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Kathleen Burt

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ASTROLOGIA Autoconhecimento e Individuação Através dos Arquétipos do Zodíaco

Tradução Euclides Luiz Calloni Cleusa Margô Wosgrau

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Título do original: Archetypes of Zodiac. Copyright © 1988 Kathleen Burt. Publicado originalmente por Llewellyn Publications, Woodbury, MN 55125 – USA – www.llewellyn.com Copyright da edição brasileira © 1993, 2022 Editora Pensamento-Cultrix Ltda. 2a edição 2022. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou artigos de revista. A Editora Pensamento não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados neste livro. Obs.: Publicado originalmente como Arquétipos do Zodíaco. Editor: Adilson Silva Ramachandra Gerente editorial: Roseli de S. Ferraz Preparação de originais: Maria Fernanda F. da Rosa Neves Gerente de produção editorial: Indiara Faria Kayo Editoração eletrônica: Join Bureau Revisão: Adriane Gozzo Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Burt, Kathleen Jung e a astrologia : autoconhecimento e individuação através dos arquétipos do zodíaco / Kathleen Burt; tradução Euclides Luiz Calloni, Cleusa Margô Wosgrau. – 2. ed. – São Paulo: Editora Pensamento, 2022. Título original: Archetypes of zodiac ISBN 978-85-315-2181-2 1. Arquétipo (Psicologia) 2. Zodíaco I. Título. 21-96060

CDD-133.52 Índices para catálogo sistemático:

1. Signos do zodíaco e arquétipos: Astrologia: Ocultismo 133.52 Cibele Maria Dias - Bibliotecária – CRB-8/9427

Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a propriedade literária desta tradução. Rua Dr. Mário Vicente, 368 – 04270-000 – São Paulo – SP – Fone: (11) 2066-9000 http://www.editorapensamento.com.br E-mail: atendimento@editorapensamento.com.br Foi feito o depósito legal.

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Manifeste a Oitava Superior no seu Mapa Astral

Há, desde os anos 1980, entre astrólogos e psicólogos, um crescente interesse pelas obras de C. G. Jung, cada vez mais difundido. O número de conferencistas que abordam temas relacionados aos arquétipos e mitos aumenta a cada ano. Esse interesse progressivo pelo tema do inconsciente é um forte indício de que um livro como este é muito oportuno no momento presente. Kathleen Burt oferece uma visão aprofundada da relação da astrologia com os arquétipos junguianos. A técnica adotada baseia-se na integração dos regentes esotéricos e dos signos com seus opostos. Essa técnica ajudará o leitor a compreender seu comportamento instintivo, ativará sua criatividade e modificará as energias negativas de seu mapa natal. Ao compreender os mitos e os arquétipos, você pode alcançar o potencial de seu mapa natal – o mapa da sua jornada de vida – e controlar conscientemente os instintos que o dominam. Com esta obra, você tem a oportunidade de transformar padrões instintivos que o aprisionam e tornar-se mais saudável e produtivo. Qualquer estudioso da astrologia e dos arquétipos – conselheiros, astrólogos profissionais e até pessoas leigas – será beneficiado com as informações aqui contidas. Você pode ativar as oitavas superiores de seus signos e manifestá-las em sua vida, e, ainda, aprender a ajudar os outros em sua prática como conselheiro. Baseado em conceitos junguianos, este livro, há muito esperado, prestará a você e aos outros um grande auxílio. Sua leitura o levará a uma fascinante jornada através dos signos do Zodíaco.

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Este livro é dedicado a Swami Sri Yukteswar Giri, com amor e gratidão.

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Agradecimentos

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m primeiro lugar, gostaria de agradecer ao meu marido Michael, que dedicou pacientemente muito do seu tempo a este livro, contribuindo com ideias preciosas, sobretudo, para os questionários. Agradeço especialmente a Mircea Eliade (in memoriam), Professor de Reli­­ giões Comparadas na Universidade de Chicago; a Goswami Kriyananda (dr. Melvin Higgins – in memoriam) do Templo Kriya, Chicago, e a Sri Kriyananda (Reve­­ rendo J. Donald Walters – in memoriam), fundador da Comunidade Ananda, na Carolina do Norte. Pela ajuda na datilografia e na revisão de provas, agradeço a Dagny Bush, minha secretária, e também à minha amiga e colega astróloga Anne Neighbors. Pelo trabalho na edição e na produção de Jung e a Astrologia, quero expressar minha estima a Terry Buske e Emily Kretschmer. Sou particularmente grata ao artista Martin Cannon pelas ilustrações, e a Carl Llewellyn Weschcke, que me incentivou a pesquisar incansavelmente os conceitos iniciais que deram origem a este grandioso empreendimento. Meu reconhecimento se estende também a tantos outros, por demais numerosos para serem nomeados – membros do Amigos de Jung de San Diego, colegas astrólogos dos Estados Unidos e da Índia, alunos dos cursos de astrologia do Mira Costa College e meus muitos amigos e clientes.

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Sumário

Prefácio........................................................................................................................... Introdução..................................................................................................................... Mapa das Polaridades..................................................................................................

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Capítulo Um.................................................................................................................. ÁRIES: A Busca da Identidade Individual

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Capítulo Dois................................................................................................................ Touro: A Busca do Valor e do Sentido

59

Capítulo Três................................................................................................................ Gêmeos: A Busca da Variedade

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Capítulo Quatro........................................................................................................... 135 Câncer: A Busca da Deusa-Mãe Capítulo Cinco.............................................................................................................. 177 Leão: A Busca do Ser e da Totalidade Capítulo Seis................................................................................................................. 213 Virgem: A Busca do Serviço Significativo 11

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Capítulo Sete................................................................................................................. 255 Libra: A Busca da Alma Gêmea Capítulo Oito................................................................................................................ 299 Escorpião: A Busca da Transformação Capítulo Nove............................................................................................................... 343 Sagitário: A Busca da Sabedoria Capítulo Dez................................................................................................................. 385 Capricórnio: A Busca do Dharma Capítulo Onze............................................................................................................... 455 Aquário: A Busca do Santo Graal Capítulo Doze............................................................................................................... 517 Peixes: A Busca do Castelo da Paz Glossário........................................................................................................................ 567

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Prefácio

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stes ensaios sobre os signos do Zodíaco e seus regentes, esotéricos e mundanos, foram compilados a partir das transcrições do curso “Arquétipos do Zodíaco”, apresentado no Programa de Serviço Comunitário do Mira Costa College, em Del Mar, Califórnia, entre 1982 e 1985. O tema do curso começou a tomar forma, como a deusa Atena no crânio de Zeus, quando um aluno da etapa intermediária do curso de astrologia perguntou um belo dia: “Como podemos lidar com o padrão de energia presente em nosso mapa de nascimento? Como usar meu livre-arbítrio de forma consciente para direcionar o ‘Touro dentro de mim’, em vez de andar pela vida inconscientemente ‘reagindo como um Touro’?”. A ideia nasceu: “Vamos criar um curso. Vamos experimentar a energia ‘superior’, ou seja, a do regente esotérico de cada um dos doze signos. E também a energia do regente mundano, expresso por quase todos nós de maneira instintiva todos os dias. Vamos ainda examinar o ‘ponto de equilíbrio’ de cada um dos signos e nos esforçar para alcançar o que ele representa”. Quem sabe, ao entrarmos em sintonia com os significados mais elevados das regências planetárias, possamos descobrir modos de utilizar, de forma mais construtiva, a energia dos signos. As regências esotéricas haviam atraído minha atenção desde os anos 1960, quando li, pela primeira vez, Astrologia Esotérica, de Alice Bailey. Para esse curso, os regentes esotéricos de cada signo foram extraídos de seu último livro, Os Tra­ balhos de Hércules. Os mitos foram coletados ao longo de vários anos e de diversas 13

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fontes. Os alunos, versados em Jung, em religiões orientais, em Edgar Cayce etc., fizeram com que o simbolismo ganhasse vida por meio de sua participação. Acredito que o curso tenha sido excitante, mas nem ele nem esses ensaios têm a intenção de ser a última palavra sobre os arquétipos do Zodíaco.

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Introdução

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onsiderando que alguns de vocês já possuem conhecimento astrológico e outros já tiveram contato com as obras psicológicas de Jung ou com as religiões orientais, deve ser oportuna uma revisão dos principais conceitos antes de apresentarmos o primeiro dos arquétipos da personalidade: Áries. O primeiro conceito é arquétipo. Muitos de nós conhecemos seu significado não psicológico: modelo ou protótipo. Entretanto, para os objetivos deste curso, é preferível adotar o sentido psicológico de arquétipo. Jung, em sua vasta obra, define arquétipo de diferentes modos. Um deles é “... um padrão instintivo de comportamento contido no inconsciente coletivo”. Ele é “transcendente”. Em outras palavras, os arquétipos não pertencem apenas ao inconsciente pessoal de um indivíduo, mas a algo bem maior. Eles transcendem o indivíduo e têm forma independente de existência no nível coletivo. Jung diz também que o arquétipo “imita a forma do cristal”, ou que é “como um recipiente vazio”, abarcando “modos de comportamento idênticos em todos os indivíduos, e em toda parte”. Afirma ainda que, dentro desse padrão “recipiente vazio”, um indivíduo consciente pode dar forma ao arquétipo; pode, igualmente, decidir participar da energia positiva do arquétipo e não da energia negativa. Enquanto tivermos um recipiente vazio da Deusa, o arquétipo de Câncer ou a Magna Mater de Jung, por exemplo, teremos um cristal puro, um recipiente transparente e, todavia, sem forma. Poderíamos chamar esse recipiente vazio de “Ventre”, como no Rig Veda, mas um indivíduo teria dificuldade de venerá-lo ou de 15

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se relacionar com a Magna Mater nesse estado. Várias culturas dão forma à Magna Mater, a Grande Mãe: algumas são positivas; outras não (veja a Mãe Terrível ou Devoradora). As formas é que são adoradas. Para o fanático, o recipiente não está mais vazio, e o cristal não está mais puro. Em As Máscaras de Deus – Mitologia Ocidental, Joseph Campbell menciona que seria improvável um católico se ajoelhar e orar em um santuário dedicado à deusa Ísis. Assim que a arte modela formas individuais da Deusa – e cultos locais são embelezados com o mito e o rito –, as culturas personalizam o arquétipo. A Magna Mater reveste-se de muitas formas, desde a compassiva Kwan Yin, da China, até a terrível mãe Kali, da Índia, adornada com caveiras em torno do pescoço, serpentes no cabelo e a língua para fora. O arquétipo contém inúmeras formas. Estamos livres, como o católico em visita ao Egito, para não nos ajoelharmos em alguns dos santuários, se assim o preferirmos. Cada mapa natal contém muitos arquétipos. A maioria de nós tem familiaridade com o nosso signo solar, mas nosso signo da Lua e o signo em elevação (o ascendente) podem caber no mesmo recipiente arquetípico. Uma pessoa pode ter Sol em signo de Fogo, Lua no elemento Terra e um ascendente em Água. Ou um signo solar que se prende ao passado, um signo lunar que anseia por novidades e deseja projetar-se no futuro e um ascendente indeciso que intermedeia a energia do Sol e a da Lua. Nosso mapa astral é a mais pessoal das ferramentas para o desenvolvimento individual. Se levarmos a sério o processo de individuação proposto por Jung – ou se em nossa busca por iluminação desejamos ser felizes –, é importante compreender as energias arquetípicas e integrá-las. Se explorarmos os arquétipos e observarmos seus padrões de comportamento instintivos, compreenderemos melhor a nós mesmos e aos outros. Pelo menos nossa tolerância aumentará. Se a leitura dos mitos que ilustram os vários arquétipos nos agradar – se os padrões de ação e reação nos deixarem felizes –, ótimo! Contudo, se nos identificarmos com o herói ou com a heroína cuja jornada é árdua e dolorosa, ou cujo final não é como gostaríamos – e se por acaso ouvirmos um eco das reclamações de nossos companheiros, colegas de trabalho ou chefes ao longo dos anos –, então, talvez, queiramos purificar o cristal e encontrar usos mais apropriados e mais positivos para a energia arquetípica. Por que ser infeliz como uma terrível Kali quando se pode ser feliz como uma Kwan Yin? O segundo conceito a ser definido é mito. Ao tomar forma, a ideia (arquétipo) tem de passar por um processo de desenvolvimento. O rei Leão precisa recuperar seu trono. O herói de Áries sai para travar suas batalhas no mundo exterior. O 16

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Escorpião penetra no interior de si mesmo (o mundo interior) para lutar contra seus demônios e resgatar sua Perséfone. Touro enfrenta os obstáculos para criar um mundo confortável e seguro ou tem de abandonar esse mundo depois de tê-lo criado com toda solidez. Há muitas definições de mito. Em Mito e Realidade, Mircea Eliade afirma que “um mito é uma história sagrada que explica como o mundo passou a ser como é (para determinada cultura) e por que somos como somos. Recriamos, muitas vezes, o mito por meio de rituais, mesmo que seja apenas para reviver uma memória ou renovar nossos votos matrimoniais nas datas de aniversário. Existem várias definições interessantes de mito, que o distinguem dos fragmentos lendários e dos contos de fada. Mas minha definição preferida é: mito não é algo que aconteceu no passado, em terras distantes, aos outros; mito é algo que acontece constantemente, a cada dia, exatamente aqui e agora, em nós. A ênfase que Eliade dá ao sagrado nessa definição de mito é importante para nossos objetivos. Cada um dos signos tem um símbolo – um animal, um deus, um livro (ou escritura) – que, numa determinada época, foi adorado em algum lugar da Terra. Há aqui um elemento bastante real do sagrado. Gostaria de dizer algumas palavras sobre termos astrológicos que podem ser novos para aqueles que imergiram mais profundamente na obra de Jung e que, por isso, têm maior conhecimento dos arquétipos e mitos. Vocês provavelmente conhecem o básico, como o nome dos doze signos e os dez corpos estelares regentes (mundanos). Mas, por favor, memorizem quais planetas se relacionam com quais signos. E lembrem-se também de que o simbolismo astrológico evoluiu ao longo dos séculos. Nem sempre houve doze signos. Leão/Virgem eram antigamente, no Egito, indiferenciados e representados pela Esfinge. Em oposição à Esfinge, do outro lado da roda celeste, a Taça representava o símbolo combinado de Aquário/Peixes. Era a Taça que transbordava todos os anos quando a estação das cheias levava chuvas fertilizadoras ao delta do Nilo. Alguns dizem até hoje que o 13o signo, Of ícuo, vai se introduzir entre Escorpião e Sagitário nos próximos milênios. As formas, apesar de não ser visível durante o período de vida de um indivíduo, mudam. Qual a diferença entre regentes mundanos e esotéricos? A maioria das pessoas pode entender com facilidade o termo mundano: usual, ordinário, costumeiro. Na ordem do dia. Maçante também é um correlato da palavra mundano. Os junguianos que conhecem os mitos de Afrodite (Vênus) facilmente associam Libra ao regente mundano, observando o comportamento instintivo de Libra e dos 17

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ascendentes em Libra. “Vaidade, teu nome é mulher.” (Modelos que se assemelham a Vênus de Milo etc.) Se você conhece um ariano que seja contestador, ousado, impetuoso, aventureiro, compare-o a Marte, o regente mundano, o deus da guerra. Os capricornianos são personalidades saturninas (regidas por Saturno) e anciãos sábios quando chegam à velhice. As colunas astrológicas dos jornais já lhe disseram que os cancerianos são filhos da Lua. Nesse caso, o planeta mais feminino (Lua) rege o signo mais feminino (Câncer). A Lua tem muitas fases, correspondendo aos variados estados de ânimo de Câncer. Os junguianos que já têm conhecimento dos mitos e aprenderam um pouco sobre os signos terão facilidade de fazer as devidas associações. A palavra esotérico, em geral, é definida como conhecimento ou informação oculta, de interesse apenas de alguns especialistas. Alice Bailey não define propriamente o uso que faz do termo esotérico, mas afirma que “o regente esotérico do Sol e do Ascendente... indicam o propósito de vida do indivíduo”. O discípulo ou iniciado aprende com os regentes esotéricos qual é a sua missão nesta vida, o velho karma a ser cumprido e as novas lições a serem aprendidas. Por outro lado, os regentes mundanos e ordinários do Sol e do ascendente descrevem o trabalho que fazemos no mundo exterior ou os tipos de problemas que encontramos em nosso ambiente. Realidade objetiva é igual a mundano; realidade subjetiva é igual a esotérico. Exaltação é o último termo que precisamos definir. Um planeta exaltado em um signo do Zodíaco é mais poderoso que outro planeta seria nesse mesmo signo, porque sua energia está em harmonia com a do signo, ampliando-a. Há uma relação sinérgica entre planeta e signo. Assim, os planetas exaltados são sempre poderosos, mas nem sempre positivos no sentido de ser possível lidar com eles com facilidade. Alguns dos planetas em seu signo de exaltação são “inflados” ou um tanto opressores para as pessoas que convivem diariamente com o planeta exaltado. Um exemplo disso é o Sol (planeta) em Áries (signo). O planeta EU SOU é o Sol; o signo EU SOU é Áries. Não obteríamos a mesma energia confiante, impetuosa, assertiva se o Sol estivesse em qualquer um dos outros onze signos porque o Sol não estaria exaltado neles. Para Touro, o planeta exaltado é a Lua. Se você conhece alguém que tem Lua em Touro, perceberá o EU TENHO manifestando-se, porque a Lua representa apego e possessividade. A Lua é família, e, assim, o apego se estende à vida dos filhos. Se forem tipos taurinos artísticos, essas pessoas possuirão livros, manuscritos e outros objetos colecionáveis. Você conseguirá se mover com dificuldade em suas casas, por causa das inestimáveis coleções. 18

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As exaltações eram tradicionalmente atribuídas aos sete planetas descobertos antes da invenção do telescópio – aqueles que os antigos podiam ver e identificar a olho nu. Especulações sobre os signos de exaltação de Urano, Netuno e Plutão diferem de astrólogo para astrólogo. Neste livro, mencionarei minhas ideias sobre as posições exaltadas dos planetas exteriores. Por ora, apresento a seguir uma tabela dos regentes esotéricos e mundanos, bem como os planetas exaltados em cada signo. As exaltações que sugiro estão entre parênteses. Regente mundano

Regente esotérico

Exaltação

Áries

Marte

Mercúrio

Sol (Plutão)

Touro

Vênus

Vulcano

Lua

Mercúrio

Vênus

(Urano)

Câncer

Lua

Netuno

Júpiter

Leão

Sol

Sol

(Netuno)

Mercúrio

Lua

(Urano)

Libra

Vênus

Urano

Saturno

Escorpião

Marte

Marte

Sagitário

Júpiter

Terra

Capricórnio

Saturno

Saturno

Marte

Aquário

Urano

Júpiter

Mercúrio

Peixes

Netuno

Plutão

Vênus

Gêmeos

Virgem

Há mais um conceito importante: a integração dos opostos da roda zodiacal. Tanto C. G. Jung quanto a astróloga esotérica Alice Bailey enfatizaram a importância de equilibrar a personalidade fazendo a união dos opostos. Na astrologia, temos doze signos – ou seis polaridades. (Veja diagrama, p. 22.) Diante de cada signo de Fogo, dinâmico, ativo, aberto, há um signo de Ar, pensativo, reflexivo. Em oposição a cada signo de Terra, bem alicerçado e realista, encontramos um signo de Água, que deseja que a cruel realidade desapareça, mas que também oferece à sua polaridade terrena os dons da intuição, da imaginação e, às vezes, poderes psíquicos para fertilizar o solo árido. Ao contrário do modelo junguiano dos opostos, a astrologia não opõe as funções pensamento e sentimento, ou o masculino e o feminino. Particularmente, 19

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acredito que o sistema astrológico do masculino e feminino deriva da Alquimia, para a qual Saturno poderia ser feminino como Mercurius Senex. (Onde mais poderia Capricórnio-Terra ser feminino? Ou Escorpião-Água ser feminino?) Incluí em cada capítulo uma seção sobre a progressão do Sol (do signo original até os posteriores). Do ponto de vista espiritual e psicológico, o Sol progredido é um fator importante no desenvolvimento e na evolução da personalidade. Se você não conhece o tema das progressões, encontrará aqui uma maneira fácil de descobrir. É simples: se você tem conhecimento do grau e do signo do seu Sol no momento do nascimento, some um grau e considere-o como um ano. Ao chegar aos trinta anos, o Sol estará entrando no signo seguinte. Exemplo: Sol natal a 18 graus de Escorpião. Em doze anos, o Sol dessa pessoa terá progredido até Sagitário. Siga esse método para determinar suas próprias progressões solares. Uma palavra final antes de concluir: lembre-se de que o signo do Sol não é o único arquétipo no mapa do indivíduo. Quando falamos do arquétipo de Áries, não estamos nos limitando exclusivamente às pessoas com o Sol em Áries. Suponha que um mapa tenha um Sol em Áries e cinco planetas (um stellium) em Touro. Ele participa do arquétipo de Áries ou de Touro? Participa de ambos! Se a Lua ou ascendente estiver em Gêmeos, então teremos que levar em conta os três. Qualquer conjunto de três ou mais planetas em um signo fará com que o indivíduo manifeste características arquetípicas desse signo.

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Casas do Zodíaco Natural por Elemento e Palavra-chave

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As Seis Polaridades

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Áries: A Busca da Identidade Individual

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Era de Áries é uma era solar, masculina. É a Era do Carneiro, de Marte e do Herói. Em termos históricos, começa com as mudanças drásticas do final da Idade do Bronze e se estende até cerca de 583 a.C., próximo ao nascimento de Buda. No final da Idade do Bronze, heróis helênicos na Grécia e invasores arianos na Índia atacaram os bosques sagrados e as grutas da Grande Deusa. Esses heróis montados em cavalos, esses príncipes em Carruagens Solares, usurparam o poder dos governantes locais. Além disso, destruíram os cultos de fertilidade, suas sacerdotisas e oráculos que davam sustentação às velhas dinastias. A Mãe Terra, deusa dos períodos precedentes, com seus vários nomes e formas, exigira tributo por meio de sacrif ícios rituais de jovens príncipes e guerreiros para garantir a fertilidade do solo. Na Índia, os sacerdotes dos conquistadores arianos realizaram o matrimônio de deusas locais com deuses masculinos do panteão védico e tentaram banir os sacrif ícios humanos. Na Grécia, heróis como Perseu, Rei de Micenas, invadiram o templo sagrado de Medusa, protetora de Atena, destruindo suas máscaras rituais, quebrando suas estátuas e expulsando as sacerdotisas. Também foram bem-sucedidos ao darem fim aos sacrif ícios rituais de jovens príncipes. Com a substituição do príncipe por uma ovelha ou cordeiro sacrificial, deram proteção à instituição da realeza. No final da Idade do Bronze e início da Idade do Ferro, o Patriarcado substituiu o Direito Materno, e os sacerdotes substituíram as sacerdotisas. Mitos heroicos sobre príncipes guerreiros derrotando monstros com formas de dragões femininos revelam que eles acreditavam 23

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estar libertando o país dos cruéis demônios femininos que tornavam a terra inóspita. Acreditavam também que o poder passara das antigas deusas a eles, dotados de visão de mundo solar, ou masculina, mais ordenada e racional. Mas, para os povos locais de Micenas, da Índia e de outros lugares, o poder ainda permanecia com a Mãe Terra, embora heróis estrangeiros tivessem violado seus lugares sagrados e a tivessem unido a seus estranhos deuses. Talvez o que Joseph Campbell chamou de “trauma sociológico” do final da Idade do Bronze, em sua obra As Máscaras de Deus – Mitologia Ocidental, seja, para nós, um exemplo do problema de enfrentar fogo com fogo, ou seja, de responder a um tipo de violência (o sacrif ício humano) com outro (fazer guerra contra a Grande Deusa). Na verdade, não se pode destruir um arquétipo; a Grande Mãe simplesmente se instalará em nosso inconsciente de forma ainda mais assustadora. O que realizamos no mundo exterior – atividade de Áries (a realeza, por exemplo) – tem seu preço no mundo interior, subjetivo: o inconsciente coletivo da nossa época. A doce Medusa tornou-se um demônio, e a venturosa mãe Kali, do início dos Upanishads, tornou-se uma verdadeira Mãe Terrível. A Era de Áries provocou uma mudança dramática no simbolismo: do feminino lunar para o masculino solar. O período ariano caracterizou-se pelo heroísmo violento, com seus feitos e suas proezas. Todos os anos, experimentamos um pouco da energia da Era de Áries na época do Equinócio da Primavera.* Na zona temperada, emergimos da melancolia do final de Peixes, que Shakespeare chamou de Idos de Março. Celebramos, então, o Ano-Novo Astrológico próximo a 21 de março, embora os anos bissextos e outras variações às vezes alterem ligeiramente a data. Temos a impressão de que, após o longo inverno, a natureza, de repente, se torna novamente selvagem. Na zona temperada, os quatro signos cardinais tradicionalmente marcavam as mudanças de estação, e a passagem de cada uma delas era celebrada com ritos e festivais. Nos tempos anteriores à era cristã, a primavera era uma estação de renovação – renascimento da vida animal e vegetal. Era uma época de espe­­rança, otimismo e confiança nos bons tempos vindouros. Posteriormente, os cristãos escolheram o período próximo ao Equinócio da Primavera para celebrar seu festival * No Hemisfério Norte, o Equinócio da Primavera coincide com a entrada do Sol no signo de Áries. No Hemisfério Sul, o Equinócio da Primavera é marcado pela entrada do Sol no signo de Libra, oposto, na roda zodiacal, a Áries. Toda menção às estações nesta obra deve ser entendida como uma referência simbólica. Portanto, quando o Equinócio da Primavera for mencionado, por exemplo, deve-se entender como o início mítico, símbólico, dessa estação. (N. da P.) 24

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de esperança e renovação – a Páscoa. É uma época do ano apropriada para celebrar a ressurreição de um Messias e o nascimento da personalidade do herói. A energia de Áries é como os raios solares – clara, consciente, franca, direta, plena de luz e calor e visível a todos. Embora os três signos do Fogo sejam solares por natureza, Áries é o mais exuberante, à semelhança da primavera, a mais exuberante das estações. Assim, os astrólogos dizem que o Sol se exalta em Áries. Um planeta exuberante em um signo exuberante leva a uma personalidade exaltada. O Sol é o planeta EU SOU; Áries é o signo EU SOU. Áries arquetípico orgulha-se de estar encarnado na Terra; sente orgulho de si mesmo, de sua capacidade criativa, de seu impulso para realizar seus desejos no mundo exterior. Observe o entusiasmo da criança de Áries, que ainda não teve tempo de ser reprimida pela sociedade. Nela você verá o arquétipo de Áries manifestando-se: excitação, orgulho, impulso, autoconfiança absoluta, forte sentido de descoberta e impaciência para experimentar o mundo ao redor. Como Ícaro, ela está pronta para desobedecer às ordens de seu pai, pôr sobre si suas asas e voar o mais próximo possível do Sol. Ela não tem o sentido do perigo. Não quer ser ensinada a voar. Quer voar, simplesmente. Áries quer ir e agir. Vamos considerar os glifos de Áries e Marte, seu regente mundano. O glifo de Áries corresponde aos chifres do carneiro. Áries abre espaço em meio à multidão ou em uma fila de espera. Ele mesmo anuncia ao garçom do restaurante: “Estou aqui!”. Áries representa a “Força Irresistível”, como diz Dane Rudhyar. Este é o poder dos chifres do carneiro. Exteriormente, pode ser um carneiro destemido (“Apresento-me como voluntário para as linhas de frente de batalha!”) e, ao mesmo tempo, tímido interiormente. E pode ser uma ovelha no mundo subjetivo dos relacionamentos pessoais. Quando apaixonado, Áries é espontâneo, mas incapaz de usar palavras para expressar seus sentimentos mais românticos. “Meu marido ariano toma a iniciativa com rapidez no mundo exterior (negócios), porém deixa todas as decisões de casa para mim”, lamenta-se a companheira de Áries. “Ele se esforça ao máximo para elogiar e encorajar seus funcionários no escritório, mas nunca diz nada para me incentivar.” Lembre-se, Áries é impulso exterior e Logos. Na astrologia médica, Áries rege a cabeça, e parte do trabalho dele no planeta Terra é saber quando usar a lógica (Logos) e quando agir pelas emoções – Eros. Afrodite (Eros) está em oposição a Marte assim como Áries está em oposição de 180 graus a Libra na roda zodiacal. Um Áries pouco desenvolvido – uma criança ou alguém que não tenha 25

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estudado ou observado o comportamento social dos outros – fará uso da palavra “Eu”, solar e de Marte, com muita frequência. Um exemplo é o turista de Áries que diz a 25 outras pessoas do grupo “Vamos voltar para o hotel. Estou cansado”. Áries amadurece à medida que vai tomando consciência e usando a palavra “nós” com mais frequência que o pronome “eu”. Sua lógica funcionará bem no mundo dos negócios, onde seu Marte assertivo e sua natureza cardinal competitiva também lhe dão grande suporte. O ariano que abre caminho nos relacionamentos profissionais será, muitas vezes, um cordeirinho no lar, demonstrando autêntica inocência nos relacionamentos com o sexo oposto. Ele perceberá que sua esposa não aprecia sua lógica quando lhe faz uma pergunta retórica como: “Você gosta do meu novo vestido de seda?”. Marte pode se adiantar com uma resposta espontânea, instintiva: “Para ser honesto, querida, ele faz você parecer mais gorda”. A mulher que acabou de comprar o vestido e está maravilhada não vai se impressionar com sua honestidade. Para um ariano, cada pergunta merece uma resposta honesta e lógica. Marte é apaixonado, mas não exatamente delicado ou consciente em relação aos sentimentos dos outros. Tem muito a aprender sobre relações com os demais antes de magoá-los de maneira impetuosa. O signo de Eros, Libra, afastado 180 graus de Áries, segura aqui a balança. Marte precisa sintetizar Logos com Eros. Marte é independente; Vênus, regente de Libra, deseja ser querida e quer causar boa impressão. Ela pode ajudar Marte a refrear sua espontaneidade, a pensar antes de falar, a ampliar ao pensar “nós” antes de “Eu”. O glifo de Marte (0) é o símbolo biológico indicativo do sexo masculino. Muitas pessoas cuja energia de Áries se manifesta no nível mundano identificam-se com Marte – com a libido e os sentidos, com os impulsos e instintos do corpo. Isso levou diversos astrólogos, ao longo dos séculos, a observar que, para muitos arianos, a lição da vida implica distinguir entre luxúria e amor. Aqui a polaridade de Libra provê a balança. Nos mitos, Marte é identificado com Cupido, filho de Vênus/Afrodite, regente de Libra. Cupido/Marte aprendeu sobre o amor com Afrodite, que é também experiente em sutileza, popularidade e sedução. A 7a Casa, o Outro, é a de Afrodite, e da consideração, da reciprocidade e da partilha. A 1a Casa, o Eu, a qual Áries simbolicamente rege, precisa equilibrar sua independência com consciência de reciprocidade. Nenhum homem é uma ilha. É interessante localizar Vênus/Afrodite no mapa de um nativo com Sol ou ascendente em Áries. Vênus faz aspecto positivo com Marte? Se não fizer, o nativo 27

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pode preferir independência a relacionamento. Áries exaltado pode até mesmo considerar as mulheres seres inferiores. Isso tende a ser verdadeiro tanto para homens quanto para mulheres com Sol ou ascendente em Áries. Áries curte uma vida selvagem, ao ar livre, e, especialmente, trabalhar com as próprias ferramentas, ou seja, sua arma ou, sua motocicleta, sua chave inglesa ou sua chave de fenda, seu martelo e seu serrote – ferramentas forjadas em metal de Marte. O homem com Sol ou ascendente em Áries em geral se sente bem com essas ferramentas nas mãos. Marte, Áries e a 1a Casa do mapa se referem ao corpo, e Áries mundano provavelmente manterá boa forma durante toda a vida. Poderão ser encontrados se exercitando com pesos (halterofilismo) na academia de ginástica, preparando-se para a maratona local de dez quilômetros ou para a partida de futebol com o pessoal do escritório. Marte rege a adrenalina, e o verdadeiro tipo de Marte é um viciado nela. Ele se sente melhor após uma série de exercícios, o que libera as frustrações do dia. Mesmo que seu trabalho seja fisicamente extenuante, em geral ele tem energia de sobra, necessitando, por vezes, apenas de quatro ou cinco horas de sono. Arquetipicamente, consideramos que o homem de Marte é como o motorista de um carro esporte ou mesmo um corredor profissional nas 500 milhas de Indianápolis. Marte procura “ir aonde nenhum homem foi ainda”, o que talvez explique por que tantos pilotos de prova com Sol em Áries se inscreveram no treinamento para astronautas – pioneiros do espaço exterior. Muitos dos meus clientes de Áries têm um hobby perigoso, como voar de asa-delta, saltar de penhascos ou mergulhar em águas não mapeadas e perigosas. Outros têm hobbies que um dia poderão ser registrados no Guinness Book, se conseguirem sobreviver. Há os que estão envolvidos com artes marciais. Outros serviram no exército, a tradicional carreira heroica, que os habilita a “defender a realeza”. Nesses casos, apresentam-se com muita elegância em seus uniformes, dispondo de oportunidades competitivas a fim de provar que estão em ótima forma, e sentem prazer na companhia de “homens de verdade”. Se chegam a ser oficiais e atraem riqueza e poder, então satisfarão sua necessidade marciana de conquistar mulheres belas e sensuais. Mas e o arquétipo da mulher de Áries no nível mundano, instintivo? Como será? Mencionei anteriormente que algumas mulheres de Áries podem gostar de uma cantada mais rústica. Elas são atléticas, em geral, e se mantêm em forma, apreciando quando os homens as notam por isso. Suas atitudes são um tanto masculinas, a ponto de as mulheres-Afrodite não simpatizarem com ela. Nas palavras 28

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de uma mulher de Áries: “Os homens me acham divertida, atraente, dinâmica. Já as mulheres não parecem gostar tanto de mim. Tenho muita energia, sou assertiva e vou direto ao ponto! Gosto de dançar. Na base militar em que resido com meu marido, participo de festas enquanto ele está em missão externa... Não me agrada ficar escondida e entocada enquanto todos se divertem. Escolho os homens que convido para dançar – mesmo se forem casados! Acho que as esposas não gostam muito. Mas o que posso fazer? Essas mulheres recatadas me tiram do sério. Sou direta, honesta, falo o que penso. Elas pensam, às vezes, que sou grosseira, mas quem se importa? Eu é que não, com toda certeza!”. Pessoas com Sol ou ascendente em Áries ou com Marte angular são atraídas por climas bélicos e batalhas. Brigas domésticas são comuns depois de um evento social como o que a mulher de Áries descreveu acima. “Como você se atreveu a dançar com ela quando eu, sua mulher, estava lá sentada? Estou furiosa...” Ela diz coisas, ele retruca, e os vizinhos chamam a polícia. Às vezes, ele acaba atrás das grades. Viver uma vida de paixões, instintos e desejos pode ser excitante: Áries sai para defender o rei, retorna e a paixão em casa se inflama novamente. A energia explode e se expande, como flores desabrochando na primavera. Mas há, com frequência, um descontrole da energia. Em termos históricos, mulheres com Sol ou ascendente em Áries tinham poucas possibilidades de desenvolvimento profissional para dar vazão a seu espírito competitivo e apaixonado, de modo que seu Marte era vivido estritamente em ambiente doméstico. Marte se arriscava, portanto, através da carreira do marido, em geral um homem bonitão, em um cargo de alto risco. O primeiro casamento dessas mulheres é, com frequência, com um soldado, um policial, um atleta ou jogador profissional. Há um caso de uma mulher de Áries que se casou com dois bombeiros, um após o outro! Foi a maneira que encontrou para dar vazão à sua energia, à sua necessidade de estímulo e de descobrir a própria carreira. A exploração interior por meio da psicologia junguiana, do I Ching e da metaf ísica foi um incentivo para que ela avançasse na jornada de vida que a heroina de Áries requer. Áries precisa ir em frente, não ficar parado ou recuar. Áries e Marte fazendo aspecto com Mercúrio pode dotar o nativo de bons reflexos e destreza. Minhas três últimas costureiras eram arianas autônomas e muito rápidas e precisas no uso de objetos de metal, como tesouras e agulhas. As três eram um tanto impulsivas, ansiosas e inquietas, em constante busca por novos horizontes. Eram muito detalhistas e rápidas nas entregas. Encontramos 29

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homens e mulheres de Áries com aspectos positivos entre Marte e Mercúrio em funções que exigem habilidade com ferramentas e também em esportes que requerem reflexos rápidos. Quando ficam mais velhos, podem ensinar sua perícia a gerações mais jovens de esportistas, alfaiates, marceneiros ou esteticistas. Desse modo, dizemos que indivíduos com Sol ou ascendente em Áries ou com Marte angular estão sintonizados, dispostos por Marte, o regente instintivo. Mas o que diferencia Áries espiritual ou esotérico de Áries mundano, instintivo? Em nível esotérico, Áries começa a trabalhar de forma consciente com Mercúrio, seu regente espiritual. Na mitologia grega, sobretudo nas obras épicas de Homero, a função de pensador e conselheiro exercida por Mercúrio como sábio Deus Mensageiro era desempenhada por Hermes ou Atena, dois símbolos quase intercambiáveis do Logos. Zeus os enviava para auxiliar o herói em tempos de necessidade. Com Hermes e Atena, Áries pode se tornar o Buscador Consciente e desenvolver a disciplina e o intelecto necessários para controlar seu irrequieto e explosivo Marte. Hermes ou Atena conhecem os usos apropriados da energia de Marte. São capazes de se distanciar da experiência imediata e da raiva espontânea e refletirem: esta emoção é construtiva ou destrutiva? Estou direcionando minha raiva à pessoa certa? No momento certo? Nos Upanishads e no Bhagavad Gita, a Carruagem Solar e seus cavalos referem-se à procura interior do Buscador – o controle dos irrequietos sentidos (cavalos) através da mente. Na astrologia, Mercúrio/Hermes, o planeta mental ou Logos, é o cocheiro, o herói que segura as rédeas dos cavalos. A energia de Áries foi representada em diversas esculturas gregas e romanas por um cordeiro inocente e manso. Hermes, o bom pastor, era o protetor do cordeiro, o guia dos instintos do impetuoso carneiro. Se a mente prudente, Mercúrio/Hermes, fosse seguida, o carneiro seria salvo. É esse o significado da bela estátua de Hermes carregando um carneiro, do Museu da Acrópole de Atenas, das estátuas romanas do cordeiro dormindo enrolado aos pés de Hermes e de muitas colunas com o mesmo motivo em toda a Grécia continental e em Éfeso, na Turquia. Os instintos precisam da função pensamento – Hermes/Mercúrio – para refrear os selvagens cavalos de Diomedes. Pessoas com Sol ou ascendente em Áries ou Marte angular, ao filtrar as emoções de Marte, podem se tornar cientistas e pesquisadoras depois de passar anos na Academia. Se isso ocorrer, é provável que sua parte animal e instintiva se manifeste em sonhos e lhes revele algumas coisas. Ao contrário do homem esportista de Áries, que está em contato com seu corpo e confia na informação que Marte emite através dele, o erudito de Áries talvez reprima Marte a ponto de levar uma 30

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vida sem paixão e sem graça, de sentir falta de energia (Marte rege a adrenalina), de perder o impulso sexual ou mesmo o interesse por seu projeto. Ou o preocupado acadêmico ariano pode chegar a bater a cabeça (a parte do corpo regida por Áries) como um aviso. Há uma história sobre Atena jogando pedras contra a cabeça de Áries. Ela provavelmente estava tentando lhe dizer: “Acorde! Esteja consciente do que faz!”. Atena não é uma deusa fria. Como Nike, é a deusa da Vitória e protetora da cidade de Atenas. Homero, na Ilíada, a chama de “Atena dos olhos cintilantes”, e ela certamente reluziu seus olhos para Aquiles na véspera da batalha, quando a situação suplicou pelo aparecimento do herói. Aquiles estava prestes a desembainhar a espada e matar o rei Agamenão quando, subitamente, Atena apareceu. Homero nos diz: “Ele estava absorvido por seu conflito interior, com sua longa espada parcialmente desembainhada, quando Atena desceu do céu... Ela se pôs atrás dele e segurou-lhe os cabelos dourados. Ninguém mais além de Aquiles percebia a presença dela; os demais nada viam. Ele moveu-se de cá para lá com admiração, reconheceu Palas Atena imediatamente – tão terrível era o brilho de seu olhar – e dirigiu-lhe a palavra com ousadia: ‘E por que vieste aqui, ó Filha de Zeus? É para testemunhar a arrogância do meu Senhor Agamenão? Digo-lhe com toda a franqueza, e não faço ameaças frívolas, que ele há de pagar seu ultraje com a vida!’. ‘Vim do céu’, retorquiu Atena dos Olhos Cintilantes, ‘com a esperança de reconduzir-te ao teu bom senso... Vamos, desiste dessa luta e retira tua mão da espada... Eis uma profecia para ti. Chegará o dia em que dádivas três vezes mais valiosas do que as agora perdidas serão depositadas a teus pés por esta afronta. Contém tua mão, portanto, e fica por nós admoestado!’ ‘Senhora’, respondeu Aquiles, o grande corredor, ‘Quando deusas ordenam, o homem deve obedecer, não importa o quanto tomado pela ira ele possa estar. Melhor para ele se assim o fizer; o homem que dá ouvidos aos deuses é por eles ouvido!’” (Ilíada, Livro I)

Dar ouvidos ao intelecto (Mercúrio ou Atena) e a Deus é importante para um herói impetuoso como Aquiles e para os que pertencem ao arquétipo heroico de Áries. Embora sua ira se justificasse, pois o rei Agamenão não agira com justiça, sua recompensa seria imediata. Ele devia esperar. Ouvir e esperar são coisas muito dif íceis para qualquer pessoa com Marte vigoroso. 31

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