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Terça-feira 5 de agosto de 2014

Jornal do Comércio - Porto Alegre

Esportes

esportes@jornaldocomercio.com.br

FUTEBOL BRASILEIRO

Avanços passam por planejamento e gestão

Foco em estádios cheios

A Copa do Mundo no Brasil, entre outros resultados positivos, fez com que o País se modernizasse em relação aos seus estádios. Mesmo que, atualmente, o parque de arenas brasileiras seja um dos melhores do mundo, isso não é condição determinante para que os torcedores voltem a frequentar os jogos de suas equipes. Enquanto, por exemplo, o Borussia Dortmund leva uma média de 80.297 torcedores por partida, em uma ocupação de 100% do seu estádio, o Signal Iduna Park, sendo o time com a maior presença de público no mundo, o Brasil apareceu, no último ano, apenas na 70ª posição, com o Cruzeiro, que ocupa 50% do seu estádio em média por partida. Para o engenheiro e ex-presidente da Grêmio Empreendimentos – que encabeçou a construção da Arena do Grêmio –, Eduardo Antonini, preço dos ingressos, falta de segurança e baixa qualidade do espetáculo são as grandes causas da pouca ocupação dos estádios brasileiros. Para ele, “melhorar o calendário, a qualidade dos jogos e manter os melhores jogadores” seriam a chave para atrair um público cada vez maior.

André Pasquali e João Carlos Dienstmann esporte@jornaldocomercio.com.br

D

epois do fracasso da seleção brasileira na Copa do Mundo, um consenso surgiu nos meios esportivos: mudanças urgentes são necessárias. Mais profissionalismo, aposta no planejamento a longo prazo e investimento forte e responsável nas categorias de base são algumas das propostas apontadas por especialistas em gestão esportiva. O Jornal do Comércio apresentou na edição de ontem seis dos 12 pontos indicados em um estudo da Pluri Consultoria, especializada em esportes, como fundamentais para uma guinada no futebol tupiniquim. Hoje, os seis restantes abordam questões como calendário enxuto, planos de sócios, planejamento estratégico, entre outros.

Incentivo aos programas de sócio-torcedor Oefeitoécíclico.Bonsinvestimentosfeitospelosclubesgeramreceita.Comodinheiro,épossívelmontar times competitivos e, com isso, ganhar títulos. As conquistas, naturalmente, incentivam que o torcedor compre produtos do clube e se torne sócio, aumentando o poder de investimento. A criação dos programas de sócio-torcedor, com vantagens àqueles que se tornam parceiros do clube de coração, geram uma fidelização. O Inter é o clube com maior número de sócios na América do Sul, com 120 mil associados, e um faturamento mensal de cerca de R$ 4,5 milhões. Mesmo com apenas 50 mil lugares disponíveis no Beira-Rio, o clube apostou em ações para favorecer os sócios na hora da compra de ingressos para partidas, e incentivar até mesmo aqueles que não vão, abrindo espaço para outros torcedores. Um exemplo que tornou o Inter referência no assunto em nível mundial.

Calendário com menos partidas

JOÃO MATTOS/JC

BOM SENSO FC/DIVULGAÇÃO/JC

A proposta de modificar o calendário do futebol brasileiro é discutida há anos, mas sem êxito. O principal entrave é de que maneira os clubes de menor expressão, com calendário restrito aos primeiros meses, sobreviveriam a essa reformulação. O Bom Senso FC, movimento criado por jogadores que atuam em clubes daqui, fez um levantamento no qual aponta que 85% dos clubes do Brasil atuam por somente seis meses, enquanto as grandes equipes chegam a entrar em campo 85 vezes no ano. Retirar os principais clubes dos regionais, diminuir o número de equipes nos certames e transformar esses campeonatos em divisões nacionais foram algumas das ideias lançadas nos últimos anos, mas, por enquanto, nada saiu do papel. No Campeonato Gaúcho, o número de equipes em 2016 será reduzido para 12. Atualmente, são 16.

Diminuir a diferença na distribuição de cotas de televisão

NELSON ALMEIDA/AFP/JC

MATTHIAS SCHRADER/ASSOCIATED PRESS/AE/JC

Fomentar negócios Quando comparado às maiores ligas europeias de futebol, o Brasil se encontra muito atrasado em diversos aspectos: ocupação dos estádios, patrocínios, qualidade dos jogos, potencial dos jogadores. O desafio está em aproximar o espetáculo que é visto no Brasil aos que são realizados na Premier League e na Bundesliga, da Inglaterra e da Alemanha, respectivamente. Em comum, esses campeonatos são gerenciados pela associação dos clubes do país. Além disso, a gestão dessas ligas negocia acordos comerciais em bloco, o que gera ganhos substanciais aos clubes. No Brasil, a criação de uma entidade em paralelo à CBF ajudaria na arrecadação das equipes e, consequentemente, na qualidade do esporte.

SIGNAL IDUNA PARK/DIVULGAÇÃO/JC

Uma das principais rendas dos clubes são as cotas de televisão. Hoje, os que mais recebem são Corinthians e Flamengo, cerca de R$ 130 milhões por três anos. A diferença é de R$ 30 milhões para os clubes que estão no segundo escalão. A dupla Grenal aparece com a cota de cerca de R$ 70 milhões. E, em 2016, a diferença será ainda maior, uma vez que os contratos, que eram feitos com o Clube dos 13, passarão a ser assinados diretamente entre os clubes e as empresas que detêm o direito de transmissão. Para o presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Francisco Noveletto, o risco é que esta diferença crie uma disparidade irreversível. “Hoje, cada um negocia como quiser. Os clubes que possuem mais torcida ganham mais. Dessa forma, Corinthians e Flamengo irão se tornar os nossos Real Madrid e Barcelona”, afirmou. No Gauchão, há também a diferença considerável. O faturamento em televisão de Grêmio e de Inter corresponde a 55% da cota total de televisão, e os outros 14 clubes dividem o restante. Noveletto afirma que haverá proposta de mudança, mas só em 2016.

JARDEL DA COSTA/FUTURA PRESS/JC

Implantar planejamento estratégico para o futebol Para melhorar a gestão de qualquer empresa, é necessário implementar planejamento estratégico, com objetivos claros, ferramentas de avaliação e instituição das medidas corretivas necessárias ao longo do tempo. No futebol não é diferente. É essencial a profissionalização da gestão dos clubes. A Chapecoense, equipe da cidade de Chapecó, em Santa Catarina, é um ótimo exemplo de como isso pode melhorar o posicionamento

dentro do negócio futebol. Foi somente em 2009 que o clube chegou na segunda colocação no campeonato estadual, conquistando o direito de jogar a Série D do Campeonato Brasileiro. Seis anos depois, a Chapecoense figura entre os 20 melhores times do Brasil, disputando a primeira divisão nacional. Segundo o presidente do clube, Sandro Luiz Pallaoro, a rápida ascensão da equipe é fruto de muito trabalho e bons investimentos.

“Sempre temos a convicção de que não podemos gastar mais do que arrecadamos. Não podemos ser irresponsáveis de pensar só no agora, fazer investimentos onde não temos como e endividar a Chapecoense”, afirma. Para ele, “planejamento, comprometimento, responsabilidade e transparência” são as palavras-chaves para colocar a equipe na primeira divisão, situação que quer manter para a próxima temporada.


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