Editorial: FIXA

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1ª edição



1ª edição revista especial sobre o impeachment de Dilma Rousseff

textos: Letícia Linhares diagramação: Victor Hugo Gonzaga


O GOLPE NOSSO DE CADA DIA

EDITORIAL

Talvez muitos discordem, mas foi golpe! Sou muito amiga de um cara chamado Victor Hugo. Diferente do ensaísta francês, meu Victor não é um ativista político, nesse sentido, nós somos bem diferentes: ele mais conservador, eu mais progressista. Ainda assim, juntos somos o Lictor, um pseudônimo que nos une em todas as esferas, as desconformidades desaparecem quando aceitamos que foi um golpe, mas um golpe contra nós. Sentados à mesa da lanchonete, eu o provocava: “Victor é golpe ou impeachment?” “impeachment”, ele respondia de pronto. Passava o tempo e eu o questionava novamente, então ele salientava a existência de base jurídica e eu continuava “mas sem crime de responsabilidade?”. Então ele mudava sua resposta e começava a falar sobre ingovernabilidade. Esse posicionamento viciado do impeachment é fruto de uma falcatrua narrativa que pode ser comparada a testes de raciocínio lógico. Vejamos: Se um sujeito perguntar qual o contrário de preto, vão responder-lhe que é branco. Em seguida ele pergunta qual o contrário de claro, e a resposta será escuro. Se na sequência ele questionar qual o contrário de verde, provavelmente alguém vai dizer que não existe. Isto porque o respondente foi induzido a não pensar que o contrário de verde pode ser maduro. Claramente foi golpe! Perdoem, eu não falo da Dilma, refiro-me ao golpe que muitos de nós levamos todos os dias quando nossas narrativas são conduzidas e viciadas por tudo o que consumimos. O golpe acontece quando, sem senso crítico, mergulhamos em um mar de concordâncias, permitindo que veículos nos tratem como boiada. Assumir esse golpe não anula a culpa deste ou daquele partido, apenas trás a luz questionamentos importantes. Caro leitor, na época da decisão do impeachment você saberia explicar o que foi o neologismo“pedalada fiscal” e se isso era motivo suficiente para derrubar um presidente? Você refletiu sobre o fato que o parlamentar que acatou o processo de impeachment era réu no STF ou apenas adotou o jargão do “meu bandido favorito”? Quando soube que quem assumiria o país com a saída de Dilma seria o líder de um partido que está há 30 anos no poder e tem inúmeros de seus parlamentares envolvidos em esquemas de corrupção, ou se amparou no argumento “a culpa não é minha, eu votei no Aécio”? Vendo hoje, sinceramente espero que não tenha usado algum desses argumentos. O ponto é: nós, ainda pseudo-jornalistas, precisamos entender, e rápido, que o jornalismo não é o reflexo da realidade, nós não contamos fatos. O que fazemos é construir realidades e narrativas, formar opiniões e o fim disso dependerá do ângulo, recorte, lead, linguagem e todos os filtros que utilizarmos no processo produtivo. Todos nós temos preconceitos, crenças, ideologias e fazemos juízos de valor, inclusive eu que escrevo. Por isso, duvide de tudo o que leu - inclusive dessa revista -, certifique-se, me diga que estou errada e como. A cada vez que uma luz de desconfiança leva a uma apuração, um golpe é evitado. O contrário de verde

.

pode não ser maduro, nem amarelo, nem vermelho ou azul, mas cabe a você definir o porquê


ÍNDICE

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UMA ESTRATÉGIA SUN TZUNIANA

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MANIFESTAÇÕES BARATAS

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A Construção Midiática que compôs um ambiente favorável à queda de Dilma

Aquilo que começou com 20 centavos terminou em Impeachment

PODER SIMBÓLICO

Como Moro e suas decisões resultaram no fortalecimento das manifestações contra o PT e o governo Dilma

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O PLANEJADOR

22

LOBBY MIDIÁTICO

30

ENTREVISTA COM PEDRO MASSON

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UM CARTAZ NA MÃO DO GIGANTE E A MORTE DA DEMOCRACIA

33

TODO PODER EMANA DO POVO

O House of Cards brasileiro e o maior spoiler da história

Os perigos do agendamento de notícias

Um ponto de vista científico


ARTIGO

6

A I ÉG A T N A A I TR TZUN SUN

S E A M U

ICA ÁT IDI OM E ÇÃ NT RU ST BIE ON AM M AC E SU QU MPÔ EL À V CO ORÁ E D V FA DA E QU MA DIL


7

>

Para a pueril democracia tupiniquim o impeachment de Dilma, o segundo em menos de 15 anos, foi como a bala de borracha que acertou Sérgio Silva. Em junho de 2013, o fotógrafo Sérgio Silva fazia a cobertura das manifestações que avassalaram o país. Entre uma foto aqui e outra acolá, a surpresa que aquele dia guardou para Sérgio chegou rápido como um tiro. As jornadas de junho ainda cheiravam a leite, como um recém nascido, mas truculência policial já era sua marca registrada. Sérgio viu ali uma oportunidade de registrar aquele momento que entrou para a história. Sua lente caçava as balas e cassetetes que sangravam os manifestantes. Para Sérgio, assim como para muitos que estavam lá, aquela era sua primeira incursão em um manifesto popular e lhe custou os olhos da cara. Naquele cenário de guerra civil, bombas e balas voavam por todos os lados e os fotógrafos, repórteres e manifestantes se entrincheiravam como podiam. Escondiam-se atrás de bancas, paradas de ônibus e qualquer coisa que servisse de barreira. Sérgio escolheu esperar o instante decisivo atrás de uma banca de jornal, quando achou que era o melhor momento para a foto ele posicionou astutamente a câmera e sentiu o impacto do seu último click. Ainda zonzo, percebeu o calor do sangue que escorria em seu rosto. Sérgio não ainda não sabia, mas foi atingido por uma bala de borracha em seu olho.

Essa bala estava para Sérgio assim como o impeachment esteve para a democracia. Sérgio ficou cego e a população também. >>


8

QUEBRAR A CREDIBILIDADE

>>

Essa é uma articulação sabia que Sun Tzu ensinou em seu livro, A Arte da Guerra, para destruir um inimigo. Espalhar boatos falsos, disseminar suspeitas e por à prova a lealdade e crenças. Isto naturalmente fomentará o desentendimento e a divisão que levará muitos a agir à revelia. A mídia é um agente político que assume esse papel pelo seu poder de sistematiza e propagar ideias e informações. A grande mídia brasileira é composta por conglomerados que, em sua maioria, compartilham posicionamentos políticos semelhantes. Portanto, o que é televisionado por um jornal de grande credibilidade é reforçado em uma matéria de três páginas em uma revista. Contudo, não cabe observar as verdades ou inverdades, mas chamar a atenção para como se contam os fatos. Essa esquematização argumentativa é sutil e contínua. No caso do fotógrafo, as reportagens falavam da importância do uso de equipamentos de proteção no trabalho e da irresponsabilidade de mídias alternativas, como a que ele trabalhava, em não cobrar o uso de coletes de identificação e outros apetrechos jornalísticos. A desconstrução da cobertura alternativa e a culpabilidade da vítima foram reforçadas dias a fio. Com isso, o fotógrafo perdeu seu processo porque o Juíz entendeu que a cegueira causada pela bala era de responsabilidade exclusiva dele que não utilizou material de proteção. Assim como Sérgio, Dilma também teve a grande mídia trabalhando para desfazer sua imagem. Qualquer especulação sobre ela ou seu partido eram amplamente divulgados. Manifestações, com pouco mais de 50 pessoas, pedindo impeachment no momento em que ela foi reeleita, inusitadamente, se tornaram notícia. Nesse sentido, o judiciário cumpriu um papel fundamental, entregando à mídia toda e qualquer


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delação, áudio ou especulação advindas das oitivas

Os escândalos de corrupção do PT, historicamente

e investigações da operação Lava Jato. Diferente de

mais preocupado com questões sociais no país, fez

como foi com Collor, os jornalistas não tiveram o traba-

com que muitos simpatizantes e eleitores desacre-

lho de apurar e fazer investigações profundas sobre os

ditassem não só no partido ou nos movimentos de

casos de corrupção. O Judiciário entregava indícios

esquerda, mas na política. A mídia publicou insisten-

e a mídia desenvolvia suas reportagens que, em sua

temente matérias e reportagens sobre os casos de

maioria, eram arraigadas de opinião.

corrupção envolvendo o PT, áudios ilegais editados de maneira comprometedora, tudo seguindo o viés

Para fortalecer o cenário de incompetência, o segundo

editorial, semelhante na maioria dos veículos. O PT

passo foi criar reportagens quase apocalípticas sobre

protagonizou as matérias sob a justificativa dos meios

a “crise econômica”. Há tempos o Brasil caminha mal

de que o partido estava no poder há quase 14 anos

das pernas, afinal, somos um país emergente. Nossa

e, por isso, a sensação popular era de vivenciar uma

economia está em desenvolvimento, ora bolas. Claro

“ditadura Lulo-petista” responsável pela crise, princi-

que isso não quer dizer que a crise econômica é uma

palmente pela corrupção do partido.

invenção midiática, não é, mas a maneira como foi noticiada pré e pós impeachment são substanciais. Mas

O ponto alto de sua desconstrução e, talvez o maior

a economia não seria, sozinha, o fator que derrubaria

presente que Dilma pode ter dado à mídia, foi sua

Dilma, por todo o discurso social de seu partido. Que-

falta de tato nas relações com parlamentares e sua

brar a credibilidade do partido e de Lula, mentor da

dificuldade de concatenar ideias em discursos. Suas

ex-presidente foi necessário para garantir a fragilidade

falas públicas tornaram-se o escárnio da mídia, que

do governo.

ridicularizava suas propostas e fazia com que ela fosse apenas um motivo de piada. Então a mídia do-

Foi aí que Dilma deu seu tiro no pé. O governo PT, a

brou a sua meta. Dilma que já não tinha muito espaço

começar por Lula e reforçado com Dilma, foi o primeiro

no Congresso, agora muito conservador e alinhado

governo a incentivar a investigação de crimes de

contrariamente aos seus interesses, não tinha mais o

corrupção que, acompanhados pelo desenvolvimento

apoio popular que estava nas ruas pedindo o fim da

tecnológico, eram cada vez mais difundidos pela pró-

corrupção e de seu governo.

pria população. Muitos escândalos foram descobertos e a imprensa ganhou mais um argumento:

Nos anos 60 Jânio Quadros cantou “varre, varre,varre vassourinha! Varre, varre a bandalheira! Que o povo

o Partido dos Trabalhadores é corrupto, Lula é corrupto e Dilma sabia de tudo.

já ‘tá cansado de sofrer dessa maneira”. Cinquenta e seis anos, uma intervenção militar e um impeachment depois e o tilintar de panelas ensurdece o país pedindo o fim da corrupção. O povo permanece cansado

.

esperando nas varandas e sacadas por sua ponte para o futuro


MANI FES TAÇÕES BARATAS

AQUILO QUE COMEÇOU COM 20 CENTAVOS TERMINOU EM IMPEACHMENT

10


11

>

No ano de 2013 o Brasil viveu um dos momentos mais marcantes de sua história: as “Jornadas de Junho”. Cidadão nenhum, quiçá nem mesmo aqueles que estavam empunhando cartazes, imaginou que aquilo que começou com um punhado de Porto-alegrenses se transformaria na maior mobilização já vista no país desde o impeachment do ex presidente Fernando

A chama da revolta dos “Passe Livre” se esvaiu com a suspensão do aumento, mas o povo que provou do gosto da subversão não aquietou e continuou a bradar suas insatisfações.

Collor de Melo.

continuou a bradar suas insatisfações. A postura militar causou repúdio em muitos jovens que deixaram seu sangue nas ruas, que tiveram seus olhos irritados por gases e que viram companheiros serem enclausurados injustamente. Junto ao sentimento de contra-

O início se deu com o reajuste de R$ 0,20 no valor

riedade surgia a Proposta de Emenda à Constituição

das passagens, aprovado pelo prefeito Sebastião

número 37 dando mais poder à polícia. Assim, simbio-

Melo, em março de 2013. O aumento, que represen-

ticamente vários temas passavam a compor as pautas

tava pouco mais de 7%, foi suficiente para acordar o

dos cartazes.

Movimento Passe Livre que não tardou em promover manifestações em diversas outras capitais onde o

As manifestações que eclodiram extravasaram as

aumento também estava sendo imposto. A princípio, a

formas tradicionais de ação coletiva. Sem lideranças

organização parecia muito precária, feita apenas por

claras ou vínculos partidários, cidadãos contrários

redes sociais. Contudo, o grito de cada postagem feita

a medidas e políticas específicas misturaram-se a

em Porto Alegre ecoou pelos quatros cantos do país

revoltados com o sistema político-governamental e se

e acordou o gigante adormecido desde os finados

empoderaram do movimento que iniciou com a luta

“Caras Pintadas”.

pela redução das passagens, agindo de forma combativa a tudo o que lhes desagradava. Grandes eventos,

Os protestos paralisaram cidades que se tornaram

como a Copa do Mundo em 2014, foram abalados,

palco de violência policial, depredação do patrimônio

casas legislativas invadidas, rodovias e aeroportos

público e privado e testemunha ocular da revolução

interditados. >>

que se iniciara. A chama da revolta dos “Passe Livre” se esvaiu com a suspensão do aumento, mas o povo que provou do gosto da subversão não aquietou e


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>>

“Como nossos pais”, de Elis Regina, poderia fazer parte da trilha sonora que acordou o gigante. Fernando Collor de Mello que outrora sentiu a fúria do povo, como quem leva um soco no maxilar e vai ao chão, já dava indícios do que estava por vir. As movimentações do primeiro decênio dos anos 2000 remontavam às do final da década de oitenta. Movimentos estudantis, que lutavam pelo Passe Livre e pela meia entrada em cinemas, romperam o torpor daquela década quando foram às ruas levar suas reivindicações, misturados àqueles que não compactuavam com os ideais do governo Collor e teciam duras críticas a um suposto envolvimento de corrupção que eram constantemente televisionados. O que talvez fosse surpresa para Elis é que a música “Como nossos pais” não caberia ao todo, porque parte do gigante era exatamente os pais que pintaram a cara quando jovens. O movimento que àquela altura já estava repleto de pautas difusas, começava a se dividir em duas esferas. Criou-se um abismo separando os movimentos. Não apenas ideológico, mas social e com amparo midiático. Os meios de comunicação reportavam o movimento juvenil sempre diminuindo sua relevância, dando ênfase ao vandalismo e à desordem. Isso culminou no afastamento daqueles que não eram tão ativistas e ao levante contra a mídia, em especial à Rede Globo.


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O novo militante tinha ao seu lado a grande mídia e entidades como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP.

A grande mídia alimentava a incredulidade da outra

As manifestações organizadas pelo Vem pra Rua e

parcela de manifestantes com a reprodução exaustiva

MBL não tinham interferência policial e eram mais

de acusações e especulações do envolvimento de

pacíficas e performáticas. Coreografias e paródias

Dilma e seus pares em casos de corrupção, tal como

clamando pela deposição da ex-presidente, patos

feito durante o governo Collor. A descrença na política

gigantes colocados em pontos estratégicos das cida-

fez com que outros movimentos, auto-intitulados suprapartidários, como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL) erguessem sua espada ao governo e, com o respaldo midiático, conquistassem o apreço daqueles que viam os jovens como vândalos.

des, a presença de artistas e celebridades renomadas e o uniforme verde e amarelo, tal como as caras pintadas, sublimavam o cunho nacionalista e peculiar das marchas. Essas passeatas tinham o apoio irrestrito da polícia e da mídia, bem como o alinhamento com o tradicionalismo, o que favorecia desde a pacificidade do movimento à quantidade de participantes.

Caracteristicamente mais conservadores, esses movimentos eram condes-

Quando comparados os manifestantes liderados pelo

cendentes com os ideais de veículos

MBL e o público alvo da revista Veja, principal periódi-

como a revista Veja e partidos

co impresso de oposição ao PT e alinhado à ideologia

inclinados à direita, como o PSDB,

PSDBistas, os perfis serão bem consistentes. Ambos

ambos historicamente opositores

são, em sua maioria, brancos, ocupantes das classes

do PT, partido da então presidente

B e C (rendimentos entre 4 e 20 salários mínimos),

Dilma Rousseff. Outros modelos

acima de 36 anos e com curso superior.

de manifestações começaram a se formar e dividir espaço com as que

Tal como os caras pintadas, os verde e amarelos não

ainda se mantinham. O novo militante

cansaram até o Congresso ceder às suas investidas

tinha ao seu lado a grande mídia e en-

populares. As manifestações contra o impeachment

tidades como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP. A ausência de uma bandeira principal brevemente foi substituída pelo pedido de impeachment de Dilma, como medida de combate à corrupção.

não soaram mais alto que o grito dos gigantes emissores e dos patos que grasnavam. A espada do MBL

.

cortou-lhe a cabeça e ao cair de Dilma, os caras pintadas verde e amarelo se foram


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PODER SIMBÓLOCO COMO MORO E SUAS DECISÕES RESULTARAM NO FORTALECIMENTO DAS MANIFESTAÇÕES CONTRA O PT E O GOVERNO DILMA

>

Em 2002, após quatro tentativas consecutivas à

Essa inclusão contribuiu para a criação de uma

presidência da república, Luís Inácio Lula da Silva

população mais amadurecida nos debates sociais e

candidatou-se novamente pelo Partido dos Trabalha-

atenta às necessidades de mudança no sistema ainda

dores. Naquele ano, as eleições se diferenciavam pelo

vigente. Os paradigmas da corrupção, de certa forma

pragmatismo econômico e político em função da crise

intransponíveis, foram quebrados com auxílio indireto

econômica de 2001, mas o discurso da importância da

do PT. O partido deu mais autonomia à Polícia Federal

diminuição da desigualdade social mantinha-se firme

e ao Ministério Público para investigações contra a

em Lula. À época, Lula compreendia que a privatiza-

corrupção, como afirmou o procurador Carlos Fernan-

ção do sistema da Telebrás resultaria em crescimento

do dos Santos Lima, da força-tarefa da Operação Lava

para o setor, mas, por outro lado, o acesso irrestrito

Jato, em palestra em São Paulo: “Um ponto positivo

das tecnologias da informação e comunicação pode-

que os governos que estão sendo investigados, os

riam favorecer o desenvolvimento econômico, político

governos do PT, têm a seu favor é que boa parte da

e social.

independência atual do Ministério Público, da capacidade administrativa, técnica e operacional da Polícia

O vitorioso programa de governo de Lula, que trazia

Federal decorre de uma não intervenção do poder

a inclusão digital como ponto fundamental na “Era

político. Isso é importante, é um fato que tem que ser

Digital” e estava em conformidade com os resultados

reconhecido, porque os governos anteriores realmente

apresentados pelo governos petistas de São Paulo

mantinham controle das instituições. “, disse.

(1999-2002), Porto Alegre (1993-2004) e Rio Grande do Sul (1999-2002), que instalaram telecentros nas

A ideia era construir uma “consciência cidadã, crítica e participativa”

corrupção já deflagrada na história do Brasil. Ela teve

a inclusão digital. A ideia

início em 2014 com a investigação de doleiros em seis

era construir uma “cons-

estados e no Distrito Federal para apurar crimes de

ciência cidadã, crítica e

lavagem de dinheiro. O nome escolhido pela delegada

participativa”

da Polícia Federal em Curitiba, Erika Mialik Marena, é pelo uso de uma rede de postos de combustíveis e

Com três mandatos e meio

lavanderias para a lavagem de dinheiro. Com o desen-

presidindo o país, o partido

rolar das investigações, foi descoberto um sistema de

pôde acompanhar como o

propina em troca de facilitação de negócios e licita-

desenvolvimento tecnológico e a inclusão digital modificaram o modo de vida do brasileiro. A maneira de se comunicar e transmitir informações e conhecimentos sofreu uma transformação abrupta e foi o calcanhar de Aquiles do partido.

A operação Lava Jato é a maior investigação de

periferias urbanas, visando

ções com a principal estatal nacional, a Petrobrás. >>


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ENTENDA O ESQUEMA:

DIRETORES E FUNCIONÁRIOS DA PETROBRÁS

cobravam propina de empreiteiras em troca de facilitação em negociações

CONTRATOS ERAM SUPERFATURADOS PARA PERMITIR O DESVIO DE DINHEIRO

para doleiros e operadores que faziam o repasse à palamentares e funcionários públicos

A PROPINA ERA DESVIADA

repete tudo de novo

Os partidos beneficiados eram os responsáveis por indicar os diretores da Petrobrás que

colaboravam com a manutenção do esquema.


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>>

Atualmente, a operação que é liderada, em primeira

toda reprodução midiática, a edição do áudio foi feita

instância, pelo juiz Sérgio Moro, está em sua 40ª fase

de maneira conveniente aos interesses do veículo. A

com mais de 140 pedidos de prisão preventiva ou

divulgação do áudio chegou a ser contestada por se

temporária e mais de 70 réus condenados na Justiça

tratar de quebra de sigilo da presidente em exercício,

Federal do Paraná. A Lava Jato muito se assemelha

mas não teve força política para ter qualquer eficácia.

a operação italiana Mani pulite, ou Mãos Limpas, em

Os recorrentes vazamentos de Moro pareciam ser

português. Isto porque, assim como na Mãos Limpas,

seletivos por ter como foco a ex presidente e seus

a operação Lava Jato envolve uma quantidade exorbi-

correligionários.

tante de parlamentares e os principais partidos do país em esquemas de corrupção.

Veículos tradicionalmente contrários ao PT, como a revista Veja, fizeram de Moro um herói nacional e

Assim como na Lava Jato, a operação italiana teve

garantiram a reprodutibilidade de tudo que advinha de

início com investigações de licitações irregulares que

suas investigações, assumindo, junto à outros veícu-

beneficiavam partidos políticos. Com apoio e pressão

los como o Jornal Nacional e a Folha de São Paulo, o

pública a Mãos Limpas resultou no fim de um gover-

papel de porta-voz do juiz.

no de um partido de quase 40 anos (1948-1994) e a extinção de muitos partidos políticos. A publicização de toda a operação trouxe à luz a trama de corrupção na qual a Itália estava imersa. Inspirado nos moldes da Mãos Limpas, a estratégia de Moro na condução da Lava Jato fundamenta-se em três pontos: as delações premiadas, valer-se da cooperação internacional e a divulgação de informações, provas circunstanciais e resultados de oitivas, para que a operação assuma protagonismo na mídia nacional. O Juiz curitibano foi exitoso, principalmente no que se refere à ampla divulgação midiática. Os resultados e apurações das investigações estampavam as capas das principais revistas, eram manchetes de todos os jornais e trending topics nas redes sociais. Ainda assim, a postura de Moro conquistou a admiração popular e da imprensa por contestar o poder e a idoneidade até da presidente da república. O que legitimou todas as suas ações, dificultando qualquer contestação. O uso irresponsável desse poder atribuído à Moro foi ilustrado na divulgação, quase que imediata, do áudio de uma conversa entre o ex-presidente Lula e a presidente deposta Dilma Rousseff. A gravação foi exibida em rede nacional de televisão poucas horas depois do momento em que o telefonema foi feito. Como

Com o amparo de Moro, a imprensa se mostrou um ator central na operação e um importante capital político para o impedimento da presidente. A atuação da mídia como agente de pressão contra Dilma se mostrou principalmente ao longo de 2014 e se consolidou após sua reeleição. A relação que ora parecia unilateral, na verdade era simbiótica, Moro alimenta a mídia que alimenta a população que alimenta Moro. Assim, o clamor social que Moro esperava foi refletido nas manifestações que inundaram as ruas. A divulgação sistemática e estandardizada da mídia, reforçada pelo poder simbólico atribuído à Moro e suas decisões, resultaram no fortalecimento de grandes manifestações contra o PT e o governo Dilma, atribuindo a eles a responsabilidade pela corrupção no

.

país e apresentando como solução o impeachment da presidente Dilma Rousseff


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>

O fenômeno da globalização causou uma reviravolta

noticiado de formas distintas nas mídias, Frank Un-

no modo de vida mundial. Modificou-se a economia,

derwoood, personagem fictício interpretado pelo ator

as relações sociais e, consequentemente, o comporta-

Kevin Spacey, fez uma carta ao povo brasileiro falando

mento das crianças e jovens. Eles são bombardeados

sobre a atuação da imprensa no país.

de informações, de todos os tipos, cada vez mais cedo. Um dos fatores estimuladores nesse cenário é

No texto, uma ação de marketing para a nova tempo-

a influência da mídia, digital e televisiva. O surgimento

rada, Underwood escreve que

de inúmeros aplicativos e o acesso quase que irrestrito à informação e as mídias mais intuitivas tem forçado

por séries.

“continua nos surpreendendo bastante o fato de a imprensa brasileira – assim como a americana – ter o poder de dizer coisas tão extremamente opostas sobre o mesmo assunto”.

Um seriado “original Netflix” que ganhou o coração

A ação virou piada nacional e o impeachment, a

dos brasileiros foi House of Cards. Seu enredo conta a

operação Lava Jato e tudo o que se relacionava com

história de um político americano ambicioso e corrupto

política transformou-se em uma grande temporada do

e mostra os bastidores da política. Embasbacados

“House of Cards Brasileiro”. O grande plot twist dessa

com os escândalos de corrupção denunciados no

história foi que Sérgio Machado, um dos colaborado-

Brasil e a maneira como o mesmo acontecimento era

res do lamentável “seriado brasileiro” deixou vazar o

os pais se perguntarem constantemente “como vou explicar isso para o meu filho?”. A Netflix é um grande exemplo. Provedor global de filmes e seriados por streaming, sua segmentação por faixa etária e estilo conquistou o coração de 90 milhões de assinantes no mundo e tem ganhado adeptos de todas as idades. É possível perceber que mesmo crianças muito pequenas já são aficionadas pelo serviço e fazem parte da geração de apaixonados


maior spoiler do que seria a próxima temporada. Em maio de 2016, o Senado Federal acatou a abertura do processo de impeachment da Dilma, por isso, a então presidente foi afastada de suas funções até a resolução do processo. Enquanto isso, Michel Temer, seu vice, assumiu o mandato como presidente interino e nomeou Romero Jucá, então líder de governo, para ser Ministro do Planejamento. Além de macaco velho da política do país, Romero é economista, filiado ao PMDB e ocupa o cargo de senador pelo estado de Roraima há 22 anos. Jucá iniciou sua vida política em 1979 no partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB), mas consolidou sua trajetória dentro do PMDB e PSDB, partidos em que atuou por mais tempo. O senador viveu às sombras do Planalto por anos mas atraiu os holofotes enquanto Ministro pelo governo

Sérgio Machado: Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.

Romero Jucá: Eu ontem fui muito claro. [...] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais crédito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?

S.M.: Agora, ele acordou a militância do PT.

Temer.

R.J.: Sim.

O processo de impedimento, que mais parecia um seriado concorrente de House of Cards, roubou toda a atenção da mídia, que era dividida apenas com os desfechos da operação Lava Jato, que corria paralelamente.

S.M.: Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda. R.J.: Eu acho que... S.M.: Tem que ter um impeachment. R.J.: Tem que ter impeachment. Não tem saída. S.M.: E quem segurar, segura.

Muitos áudios, vídeos e resultados de delações

R.J.: Foi boa a conversa mas vamos ter outras

premiadas eram divulgados deliberadamente, ora

pela frente.

pelo corpo de juristas, ora pelo próprio acusado. Em um dos inúmeros áudios gravados de forma oculta, divulgado pela Folha de São Paulo, Jucá aparece conversando com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Machado procurou o PMDBista por temer que seu processo, que tramitava em Brasília, fosse enviado à Curitiba e caísse nas mãos do Juiz Sérgio

S.M.: Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.

Moro, responsável pela operação Lava Jato. O curioso

R.J.: Exatamente, e vai sobrar muito. O Marce-

é que a conversa, que soma aproximadamente 1h15,

lo e a Odebrecht vão fazer.

foi gravada semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o impeachment. Esse diálogo é, quem sabe, o spoiler que será mais difícil de explicar aos filhos.

S.M.: Odebrecht vai fazer. R.J.: Seletiva, mas vai fazer. S.M.: Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O >>

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>>

Janot [procurador-geral da República] está afim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. [...]

R.J.: Você tem que ver com seu advogado

S.M.: É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

R.J.: Com o Supremo, com tudo.

como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria. [...]

S.M.: Com tudo, aí parava tudo.

S.M.: Rapaz, a solução mais fácil era botar o

dor’. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.

Michel [Temer].

R.J.: Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.

R.J.: É. Delimitava onde está, pronto. [...]

S.M.: O Renan [Calheiros] é totalmente ‘voa-

R.J.: Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.

S.M.: A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado...

R.J.: Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...

S.M.: Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.

R.J.: Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].

S.M.: Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?

R.J.: Também. Todo mundo na bandeja para ser comido. [...]

S.M.: O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.


R.J.: Todos, porra. E vão pegando e vão...

S.M.: O Aécio, rapaz... O Aécio não tem con-

S.M.: [Sussurrando] O que que a gente fez

dição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...

junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.

R.J.: Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.

S.M.: Porque se a gente não tiver saída... Porque não tem muito tempo.

R.J.:

NÃO, O TEMPO É EMERGENCIAL. S.M.: É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.

R.J.: Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? [...] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.

S.M.: Acha que não pode ter reunião a três? R.J.: Não pode. Isso de ficar juntando para

R.J.: É, a gente viveu tudo. R.J.: [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.

S.M.: Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva dele para depor no caso da Lava jato]

R.J.: Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento...

S.M.: ...E burro [...] Tem que ter uma paz, um...

combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é... Depois a gente conversa os três sem você.

R.J.: Eu acho que tem que ter um pacto.

S.M.: Eu acho o seguinte: se não houver uma

S.M.: Um caminho é buscar alguém que tem

solução a curto prazo, o nosso risco é grande.

S.M.: É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...

R.J.: Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.

[...]

ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.

R.J.: Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dil-

.

ma] que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça]

21


22


23


24

>

A primeira cidade planejada do país respirou política

O lobista, no imaginário popular, é o homem que anda

desde sua construção. A decisão de interiorizar a ca-

com uma mala de dinheiro para pagar parlamentares

pital, que era discutida desde meados do século XVIII,

em troca de favores. A palavra lobby está cercada de

ganhou força a partir de uma propaganda política nas

preconceitos e ideias errôneas. Nos Estados Unidos, a

eleições presidenciais de 1955. A campanha eleitoral

prática do Lobby é regulamentada, no Brasil, o Lobby

de Juscelino Kubischek, o JK, foi baseada na pro-

ainda não é reconhecido legalmente como profissão,

messa da construção da capital em tempo recorde. O

mas isso não impede a atuação dos lobistas, de ma-

slogan “50 anos em 5” garantiu sua vitória com uma di-

neira quase irrestrita, pelos corredores do Congresso e

ferença apertada de apenas 5% contra Juarez Távora,

restaurantes tupiniquins.

candidato pela UDN. A oposição de pronto contestou o resultado, mas uma intervenção militar garantiu sua

Há duas vertentes explicam o nome Lobby, a primeira

permanência no cargo.

diz que a atividade surgiu no século XIX, nos Estados Unidos. Na semana que antecedia as eleições, os pre-

Cumprindo a promessa, JK inaugurou Brasília em 20

sidenciáveis tinham o hábito de hospedar-se em hotéis

de abril de 1960, ainda inacabada. Seu plano arquite-

de luxo, que tinham saguões que serviam de ambiente

tônico modernista, repleto de concreto e monumentos

de debate para assuntos de diversos interesses, entre

geométricos, já delineava a nova cidade do poder. JK

os presidenciáveis e representantes de empresas. A

mal deixou o concreto secar e convocou a primeira

segunda versão aponta o surgimento da prática na

sessão solene no Congresso Nacional para o mesmo

Inglaterra, a qual criou, a então denominada, Câmara

dia, às 11h30. A cidade que não deveria passar de um

dos Comuns, local onde os parlamentares eram abor-

dormitório, mas, com o passar do tempo, foi ganhando

dados antes das suas reuniões por representantes de

vida e atualmente é a terceira maior capital do país.

empresas e cidadãos que reclamavam seus interesses.

Brasília não vive em função da política, como idealizado por JK, mas país a fora, ela é principal responsável

A prática do Lobby é comumente confundida pelos

por grande parte das manchetes sobre a cidade.

brasileiros com o tráfico de interesses e corrupção.

Isto porque, as principais decisões do país ainda são

A carga pejorativa que esse entendimento trouxe ao

tomadas no mesmo lugar em que ocorreu a primeira

termo fez com que os atuantes da área prefiram ser

sessão solene, no Congresso Nacional. Seus corredo-

chamados de profissionais de Relações Governamen-

res e passagens subterrâneas, projetados por Oscar

tais, pelo entendimento de que sua função restringe-se

Niemeyer, são palco de um dos maiores folclores da

apenas à formar grupos de pressão para a defesa de

capital: o lobista.

interesses, individual, de entidades públicas, empresa ou mesmo do terceiro setor, tal como faz a mídia.

O lobista, no imaginário popular, é o homem que anda com uma mala de dinheiro para pagar parlamentares em troca de favores.


25

Então o que é Lobby? A defesa de interesses junto ao parlamento para auxiliar na tomada de decisão. Isso pode ser feito: »» O monitoramento das proposições que tramitam nas Casas Legislativas e Congresso Nacional; »» A comunicação com os agentes públicos a fim de instruí-lo tecnicamente com os impactos da legislação ou temática que está sendo discutida »» Sua legalidade é baseada no direito constitucional da sociedade civil de dialogar com o governo Parte da péssima reputação do lobista se dá por como ele é retratado pela mídia. Entretanto, o newsmaking é a prática que mais se aproxima do Lobby. Assim como na produção jornalística, em especial no jornalismo político, as Relações Governamentais, ou Lobby, funcionam com etapas, como engrenagens que dependem uma das outras para o resultado final positivo. >>


<RELAÇÕES GOVERNAMENTAIS>

1. Definição dos temas de interesse; »» Quem será atendido? Porque esse assunto é interessante? Qual o impacto para o interessado?

2. Monitoramento de proposições e discussões sobre o assunto; »» Identificar os projetos que podem impactar o setor.

3. Mapeamento de atores e agendas »» Mapear quem são os políticos mais familiarizado com a temática e quem é o parlamentar negativo que poderá ir contra as exposições setoriais; »» Esse mapeamento dará maior previsibilidade da ação dos parlamentares no processo

4. Execução »» Após as agendas é possível fazer o trabalho de convencimento do parlamentar sobre o posicionamento do setor »» Ser um agente de pressão para garantir regulamentações favoráveis e reverter decisões contrárias aos interesses defendidos.

<newsmaking>

1. Definição dos temas de interesse »» Quem é seu público-alvo? Quais são seus interesses? O editorial do seu veículo está alinhado ao governo ou à oposição? Porque e como esse assunto é interessante?

2. Monitoramento de pautas e discussões sobre o assunto; »» Identificar os acontecimentos políticos que podem ser interessantes ao público.

3. Mapeamento de atores e agendas »» Mapear quem são os personagens relevantes afins com os assuntos a serem abordados. Identificar quem corrobora de maneira positiva para a manutenção da ideia transmitida e quem são os influenciadores e veículos contrários; »» Esse mapeamento favorecerá a ideia pré estabelecida no público alvo

4. Execução »» Sistematizar a informação de modo que convença e/ou perpetue suas ideias no público. »» Após as definições, é natural que sejam formados grupos de pressão que poderão interferir junto ao governo para garantir regulamentações favoráveis e reverter decisões contrárias. A diferença entre as atuações é que o lobista age diretamente no parlamentar enquanto que a mídia usa seu público como intermediário do governo. A sistematização das informações e os critérios

critérios de noticiabilidade de Wolf »» Grau e nível hierárquivo dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável; »» Impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional; »» Quantidade de pessoas que o acontecimento (de fato ou potencialmente) envolve; »» Relevância e significatividade do acontecimento quanto à evolução futura de uma determinada situação.


27

>>

de noticiabilidade são escolhidos minuciosamente para garantir a efetividade da transmissão da ideia. Isso no jornalismo político pode ser uma arma contra os governos. Isto pode ser observado durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Se for levado em consideração os critérios de noticiabilidade de Wolf (1985), o impedimento é um fato altamente explorável midiaticamente. Dilma enfrentou um monstro que ela e seu partido alimentaram durante toda a gestão do PT, os conglomerados midiáticos. A mídia brasileira, em geral, é composta por poucos grandes grupos que definem o processo informativo popular. O projeto “Donos da Mídia”, elaborado pelo jornalista Daniel Herz, publicado pelo Instituto de Pesquisa e Estudos em Comunicação (Epcom), demonstra como tais veículos se organizam e torna claro o papel estruturador das redes nacionais de tv, radio e veículos impressos, para as quais destacaremos o grupo Abril e os maiores canais de televisão de rede aberta: Globo, Band, Record e SBT, lideradas pelas cinco famílias mais influentes da comunicação nacional, nos quais outros 1.415 veículos estão vinculados por meio de grupos afiliados. De acordo pesquisa de midia Brasileira de 2015, 79% das pessoas ainda assistem à televisão para se informar, contudo, as informações transmitidas por periódicos como as revistas, ainda são considerados formadores de opinião e causam o efeito conhecido como agendamento recíproco, por fortalecer a mensagem transmitida por veículos que compartilham do mesmo espectro ideológico. Esse reforço se dá porque

as revistas tendem a adotar um caráter mais opinativo e acabam por orientar a percepção do leitor. Segundo a pesquisa do projeto “Donos da Mídia”, dos 40 parlamentares que são sócios-proprietários de meios de comunicação, 30 votaram favoráveis ao impedimento da presidente. Isto foi caracterizado pela Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (ENECOS) como coronelismo midiático. Este conceito assemelha-se ao voto de cabresto em que os votos eram comprados em troca de favores. Nesse caso, sendo parlamentares sócios de veículos de informação, estes têm o poder de atender aos interesses dos veículos, garantir financiamentos públicos e privados. Os veículos, por sua vez, passam a registrar as informações sob perspectivas que favorecem a perpetuação de seus benefícios e, por conseguinte, a boa imagem do parlamentar, seja omitindo e diminuindo informações ou focando em outro acontecimento. >>


28

>>

Considerando a hipótese do agendamento recíproco

Quando todos os principais veículos de informação

pelos veículos, em que o Jornal Nacional, transmitido

apresentaram-se contra a presidente, retrataram o

pela Rede Globo de televisão e a Revista Veja, da

impeachment como algo irreversível, convidando o

editora abril, dois grandes meios de comunicação, que

povo a ir às ruas protestar, fazendo grandes man-

tem ampla aceitação pelo público, apontam o mesmo

chetes sobre protestos sempre de modo grandioso e

fato, sob a mesma perspectiva, é difícil que o consumi-

louvável, seria irresponsável não classificá-los como

dor mediano e/ou o cidadão pouco politizado contes-

grandes lobistas midiáticos. Que ao mesmo passo

tem as informações prestadas e reforçadas.

que denigrem a prática do lobby, apresentando como sinônimo de corrupção e de tráfico de influência, o

No que se refere ao impacto no parlamentar, em um

praticam manipulando informações e sendo desleais

processo decisório de tanta repercussão como esse,

intelectualmente para agendar a sociedade e interferir

quando diversos veículos reportam um determinado

em decisões políticas.

posicionamento como certo, dois fatores devem ser observados: primeiro, o veículo passa a ser um agente

Mesmo antes do processo de impedimento, o traba-

de pressão, logo, faz lobby; segundo, o meio tem a

lho midiático para a desconstrução da credibilidade

atenção do público e seu agendamento pode colocar

do governo foi claro. Conforme dados apresentados

a prova a credibilidade dos políticos que vão contra

pelo machetômetro, cada reportagem televisionada

suas ideologias perante seu público alvo, com cha-

era complementada por capas e grandes matérias de

cotas, acusações e matérias com a finalidade de de-

revistas consagradas. O Lobby midiático foi crucial

negrir a imagem de determinada personalidade, bem

para cada uma das manifestações contra corrupção

como, de fazer o oposto, sendo assim, capital político.

orquestrada pelo movimento Vem pra Rua e pelo MBL, que, no fim, mostraram-se apenas contra o Partido

No impeachment, essas duas características, advindas

dos Trabalhadores. Logo após sua saída calaram-se

de um agendamento bem orientado e constantemente

as ruas, ensurdeceram-se as panelas, esvaíram-se

reforçado, provocaram um efeito manada na popula-

as camisas verde e amarela e o gigante adormeceu.

ção e nos parlamentares. Os termos de acusação à

A aparente politização que se formava, ainda que de

Dilma, as falhas de seu governo, partido e a obstrução

forma dicotômica, como resultado também da ativi-

de informações importantes, que fariam o consumidor

dade midiática no período, se foi tão logo a faixa foi

colocar a prova o argumento acusativo receberam

passada

menor destaque.

.

quando diversos veículos reportam um determinado posicionamento como certo, [...] o veículo passa a ser um agente de pressão, logo, faz lobby


29


ENTREVISTA COM PEDRO MASSON

30

UM PONTO DE VISTA CIENTÍFICO

>

Após debates acalourados e massivas manifestações, contra e pró impeachment, o caso ainda recente já serve como objeto de estudo para muitos pesquisadores que fazem análise de mídia e opinião pública. Pedro Masson é cientista político, graduado pela Universidade de Brasília (UNB) e atualmente é mestrando acadêmico do Instituto de Ciência Política (IPOL), pela mesma universidade. Sua área de pesquisa é Comportamento Político e Opinião Pública. Também é servidor público na carreira de Analista de Políticas Públicas Sociais, estando lotado na Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário. FIXA. O IMPEACHMENT REPRESENTOU UMA RUPTURA DE UM MODELO DEMOCRÁTICO REPRESENTATIVO?

PEDRO. A questão da ruptura do modelo democrático é uma questão de perspectiva. Se analisarmos do ponto de vista estritamente legal, todos os ritos para que fosse alcançado um impeachment da Presidenta (sic) foram cumpridos. Ou seja, foram instaladas comissões de impeachment em ambas as casas (primeiro Câmara e depois Senado), depois houve votação em plenário e o quórum de 2/3 dos parlamentares foi atingido (lembrando que no Senado há primeiro o afastamento da Presidenta por 180 dias e depois o julgamento do impeachment em si). Todos os ritos foram chancelados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Porém, mesmo do ponto de vista legal, um dos motivos do impeachment, as “pedaladas fiscais”, segundo perícia de servidores do próprio Senado Federal, não foram cometidas pela Presidenta (sic). Ainda de acordo com o ponto de vista legal, a defesa de Dilma Rousseff alegou que o processo de impeachment teria um vício de origem, pois o presidente da Câmara dos Deputados à época, o Sr. Eduardo Cunha, só teria aceitado o pedido de impeachment da Presidenta (sic), pois o Partido dos Trabalhadores (PT) não quis votar a favor de Eduardo Cunha na comissão de ética da casa que o processava. Essa tese foi confirmada no dia 15/04 pelo Presidente Michel Temer em entrevista a TV Bandeirantes.

Do ponto de vista político é onde o impeachment se caracteriza mais fortemente como golpe, ou ruptura do modelo democrático representativo. A Presidenta Dilma Rousseff foi retirada do poder pela sua própria base de governo somado aos perdedores da eleição de 2014 (PSDB, DEM, PSB, etc...). Além de destituir a Presidenta, o novo governo encabeçado pelo Sr. Michel Temer fez uma guinada radical do plano de governo à direita, adotando a agenda derrotada nas eleições como plano de governo e colocando o país, mais uma vez sob a batuta do projeto neoliberal que foi derrotado por quatro vezes seguidas nas eleições para presidente. É nesse aspecto que a ruptura democrática aparece mais fortemente. O impeachment, a partir dessa perspectiva, foi levado a cabo para que houvesse uma mudança de plano de governo que não foi aprovado pela população. Evidências de que esse plano não seria aprovado é a alta taxa de reprovação dos cidadãos brasileiros às reformas propostas pelo governo Temer que visam “flexibilizar” a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e também a Previdência Social. Além disso, cabe ressaltar, que o atual governo bateu o recorde histórico de reprovação, onde apenas 4% da população o apoia. Assim, tanto da perspectiva jurídico-legal, quanto da perspectiva política, há motivos para se considerar o impeachment uma ruptura do modelo democrático representativo. F. A MÍDIA TEVE ALGUMA PARTICIPAÇÃO NA CONSOLIDAÇÃO DOS POLOS ANTI E PRÓ-IMPEACHMENT? P. O papel da mídia foi crucial para a divisão entre anti e pró-impeachment, ou mais popularmente conhecido, entre “coxinhas” e “petralhas”. Essa divisão remete às jornadas de 2013, onde a população como um todo, sem divisões políticas claras, saíram às ruas autonomamente em resposta a truculência policial nos protestos puxados pelo Movimento Passe Livre de São Paulo (MPL-SP) que reclamava do aumento das passagens de ônibus no município. Nesse período, a aprovação da presidente Dilma Rousseff tinha batido recordes históricos, sendo maior do que a do presidente Lula (o recordista anterior).


31

Acontece que os movimentos de Junho de 2013 não

F. COM A APROVAÇÃO DO IMPEACHMENT E A

tinham pautas claras sobre o que queriam. Parecia uma

CONTINUIDADE DO AGENDAMENTO RECÍPROCO

indignação geral da população contra a corrupção, uma

DE PAUTAS NEGATIVAS AO PT, COMO VOCÊ ACHA

chaga da política brasileira que vem desde o período

QUE A ESQUERDA E O PRÓPRIO PARTIDO DEVEM

Colonial. Foi aí que a mídia (tanto a tradicional, televi-

SE COMPORTAR PARA GANHAR ESPAÇO NAS

siva) quanto nas redes sociais, conseguiram capturar

ELEIÇÕES DE 2018?

parte dos “revoltados” de 2013 fazendo uma conexão

P. A esquerda e o próprio PT devem voltar às bases,

exclusiva entre a corrupção e o PT. Foi nesse ponto de

coisa que abandonaram desde 2003, quando o presi-

inflexão que houve tanto uma queda brusca de aprova-

dente Lula chegou ao Planalto do Palácio. A esquerda

ção da Presidenta (como mostra a figura abaixo) quanto

que antigamente fazia suas pautas na rua, com movi-

uma divisão entre quem via a corrupção como um

mentos populares, ficou restrita a gabinetes de depu-

problema sistêmico e os que viam como um problema

tados e senadores e às centrais sindicais. As periferias

exclusivamente ligado ao PT. Mais tarde esses grupos

onde antigamente o PT tinha maioria esmagadora, atu-

se identificaram como pró ou contra o impeachment da

almente são comandadas por Pastores neopentecostais

Presidenta.

que são aliados aos partidos de direita. Faltou diálogo da esquerda com essas camadas da população, faltou

F. A COBERTURA MIDIÁTICA DAS OITIVAS DE

presença, e só a atuação junto às bases pode trazer

ACUSAÇÃO E DEFESA FOI EQUILIBRADA?

um novo apoio popular aos pensamentos progressistas.

P. A cobertura midiática das oitivas de acusação e de-

Não atoa, o congresso eleito em outubro de 2014 foi o mais conservador da história do país, com destaque para a bancada BBB (Bala, Bíblia e Boi).

avaliação do governo dilma

protestos junho/2013

fonte: Datafolha

ruim 62%

47%

Uma forma que o PT deve se comportar para as eleições de 2018 pode ser aliar sua imagem como a do partido contra as reformas impopulares tocadas pelo Presidente Michel

34%

regular 24% bom 13%

7%

Temer. Como as reformas estão com baixíssima aprovação, o partido deveria se colocar como o grande combatente dentro do legislativo, e nas ruas junto às centrais sindicais, desses

15-16 mar/11

20-21 mar

27-28 28-29 nov jun/2013

3-5 16-17 fev/2015 março/15

projetos impopulares. F. COMO VOCÊ AVALIA O COMPORTA-

fesa foi extremamente desequilibrada no sentido de pre-

MENTO DA GRANDE MÍDIA NA COBERTURA DE

judicar e ligar a imagem do PT à corrupção. Os vaza-

ACUSAÇÕES A OUTROS PARTIDOS E AO GOVER-

mentos seletivos que visavam apenas o governo Dilma

NO TEMER?

e o ex-presidente Lula foram cruciais para sedimentar a

P. A grande mídia faz apenas uma cobertura protocolar

divisão da população entre pró e contra o impeachment.

de acusações contra os partidos aliados ao governo

A essa altura, a mídia já tinha conhecimento de que a

Temer. Eles não ignoram, pois hoje em dia com as

Operação Lava-Jato iria, de fato, atingir praticamen-

redes sociais isso é algo cada vez mais difícil de não

te todos os partidos políticos tradicionais brasileiros.

ser pautado, mas também não criam aquele clima de

Contudo, os vazamentos de oitivas e delações foram

indignação popular que criaram no impeachment de Dil-

altamente seletivos, visando prejudicar a imagem do

ma Rousseff. Alguns dados do manchetômetro podem

PT, até então o partido que continha maior identificação

confirmar essas desigualdades de cobertura

partidária entre os eleitores brasileiros.

.


32 CRÔNICA

UM CARTAZ À MÃO DO GIGANTE E A MORTE DA DEMOCRACIA >

Um tiro, uma bomba e o olhar da menina fitando o horizonte é interrompido pelo telefone que toca. Era sua mãe na linha “saia dai minha filha. Você vai morrer”. No rádio e na televisão o cenário era de guerra. Fogo, tumulto, cartazes, gritos de ordem, cassetetes, sprays de pimenta e um sonho realizado: ver Brasília de cima, do alto do congresso. Tocar nas cúpulas intocáveis e sentir que aquilo é a casa do povo, ao menos uma vez. Não importava-me a motivação, é um direito, “o gigante acordou”. Fui em uma, e outra e mais outra manifestação, exercendo meu direito junto aos meus pares. SER político. Fui, fomos, ganhamos adeptos e logo um inimigo que sabia que queria: “Pelo fim da corrupção”, “Fora PT”. Espera, nao! Não foi por isso que lutei. Não pedi um impeachment. Tarde demais. O gigante acordou, mas acordou os patos que derrubaram um presidente. Um tiro, uma bomba e o olhar da menina fitando o horizonte é interrompido pelo telefone que toca. Era sua mãe na linha “saia dai minha filha. Vc vai morrer”. - Não se preocupe mãe, eu não morri, mas fui responsável pela morte de alguém. Eu ajudei a matar

.

a democracia, como se por haver luta ainda houvesse razão


33 ARTIGO

TODO PODER EMANA DO POVO >

Há quase três décadas essa frase figura na constitui-

valor, editorial opinioso, como este, as capas male-

ção em seu artigo primeiro “Todo o poder emana do

dicentes, a forma de reportar as manifestações de

povo, que o exerce por meio de representantes eleitos

modo tão distinto e edições sequenciais direcionadas

ou diretamente, nos termos desta Constituição”, isto

a pautas, quase que exclusivamente, para denegrir a

quer dizer que, como o Brasil é um Estado demo-

imagem do governo?

crático, o povo dá poder para que representantes governem. O poder que a democracia dá ao povo foi

A deslealdade intelectual da mídia em estimular no

visto com as manifestações que lotaram as ruas das

imaginário coletivo que a corrupção está mais relacio-

capitais, resultando no segundo impeachment em

nada ao partido A que ao B enfraquecerá a demo-

menos de 25 anos.

cracia quando a trama de corrupção que envolve diversas outras legendas vir à tona. Por hora, a mídia

Nos dois impeachments a mídia desempenhou um

mostra seu poder em movimentar multidões, levando-

importante papel no processo de compreensão

-as às sacadas em panelaços e às ruas em protestos

política da sociedade. Ainda que opinar também seja

coreografados.

função da mídia, o viés escondido por trás da máscara imparcial de cada um dos grandes conglomerados

De onde emana o poder então? Ora, se o poder ema-

midiáticos conduziu o entendimento de muitos como

na do povo, que é capaz de influenciar no governo,

um pastor orienta seu rebanho.

mas esse mesmo povo é conduzido pela mídia, que por vezes é orientada pelos partidos e parlamentares

Não cabe aqui julgar a admissibilidade e/ou legitimidade do impedimento da ex-presidente Dilma, esta é exatamente a crítica. Quanto implicou no processo decisório individual e das massas cada julgamento de

que as financiam, nas mãos de quem está o poder?





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