O clã das mulheres Weyward

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O CLÃ DAS MULHERES WEYWARD

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O CLÃ DAS MULHERES WEYWARD

A Magia e o Poder Feminino em uma Saga de Cinco Séculos

Romance

Tradução

Denise de Carvalho Rocha

HART
EMILIA
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Título do original: Weyward – A Novel.

Copyright © 2023 Emilia Hart Limited.

Copyright da edição brasileira © 2023 Editora Pensamento-Cultrix Ltda. 1a edição 2023.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou artigos de revistas.

A Editora Jangada não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados neste livro.

Esta é uma obra de ficção. Todos os personagens, organizações e acontecimentos retratados neste romance são produtos da imaginação do autor e usados de modo fictício.

On Lies, Secrets, and Silence: Selected Prose 1966-1978, de Adrienne Rich, W.W. Norton & Company, Inc.

The Collected Poems, de Sylvia Plath, HarperCollins Publishers. Obs.: Este livro não pode ser exportado para Portugal.

Editor: Adilson Silva Ramachandra

Gerente editorial: Roseli de S. Ferraz

Gerente de produção editorial: Indiara Faria Kayo

Editoração eletrônica: Join Bureau

Revisão: Vivian Miwa Matsushita

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hart, Emilia

O clã das mulheres Weyward: a magia e o poder feminino em uma saga de cinco séculos / Emilia Hart; tradução Denise de Carvalho Rocha. – São Paulo: Editora Jangada, 2023.

Título original: Weyward: a novel ISBN 978-65-5622-063-5

23-155438

Índices para catálogo sistemático:

1. Romances: Literatura inglesa 823

Eliane de Freitas Leite – Bibliotecária – CRB 8/8415

Jangada é um selo editorial da Pensamento-Cultrix Ltda. Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a propriedade literária desta tradução.

CDD-823

Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270-000 — São Paulo, SP — Fone: (11) 2066-9000 http://www.editorajangada.com.br

E-mail: atendimento@editorajangada.com.br

Foi feito o depósito legal.

1. Romance inglês I. Título.
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Para a minha família

As Irmãs Weyward, mãos unidas, Viajam por terra e por mar Giram e giram assim: Três para ti, três para mim, E outras três para nove. O encanto se encerra, por fim. – Macbeth

A palavra Weyward (com o sentido de “rebeldes”, “incontroláveis”) é usada no Primeiro Fólio de Macbeth. Em versões posteriores, essa palavra foi substituída por Weird (“Estranhas”).

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Parte Um

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Prólogo Altha 1619

urante dez dias eles me mantiveram presa ali. Dez dias com o fedor da minha própria carne como única companhia. Nem sequer um rato me agraciou com a sua presença. Não havia nada que pudesse atraí-lo; não me trouxeram comida. Apenas cerveja.

Passos. Depois, o rangido de metal contra metal quando o ferrolho foi puxado para trás. A luz ofuscou meus olhos. Por um instante, os homens no umbral da porta tremeluziram como se não fossem deste mundo e estivessem ali para me levar dele.

Os homens do promotor.

Tinham vindo para me levar ao julgamento.

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Capítulo Um KATE 2019

ate está olhando no espelho quando ouve.

A chave, entrando na fechadura.

Os dedos tremem quando se apressa para retocar a maquiagem, fios pretos de rímel como pernas de aranha sobre as pálpebras inferiores.

Sob a luz amarelada, ela observa a própria pulsação disparar na garganta, debaixo do colar que ele lhe deu no último aniversário. A corrente é prateada e grossa, fria contra a sua pele. Ela não o usa durante o dia, quando ele está no trabalho.

A porta da frente se fecha. Os sapatos dele golpeando as tábuas do assoalho. O vinho gorgolejando numa taça.

O pânico se agita dentro dela como um pássaro. Ela respira fundo e toca a cicatriz no braço esquerdo. Sorri uma última vez para o espelho do banheiro. Não pode deixá-lo perceber que algo mudou. Que alguma coisa não vai bem.

Simon está apoiado no balcão da cozinha, com a taça de vinho na mão. O coração dela acelera com a visão. A silhueta de linhas longas e escuras no terno, as maçãs do rosto angulosas, o cabelo dourado.

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Ele a observa caminhar em sua direção usando o vestido que ela sabe que ele gosta.

O tecido esticado, justo nos quadris. Vermelho. Da mesma cor que a calcinha. Renda com lacinhos. Como se a própria Kate fosse algo para ser desembrulhado, rasgado.

Ela procura algum sinal. A gravata não está mais no pescoço, três botões da camisa estão abertos, revelando os pelos finos e encaracolados. O branco dos olhos com um tom avermelhado. Ele lhe estende uma taça de vinho e ela sente o álcool no hálito dele, doce e pungente. O suor escorre pelas costas dela, debaixo dos braços.

O vinho é Chardonnay, o favorito dela. Mas agora o cheiro revira seu estômago e a faz pensar em podridão. Ela leva a taça aos lábios, sem beber.

– Oi, gato! – cumprimenta com a voz animada, modulada apenas para ele. – Como foi o trabalho?

Mas as palavras ficam presas na garganta.

Os olhos dele se estreitam. Apesar do álcool, Simon se move rápido; enterra os dedos na carne macia do braço dela.

– Por onde andou hoje?

Kate sabe que não deve tentar se desvencilhar, embora seja esse o anseio de todas as células do seu corpo. Em vez disso, ela pousa a mão no peito dele.

– Lugar nenhum – Kate diz, tentando manter a voz firme. – Fiquei em casa o dia todo. – Ela tivera o cuidado de deixar o iPhone em casa ao ir à farmácia e de levar apenas dinheiro. Ela sorri e se inclina para beijá-lo.

O rosto de Simon está áspero com a barba por fazer. Um outro cheiro se mistura ao álcool, algo inebriante e floral. Perfume, talvez. Não seria a primeira vez. Uma pequena chama de esperança surge em seu íntimo. Poderia ser uma vantagem para ela, se houvesse outra mulher.

Mas Kate calculou mal. Ele se afasta dela e de repente...

– Mentirosa!

Ela mal ouve a palavra quando a mão de Simon estala em sua bochecha, a dor atordoante como uma luz intensa. De canto de olho, ela vê

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as cores da sala deslizando juntas: as tábuas caramelo do assoalho, o sofá de couro branco, o caleidoscópio do horizonte londrino na janela.

Um estouro distante de algo se estilhaçando: ela deixou cair a taça de vinho.

Kate agarra o balcão, a respiração sai em rajadas irregulares, o sangue pulsando na bochecha. Simon já está vestindo o casaco, pegando as chaves na mesa de jantar.

– Fique aqui! Eu vou saber se você não ficar.

Os sapatos dele ecoam pelas tábuas do assoalho. A porta bate. Ela não se mexe até ouvir o elevador descendo.

Ele se foi.

O chão brilha com os cacos de vidro. O cheiro do vinho paira rançoso no ar.

Um gosto metálico na boca a faz voltar a si. O lábio está sangrando, pressionado contra os dentes pela força da mão dele.

Uma frase se acende em seu cérebro. Eu vou saber se você não ficar.

Não havia bastado deixar o celular em casa. Simon tinha encontrado outra maneira. Outro jeito de localizá-la. Ela se lembra do porteiro olhando para ela no saguão; Simon teria lhe oferecido um maço de notas para espioná-la? Seu sangue congela com a ideia.

Se ele descobrir aonde ela foi hoje cedo e o que fez, quem sabe o que mais seria capaz de fazer. Instalar câmeras, tirar dela as chaves do apartamento.

E todos os planos dela seriam em vão. Ela nunca conseguiria sair dali. Mas não. Ela já está preparada, não está?

Se sair agora, deve chegar lá pela manhã. A viagem de carro demora cerca de sete horas. Ela tinha planejado tudo cuidadosamente, usando seu outro celular, aquele do qual Simon não tem conhecimento. Ela traça com o dedo a linha azul na tela, que atravessa o país em zigue-zague como uma fita. Ela praticamente memorizou o trajeto.

Sim, ela vai agora. Tem que ir agora. Antes que ele volte, antes que ela perca a coragem.

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Kate tira o Motorola do esconderijo, um envelope colado à parte de trás da sua mesa de cabeceira. Pega uma mochila na prateleira superior do guarda-roupa e a enche de roupas. No banheiro, recolhe os artigos de higiene pessoal e a caixa que escondeu nesse mesmo dia.

Depressa, troca o vestido vermelho por um jeans escuro e uma camiseta rosa justa. Os dedos tremem quando ela abre o colar. Ela o deixa sobre a cama, enrolado como uma corda, ao lado do iPhone de capinha dourada: aquele que Simon paga, sabe a senha de acesso e pode localizá-la.

Ela vasculha a caixa de joias na mesa de cabeceira, pega o broche dourado em forma de abelha que tem desde a infância. Guarda-o no bolso e faz uma pausa, olhando ao redor: o edredom e as cortinas de cor marfim, os ângulos retos dos móveis em estilo escandinavo. Deveria haver outras coisas para ela pôr na bagagem, não deveria? Ela tinha uma infinidade de coisas, ou costumava ter: pilhas e pilhas de livros lidos e relidos, gravuras de arte, canecas. Agora, tudo pertence a ele.

No elevador, a adrenalina crepita em seu sangue. E se ele voltar e interceptá-la quando ela estiver saindo? Ela aperta o botão para a garagem no subsolo, mas o elevador para no térreo e as portas se abrem. Seu coração bate forte. O porteiro está de costas para ela, conversando com outro morador. Com a respiração presa, Kate se encolhe no fundo do elevador e só volta a respirar quando ninguém mais aparece e as portas se fecham.

Na garagem, ela destranca a porta do Honda, que comprou antes de se conhecerem e está registrado no nome dela. Ele certamente não pode pedir à polícia que emita um alerta se ela estiver dirigindo seu próprio carro, pode? Ela já assistiu a séries policiais suficientes.

Ela partiu por vontade própria, dirá a polícia.

Vontade é uma palavra bonita. Faz com que ela pense em voar.

Ela vira a chave na ignição e digita o endereço da tia-avó no Google Maps. Há meses Kate repete as palavras mentalmente como se fossem um mantra.

Chalé Weyward, Crows Beck. Cumbria.

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Capítulo Dois

Violet 1942

iolet odiava Graham. Ela o odiava com todas as forças. Por que ele podia passar o dia estudando coisas interessantes, como Ciências, Latim e alguém chamado Pitágoras, enquanto ela tinha que se contentar em espetar agulhas numa tela? O pior de tudo, ela refletiu enquanto sentia a saia de lã lhe causando uma comichão nas pernas, é que ele podia fazer tudo isso usando calças.

Ela desceu correndo a escada principal procurando fazer o mínimo de barulho para evitar a ira do Pai, que via com total desaprovação o exercício físico feminino (e, como parecia muitas vezes, a própria Violet). Abafou uma risadinha ao ouvir Graham arfando atrás dela. Mesmo com suas roupas sufocantes, ela conseguia, sem dificuldade, correr mais rápido do que o irmão.

E pensar que ainda na noite anterior ele tinha se gabado de querer ir para a guerra! Era mais fácil um porco voar. De qualquer modo, ele só tinha 15 anos (um ano a menos que Violet) e, portanto, era jovem demais. Com certeza era melhor assim. Quase todos os homens da aldeia tinham ido para a guerra e metade deles havia morrido (ou pelo menos era o que Violet ouvira dizer), tal como o mordomo, o criado e o aprendiz

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de jardineiro. Além disso, Graham era irmão dela. Ela não queria que ele morresse. Pelo menos achava que não.

– Me devolva isso! – sibilou Graham.

Ao se virar, ela viu que o rosto redondo do irmão estava vermelho de esforço e fúria. Ele estava zangado porque ela tinha roubado seu livro de exercícios de Latim e o acusado de declinar todos os substantivos femininos de maneira incorreta.

– Não devolvo! – ela sibilou de volta, apertando o livro contra o peito. – Você não merece. Você escreveu amor em vez de arbor, pelo amor de Deus!

Nos últimos degraus da escada, ela fez uma careta para um dos muitos retratos do Pai pendurados no corredor, depois virou à esquerda, serpenteando pelos corredores revestidos de painéis de madeira, até irromper na cozinha.

– Que andam tramando vocês dois? – bradou a sra. Kirkby, com um cutelo numa mão e a carcaça perolada de um coelho na outra. – Podiam ter me feito cortar o dedo!

– Desculpe! – Violet gritou enquanto abria as portas francesas, com Graham ofegante atrás dela.

Os dois correram pela horta da cozinha, inebriados com o cheiro de hortelã e alecrim, e chegaram ao lugar que ela mais adorava no mundo: o campo aberto. Violet se virou e sorriu para Graham. Agora que estavam ao ar livre, o irmão não tinha nenhuma chance de alcançá-la se ela não quisesse. Ele abriu a boca e espirrou. Tinha alergia a pólen.

– Pobrezinho... Precisa de um lenço?

– Cala a boca! – disse ele, estendendo o braço para pegar o livro. Ela desviou sem dificuldade. Graham ficou ali parado por alguns segundos, ofegante. O dia estava muito quente: uma camada diáfana de nuvens impedia o calor de se dispersar e deixava o clima abafado. O suor escorria das axilas de Violet e a saia pinicava como nunca, mas ela já não se importava.

Tinha chegado à sua árvore especial: uma faia prateada que Dinsdale, o jardineiro, dizia ter centenas de anos. Violet podia ouvir a vida zumbido debaixo dela: os gorgulhos em busca de seiva fresca; as

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joaninhas tremulando sobre as folhas; as libélulas, mariposas e tentilhões esvoaçando por entre os galhos. Ela estendeu a mão e uma donzelinha veio descansar em sua palma, as asas brilhando ao sol. Um calor dourado se espalhou dentro dela.

– Credo! – exclamou Graham, depois de finalmente alcançá-la. – Como pode deixar essa coisa tocar em você assim? Esmague!

– Não vou esmagá-la, Graham – respondeu Violet. – Ela tem tanto direito de existir quanto você e eu. E olhe que bonita ela é! As asas parecem cristais, não acha?

– Você não é... normal – disse Graham, se afastando. – Com essa sua obsessão por insetos. Nosso Pai também acha que não é.

– Não me importo nem um pouco com o que nosso Pai acha – mentiu Violet. – E com certeza não me importo com o que você acha, embora, a julgar pelo seu livro de exercícios, você devesse passar menos tempo pensando na minha obsessão por insetos e mais tempo pensando nos seus exercícios de Latim.

Ele se precipitou na direção da irmã, com as narinas dilatadas. Antes que chegasse a cinco passos dela, Violet atirou o livro nele, com um pouco mais de força do que pretendia, e içou-se para cima da árvore.

Graham soltou um palavrão e voltou para a mansão, resmungando. Ela sentiu uma pontada de culpa enquanto observava a retirada furiosa do irmão. As coisas nem sempre tinham sido assim entre eles. Um tempo atrás, Graham costumava andar atrás dela como uma sombra. Violet se lembrava da época em que ele costumava se esgueirar até a cama dela, no quarto das crianças, para fugir de um pesadelo ou de uma trovoada, espremendo-se contra a irmã até que sua respiração ficasse ruidosa nos ouvidos dela. Os dois tinham feito todo tipo de estripulia: corriam pelas campinas até que os joelhos estivessem pretos de lama, maravilhando-se com os peixinhos prateados minúsculos do riacho, o palpitar do peito-vermelho de um tordo.

Até aquele dia terrível de verão, não muito diferente do atual, aliás, com a mesma luminosidade cor de mel banhando as colinas e árvores.

Ela se lembrou dos dois deitados na relva atrás da faia, sentindo o aroma

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dos cardos e dos dentes-de-leão. Ela tinha 8 anos, Graham apenas 7. Havia abelhas em algum lugar, chamando por ela, quase acenando. Ela tinha perambulado até a árvore e encontrado a colmeia, pendurada num galho como uma pepita de ouro. As abelhas cintilavam, voando em círculos. Ela se aproximou mais, estendeu os braços e sorriu ao senti-las pousar, as cócegas das suas perninhas contra a pele.

Ela tinha se virado para Graham, rindo da expressão de perplexidade no rosto do irmão.

– Posso tentar também? – ele perguntou, com os olhos arregalados. Ela não sabia o que iria acontecer, Violet confessou entre soluços ao Pai depois, quando a bengala dele voou na direção dela. Ela não ouviu o que ele disse, não viu a fúria sombria em seu rosto. Via apenas Graham chorando, com os braços cheios de picadas vermelhas, enquanto a babá Metcalfe o levava para dentro. A bengala do Pai fez um corte na palma da mão dela, mas Violet sentiu que era menos do que ela merecia.

Depois daquilo, o Pai mandou Graham para um colégio interno. Agora ele só vinha para casa nas férias e, para ela, o irmão parecia cada vez menos familiar. Lá no fundo, Violet sabia que não devia provocá-lo tanto. Só fazia isso porque, por mais que não conseguisse perdoar a si mesma pelo dia das abelhas, não conseguia perdoar Graham também. Ele a tornara diferente.

Violet afastou a lembrança e olhou para o relógio de pulso. Eram apenas três horas da tarde. Ela havia terminado as lições do dia – ou melhor, a srta. Poole, a governanta que lhe servia de professora particular, havia admitido a derrota. Esperando que não sentissem a falta dela por pelo menos mais uma hora, Violet subiu num galho mais alto, desfrutando da calidez áspera do tronco sob as palmas das mãos.

Numa fenda entre dois galhos, ela encontrou a semente peluda de uma noz de faia. Era perfeita para a sua coleção; o parapeito da janela do quarto dela estava coberto de tesouros parecidos: a espiral dourada da concha de um caracol, os restos de seda do casulo de uma borboleta. Sorrindo, ela guardou a noz no bolso da saia e continuou escalando a árvore.

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