Misterioso Selvagem Irresistível # 3

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ainda sinto que dedico metade do tempo que passamos juntos a tentar descobrir o que ele queria dizer com essa ou aquela resposta monossilábica ou esse ou aquele sorriso. Se eu fosse mais como Harlow, eu simplesmente perguntaria. – Então, está animada pra ver sua obra na telona? – ele pergunta. – Ainda não conversamos sobre isso porque tudo aconteceu muito rápido. Sei que alguns artistas não são muito fãs da ideia de fazer adaptações. – Você está brincando comigo? – pergunto. Como ele poderia estar sério ao fazer essa pergunta? A única coisa que amo mais do que quadrinhos são filmes baseados em quadrinhos. – É assustador, mas maravilhoso. E então me lembro de que há um e-mail com dezessete roteiros como anexos na minha caixa de entrada, para que eu leia “como referência”. E uma onda de náusea se espalha por meu torso. – Mas é mais ou menos como construir uma casa – digo a ele. – Eu só queria chegar na hora de mudar e não ter que lidar com aquela parte chata de escolher luminárias e fechaduras. – Vamos esperar que eles não George-Clooneyzem seu Batman – ele diz. Franzo as sobrancelhas para ele. – Eles podem George-Clooneyzar qualquer coisa minha que quiserem, senhor. Joe, o Grosseirão e o único funcionário de Oliver, um maconheiro de moicano pelo qual temos o carinho que se tem por um animalzinho de estimação, surgiu por detrás das prateleiras. – Clooney é gay. Vocês sabem disso, não sabem? Oliver e eu ignoramos o comentário. – Aliás – acrescento. – Se George Clooney entrar no Oxford English Dictionary como verbo de ação, essa ação imediatamente vai para a minha lista de coisas para fazer antes de morrer. – Como em: “Você já foi George-Clooneyzado?” – pergunta Oliver. – Exatamente. “Saímos para dar uma volta e depois George-Clooneyzamos até por volta das duas horas. Foi uma boa noite. Oliver assente enquanto guarda algumas canetas em uma gaveta. – Eu também teria que acrescentar isso à minha lista de coisas para fazer antes de morrer. – Está vendo? É por isso que somos amigos – digo a ele. Estar perto de Oliver é como uma dose de Xanax. Não consigo não ficar calma. – Você entende que ter George Clooney como verbo seria algo tão monumental que, gay ou hétero, você iria querer algo assim. – Ele é totalmente gay – insiste o Grosseirão, dessa vez falando mais alto. Oliver emite um ruído que demonstra seu ceticismo, finalmente olhando para o Grosseirão. – Acho que não. Ele é casado. – Sério? – pergunta o Grosseirão, descansando os cotovelos no balcão. – Mas, se ele fosse, você iria? Ergo a mão. – Sim. Com toda a certeza. – Eu não estava perguntando para você – rebate o Grosseirão, dispensando-me com um gesto. – Quem fica na frente e quem fica atrás? – questiona Oliver. – Tipo, eu vou ser GeorgeClooneyzado por George Clooney ou sou eu quem vai George-Clooneyzá-lo? – Oliver – chama o Grosseirão. – Ele é a porra do George Clooney. Ele não é Clooneyzado! – Estamos nos transformando em perfeitos idiotas – resmungo. Ambos me ignoram e Oliver finalmente dá de ombros. – Sim, claro. Por que não? – Tipo, realmente perdendo pontos de QI – insisto.


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