
Linx Hotel International Airport Galeão - Rio de Janeiro

Autores OSPA Arquitetura e Urbanismo
ISBN 978-85-69366-00-3


Um hotel acolhedor não pode se parecer com a casa de alguém, pois então só seria acolhedor para essa pessoa.
Neste sentido, o hotel deve ser algo impessoal e, ao mesmo tempo, ter certo caráter que o diferencie de outros. Que o torne distinto para que, quando voltemos, permita-nos reconhecer que chegamos ao lugar desejado.
O hotel contemporâneo debate-se entre a tematização evocativa ou uma abstração arquitetônica matizada por motivos figurativos.
Revista summa+ agosto/2012
O presente livro tem como premissa a apresentação do projeto Linx Hotel International Airport Galeão, no Rio de Janeiro, Brasil. A ideia deste documento parte da valorização do processo de trabalho coletivo, tanto por parte do escritório OSPA, quanto das demais empresas envolvidas. É também um objetivo a amostragem do que representa em termos de complexidade e esforço o desenvolvimento de um projeto executivo compatibilizado, em especial com o programa de um hotel de padrão internacional.
Na sociedade atual há, cada vez mais, um apreço pelo consumo veloz e superficial de informação, o que acarreta falta de aprofundamento e fruição de produções que são resultado de infindáveis horas de aprimoramento de um partido arquitetônico. A discussão sobre uma edificação não deve simplesmente se basear em uma imagem, uma vez que essa prática vai contra não só o ato de projetar, mas contra a própria arquitetura. Talvez seja uma grande pretensão, mas se procura neste livro desmistificar - principalmente para o leigo - a ideia de arquiteto-artista, este que contribui para o desconhecimento por parte da população do fato de que sua profissão não termina com a definição da estética e do volume do edifício, mas sim compreende diversas ciências, cada qual
com suas demandas, estas devendo estar em perfeita harmonia para atingir a excelência da arquitetura. Sempre houve almejo, por parte do escritório responsável, por não só gerar o produto pelo qual foi contratado, mas também ir além do que se espera de um projeto de hotel. A partir das necessidades impostas, foi objetivo da equipe a teorema de tecnologias contemporâneas, não só atendendo aos requerimentos do empreendimento, mas também contribuindo - globalmente no cenário da construção civil - com a evolução tanto de métodos construtivos, quanto de padrões presumidos.
Assim como a sociedade se encontra em desenvolvimento, cada projeto deve ter uma parcela de contribuição no aprimoramento da qualidade do serviço, visto que cada empreendimento é uma oportunidade de dar um passo à frente tanto em soluções técnicas, quanto decisões administrativas. As páginas a seguir irão demonstrar uma seleção de fatos, desenhos, diagramas e imagens que melhor apresentam esse projeto, vizinho ao Aeroporto Antônio Carlos Jobim, e espera-se que, a partir disso, o leitor fique tentado a conhecer a edificação in loco, mas principalmente sinta-se à vontade para o diálogo, este que é o grande responsável pelos avanços da sociedade.

138 apartamentos tipo, 15 apartamentos especiais, 9 apartamentos pcd
acesso coberto / porte cochère, lobby, café, restaurante, sala de reuniões / conferências, bar piscina, academia, terraço coberto e descoberto, piscina, hall social por pavimento
recepção, CPD, depósito de bagagens, administração, gerência, RH, sanitários, cozinha, almoxarifado, triagem, exaustão cozinha, carga / descarga, área de descanso funcionários, vestiários, depósito produtos químicos, governança, engenharia e manutenção, controle e revista, central de segurança, lixo, rouparia, wc serviços, hall serviços
reservatórios, bombas, guarita, entrada média tensão / chave à gás, lixo, medidor e reg. pressão, gás / hidrômetro, ETA, câmaras exaustão, mecânica, gerador, painéis elétricos, QGBT, subestação, ar exterior, sala de antenas, sala bb. incêndio, central aquecimento água, condensadores, áreas sociais
circulação horizontal, escadas, elevadores, shafts
32 vagas de estacionamento veículos passeio, uma vaga ônibus




DIAGRAMAS GENERATIVOS







01. TERRENO
O terreno apresenta como principal condicionante a altura máxima de 6 pavimentos.
02. USO MÁXIMO DO SOLO
Disposição inicial de um volume com taxa de ocupação máxima.

03. DISPOSIÇÃO PAVIMENTO TIPO
Dimensionamento do pavimento tipo com o programa de apartamentos.



05. VOLUME CORPO = 135 APARTAMENTOS
Neste formato, totaliza-se 135 apartamentos em 5 pavimentos sobre o edifício social e de serviços.
06. ACRÉSCIMO PAVIMENTO TIPO
Deslocando o edifício anexo, dispõe-se de mais um pavimento tipo, totalizando 162 apartamentos.
07. VENTILAÇÃO E ILUMINAÇÃO NATURAL
Com um recorte central no edifício anexo, os ambientes de serviço ganham iluminação e ventilação natural.
08. ZONEAMENTO PROGRAMA SOCIAL E SERVIÇOS
O uso social é posto para a frente do volume, enquanto que o de serviços e administração ficam nos fundos.
09. USO SOCIAL COBERTURA EDIFÍCIO ANEXO
O uso social é estendido para a cobertura do edifício anexo, criando um diferencial para o programa do hotel.
10. ACRÉSCIMO PAVIMENTO Áreas sociais como bar e academia são posicionadas no pavimento superior, com contato direto com o terraço.
11. ESTRUTURA PRÉ-MOLDADA DE CONCRETO
12. PAINÉIS DE VEDAÇÃO PRÉ-FABRICADOS
O revestimento das fachadas é instalado rapidamente, otimizando tempo e limpeza do canteiro de obras.

O projeto foi organizado majoritariamente em 5 fases distintas. No início do processo de trabalho, foi realizado um estudo de viabilidade, com o qual foi dada entrada no processo licitatório para escolha da empresa vencedora. Em um segundo momento, foi desenvolvido o estudo preliminar, quando existiu um maior esforço para a criação do conceito do empreendimento. Tal etapa resultou em apenas 5 pranchas produzidas, além das primeiras maquetes eletrônicas, mas teve longo investimento temporal por parte da equipe.
Durante o anteprojeto, foi iniciado o refinamento da proposta, com a adequação do projeto às necessidades da nova rede de hotéis que surgia e também o início da compatibilização da estrutura do edifício.
Na fase de projeto básico, houve um aprofundamento no dimensionamento das instalações dos projetos complementares, os quais seriam deste momento em diante compatibilizados entre si e com a arquitetura. Também foi nesse momento que o projeto de interiores foi iniciado, a fim de haver uma previsão desde o início das instalações necessárias.
Durante o projeto executivo - a última etapa do trabalho - foi feita a finalização dos ajustes no projeto, concomitante ao detalhamento tanto do projeto arquitetônico, quanto o de interiores. Além de ter sido o período mais extenso, esta última fase foi a que mais pranchas resultou, com 243 para o projeto executivo/detalhamento e 151 para o projeto de interiores.












PAVIMENTO TÉCNICO E COBERTURA




ELEVAÇÃO SUDOESTE E NORDESTE

























O projeto do hotel no Rio de Janeiro se iniciou com um desafio: elaborar uma edificação que atendesse às demandas de uma bandeira de hotéis até então inexistente, em um terreno sem entorno construído. O processo de concretização do até então estudo foi desenvolvido pela Ivo Rizzo e pela GJP, tendo sido a OSPA contratada pela primeira, assim como todos os projetos complementares. Identificando o caráter incomum da empreitada, a equipe não só foi receptiva ao uso de novas tecnologias, como as demandou, não havendo o comum receio pelo novo. O que era apenas uma abstração inicial sendo discutida entre incorporadora, rede hoteleira e escritório de arquitetura, acabaria por envolver inúmeros profissionais e fornecedores de diversos estados do Brasil. Tal aparente dificuldade de iniciar o desenvolvimento levou o grupo de trabalho a fazer uma análise aprofundada do que representa e o que se espera de um edifício com esse caráter e público-alvo em um país como o Brasil.

Um hotel - ou melhor - uma bandeira de hotéis, deve apresentar uma representação de fácil identificação, não importando a sua posição ou o horário do dia. Pensando conceitualmente na imagem do empreendimento, se buscou fugir da solução habitual de imaginar um hotel como um galpão decorado. Isto
é, a adaptação de uma construção concebida para um uso fim, podendo este ser de hospedagem, mas que não apresente desde sua concepção a essência da bandeira de hotéis a ser operada. A gênese da bandeira oportunizou imaginar uma edificação que transpirasse sua imagem, não sendo simplesmente revestida dela. Abdica-se de uma iconografia superficial, em prol de um misto de técnica e estética marcante.
Desde o princípio, uma das principais demandas do projeto foi a rápida construção do edifício. Partindo disso, pensou-se no uso de elementos pré-fabricados que não só auxiliassem a plena execução dessa premissa, mas que também fossem lidos como parte da representação da rede. No Brasil, o uso do concreto armado foi rapidamente difundido no início do século passado e fez parte marcante da busca por uma identidade da arquitetura brasileira da época. Nos dias atuais, a utilização de tal material continua sendo protagonista, o que a vincula, certamente, com a identificação de uma edificação vernácula brasileira. Com a definição do uso de painéis pré-fabricados de concreto aparente, foi possível a escolha de uma paleta de cores que representasse o vínculo inerente do hotel com a cidade e por assim dizer país onde viria a ser inserido, gerando não só
o conceito necessário, mas também a ligação com seu entorno arborizado.
A chegada do hóspede proveniente do vizinho Aeroporto do Galeão é feita por uma via quase exclusiva ao noroeste do terreno em questão. A posição dos dois volumes principais - o menor ao noroeste, o maior ao sudeste - torna possível a visualização do conjunto de diversas distâncias: de longe, há apenas um bloco baixo cinza e outro, ao fundo, imponente, com as cores verde, branco, cinza e preto. O que aparenta ser apenas uma textura é desmistificada ao longo do trajeto com a aproximação do usuário, tornando evidente o jogo de cores de painéis, aberturas e venezianas. O que era apenas bidimensional, toma volume - seja pelas lajes de concreto pré-moldado, seja pelas venezianas que abrigam as máquinas condensadoras dos apartamentos. O acesso ao hotel é monumental. O utente se depara com uma ampla abertura de vidro que não só serve para a iluminação do grande hall, mas conjuntamente o enobrece e traz honestidade na leitura do todo: o sólido menor representa o acesso e seus serviços; o sólido maior, à direita de quem entra, a edificação com todos os apartamentos. É na escala do transeunte que se percebe o contraste entre o es-
paço externo e interno. Fora, o projeto demanda um fechamento que dê identidade para quem o observa. Dentro, a estética dos ambientes reflete sua servidão para o elemento principal: o usuário. Este, estando no hall, observa um pé-direito duplo que não só provê importância para o espaço, mas também abre um leque de usos e percursos a serem desbravados.
A planta do pavimento térreo é composta por três faixas, cada qual se conectando com o ambiente principal com um uso distinto: ao centro, a recepção, ponto focal de quem entra; à esquerda, o restaurante; à direita, o bar com acesso a uma das salas de conferências. Estando ainda nessa grande sala, a pessoa percebe que a austeridade exterior dá lugar ao conforto interno. O lobby funciona como um grande estar, com dois elementos protagonistas: um sofá que quebra a ortogonalidade imposta, expressando o conforto e abrigo que é buscado em um hotel; e uma escada metálica, esta que se desenvolve em dois lances, na cor verde, contrastando com os demais elementos em cinza e branco, trazendo refinamento na sua leveza e originalidade cromática. No pavimento superior, o usuário se depara com a mesma organização em três faixas encontrada no andar inferior, havendo também três usos diferen-

tes. Ao centro, voltada para o terraço, a academia. Nas faixas extremas, tanto o bar da piscina, quanto a segunda sala de conferências dão permeabilidade visual para o espaço aberto. Neste, a pessoa é convidada a desfrutar as qualidades do clima carioca e, o percorrendo, é encaminhada para uma leve subida, sendo surpreendida por uma grande piscina, a qual dá coroamento ao percurso.
O descolamento dos dois volumes principais gera curtas conexões entre as duas edificações, havendo ligação pelos dois pavimentos da construção de acesso. Tais junções são dispostas envidraçadas, evidenciando a forma elemental de ambos sólidos dominantes. É percorrendo esse rápido trajeto que o usuário se depara com o hall social de cada pavimento tipo, onde são dispostos circulação vertical e um grande espelho com a numeração do andar presente. Cada qual é composto por 27 apartamentos, todos munindo de duas camas de solteiro ou uma de casal, banheiro, bancada, criados-mudos, televisor, frigobar, cofre, armário e ar condicionado.
Enquanto as unidades centrais são denominadas tipo, com aproximadamente 19,50m², as dos extremos da circulação horizontal são diferenciadas.
Conforme a legislação, esses aposentos de 24m² são configurados para atenderem às necessidades de pessoas com deficiência ou serem apenas de maior padrão. Cada extremidade de cada corredor possibilita seu fechamento pontual, dando vínculo a dois apartamentos, sem haver a perda da privacidade individual de cada um.
Dentro da acomodação, o hóspede percebe o significado da separação dos dois grandes volumes construídos: os cômodos dão privacidade com suas aberturas pontuais do piso ao teto e visuais para a cidade do Rio de Janeiro, com sua topografia característica. A comunicação visual proposta reitera o caráter do local, representando com linhas pretas paisagens conhecidas da cidade, variando a ilustração entre apartamentos, a fim de expressar internamente a solução randômica das cores nas fachadas, sem perder a sobriedade presente no seu interior.
Fazendo o coroamento do bloco de apartamentos, o pavimento técnico abriga em torno de 250 mil litros de água, distribuídos em 21 reservatórios. Também é lá que estão instalações de elétrica, casa de bombas, as condensadoras das áreas sociais, exaustão mecânica e central de aquecimento de água. Revestindo

todo o andar, foi prevista veneziana móvel metálica na cor preto, lida como elemento complementar ao conjunto de cores do corpo do volume dos cômodos. Desde o início, foi uma solicitação da operadora a utilização de um sistema de climatização que acarretava na disposição das suas máquinas externas próximas às suas respectivas unidades internas. Tal necessidade criou a demanda por uma solução que desse unidade para o conjunto de elementos. A fachada do corpo do volume principal é composta por uma disposição variada de ora esquadrias do tipo glazing - para diminuir a entrada de ruídos provenientes do aeroporto vizinho -, ora pilares pré-moldados em concreto, e ora painéis pré-fabricados, os quais por sua vez apresentam variação tonal e pontualmente servem de apoio às máquinas condensadoras de climatização, as quais são envelopadas pela mesma veneziana presente no pavimento técnico. Todos esses elementos foram projetados com a mesma largura da laje pré-moldada alveolar: 125cm.
Enquanto que a utilização de painéis da fachada era uma solução usual para a empresa fabricante, a solução estrutural para o programa do projeto se mostrou um tanto incomum. Normalmente vistas
em edifícios para uso industrial, as lajes alveolares foram utilizadas inclusive no balanço do porte cochère. Pilares e vigas foram desenhados um a um pela equipe de cálculo estrutural, e a decisão de deixá-los aparentes vem não só para reiterar o conceito do empreendimento, mas para dar valor ao extenso trabalho desenvolvido pelos profissionais.
Sempre atrelado ao resultado de uma boa obra de arquitetura, a existência de um promotor com visão aberta e inovadora, sem preconceitos limitantes, torna a edificação relevante. O Linx Hotel International Airport Galeão se impõe como uma síntese do seu funcionamento, seu entorno e o espírito do seu tempo.

Devido à complexidade do programa hoteleiro, fizeram parte da etapa de compatibilização diversas disciplinas incomuns na maioria das edificações, como os projetos de cozinha industrial, acústica e automação. Em razão da exigência de rapidez construtiva, além da dificuldade de projetar com peças pré-fabricadas de concreto, houve a necessidade de instalação dos banheiros dos apartamentos no modelo
“Banheiro Pronto”, o qual requer um planejamento específico tanto da posição das instalações, quanto do cronograma da obra, já que os volumes foram içados diretamente para o pavimento tipo. Abaixo, foi feito um gráfico mostrando a quantidade de pranchas entregue em cada projeto executivo de cada disciplina, partindo do projeto de aquecimento solar, com uma prancha, até o projeto estrutural, com 125.
















