Confissões

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delicadas. Acho que eu queria aprender com a vida dele – mas só com a segunda metade. Entendo a impressão que ele causa em alguns de vocês, e isso me faz pensar que talvez eu não tenha sido muito boa em alguns aspectos, principalmente se me compararem a alguém dedicado como ele. Como eu disse antes, ao me tornar professora, quis dar o melhor de mim no trabalho, sempre. Se um aluno ou uma aluna tinha algum problema, eu deixava de lado o plano de aula e tentava fazer toda a turma resolver aquele problema. Se alguém saía da sala, mesmo que fosse no meio da aula, eu ia atrás. Um dia percebi que ninguém é perfeito – pelo menos, eu não era. E quando a gente fala alguma coisa para um jovem, com toda a autoridade de uma professora, corremos o risco de aumentar o problema. Comecei a achar que era muito comodista e imprudente impor minhas opiniões aos alunos. Por fim, comecei a me culpar por talvez ser arrogante com as pessoas que eu deveria respeitar e tentar ajudar. Então, depois da minha licença, quando comecei a trabalhar aqui na Escola S., estabeleci duas regras básicas para mim mesma: primeiro, resolvi que sempre trataria meus alunos educadamente e usaria Sr. e Srta. antes dos nomes; segundo, eu os trataria como iguais. Parecem coisinhas pequenas, mas vocês ficariam surpresos se vissem como muitos alunos perceberam na mesma hora. Você quer saber o que eles perceberam? Acho que descobriram a sensação de serem tratados com respeito. Ouvimos tanta gente falar de famílias abusivas que corremos o risco de achar que todas as crianças são maltratadas em casa. Mas a verdade é que a maioria das crianças hoje em dia é paparicada e mimada. Os pais imploram e só faltam ajoelhar para que os filhos estudem, comam ou o que for. Talvez por isso os filhos demonstrem tão pouco respeito pelos pais e falem com os adultos no mesmo tom que usam para conversar com os colegas. E muitos professores entram no jogo – acham uma honra ganhar um apelido ou serem tratados de maneira informal pelos alunos na sala de aula. Afinal, é isso que veem na televisão, em todos aqueles programas sobre professores descolados que são “amigões” dos alunos. Vocês sabem muito bem do que estou falando – um professor popular tem problema com uma turma, mas do meio do conflito surge uma relação de profunda confiança. E quando sobem os créditos finais, o resto da escola e as outras turmas do professor desaparecem, como se ele 11


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