Laços

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Silvia Buss

Sorriso maroto

A loja de armarinho da Dona Itália era bem sortida. Tudo o que se buscava, lá era encontrado. A loja fora herdada da mãe, uma senhora alegre e falante que mantinha carregado sotaque italiano. A finada dona da loja, mãe de Dona Itália, desenvolvia uma boa conversa com os clientes, gostava de contar como ela e o marido chegaram ao Brasil e como se instalaram a beira do rio. O lugarejo, emancipado há poucos anos, rodeado por verdejantes planícies, ficava perto de uma cidade de porte médio. A loja de armarinho mantinha-se igualzinha desde a inauguração. A estrutura da casa de estilo italiano, bem construída, recentemente havia sido pintada de azul com detalhes brancos. A porta central era grande, de vidro e protegida por grades de ferro, a qual dava entrada para a loja. Bem ao lado, uma pequena porta de madeira, com duas folhas, dava acesso para a moradia. As duas casas ficavam grudadinhas, sem comunicação interna. A falecida mãe de Dona Itália gostava de manter todos os produtos ajeitados em estreitas e profundas gavetas do balcão que separava a freguesia do vendedor. Os elásticos, as fitas, os colchetes, joaninhas, linhas e agulhas eram separados por cores e tamanhos, tudo na mais perfeita ordem. As lantejoulas e canutilhos ficavam guardados em pequenos saquinhos de plásticos e eram vendidos por dedais. Cada saquinho continha exatos cinco dedais - muito procurados em época de carnaval.

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