Revista Lindenberg - Edição 44

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Mas são os artistas Norberto Nicola (1930-2007) e Jacques Douchez (1921-2012) que elevam a tapeçaria brasileira a um novo patamar: se antes eram planas, com eles assumem o tridimensional e passam a ser verdadeiras esculturas esculpidas com fios e tramas. Por mais de vinte anos, a dupla dividiu o Ateliê Douchez-Nicola na capital paulista. Mais do que qualquer outro artista brasileiro nesse segmento das artes, Nicola tornou-se um ícone. Neto de imigrantes italianos, estudou pintura, foi aluno de Samsom Flexor e participou do movimento de arte abstrata. Na década de 1960 passou a dedicar-se inteiramente à arte têxtil junto com Douchez. Conhecedor das técnicas básicas dos teares de alto ou baixo liço, inovou com a utilização criativa de novos materiais com o emprego de novas técnicas (muitas delas criadas por ele mesmo), que tornaram cada obra uma peça única. Aprendeu o básico quando estagiou na conhecida manufatura francesa Aubusson e evoluiu ao produzir obras tecidas tridimensionalmente. Apesar de trabalharem juntos, Nicola e Douchez trilharam caminhos diferentes e mantiveram pesquisas pessoais diferenciadas, cada um estabelecendo e desenvolvendo um estilo pessoal. Nicola criou a arte têxtil monumental mantendo um grande senso de volume com a transição das cores dentro dos mais sofisticados efeitos que a técnica permitia, apresentando volumetria marcante, quase sempre oposta à parte tecida completamente lisa e plana, que apresentava efeitos de luz e sombra onde podia se perceber as mais suaves transições de cores. O francês Douchez percebeu suas afinidades com Nicola no estúdio de Flexor, onde também estudava. Para montar o próprio ateliê, os dois adquiriram os teares de Regina Gomide Graz e iniciaram a criação de formas tecidas, estruturais, nas cores quentes da lã misturada com outras fibras, como o sisal. Douchez apoiava sua arte no construtivismo geométrico. Sua tapeçaria é marcada com mínimos detalhes de complexa elaboração e execução, como a feitura de fendas de expressivas dimensões e cruzamentos variados de tiras tecidas separadamente. O suporte de suas tapeçarias estão intricados no desenvolvimento de cada obra. De acordo com os estudiosos, foram planejados para que pudessem apoiar o grande peso das obras tecidas. Douchez criou esse acessório de forma inovadora, integrando-o com bastante volume à obra, projetado de forma a valorizar a espessura de suas tramas cruzadas, visando a conquista do espaço arquitetônico de grandes dimensões. Suas criações abstratas foram compostas em vários planos, em cores contrastantes que se sucediam até provocar um efeito de sombra. Nicola e Douchez mantiveram o ateliê até 1980.


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