O futebol é delas: cartilha pedagógica

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PEDAGÓGICA

CARTILHA PEDAGÓGICA

TEBOL O FUTEBOL

ELASÉ DELAS

acher de Figueiredo e colaboradoras/es Mariana Zuaneti Martins, Maria Eduarda Erlacher de Figueiredo e colaboradoras/es



CARTILHA PEDAGÓGICA

O FUTEBOL É DELAS Mariana Zuaneti Martins Maria Eduarda Erlacher de Figueiredo Gabriela Borel Delarmelina Wesly Otoni Ferreira Bruna Saurin Silva Samara Ventureli Furtado Vinnicius Camargo de Souza Laurindo Hanele Ribeiro Covre Mateus Silva Jeanio Pelissari Endlich


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Martins, Mariana Zuaneti O futebol é delas : cartilha pedagógica / Mariana Zuaneti Martins, Maria Eduarda Erlacher de Figueiredo. -- 1. ed. -- Vitória : GRAFITUSA, 2020. Vários colaboradores ISBN 978-65-87280-01-1 1. Atletas - Brasil 2. Esporte 3. Futebol Aspectos sociais 4. Futebol feminino I. Figueiredo, Maria Eduarda Erlacher de. II. Título. 20-36961

CDD-796.334082 Índices para catálogo sistemático:

1. Futebol feminino : Esportes

796.334082

Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964


APRESENTAÇÃO

Produzimos esse material para contribuir com o processo de inclusão, mobilização e empoderamento de garotas para a prática do futebol! De antemão, adiantamos algumas notas explicativas sobre o conteúdo: Quando falamos de meninas, de maneira alguma queremos dizer que há alguma determinação biológica ou cultural que impute a todas as meninas a dificuldade de participação nessa modalidade esportiva. Pelo contrário, são construções culturais que são permanentemente tensionadas e que podem ser transformadas e transgredidas. Existem muitas meninas que praticam o futebol e que podem ser protagonistas no processo de mobilização de outras. É importante estarmos atentas/os e conferirmos visibilidade a elas. Sem dúvida, não são apenas meninas que não se mobilizam para as aulas de futebol. Boa parte das nossas sugestões abrangem todas aquelas pessoas que, porventura, não se sentem mobilizadas para tal modalidade esportiva. Quando falamos de futebol, estamos nos referindo à linguagem cultural dessa modalidade esportiva que nos cerca e com a qual nos deparamos cotidianamente. Evidente que, na escola, quando falamos do jogo de bola com os pés realizados em quadra nos aproximamos do futsal. Todavia, optamos por nos referirmos ao futebol devido ao seu apelo cultural. E, embora estejamos falando de futebol, nossas sugestões aplicam-se a distintas modalidades esportivas, sobretudo, as de invasão. Nosso objetivo aqui é promover o empoderamento das garotas para o futebol! Lembrando que empoderamento não é algo que é outorgado ou definido por outrem. Não bastam apenas atividades inclusivas. Trata-se também de informação e mobilização para a transformação. Portanto, é uma questão de conhecimento, mas sobretudo de atitude. Perceber que as garotas podem fazer e jogar, mesmo que ainda não tenham tido muita oportunidade de experimentar, envolve informá-las de maneira crítica sobre essas desigualdades. O engajamento frente a uma mudança implica acreditar e, acima de tudo, tentar, se arriscar e desafiar a corriqueira e cotidiana fronteira das masculinidades no esporte, produzindo outras gramáticas femininas e masculinas no futebol.


SUMÁRIO

1 - ENCHENDO A ESCOLA DE PIPPIS MEIA-LONGA, LEILAS-MENINAS, ELZAS; VALENTES; MOANAS...

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2 - O ABC DO ENSINO DO ESPORTE E DO FUTEBOL

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3 - RUMO A GRAMÁTICAS ESPORTIVAS PLURAIS

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4 - AS MENINAS ESTÃO APRENDENDO A JOGAR NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA?

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5 - ENSINANDO FUTEBOL PARA TODAS: PRODUZINDO O PROTAGONISMO DAS ALUNAS E DOS ALUNOS NAS AULAS E NOS JOGOS DE FUTEBOL.

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6 - ENSINANDO BEM A JOGAR FUTEBOL: JOGANDO PARA APRENDER FUTEBOL

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7 - ENSINANDO MAIS QUE O (JOGAR) FUTEBOL: O REFERENCIAL HISTÓRICO CULTURAL

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8 - ENSINANDO A JOGAR JUNTOS/AS O FUTEBOL: COOPERAÇÃO E CO-EDUCAÇÃO

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9 - ORGANIZANDO O FUTEBOL EM UMA UNIDADE DIDÁTICA COM O MODELO DE EDUCAÇÃO ESPORTIVA

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10 - ENSINANDO O FUTEBOL PARA JOGAR FORA DA AULA: RECRIANDO O RECREIO

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1 - ENCHENDO A ESCOLA DE PIPPIS MEIA-LONGA, LEILAS-MENINAS, ELZAS; VALENTES; MOANAS...

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pelas mulheres para prática, se nota a presença marcante de atividades vinculadas ao fitness, na adolescência (cerca de 40% das que praticamente optam por academia), e da caminhada, para as mulheres adultas (acima de 25 anos) (PNUD, 2017, p. 115-116). É notório o afastamento de modalidades esportivas no caso das mulheres. Ademais, o relatório “Movimento é vida”, da ONU, também aponta como alarmante o fato de as jovens brasileiras declararem não praticarem esporte em função de não gostar ou não querer, o que poderia indicar uma ausência de valoração positiva nessa prática ao longo, sobretudo, de suas vidas escolares.

Figura 1. Chances e oportunidades de participação esportiva

Menor Chance Mulheres sem instrução PCD c/ renda c/ renda domiciliar per capita < ½ salário mínimo Mulheres c/ renda domiciliar per capita até ½ salário mínimo Chance de Participação nas AFES

Mulheres negras PCD c/renda domiciliar per capita > 5 salários mínimos Mulheres brancas Mulheres c/ ensino médio Média da População Homens negros Homens brancos Homens c/ ensino médio Entre 15-17 anos c/ renda domiciliar per capita até ½ salário mínimo Mulheres c/ ensino superior Pessoas c/ 60 anos e renda domiciliar per capita > 5 salários mínimos Mulheres c/ renda domiciliar per capita > 5 salários mínimos Homens c/ renda domiciliar per capita > 5 salários mínimos Pessoas entre 15-17 anos c/ renda domiciliar per capita > 5 salários mínimos Maior Chance Figura 1 Chance de envolvimento com as atividades físicas e esportivas (adaptado de PNUD, 2017)

São diversas as barreiras que, ao longo desse último século, dificultaram que as mulheres tomassem parte do universo esportivo. Na primeira metade do século XX, mesmo quando foram incentivadas à prática de atividade física, o corpo feminino foi regulado para que ocupasse um lugar na ordenação social e na constituição da civilização brasileira (GOELLNER, 2003). Essas regulações, em harmonia com os movimentos históricos da educação física corrente, preocupavam-se em produzir a mulher maternal e delicada e a justificar, com base na anatomia corpórea feminina, as prescrições e interdições.

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As relações entre meninos e meninas são presentes no cotidiano escolar, onde eles e elas constituem seus espaços e tempo de aprendizagem. Conforme Helena Altmann (1998) demonstra, essas relações produzem, emaranhadas com outras, como força e habilidade, uma trama de exclusões e negociações nas atividades esportivas desenvolvidas na escola. Percebendo, então, o gênero como uma das clivagens que produzem vínculos ou exclusões na escola, outras pesquisas têm demonstrado as diferenças de relações de poder em termos de participação ou de aprendizagem nas aulas de educação física. Por fim, muitas vezes alguns comportamentos também são atribuídos a uma certa sexualidade. Considerando sexualidade a forma como as pessoas vivem seus prazeres e desejos, uma suposta linearidade entre sexo-gênero-sexualidade, quando quebrada, leva a discriminação dos olhares mais normalizadores. Isso significa que quando uma menina tem muita habilidade para futebol, uma atividade culturalmente considerada masculina, muitas vezes sua sexualidade é colocada em discussão e ela é rotulada como homossexual, já que determinados comportamentos associados ao gênero masculino levariam a uma sexualidade diferente da considerada feminina. Diante da necessidade de enfrentar tais desigualdades e da importância de programas que contribuam para fomentar equidade, aqui apresentamos algumas propostas de meios, estratégias e possibilidades para intervenção. O intuito é contribuir para uma reflexão e uma construção coletiva para a transformação. Longe de considerarmos estratégias engessadas ou receitas, aqui apresentamos as possibilidades que inventariamos por meio do diálogo com diversos professores e professoras, meninas e mulheres esportistas, treinadores e treinadoras

VOCÊ SABIA QUE O FUTEBOL FOI PROIBIDO PARA MULHERES? O corpo biológico feminino foi alvo de uma série de discursos que, movidos pela defesa da maternidade e da “raça”, deveria evitar uma gama de atividades. Aleatoriamente ou não, no final da primeira metade daquele século, o decreto 3199/1941 proibiu atividades esportivas como futebol e boxe para as mulheres, legislação esta que só saiu de vigor em 1979. Esses impasses institucionais, por mais que não tenham impedido as mulheres de jogar, indubitavelmente, produziram efeitos de invisibilidade e marginalidade ao esporte de mulheres (GOELLNER, 2005).

AS BARREIRAS QUE AFASTAM AS MULHERES E MENINAS DO ESPORTE *representações de feminilidade que constroem a ideia de que esportes demandam força, agressividade e competitividade, fatores que não seriam femininos. *falta de incentivo durante a infância para as meninas *décadas de proibição da prática feminina de uma série de esportes, entre eles, o futebol (1941-1979). *dificuldade de acesso a espaços públicos pelas mulheres para a prática de futebol. *falta de segurança pública que possibilite o acesso e a permanência delas nos espaços para a prática. *insegurança com relação à imagem corporal, vergonha e sentimento de inferioridade em relação às suas capacidades relacionadas ao esporte. *menos recursos disponíveis para a prática esportiva de mulheres, como espaços, financiamento, transporte, equipes, competições, técnicos e prêmios. *dupla jornada, que faz com que as mulheres se responsabilizem pelos cuidados da casa e, por conseguinte, tenham menos tempo de lazer.

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que, sensibilizadas/os pela questão, constroem cotidianamente suas intervenções. A apresentação desse material é também um convite para que você participe dessa construção e partilhe suas estratégias! Pensar coletivamente sobre essa questão é uma demanda e nossa proposta é contribuir num diálogo contínuo e permanente rumo à democratização esportiva.

A SEPARAÇÃO ENTRE MENINOS E MENINAS NAS AULAS DE EF Os discursos que naturalizavam as diferenças entre homens e mulheres produziram na educação física escolar a separação das aulas, que foi orientada legalmente dessa forma até a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 (DORNELLES; FRAGA, 2009). Essa separação, mesmo silenciada nos dias atuais, ainda produz seus efeitos: separações informais se apresentam no cotidiano do fazer docente escolar, divisões do espaço e tempo de aulas entre meninos e meninas, bem como diferenciação das propostas de atividades/práticas oferecidas por gênero. Deste modo, por mais que institucionalmente já se reconheça que meninos e meninas devem ter as mesmas oportunidades de aprendizagem, o currículo vivido tem sido repleto de experiências contraditórias e ambíguas.

PARA SABER MAIS: História das mulheres no esporte e no futebol: GOELLNER, Silvana Vilodre. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Revista brasileira de educação física e esporte, v. 19, n. 2, p. 143-151, 2005 GOELLNER, Silvana Vilodre. Bela, maternal e feminina: imagens da mulher na Revista Educação Physica. Editora Unijuí, 2003. Separação dos alunos nas aulas de Educação Física: DORNELLES, Priscila Gomes; FRAGA, Alex Branco. Aula mista versus aula separada? Uma questão de gênero recorrente na educação física escolar. Revista Brasileira de Docência, Ensino e Pesquisa em Educação Física, v. 1, n. 1, p. 141-156, 2009. Sobre iniciativas para fomentar a participação de meninas no esporte: ALTMANN, Helena. Atividades físicas e esportivas e Mulheres no Brasil. Dados sobre a participação de meninas e mulheres no esporte no Brasil: Relatório PNUD movimento é vida. Background papers, 2017.

2 - O ABC DO ENSINO DO ESPORTE E DO FUTEBOL As ideias que embasam nossas propostas estão ancoradas no campo das práticas inovadoras da educação física (EF), num diálogo com a pedagogia do esporte. Do ponto de vista das práticas inovadoras da EF, a proposta é contribuir para a constituição de uma disciplina escolar que ensine a cultura corporal de movimento, considerando a existência de um saber fazer e de um saber sobre esse saber fazer. Isso implica considerar o ensino do futebol não apenas pelos seus componentes técnico-táticos, mas também culturais, históricos e sociais. Também implica trazer as alunas e os alunos como protagonistas no processo educativo. As propostas pedagógicas que prezam exclusivamente pela A PEDAGOGIA DO ESPORTE repetição de gestos técnicos A pedagogia do esporte é o campo que nos fornece os elementos metodológicos para definidos e hierarquizados deixaram o ensino do esporte. Esse campo considera o esporte como um artefato cultural plural, de ser predominantes nas últimas cujos significados dependem sobretudo de sua apropriação e de seus usos e contextos. décadas. Em contraste, emergem Considerando essa pluralidade, alguns pressupostos tradicionais como a estabilidade, a objetividade e a simplicidade perderam cena nos debates pedagógicos e propostas algumas propostas pedagógicas metodológicas que envolvem a complexidade, o contexto e a humanização do gesto calcadas na complexidade do emergiram, sobretudo, a partir da década de 1980. jogo, manipulando-o com intencionalidade pedagógica – 08


simplificando-o, exagerando-o e/ou adaptando-o. O objetivo é desenvolver a capacidade de jogar, focando nos sujeitos que jogam. Em vez de repetição, preza-se pela compreensão, pela inteligência e pela criatividade, aspectos fundamentais para a tomada de decisão e para a preservação de uma das características mais caras ao jogo: a imprevisibilidade. Dessa forma, considerando que DAS PROPOSTAS TRADICIONAIS PARA AS PROPOSTAS quem joga pode apresentar muitos e EMERGENTES DA PEDAGOGIA DO ESPORTE distintos significados para sua prática, nos Do foco na padronização do esporte para o sujeito que joga mais diversos contextos, é necessário que Do gesto ao sentido atribuído ao gesto por quem o executa existam pedagogias esportivas plurais. Da padronização para a criatividade Essas devem mediar o ensino do fenômeno Da repetição para a tomada de decisão de acordo com esses distintos sujeitos, Dos exercícios isolados para os jogos adaptados objetivos e apropriações nos quais o esporte Fonte: adaptado de Souza; Scaglia (2004) se apresenta. Dito de outra forma, o ensino e treinamento esportivo do alto rendimento é diferente da iniciação; ou mesmo uma escolinha voltada a uma modalidade esportiva é diferente da aula de EF escolar. Dentro de cada um desses contextos, ainda há uma pluralidade de significados, já que cada pessoa que se envolve em uma aula ou treino é atravessada por distintas experiências corporais, oportunidades, facilidades e engajamentos. Por isso, o/a professor/a deve não somente ter sensibilidade para perceber essa pluralidade, como criar um ambiente que as acomode de forma não colonizadora. Os métodos de ensino do esporte emergentes partem da ideia que é preciso ensinar a jogar, desenvolver a capacidade de compreender, ler e escrever o jogo. Via de regra, muitos de nós aprendemos esses conteúdos jogando e brincando nos espaços informais, como a rua, condomínio, recreio etc. Todavia, só deixar jogar pode significar ausência de oportunidades para aqueles e aquelas que experimentaram menos o jogar em outras ocasiões, ou mesmo, pode reduzir a possibilidade de tomada de decisão daquelas e daqueles que ainda a fazem mais devagar. O que buscamos é a construção de um jogo que seja possível às pessoas envolvidas nele e, ao mesmo tempo, desafiador para elas. O jogo deve fomentar situações problemas que elas sejam capazes de resolver coletivamente e cuja resolução, ainda, possibilite novas aprendizagens. Com esses objetivos, apresentamos propostas para sistematizar os conteúdos em jogos, atividades e debates que criam oportunidades de aprendizagem para todas e todos presentes, e não para alguns. Na medida em que as pessoas jogando são plurais, as propostas também o serão, de modo que o processo de sistematização é também uma arte de ajustar, motivar e aprender junto com os educandos.

PARA SABER MAIS: As diferenças entre os métodos tradicionais e os inovadores: SCAGLIA, A. J.; SOUZA, A. Pedagogia do esporte: In: BRASIL. Comissão de Especialistas–ME. Dimensões pedagógicas do esporte. Brasília: UNB/Cad, p. 6-52, 2004 GALATTI, Larissa Rafaela et al. Pedagogia do esporte: tensão na ciência e o ensino dos jogos esportivos coletivos. Revista da Educação Física/UEM, v. 25, n. 1, p. 153-162, 2014. Abordagens que se centram no sujeito que joga: PAES, Roberto Rodrigues; MONTAGNER, Paulo Cesar; FERREIRA, Henrique Barcelos. Pedagogia do esporte: iniciação e treinamento em basquetebol. Rio de Janeiro: Koogan, 2009.).

Propostas para sistematizar o ensino do esporte: GRECO, Pablo Juan; SILVA, Siomara A.; SANTOS, Lucídio Rocha. Organização e desenvolvimento pedagógico do esporte no programa segundo tempo. Fundamentos pedagógicos do programa segundo tempo: da reflexão a prática. Maringá: Eduem, p. 163-206, 2009. 09


3 - RUMO A GRAMÁTICAS ESPORTIVAS PLURAIS Considerando que as desigualdades de acesso e permanência ao esporte para mulheres não são dadas pela ausência de competência técnico-tática, mas são fruto de uma construção cultural, é necessário conhecê-la para transformá-la. Por isso, ensinar bem o esporte também implica integrar os alunos e alunas ao mundo da cultura corporal de movimento para além da apreensão dos meios técnico-táticos. Essa preocupação está alinhada às perspectivas inovadoras da pedagogia do esporte, que sustentam que além do referencial técnico-tático, os/as professores/as devem também tratar dos referenciais histórico-cultural e socioeducativo.

Referencial histórico-cultural: ensinar a história do esporte e a cultura esportiva na nossa sociedade. Isso implica ensinar sobre os anos de proibição do esporte de mulheres, identificar as principais desigualdades tanto no âmbito do alto rendimento, quanto no âmbito comunitário, dentre outras perspectivas.

Referencial socioeducativo: ensino dos valores e das relações sociais construídas com o esporte. Refere-se, portanto, à questão de como alguns preconceitos e discriminações podem emergir na prática esportiva, bem como sobre a cooperação, solidariedade e fair play como ideias que podem contribuir para um ambiente mais igualitário e gramáticas de jogo mais plurais.

A partir disso, apresentaremos propostas que inventariamos considerando: i) jogos populares e adaptados para ensino do futebol, ii) atividades que abordem a cultura esportiva e história da presença das mulheres e iii) dinâmicas que favoreçam a transformação dos valores e das relações.

Esperamos que esse seja apenas um pontapé inicial de um diálogo longo e necessário para equidade no ensino do futebol! No entanto, vamos antes fazer uma breve reflexão sobre como é importante atentar para a forma pela qual as meninas estão presentes em nossas aulas: será que elas estão aprendendo?

PARA SABER MAIS: Sobre os referenciais e a pedagogia do esporte: MACHADO, G. V.; GALATTI, L. R.; PAES, R. R. Pedagogia do esporte e projetos sociais: interlocuções sobre a prática pedagógica. Movimento, Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 405-418, abr./jun. de 2015.

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4 - AS MENINAS ESTÃO APRENDENDO A JOGAR NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA? Diversas pesquisas já demonstraram como a participação dos meninos nas aulas de educação física costuma ser diferente que a das meninas: eles ainda ocupam mais espaços na escola, como o espaço/tempo do recreio e as periferias da quadra durante as aulas, enquanto elas restringem suas ações a espaços menores e à margem (ALTMANN, 1998; WENETZ, 2006; SO et al., 2018). Esse cenário reforça uma maior participação dos meninos em esportes, sendo reservado às meninas outros lugares e funções. Quando estão jogando juntos/as é possível que a forma de participação no jogo seja bem distinta também. Juliana Jacó e Helena Altmann (2017) identificaram quatro formas distintas de participação nas aulas de EF: protagonismo, figuração, flutuação e exclusão. 1) Protagonistas: são as pessoas que participam ativamente das atividades propostas em aula, interagindo com as regras, colegas, professores/as e objetivos de jogo. Além disso, demonstram dedicação e nunca se colocam nas áreas periféricas da quadra ou fora do espaço de aula. Durante o esporte, tomam as principais decisões e estão envolvidas com situações ofensivas, mas também defensivas. As pessoas protagonistas estão sempre perto do centro de jogo e buscam pela atuação em quadra, além de serem assíduas na interação e negociações advindas das situações encontradas na partida. Figura 2: Protagonistas no espaço de aula

Legenda dos símbolos:

PROTAGONISTAS OUTRAS PARTICIPAÇÕES

2) Figurantes: são aquelas pessoas que não se colocam de fato no centro de jogo e preferem ocupar as zonas periféricas da quadra, mas não ficam fora da atividade. Entretanto, fogem do contato com a bola e se recusam a fazer o que é proposto. 3) Flutuantes: pessoas que, durante o jogo, não se fixam em apenas um dos grupos, não apresentando uma linearidade no que diz respeito à sua participação no jogo, variando de dia para dia ou mesmo durante as atividades. Ora a pessoa se dispõe como figurante, ora a participação é tamanha que se iguala a uma protagonista. Essas pessoas podem ainda, abandonar a aula, num ato de auto exclusão, posicionando-se fisicamente nas áreas adjacentes a quadra. 11


Figura 3: Alunos flutuantes, figurantes e excluídos

Legenda dos símbolos:

FIGURANTES EXCLUÍDAS/OS PROTAGONISTAS FLUTUANTES

4) Excluídas(os): são as pessoas que se retiram do espaço de aula e se posicionam nas áreas anexas, como as arquibancadas. São aquelas que praticam outras atividades e que não aderem ou interagem com a aula. De fato, são múltiplas as participações dos/as alunos/as em aula. Entretanto, é importante apontar que isso está ligado ao significado que eles/as atribuem às práticas corporais. O esporte costuma ser associado a ser um espaço onde há competição exacerbada e que, para praticá-lo, são necessárias habilidades como agilidade e força, muitas vezes repetidas como características dos meninos. Já às meninas são conferidas características como delicadeza e fragilidade, opostas ao que se considera necessário para o esporte. Essa visão essencialista contribui para a construção de barreiras que impedem um maior envolvimento das meninas nas práticas esportivas. Esses entendimentos regulam seus comportamentos para que atendam a essas expectativas e, por consequência, atrapalham seu desenvolvimento nas aulas. Nesse sentido, é importante que professores/as estejam atentos/as às escolhas dos conteúdos e das metodologias utilizadas em aula. O esporte, assim como outras práticas corporais (lutas, danças, entre outras), não deve ser negado aos/às alunos/as, fazendo-se necessário também preocupar-se com seu uso para não reforçar discursos que naturalizem as diferenças entre meninos e meninas e reproduzam estereótipos de gênero. Nossas propostas caminham no sentido de promover uma participação protagonista e colaborativa dentro do esporte, por meio de sugestões que vão desde a estrutura das aulas até a divisão dos espaços de quadra e papel de cada um dos/as alunos/as. Desse modo, as oportunidades e experiências com a modalidade são potencializadas a partir do momento em que exista maior frequência em situações de protagonismo. PARA SABER MAIS:

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Como se disponibilizam para aprender: UCHOGA, Liane Aparecida Roveran; ALTMANN, Helena. Educação física escolar e relações de gênero: diferentes modos de participar e arriscar-se nos conteúdos de aula. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 38, n. 2, p. 163-170, 2016. As distintas formas de participação: JACO, Juliana Fagundes; ALTMANN, Helena. Significados e expectativas de gênero: olhares sobre a participação nas aulas de educação física. Educação em Foco, p. 155-181, 2017. Mobilização e engajamento das meninas diante dos conteúdos: SO, Marcos Roberto; MARTINS, Mariana Zuaneti; BETTI, Mauro. As relações das meninas com os saberes das lutas nas aulas de Educação Física. Motrivivência, v. 30, n. 56, p. 29-48, 2018.


5 - ENSINANDO FUTEBOL PARA TODAS: PRODUZINDO O PROTAGONISMO DAS ALUNAS E DOS ALUNOS NAS AULAS E NOS JOGOS DE FUTEBOL. Uma questão importante refere-se a como organizar a aula para promover maior participação de todas as pessoas. Participar ativamente das atividades é fundamental para exercitar a compreensão das mesmas e o aprendizado: ou seja, para aprender a ler o jogo, tomar decisões e escrevê-lo também. Por isso, não basta que o/a aluno/a esteja em quadra. Embora isso seja um passo fundamental e às vezes conseguido a duras penas, é importante que ele/a se sinta convidado/a a participar ativamente das atividades. Em outras palavras: que seja protagonista! Primeira sugestão: minijogos simultâneos Nossas turmas são, em geral, lotadas! 40 alunos/as jogando juntos e demandando nossa atenção! Duas soluções comuns a esse problema são: colocar todos no mesmo jogo ao mesmo tempo, com 20 contra 20; ou fazer revezamentos entre os alunos/as que jogam e os/as que esperam. Nossa sugestão, todavia, busca otimizar o espaço tempo da aula, que já é tão limitado. Sugerimos a divisão da quadra em 4, 6 ou 9 miniquadras, onde acontecerão jogos simultâneos no formato 2x2, 3x3 ou 4x4. Os jogos podem variar e o/a professor/a pode fazer um rodízio, definindo qual jogo acontece em cada quadra; bem como pode variar os grupos e seus adversários. Faça as contas: 9 miniquadras com 3x3 = 54 alunos/as jogando ao mesmo tempo 9 miniquadras com 2x2= 36 alunos/as jogando ao mesmo tempo 6 miniquadras com 3x3 = 36 alunos/as jogando ao mesmo tempo 4 miniquadras com 4x4 = 32 alunos/as jogando ao mesmo tempo Figura 4: sugestão de divisão da quadra

Quadra 8

Quadra 9

Figura 8. Exemplo de nove miniquadras

Quadra 2

Quadra 5

Quadra 6

Quadra 4

Quadra 7

Quadra 1

Quadra 3

Quadra 3

Quadra 6

Quadra 2

Quadra 4

Quadra 1

Figura 9. Exemplo de seis miniquadras

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Segunda sugestão: se o/a aluno/a tem dificuldade técnica devo fazê-lo repetir o movimento até que melhore sua destreza? De fato, as oportunidades para tentar são fundamentais para a aprendizagem. Dificilmente aprendemos uma coisa logo na primeira tentativa. Por isso, é fundamental propiciar contextos em que as pessoas possam tocar muitas vezes na bola e tentar muitas vezes algum comportamento técnico-tático. Todavia, repetir o gesto técnico isoladamente não é o único meio para isso acontecer. A sugestão de trabalhar com os pequenos jogos e estruturas funcionais (1x1; 2x2; 3x3 etc.) visa justamente propiciar muitas oportunidades de contato com a bola e de participação no jogo. A utilização de estruturas com superioridade numérica, com a figura do coringa ou do apoio (1x0; 2x1; 3x2; 4x2; 3x1 etc.) possibilita ainda mais chance de participação e de sucesso. Terceira sugestão: o que olhar na avaliação diagnóstica? A utilização de avaliação diagnóstica é uma poderosa ferramenta que nós utilizamos para conhecer as turmas que estamos lecionando. Normalmente, observamos como a turma se comporta como um todo, quais alunos/as são mais protagonistas e quais possuem mais dificuldade para interagir em nossas propostas; quais possuem experiência anterior e quais estão tendo o primeiro contato; quais são as representações culturais que nossos alunos têm sobre a temática... São diversas as possibilidades e todas nos ajudam bastante. Além destas, sugerimos que o/a professor/a observe uma questão fundamental: que disponibilidade os/as alunos/as têm de jogar com os/as colegas? A disponibilidade para a cooperação é uma competência fundamental para jogar futebol e ela não é inata. Diagnosticar o nível de cooperação da turma e dos/as alunos/as, em particular, é fundamental para ensiná-los/as a jogar futebol e tem tudo a ver com a nossa próxima sugestão. Quarta sugestão: Dividir por habilidade, por gênero, por afinidade ou aleatoriamente? Essa é uma dúvida para qual a resposta é sempre “dependente do objetivo da aula”. Em geral, a maior sugestão seria variar a forma de divisão dos grupos, para que os/as alunos/as sejam sempre convidados/as a jogar e a colaborar com pessoas diferentes. A convivência entre todos permite a criação de vínculos e isso contribui para a menor incidência de discriminação e de bullying. Em alguns momentos da aula, dividir os grupos das/os mais habilidosas/os e das/os menos habilidosas/os pode proporcionar um protagonismo maior para alguns, já que, durante as atividades, não poderão esperar que aquele/a menino/a que geralmente é preponderante nas atividades resolva o jogo, pois não estará ao seu lado. Por outro lado, formar grupos mais heterogêneos pode contribuir para uma postura coeducativa dos/as alunos/as. É importante que os/as alunos/as mais habilidosos/as se entendam como responsáveis por contribuírem para que os/as menos experientes desenvolvam capacidade de jogo. Eles e elas devem ser provocados a compartilharem a experiência. Afinal, a boa jogadora ou o bom jogador não são aqueles/as que jogam com os que já sabem tanto ou mais que elas/es, mas aqueles/as que conseguem ajudar a jogar aqueles que sabem menos. Ou seja, a responsabilidade pela participação de todos/as no jogo é em grande medida dos próprios alunos/as e eles/as devem ser educados a isso desde cedo! 14

Como diria o professor João Batista Freire, é preciso: ensinar o futebol a todos e todas; ensinar bem o futebol a todos e todas, ensinar mais que futebol a todos e todas.


6 - ENSINANDO BEM A JOGAR FUTEBOL: JOGANDO PARA APRENDER FUTEBOL Compreendemos que a forma, por excelência, de aprender a jogar é jogando. Assim, o processo de ensino-aprendizagem de meninas (e de meninos) deve ser organizado com e pelo jogo, jogando para aprender (GRECO et. al, 2009). É uma aprendizagem de caráter incidental que se vincula também ao aprender jogando, uma aprendizagem intencional. Valemo-nos, e não abrimos mão, de jogar para aprender e aprender jogando. E por que não utilizar exatamente jogos que as crianças têm acesso em sua infância na escola, na rua, com colegas em seu tempo livre? A iniciação esportiva pode ser realizada com a utilização de jogos que são conhecidos das meninas, jogos e brincadeiras da cultura popular. Assim, o pique-pega e a queimada, por exemplo, podem ser manipulados para que sirvam à compreensão dos princípios dos esportes, isto é, ataque/defesa, oposição/cooperação e acertar/defender um alvo (BAYER, 1995). Aliás, esses mesmos jogos podem ser observados pelo ponto de vista de tarefas táticas necessárias em jogos esportivos. O pique-pega, por exemplo, produz reconhecimento de espaços sob a pressão do tempo. Se delimitarmos o espaço utilizando as linhas da quadra de futsal, as meninas terão de gerenciar o espaço do jogo. Se tiverem duas meninas como pegadoras, as demais terão mais uma tarefa a observar e pensar do/no jogo. Se adicionarmos uma bola no pique, podemos promover a troca de passes para que seja possível pegar, o que caracteriza a tarefa tática de transportar a bola ao objetivo. Enfim, modificações de espaço, implementos, grupos, objetivos dos jogos podem ser realizadas para contribuir no processo de ensino-aprendizagem de jogos esportivos.

PARA SABER MAIS: Ensino dos jogos de rua para ensino do futebol: SCAGLIA, Alcides José. O futebol e as brincadeiras de bola: a família dos jogos de bola com os pés. São Paulo: Phorte, 2011.

Aprendendo com as crianças: exemplos de pequenos jogos de rua que ensinam a jogar futebol

A seguir enumeramos uma série de jogos de rua que podem ser manipulados para o ensino do futebol, de acordo com os objetivos da aula. Além de trazerem situações técnico-táticas bem próximas ao esporte, também possibilitam grande protagonismo e participação, já que a maioria é jogado em poucas crianças. Permitem a auto-organização das/os alunas/os e criação e respeito às regras coletivamente determinadas. Por fim, trabalhar com eles nas aulas também contribui para manter viva uma cultura popular infantil riquíssima. O projeto Mapa do Brincar catalogou vários jogos e brincadeiras populares do Brasil. É um bom sítio onde outras brincadeiras podem ser encontradas.

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BOBINHO (ou baratinha): em roda, uma das pessoas vai ao meio tentar interceptar a bola. Quem perde o domínio, assume o lugar no meio. LINHA: duas pessoas devem tocar a bola entre si fora da área, sendo que o terceiro toque deve ser para o gol. Se a/o goleira/o defender e der rebote, as pessoas da linha podem tocar livremente para chegar ao gol; se ela conseguir interceptar o passe e pegar a bola com as mãos dentro da área, elimina a última que tocou. 3 DENTRO 3 FORA: é como o jogo linha, mas os chutes só podem ser fora da área e os passes, aéreos. Dentro da área, só se pode finalizar de cabeça. Cada gol vale um ponto. Se a goleira/o agarrar a bola, o ponto é dela; se a pessoa finalizar para fora, o ponto é da/o goleira/o. Se a/o goleira/o conseguir três pontos antes dos jogadores de linha, ela ganha o jogo e o direito de sair do gol. A pessoa que estava na linha sai, entrando outra, de fora, no gol. DERRUBA LITRO: cada pessoa tem sua garrafa de água posicionada em um lugar do espaço de jogo. O objetivo é derrubar, acertando a bola chutada com os pés, a garrafa da/o adversária/o e impedir que ela derrube a sua. A pessoa cuja garrafa for derrubada está fora. Ganha a última pessoa que restar no jogo, que pode ser jogado com um ou mais bolas em quadra. GOL A GOL: cada pessoa fica em uma baliza (gol) e é ao mesmo tempo goleira e atacante. O objetivo é marcar gol na meta adversária e só se pode chutar, no máximo, até o meio da quadra (caso ultrapasse, é pênalti). Se acertar a trave ou travessão, é pênalti. ARTILHEIRO: jogado em duas duplas, uma pessoa fica na linha, na meia quadra adversária e a outra fica no gol na sua área. A/o goleira/o lança a bola para a/o atacante, que deve fazer o gol com apenas um toque na bola (se tiver parede ou guia, pode usá-la). Se fizer gol, as pessoas da dupla trocam rapidamente de posição, pois o jogo não para. TRAVINHA/FURINGO/GOLZINHO: duplas ou trios devem defender seu pequeno gol (feito de chinelos, tijolos etc.) e atacar o do adversário. Tempo de jogo ou placar máximo são combinados previamente. TIMINHO: são dois times e apenas um/a goleiro/a. Os dois times atacam o mesmo gol (enquanto um ataca, o outro defende). O jogo começa com um chute para cima dado pela/o goleira/o. TODOS CONTRA TODOS/CADA UM POR SI: a dinâmica é a mesma do jogo acima, só que não há equipes. Quem tem a bola tenta atacar e quem não tem a posse, tenta consegui-la. Se a/o goleira/o defender, entra na linha e quem perdeu o gol, assume seu lugar. PAREDÃO: em fila, com uma ordem previamente combinada e um espaço demarcado como gol na parede. A primeira pessoa da fila finaliza nesse gol, enquanto a segunda pessoa deve finalizar pegando o rebote do chute da primeira e, assim, sucessivamente na ordem da fila. Quando a última chutar, é a vez da primeira. Quando alguém não acertar o espaço demarcado como gol, estará eliminada. O jogo se reinicia sem que essa pessoa conste na fila. Vence quem ficar por último. ALTINHA: em roda, as pessoas trocam passes aéreos. O objetivo é manter o máximo de tempo de bola e de passes no ar. 16


FUTQUÉTI (TÊNIS COM PÉ/QUADRADO/FUTMESA: um jogo de tênis jogado com os pés. Pode ser realizado com uma pequena rede/banco/algo baixo ou só com uma linha no chão; ou, ainda, com a bola quicando em uma mesa. REBATIDA: em duplas, uma atacando e outra defendendo. Desta, cada integrante terá direito a três cobranças de falta. Da dupla defensora, uma pessoa fica no gol e a outra fica perto da trave fora da área. Da dupla atacante, uma cobra a falta e a outra, se posiciona na outra trave do gol. Se a/o goleira/o espalmar a bola, a/o jogadora do mesmo time da/o goleira/o tem que levar a bola para dentro da área e pegar a bola com a mão. A outra pessoa da dupla atacante tem que tentar pegar a bola para fazer o gol, mas só pode chutar de fora da área ou tocar para quem estava cobrando as faltas finalizar. Quando a bola for para fora, for gol ou a/o goleira/o defender, se inicia outra cobrança. Quando terminar a cobrança de uma pessoa, troca a equipe. Os gols têm pontuação diferente se são de cobrança direta, de rebote do goleiro ou se a bola tocar na trave, travessão ou ângulo.

PARA PARTICIPAR É NECESSÁRIO COMPREENDER O JOGO

Fonte: imagem extraída disponível em: www.toledo.pr.gov.br/

PARA PARTICIPAR É NECESSÁRIO COMPREENDER O JOGO O papel dos jogos é pensar coletivamente e oportunizar boas práticas que possam conduzir um maior interesse das meninas na prática esportiva, no caso o futsal.

Para participar, todavia, é necessário alcançar um nível mínimo de compreensão da lógica do jogo que se quer ensinar. A compreensão do jogo requer a estruturação de um esquema mental em termos de objetivos, de mecanismos de organização e de possibilidades de ação na busca da conquista destes objetivos (GRECO et. al, 2009). Ao querer entender o jogo, perguntamos: qual o objetivo deste jogo? O que faço para jogar? Como posso fazer melhor? Esse exercício expressa bem o caráter estratégico-tático que caracteriza os jogos: a construção de um plano mental que garanta a plena participação e o sucesso no decorrer do jogo. Esse panorama deve servir como ponto de partida para o/a professor/a estruturar pedagogicamente sua proposta de ensino do esporte.

Como já dito, o papel dos jogos é pensar coletivamente e oportunizar boas práticas que possam conduzir um maior interesse das meninas na prática esportiva, no caso o futsal. Conscientizá-las que necessitam de um espaço e tempo maior de prática, assim como foi sempre oportunizado para os meninos. Nesse sentido, apresentamos a seguir jogos e estruturas para serem utilizados em aulas de EF que podem ajudar no desenvolvimento do futsal. Os jogos devem ser conduzidos e manipulados principalmente de acordo com o perfil, ambiente e nível de desenvolvimento de cada turma, bem como com os objetivos das aulas. 17


OS JOGOS JOGO 1: ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E MANUTENÇÃO DE POSSE Objetivos: construção da fase ofensiva, organização espacial, transições defesa-ataque e utilização da vantagem numérica Público-Alvo: 9 a 14 anos Quadra 2

Recursos e Materiais: bolas e coletes Número de Participantes: 6 a 8

Quadra 4

Quadra 3

Quadra 2

Quadra 1

Quadra 1

Quadra 4 Legenda dos símbolos:

Quadra 3 Divisão de quadras

e

Alunas e Alunos

Dinâmica do Jogo: Duas equipes se enfrentam em uma meia quadra de jogo. A equipe que estiver com a posse de bola estará em vantagem numérica e precisa trocar cinco passes (consecutivos sem a perda da posse de bola) antes de poder transferir a bola para o outro lado da quadra de jogo. Conseguindo levar a bola ao outro lado da quadra, a equipe deverá realizar outros cinco passes para assim marcar um ponto. A equipe que estiver defendo estará em desvantagem numérica nos dois campos e deve recuperar a posse de bola ou fazer com que a equipe adversária saia com a bola do campo de jogo (o que faz zerar a contagem). Quando tomar a posse de bola, inverte-se a lógica do jogo. A partir de um passe aos colegas que estão na outra metade da quadra, a equipe que estava defendendo passa a ser a equipe que construirá a ação defensiva também se dirigindo àquele espaço para a troca dos passes. Regras de Ação: A equipe de ataque precisa se organizar para que faça uma boa utilização do espaço da quadra e, aproveitando sua superioridade numérica, ter mais tempo e espaço para conseguir uma ação positiva. Além disso, precisa buscar uma organização no melhor momento de transição de um espaço para o outro. Variações:

Erros Comuns:

Alterações no número de passes. Acrescentar uma baliza para que depois da construção ofensiva busquem o gol. Aumentar ou diminuir o número de defensores.

Utilização de pouco espaço de quadra. Manter a bola próxima ao adversário. Transições desorganizadas. Não utilizar a vantagem numérica.

JOGO 2: BOLICHE Objetivos: organização coletiva e organização espacial Público-Alvo: 6 a 14 anos Quadra 2

Quadra 4

Quadra 3

Quadra 2

Quadra 1

Quadra 1

Quadra 4

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Legenda dos símbolos:

e

Quadra 3 Alunas e Alunos

e

Alunas e Alunos (pinos móveis)

cones

Recursos e Materiais: bolas, coletes e cones Número de Participantes: 6 a 8


Dinâmica do Jogo: O jogo se desenvolve com duas equipes. Elas devem derrubar os cones que estarão espalhados pela quadra da equipe adversária. Para isso, as equipes podem trocar passes até derrubar os cones. No entanto, cada pessoa só pode dar 2 toques na bola a cada vez que encosta nela. Existirão também alvos móveis que serão alunas/os voluntárias/os. Estes/as podem andar livremente pela quadra e devem receber apenas passes rasteiros. Cada vez que a bola sair ou alguém der mais que os 2 toques na bola, para continuar o jogo devem fazer uma ação predeterminada pela/o professor/a e pelas/os alunas/os. Por exemplo: perguntas que o time deve responder, alguma tarefa de jogo, alguma penalidade a ser cobrada pelo outro time, etc. As equipes podem acertar a bola da equipe adversária (apenas com a bola) com intuito de atrapalhar suas ações. Só valem trocas de passes e chutes aos cones com bola rasteira. Regras de Ação: A equipe deve se organizar de acordo com os alvos dispostos no campo adversário, para que consiga derrubar todos eles evitando focar em apenas um. Ao mesmo tempo, fechar os espaços para que seus alvos não sejam atingidos. Variações:

Erros Comuns:

Aumentar ou diminuir o número de alvos móveis. Alvos móveis podem se tornar componentes dos times no caso de receberem passes corretos. Dar uma bola aos alvos móveis para que os times tenham que acertar a bola. Aumentar ou diminuir o número de cones. Modificar as regras do número de toques na bola. Estipular um determinado tempo.

Atacar apenas um alvo. Só pensar em atacar. Não pensar coletivamente. Não dividir responsabilidades.

JOGO 3: QUADRADOS E APOIOS Objetivos: amplitude e profundidade, mobilidade e apoio Público-Alvo: 6 a 14 anos Quadra 2

Quadra 2

Quadra 1

Quadra 1

Recursos e Materiais: bolas, pratinhos (ou cones) e coletes

Quadra 4

Quadra 3

Número de Participantes: 4 a 8

Quadra 4

Legenda dos símbolos:

Quadra 3

e

Alunas e Alunos

Espaço de recepção da bola

Dinâmica do Jogo: As equipes têm por objetivo encontrar o passe nos espaços dos quadrados que estarão nas extremidades da quadra. Poderão ser quatro ou seis quadrados como alvo nessas extremidades. Uma pessoa de cada time será escolhida para poder transitar entre os quadrados da zona ofensiva. Ela ficará restrita àquele corredor. Caso receba a bola no quadrado, seu time marca um ponto; caso receba a bola no corredor entre os quadrados, ela serve de apoio ao seu time e o jogo continua. Regras de Ação: Espera-se que a equipe jogue de maneira descentralizada, buscando utilizar as extremidades da quadra. A vantagem se dará para quem jogar com essa amplitude e profundidade, dificultando a ação da defesa. Variações: Fixar pessoas nos quadrados. Utilizar a/o coringa para facilitar o jogo. Acrescentar uma finalização ao gol quando alguém receber a bola no quadrado. Isso pode ocorrer com ou sem oponente, de acordo com os objetivos da aula. Determinar que a pessoa que for receber a bola no quadrado, só pode se deslocar para este espaço na trajetória do passe (passe futuro). Liberar para que qualquer das pessoas do time possa receber o passe nos quadrados.

Erros Comuns: Procurar apenas um alvo. Pouca mobilidade, poucas desmarcações. Pouca mudança de orientação da bola.

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JOGO 4: 1 VS. 1 Objetivos: desenvolvimento de comportamento táticos individuais Público-Alvo: 6 a 14 anos Quadra 1

Quadra 2

Quadra 3

Quadra 4

Quadra 5

Quadra 6

Quadra 7

Quadra 8

Recursos e Materiais: bolas Número de Participantes: 1 a 3

Quadra 9

Quadra 10

Quadra 11

Quadra 12

Quadra 13

Divisão de quadras

Legenda dos símbolos:

Quadra 14

e

Quadra 15

Quadra 16

Alunas e Alunos

Dinâmica do Jogo: A atividade é de enfrentamento entre duas pessoas. Em um determinado espaço estipulado, duas/dois alunas/os vão ter de tentar ultrapassar ou driblar sua/seu adversária/o tentando chegar ao limite da quadra em que estão atuando para marcar o ponto. O jogo é bem extenuante para as/os participantes e pode ser realizado de 40 segundos a 1 minuto. Além disso, pode ter uma pessoa na espera já que o tempo na atividade é curto. Regras de Ação: A/o aluna/o que estiver com a posse de bola tentará ultrapassar sua/seu adversária/o por meio de dribles e fintas, chegando em uma linha determinada pelo/a professor/a. Variações:

Erros Comuns:

Acrescentar um/a atleta para dificultar o nível do jogo.

Não utilizar velocidade. Pouca variedade nos dribles.

JOGO 5: JOGO DE TRANSIÇÕES Objetivos: transições defesa-ataque e ataque-defesa Público-Alvo: 8 a 14 anos Quadra 2

Quadra 2

Quadra 1

Quadra 1

Recursos e Materiais: bolas, pratinhos (ou cones pequenos) e coletes

Quadra 4

Quadra 3

Número de Participantes: 4 a 8

Quadra 4 Legenda dos símbolos:

20

Quadra 3 e

Alunas e Alunos

Baliza do gol

Dinâmica do Jogo: As equipes se enfrentam na mini quadra de jogo e têm por objetivo fazer gols. É o jogo de futsal propriamente dito, mas com o objetivo de organizar as ações ofensivas e defensivas durante as transições que ocorrerão na partida. O time que estiver defendendo vai jogar com um pratinho na mão. Quando recuperar a posse de bola, cada jogador deverá (sem jogar) deixar o pratinho no chão e se organizar indo para ação ofensiva. Enquanto isso, a equipe que perdeu a posse de bola deve primeiro resgatar o pratinho e se organizar defensivamente para poder interferir na ação adversária.


Regras de Ação: A equipe de ataque precisa se organizar rapidamente para que aproveite da pequena vantagem de tempo que terá em relação à defesa. As equipes devem também pensar num equilíbrio ofensivo relacionado aos posicionamentos em quadra, visto que podem perder a posse da bola e ter de refazer sua organização defensiva. Variações:

Erros Comuns:

Um/a atleta pode defender sem precisar pegar o pratinho. Pode manipular o tamanho do gol. Pode ou não ter goleiro/a.

Pressa para realizar a ação ofensiva sem organizá-la. Ocupar pouco o espaço da quadra. Não aproveitar a provável vantagem numérica.

JOGO 6: PROTAGONISMO Objetivos: responsabilidade ofensiva a todos os participantes Público-Alvo: 6 a 14 anos Quadra 2

Recursos e Materiais: bolas e coletes Número de Participantes: 4 a 8

Quadra 4

Quadra 3

Quadra 2

Quadra 1

Quadra 1

Quadra 4 Legenda dos símbolos:

Quadra 3 e

Alunas e Alunos

Baliza do gol

Dinâmica do Jogo: É o jogo de futsal propriamente dito com o acréscimo de que cada atleta de linha terá uma bola na mão a ser utilizada de acordo com as regras predeterminadas. O/a professor/a da atividade (ou aluno/a responsável) falará o nome da pessoa que iniciará a jogada. A pessoa escolhida colocará sua bola no chão, iniciará o jogo de onde estiver, mas sem correr com a bola na mão. Toda vez que a bola sair inicia-se a ação por meio de um/a atleta escolhido/a. Caso não haja bolas suficientes, a sugestão é de que o/a professor/a reinicie o jogo entregando a bola a alguém. Ele/a pode até optar por repetir a pessoa algumas vezes ou sempre alternar a pessoa escolhida. O mais importante é que todas/os tenham a oportunidade de exercer o protagonismo. Regras de Ação: Nesse jogo, o/a professor/a (ou aluno/a responsável) deve priorizar as pessoas menos protagonistas. Erros Comuns:

Variações: Pode manipular o tamanho do gol. Pode ou não ter goleiro/a.

Não pensar na próxima ação antes de lançar a bola. Demorar para se organizarem defensivamente. Não abrir espaço para o protagonismo da/o colega.

JOGO 6 Protagonismo: tem como objetivo a responsabilidade ofensiva a todos os participantes. É o jogo de futsal propriamente dito com o acréscimo de que cada atleta de linha terá uma bola na mão a ser utilizada de acordo com as regras predeterminadas. Nesse jogo, o/a professor/a (ou aluno/a responsável) deve priorizar às pessoas menos protagonistas.

Fonte: imagem extraída disponível em: www.toledo.portaldacidade.com

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JOGO 7: QUADRADO Objetivos: mobilidade e organização espacial Público-Alvo: 10 a 14 anos Quadra 2

Quadra 2

Quadra 1

Quadra 1

Recursos e Materiais: bolas, pratinhos e coletes

Quadra 4

Quadra 3

Número de Participantes: 6 a 8

Quadra 4 Legenda dos símbolos:

Divisão de quadras

Quadra 3 e

Alunas e Alunos

Apoio (Coringas)

Baliza do gol

Dinâmica do Jogo: é um 3x3 com mais 1 ou 2 coringas/apoios. A quadra é dividida em 4 partes, um espaço da quadra deve permanecer vazio inicialmente e os demais 3 espaços podem ser ocupados pelas/os alunas/os. Coloca-se 1 ou 2 coringas para facilitar a construção do jogo. O objetivo de jogo é fazer gol nas balizas colocadas nas extremidades da quadra. Para construir as jogadas ofensivas é necessário que, a cada passe feito, a pessoa mude de quadrado saindo do que estava para ocupar outro vazio. Os/as defensores/as também deverão ficar cada um/a no seu quadrado. Em qualquer situação de jogo, não poderá haver pessoas do mesmo time no mesmo quadrado ao mesmo tempo. Regras de Ação: A equipe com a posse de bola deve buscar movimentação constante, abrindo espaços na quadra para encontrar brechas na marcação adversária. Durante essas movimentações, o time precisa compreender para onde cada atleta pode ir na construção das jogadas ofensivas. A defesa deve também acompanhar essas movimentações para realizar trocas de marcações e possíveis coberturas. Erros Comuns:

Variações: Optar por não utilizar coringas. Colocar defensores/as fixos/as nos quadrados.

Ocupação do mesmo espaço do quadrado. Não se movimentar coletivamente.

JOGO 8: ENTRE LINHAS Objetivos: mobilidade, passes de profundidade e ruptura, fechar linhas de passes, 1 vs. 1 Público-Alvo: 8 a 14 anos Quadra 2

Quadra 2

Quadra 1

Quadra 1

Recursos e Materiais: bolas, cones e coletes

Quadra 4

Quadra 3

Número de Participantes: 4 a 8

Quadra 4 Legenda dos símbolos:

22

Linha de atuação (zona de atuação)

Quadra 3 e

Alunas e Alunos

Baliza do gol


Dinâmica do Jogo: O jogo é entre duas equipes, sendo a quadra dividida em 3 partes. Uma parte maior com o espaço para ter 1 versus a/o goleira/o, uma parte centralizada um pouco menor com 2 atletas de cada equipe e uma terceira parte que será a zona de construção ofensiva (mais próxima ao gol que essa pessoa defende). O objetivo do jogo é fazer gol. As equipes escolherão as/os atletas que ficarão em cada espaço. No espaço de construção, a pessoa poderá ficar com a bola livre para jogar sem interferência (a/o adversária/o que estará no mesmo espaço não pode desarmar, nem atrapalhar). A pessoa que estiver na zona de construção ofensiva deve tentar encontrar um passe para a/o companheira/o na zona de finalização, buscando o passe de ruptura e profundidade. As/os participantes que estarão na parte central da quadra da equipe que está com a bola podem ajudar de duas maneiras: atraindo a marcação para abrir espaço para o passe ou, caso não tenha espaço para o passe em profundidade, poderão receber esse passe e realizar o passe para a/o participante que está na zona de finalização. A/o participante que está na zona de finalização quando receber a bola deverá tentar fazer o gol contra a/o adversária/o que estará na meta. As ações defensivas só poderão ocorrer no setor central da quadra e no setor da finalização adversária. Deve-se trocar as funções por tempo. Regras de Ação: É importante que saibam que o melhor passe é aquele que consiga colocar o/a companheiro/a mais perto do gol ou, caso não seja possível, passar para as/os demais colegas. Em relação à postura defensiva das equipes, na parte central, as duas pessoas tentarão fechar as linhas de passes para evitar os passes em profundidade e quem está defendo o gol poderá utilizar o recurso das mãos para poder roubar a bola da/o adversária/o. Erros Comuns:

Variações: Autorizar a marcação na zona de construção. Permitir que um/a integrante da zona central participe também da zona de finalização.

Falta de paciência para encontrar o passe em profundidade. Não fechar a zona central do jogo (aspecto defensivo). Participantes na zona central não abrirem espaço para o passe em profundidade.

JOGO 9: BOBINHO-QUEIMADA Objetivos: mobilidade, organização defensiva e ofensiva, organização espacial Público-Alvo: 6 a 14 anos Quadra 1

Quadra 2

Quadra 2

Quadra 1

Recursos e Materiais: bolas, pratinhos e coletes

Quadra 1 Legenda dos símbolos:

Número de Participantes: 4 a 16

Quadra 2 Linha de atuação (zona de atuação)

e

Alunas e Alunos

Apoio

Dinâmica do Jogo: A atividade pode ser executada de duas formas. Uma delas é dividindo o grupo em duas equipes e organizando para que duas pessoas de cada equipe fiquem do lado de fora do espaço que será delimitado pelo/a professor/a. Quem estiver de fora desse espaço tem como objetivo acertar as bolas que estão sendo controladas pelas pessoas da equipe adversária. Quem tiver a bola acertada, sai do espaço e passa a ajudar a acertar as bolas de quem ainda está dentro até que saia uma equipe vencedora. A segunda forma de jogar é escolher alguns alunos/as que, com ajuda de 2 infiltrados/as, ficarão do lado de fora do quadrado com o mesmo intuito exposto acima – acertar as bolas que estão sendo controladas pelas pessoas dentro do quadrado. A função dos/as infiltrados/as pode variar de acordo com as regras acordadas: poder acertar as bolas, poder também roubá-las, fazer apenas passes, etc. O objetivo do jogo é que fique apenas uma pessoa com bola dentro do quadrado ou que sobre apenas um/a participante dentro do quadrado. Regras de Ação: Manter o controle da bola para a sua equipe é essencial. Do ponto de vista ofensivo, devem trocar passes rápidos, realizar movimentações o tempo todo, organizando-se no espaço de jogo para atingir os alvos. Do ponto de vista defensivo, quem estiver de fora do quadrado tentará, com a bola, acertar a bola do/a adversário/a, desviando-a de seu alvo. Variações: Os/as participantes que estão dentro do quadrado jogam sem bola. Os/as de fora têm de acertar os pés de quem está dentro.

Erros Comuns: Não concentrar no alvo. Não proteger a bola.

Variar o número de bolas no jogo para que haja troca de passes. Limitar o número de toques na bola. Jogar com 3 equipes. Permitir o desarme de pessoas com bola dentro do quadrado.

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JOGO 10: DIFERENTES ALVOS Objetivos: amplitude e organização espacial Público-Alvo: 6 a 14 anos

Quadra 2

Quadra 2

Quadra 1

Quadra 1

Recursos e Materiais: bolas, cones e coletes

Quadra 3

Quadra 4

Número de Participantes: 4 a 8

Quadra 3

Quadra 4 Legenda dos símbolos:

e

Alunas e Alunos

Baliza do gol

Dinâmica do Jogo: Neste jogo 2 equipes se confrontam no espaço de jogo tendo como objetivo fazer gols. A atividade se diferencia por haver 3 alvos ou 3 diferentes balizas nas quais podem ocorrer as finalizações. Cada equipe terá 3 balizas para atacar e também para defender. Não valerá defender os gols com as mãos, apenas com os pés. Os gols só podem ser de chutes rasteiros. Regras de Ação: A equipe ofensiva deve conseguir perceber que, quando o jogo se aglomera em torno de uma das metas, ela deve buscar atacar outra, invertendo o jogo. Deve perceber também que essa pode ser uma estratégia para enganar o/a adversário/a. Do ponto de vista defensivo, sugere-se marcação individual para acompanhar as mudanças de lado de jogo. Pode-se aproveitar desses diferentes alvos para explicar da importância das linhas de passe e do balanço defensivo, já que é um jogo que tende a mudar muito de direção. Variações: Acrescentar ou diminuir o número de balizas. Utilizar a estratégia do/a coringa.

Erros Comuns: Não buscar a baliza mais livre. Não buscar a vantagem numérica para atacar a baliza.

7 - ENSINANDO MAIS QUE (JOGAR) O FUTEBOL: O REFERENCIAL HISTÓRICO CULTURAL Ensinar os aspectos históricos e culturais do futebol é fundamental, uma vez que a valorização da cultura esportiva é promotora também de entusiasmo e da adesão à prática (MACHADO et al., 2014). Trata-se de não só ensinar a jogar, mas tomar o futebol como um objeto de estudo e de reflexão. Quando se trata da participação feminina, é preciso destacar que há uma história esportiva que invisibilizou as narrativas das mulheres, gerando uma aparente e não verídica sensação de inexistência (GOELLNER, 2005). A imprensa também contribui para o apagamento do esporte de mulheres, de modo que elas estão ausentes na maior parte do tempo dos noticiários específicos. Desta forma, é importante abordar essas questões nas aulas de educação física, assim como contribuir para a construção de artefatos buscando dar visibilidade às mulheres no futebol, propondo pesquisas e projetos e afirmando as personagens dessa história. Para isso, podemos lançar mão de algumas estratégias. 1) Exibição de filmes: que tratem da temática da participação de meninas no futebol (ou em outras modalidades esportivas). A partir do enredo, o/a professor/a pode promover reflexões ou sugerir pesquisas. Exemplos de filmes que podem ser exibidos: 24


- Driblando o destino (Reino Unido, Alemanha, EUA, 2002, 112 min), Gurinder Chadha Conta a história de uma garota indiana que adora futebol e quer se tornar jogadora profissional, mas devido a seus costumes tradicionais, enfrenta problemas em sua família. - Ela é o cara (EUA, 2006, 105 min), Andy Fickman Quando a adolescente Viola descobre que o time feminino de futebol é cortado de sua escola, ela resolve se disfarçar de seu irmão gêmeo para jogar no time masculino da escola dele. - Brilhantes F.C. (Brasil, 2011, 13 episódios), Kiko Ribeiro, Luís Pinheiro e Zaracla Cinco jovens se reúnem para formar o primeiro time feminino de futebol de uma cidade da zona rural de Minas Gerais. Além de lidar com seus problemas pessoais, lidam com o preconceito e as dificuldades de um time sem recursos monetários e auxílio estatal.

Figura 10: Exemplos do resultado de uma atividade de pesquisa sobre a realidade do futebol de mulheres no Brasil a partir da exibição de um filme.

Figura 11: Exemplo de realização de uma colagem temática sobre o futebol de mulheres após a exibição de um filme.

2) Leitura de livros que tratem da temática: podemos trazer para nossas aulas excertos de livros ou contos que ilustrem meninas ou mulheres praticando futebol ou outras modalidades esportivas. A partir desses textos, podemos problematizar as situações e as ausências de outras referências ou propor projetos em conjunto com os professores de português ou literatura. Uma outra sugestão, com crianças menores, utilizar esses materiais para contação de histórias e propor situações de aprendizagens a partir das cenas deles. Alguns exemplos de livros: - Meninas Também Jogam Futebol (Brasil, 2019), Larissa Galatti e Nathalia Servadio Cristini, uma menina que amava sua bola e jogava futebol, era rápida e habilidosa, jamais desistia de qualquer partida. No entanto, algumas pessoas não entendiam isso. Sempre ficavam curiosas e a questionavam. - Menina Também Joga Futebol (Brasil, 2014), Cláudia Maria de Vasconcellos A história acompanha a vida de Laurinha, do nascimento ao aniversário de nove anos. Entre uma data e outra, há um importante desafio: o que fazer quando os organizadores do Primeiro Campeonato de Futebol do Bairro Esperança proíbem a participação de menina? - Leila menina (Brasil, 2012), Ruth Rocha A história de Leila menina ocorre na cidade do Rio de Janeiro, em uma época muito especial para o Brasil: o ano de 1968, em que pessoas saíram às ruas para lutar pela liberdade política e pelos direitos das mulheres. - A menina que amava futebol (Brasil, 2019), Ilan Brenman Ana é apaixonada por futebol. Os meninos, porém, não deixam a garota entrar no time de jeito nenhum. Ela pode, no máximo, apitar o jogo. Mas o inesperado acontece e Ana acaba substituindo um jogador no time. 25


- Meninas Não Choram, Jogam Futebol (Brasil, 2015), Jeanice Franca Alves A vontade de Mariana, de apenas doze anos, de ajudar a família era tão grande quanto a de jogar futebol e foi por amor a essa família que ela fez de tudo para entrar para o time da Escola Tradicional de São Paulo. - Menina Não Entra (Brasil, 2007), Telma Guimarães Castro Andrade Um grupo de amigos resolve formar um time de futebol, convidando vizinhos e parentes. Mesmo assim falta um jogador. Começa o dilema: quem poderia se o jogador? Surge a ideia de convidar uma menina. Uma menina no time? Nem pensar! Logo mudam de opinião quando veem Fernanda mostrar suas habilidades.

Figura 13: Exemplo de criação de um mural sobre o significado do futebol para as meninas realizado para que as jovens imprimam os diversos sentidos do futebol nas suas vidas. Figura 12: Exemplo de criação do próprio álbum de figurinhas das/os alunos/as após a discussão de um livro e constatação da invisibilidade da modalidade.

PARA SABER MAIS REFERENCIAL HISTÓRICO CULTURAL MACHADO, Gisele Viola; GALATTI, Larissa Rafaela; PAES, Roberto Rodrigues. Pedagogia do esporte e o referencial histórico-cultural: interlocução entre teoria e prática. Pensar a Prática, v. 17, n. 2, 2014.

8 - ENSINANDO A JOGAR JUNTOS/AS O FUTEBOL: COOPERAÇÃO E CO-EDUCAÇÃO Jogar futebol é uma atividade que está atravessada por valores. Jogar bem implica i) respeitar a/o colega e a/o adversário; ii) trabalho em equipe, que é saber dialogar, respeitar uma decisão coletiva e cooperação; iii) ter disciplina em participar das atividades combinadas e se dedicar ao esporte. Esses valores devem ser trabalhados nas aulas de futebol, a fim de contribuir para formar jogadoras/es solidárias/os, respeitosas/os e colaboradoras/es. Nas aulas, esses valores aparecem como princípios, modos de comportamento, na troca de papéis (onde o aluno deve se colocar no lugar do outro), na promoção da participação, na autonomia e no ambiente favorável para a construção das relações interpessoais. Dessa maneira, sugerimos algumas adaptações das regras do futsal como forma de valorizar a participação, a inclusão e a cooperação. É possível modificar a forma do jogo – intencionalmente – para que todas/os possam participar sem que haja discriminação por 26


dificuldade de alguém. Além disso, é importante realizar momentos de diálogo e discussão com as/os alunas/os para análise e reflexão do que está sendo realizado, sobre a valorização e o respeito a/o outra/o. A falta de “confiança nas próprias habilidades” e a (in)capacidade de “arriscar-se em novas aprendizagens corporais” são cruciais para a forma como as/os alunas/os se relacionam com os jogos em nossas aulas. Muitas vezes, as meninas não se arriscam e não se acham capazes de conseguir participar bem das atividades (UCHOGA; ALTMANN, 2016). É preciso estimular as/os mais confiantes e/ou habilidosas/os a auxiliarem quem não têm tanta confiança em suas capacidades e motivá-las/os a tentarem. Assim, é primordial trabalhar com as/os alunas/os mais experientes, de forma que as/os mesmas/os não reproduzam alguns elementos negativos como individualidade excessiva, exclusão e intimidação das pessoas menos habilidosas/os.

Além disso, é fundamental discutir com as/os alunas/os como se sentem diante das atividades, o as/os mobiliza e o que desmobiliza, a fim de se perceberem diante desse contexto e atuarem coletivamente para transformá-lo. Você pode solicitar às/os alunas/os, por exemplo, que relatem os sentimentos que apresentam quando participam de disputas nas práticas esportivas e se esses sentimentos podem atrapalhar a participação de outras pessoas menos habilidosas. A seguir, sugerimos alguns jogos cujo objetivo é promover a relação de meninos e meninas, gerando um ambiente coeducativo, isto é, onde alunas/os podem participar juntos das atividades, problematizando as desigualdades de gênero que surgirem e valorizando as individualidades e as diferenças.

É importante que, ao final das atividades, você reflita com todos/as sobre o desenvolvimento das atividades, seus sentimentos e a disponibilidade em cooperar com as/os colegas.

JOGO: FUTEBOL EM PAR Objetivos: trabalho em conjunto entre meninos e meninas

Recursos e Materiais: bola e coletes Número de Participantes: 16 a 20

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Dinâmica do Jogo: Nessa atividade, a turma será dividida em duplas, privilegiando misturar meninos e meninas e buscando evitar alguns grupinhos formados. O jogo acontece com as regras do futsal, no entanto, os times serão formados com as duplas, que têm sempre de jogar de mãos dadas (ou amarradas). Regras de Ação: A dupla deve correr no mesmo ritmo, para a mesma direção e acordar qual é a ação tática que deve ser tomada. É importante que a dupla vá conversando seus princípios táticos para jogar e sobre as suas decisões durante a partida. Além disso, ambos devem respeitar o ritmo e a limitação de cada um. Variações:

Erros Comuns:

Estabelecer que alguma ação só é permitida para uma pessoa da dupla (como uma pessoa recebe, outra passa a bola; só uma pode finalizar) e depois revezar essa permissão. Estabelecer campos delimitados na quadra onde as duplas podem jogar, a fim de evitar trombadas entre duplas.

Uma das pessoas tentar jogar sozinha. Não respeitar ou dialogar com a outra.

JOGO: TODAS AS POSIÇÕES Objetivos: oportunizar a todas/os as vivências de todas as funções do jogo Recursos e Materiais: bola, coletes e giz para marcar o chão. Número de Participantes: 10

Legenda dos símbolos:

Meninas

Meninos

Dinâmica do Jogo: Todos os/as jogadores/as passam por todas as posições do jogo determinadas espacialmente na quadra. Isso pode ser feito por um tempo determinado, conforme o resultado ou a cada tempo de jogo. Por exemplo, as posições podem ser trocadas depois de 3 minutos de jogo, depois de cada gol ou no fim de cada tempo de jogo. Regras de Ação: No decorrer de cada jogo, cada aluno/a joga em posições diferentes. Elas possibilitarão conduzir a bola, driblar, finalizar. Variações:

Erros Comuns:

Estabelecer zonas de jogo para cada posição. Estabelecer que não é possível interceptar a bola se o/a aluno/a estiver dominando-a com um dos pés por cima dela. Estabelecer no rodízio que não só o/a aluno/a muda de posição, mas também de equipe, a fim de todos/as jogarem juntos/as.

Pode acontecer de algum/a aluno/a se sentir desconfortável em determinada posição se “esconder” no jogo durante o período em que ocupar aquele lugar. Você pode motivá-lo/a ou tentar descobrir o porquê desse desconforto.

JOGO: JOGO COM PÉS E MÃOS Objetivos: desestabilizar o jogo tradicional, tornando-se um jogo novo tanto para os meninos quanto para as meninas

Recursos e Materiais: 1 bola para cada minijogo, coletes. Número de Participantes: 10 a 20

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Dinâmica do Jogo: Essa atividade ocorre com a divisão de duas equipes (que podem ter de 5 a 10 integrantes), tendo meninos e meninas em ambas as equipes. A regra é que ao lançar/passar a bola, se for lançada com as mãos a pessoa para quem foi realizado o passe, deve receber com os pés e vice-versa. Só é permitido interceptar durante o passe, ou seja, não pode roubar a bola quando ela está nas mãos de alguém ou dominada com os pés. O objetivo é fazer ponto, que pode ser colocando a bola após a linha de fundo, no chão, ou mesmo acertando o gol. Regras de Ação: A equipe tem que se organizar para saber qual ação deve ser realizada, se é com as mãos ou com os pés, além de pensar uma estratégia boa para finalização. Variações:

Erros Comuns:

Estabelecer que só se pode finalizar em determinado lugar (se for acertar o gol). Determinar mínimo de passes para poder finalizar. Proibir de retornar a bola para a pessoa da qual a recebeu.

Receber a bola da mesma forma pela qual ela havia sido passada. A bola só ser passada entre meninos mais habilidosos e/ou as meninas só receberem as bolas com as mãos. Embora isso não seja um erro, limita a participação delas e, por isso, você deve intervir incentivando-as.

PARA SABER MAIS Pedagogia do esporte e referencial socioeducativo MACHADO, Gisele Viola; GALATTI, Larissa Rafaela; PAES, Roberto Rodrigues. Seleção de conteúdos e procedimentos pedagógicos para o ensino do esporte em projetos sociais: reflexões a partir dos jogos esportivos coletivos. Motrivivência, Florianópolis, n. 39, p. 164-176, dez. 2012. Coeducação e Educação Física escolar: JESUS, M. L. de; DEVIDE, F. P. Educação Física escolar, co-educação e gênero: mapeando representações de discentes. Movimento, Porto Alegre, v. 12, n. 3, p. 123-140, set./dez. 20

9 - ORGANIZANDO O FUTEBOL EM UMA UNIDADE DIDÁTICA COM O MODELO DE EDUCAÇÃO ESPORTIVA A pergunta que deve emergir após todas essas sugestões é de como relacionar os referenciais técnico-tático, histórico cultural e socioeducativo em uma unidade didática, de um bimestre ou trimestre, na escola ou escolinha? Ou mesmo, diante desses conhecimentos, como organizar um festival ou campeonato de futebol? As competições que envolvem o futebol são muito comuns dentro da escola, porém, nem sempre são inclusivas ou mesmo uma oportunidade de aprendizado para todas/os alunas/os. Uma proposta que tenta sistematizar como criar um ambiente competitivo educativo e inclusivo é o Modelo de Educação Esportiva (MEE), que se organiza em três grandes pilares de conteúdos e competências a serem ensinados e seis grandes tempos da unidade didática.

PRINCÍPIOS DO MODELO DE EDUCAÇÃO ESPORTIVA

PILARES

i) a competência motora das/os alunas/os: a capacidade das/os alunas/os em realizar determinada prática de maneira adequada; ii) o fomento do entusiasmo com o esporte: criação de afinidade, prazer e vínculo entre a/o participante e a prática realizada; iii) promoção de uma literácia esportiva: o ensino dos valores, regras, tradições do esporte em questão, sabendo diferenciar boas e más condutas dentro dessa atividade.

TEMPOS DA UNIDADE DIDÁTICA

i) a época esportiva que dura a unidade didática da modalidade esportiva; ii) a criação de uma equipe ao qual cada aluna/o pertencerá durante a época toda; iii) desenvolvimento de treinos e disputas de jogos dessa modalidade esportiva; iv) o registro estatístico para acompanhamento da participação e compreensão do jogo pelas/os alunas/os; v) festividade, que envolve o entusiasmo com a participação no esporte; vi) evento culminante, que é a finalização da unidade didática com a realização de um festival. Seguem algumas sugestões para atuar com o modelo. 29


ALGUMAS SUGESTÕES PARA ATUAR COM O MODELO DE EDUCAÇÃO ESPORTIVA

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1)

A época esportiva constitui a unidade didática sobre determinada modalidade, cuja duração ideal seria de, pelo menos, 20 aulas.

2)

A organização dos eventos deve ser realizada ser em pequenos grupos, os quais permanecem ao longo de toda a época esportiva, fortalecendo a afiliação e o sentimento de pertença ao grupo.

3)

Os pequenos grupos devem ser divididos a partir de critérios que busquem equidade para a participação de todas/os as/os alunas/os, buscando não somente um equilíbrio competitivo, mas também relações saudáveis de cooperação. É interessante também que essas equipes sejam formadas de modo a que os/as alunos/as convivam com colegas que não costumam interagir no dia-a-dia. Essas equipes não só disputam os campeonatos, como os organizam, a partir de uma série de funções.

4)

Essas funções devem ser rodiziadas pelas/os alunas/os durante o desenvolver do evento. São funções como de árbitras/os, jornalistas, treinador/a, jogadoras/es, torcedoras/es, staff etc. O/a professor/a auxilia o desenvolvimento do trabalho dessas equipes, sendo um/a mediador/a da aprendizagem de cada uma dessas funções.

5)

Cada equipe destacará um/a aluno/a para desempenhar o papel de treinador/a e de capitã/o. O primeiro contribuirá para organizar os momentos de “treinamento” da equipe para as partidas disputadas e o segundo será o principal canal de comunicação entre a equipe e o/a professor/a. Além dessas funções, como auxiliar no treinamento, a equipe poderá destacar um/a analista de desempenho para fazer scout dos treinos e das partidas. As fichas de scout podem conter elementos como: número de passes, chute a gol, desarmes entre outros, evitando dar ênfase para os erros cometidos. Isso ajuda os/as alunos/as a aprenderem a prestar mais atenção a elementos da participação no jogo.

6)

O regulamento pode ser criado em conjunto com a turma. Pode ser proposta a criação de regras adicionais às regras formais do futsal ou, então, propor regras simplificadas do jogo, fazendo com que esse possa ser acessado mais facilmente por todos/as.

7)

Os membros das equipes também devem colaborar na confecção dos nomes das equipes, dos logotipos, símbolos e mascotes, entre outros, isso contribui também na participação diversificada dos participantes e fomenta a “socialização esportiva plena e autêntica”

8)

A época esportiva deve abarcar, por toda a sua duração, diversas competições, sendo proposto, de antemão ao seu início, um planejamento dos jogos e atividades. Durante o evento podem ser realizadas atividades extras: como cartazes temáticos, doações de alimentos, roupas ou outras ações sociais, confecções de materiais alternativos.

9)

A avaliação pode considerar as tarefas desempenhadas pelos/as alunos/as, de acordo com participação e envolvimento. Esses pontos podem ser somados aos pontos decorrentes dos jogos ou simplesmente servirem como formas de avaliação.

10)

Os critérios construídos acerca do rendimento esportivo das equipes, também deverão ser avaliados ao longo do processo, garantindo aos/às alunos/as o sentimento de superação e emancipação. Isso significa que na construção do regulamento dos campeonatos/festivais, outros critérios podem ser considerados, como desempenho da torcida, pontualidade, organização do espaço, cuidado com os materiais, cooperação, respeito e solidariedade. A pontuação do jogo ainda pode ser diferente do jogo formal, sendo organizado por sets, em vez de somatória total de gols marcados.

11)

Cada época esportiva se encerra com um evento final, que deve ser festivo assim como toda uma final competitiva deve ser. Esse evento é organizado e jogado pelos/as alunos/as. Para isso, eles/as se rodiziam nas tarefas de organização, de modo que quando duas equipes jogam, outras contribuem com arbitragem, cobertura jornalística, staff. Para esse evento, outros espaços como praias, parques, praças podem ser utilizados como palco das partidas. Isso pode trazer uma ideia de valorização dos espaços públicos e de aproximação das/os alunas/os com estes.

12)

A pontuação final pode incluir pontuação de fair play, solidariedade, cooperação, dentre outros aspectos. Isso tira o peso do resultado do jogo e valoriza também outros tipos de protagonismos ao longo do processo. Ao final do evento culminante são entregues os prêmios definidos pelo/a professor/a. As premiações podem ser de campeão, de fair play, artilheira/o, torcida mais animada, entre outros.


O MEE pode contribuir para aprimorar o trabalho feito com o futebol principalmente em contextos escolares. O modelo se apresenta como uma ferramenta interessante para promover a participação de meninas: propondo que as tarefas sejam divididas entre todas/os as/os alunas/os e que estas/es assumam diferentes papéis durante o processo, contribui para que elas possam ocupar funções que possivelmente não ocupariam em contextos tradicionais de aula. Assim, elas são estimuladas a participarem como técnicas, árbitras, capitãs e, principalmente, como jogadoras nos eventos. Esse tipo de ambiente pode não significar a participação imediata de meninas, mas colabora nesse processo despertando interesses, vencendo interdições culturais e promovendo entusiasmo das participantes dentro do ambiente de aprendizagem, conforme algumas pesquisas já têm demonstrado. Por isso, o MEE é visto como possibilitar de boas relações para a participação em comum de meninas e meninos. Para solidificar isso, o modelo preza pelo trabalho em grupo como fator importante na criação de vínculos entre as/os alunas/os, assim como aponta para o sentimento de ajuda mútua, construído entre os/as participantes envolvidos/as, como forma de ampliar os sentidos de trabalho em equipe. A valorização positiva do outro, dentro do modelo, se torna então elemento importante para combater exclusão, a autoexclusão e os casos de desestímulo dentro da escola (MESQUITA et al., 2014).

PARA SABER MAIS MESQUITA, Isabel Maria Ribeiro et al. Modelo de educação esportiva: da aprendizagem à aplicação. Journal of Physical Education, v. 25, n. 1, p. 1-14, 2014. MESQUITA, Isabel et al. Representação dos alunos e professora acerca do valor educativo do Modelo de Educação Desportiva em uma unidade didática de Atletismo. Motricidade, v. 12, n. 1, p. 26-42, 2016. SILVA, Bruna Saurin; DE SOUZA, Ana Cláudia Ferreira; MARTINS, Mariana Zuaneti. Desafiando o abismo tradicional: uma aproximação entre práticas inovadoras e o modelo de educação esportiva no âmbito da educação física escolar. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 2019.

DISTRIBUIÇÃO DAS/OS ALUNAS/OS DURANTE OS JOGOS Figura 5: Alunos flutuantes, figurantes e excluídos

Legenda dos símbolos:

Jogadoras/es

Jogadoras/es

Treinadoras/es

Árbitras/os

Jornalistas

Torcedoras/es

Fonte: As autoras.

Sugestão 4 - Essas funções devem ser rodiziadas pelas/os alunas/os durante o desenvolver do evento. São funções como de árbitras/os, jornalistas, treinador/a, jogadoras/es, torcedoras/es, staff etc. O/a professor/a auxilia o desenvolvimento do trabalho dessas equipes, sendo um/a mediador/a da aprendizagem de cada uma dessas funções.

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10 - ENSINANDO O FUTEBOL PARA JOGAR FORA DA AULA: RECRIANDO O RECREIO Assim como as aulas de Educação Física, o recreio também é espaço e tempo de aprendizagem. Embora esse tempo seja tratado como um momento “livre” em que os/as alunos/as desenvolvem as atividades de preferência de forma não diretiva, o recreio pode servir para reforçar as desigualdades de participação esportiva e, consequentemente, gerar exclusões. Via de regra, a tendência é que a quadra ou espaço seja controlado por parte dos meninos, enquanto as meninas ficam com outros espaços para desenvolverem atividades menos ativas. Para mudar o cenário mais usual, no qual os meninos exercem domínio dos espaços da escola durante o recreio – normalmente para jogar futebol, futsal, futmeia, futlata etc. –, é importante despertar o interesse das alunas em ocuparem aquele espaço e conscientizar os/as alunos/as para se socializarem de forma interativa.

Nossa sugestão é a criação de parcerias entre professores/as e alunas/os, possibilitando que a atuação deles/as aconteça de forma amistosa, evitando que situações de desigualdade e de conflito. Para isso, o/a professor/a pode combinar com os/as alunos/as algumas regras para a organização das brincadeiras. Além do jogo, é necessário pensar nos/as outros/as participantes para que haja uma integração, seja como o “apoio”, como os/as torcedores/as, como a arbitragem.É necessário também pensar a divisão do tempo, podendo, por exemplo, ser de forma intercalada, por séries e dias da semana. Pois assim, será construído junto a elas/es um ambiente mais agradável tornando-as/os protagonistas durante o processo.

Algumas regras para a organização das brincadeiras Regra nº 1 – meninas e meninos devem compor a equipe; Regra nº 2 – meninas e meninos devem fazer parte da organização e do apoio; Regra nº 3 – meninas e meninos para apitar; Regra nº 4 – meninas e meninos responsáveis pelos materiais; Regra nº 5 – o/a jogador/a que fizer o gol, não poderá ser o/a autor/a do próximo, podendo dar apenas assistência; Regra nº 6 – antes da finalização, a bola teria que passar por todos os componentes da equipe; Regra nº 7 – os/as alunos/as que desrespeitarem as regras, os apoios e os/as colegas, serão punidos com suspensão da atividade por um dia.

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MODELOS DE JOGO PARA O RECREIO Figura 6 - Estações com jogo reduzido

Legenda dos símbolos:

Jogo de basquete 3x3

Jogo de futsal 3x3 de furingo

Pular corda

Jogo de vôlei 3 corta

Zona de atuação Monitores

Figura 7 – Jogo de Futsal de formal

Legenda dos símbolos:

Jogadoras/es

Jogadoras/es

Espectadoras/es

Espectadoras/es

ATENÇÃO! É necessário ficar atenta/o à participação das meninas. Muitas vezes, o ambiente misto pode provocar uma timidez e afastá-las de comporem as equipes. Se for este o caso, uma solução é trabalhar com a divisão do espaço, garantindo uma porção da quadra para as meninas, ou mesmo do tempo, em caso de jogo formal. Essa pode ser uma medida paliativa que ajude as meninas a se engajarem na ocupação desse espaço e tempo do recreio. É interessante também dividir o ano, de modo a alternar as modalidades esportivas trabalhadas também, a fim de engajar mais alunos/as na ocupação desse tempo e espaço.

PARA SABER MAIS: WENETZ, Ileana. Gênero e sexualidade nas brincadeiras do recreio – Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.

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Nosso o b jetivo aqui é pro mo ve r o e mp o d e ra me n to d a s g a ro ta s para o fu teb o l! Lembrand o q u e e mp o d e ra me n to n ã o é a lg o q u e é outo rgad o o u d efinid o p o r o u tre m. N ã o b a s ta m a p e n a s at iv idad es

in clu sivas.

Tra ta -s e

ta mb é m

de

in fo rma çã o

e

m obilização para a transfo rma çã o . P o rta n to , é u ma q u e s tã o d e con h ec imento , mas so b re tu d o d e a titu d e . P e rce b e r q u e a s garotas podem faz er e jog a r, me s mo q u e a in d a n ã o te n h a m tid o m uita oportunid ade de e xp e rime n ta r, e n vo lve in fo rmá -la s d e m an eira c rítica so b re ess a s d e s ig u a ld a d e s . O engajamen to fren te a u ma mu d a n ça imp lica a cre d ita r e , ac ima de tudo, ten tar, s e a rris ca r e d e s a fia r a co rriq u e ira e cotid ian a fro n teira das m a s cu lin id a d e s n o e s p o rte , p ro d u zin d o outras g ramáticas femin in a s e ma s cu lin a s n o fu te b o l.


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