O culpado

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FILOBATAILLE

GEORGES BATAILLE O culpado

“O homem é culpado: ele o é na medida em que se opõe à natureza. A humildade que o faz pedir perdão (o cristianismo) o mortifica sem inocentá-lo. O benefício do cristianismo é, ao menos, o de agravar a culpa que denuncia... O único meio de atingir a inocência é se estabelecer resolutamente no crime: o homem põe a natureza em questão fisicamente – na dialética do riso, do amor, do êxtase (este último considerado como um estado físico).

GEORGES BATAILLE (1897-1962) é considerado hoje um dos maiores pensadores do século XX. Próximo do surrealismo, produziu uma extensa obra, que transita por vários domínios – literatura, filosofia, antropologia, economia, sociologia, história da arte – sem se restringir a nenhum deles. O erotismo, a transgressão e o sagrado foram suas grandes obsessões. Entre seus livros mais conhecidos estão, além dos três volumes da Suma ateológica, O erotismo, A literatura e o mal, Teoria da religião e A parte maldita. O TRADUTOR: Fernando Scheibe é doutor em Teoria Literária e tradutor. Traduziu, entre outros autores, César Aira, Stéphane Mallarmé, Mœbius, Raymond Roussel, Michel Foucault, Arlette Farge, Georges Didi-Huberman, Marcel Detienne, Catherine Malabou e, sobretudo, Georges Bataille.

Hoje em dia, tudo se simplifica: o espírito não tem mais o seu papel de oposição, não é mais, no final, que um servidor, o servidor da natureza. E tudo tem lugar num mesmo plano. Posso inocentar o riso, o amor, o êxtase..., ainda que o riso, o amor, o êxtase... sejam pecados contra o espírito. Eles dilaceram fisicamente a physis, que o espírito abençoava mortificando o homem. O espírito era o medo da natureza. A autonomia de um homem é física.”

GEORGES

BATAILLE O culpado

Le coupable – o culpado, mas também “o cortável” – foi o recorte publicado de uma espécie de diário iniciado por Bataille em 1939. Depois da morte de Laure (Colette Peignot, sua amante, que parece ter mergulhado mais fundo que o próprio Bataille nos abismos do erotismo), desfeita a comunidade secreta Acéphale (que buscava dar corpo a um sagrado sem Deus) e declarada a guerra, o “bibliotecário devasso” se joga de cabeça na escrita, enquanto perambula pela França ocupada.

seguido de

A aleluia

Num tête-à-tête rigoroso e alucinado com a ausência de Deus, Bataille abre, ora às apalpadelas, ora a facão, um caminho novo para o pensamento, um para-alémda-filosofia que busca estar à altura da noite do não-saber. Ao republicar o livro em 1961, já como segundo volume da Suma ateológica, Bataille acrescenta um texto de 1947, A aleluia, verdadeiro catecismo do erotismo escrito para aquela que viria a ser sua segunda esposa, Diane Kotchoubey.

Leia também: Suma ateológica – Vol. 1 A experiência interior

www.autenticaeditora.com.br

9 788582 178515

SUMA ATEOLÓGICA – VOL. II

Tradução, apresentação e organização

Fernando Scheibe

A presente edição, baseada no tomo V das Obras completas do autor, restitui, através de notas, os trechos do diário que haviam sido suprimidos. Os dois outros volumes da Suma ateológica – A experiência interior e Sobre Nietzsche – também estão sendo publicados pela Autêntica Editora.


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