1968 - Quando a Terra tremeu

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toda parte. Nunca pedi carteira de posição ideológica a qualquer pessoa com que tenha conversado em relação à Frente Ampla.” Lacerda ressaltava que todas as perguntas feitas faziam-no remontar, “melancolicamente”, a mais de trinta anos passados, quando, a pretexto de combater o comunismo, se implantou o fascismo no Brasil: “Na preparação fascista se tachavam de comunista todas as ideias que não se conformavam com a falta de ideias reinante. Tenho menos receio dos comunistas dentro da lei do que dos anticomunistas fora da lei.” Questionado se o depoimento prestado representava as razões de ter discordado da orientação do governo revolucionário, Lacerda respondeu: “Evidentemente que não. O movimento militar de 64 justificouse pela necessidade de preservar a ordem e de assegurar a realização de eleições livres e diretas para que o Brasil fosse governado pela maioria dos seus eleitores. As Forças Armadas, cumprindo seu destino histórico, entregariam ao povo a decisão final. O Exército, ao contrário disso, transformou-se em partido político único que, para evitar o povo, teve de se aliar às oligarquias políticas que pretendia suprimir. Tudo isso, usando e abusando de expressões como ‘segurança nacional’.” E completou: “A um povo sem pão se procura impor o hábito de viver sem liberdade”. Ao fim do interrogatório, feito pelo delegado Darcy Araújo e tendo como testemunha os majores da PM Neyson Rebouças e Paulo Magalhães, Lacerda esclareceu que pretendia continuar a sua “pregação” com a esperança de que um dia “a imensa maioria das Forças Armadas compreenderia o seu sentido”. Dois coronéis do SNI acompanharam o depoimento de Lacerda, que foi transformado em documento, com uma cópia levada por eles ao Palácio Laranjeiras, para o conhecimento de Costa e Silva. Depois de muitas pressões sobre o governo, no dia 22 de dezembro, às vésperas do Natal, Carlos Lacerda foi libertado. Porém, no dia 30, DEZEMBRO | 289


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