Laços

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O menino foi criado por todos e, ao mesmo tempo, por ninguém. Tudo o que aprendeu foi com a vida. Comeu o pão que o diabo amassou, mas também aprendeu a devolver na mesma moeda. Tornou-se um intriguista de marca maior. Assuntava de tudo e sabia contar “causo” de todos os viventes da cidade; aparecia em todos os lugares, mesmo sem convite, e dava opinião sem cerimônia. Quando lhe davam trela, ele permanecia no lugar e, dependendo da hora, fazia parte das atividades das casas e das famílias sem nenhum constrangimento. Costumava comer em vários lugares, não tinha cerimônia em chegar aos lugares e “prosear” até que fossem forçados a lhe oferecer um prato de comida. Zé morava em um cafofo, nos fundos da casa da propriedade rural daqueles que o encontraram, e a quem ele muito estimava. Mas só para dormir, pois, durante o dia, perambulava fazendo intrigas para ter uma “carta na manga”, pelo menos sobre os mais influentes da cidade, como foi o caso do delegado Salgado; da professora aposentada Dona Belinha, atual chefe de gabinete do prefeito Deodoro e de Fred, filho varão da família mais rica das redondezas; rapaz de fino trato e herdeiro da fortuna dos Cardoso. O delegado Salgado tinha Zé atravessado na goela, e Zé tinha o delegado em suas mãos. Por anos, fora protegido de Salgado, que devia uma vela a cada santo e somente Zé era conhecedor. O intriguista, certa noite, viu o delegado de lerolero com dois homens muito suspeitos na zona das mulheres de “vida fácil”. Como quem não queria nada, foi logo assuntando para o delegado que sabia de sua relação com os malandros. Bastou atirar o verde para que o todo poderoso caísse na rede

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