ARTIGOS

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GÉNEROS REDACTORIAS

NOTÍCIA

ALENTEJO ECOLÓGICO

Uma aldeia solar experimental, construída em pleno Alentejo, está a ser testada por uma eco comunidade. O projeto recorre a vários protótipos tecnológicos para tornar uma comunidade de 50 pessoas autossuficientes a nível energético.

Nesta publicação: NO METRO SEM CAL- 3 ÇAS EUROPEUS SENTEM-SE 4 DISCRIMINADOS

Parkour «é mais do que um desporto»

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O «NOSSO» TOR

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REI-

TEATRO SOLIDÁRIO EM ALBUFEIRA

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Revendedores de jornais e revistas constatam crise

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Quem avança alguns quilómetros por uma estrada de terra batida, próxima de Colos, em Odemira, depara-se com um cenário diferente ao esperado. A inovação tecnológica imiscui -se com a paisagem campestre. Numa área com mais de 150 hectares, em Tamera, encontra-se o campo de testes de uma Aldeia Solar. O projeto iniciou-se no mês de Outubro e terá a duração de um ano. A responsabilidade é da eco comunidade de Tamera, que pretende demonstrar que, sem a utilização de combustíveis fósseis ou poluentes, é possível efetuar variadas tarefas domésticas, tais como «bombear água, produzir e cozinhar alimentos, aquecer e iluminar as casas». A aldeia solar é um

modelo alternativo para uma futura comunidade ou aldeia da paz, que pode ser generalizado e erigido em qualquer lugar na Terra que tenha uma quantidade de luz solar razoável. O motivo da escolha da região alentejana é evidente: está privilegiada em exposição solar. «A ideia é viver um ano inteiro com esta tecnologia, ver como funciona e encontrar os pontos fracos e fortes, para poder projetar um modelo para a Tamera inteira», onde vivem mais de 150 pessoas, explicou à Agência Lusa Barbara Kovats, coordenadora da Aldeia Solar.

Protótipos tecnológicos A aldeia solar experimental, que visa a autossu-

ficiência energética de 50 pessoas, conta, por exemplo, com uma estufa multifuncional que possibilita o cultivo de alimentos com pouco consumo de água. Ainda, aquece óleo vegetal que é acumulado num receptáculo. Junto da cozinha, construída no âmbito do projeto, um espelho, com cerca de dois metros de diâmetro, desperta a curiosidade: «É um espelho de foco fixo, que vai refletir o Sol para um tacho próprio, que aquece água em cerca de 30 minutos», explica Fabian Deppner, também membro da Tamera e colaborador no projeto. Outro protótipo em testes no Alentejo é a bomba de água, que trabalha, à semelhança dos restantes sistemas, apenas com energia solar termal.


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Eco Aldeias «A ideia é viver um ano inteiro com esta tecnologia, ver como funciona e encontrar os pontos fracos e fortes, para poder projetar um modelo para a Tamera inteira» - Barbara Kovats

Uma eco aldeia, pequena comunidade de indivíduos numa estrutura social coesa, está sedimentada em três dimensões: comunidade, ecologia e espiritualidade. O objetivo é promover um estilo de vida aos seus membros em harmonia com a Natureza. Apesar da propagação do conceito nos últimos anos, as comunidades humanas sustentáveis ainda dão passos tímidos em Portugal, e a maioria das pessoas parece não estar preparada para abdicar do seu estilo de vida atual. Porém, já está em fase de formação a Rede Portuguesa de Eco aldeias e Comunidades Sustentáveis, a cargo da organização Global Ecovillage Network. O objetivo é «promover o desenvolvimento de comunidades humanas sustentáveis em território Nacional, facilitar a troca de informações e a colaboração entre todos os membros portugueses pertencentes à rede mundial, e disseminar o conceito de eco aldeia, práticas e centros de demonstração». Esta rede pretende «encorajar sistemas que integrem ecologia, educação, mecanismos de participação em decisões, espiritualidade, bem como tecnologias e negócios ecológicos". Até ao momento, em Tamera utilizam-se energias à base de combustíveis fósseis. A próxima etapa do projeto será granjear patrocinadores, para desenvolver a tecnologia e planejar sua proliferação.

E no seu caso, se comprovada a viabilidade do projeto, será capaz de abandonar a sua vida atual e aderir a uma eco comunidade?

Título do bloco interior


NO METRO SEM CALÇAS No passado domingo, dezenas de pessoas desafiaram o frio e viajaram no Metropolitano de Lisboa sem calças vestidas. A iniciativa foi do grupo ImprovLisboa que promoveu um dia mais animado do que o habitual.

Um pouco de caos e alguma loucura podem ser, por vezes, os ingredientes para uma boa risada. Existem iniciativas como o dia sem carros ou sem compras, mas o passado domingo foi no mínimo irreverente. Contrariando as baixas temperaturas e a chuva, os lisboetas aceitaram o desafio do grupo ImprovLisbo e viajaram de metro mas sem calças. A iniciativa tinha por objetivo «tornar as pessoas mais alegres e bemdispostas e mais conscientes de que às vezes as regras alteram-se e o mundo não é sempre igual. As pessoas vão sempre caladas no metro a pensar que o dia de hoje vai ser igual a todos os dias e hoje não vai», afirmou à Lusa o mentor da ideia em Portugal, Francisco Belard (responsável pelo grupo). Tal como anunciado no blogue, o ImprovLisboa pretende causar «situações de caos e alegria no dia cinzento dos habitantes de Lisboa». O grupo é «discípulo» do ImprovEverywhere, com sede em Nova Iorque e mentor deste tipo de movimentos. Manuel Catarino, de 49 anos, era um dos participantes mais velhos. Contou à Lusa que quando viu na Internet o anúncio da iniciativa, prontamente disse às filhas que iria participar. «Pedi ajuda à minha filha do meio, [disselhe] vê lá se é em Alvalade, não sei bem o que é que é e a minha filhota disse-me que era no metro de Alvalade. E eu disse porreiro, estou lá». No entanto, as filhas ficaram em casa. «As minhas filhas não se metem nisto, o pai é que sempre foi maluco e continua a ser», disse Manuel Catarino. Apesar da boa disposição, não se pretendia chocar ninguém e, por isso, havia regras a cumprir. Foram proibidas peças que

ferissem a susceptibilidade dos outros passageiros. Por ser um domingo, as carruagens do metro iam mais vazias, do que o habitual. Ainda assim, existiram passageiros suficientes para que a iniciativa provocasse algumas reações. «Faz-me pensar, questiono porquê, porque é que com um frio destes as pessoas estarão assim [sem calças]?», argumentou Maria Marques. Já Herculano Gaspar evidenciou uma opinião mais favorável. «Nestes primeiros dias de Janeiro, acho que é das poucas coisas que fazem rir um bocadinho e acho muito engraçado», disse à Lusa, admitindo que «faz muita falta rir». Outros passageiros, como Inês Martins, admitiriam que gostariam de participar no próximo ano. «Temos aquela ideia que os portugueses olham de lado ou gozam um pouco, mas daquilo que eu tenho estado a ver, até agora, as pessoas riem-se e eu acho muita piada. Não faz mal nenhum rir e se tivermos de esperar por situações deste género, melhor ainda porque há que ser original», defendeu. Assim, pelo segundo ano consecutivo e ao mesmo tempo que outras 40 cidades europeias Lisboa foi palco de mais um evento fora do vulgar

Evento teve lugar em pelo menos 40 cidades europeias.


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EUROPEUS SENTEM-SE DISCRIMINADOS NOTÍCA O EUROBARÓMETRO DE 2009 REVELA QUE UMA EM CADA SEIS PESSOAS NA EUROPA AFIRMA TER SIDO VÍTIMA DE DISCRIMINAÇÃO

Tatyana (nome fictício) destaca-se pelo tom de pele, muito branco, pelos olhos verdes e pela sua peculiar pronúncia. Chegou a Portugal em 2000, vinda de leste. Abandonou a pátria e há 6 anos que trabalha em Faro, onde vive com o marido e a filha. A vitória de Tatyana não foi só chegar ao nosso país, mas também arranjar trabalho. «Há muito preconceito» diz a emigrante, acrescentando que o fator da idade, ou seja, os seus 46

anos, foi causa de discriminação ao conseguir emprego. A ex-professora é hoje em dia funcionária de limpeza. Depois de muitos «não», está empregada, mas sublinha que apesar de discriminada pela nacionalidade e idade estes trabalhos são dados a pessoas nas mesmas condições que ela, que muitas vezes se subjugam a salários mais baixos, horários maiores e tarefas mais difíceis. «Tenho muitas ami-

sondar a opinião pública sobre esta problemática em 2006 como parte de uma campanha para sensibilizar as pessoas para os seus direitos. Três anos depois, no mês de Novembro, revelou os resultados do Euro barómetro sobre «Discriminação na União Europeia». O inquérito efeEUROBARÓMETRO MEDE tuou-se durante Maio e Junho. Ao todo foram inquiDISCRIMINAÇÃO ridas mais de 27 000 pesA UE começou a soas nos 27 países da UE

gas [de leste] a trabalhar como eu, a fazer o mesmo». Tatyana não dá o nome. Não se trata de nome, trata-se de caras, de histórias e ela partilhou a sua connosco. Um exemplo dos muitos casos de discriminação que ilustra a realidade comprovada pelo último estudo europeu neste âmbito.


e em três países candidatos (Croácia, Antiga República Jugoslava da Macedónia e T u r q u i a ) . Um em cada seis (16%) europeus afirmou ter sido vítima de discriminação (com base na idade, etnia, religião, sexo, e na orientação sexual). A percentagem manteve-se em grande medida inalterada em relação aos valores obtidos em 2008. «A discriminação continua a ser um problema na Europa e a perceção deste fenómeno pelas pessoas manteve-se estável em comparação com o ano anterior», aclarou Vladimír Špidla, o Comissário Europeu responsável pela Igualdade de Oportunidades. «É, nomeadamente, preocupante que a perceção da discriminação baseada na idade esteja a aumentar em consequência da recessão. Estes

resultados revelam que, apesar dos progressos alcançados, temos ainda um longo caminho a percorrer se pretendemos sensibilizar as pessoas para os seus direitos em matéria de igualdade de tratamento, em particular a nível nacional, e garantir que a igualdade não seja apenas uma frase vazia, mas possa tornar-se uma realidade», acrescentou. A discriminação contra grupos étnicos é ainda considerada o maior problema, com 61% dos inquiridos a considerá-la comum no seu próprio país. No entanto, surge neste domínio uma preocupação acrescida com o fator idade. 58% dos europeus apontam que este tipo de está generalizada no seu país. Para 64% dos europeus, a atual recessão poderá agravar a discriminação com base na idade que se

verifica no mercado de trabalho. Esta preocupação pode ser consequência da situação económica que muitos países europeus vivem, em consequência do abrandamento financeiro. Também pode ser sinal de uma maior consciencialização por parte das pessoas relativamente a esta forma de discriminação. Para denunciar os casos de discriminação, a maioria dos europeus prefere contactar primeiro a polícia (55%), ao passo que 35% optam por recorrer ao organismo nacional competente em matéria de igualdade e 27% a um sindicato. A confiança nas diversas organizações que intervêm na luta contra a discriminação varia fortemente de país para país.

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A discriminação baseada na idade é um problema crescente, segundo a maioria dos europeus.

PORTUGUESES QUEIXAM-SE DE DISCRIMINAÇÃO SEXUAL Em Portugal foram entrevistadas pela TNS Euro teste 1.020 pessoas. Os dados divulgados pelo Euro barómetro revelaram que 58% dos portugueses consideram comum a discriminação em função da orientação sexual, enquanto, que em média, os europeus apontaram-na apenas como o quarto tipo mais comum de discriminação. A discriminação devido à origem étnica e a deficiência foram também consideradas habituais pela maioria dos inquiridos, surgindo como os mais importantes tipos de discriminação em Portugal imediatamente a seguir à orientação sexual (57% em ambos os casos). Apenas um em cada quatro portugueses (24%) admite conhecer os seus direitos se for vítima de discriminação ou assédio, sendo este o terceiro valor mais baixo da UE (a par da Polónia e apenas à frente da Bulgária e Áustria), numa média comunitária de 33%. Vladimir Spidla, afirmou ainda que «apesar dos progressos alcançados», ainda existe «um longo caminho a percorrer", sobretudo no sentido de "sensibilizar as

pessoas para seus direitos em matéria de igualdade de tratamento, em particular em nível nacional, e garantir que a igualdade não seja apenas uma frase vazia, mas possa se tornar uma realidade». MUITAS ORGANIZAÇÕES E UM ÚNICO OBJECTIVO Os resultados deste último inquérito Euro barómetro precederam a realização da Cimeira Europeia da Igualdade deste ano. Foi nos dias 16 e 17 de Novembro que se realizou em Estocolmo a III Cimeira Europeia da Igualdade. Organizado em conjunto pela Presidência Sueca da União Europeia e a Comissão Europeia, este evento anual visou eleger a discriminação e a diversidade como questões prioritárias, ao mais alto nível das agendas políticas da UE e dos governos nacionais, e possibilitar uma partilha de conhecimentos e experiências, tendo em vista a determinação de abordagens mais eficazes para combater todas as formas de discriminação. Esta Cimeira representou apenas um dos esforços realizados na UE no

sentido de ajuda a combater a discriminação em relação à religião, idade, deficiência ou orientação sexual. Ainda este ano a campanha «Pela diversidade. Contra a discriminação.» organizou, pela primeira vez, uma série de Dias da Diversidade que tiveram lugar no Chipre, no Luxemburgo, na Suécia e em Portugal. Em Portugal, os Dias da Diversidade decorreram durante quatro dias (15 a 18 de Outubro) no Centro Comercial Colombo em Lisboa, onde foram organizadas atividades para avivar o tema da identidade e da diversidade. Para demonstrar o seu apoio à diversidade e fomentar a sensibilização para a discriminação, entre 2004 e 2005 milhares de pessoas também participaram em maratonas e corridas em cidades da Europa como Roma e Roterdão vestindo as camisolas amarelas da campanha «Pela diversidade. Contra a discriminação.». Presentemente, existem vários organismos nacionais de promoção da igualdade na grande maioria dos Estados-Membros da

nacionais de promoção da igualdade na grande maioria dos Estados-Membros da UE. Estas organizações aconselham pessoas que foram discriminadas e explicam-lhes os seus direitos e a forma como devem apresentar queixa, realizam estudos sobre a discriminação e publicam relatórios sobre o tema, de forma a ajudar a melhorar o conhecimento do problema e contribuir para encontrar soluções. Também existem organizações não governamentais (ONG) ativas no campo da discriminação e da diversidade em toda a Europa. Estas ONG promovem a sensibilização para a discriminação. Entre as várias organizações europeias que se debruçam sobre a problemática da discriminação, poderão ser realçadas a YFJ que promove os direitos dos jovens; a ILGA que promove os direitos dos gays, lésbicas, bissexuais e trangéneros; a AGE que promove os direitos das pessoas idosas; a EDF que promove os direitos das pessoas com deficiência e a ENAR que promove os direitos das pessoas pertencentes a minorias raciais, étnicas ou religiosas. É encorajador verificar que, segundo os dados do Euro barómetro, distintos mecanismos sociais permitem ultrapassar


situações de discriminação. O relatório mostra que os círculos sociais, os esforços realizados a nível da educação e as campanhas de sensibilização estão a contribuir para uma maior aceitação da diversidade. As iniciativas e medidas políticas que procurem basear-se nesta realidade poderão ajudar a combater a discriminação e a promover a diversidade

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ENTREVISTA

Parkour «é mais do que um desporto»

Parkour, ou «l'art du déplacement», tem como princípio elementar a deslocação de um ponto a outro com a maior rapidez e eficácia possível. Oriundo de França, surgiu na década de 80 com o objetivo de ajudar a superar obstáculos de qualquer natureza no ambiente circundante — desde galhos a pedras, grades e até paredes. Apesar da crescente adesão por parte dos jovens, esta nova forma de expressão, ou tipo de desporto, está rodeada de polémica. Os traceurs Dace e CKK contaram à Redacção 2.3 a sua experiência e explicaram como caem seguros no que lhes dá tanto gosto fazer. O que é para vocês o Parkour?

contornar. Em Parkour, um obstáculo serve para nós evoluirmos, para nós próTraceur Dace: Do ponto de prios desbloquearmos a nosvista físico, o Parkour consis- sa mente e sabermos os te em chegar do ponto A ao nossos limites. ponto B o mais reto possível, sem fazer qualquer desvio. Como se iniciaram nesta modalidade? Do ponto de vista psicológico é ultrapassar todas as barreiras, visando sempre a evolu- Dace: Para dizer a verdade, ção. Tornamo-nos cada vez houve uma passagem de melhores, mais conhecedo- ano que não prestou para res de nós próprios, mais nada (risos). Eu e mais dois capazes e visamos nunca amigos lembrámo-nos de desistir... começar a treinar algo que tínhamos visto em vídeos Traceur C.K.K: Parkour que se chamava Parkour, para mim é mais do que um mas não sabíamos realmendesporto. É mais uma te o que era. Para nós eram maneira de ver a vida do que saltos e pronto. Começámos um desporto. Para quem faz a treinar, mas não valíamos Parkour, um obstáculo é algo nada (risos). Demos pequeque se tem de ultrapassar, e nos saltos, mas gostámos não que se deve evitar ou bastante. Começámos a

treinar e, a partir daí, a aprender mais. Conhecemos os vaults, ou os truques. Aprendemos a importância do Parkour, a sua filosofia e a componente mental. Ao fim de seis meses, num treino a que eu não fui, o C.K.K foi treinar. Havia uma parede que diziam ser impossível de subir... Disseram-lhe para tentar, e ele subiu aquilo de uma maneira melhor do que todos nós. A partir daí ele viu que conseguia fazer coisas que pensava não conseguir realizar. E acho que toda gente consegue fazer muito mais do que imagina, e não se atreve a tentar porque pensa que é difícil.

O que sentem ao praticar Parkour? C.K.K: Quando faço Parkour basicamente o que sinto é liberdade. Sinto que tenho a mente aberta para tudo, sinto que estou a voar (entre aspas). Sinto-me leve…

Dace: Realmente, quando faço Parkour, o principal sentimento é o de liberdade. Especialmente a liberdade da sociedade, porque estou fora do “normal”. Também liberdade de espírito porque estou a evoluir. Estou a ultrapassar barreiras. É também muita adrenalina... Por outro lado, SALTAM PELA AVENTURA muito medo que vai sendo E CORREM CONTRA O transporto. MEDO


Os traceurs são alvo de muita crítica, como sentem que são encarados pela sociedade? Dace: Aos olhos da sociedade nós somos vândalos, completamente, excepto quando há exibições. Aí somos “meninos lindos”, fora isso somos sempre vândalos. Apesar dessa visão, em Portugal o Parkour tem ganho cada vez mais adeptos, já se pode falar numa comunidade? C.K.K: Fazer Parkour cá é uma coisa boa porque não há muitas pessoas a praticar de facto. Mas existe sim uma comunidade onde basicamente toda a gente se conhece. Ajudamo-nos uns

aos outros. Há sempre encontros, e para estarmos todos juntos é um bom convívio. Que características deve ter um traceur? C.K.K: O Parkour é muito fascinante, mas há um aspeto que muitas vezes as pessoas desconhecem. É a parte, talvez das mais importantes, em termos físicos. Refiro -me à flexibilidade. Muitos pensam “qualquer pessoa faz isso”, mas não, requer muito esforço físico, treino, “muitos trabalhos de casa”. Como nós dizemos, sempre a dar no duro para podermos ter uma boa condição física. Quem não tem uma boa condição física é prejudicado, pois está a destruir o seu próprio corpo (...) porque não se prepararam para aquilo

Traceur Dace

Traceur C.K.K

que estão a tentar fazer.

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E para quem quer aventurar-se neste mundo, o que é que necessita? Dace: Para quem pensa começar a fazer Parkour convém informar-se primeiro, e treinar muito. Basicamente do que precisam é uma roupa de treino, umas sapatilhas. Averiguem as sapatilhas apropriadas para não danificar os pés e as articulações, porque não existem sapatilhas especiais para Parkour. Umas são mais apropriadas do que outras. Não convém usar luvas, mas sim punhos, para aquecer as articulações. Parkour é um dos desportos mais baratos que há e o mais gratificante

Dace e C.K.K praticando Parkour na cidade de Portimão.


Notícia

Dado que nesta decisão os alunos da UAlg não tiveram muito voto na matéria, a Redação 2.3 foi saber se (re) conhecem o «novo» Reitor João Guerreiro. O espírito crítico e capacidade de intervenção são ensinados a todos os estudantes a par das matérias, mas mesmo assim há alunos aos quais a eleição para o cargo de Reitor da UAlg passou ao lado, como constatámos. Em oposição a respostas tais como «não conheço» ou um simples «não», hesitações ou ainda jogos de um-dó-li-tá com os três candidatos, encontrámos alunos conscientes do marco decisivo que as eleições representam para a comunidade académica. Críticas, foram maioritariamente as respostas, mas críticas construtivas, que pretendem guiar o reitor na construção de um espaço que cumpra os requisitos de todos, e no qual todos se sintam bem, para aprender e não só.

O «NOSSO» REITOR


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Alguns alunos estão desanimados com o trabalho do reitor no último mandato, como João Marujo que o considera «um trabalho com pouco pulso porque ele foi basicamente eleito pelos alunos e deixou com que o conselho geral tivesse menos representatividade por parte dos mesmos». Outros esperam que as suas medidas sejam mais visíveis, como comentou Tânia Marques «aguardo que faça alguma coisa que eu veja, que faça alguma coisa e que os alunos tenham noção disso, não é?». A pergunta desta estudante conduz-nos a outra, «porque é que Gambelas é tão diferente da Penha se todos pagamos as mesmas propinas?», lançada pela estudante Joana Gonçalves e rematada nas palavras de João Marujo, mas presente em todos os estudantes, «espero que ele diminua a discrepância que existe entre as Gambelas e a Penha e respeite a Constituição Portuguesa onde diz “ensino superior tendencialmente gratuito”». Mas não basta reconhecer o reitor, há que

identificar as medidas do seu último mandado e julgá-las para que o dever e obrigação de reivindicação para com a universidade seja feito conscientemente. MUDAM-SE OS TEMPOS, MANTÊM-SE AS VONTADES Eleito em 2006, pela primeira vez, João Guerreiro, em entrevista ao Diário Online, apresentou suas metas a cumprir durante o mandato, que recaíam sobretudo no alargamento da oferta de cursos e pósgraduações. Em plena adaptação ao Processo de Bolonha, as áreas das Energias Renováveis, Artes, Medicina e Língua Portuguesa formavam as principais apostas para o reitor, «para além de mantermos o que existe, os [cursos] de primeiro ciclo e licenciaturas». O prometido curso de Medicina que, segundo João Guerreiro, «ao fim e ao cabo, trata-se de uma pósgraduação de quatro anos», recebeu em 2009 os primeiros alunos. Embora tenham surgido novos cursos, outros também deixaram de existir.

Na altura, João Guerreiro referia que, em relação ao funcionamento interno da UAlg, havia «muito a fazer». O reitor apresentou sua demissão em Junho de 2008, no sentido de repor a legalidade estatutária do Conselho Geral. Em conversa com o Barlavento e a RUA FM, deliberou que a adaptação do seu programa foi «perturbada», pelo processo de aplicação do novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES). Nessa mesma entrevista, o reitor defendeu que, a nível financeiro, «o pior já terá passado». Quando questionado pelo jornal O Canudo acerca das estratégias que utilizaria para fazer face aos problemas financeiros da UAlg numa reeleição, João Guerreiro reiterou que espera um aumento dos recursos financeiros através do «aumento do financiamento do ensino superior com origem no Orçamento de Estado, da criação de projetos inovadores (…) e da formação de parcerias com o mundo das empresas e das instituições»

«Aguardo que faça alguma coisa que eu veja, que faça alguma coisa e que os alunos tenham noção disso» - Tânia Marques (aluna da Ualg)

Reitor João Guerreiro


TEATRO SOLIDÁRIO EM ALBUFEIRA

REPORTAGEM O QUEBRA-NOZES JUNTOU GERAÇÕES E CONTRIBUIU PARA UM BANCO ALIMENTAR.

Porque a arte também tem um compromisso social, a cidade de Albufeira foi palco de uma iniciativa que teve como objetivo a angariação de alimentos para duas instituições de solidariedade. A Companhia de Teatro Contemporâneo (CTC) juntou os Grupos de Teatro Didji, Charlot e Renascente, todos de Albufeira (das áreas de Artes do GAJ e do Clube Avô), que levaram ao palco, nos dias 5 e 6 de Dezembro, no Auditório Municipal de Albufeira, o clássico de Natal, O Quebra-Nozes. Foram cerca de 50 atores amadores em palco, entre os 9 e os 78 anos de idade, com uma equipa téc-

nica de 8 pessoas. A Redação 2.3 assistiu a estreia da peça onde pontuou o humor e o fantástico, e que seguiu o texto original de E.T.A. Hoffmann, numa adaptação e encenação de Luísa Monteiro. «O Quebra-Nozes é uma peça que eu queria desenvolver há algum tempo (...) É um conto que sitia tantos cenários e tantas épocas, épocas reais, épocas imaginárias, que nos permite precisamente criar grupos e cada um trabalhar primeiro individualmente no seu ambiente, e depois poder juntá-los. O QuebraNozes permitiu-me isso, para além de ser uma

peça proeminentemente o grupo vai fazer pelo de Natal.» - Afirmou Luísa concelho de Albufeira. De espetáculo Monteiro. em espetáculo os aliPOR UMA ACÇÃO mentos ou brinquedos recolhidos serão doados SOLIDÁRIA à Associação HumanitáO espetáculo foi ria Solidariedade Albufeiapoiado pela Câmara ra (A.H.S.A.) e à ConfeMunicipal de Albufeira e rência de S. Vicente de teve a colaboração do S. Paulo, corporações Grupo de Teatro Guizos e que, ao longo do ano, da Casa do Povo de fornecem alimentos a Paderne/Associação Ami- quem deles necessita, no concelho. O objetivo gos de Paderne. A entrada tinha desta peça era não apeum preço estipulado, a nas promover «o espetágenerosidade. Cada pes- culo pelo espetáculo, soa poderia doar géneros mas o espetáculo tamalimentares não perecí- bém com essa consciênveis, com vista a contri- cia de que nós trabalhabuir. Foi entre alimentos, mos para os outros, (…) brinquedos e dádiva Sendo assim, vamos monetária que arrancou a ajudar os outros», disse série de espetáculos que a encenadora.


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DOS 9 AOS 78 Carolina, a mais nova do elenco, estreouse com esta peça. Gostou tanto da experiência que voltaria a repetir. «Gostei (…) Aprendi o que era teatro, o que temos que fazer para ser atores.» Dª. Filó conta com78 anos e orgulha-se de ter uma vida ativa nas «andanças artísticas». Não é estreante no teatro, faz parte de um grupo teatral, pertence a um conjunto de cavaquinhos e a um grupo de música tradicional portuguesa. No curriculum ainda consta a participação no projeto Banda Rock do Avô. Quando lhe perguntamos onde vai buscar tanta «genica», respondenos: «É ela (a encenadora) que nos dá energia e coragem. Sim porque é preciso ter coragem para uma pessoa da minha idade se meter nestas coisas, mas eu gosto do que faço. Independentemente das diferenças etárias, os bastidores teste-

munharam a boa disposi- medida que o tempo se ção do grupo. foi aproximando e houve a consciência de que o Cátia desempenhou o espetáculo estava próxipapel de Marie. A atriz mo da estreia, começou a protagonista da peça con- haver compenetração, e firmou a animação duran- também eles começaram te os ensaios. «É sempre a tomar uma outra consuma festa lá atrás, com os ciência de que o público mais velhos, com os mais existe e é para o público novos e com os do meio que se trabalha.» (risos). Nós damo-nos A história de Marie que na todos muito bem, apoia- noite de Natal se apaixomo-nos todos uns aos na por um quebra-nozes outros e nem notamos a encantou o público, partidiferença de idades que cularmente os mais temos, porque trabalha- pequeninos. Por entre mos todos para o mesmo gargalhadas e exclamafim.» ções de entusiasmo inteMas para alcançar o ragiam com as personasucesso houve muito gens. Tais como as boneesforço, especialmente cas Clara e Gertrudes, a pela dificuldade de coor- Fada de Açúcar, a Bruxa denar o elevado número Mouserinck (Rainha dos de atores. ratos), e com a divertida Luísa Monteiro contou- Princesa Pirlipat. nos como decorreu o pro- A peça «O Quebracesso. nozes» poderá ainda ser «Foi um pouco complica- vista no dia 11 de Dezemdo (…) as pessoas gos- bro na sede da ASCRAtam todas umas das TIA em Ferreiras e no dia outras, conversam muito, 12 de Dezembro no Centambém se distraem. tro Comunitário de PaderSomos muitos, mas há ne

« O espetáculo também com essa consciência de que nós trabalhamos para os outros, (…) Sendo assim, vamos ajudar os outros» - Luísa Monteiro

Parte do Elenco Sénior da companhia C.T.C


REPORTAGEM

BAIXA DE FARO Revendedores de jornais e revistas constatam crise


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Revendedores de jornais e revistas na baixa de Faro testemunham a queda nas vendas. A crise afeta o sector, mas os clientes continuam a afluir aos quiosques para saciar suas necessidades de informação. Numa tarde cinzenta, tão cinzenta como a situação económica que o país enfrenta, dirigimo-nos rumo a baixa da cidade de Faro para verificar se os farenses continuam a consumir imprensa escrita como noutros tempos. Ouvimos na primeira pessoa, em quiosques, lojas ou tabacarias, os relatos dos revendedores de jornais e revistas que afirmaram que o negócio já não é o que era.

Fazer frente à crise no sector Natália Pedro conta com 20 anos de experiência no ramo. Não quis ser foto-

grafada mas abriu-nos as portas do seu estabelecimento com um sorriso acolhedor. Na sua loja situada no centro comercial Atrium as estantes estão repletas de revistas e alguns jornais. A oferta para o cliente é reforçada por outros artigos como tabaco, pastilhas elásticas e jogos de azar, uma estratégia que adotou para fazer frente a escassez de vendas. Em relação a 2008 nota o decréscimo do comércio «tanto em revistas como em jornais». Mas afirma que alguns clientes se mantêm fiéis devido ao variado naipe de revistas técnicas que oferece. Na Rua Castilho, o quiosque do Sr. Nuno vende em média 80 a 100 jornais

por dia, e cerca de 100 revistas por semana. O estabelecimento apresenta o maior número de vendas, mas não foge à regra no que toca ao declínio do negócio «as pessoas vão cortando no que não é essencial». Também Natália Custódio reconhece que «se vende menos este ano» e afirma que «às vezes num dia vende-se tudo, noutros vai tudo para trás». Já Daniela Ceita assegura que apesar da crise continua a receber a clientela no seu quiosque, «são pessoas, na maioria, donas de outros estabelecimentos e os turistas».

Homens e mulheres farenses estão em pé de igualdade no que toca aos hábitos de consumo de jornais.

Correio da Manhã é o mais vendido A meio da tarde encontramos Mário Santos que se dirige ao Quiosque Farense para comprar o seu jornal de eleição, o Correio da Manhã. Rotina que será certamente repetida diariamente por muitos, pois de acordo com a totalidade dos revendedores inquiridos na baixa de Faro, o Correio da Manhã apresenta-se como líder de preferências na aquisição de jornais. O diário do grupo Cofina é apontado como o mais procurado pelos clientes da baixa da capital algarvia, sendo vendidos diariamente cerca de 170 jornais, dando uma média de 40 exemplares por estabelecimento. Para Natália Pedro (a já mencionada vendedora do Atrium) «o Correio da Manhã é para um público mais vasto, mais popular, enquanto o Público e o D.N. são destinados a um leitor mais selecionado, pessoas que já têm outro grau de instrução». Pouco ou nada terá mudado em relação aos números divulgados no passado mês de Setembro pela Associação Portuguesa para

o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT), respeitantes às vendas de jornais e revistas nas bancas de todo o país durante o primeiro semestre de 2009. Nos primeiros seis meses do atual ano, o Correio da Manhã, que conta com trinta anos de existência, vendeu em média 112 530 exemplares por edição em todo o país, tendo sido considerado o jornal mais vendido de Portugal. Este tem uma tiragem diária de aproximadamente 172 150 unidades. Já no sector das revistas, a maior procura nas bancas e quiosques recai sobre a «imprensa cor-de-rosa», estando a revista Maria no topo de vendas com uma representatividade 28%. Dirigida a um público maioritariamente feminino, a revista Maria tem uma tiragem semanal que ronda as 263 750 publicações (média referente ao mês de Agosto de 2009 – APCT). Seguem-selhe as revistas Novelas e TV 7 dias com 18%, e a Sábado, Visão e Nova gente com 9% das vendas. Em frente à Doca

Periódico Correio da Manhã é a leitura diária de eleição de muitos farenses.

de Faro, dentro do seu carro estacionado e com o parquímetro a marcar o tempo e o ritmo da sua leitura José Correia folheia o Correio da Manhã. A imagem a que nos habituamos do leitor a usufruir de uns minutos de informação, enquanto lê descansadamente o seu jornal ou revista, num café de Faro, é, hoje em dia, rara. O stress citadino e a vida profissional interferem cada vez mais nas rotinas de leitu-

tura de imprensa dos farenses. É o caso de Zélia, empregada na indústria hoteleira, que admite que por passar «o dia inteiro ao computador, a trabalhar» nem sempre tem «disponibilidade para ler jornais, e revistas só no Inverno», quando há menos trabalho. Diariamente passam pelos quiosques vários leitores. Desprogramados de qualquer tipo de estereótipos. Os hábitos de leitura dos farenses mudaram ao


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BAIXA DE FARO: Revendedores de jornais e revistas constatam crise.

Natália Pedro, Mário Santos e Daniela Ceita afirmam que as vendas de jornais e revistas reduziram em comparação com 2008.

longo dos anos, mas quando questionados sobre uma eventual mudança do consumidor tipo de jornais os comerciantes hesitaram em defini-lo. De diferentes idades, classes profissionais e sociais, «um pouco de tudo» como descreveram os vendedores, entre os quais 62% de consideraram o cliente tipo indefinido. Os homens e mulheres farenses estão em pé de igualdade no que toca aos hábitos de leitura de jornais, mas as leitoras de Faro dominam as vendas das revistas. As farenses ocupam o primeiro lugar como consumidoras de revistas, sejam elas generalistas, de moda ou «corde-rosa. Foi em 2008 que o Relatório de Avaliação do Plano Nacional de Leitura (PNL), um estudo liderado pelo sociólogo António Firmino da Costa, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), revelou que os hábitos de leitura estavam a crescer em Portugal. O aumento estava relacionado com a leitura através das

novas tecnologias: mensagens no telemóvel, computador e acesso à Internet. No entanto, na leitura em suportes como jornais e revistas o crescimento era menos acentuado. Um ano depois, em Janeiro, a consultora Deloitte no seu relatório anual sobre Tecnologia, Media e Telecomunicações, afirmou que a imprensa continuaria a enfrentar desafios. Natália Pedro, Daniela Ceita e Mário Santos. todos estes revendedores afirmam que as vendas reduziram efetivamente em comparação com 2008. No geral, Phill Asmundson, vice-presidente da Deloitte avançava que «as condições económicas, as preferências de consumo de media e os avanços da tecnologia digital teriam um impacto na despesa dos consumidores e no investimento das empresas». O já mencionado estudo previa que «o sector global da edição teria provavelmente um 2009 doloroso». Na baixa de Faro, no que toca ao decréscimo das vendas, cumprem-se estas tendências

O sector global da edição teria um 2009 «doloroso».

« As condições económicas, as preferências de consumo de media e os avanços da tecnologia digital teriam um impacto na despesa dos consumidores e no investimento das empresas» - Phill Asmundson


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