passado.

Aparte lírica deste disco transmite o quê exactamente?

As letras de «Killing Karma» são sobre o «mau karma» protagonizado pelo ser humano. O abismo das almas humanas, acima de tudo isso! Esperamos que possamos transportar essas influências negativas em vibrações positivas, ouvindo-as em disco e quando tocamos essas músicas ao vivo! Essa é a ordem do Death Metal na minha opinião, transforme essas vibrações negativas em positivas!

O que veio primeiro; instrumentais ou letras?

Primeiro vieram os instrumentais e depois as letras! Isso faz mais sentido para mim porque cada música conta a sua própria história. Seguir essa onda, essa história é fazer algo único para cada música!

Porquê a cover «Millennium» dos Killing Joke?

Killing Joke é, definitivamente, uma banda única como Disbelief também! Então essa combinação acontece e nós temos feito nos discos anteriores, covers deles como «Democracy» e «Love like Blood». É sempre um processo emocionante fazer uma cover de uma música dos Killing Joke e criar a nossa própria versão disso!

Que expectativas têm para este disco?

Aprincipal expectativa de «Killing Karma» é que tenhamos a possibilidade de ir em digressão europeia, como suporte de uma grande banda. Isto é muito importante para nós e para quem nos segue.Apresentar as novas músicas ao vivo, em países estrangeiros para mostrar o quão poderosos podemos ser

no palco é sempre o nosso objectivo!

Produção e Masterização no mesmo estúdio. Por opção e já agora que acham do resultado?

Mudamos de estúdio para a gravação de «Killing Karma», esse foi um passo com mais opções para criar um som mais baseado no Death Metal do que nunca! O Kai Stahlenberg, produtor dos estúdios «Kohlekeller» fez um ótimo trabalho e nós estamos muito satisfeitos com o resultado deste poderoso e enorme «soundwall»...

O digital é uma ferramenta que não quero perder...

O balanço destes 34 anos é positivo?

Disbelief é uma banda que cria novas músicas e álbuns por apenas um motivo; isso se chama paixão! Estou muito orgulhoso do que alcançamos no passado, do que está acontecendo agora e no futuro, não sei, mas posso prometer que ainda é emocionante fazer música, a paixão vai continuar com novos lançamentos no próximos anos.

Como é que é a cena Metal aí em Hesse?

No passado havia uma grande cena Metal aqui em Frankfurt. Muitos locais de convívio e muitas bandas boas. Eu não sei o que está acontecendo hoje mas, acho que não tem mais cena Metal aqui.Amelhor cena de Metal que temos naAlemanha é a parte oriental.Ainda há uma cena muito boa lá. Temos a nossa maior base de fãs lá e é sempre um prazer tocar ao vivo em cidades como Dresden, Erfurt ou Berlim.

As redes sociais têm sido importantes para o vosso trabalho?

Processo digital ouAnalógico?

O digital é uma ferramenta que não quero perder, porque ajuda muito a criar algo perfeito! Para os vocais, por exemplo, podes fazer tudo com 100% de potência e energia e não passo a passo.

Exactamente o que é que foi gravado no estúdio?

Os únicos instrumentos gravados diretamente em estúdio, desta vez, foram a bateria e os vocais. Todos os demais instrumentos, as guitarras e o baixo foram gravados em casa. Transportamos esses arquivos para o estúdio e fizemos «reamping» com vários amplificadores lá!

Concertos de promoção a este disco?

Após o lançamento, teremos vários shows nos próximos finais de semana, aqui naAlemanha. Seguem-se alguns festivais que acontecerão em agosto deste ano. Na segunda metade do ano, estão planeados vários concertos em França, República Checa, Suíça, Áustria e Polónia.

Em 2025 vocês comemoram 35 anos de carreira. Já pensaram no assunto?

É verdade, o trigésimo quinto aniversário está a chegar. No momento não há nada de especial planeado, mas quem sabe! Talvez possamos tornar possível a criação de uma caixa especial limitada, com todos os nossos lançamentos em vinil.Até agora, apenas nossos álbuns «Shine», «The Symbol of Death» e «The Ground Colapse» foram lançados em vinil.Apartir daí, isso seria algo especial!

Sim, é uma ferramenta muito importante, hoje em dia para promover um qualquer álbum.

Youtube, Facebook, Instagram, Spotify, etc. É obrigatório usar essas opções para alcançar fãs e pessoas que se tornam fãs através dessas ferramentas. Não sou fanático por computadores, então preciso aprender tudo sobre isso e a forma de utilizá-lo da melhor maneira. Para terminar, Obrigado à revista Headbangers pelo apoio.

É obrigatório usar essas opções...

Timo Class (Bateria)

Marius Pack (Guitarra)

Dave Renner (Guitarra)

Joe Trunk (Baixo)

Jagger (Voz)

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Youtube, Facebook, Instagram, Spotify, etc.

KOSUKE HASHIDA

Kosuke Hashida é um «One Man Project» ou conta com banda suporte?

Por enquanto, é ainda o projecto de apenas de um músico. O que não quer dizer que no futuro, não possa evoluir para uma banda. É prematuro ainda falar sobre isso.

O que está por trás de «Justifiable Homicide», tanto musicalmente quanto liricamente?

As músicas são sobre coisas brutais, como assassinatos, tortura e assim por diante… é o clássico, muitas vezes focado pelas muitas bandas de Death Metal.Além disso, tentei que os riffs fossem rápidos, agressivos e cativantes.

Tens influências de outras bandas ou esse álbum representa a maneira como vês/ sentes a música?

Ainda tenho muitas influências das minhas bandas favoritas como Slayer, Exodus, Terrorizer, MorbidAngel, Lock Up, Napalm Death, Carcass, etc e acho que essas influências estão refletidas no álbum. O Gary Holt é meu ídolo desde a adolescência.

Fala-nos sobre todo o processo de gravação em estúdio?

Todas as músicas foram escritas, gravadas, programadas, mixadas e masterizadas por mim mesmo, no meu apartamento em Tóquio. Todo o processo foi por tentativa, dado que foi a minha primeira experiência mixando e masterizando músicas.

Com este álbum de estreia, quais são as tuas expectativas para o Japão, Estados Unidos e também para a Europa?

Eu só quero que os fãs de música brutal aproveitem o álbum da mesma forma que eu. Além disso, seria ótimo se eu pudesse fazer promover este trabalho por essas paragens...

Ainda tocas na banda anterior, World End Man?

Não, saí da banda em 2018.

Exatamente porque decides formar Kosuke Hashida?

Basicamente, por paixão.Além disso, é muito mais fácil gravar músicas sozinho agora, do que era nos anos 2000.Além disso, alguns dos meus amigos do Metal têm-me pressionado a continuar a tocar esse estilo musical.

Planos para tocar esse disco ao vivo?

Eu realmente quero fazer isso, mas primeiro preciso encontrar os músicos para tocar e não será fácil, eu acho.

As redes sociais poderão ser importantes para promover o projecto ou tens outros planos, noutras plataformas?

Eu entendo que a estratégia de mídia social é importante, mas ainda acredito que boa música pode ser espalhada pelo mundo, pela paixão, como faz o Mike da HPGD Productions, que me escolheu e acho que essa é a cena do Metal que deveria ser.

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TORN FABRIKS

Os thrashers nacionais, Torn Fabriks fizeram parte da edição deste ano do cartaz do festival Milagre Metaleiro, que se realizou em São Pedro do Sul. Recorde-se que a banda conta, nas suas fileiras, com Ricardo Santos, que desempenha as mesmas funções nos açorianos Morbid Death.

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Fotografia: Madness by
Nuno Reis

Soube bem regressar ao palco, concretamente ao festival Milagre Metaleiro?

Soube, e de que maneira! Sair da nossa zona de conforto pode, realmente, surpreender-nos. Desta vez, levou-nos a um «desconhecido» que eu e o Jorge estávamos ansiosos por conhecer. Já tínhamos ouvido falar do Milagre Metaleiro e achávamos que seria muito difícil chegarmos a um cartaz do evento, devido ao nosso curto historial. No entanto, conseguimos e fomos muito bem recebidos. Deixaram-nos logo à vontade. Frio à parte, o ambiente esteve bastante quente, com excelentes bandas e um público sedento de diversão. De realçar também, o excelente som que se fez ecoar no recinto, desde a primeira até à última banda. Deduzo que o nosso também tenha sido bom, isto baseandome nos «Live Footage» que tenho visto. Que balanço fazem desta actuação?

Quem nos conhece, sabe perfeitamente que não somos uma banda que funciona como a maioria das bandas, ou seja, de uma forma dita «normal». Vivemos muito distante uns dos outros e adoptámos um método em que cada um faz o trabalho de casa sozinho. Poderá ser um risco? Sim, claro! Mas, dá um

gozo enorme quando nos reunimos para um evento (e já vão três!), e parece que é sempre a primeira vez. Basicamente, tudo se desenrola em cima do palco. Dito isto, o balanço será sempre positivo e, cada vez mais, dá aquela sensação de que já andamos como banda há muito mais anos do que temos.

Desta vez surgiram em formato trio, apenas com uma guitarra. Foi por opção?

Sim, é verdade! Digamos que foi a junção da nossa vontade de ter em palco a formação que compôs o álbum «Impera», com a vertente da logística. Para que isso fosse possível, tivemos que optar por esta via. E poderá ser neste formato que num futuro podemos aparecer, funcionou muito bem.

O baterista Gualter Couto é já membro efectivo da banda ou surge como convidado?

Os únicos membros efetivos da banda são o Jorge e eu. Digamos que somos o «núcleo central». Nos dois eventos (Massacre Metal Fest e Meo Monte Verde) que antecederam o Milagre Metaleiro - Ressurreição do Metal, tivemos outros dois convidados. Foram eles, o ThrashWall Garras, na bateria e o

Luís H. Bettencourt, na segunda guitarra.

Fizeram algum ensaio conjunto antes do concerto?

O Gualter chegou a Portugal uns dias antes do evento, vindo do Reino Unido e juntou-se ao Jorge para um ensaio. Como trio, fizemos o «ensaio» em cima do palco, para o público e correu bem!

Que análise fazes ao panorama

Thrash Metal nacional?

Pelo que tenho acompanhado, temos grandes valores.Algumas bandas são bem conhecidas além fronteiras, o que só faz engrandecer o Thrash Metal nacional.

Para quando o novo disco?

Pouco antes de termos sido convidados para o Milagre Metaleiro, o Jorge já estava a compôr novas malhas. Posso dizer que já tem umas quantas candidatas ao próximo álbum e que, em breve, retomaremos este processo.Aver vamos se mais para o final do ano, o álbum está bem encaminhado.

Trabalhar à distância continua a ser a opção mais viável?

Sim. Foi desta forma que se fez o «Mind Consumption» e o «Impera». O sucessor será da mesma forma.

Quando é que regressam aos palcos?

De momento não temos nada agendado. Existe uma data além fronteiras que está a ser tratada mas que, por enquanto, pouco se pode adiantar. Vontade é o que não nos falta, mas não é algo que dependa apenas de nós. Portanto, se algum promotor estiver interessado nos nossos serviços, sempre nos pode contactar através das redes sociais ou e-mail (tornfabriks@gmail.com).

Gulater Couto (Bateria)

Jorge Matos (Guitarra)

Ricardo Santos (Voz e Baixo)

HEADBANGERS 23 Fotografia:
Madness by Nuno Reis
Fotografia:
Madness by Nuno Reis
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M1KE

Chama-se Miguel Silva, M1ke é o seu nome artístico e é natural da ilha Terceira, nos Açores. Por estes dias, lança dois trabalhos num único CD. «The Siege» e «Thy Wolves» são as propostas que vêm com selo do Museu do Heavy Metal Açoriano.

Que razões lhe levam a embarcar num projecto a solo, em vez de continuar com banda?

Antes do projecto M1KE, o meu processo de composição era sempre no contexto de banda e em companhia de outros músicos. Sempre gostei de ter uma perspectiva externa, para que a música tomasse uma nova direcção.As decisões também eram partilhadas e mais fáceis, porque a responsabilidade do resultado final reparte-se. No entanto, nos últimos anos, sentia que queria ir um pouco mais além na experimentação na guitarra, alterar a minha forma de escrever riffs, de orquestrar e trabalhar a voz. E queria que essa alteração fosse profunda. É difícil fazer uma mudança deste tipo e encontrar pessoas que estejam dispostas a acompanhar-te no processo ou que tenham a paciência e confiança na direcção que queres tomar, visto que está tudo em aberto e não há garantias nenhumas de sucesso no resultado. Depois de terminar a atividade nos Growing Titans, ganhei confiança no novo rumo que queria dar à minha composição e foi surpreendentemente simples. Foi começar a pôr as mãos na massa e encontrar técnicas, riffs, melodias, letras, assuntos que jamais me tinham passado pela cabeça. Encontrei a liberdade para escrever à minha velocidade, no meu silêncio, sem pensar se alguém ia gostar ou não. Encontrei esse «espaço» no «lockdown» da pandemia, sem barulho, sem obrigações (sem poder sair de casa… Risos) e foi um dos períodos mais produtivos em termos musicais para mim. Em suma, a razão foi ter a liberdade para compor apenas com meus próprios limites e tentar estendê-los sempre um pouco mais.

Contudo, a ideia de ter uma banda nunca

desapareceu.Atualmente, também escrevo e ando em digressão com os Razón de Odio" e é uma excelente experiência. É claro que não alcanço a mesma profundidade de composição que consigo em solitário, porque somos várias pessoas num mesmo espaço, a tomar decisões cada uma com capacidades e visões diferentes do resultado final.Aí a melhor ferramenta a desenvolver é a diplomacia.

Ser músico multi-instrumentista pesou nessa decisão?

Não muito, porque na realidade tive que aprender de tudo um pouco quando comecei a escrever em solitário, só sabia tocar guitarra quando me meti nisto (um guitarrista acha sempre que sabe tocar baixo, mas não é bem assim).As minhas ideias costumam aparecer completas e orquestradas na minha cabeça. Só tive que encontrar a forma de transformar isso em som.Aprendi um pouco de baixo, um pouco de teclas e comecei a prestar mais atenção aos bateristas que mais gosto. Vou melhorando pouco-apouco.Ajudou muito ter tocado em bandas, porque sou muito curioso e observo sempre o que fazem os outros músicos. Daí aprendi muitíssimo. Nesse sentido, estou muito grato ao meu companheiro Jorge Canela dos Growing Titans. Só ele foi uma escola fenomenal.

Como é que surge a parceria com o Museu do Heavy MetalAçoriano?

Na realidade o Mário Lino «pescou-me» e nem sei muito bem como. Sabes que ele anda à coca. Lancei o meu álbum "The Siege" no «bandcamp» em 2021 porque a minha mulher me obrigou, basicamente. Ela disse que não tinha sentido que toda essa música ficasse na gaveta e eu segui o conselho. Para grande surpresa minha, o Mário Lino do

Museu do Heavy MetalAçoriano descobriu-me e apoiou-me. Esse apoio estendeu-se ao Carlos Guimarães e à Rosa Soares dos Caminhos Metálicos, que impulsionaram o disco e converteuse em algo bastante maior do que esperava.Arelação com o Mário continuou com as compilações «Azores & Metal» até que me convenceu a lançar o "Thy Wolves" em formato físico (CD). Aajuda do Mário fez com que tudo andasse para a frente, também criou uma equipa de trabalho com o Luís Sousa e o Hugin Medeiros, e entre todos finalizamos o produto em tempo record e fizemos algo do qual estou muito orgulhoso.

«The Siege» representa uma fase, «Thy Wolves» representa outra, todavia ambas representam uma forte abordagem ao Progressive Metal. São essas as suas raízes?

É interessante a pergunta. Nunca tinha considerado a minha música progressiva. Na realidade não sou um grande ouvinte de música progressiva, sou fan de muitos tipos de música entre os quais, estão bandas como os Queen ou os Dream Theater, suponho que por aí possa vir alguma influência progressiva.Aúnica coisa que tento expressa e conscientemente é não cair apenas na radio-fórmula. Quanto às etiquetas, sempre achei que fazia Thrash Metal (Risos), mas aparentemente a minha música é encarada de outra forma, e é verdade que nem sempre cai nessa categoria. De qualquer maneira, tento que a forma da música seja adequada ao conteúdo da letra e que conte uma história, que evolua e que seja livre. Posso dizer, com certeza, que está dentro do Metal....que categoria de Metal? Não sei... Pode ser que isso faça com que os temas pareçam progressivos. Mas não procuro mais do

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que a liberdade e que a ideia siga o seu próprio caminho.

Ailha Terceira sempre foi conhecida por ter excelentes guitarristas, talvez influenciados pelo Nuno Bettencourt. Foi o seu caso?

Na altura que tocava na Terceira havia o Metal versus o Glam Rock/Grunge. Na altura o Nuno era do outro bando e nós não gostávamos de Extreme (Risos), mas um dia gravei o videoclipe do «Hip Today» e adorei o tema e o solo. Ajudou-me a sair do som Metal e perceber outras técnicas. O Nuno não acaba por ser uma influência forte na guitarra como seriam uns Megadeth/ Marty Friedman ou Metallica, Pantera, Sepultura ou outras bandas como

Stratovarius e Helloween. Mas gosto muito do que o Nuno faz, e acho que já está no Panteão dos Imortais e ainda cá anda na terra.Alguém me disse que eu tocava malhas parecidas às dele, mas nunca pensei nas minhas malhas com essa semelhança e, realmente, não encontro muita. Era bom se tocasse como ele…

Qual tem sido o seu percurso musical em Espanha e as principais diferenças pelos locais onde passou?

Quando vim para Espanha, em 2004, estava a fazer doutoramento e parei de tocar (atenção: sempre tive uma guitarra no quarto), mas estava a cumprir com o meu dever de estudante. Meti-me numa banda por esses 2010, mas não durou

muito e depois voltei a Portugal. Em 2021 voltei a Espanha e coloquei um anúncio numa página web. Passados uns meses telefonaram-me. Fiz uma audição e entrei nos Razón de Odio. Foi tudo super natural e começamos imediatamente a dar concertos. Desde esse dia, compusemos um disco novo, gravámos e estamos em tour por Espanha.Aúnica coisa que faz realmente com que um grupo não funcione, são os egos e as personalidades. Posso dizer que isso está na base da separação de 80% das bandas. Se aguentamos o objetivo da música por cima dos pessoais, e a música funciona, há esperança.Acho que essa tem sido a receita de RDO.Até agora, tem sido a diferença com os projetos passados.

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35 anos de...

BENEATH THE REMAINS

Corria o mês deAbril do ano da graça de 1989, quando o mercado recebeu “Beneath The Remains”, terceiro disco de originais da banda brasileira Sepultura.

Liderados pelos irmãos Max e Igor Cavalera (vocalista/guitarrista e baterista, respectivamente), a banda contava, aquando deste disco, com Paulo Jr., no baixo eAndreas Kisser na guitarra. E pode dizer-se que, é este o quarteto que faz história, ao tornar a marca Sepultura, na mais importante de sempre, do Brasil, no que ao som pesado diz respeito.

O colectivo formado em Belo Horizonte em 1984, ficou conhecido por praticar um Thrash Metal poderoso, com laivos de Death Metal à mistura.

Falemos de “Beneath the Remains”, o trabalho que colocou o quarteto brasileiro na mais alta roda do Heavy Metal mundial.

O disco foi editado com selo da Roadrunner Records (antiga Roadracer Records) e teve como produtor, nada mais nada menos que Scoth Burns, o norte-americano que vivia na Florida e que ficou conhecido por gravar bandas como Death, Obituary, Cannibal Corpse, Napalm Death, entre muitas outras, nos conhecidos estúdios Morrisound, em Tampa.

“Beneath the Remains” foi gravado no “Nas Nuvens Studio”, no Brasil, em cerca de 10 dias e vendeu cerca de 800 mil cópias, em todo o mundo.

Embora o disco seja, quase perfeito, destacamos os temas “Beneath the Remains”, “Inner Self”, “Stronger Than Hate” e “Slaves of Pain”.

35Anos depois, este continua a ser um dos melhores discos de sempre, não só da banda, mas de um movimento que até hoje, continua vivo e de boa saúde.

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The perfect guitar rig

NELSON FÉLIX

(Professor de música e guitarrista de sessão)

AFender Stratocaster e a Gibson Les Paul são as guitarras que gosto mais de tocar. Não só pela marca e história, mas, acima de tudo, por razões específicas. a Stratocaster principalmente devido ao seu timbre brilhante e estalado e a Gibson Les Paul porque, na minha opinião, tem dos melhores braços para fazer solos rápidos…

Anível de amplificadores a Marshall e a Laney são as marcas que gostei mais de usar até agora. Os amplificadores da Marshall, para mim, são muito bons para usar no Heavy Metal, principalmente para distorções mais agressivas, enquanto que os Laney são muito bons para sons limpos e sons Rock/Metal não tão agressivos…

Em relação a pedais, para mim o ideal seria um de distorção, um delay, pedal de expressão para volume e wah wah. Eventualmente, mais um efeito ou outro como o chorus, por exemplo. Pedais da Boss são uma boa escolha, assim como em relação a pedaleiras. Nessa área, escolho a Boss GT 100.

No que respeita a cordas, tenho preferência pelas 09, pois costumo usar afinação padrão e para mim é o ideal. Ernie Ball, D'addario e Fender são algumas das marcas que uso.

Palhetas, tenho como preferência as espessuras 1.20 e 1.50 mm, por facilitar ao fazer várias técnicas, principalmente a palhetada alternada rápida.

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BLAST FROM THE PAST

OVERKILL

The Years of Decay

1989

É uma das mais emblemáticas bandas do Thrash Metal norte-americano da ida década de 1980. Recordar «The Years of Decay» é regressar a uma época onde esta sonoridade imperava, quer nos Estados Unidos, quer no velho continente, com destaque para o mercado alemão. «Elimination», «I Hate» e «E.vil N.ever D.ies» são apenas três das nove malhas que fazem deste disco, um clássico da cena Thrash mundial.

MOTORHEAD

Orgasmatron

1986

Perto a completar quarenta anos de edição, este é um dos discos obrigatórios da vastíssima discografia dos britânicos Motorhead. «Orgasmatron», apresenta-se com um Rock bem musculado, com o carisma que sempre marcou todo e qualquer trabalho de Lemmy Kilmister e companhia. O tema que dá nome a este registo, recorde-se, foi popularizado pelos Sepultura, no Ep «Third World Posse», edição especial australiana.

KREATOR

ExtremeAggression

1989

Outro clássico da cena Thrash mundial, desta feita, vindo do maior exportador europeu da especialidade, o mercado alemão. Falar de Kreator é fazer referência a uma instituição que carrega o verdadeiro significado desta sonoridade, sendo considerada uma das mais influentes. «ExtremeAggression» reúne nove fórmulas de como fazer música que fica para a história, ou seja, sem prazo de validade.

DEMOLITION HAMMER

Epidemic of Violence

1992

Embora com uma sonoridade mais moderna, «Epidemic of Violence» oferece-nos cerca de quarenta minutos

de Thrash Metal bem ao estilo novaiorquino, característico dos anos noventa. Os Demolition Hammer, durante os primórdios da sua existência, foram considerados um dos portaestandartes do movimento, da costa leste norte-americana. «Epidemic of Violence» é um trabalho que se redescobre, a cada audição. Fica o convite…

SAINT VITUS

Die Healing

1994

É uma das mais belas obras, de sempre, do Doom Metal feito no Planeta Terra. «Die Healing» conta com cerca de cinquenta minutos, divididos por oito temas divinamente «esculpidos». Trinta anos após o seu lançamento, continuam a ser actuais temas como «Dark World», «One Mind» ou «Trail of Pestilence». As grandes obras são eternas,

independentemente da sua idade. «Die Healing» é uma dessa obras.

BOLT THROWER

The IVth Crusade 1992

Terminamos esta abordagem, ao jeito de retrovisor, com os Bolt Thrower, um dos expoentes máximos da nação britânica, no que ao Doom/Death Metal diz respeito. «The IVth Crusade» é, provavelmente, o trabalho mais completo da banda que tinha como baixista, Jo Bench, uma das primeiras mulheres a surgir na cena mais pesada europeia. Um dos aspectos mais determinantes na sonoridade da banda, tem a ver com a muralha rítmica das guitarras, muito característica no Reino Unido, como são exemplo os Benediction… «The IVth Crusade» é o disco certo, para introduzir a banda a novos públicos, embora já não estejam no activo.

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